Caminha Concelho de 2024 Natal
Sumário
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Entrevista Rui Lages
O Presidente da Câmara Municipal de Caminha encara 2025 como mais um grande desafio. Fala da baixa responsável dos impostos (IMI, IRS e Derrama) e da promoção do investimento público, da coesão territorial e da coesão social. Garante que não há tentação que o afaste do rumo em que acredita e recusa trabalhar em função de sound bites, que podem angariar popularidade, mas são efémeros e não são compatíveis com os valores do 25 de Abril
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Agradecimento às Comissões de Festas e Romarias
O Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora acolheu, a 29 de novembro, a cerimónia de agradecimento às Comissões de Festas e Romarias que, ao longo de 2024, se disponibilizaram e voluntariaram para manter vivas as tradições do concelho de Caminha. Porque, “para que a festa aconteça são sempre muitas as horas de cansaço”, como referiu o Presidente da Câmara, Rui Lages.
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Programação de Natal
Edição
Câmara Municipal de Caminha
Rui Lages
O Presidente da Câmara Municipal de Caminha encara 2025 como mais um grande desafio. Fala da baixa responsável dos impostos (IMI, IRS e Derrama) e da promoção do investimento público, da coesão territorial e da coesão social. Garante que não há tentação que o afaste do rumo em que acredita e recusa trabalhar em função de sound bites, que podem angariar popularidade, mas são efémeros e não são compatíveis com os valores do 25 de Abril .
Revista Natal - Estamos prestes a entrar em 2025, um ano que será seguramente de exigência máxima para as autarquias, até pelo escrutínio maximizado, por ser um ano de eleições autárquicas.
Rui Lages – Diria que será sobretudo um tempo de desafios, ainda de mais desafios. Os últimos anos não foram fáceis, seja pela conjuntura nacional e internacional, pela pandemia, pelas intempéries. Nervos de aço – na medida do possível – e muita determinação. É isso. De resto estamos olhe, “vacinados”. Temos as prioridades bem definidas, temos um compromisso com a nossa comunidade. É por aí que vamos continuar, doa a quem doer, é pelo bem-estar da nossa população que vamos continuar a lutar e pelo progresso do concelho.
RN – Há quem diga que o Orçamento para 2025 é ambicioso…. RL – E é mesmo. Quando perdermos a ambição positiva e responsável então não estamos a fazer nada aqui. Quero mais e sei que posso e vou fazer mais. Nunca é o que queremos, mas compete-nos lutar pelas condições necessárias, é com isso que o Orçamento e as Grandes Opções do Plano se comprometem. É mais uma etapa do caminho que traçamos para o futuro do concelho de Caminha. A nossa visão é a longo prazo, é estrutural. Queremos uma terra moderna, inclusiva e sustentável, onde os desenvolvimentos económicos, sociais e ambientais caminham lado a lado, sem nunca pôr em causa a nossa identidade, a nossa cultura e a nossa génese.
RN - Mas podia ir mais longe…. RL - Eu percebo que algumas medidas mais imediatistas, de encher o olho, nos são mais favoráveis, aos eleitos locais em geral, até em termos de popularidade. E até pode ser uma tentação para alguns políticos; os que tudo prometem, tudo criticam, tudo apresentam como se pudesse ser realidade, como se fosse fácil, como se bastasse apenas querer para poder ser. Mas eu não sou esse político, eu não trabalho para os sound bites, para agradar hoje, para a espuma dos dias, que se desvanece e nada deixa de concreto para o dia de amanhã. Tenho a firme consciência de que temos de construir bases fortes para tornar o nosso território
resiliente, apelativo e dinâmico e é isso que me preocupa. Noutro contexto, há quem diga que para ser um adulto educado, cordial e respeitador, consciencioso e responsável é preciso ter bebido chazinho de pequenino. Tenho o privilégio de ter crescido numa família caminhense com valores, não perdoaria a mim mesmo defraudar o que foi o esforço da minha família. Tentarei sempre, com todas as minhas forças, fazer o que é melhor, de forma responsável, sem comprometer o futuro, mesmo correndo o risco de ser incompreendido no imediato. Olhe, vamos dar início – já em 2025 – à revisão do Plano Diretor Municipal, porque entendemos ser o momento de revisitar um dossiê que tem mais de sete anos. Não sei se é ambição, diria que é realismo e pragmatismo. Queremos acompanhar a evolução do território, criar soluções para os desafios do futuro e estimular, cada vez mais, o concelho de Caminha.
RN – Colocou também as prioridades na redução dos impostos, no investimento e na proximidade.
RL – Com responsabilidade, deixe-me sintetizar. Em 2025 vamos baixar os impostos: o IMI, o IRS e a Derrama. Vamos promover o investimento público, a coesão territorial e a coesão social, ao mesmo tempo em que diminuímos a dívida da Câmara em cerca de 10 milhões de euros em três anos. Comigo podem contar para ter contas certas. Mas, destaco duas medidas a que vamos dar continuidade em 2025. Uma delas é realmente a redução progressiva dos impostos, que para 2025 se reflete numa redução do imposto municipal sobre imóveis de 0,41% para 0,40%, depois de em 2024 o valor já ter sofrido um decréscimo de 8,9% e mantendo-se o IMI familiar. O mesmo no imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) de 5% para 4,5%. De igual forma na derrama, de 1,5% para 1,4% sobre o lucro tributável sujeito e
não isento de imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) cujo volume de negócios é superior a 150 mil euros.
Digo-lhe já que não vamos tão longe como gostaríamos. Mas continuamos a desagravar os impostos com responsabilidade. Escolhemos gerir e a população do concelho deu-nos a sua confiança nas urnas. Noutras plataformas, noutras posições, é tudo possível, mas isso é na teoria. Depois, na prática, é preciso ter a coragem de não afundar as contas do Município, como aconteceu noutros.
RN – E o investimento?
RL - Vamos priorizar os projetos financiados, focados em taxas de financiamento elevadas que garantam a sua viabilização e o equilíbrio orçamental, nomeadamente no contexto dos Fundos Comunitários do Norte 2030. Estamos a trabalhar em áreas como a digitalização da administração local, eficiência energética, proteção civil e gestão integrada de riscos, investimentos em baixa na gestão de resíduos, infraestruturas para a educação, unidades móveis ou balcões de inclusão, pequenas
intervenções no domínio da requalificação e modernização de equipamentos desportivos para reforço da coesão social, alterações em equipamentos coletivos e qualificação de espaço público visando a sua acessibilidade, segurança e inclusão, valorização cultural e do património (histórico e natural) e estruturação de produtos turísticos com vista à criação de destinos turístico, somando um investimento até 2029 de € 8 352 289, sendo € 1 252 843 suportado pelos orçamentos municipais.
Eu sei que a lista é longa, mas é assim.
No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) destaco as requalificações dos dois centros de saúde e das duas escolas básicas e secundárias (Caminha e Vila Praia de Âncora), candidaturas aguardando aprovação.
RN – E as freguesias, continuarão a ser parceiros privilegiados, interlocutores de proximidade?
RL – Sem dúvida. E já que falou em proximidade, sublinho o esforço que continuamos a fazer em relação às freguesias. Este orçamento, como nos anos anteriores, vai fazer
uma majoração das transferências, ou seja, vamos dar mais dinheiro às nossas freguesias. Aliás, mais uma vez, reforçamos o apoio às nossas Juntas de Freguesia transferindo-lhes a maior verba de sempre. Queremos dar às nossas Juntas de Freguesia mais margem de ação e meios que possam estar ao serviço de fregueses, em particular, e dos munícipes, em geral.
Tudo o que necessitam? Com certeza que não, mas há um incremento claro, no quadro de uma gestão equilibrada e responsável.
RN - A Câmara vai contrair um empréstimo para investimento .
RL – Vai sim e sublinho, para investimento. Não é contrair dívida para pagar dívida, ou tapar buracos de tesouraria. Aliás, só estamos em condições de contrair um empréstimo agora, para realizar investimento, porque pagamos as dívidas que nos deixaram.
RN – Quer especificar alguns desses investimentos?
RL – Com certeza, olhe, a pavimentação em granito da Ecovia na marginal Vila Praia de Âncora, que bem está necessitada; a repavimentação
do troço sul da Rua do Rouxico, em Moledo; a reabilitação do telhado do Museu Municipal de Caminha; a pavimentação em tapete betuminoso das Ruas das Fornas, Rosmaninho e Cruzeiro, em Venade; a retificação do viaduto da Cruz Velha, em Vila Praia de Âncora; a aplicação de painéis metálicos e remoção do fibrocimento na cobertura dos Estaleiros Municipais de Caminha; a requalificação da Rua do Paço, em Âncora; o arranjo urbanístico da Avenida 8 de Julho; a requalificação da passagem hidráulica na Avenida Campo do Castelo (Camboas) em Vila Praia de Âncora; a requalificação da Praça da República, em Vila Praia de Âncora; a pavimentação em tapete betuminoso na Avenida Manuel Xavier, em Caminha.
RN – Entretanto, a Câmara garantiu um financiamento superior a 2 milhões de euros no âmbito do PRR para a requalificação das instalações dos dois Centros de Saúde?
RL – É verdade. Conseguimos, é um financiamento urgente e necessário para dar melhores condições de trabalho aos profissionais de Saúde, mas acima de tudo para se prestar
um serviço público de saúde de qualidade aos nossos munícipes.
RN – E na área da habitação?
RL – Temos trabalho feito, muito relevante. Pouco divulgado porventura – mea culpa. Deixe-me dizer que, só este ano, em 2024, investimos 720 mil euros em habitação. E não vamos ficar por aqui.
Por exemplo, adquirimos seis novas casas em Vila Praia de Âncora, investindo 440 mil euros. Seis, sublinho. São casas que vão estar afetas à habitação pública, proporcionando um lar digno para seis pessoas ou famílias, ajudando-as a conseguir a habitação a que não tinham acesso pelos seus meios, contribuindo, assim, para a sua realização pessoal.
Também adquirimos uma “Meia Casa”, em Caminha. É um património material único, identitário da nossa cultura. Estas “Meias Casas” estão a ser vendidas, às vezes transformando duas em uma - é legítimo, mas põe em risco o património. Investimos 80 mil euros e vamos recuperar o imóvel, reforçando a habitação pública. Sabemos que a “ Meia Casa” é um tipo de construção ligada aos pescadores e ao
mar. É um património que está na carinhosamente denominada Rua dos Pescadores, que foi alvo de um trabalho científico, que nos orgulha porque faz parte da nossa cultura. Esta habitação terá nova vida, irá ser habitada por uma nova família, mas vamos assegurar, ao mesmo tempo, a sua identidade.
Em Cristelo, a antiga escola primária vai dar origem a duas habitações, num investimento de 200 mil euros. Não é uma promessa, não é uma ideia, é uma obra que está no terreno sendo executada.
Em breve prevemos também fazer uma obra idêntica na antiga Escola de Gondar, vamos reabilitá-la também para habitação.
Também apoiamos a celebração de contratos para transferência da gestão de imóveis da IP Património para o IHRU e, bem assim, celebramos contratos de arrendamento com o IHRU para habitação permanente, no Bairro dos Pescadores, em Caminha.
RN - O alojamento local também está a crescer .
RL – Está sim, as estatísticas atestam esse crescimento e isso é positivo,
por um lado, é sinónimo da vitalidade da nossa economia e da procura do concelho, mas, cria desafios para a oferta habitacional para os locais.
RN - Cada vez mais fala-se de Ambiente, por tudo e por nada. A Câmara de Caminha tem tomado medidas importantes, quer referir algumas?
RL – Com certeza. Como noutras áreas, gosto de falar de coisas práticas, palpáveis, reais, e não apenas de intenções e frases bonitas. Nós fazemos mesmo o nosso dever, também nessa matéria, porque é mesmo uma prioridade. Por exemplo, destaco o facto de, no Dia Mundial do Ambiente, a Câmara Municipal de Caminha ter dado mais um passo importante em matéria de Ambiente e Sustentabilidade, disponibilizando online uma nova e poderosa ferramenta, o Portal Local de Ação Climática do Município de Caminha, que foi possível devido ao profundo trabalho que desenvolvemos e do qual resultou o Plano Municipal de Ação Climática de Caminha, aprovado em abril último. O Portal foi o primeiro no País, o que nos orgulha a todos. Por outro lado, o Plano Municipal de Ação Climática (PMAC) é um documento de cerca de 460 páginas, que reflete uma intensa avaliação da realidade do concelho e visa capacitar o Município de Caminha para lidar com os impactos previstos nos diferentes setores, com especial atenção aos setores e população mais vulneráveis às alterações climáticas. Para decidir precisamos de suporte, de conhecimento sustentado, é isso.
RN – Tem destacado também a frota municipal
RL – É verdade, fizemos um grande esforço nessa área. No início do ano, em março, dois autocarros de 40 lugares vieram reforçar a frota de veículos elétricos do Município de Caminha e estão ao serviço do concelho e da comunidade. Vieram juntar-se a um monovolume e a mais três ligeiros e um furgão. É uma aposta muito séria, complementada pela instalação de Postos de Carregamento Elétrico (PCE) pelo concelho.
RN – Digamos que o bom desempenho ambiental é uma marca das praias.
RL – Já nos habituámos, mas sim, é verdade. E é um trabalho de todos os dias. Conseguir os galardões foi
difícil, mas mantê-los é uma responsabilidade muito grande, que não se compadece com distrações, nem “aceita” intervalos.
Este ano, novamente, somámos muitos galardões distintivos. A Praia do Forte do Cão, em Âncora, foi classificada como Praia ZERO Poluição, uma marca de excelência, para uma praia belíssima que também conseguiu a Bandeira Azul da Europa e a de Qualidade de Ouro. A época balnear 2024 no concelho de Caminha desenvolveu-se num patamar de elevada qualidade, com mais três bandeiras Qualidade de Ouro e cinco Bandeiras Azuis. Não é um dado adquirido, é um patamar de excelência para defender sempre.
RN – Passando para “dentro de casa”, gostaria de falar do Acordo Coletivo de Empregador Público, e da sua importância para o concelho. RL – E é agora que eu dizia “ainda bem que me faz essa pergunta”. Essa também é uma grande marca, que me deixa particularmente orgulhoso. A Câmara, enquanto órgão do Poder Local democrático, tem de dar o exemplo na relação com os seus trabalhadores. E sim, conseguimos melhorar as condições dos trabalhadores em geral, conseguimos um consenso nunca antes alcançado. Temos um novo ACEP, como bem disse, o Acordo Coletivo de Empregador Público. É fruto de uma ampla negociação entre o Município de Caminha e quatro estruturas sindicais. Quero sublinhar que se aplica a todos os trabalhadores municipais em regime de contrato de trabalho em funções públicas, sejam ou não sindicalizados. Traz mais e melhores direitos para os trabalhadores, sendo, como já alguém disse, considerado por alguns sindicatos como um dos melhores do país e, veja lá, um potencial exemplo para outros acordos que venham a ser negociados.
RN – Foi difícil chegar ao acordo?
RL - O que é fácil? O que importa é que vale a pena. O Município de Caminha desenvolveu negociações e chegou a acordo com o STAL, SINTAP, SISTERP e o STFPSN. Nos casos do SISTERP e STFPSN, o acordo é uma novidade.
RN – O pessoal é um encargo pesado no Orçamento.
RL – Não lhe chamaria encargo. É despesa, sim. O trabalho dos fun -
cionários municipais é remunerado, como o de qualquer outro trabalhador. Há uma vasta máquina que funciona para que a comunidade possa ter suporte, são muitas pessoas que nos apoiam nas escolas, nos equipamentos, na área social, na cultura, nos transportes, nos nossos projetos particulares, na limpeza, no dia a dia.
Agora, é verdade que às vezes ouço por aí que a Câmara vai receber mais dinheiro, mais transferências do Estado. Os custos fixos também sobem, não é dinheiro a mais, que sobe, disponível para o que bem se entender. Por exemplo, nas despesas com o pessoal, haverá um forte impacto em consequência das atualizações salariais e outras variáveis que têm tido consequências nos últimos anos nas contas municipais. Concordo com a progressão salarial que permite, também, proporcionar aos nossos colaboradores municipais maior justiça remuneratória e uma vida com mais digna e com mais qualidade. Para 2025, prevê-se um encargo anual de 8,3 milhões de euros.
RN – Mas o Município também olhou à sua volta e “estendeu os braços” para lá do Rio Minho, falo da “Eurocidade da Foz do Minho”. RL – A sabedoria popular diz-nos que juntos somos mais fortes e que a união faz a força. E eu concordo. Somos parte de uma região mais vasta e podemos fazer mais e melhor e cooperarmos com os nossos amigos galegos. A criação da “ Eurocidade da Foz do Minho”, veio fortalecer os laços entre Caminha, A Guarda e O Rosal, facilitando a cooperação entre os três municípios, num conjunto de áreas que são transversais e que são também pilares do desenvolvimento da região. Como escrevemos na Declaração conjunta, os municípios de Caminha, A Guarda e O Rosal são territórios fronteiriços e limítrofes que contam com um rico património natural, histórico e cultural, partilham uma fronteira natural como é o Rio Minho e grande parte das suas principais características geográficas, económicas, sociais, históricas e culturais, o que favorece a cooperação.
RN – Em que áreas poderemos contar com uma cooperação mais forte?
RL – Posso elencar o desporto, a cultura, o património, a promoção
económica, o emprego, a política social e o turismo. É praticamente em tudo. Não há desvantagens. Aliás, como é público, já realizamos algumas iniciativas em conjunto, como a Feira do Livro Luso Galaico da Ribeira Minho e estamos a cooperar num projeto cultural comum bastante mais amplo. Mas não apenas na cultura. Em breve haverá novidades.
RN – Uma boa novidade foi o regresso ao edifício dos Paços do Concelho.
RL – Sem dúvida, procedemos à obra de requalificação dos Paços do Concelho, investindo mais de 300 mil euros. Temos em curso uma candidatura ainda para o tornar mais acessível a todos os cidadãos. Mais inclusivo.
RN – O edifício estava muito degradado…
RL – Muitíssimo e há muito tempo. E abrimos as portas no mesmo dia em que foi apresentado o Repositório Genealógico do Concelho de Caminha , um trabalho da maior dignidade e importância para o concelho de Caminha. Foi um dia muito feliz.
Como eu disse na altura, uns dirão que o edifício está igual, outros dirão que parece nada ter sido feito, outros até poderão criticar o investimento, mas, a verdade é que, a intenção era mesmo não mudar nada consolidando tudo. Como também fiz questão de salientar, foi uma obra gerida com pinças e com muita dedicação. Substituímos todo o telhado, restauramos portas e janelas, substituímos e tratamos os soalhos, tratamos com os melhores produtos os tetos, conservamos os apainelados laterais das salas, substituímos toda a cabelagem elétrica, colocamos um sistema contra incêndios. Devolvemos o edifico dos Paços do Concelho à comunidade, é um dos ícones da Vila de Caminha.
RN – O edifício foi negligenciado durante demasiado tempo. RL – Havia risco, houve infiltrações de água significativas ao longo de vários anos, que originaram várias patologias e danos no interior, como nos pavimentos de madeira, nas caixilharias exteriores, tetos e paredes em gesso cartonado, entre outros, tornando-o praticamente inutilizável. Não foi uma obra fácil.
RN – Mas, voltando ao Repositório Genealógico do Concelho de Caminha, apresentado no mesmo dia.
RL – Foram duas boas notícias que fizemos coincidir. Uma coincidência feliz, porque ambas as realidades preservam o nosso património, a nossa identidade e a nossa cultura enquanto comunidade. O Repositório Genealógico do Concelho de Caminha dá a conhecer mais de 127 mil pessoas, as nossas raízes enquanto povo, reconstituindo as comunidades históricas do concelho, freguesia a freguesia, ao longo de três séculos. Foi um trabalho de enorme coragem que temos todos de aplaudir.
Em 2014, a Câmara Municipal celebrou um protocolo de investigação com a Universidade do Minho e Casa de Sarmento (Guimarães) para a reconstituição de todas as comunidades históricas do concelho, através da construção de uma base de dados genealógica por cada freguesia, desde o início da existência dos assentos paroquiais (normalmente nas primeiras décadas do século XVII). Foram 10 anos de muito trabalho que nos deixam mais ricos.
RN – Falamos de investigação e de cultura e associamos diretamente a Educação. A Câmara elege sempre esta como uma prioridade.
RL – Nas palavras e nos atos, diria. O investimento nos edifícios é recente e todos o recordam com certeza. Foi o maior de sempre e isso é essencial. Há dois anos, inaugurámos a obra de requalificação e ampliação da Escola Básica e Secundária de Caminha, um investimento da ordem dos 3,5 milhões de euros. Em janeiro do ano passado inaugurámos a obra de ampliação da Escola Básica e Secundária e Espaços de Integração para o Ensino Articulado de Vila Praia de Âncora, um investimento de mais de 2,5 milhões de euros.
Não vamos ficar por aqui, mas quero sublinhar a importância do projeto que, pelo segundo ano consecutivo, estamos a desenvolver. É um projeto pioneiro e já percebeu que estou a falar das Atividades de Enriquecimento Curricular, as AEC, onde este ano letivo investimos cerca de 75 mil euros. Conseguimos mobilizar mais de uma dezena de parceiros, entre associações e outras entidades do concelho, a que se junta a Federação Portuguesa de Futebol. Está a correr muito bem, as nossas famílias, os educadores,
os funcionários sabem bem disso. É assim que se constrói uma comunidade mais coesa e melhor preparada, é nisso que acreditamos.
O projeto integra o yoga, as competências sociais, privilegia o desporto, as artes e as tradições culturais. Todos estão muito motivados e nós, Câmara, estamos entusiasmados, são estas coisas que nos dão mais força.
RN - E há novos equipamentos para brincadeiras .
RL – Sim, em Venade por exemplo, mas estamos a realizar as obras de reabilitação integral dos parques infantis de Caminha, Moledo e Vila Praia de Âncora, num investimento da Câmara Municipal superior aos 120 mil euros. Vamos avançar para outras freguesias. O crescimento saudável faz-se também de brincadeiras. Queremos ajudar as famílias a promover uma infância feliz.
RN – E dos mais pequeninos queria passar para os adultos e falar sobretudo dos mais velhos.
RL – As idades mais avançadas, os seniores são outra das nossas prioridades e isso não é cliché, é assim mesmo. É aos mais velhos que devemos o que somos hoje, nenhuma sociedade será saudável se não for inclusiva e se não cuidar de todos, de acordo com as necessidades, que são diferentes. O nosso trabalho faz-se todos os dias, quase sempre sem visibilidade. Em outubro realizamos o chamado “Mês Sénior”, quisemos envolver num grande abraço os nossos mais velhos e preparamos um programa muito vasto. Sei que gostaram muito. Deixe-me eleger uma atividade desse mês, a exposição fotográfica “Recantos com Memórias”, que ainda está patente no Museu Municipal de Caminha, até 31 deste mês de dezembro. Visitem, se ainda não foram até lá, não deixem de ir. Resgatámos memórias, locais, recantos. Desafiámos os mais velhos e a magia aconteceu. Procedemos à recolha fotográfica das respetivas imagens e o resultado deixa-nos um sorriso nos lábios, sobretudo a quem teve o privilégio de assistir às visitas dos mais velhos e aos seus olhares enternecidos ao rever episódios felizes que não estão nas fotografias.
O funcionamento é assegurado pela Unidade de Cuidados na Comunidade de Caminha, no que respeita a materiais bem como à equipa de saúde, competindo ao Município a disponibilização da viatura, a sua manutenção e a disponibilização do motorista.
RN - Nos equipamentos, 2024 também trouxe novidades a freguesias menos centrais, estou a falar do Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário de Santa Maria de Riba de Âncora.
RL - Basta lembrar como a população aderiu à cerimónia de inauguração para perceber a importância de um equipamento destes, que é fruto do trabalho de muitos e da vontade de outros tantos. Foram muitos anos de luta, mas juntos, todos, mas todos mesmo, tornaram o sonho possível. Contamos, a partir daí, com uma significativa melhoria do atendimento e acolhimento dos idosos da comunidade de Riba de Âncora, mas não só, também das freguesias do Vale do Âncora.
Em boa hora a Câmara cedeu o edifício, que ganhou nova vida. É uma sensação fantástica, não pode imaginar, ver o património público renascer, não digo das cinzas, mas do abandono.
RN - O mesmo está prestes a acontecer com o futuro Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão, em Vila Praia de Âncora.
RL – Isso mesmo. A expetativa é que seja uma das primeiras boas notícias de 2025. E o princípio é o
RN – A pensar nesses seniores, em alguns pelo menos, há uma Unidade Móvel de Saúde que vai às freguesias mais distantes três dias por semana proporcionando cuidados. Chamaram-lhe “CAMINHA - dar mais qualidade aos anos”. RL – É verdade - três vezes por semana, a Unidade Móvel de Saúde vai às freguesias mais distantes do concelho: Arga (Baixo, Cima e São João), União das Freguesias de Gondar e Orbacém e Freguesia de Dem. Há uma equipa multidisciplinar, pronta para um atendimento de proximidade. Destina-se a pessoas com 65 ou mais anos, acreditamos, quem mais precisa. Quero destacar que a Unidade Móvel de Saúde dispõe de uma equipa multidisciplinar, que engloba profissionais de saúde e cuja intervenção é focada na promoção de estilos de vida saudável e na promoção de uma gestão do regime terapêutico eficaz.
mesmo. De paredes velhas nascem novas funcionalidades, mais vida, novos serviços, a bem da comunidade. O equipamento social traz nova vida ao antigo edifício da escola de Vilarinho. O CACI vem colmatar uma lacuna, terá capacidade para acolher três dezenas de utentes. As instalações são amplas, modernas e completamente equipadas. Logo na fase de arranque deverá criar 12 postos de trabalho. Como é público, o edifício é propriedade da Câmara Municipal, estava vazio e em más condições e foi cedido à Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) para a instalação do novo equipamento social, concentrando um investimento total para a requalificação superior aos 800 mil euros.
RN – Estamos já a falar de saúde, quer destacar alguma medida que tenha marcado este ano de 2024?
RL – Há uma medida capaz de fazer a diferença, sim. Destacaria os cinco postos equipados com Desfibrilhadores Automáticos Externos,
já disponíveis no concelho de Caminha. É mais um exemplo da forte aposta na defesa da nossa população por parte da Câmara, creio que ninguém discorda. A saúde é o bem mais precioso que temos, nada a supera, não há fortuna, não há nada mais importante do que a saúde e a vida e falamos de qualquer coisa que pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Os Desfibrilhadores Automáticos Externos estão devidamente certificados e licenciados. Foi feita formação a vários agentes, temos no concelho cerca de 70 pessoas habilitadas a manusear estes desfibrilhadores. Como sabemos, muitas vezes, fazem a diferença entre a vida e a morte, em casos de paragem cardiorrespiratória.
Foram localizados estrategicamente, nas freguesias de Caminha e de Vila Praia de Âncora. Em Caminha temos três postos: junto ao Mercado Municipal, próximo do Pavilhão Municipal, que serve também a Escola Secundária de Caminha, e nas instalações do Estádio Municipal Morber.
Em Vila Praia de Âncora, os equipamentos foram instalados na Rua Cândido dos Reis e junto às Piscinas Municipais, perto da Escola Secundária, do Pavilhão Municipal e das Piscinas Municipais.
RN – Mas nem tudo tem sido conseguido, em Vila Praia de Âncora, as dragagens e a execução da obra de requalificação do Portinho continuam no plano dos desejos . e das boas intenções
RL - Não seria tão “mauzinho”, mas também não vou dar descanso ao Governo e às entidades que têm nas mãos as soluções e o poder para as executar. O mais difícil está feito. Sobre as dragagens perdeu-se tempo, enfim, o compromisso e as novas datas estão assumidos. Mas no caso da obra do Portinho tem mesmo de haver vontade política e não só boas palavras. Fizemos um trabalho muito sério, há estudos e a maquete foi entregue em março de 2024. Falta disponibilizar a verba sobretudo e é preciso que o Governo decida e avence - creio que assim o fará.
A Câmara Municipal de Caminha já aprovou, e por unanimidade, uma moção que visou instar o Governo a dar continuidade, de forma urgente, a vários assuntos relacionados com o Porto de Vila Praia de Âncora. Chegamos a uma maquete depois de um trabalho profundo, iniciado em 2021, com os pescadores e com todas as entidades técnicas e especializadas ligadas aos portos e às pescas. Temos a melhor solução, a mais participada, a que tem suporte científico. Ninguém perdoaria se a obra agora “morresse na praia”. Não se atrevam!
RN – Vamos dar um salto a Vilar de Mouros. Diria que contra “ventos e marés” o Festival regressou para ficar.
RL – E diz muito bem. Os “ventos” da desconfiança, das maledicências e as “marés” da descrença e da falta de ambição rumaram para outras paragens. O CA Vilar de Mouros tem regresso garantido nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 2025. Agora, até parece que foi fácil recuperar o nosso Festival. Não foi, cada edição é um desafio, mas está consolidado, a bem de todos nós e do nosso concelho. É mais uma marca de prestígio que recuperámos, um património de várias gerações.
RN - Nos planos cultural e outros, queria falar das Comemorações do Centenário de Vila Praia de Âncora, um programa longo e muito diversificado.
RL – É uma efeméride muito importante. Foi uma opção acertada, consensual. Decidimos estender no tempo as comemorações, percorrer várias áreas. Começámos por uma justa homenagem ao Contra-Almirante Jorge Maia Ramos Pereira. Tem sido muito gratificante. O programa das comemorações é da responsabilidade da Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário da Elevação de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, que tem feito um trabalho excecional e a quem quero aproveitar para agradecer. Agradeço a todos, a cada um dos elementos, o seu contributo. Atrás dizia que “juntos somos mais fortes”, ora aí está, é o caso.
RN - Foi um ano de grandes efemérides, de grandes celebrações como os 50 anos da revolução do 25 de Abril.
RL – De uma forma diferente sim. Neste caso, falamos de algo que fez a diferença não apenas numa freguesia, ou num concelho, mas no nosso País, na vida de cada um de nós. Também optámos por um programa de comemorações alargado, centrado na cultura. Muito gratificante para todos. Celebramos Abril todos os dias. É por isso que estamos aqui a falar de Poder Local, livremente. Sem o 25 de Abril, sem a Democracia, o Poder Local de verdade não existiria.
Obrigado!
Rui Lages:
“Para que a festa aconteça são sempre muitas as horas de cansaço”
O Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora acolheu, a 29 de novembro, a cerimónia de agradecimento às Comissões de Festas e Romarias que, ao longo de 2024, se disponibilizaram e voluntariaram para manter vivas as tradições do concelho de Caminha. Porque, “para que a festa aconteça são sempre muitas as horas de cansaço”, como referiu o Presidente da Câmara, Rui Lages.
O universo é grande e quase sempre pouco visível de uma forma ge -
ral: na verdade, cerca de meio milhar de pessoas estiveram envolvidas nas várias Comissões, nas diversas freguesias. Trabalharam de forma voluntária para que a identidade local seja preservada ao longo dos anos, e em 2024 em particular, enfrentando dificuldades em benefício da comunidade e da Cultura.
O concelho de Caminha tem uma alma generosa e, é por isso também, que as tradições se mantêm vivas. Com elas assegura-se o presente e o futuro, a ligação entre as pessoas da comunidade e renovam-se todos os anos as festas e romarias – e são muitas. Muitas são também as pessoas que tornam possível esta dinâmica, que a Câmara Municipal apoia das formas mais diversas, mas a que quis também agradecer de forma mais próxima, com esta cerimónia
Câmara disse “Obrigado” a meio milhar de pessoas que asseguraram em 2024 as melhores tradições do concelho
simbólica. “Obrigado”, repetiu o Presidente, numa ocasião que serviu também para promover o convívio entre as diversas Comissões, oriundas de todo o concelho.
“Sabemos bem das dificuldades (…) e se há coisa a que estamos habituados é que as nossas festas e romarias corram sempre bem”, continuou Rui Lages, enaltecendo as “pessoas que dão tudo de si” e prometendo: “estamos sempre lado a lado para nos ajudar uns aos outros. É também para que a nossa comunidade lá fora saiba quem são os rostos das pessoas que estiveram por traz daqueles cartazes (…) estamos aqui hoje para reconhecer e a gratidão é dos sentimentos mais nobres”.
Foi uma cerimónia muito bonita, que começou com a atuação da Cantata e Tocata do Etnográfico de Vila Praia de Âncora. Depois da intervenção do Presidente foram chamadas as Comissões e entregue o diploma de agradecimento. O encerramento esteve a cargo do Grupo de Cantares da Serra d’Arga.