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Miguel Pavão

Editorial

Miguel Pavão Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas

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O poder é meu!

Se o título deste editorial chamou a atenção do leitor, que pensou tratar-se de um postulado abuso de poder ou autoengrandecimento de um bastonário, desengane-se!

O intuito deste título é apelar à capacidade que cada um detém para tomar decisões e fazer escolhas.

Esta ideia tornou-se bem evidente com as lições que a pandemia trouxe. Foi claro que o comportamento de cada um afeta todos e tem impacto benéfico ou prejudicial no coletivo. Escolhas simples como usar máscara, lavar as mãos, respeitar as distâncias ou simplesmente optar por não entrar num elevador que, mesmo tendo espaço livre, não respeita os mínimos de segurança permitidos, são escolhas - comportamentos individuais -que fazem a diferença e resultam em benefícios coletivos.

Esta mensagem e este exemplo podem ser facilmente transportados para o nosso exercício profissional, enquanto médicos dentistas. Somos nós a determinar o tempo de consulta, a formação que fazemos, os seguros com que trabalhamos e os planos de tratamento com que nos comprometemos. É inquestionável: as escolhas que cada colega faz definem a classe e a profissão que somos!

A profissão faz-se e constrói-se dia-a-dia, colega a colega, evoluindo ou regredindo nas opções que cada um toma, mas que influenciam todos. E não podemos ficar indiferentes ao que lemos nesta edição da Revista da OMD. A publicação de “Os Números da Ordem” exibe de forma clara e contundente a situação real da medicina dentária em Portugal: o rácio de número de habitantes para um médico dentista é de 884.

São números preocupantes, que se confirmam ainda mais com o inquérito realizado aos jovens médicos dentistas e divulgado no Dia Mundial da Saúde Oral, no passado 20 de março, onde 40% dos jovens inquiridos admitem fazer consultas gratuitas e 30% atos gratuitos.

Urge na nossa classe médica uma visão e espírito coletivo para entendermos em definitivo que o futuro da profissão começa exatamente nas nossas escolhas e opções. Pela forma como exercemos, como nos relacionamos e colaboramos entre colegas, pela participação de situações anómalas que conhecemos, pela contribuição de ideias e propostas que promovam a evolução da profissão. O poder de fazermos uma medicina dentária mais valorizada e qualificada está na exigência das nossas escolhas e na intransigência em ceder ao que parece mais fácil, mas que incorpora o valor da qualidade e da ética profissional.

Não aceitar e não compactuar é poder! Poder que cada médico dentista possui, sabendo que o seu contributo é peça–chave para a valorização. E assim querer fazer parte na evolução de uma profissão digna, com qualidade, ética e prestígio médico.

“Somos nós a determinar o tempo de consulta, a formação que fazemos, os seguros com que trabalhamos e os planos de tratamento com que nos comprometemos”

Positivo:

- As eleições das especialidades da

OMD de cirurgia oral, odontopediatria e periodontologia aconteceram e trouxeram o voto eletrónico. Ambas vieram para ficar e fazer evoluir a nossa OMD.

- A lei da proteção radiológica (DL 108/2018) verificou-se desajustada e desequilibrada para o contexto da medicina dentária. A abertura de negociação da Agência Portuguesa do Ambiente e do Ministério do Ambiente com a OMD é algo de positivo e de assinalar.

Negativo:

- O PRR (Plano de Recuperação e

Resiliência) usa como estandarte

“gabinetes de medicina dentária” sem definir uma organização dos serviços de saúde oral no SNS, nem prever uma dotação orçamental.

Falha estruturalmente no apoio à saúde no setor privado e social.

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