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Medicamentos inovadores: um motor de saúde

OS MEDICAMENTOS INOVADORES CONTRIBUEM PARA QUE OS CIDADÃOS POSSAM VIVER MAIS ANOS E TER UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA. AS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS TÊM UMA FUNÇÃO DETERMINANTE A DESEMPENHAR, COM VISTA A QUE OS UTENTES QUE USUFRUEM DESSAS TERAPÊUTICAS OBTENHAM OS MELHORES RESULTADOS, NUMA PARCERIA QUE DEVE REUNIR TODOS OS AGENTES DO SETOR DA SAÚDE, MAS TAMBÉM AS AUTORIDADES.

Autor: Associação de Farmácias de Portugal

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Oúltimo ano foi particularmente ilustrativo da importância do setor da saúde enquanto pilar da sociedade. O surgimento do novo coronavírus SARS-CoV 2, e a sua rápida progressão para uma pandemia, não só se constituiu como um grave problema de saúde a nível global, como ditou a quase completa paralisação das economias, com consequências económicas devastadoras para muitas famílias, empresas e sociedade como um todo.

Os efeitos globais da pandemia não terão sido mais nefastos graças, em grande medida, à rápida resposta da indústria farmacêutica em estreita ligação com os Estados. Aliás, nunca antes uma vacina se havia materializado com tanta rapidez, desde a investigação à sua inoculação à escala global.

Enquanto profissional do medicamento, é com grande satisfação que o farmacêutico testemunha todos os progressos que contribuem para o aumento da esperança de vida dos seus utentes ou para que estes vivam com o máximo de qualidade possível. Para tal, em muito têm contribuído os medicamentos inovadores e os progressos que têm sido alcançados nesse âmbito.

Por princípio, as farmácias desempenham um importante papel de aconselhamento e esclarecimento de dúvidas dos utentes. Desde logo, como responsabilidade profissional, compete ao farmacêutico comunitário assegurar-se ainda que os utentes que serve retiram o maior benefício terapêutico possível da medicação que tomam. Designadamente, fazendo o respetivo acompanhamento farmacoterapêutico, ajudando a identificar eventuais efeitos adversos da medicação, o que se reveste de particular pertinência quando em causa estão utentes que tomam medicamentos inovadores.

Enquanto profissional do medicamento, é com grande satisfação que o farmacêutico testemunha todos os progressos que contribuem para o aumento da esperança de vida dos seus utentes ou para que estes vivam com o máximo de qualidade possível

As farmácias comunitárias funcionam como ponto de entrada e de saída no sistema de saúde, já que muitas vezes são o local ao qual os utentes recorrem em primeira instância para esclarecer

dúvidas e comunicar efeitos adversos da medicação que tomam. Neste sentido, cabe ao farmacêutico não só aconselhar os utentes sobre a melhor forma de lidarem com este tipo de situações, como monitorizar e encaminhá-los para avaliação clínica de um médico ou para contexto hospitalar quando identificam sinais de alerta que se revelem preocupantes para a saúde dos utentes.

Mas o papel das farmácias comunitárias na relação com os utentes que tomam medicamentos inovadores pode ir ainda mais longe. Isto porque, à semelhança do que acontece para outros medicamentos hospitalares atualmente dispensados pelas farmácias comunitárias aos doentes em regime de ambulatório, também os medicamentos hospitalares inovadores podem ser disponibilizados em serviço de proximidade para doentes cujo estado de saúde esteja estabilizado.

Este serviço de disponibilização de medicamentos hospitalares em proximidade tem sido muito valorizado pelos utentes que deles usufruem, na medida em que, ao receberem a sua medicação na farmácia perto de casa, poupam tempo e custos, dispensando ainda as necessárias deslocações aos hospitais.

Aliás, de acordo com o estudo “Acessibilidade e dispensa de proximidade ao medicamento hospitalar”, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), divulgado no passado mês de novembro, a maioria dos utentes gostaria de receber os medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias ou no domicílio.

Segundo este estudo, 82,9% dos doentes crónicos ou dos seus cuidadores disseram que gostariam de no futuro receber os medicamentos hospitalares em farmácias comunitárias ou ao domicílio. Já 65% mostraram disponibilidade para pagar para receber a medicação no local pretendido. Cabe ao farmacêutico não só aconselhar os utentes sobre a melhor forma de lidarem com os efeitos adversos dos medicamentos inovadores, como encaminhá-los para avaliação clínica quando identificam sinais de alerta

A REALIDADE DOS MEDICAMENTOS INOVADORES EM PORTUGAL

Ao longo dos últimos anos têm sido muitos os medicamentos inovadores aprovados no nosso país. Entre 2016 e 2020, foram aprovados pelo Infarmed – o regulador do setor do medicamento – um total de 265 novos medicamentos inovadores, permitindo assim à população portuguesa uma maior acessibilidade às mais recentes terapêuticas.

Apesar dos progressos alcançados ao longo dos últimos anos, Portugal apresenta ainda assim indicadores que poderiam ser melhorados em termos do acesso à inovação na área do medicamento. Tal é notório, por exemplo, no que respeita à comparticipação dos medicamentos inovadores aprovados pela Agência Europeia do Medicamento.

Dados relativos ao período entre 2015 e 2018 divulgados pela IQVIA, empresa que realiza estudos sobre tendências no setor dos medicamentos, indicam que a taxa de comparticipação desses medicamentos em Portugal era de 51%. Apesar deste valor estar quase alinhado com a média da União Europeia (49%), fica ainda aquém dos 58% e 70% registados, respetivamente, em Espanha e Itália. A distância é ainda maior face à Alemanha que apresenta uma taxa de comparticipação de 85%.

O estudo “O valor do Medicamento em Portugal”, realizado pela consultora McKinsey & Company para a APIFARMA, divulgado no final de 2018, aponta as vantagens do ponto de vista da saúde e financeiras, decorrentes do acesso a novas soluções terapêuticas. O estudo conclui que, desde 1990, os medicamentos inovadores foram responsáveis por um acréscimo de dois milhões de anos de vida saudável para a população portuguesa. O valor dos anos de vida saudável conquistados representa entre 5 e 7 mil milhões de euros/ano, acima do gasto total em medicamentos, situado na ordem dos 3,8 mil milhões de euros, aponta ainda o mesmo estudo.

Esses impactos foram medidos considerando um conjunto de oito doenças: Cancro do Pulmão de células não pequenas, Cancro Colorretal, Esquizofrenia, Infeção pelo VIH/SIDA, Insuficiência Cardíaca, Diabetes, Artrite Reumatóide e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica.

Num estudo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares divulgado no passado mês de novembro, a maioria dos utentes disse que gostaria de receber os medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias ou no domicílio

AUTORIDADES EUROPEIAS QUEREM MEDICAMENTOS MAIS ACESSÍVEIS

A inovação terapêutica é uma ferramenta essencial para que surjam novos medicamentos que permitam tratar uma série de doenças. Consciente da importância do acesso dos cidadãos europeus aos medicamentos, a Comissão Europeia avançou recentemente com uma Estratégia Farmacêutica para a Europa, em que uma das principais bandeiras é precisamente garantir fármacos acessíveis.

Aquando da apresentação da iniciativa, em novembro, a comissária europeia para a Saúde destacou isso mesmo. “Não há nada de mais devastador do que ter o conhecimento de que se tem uma doença rara, ou uma doença grave, e que, ou não se tem medicamentos para tratá-la, ou esses medicamentos existem, mas não estão acessíveis. Precisamos de melhorar”, sublinhou Stella Kyriakides. •

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