Revista final tecjor

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Carta da editora

Descobrindo Por: Juliana Cabral

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chacoalhar do ônibus não nos fazia muito bem. O tempo meio fechado também não ajudava na animação, assim como saber que as malas estavam bagunçadas no bagageiro. Rumo a Ipameri, os alunos tentavam se distrair para as cinco horas passarem mais depressa. O que esperar desse lugar? Já na chegada, descobrimos a hospitalidade do município, característica presente durante toda a nossa estadia. Muito mais do que dispostos a nos ajudar, os habitantes de Ipameri queriam fazer novos amigos. Entrevistas viravam longas conversas e as perguntas davam lugar, muitas vezes, a abraços e risadas. Ao final do dia, o “quer passar lá em casa pra comer um pão de queijo?” mostrava a simpatia do ipamerino. Esta revista surgiu da nossa curiosidade e da vontade de dar voz aos que poderiam ter algo para contar. E quantas histórias descobrimos! Foram quatro dias vivendo Ipameri. As eventuais faltas de dados numéricos fizeram com que editores e repórteres se desdobrassem em grandes imersões no munícipio. Cada pessoa, entrevista, comentário e resposta eram importantes para o descobrimento da cidade. Economia, política, educação, saúde, cultura, esporte e lazer. Na nossa revista laboratorial, mostramos o poder do agronegócio em Ipameri, a situação da saúde pública e do ensino básico e superior, o pioneirismo na comunicação e no setor elétrico, e a história do exército no local. Também falamos sobre o time de futebol profissional Novo Horizonte Futebol Clube, o rally que movimenta o município (Mocajee) e a cultura das motos e do rock n’ roll, que ganha espaço na região. Estivemos também na Feira Gastronômica, que, semanalmente, é local de encontro dos ipamerinos. Conhecemos a Cerâmica Boa Nova, instituição de capacitação artesanal reconhecida internacionalmente como exemplo de projeto social. E por falar em “internacional”, as academias Rise Studio de Dança e Cia de Ballet Farley Mattos, de Ipameri, dão oportunidades para que jovens dancem fora do país. Matérias, perfis e crônicas enchem, de Ipameri, estas páginas. Com olhares curiosos, ouvidos atentos, agilidade na ponta da caneta e no clique da câmera, registramos o município em palavras e imagens. E aqui fica o convite para que, assim como nós, você descubra Ipameri.

Editoras-chefe IPAMERI | 3


Expediente Orientador de reportagens: Prof. David Renault Editores chefes: Juliana Perissê Tamara Montijo Editores Gráficos: Eduardo Carvalho Isabela Viana Lucas Ludgero Ilutradores: Edurardo Carvalho Melina Fleury Editores: Bruna de Araújo Gustavo Schuabb Jamile Racanicci Luiza Garonce Mariana Lozzi Melina Fleury Nara Menezes Repórteres e fotógrafos: Bárbara Cruz Lucas Ludgero Bruna de Aráujo Lucas Mazzola Carolyna Paiva Luisa Marini Daniel Domingos Luiza Garonce Eduardo Carvalho Mariana Amorim Erick Guilherme Gurgel Mariana Lozzi Melina Fleury Gabriel Aragão Nara Menezes Gabriela Delgado Natasha Nascimento Giselle Cintra Rafael Montenegro Gustavo Schuabb Renan Melo Isabela Viana Tainá Andrade Jamile Racanicci Tamara Montijo José Artur Lautert Tássia Saraiva Juliana Perissê Vitor Sales Loyane Milena Silva Universidade de Brasília Faculdade de Comunicação Departamento de Jornalismo

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História

Cultura

1. Perfil da Cidade 2. Perfil da Dona Rafa 3. Perfil da Marta 4. Hstória do Exército

5. Casa do artesão 6. Crônica de memórias 7. Feira gastronômica 8. Pioneirismo na comunicação 9. Tecnologia


Economia 10. Perfil da prefeita 11. Perfil econômico 12. Agronegócio 13. Ferrovias

Cidade 14. Cerâmica 15. Ensino básico 16. Transporte escolar da zona rural 17. Ensino Superior 18. Saúde 19. Saneamento

Esporte 20. Novo horizonte futebol clube 21. Mocajee

Lazer 22. Balé 23. Motoclube

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Hist贸ria

Perfil da cidade Texto: Tamara Montijo Foto: Vitor Sales

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uem visita a cidade tem a oportunidade de sentir uma breve pausa no tempo. Surgida no início do século XIX, ainda vive de muitas lembranças do seu passado. Ipameri, que na língua Tupi-Guarani significa “entre rios”, surgiu à margem do ribeirão “Vai-vem” quando homens dedicados ao plantio e à criação de gado se agruparam e formaram o povoado denominado “Vai-vem”. Com o tempo o povoado foi crescendo, dando origem, em 1870, à cidade hoje chamada Ipameri. O município, que atualmente conta com 25 mil habitantes, foi ocupado por povos de diversas nacionalidades. Com a chegada da estrada de ferro, em 1913, essa mistura ficou ainda mais aparente. Vieram pessoas de colônias portuguesas, alemãs, francesas, espanholas e árabes. Esses últimos foram os principais responsáveis pela prática do comércio da região, que é uma das principais fontes de renda até os dias de hoje. A estrada de ferro, além de imigrantes, trouxe a Ipameri uma nova forma de viver. Os ares calmos, típicos do sertão, já não eram mais os mesmo. O trem dinamizou a vida na cidade e trouxe consigo o progresso. É notável o orgulho dos ipamerenses ao contarem que a cidade foi pioneira em vários aspectos dentro do estado de Goiás. A energia elétrica chegou em Ipameri antes mesmo de chegar à capital Goiás Velho. Em 1904, o Major Aristides e seus dois filhos, Francisco Lopes e Edison Lopes,

montaram um locomóvel (caldeira que movimentava um dínamo) e geraram a primeira fonte de energia elétrica do estado, que serviu para a iluminação urbana. Dez anos depois, em 1914, foi inaugurada a primeira usina hidrelétrica de Goiás com tecnologia vinda da Suíça. A partir daí Ipameri não parou. Surgiu a primeira indústria movida a energia elétrica do estado, uma fábrica de beneficiar arroz e, em seguida, uma fábrica de gelo. No ano seguinte, o munincípio recebeu o primeiro cinema da região, instalado por Virgínio V. Lopes, em sua própria casa. Logo depois, surgiu o primeiro serviço publico de telefonia, a primeira máquina de tirar raio-x, o primeiro jornal, a primeira rádio católica, o primeiro Banco do Brasil entre outros. Não só de aspectos tecnológicos viveu Ipameri. Seus cidadãos eram muito preocupados com o lado social. Na década de 60, foi constatado que a cidade contava com altas taxas de crianças e jovens na mendicância, sem perspectiva de melhorar de vida. Iniciou-se, então, um projeto para educar e profissionalizar esses jovens, a Cerâmica Boa Nova, onde eles aprendem técnicas e produzem peças artesanais. Para comercializar o trabalho feito por esses jovens, foi criada a Casa do Artesão. Esse projeto Social desenvolvido pela Sra. Margarida Fernandes Horbylon junto com outros moradores que se voluntariaram, está em funcionamento até os dias de

hoje. Porém muito se perdeu em Ipameri, principalmente no que tange ao espírito inovador da cidade. Com a mudança de hábitos, no final do século XX, a ferrovia foi perdendo o seu valor. Os viajantes foram dando preferência a rodovias, que eram uma forma mais rápida de chegar ao seu destino. Entre 1930 e 1940, foi construída a BR 050, que desviou o caminho de Ipameri, passando pela cidade de catalão. A construção da rodovia atingiu negativamente a cidade. Ipameri, que antes era passagem obrigatória para quem fazia viagens pelo estado de Goiás, agora passa despercebida. O que um dia foi motivo de orgulho, hoje está na memória dos moradores. A usina hidrelétrica foi desativada. No lugar do antigo cinema, agora funciona um bar. O jornal não existe mais. O município parou no tempo. Perdeu seu espírito inovador e agora carrega traços de uma cidade de interior.


REPARTE Uma forma de transmitir conhecimentos artísticos à sociedade Texto e foto: Bruna de Araujo Lima

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artha Rocha não gosta de ser chamada de dona, senhora e evita quaisquer denominações que remetam à chegada da idade. Apesar do infindável estoque de histórias acumulada durante a vida que construiu em Ipameri, esta senhora, ou melhor, mulher, acredita rejuvenescer com o passar dos anos e adora conversar pessoal e virtualmente. Nos fins de semana, passa perfume e batom para encontrar os amigos e desfrutar dos programas que a cidade tem a oferecer. Freqüenta lugares de públicos mais jovens bem como os conhecidos como favoritos da terceira idade. Por se relacionar com todas as idades, Martha estabelece um ciclo de amizades que ultrapassa o espaço físico da cidade e, através de suas atividades nas redes sociais, atinge proporções globais. Já foi advogada, professora de português, é instrutora de motos em uma auto-escola e, apesar de não se considerar uma artista, seus trabalhos com o pincel são conhecidos em toda a cidade. Aprendeu sozinha a desenhar e pintar. O treino e as técnicas, desenvolvidas pela própria Martha, ajudaram a aperfeiçoar sua arte. “Meu primeiro esboço é o ar”, revela a artista, com os olhos fechados e sorriso sereno no rosto. “Primeiro imagino o que vou fazer e, só depois de visualizar a obra, desenho no ar com as minhas mãos”, completa Martha. Suas habilidades artísticas são um dos motivos pelo qual a pintora é uma figura de destaque no cenário ipamerino, mas não o único. Como forma de transmitir conhecimentos artísticos aos ci-

dadãos de Ipameri, Martha realiza trabalhos no Projovem e no Grupo de Convivência de Melhor Idade, programas vinculados à Secretaria de Assistência Social que têm como objetivo geral contribuir para a melhoria na qualidade de vida da população. O Projovem acolhe jovens de 15 a 17 anos a fim de ensiná-los a conviver no mercado de trabalho e na sociedade. Promove palestras com autoridades em temas como meio-ambiente, leis, respeito, deveres civis, oferece atividades físicas, de lazer e introduz jovens no mercado de trabalho. Não é incomum que Martha ministre as aulas de desenho e artes visuais ofertadas pelo Projovem, ensinando aos alunos técnicas em cerâmica. “Trata-se de uma técnica de pintura com os dedos que incen-

tiva os alunos a expressarem seus sentimentos e liberarem a criatividade”, diz Martha, a respeito das aulas de pintura no azulejo. Os encontros do Grupo de Convivência da Melhor Idade acontecem às quintas-feiras e reúnem aproximadamente 120 idosos. Atividades como aulas de dança, exercícios físicos, pintura, artesanato, palestras e assistência à saúde norteiam o programa. Martha ensina pintura em tecido, que, além de ser uma atividade prazerosa, também é capaz de gerar lucro através da venda dos trabalhos confeccionados na aula. Martha acredita que em, suas aulas, não apenas cumpre um dever cívico, mas aprende junto com seus alunos a ser uma melhor profissional, cidadã e ser humano.

Martha Rocha em seu ateliê IPAMERI | 9


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EXÉRCITO

e sua função SOCIAL

Texto: Carolyna Paiva Foto: Juliana Cabral Colaboração: Renan Melo

A influência dos militares em Ipameri foi responsável por manter e desenvolver projetos

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pameri é destaque em diversas áreas desde sua criação. Foi a primeira cidade do estado a ter energia elétrica, pioneira em obter representantes de pequenos produtores, por meio de um Sindicato Rural, e é considerada referência em comunicação, por ser precursora em programas de rádio e ter produzido o primeiro jornal da região do Goiás. Todos esses pontos foram cruciais para o desenvolvimento da região, porém, outro fato trouxe uma nova perspectiva ao destino dela: a instalação de um quartel militar. A relação da cidade com o exército veio em 1919, quando 6º Batalhão de Caçadores (6º BC) foi transferido de Vila Boa - GO, para Ipameri, sob gestão do Intendente Vicente Marot. O objetivo da vinda do exército era trazer ordem ao estado e proporcionar maior crescimento socioeconômico ao município. A partir X | GRANDE REPORTAGEM

do Batalhão, cerca de 800 pessoas migraram à cidade, modificando a sua estrutura urbana, as transações comerciais e a diversidade cultural, oriunda da miscigenação dessas pessoas. Com o passar dos anos, o cenário do exército na cidade sofreu alterações. Em novembro de 1973, o 6º BC foi transformado em 41º Batalhão de Infantaria Motorizado (B I MTZ), alternando o caráter de cavalaria para transporte motorizado. Após dois anos, a sede foi transferida para o município de Jataí, porém, a população, já acostumada às atividades do exército, reivindicou junto a Presidência da República e ao Ministério do Exército, que outra organização militar ocupasse as instalações deixadas pelo 41º B I MTZ. Em atendimento às reivindicações, foi criada a 23ª Companhia de Engenharia de Combate (CIA

E CMB). A nova unidade militar, vinda de Santa Catarina, ocupou o espaço deixado pelo Batalhão anterior, no dia 2 de janeiro de 1976, com o objetivo de manter a unidade e atender à população, por meio de ações cívico-sociais, campanhas de solidariedade e apoio à defesa civil nos casos de calamidades públicas. Segundo o comandante da 23ª companhia, Major Wagner, o exército é uma estrutura histórica de alta relevân-


Soldados colocam em prática o que aprendem no curso de capacitação em mecânica

cia para a cidade. “Hoje existem várias possibilidades para esta instalação. Há a possibilidade se transformá-la em Batalhão ou de outra especialidade vir para aqui. A tendência é sempre aumentar e modernizar.” declarou Major Wagner. Desde a sua instalação, a presença da companhia já trouxe muito desenvolvimento. Além de garantir a ordem e instruir a defesa interna e externa, há vários projetos voltados à sociedade. Uma das

formas de gerar essa interação, são as Ações Cívicas Sociais, realizadas duas vezes este ano, em que são prestados serviços à comunidade, além de recolhimento de alimentos não perecíveis, cobertores ou outros donativos, destinados a instituições filantrópicas locais. Há ainda atividades focadas no auxílio à saúde. São aproximadamente 800 famílias atendidas, formadas por militares e seus familiares, residentes não só

em Ipameri, mas também em cidades vizinhas, como Caldas Novas, Pires do Rio e Catalão. Além disso, o investimento nos militares é intenso. Durante 4h por dia, há a possibilidade de desligar-se das atividades convencionais, a fim de receber um curso extracurricular em parceria com o SENAI, chamado “Projeto Soldado Cidadão”. O objetivo é oferecer qualificação profissional à tropa, a fim de que os membros IPAMERI | X


Hoje existem várias possibilidades para esta instalação. Há a possibilidade se transformá-la em Batalhão ou de outra especialidade vir para aqui. A tendência é sempre aumentar e modernizar. Major Wagner

Major Wagner, comandante da 23ª Comapnhia de Engenha-

ria de Combate X | GRANDE REPORTAGEM

possam concorrer a um posto no mercado de trabalho em melhores condições, quando atingido o tempo máximo de Serviço Militar. Somente este ano já foram ministrados mais de 50 cursos, entre eles, carpintaria, marcenaria e eletricista. O retorno à cidade é tão efetivo que, antes mesmo de sair do exército, o profissional já é requisitado pela esfera civil, por ter adquirido qualidades como respeito, hierarquia e comprimento de horário. O Sargento da 23ª CIA E CMB, José Carlos, relata que os militares saem mais capacitados, e que essa é uma ótima oportunidade para quem quer crescer no mercado. “O exército possibilita uma oportunidade de futuro aos jovens. Se você perguntar na escola, de cada dez crianças, sete ou oito querem seguir a carreira militar, porque vislumbram no exército uma oportunidade de emprego, de seguir carreira, já que o mercado de cidade pequena não é fácil.”. A instalação de Ipameri também apresenta resultados positivos ao cenário nacional. A sede já foi responsável por treinamentos com a equipe do Batalhão de Goiás, bem como por participar da comissão que escolheu Goiânia como a nova capital do estado de


Além de garantirem a segurança, os militares prezam pela manuntenção dos euipamentos do quartel

Goiás. Ainda, de Ipameri, surgiu o embrião para o desenvolvimento de três importantes unidades militares no Centro Oeste e Sudeste. Militares ipamerinos deslocaramse, em 1954, para o Goiânia com a finalidade de garantir as eleições de 1955, originando o 42º Batalhão de Infantaria. Em 1960, a mobilização ocorreu para criação de um novo quartel em Uberlândia-MG, o 36º Batalhão de Infantaria. Por fim, em 1972, outra unidade recebeu o exército, em Cristalina - GO, instaurando-se o 43º Batalhão de Infantaria. A influência do Batalhão, contudo, não expressa força apenas no Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a equipe de Ipameri foi deslocada para compor o 14º Regimento de Infantaria, unidade que integraria a Força Expedicionária Brasileira. Em Julho de 1953, o Batalhão

voltou a ocupar suas antigas instalações, porém, o trabalho de âmbito regional mundial não cessou. Em 1997, integrantes do quartel foram à Angola, como missão da Organização das Nações Unidas (ONU). Para trabalhar no local, houve um longo processo de preparação, em que se estudou um plano de ação, a situação do país e questões legais proveniente do trabalho com as Nações Unidas. Saíram de Ipameri de 97 homens que se responsabilizaram pela reconstrução física do país, como edificação de pontes e escolas e o fornecimento de tratamento e distribuição de água. Em 2006, mais um trabalho voluntário com a ONU foi realizado, no Haiti, a fim de garantir a segurança e retomar a estabilidade do país. O papel de Ipameri no país manteve-se similar ao desenvolvido em Angola: reconstrução de esco-

las, creches, hospitais e abastecimento de água. Os trabalhos do exército em prol da sociedade não cessam e estendem-se àqueles que já trabalharam para o exército na região. A 23ª Companhia é responsável não só por militares atuantes, mas também por quem se aposentou e decidiu habitar nas proximidades, como em Catalão, Pires do Rio e Caldas Novas. Atualmente, parte da equipe está em Porto Velho para manutenção da BR 163. José Carlos ressalta a importância do exército para sua vida e para a sociedade de Ipameri. “O exército brasileiro é uma das instituições mais democráticas do Brasil. Se você vir uma tropa formada, você encontra pardos, negros, brancos, mulheres, homens, ou seja, pessoas de todas as raças e todos os cultos religiosos. O exército é a sociedade em si.” IPAMERI | 9


Cultura

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O artesanato da cidade reunido em uma Casa A Casa do Artesão João-de-Barro reúne cerca de 170 artistas, e em cinco meses de funcionamento já participou de várias exposições Texto: Giselle Cintra Foto: Loyane Alves e Giselle Cintra

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artão de visita da cidade de Ipameri, a Casa do Artesão João-de-Barro, hoje localizada na praça do Rosário no centro da cidade, surgiu em 1981, reunindo artesãos ipamerinos. A iniciativa de abrir uma casa para a venda de produtos feitos a mão surgiu após projetos como Pequeno Trabalhador e Cerâmica Boa Nova. Um grupo de senhoras da sociedade local, entre elas, Margarida Fernandes Horbylon - que teve a primeira iniciativa de criar a Casa - começou a produzir anáguas para vender e doar a renda para ajudar mães gestantes solteiras. O nome da Casa, por indicação de Jalbi Rocha, foi escolhido em uma das reuniões do grupo de voluntários e, desde então, a loja passou a ser a vitrine dos artesãos da cidade. A Casa funcionou até 1987,quando o grupo de produção de artesanato foi desfeito e, depois disso, reabriu em determinados momentos, com interrupções. Em

1989, por exemplo, foi reaberta na antiga Estação Ferroviária de Ipameri, onde permaneceu até o final de 96. No mandato do prefeito Janio Vaz (2005-08), marido da atual prefeita Daniela Vaz, a Casa teve seu renascimento pela terceira vez, quando foi montada no local em que é hoje o restaurante Casarão, na praça do Rosário. Na época, mais de 300 artesãos estavam associados ao grupo, mas, por questões administrativas e contratuais, mais uma vez a Casa foi obrigada a fechar e os artesãos ficaram sem local para se reunir e expor suas obras. Foi no mandato da atual prefeita que o artesanato ipamerino voltou a ganhar forças, Beth Costa assume a secretaria de cultura e a Casa é reaberta. A reinauguração em maio de 2013 contou com apresentações do Grupo de Teatro Baco Pari, Coral Vozes de Ipameri e da Banda Municipal Maestro João Piray. Em cinco meses de funcionaIPAMERI | 9


O artesão Tércio Rocha produz peças de lã, linha e fios de tricô.

mento, o artesanato ipamerino já rendeu bons frutos, já participou da feira Renda-se em Brasília, da Feira do Artesanato Mundial em Caldas Novas (10 a 21 de julho) e em Goiânia (24 de outubro a 03 de novembro). Além das exposições, a Carteira Nacional do Artesão foi também mais uma conquista. A prefeitura municipal da cidade e a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás realizaram o cadastro daqueles que tiveram interesse em fazer a inscrição para adquirir X | GRANDE REPORTAGEM

a carteira, que dá aos artesãos o direito a isenção fiscal e linhas de crédito. A Casa é a vitrine para a venda de seus produtos, mas como em todo comércio, é necessário ter algum lucro. Os artistas estabelecem os preços, ficam com 90%, e os 10% restantes do valor de cada mercadoria cobre os gastos da loja. Mas para vender ali não basta fazer artesanato. Segundo a gerente Magda Vaz, a Casa do Artesão tem normas. “A pessoa

pode morar na cidade ou em qualquer lugar do mundo, mas precisa ser ipamerino”. Além disso, o atestado de qualidade do produto é imprescindível para sua comercialização. Os objetivos da Casa do Artesão não são apenas financeiros. Mesmo com uma margem de lucro pequena diante do comércio padrão, existe o retorno emocional para todos aqueles que se ocupam da atividade manual. “Quando alguém produz algo, seja um texto ou um sapatinho para bebê


e alguém valoriza, você está trabalhando a autoestima da pessoa, a importância dela”, diz Magda. Atualmente, a Casa do Artesão João-de-Barro possui 177 artistas cadastrados de todas as idades, desde adolescentes de 14 anos de idade, que produzem esculturas, até idosos. Um deles é o senhor Tércio Rocha, 85. Entre ponchos de lã e coletes feitos da técnica Nhanduti, ele se movimenta de um lado para outro mostrando tábuas circulares e triangulares com vários pregos - material usado para fazer manualmente peças de linha, lã e fios de tricô. Ninguém poderia imaginar que um mecânico que mexia com o serviço pesado de automóveis futuramente faria uso de delicadas ferramentas como a linha e a agulha. Tércio Rocha, o artesão das linhas e lãs, executa a técnica com habilidosa prática. Como resultado, suas peças de vestuário para o período de frio já foram vendidas para pessoas de vários países, como Estados Unidos, Japão e Sibéria. Para ele, “o trabalho de artesão melhora a mente. Eu não sou muito esquecido, sou forte e tenho a saúde boa, graças a Deus”. O artesanato e a Casa do Artesão têm sido um incentivo para que jovens, adultos e idosos ipamerinos se ocupem de alguma forma. “Por isso a gente está trabalhando por eles e, na verdade, estamos trabalhando por nós também, porque quando você desperta em uma comunidade o valor dela, você está trabalhando para o seu futuro, para o de seus filhos e netos”, concluiu Magda Vaz.

Atual Casa do Artesão João-deBarro localizado na Praça do Rosário.

Casa do Artesão no atual restaurante Casarão. Foto por Luiz Alberto Costa. Fonte site Panoramio perfil de Beth Costa IPAMERI | 26


A história da Comunicação no município A cidade que foi pioneira em veículos de comunicação do Goiás hoje possui apenas rádio local Texto: Luisa Marini e Natasha Nascimento Foto: Nara Menezes e Erick Gurgel

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pameri é uma cidade pioneira em vários aspectos. Além de ter recebido o primeiro Banco do Brasil e o primeiro mandato de segurança do Goiás, o pioneirismo de Ipameri destacase na Comunicação. Foi a cidade goiana a ter o primeiro jornal impresso, rádio e cinema. Hoje, só a rádio sobreviveu e é o principal veículo de comunicação da cidade. A rádio Xavantes foi a primeira de Goiás e a segunda católica do país. Fundada por César Augusto Ceva em dezembro de 1947, hoje pertence à fundação católica Padre Pelágio. César Augusto era engenheiro civil, mas sempre foi apaixonado por comunicação,

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como conta sua mulher Rafa Daher Ceva, de 100 anos, ainda viva: “Ele era curioso, estudioso, construía aparelhos por diversão”. Dona Rafa conta ainda que foi preciso vender a rádio em 1954, pois a emissora só dava prejuízo e eles não conseguiam resolver o problema. “O César fazia qualquer coisa pela rádio, mesmo sem lucro. Era a coisa que ele mais gostava”. Hoje em dia, o objetivo da rádio é pregar a evangelização. Além da programação católica, transmite horas de músicas sertanejas, voltadas principalmente para o público rural, e programação jornalística. Como os outros veículos de comunicação não existem mais, a rá-

dio é o principal meio de difundir informação sobre a cidade. “Temos repórteres que se preocupam em produzir somente notícias da cidade, mas tem representante em todo país. Divulgamos notícias do Brasil, mas o foco é em noticiar a cidade”, conta Umberto Antônio Vieira, atual diretor da emissora. Umberto se aposentou após trabalhar 40 anos na rádio, mas continua trabalhando voluntariamente, por paixão. Por ser uma emissora AM, a audiência da Xavantes é grande na zona rural e eles atendem o raio de 150 quilômetros de distância. Além da Xavantes, hoje existem mais duas rádios em Ipameri, a Fênix e a Comunitária, ambas


Equipamentos antigos mas que continuam sendo usados na rรกdio

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emissoras FM. Mas a concorrência não preocupa Umberto, que afirma já ter audiência consolidada e a confiança do povo. Além da rádio, Ipameri também possuiu o primeiro cinema do Estado de Goiás. A experiência da cidade com a sétima arte começou em 1915 por iniciativa do pioneiro da energia Major Aristides, que exibia filmes em sua própria casa. Depois, no início da década de 1920, foi inaugurada a primeira sala de cinema, o Cine Eden Ypamerino e, em 1936, foi construído o Cine São Paulo. Apenas em 1956, foi inaugurado pelo casal João Estrela e Quergina Jorge Estrela o cineteatro Estrela, cuja sede resiste até os dias de hoje. O cineteatro Estrela tinha como objetivo se equiparar com os cinemas da capital, sendo o primeiro grande cinema do interior do Estado. O prédio com arquitetura art-déco foi minunciosamente decorado por sua proprietária, Dona Quergina, que fez deste cinema um dos mais modernos do Estado. Situado em frente à Praça da Liberdade, no centro histórico da cidade, o cinema ficava sempre cheio e as filas eram enormes. De dia tinha a matinê, onde eram exibidos filmes leves, geralmente de comédia, como os do caipira Mazzarapi, e de noite o cinema lotava com as sessões de filmes clássicos nacionais e internacionais. O local foi idealizado para que também houvessem apresentações de teatro, mas nenhuma peça chegou a ser encenada no local. O cineteatro Estrela encerrou suas atividades no ano de 1976 X | GRANDE REPORTAGEM

marca símbolo da rádio xavantes, a primeira rádio do interior de Goiás

e, apesar de ser tombado como patrimônio municipal, desde esse ano o prédio vem se deteriorando. Hoje o prédio pertence a três herdeiros do casal Estrela, que o alugam para usos distintos. Dividido, em uma pequena área na entrada há um bar e o restante serve de depósito para um supermercado que está sendo construído ao lado. Há alguns anos, a rádio local Fênix também alugava parte do edifício e exercia sua atividade ali.

O dono do bar que funciona no local, Wagner Soares, conta que abriu seu estabelecimento ali, o Kantin Bar, em 1985. É um bar simples, mas sua clientela é grande. Ele escolheu o prédio do antigo cineteatro por acreditar que é uma área valorizada da cidade, em frente a uma praça movimentada. Wagner conta que chegou a frequentar o cineteatro Estrela quando era adolescente, mas não sente falta de um cinema na cidade. El mesmo assiste a filmes


cineteatro estrela, o edifício de arquitetura art decó em péssimo estado de conservação.

parte da área onde funcionava o cinema hoje em dia está ocupada por um bar

pela TV por assinatura e acha que na cidade as pessoas costumam fazer o mesmo ou alugam filmes na locadora. O fechamento do cinema se deu justamente porque a população de Ipameri não sentia mais a necessidade de ir ao cinema. A maioria das pessoas se entretinha com suas televisões e o cinema começou a gerar prejuízos aos seus donos, que resolverem encerrar as atividades. O prédio tombado está em uma situação deplorável de conservação, mas a secretaria de Ccultura da cidade tem grandes projetos para o local. Para isto acontecer, o governo precisa ter a propriedade do edifício e, segundo Beth Costa, secretária de Cultura de Ipameri, isto já está sendo providenciado. O projeto é transformar o antigo cineteatro em um Centro Cultural, com exibição de filmes pelo menos uma vez por semana. Beth Costa conta que nunca houve nenhum movimento vindo da própria população pela revitalização do cinema, mas acredita que as pessoas estão entusiasmadas com a reforma do local. Apesar de dizer que em seus tempos de glória o cinema não chegou a atrair pessoas de fora de Ipameri, Beth também acredita que a reforma do cineteatro atrairá turistas para a cidade. Hoje, o cenário está diferente em Ipameri. A cidade que foi pioneira na Comunicação, sofre com a falta de veículos próprios. A informação chega em Ipameri pelos jornais que vêm de Catalão e Caldas Novas, cidades próximas, e as notícias da própria cidade são produzidas apenas pela rádio. IPAMERI | 26


Tecnologia

O projeto social ABC Digital, realizado pela A lino de Carvalho, possui participantes de tod informa sobre informática, internet e digitaç

A evolução tecnológica Um panorama dos laços criados entre os cidadãos e os computadores desde 1989 até os dias de hoje Texto e foto: Tássia Saraiva

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o pela Associação Adede todas as idades e digitação.

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relação entre Ipameri e a tecnologia começa duas décadas atrás com a chegada de dois computadores na prefeitura da cidade, entre 1989 e 1992. Eram do antigo modelo IBM Personal Computer XT, cujo sistema era largamente voltado para usuários de negócios. Mais tarde, entre 93 e 94 foi impressa a primeira folha de pagamento de IPTU, com o uso de um programa redator para computadores. A internet discada chegou à cidade entre 98 e 99, e a banda larga apenas anos depois, quando a empresa BR Turbo sorteou 100 pontos de conexão na cidade. Hoje em dia existem diversas lan houses espalhadas por Ipameri, além dos computadores pessoais. A relação dos cidadãos com a internet é considerada muito forte. Existem também laboratórios de informática de projetos sociais. A Associação Adelino de Carvalho, que desenvolve trabalho educacional com crianças e adolescentes de baixa renda e produz cerâmica decorativa e artesanal, possui uma sala com cursos de digitação, informática e internet. Alberto Costa, diretor da associação, falou da atual tentativa de se implementar um curso para a terceira idade no projeto, mas disse que ainda não existem muitos interessados. Os cursos, voltados para os participantes de seus projetos sociais e para a comunidade, são pagos. Os preços variam entre R$ 10,00 e R$ 20,00, apenas para cobrir os custos do material e da manutenção dos equipamentos. O projeto estadual Bolsa Futuro, presente em 53 municípios de Goiás, também tem sede na cidade. Com cursos profissionalizantes de Comércio, Agronegócio, Funções de apoio e Indústria e infraestrutura, possui, juntamente com a Secretaria de Estado e Ciência e Tecnologia (SETEC), 72 laboratórios de informática espalhados pelo estado, totalizando 3.461 computadores.

Algumas escolas de Ipameri, como a Escola Municipal Agrícola Godofredo Perfeito, têm laboratórios de informática cedidos pelo governo. Apesar de bem equipadas com computadores modernos, o sistema operacional utilizado é o Linux. Presente em poucos computadores pessoais, o sistema pode ser um desafio para os alunos que desejam aprender na escola e praticar em outros locais suas habilidades. Essa relação estreita com a tecnologia nem sempre é bem vista, algumas pessoas mais velhas podem julgá-la excessiva e prejudicial às gerações mais jovens. Beth Costa, secretária de Cultura da cidade, acha que a repetição de atos na frente do computador pode afetar o crescimento de crianças e adolescentes. Além disso, lhes priva de uma conexão maior com a natureza e com outras pessoas, fazendo com que não desenvolvam algumas habilidades. Outro ponto levantado foi a grande procura desse público por conteúdos considerados irrelevantes, desperdiçando todo o tempo dedicado à internet. Ela duvida que a maioria destes jovens visitem sites educativos como Panoramio – Photos of the world, onde você pode explorar qualquer lugar do mundo a partir de fotos postadas pelos usuários. Site no qual Ipameri possui várias fotos. E, também, como o Veduca que disponibiliza cursos universitários nacionais e internacionais, todos em português. Atualmente até a prefeitura da cidade está mais conectada. A criação de uma página no Facebook comprova isso com mais de 8.000 opções curtir. Com o objetivo de mostrar o que está sendo feito na cidade e estreitar os laços entre o governo e os habitantes de Ipameri, a entrada na mídia social foi uma iniciativa da atual prefeita, Daniela Vaz. Já o site foi reformulado no início de seu mandato. Quem faz o gerenciamento dele é a assessoria de comunicação da prefeitura. Apenas em outubro de 2013 o site teve 9.478 acessos. IPAMERI | 26


O renascer econômico de uma cidade A luta entre um passado próspero que não quer ser apenas lembrança e um presente que tenta se afirmar diante dos desafios do novo século Texto: Nara Menezes Foto: Tainá Andrade

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idades que giram em torno da agropecuária não são raridade no estado de Goiás e com Ipameri, colocada por inúmeros moradores como “berço do estado” devido ao pioneirismo do município no início do século XX, não poderia ser diferente. A história aponta a construção da ferrovia que cruzava a cidade como o início de um período próspero em diferentes setores, como o elétrico e o de comunicações. Atualmente, porém, 62% da economia local, X | GRANDE REPORTAGEM

o equivalente a R$419,4 milhões, segundo o Censo do IBGE de 2010, são de responsabilidade do agronegócio, distribuído principalmente entre o cultivo de soja e a produção de laticínios. Apesar da grande produtividade rural, o Secretário do Planejamento, Jânio Carneiro, afirma que aproximadamente 10% dos habitantes estão diretamente envolvidos com este setor, o que resulta na péssima distribuição de renda da cidade. A maior parcela da população depende de empre-

gos no comércio ou nas instituições públicas, por concurso ou por cargos comissionados. A forte dependência de cargos públicos por parte da população afeta diretamente o comércio, cuja movimentação só é relevante na semana em que são efetivados os pagamentos dos funcionários da prefeitura, segundo a comerciante Desirée Mesquita, dona de uma loja de vestuário que leva seu nome. A taxa de inadimplência atinge altos índices devido à falta de união entre os comerciantes e à


ineficácia do Sindicato de Comerciários, o que facilita o não pagamento de dívidas, sugere Desirée. Comerciantes e consumidores comentam também que, apesar de o comércio local abastecer as demandas básicas da população, é frequente deparar-se com altos preços e poucas opções, tornando-se comum recorrer a cidades como Catalão, Caldas Novas ou mesmo Goiânia, principalmente para a compra de roupas e produtos de beleza. Para tentar abastecer as demandas locais, a prefeitura consolidou uma parceria entre o SEBRAE e o Banco do Povo, que visa a instruir os comerciantes por meio de um curso de capacitação. Este único curso torna-se quase irrelevante, se comparado aos 52 organizados pelo SENAI, em parceria com o Sindicato Rural e a Prefeitura

da cidade, que visam a atender o setor rural, garantindo mão-deobra qualificada para operação do maquinário e continuidade do desenvolvimento industrial iniciado há seis anos, com a instalação da Cooperativa Agrícola Rural de Orlândia Ltda (Carol). Sandro Quirino de Araújo, morador do Assentamento rural Olga Benário, afirma que os cursos de capacitação têm aumentado significativamente a produtividade do local, que agora consegue produzir para subsistência e atender a feiras hortifrutigranjeiras de Ipameri e de Catalão. Para que os ensinamentos dos cursos do SENAI possam ser aplicados, os assentados contam, desde o início de novembro, com o financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e, desta forma, conseguem adquirir os materiais necessários ao preparo do solo para o plantio de grãos, iniciado em meados de novembro. O Secretário de Planejamento, Jânio Carneiro, destaca um problema que a Prefeitura enfrenta dificuldades para solucionar: a arrecadação de impostos da produção agrícola da cidade é feita principalmente em Catalão, além de outras cidades vizinhas, devido à falta de utilização dos armazéns locais pelos pequenos produtores, que preferem vender diretamente aos consumidores ou empresas de exportação de outras cidades. Esse escoamento da produção primária para outros municípios dificulta a geração de renda local. Da mesma forma, Sônia Aparecida da Silva Bonato,

agricultora e funcionária do Sindicato Rural de Ipameri, ressalta que a inexpressividade de um comércio de insumos na cidade leva os produtores a comparem em outros polos agrícolas, diminuindo ainda mais o movimento econômico dentro do município. Sônia Bonato aponta outras dificuldades para o crescimento da economia local, como as “péssimas” vias de acesso e escoamento de produção. Diz que a prefeitura vem tentando melhorar as rodovias, mas este ainda é um problema responsável pela demora no transporte de mercadorias. A ausência de armazéns públicos ou de baixo custo destinados aos pequenos produtores consome muito da renda de agricultura familiar e não há previsão de uma solução para o caso, segundo a agricultora. Apesar dos problemas, prefeitura e produtores agropecuários reconhecem que há expectativa de progresso na cidade, especialmente quando se leva em conta a implantação de cursos profissionalizantes e programas federais cuja implementação está sendo iniciada, como o “Minha casa, Minha vida Rural” e o “Água para Todos”. De forma geral, as peculiaridades que fizeram Ipameri se destacar no início do século passado se dissolveram com o tempo, mas atualmente a cidade está aprendendo a constituir um padrão econômico alinhado ao do resto do estado de Goiás. A cidade que já foi exemplo torna-se hoje aprendiz e tenta adaptar-se às novas demandas de mercado, embora esta não seja uma tarefa tão fácil. IPAMERI | 26


10º lugar no PIB do Agronegócio brasileiro Investimentos em tecnologias e programas de qualificação, principalmente, voltados ao pequeno produtor destacam a cidade no comércio nacional Texto:Carolyna Paiva Foto, infografia e arte: Eduardo Carvalho

X | GRANDE REPORTAGEM


Seu Dorvalino, produtor rural

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Brasil é referência mundial no agronegócio e, atualmente, parte desse destaque vem de Ipameri, localizada no Sudeste de Goiás. Com extensão de aproximadamente 4.000 km², o papel da cidade no setor já mudou muito desde o seu surgimento, em 1870. Mais de 60% da economia local vem do agronegócio, que gerou um produto bruto de aproximadamente R$ 420 milhões em 2010, segundo o censo do IBGE, o que explica a colocação de 10º lugar no Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio Brasileiro.

Esse resultado é reflexo do desenvolvimento no setor agropecuário ocorrido nos últimos anos, voltado para as questões tecnológicas, o aperfeiçoamento do solo, aquisição de máquinas e equipamentos e valorização do pequeno produtor. No início do século XX, Ipameri produzia, basicamente, gado para abate e comercialização de carne bovina, leite, derivados e charque, além de uma agricultura de subsistência. Na época, devido à falta de tecnologia, alimentação adequada e conhecimento técnico, a engorda ocorria apenas semesIPAMERI | 26


tralmente pois, com a seca, o gado emagrecia e tinha de ser sacrificado. Além disso, várias áreas eram consideradas inférteis, em decorrência da carência de instrumentos para adubação da terra e regulação da acidez do solo, bem como equipamentos voltados para produção, como tratores. Atualmente, Ipameri é destaque no cenário brasileiro. A cidade hoje investe em uma produção diversificada, incluindo desde leguminosas como soja, milho e feijão, até leite e derivados e o abate de animais. O investimento no campo resulta em uma significativa produtividade anual. São destinados mais de 90 mil hectares à agricultura, o que gera um retorno bruto de aproximadamente 4,5 milhões de sacos graneleiros, no primeiro semestre de cada ano, correspondente a aproximadamente 270 mil toneladas. A produtividade da segunda safra, denominada “safrinha”, varia de acordo com a longevidade de chuva e representa entre 30% e 60% em relação à anterior, em torno de dois milhões de sacas. Além disso, o resultado da atividade bovina também expressa um número positivo. São produzidos, por semana, mais de 500 mil litros de leite e, ainda, há o processo diário de abate de bois. Parte da produção abastece o mercado interno, porém, cerca de 90% são exportadas, principalmente para Goiânia e São Paulo. Os números do agronegócio refletem os investimentos no setor. Os 12 anos de investimento no processo industrial, garantem X | GRANDE REPORTAGEM

Retorno de 4,5 milhões bruto de sacos graneleiros no 1° semestre de cada ano

1200 propriedades rurais voltadas par a produção agricola pecuária

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FONTE: SECRETARIA DO AGRONEGÓCIO DE IPAMERI

dades s para gricola e

O investimento no campo resulta em uma significativa produtividade anual.

3 a 4 mil pessoas empregadas Processo diário de abate dos bois 500 mil litros de leite por semana

MAIS DE

90 MIL

HECTARES DE TERRA SÃO DESTINADOS À AGRICULTURA

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RAKING ESTADUAL AGROPECUÁRIO

2010 DOS 10 MAIORES

Cristalina

Rio Verde

MUNICÍPIOS COM PIB

Jataí

AGROPECUÁRIOS DO

Chapadão do Céu

5° IPAMERI 6°

5 SÃO GOIANOS

Mineiros

Luziânia

Morrinhos

Quirinopólis

10° relativa autonomia em relação à produção e escoamento. Embora a ausência de armazéns públicos ou de baixo custo destinados aos pequenos produtores dificulte a produção agrícola, hoje, Ipameri conta com quatro armazéns privados de médio a grande porte: Caramuru, Serra Dourada, Pecúnia e Itagel. Eles comportam, em sua totalidade, quase uma tonelada de sacos de grãos e são responsáveis, ainda, pela industrialização, refino, extração e exportação. A produção não gera resultados financeiros apenas para os produtores rurais. Segundo o Secretário de Agronegócio, Renato Carneiro, “Ipameri vive em torno do Agronegócio. O retorno para a cidade é dado de forma direta e indireta e pode ser visto em empregos, lojas de produtos agropecuários, restaurantes, revendas de produtos e em outros ramos.”. Segundo o secretário, há, em mé-

dia, 1.200 propriedades rurais na cidade voltadas à produção agrícola e pecuária, que empregam de três a quatro mil pessoas. A fim de manter o crescimento, o foco do Sindicato Ruralista e da Secretaria de Agronegócio é investir nos agricultores familiares. Para isso, vários projetos de suporte e manutenção foram desenvolvidos gratuitamente para aqueles que têm menos recursos financeiros e acesso à informação. Um exemplo implantado este ano é o programa “Balde Cheio”, que consiste em ensinar a técnica e a prática de adubação e manejo de pastagem, alimentação na seca e sistema reprodutivo do animal. Outros esforços vêm da parceria entre o governo e o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), por meio de treinamentos para o aperfeiçoamento de produtores rurais. Este ano, foram ministrados 52 cursos que, segundo Renato

Montividiu

A agropecuária de Ipameri se destaca em t


FONTE: SECRETARIA DO AGRONEGÓCIO DE IPAMERI

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1° CRISTALINA

M PIB DO PAÍS,

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ca em todo o país

MAIORES VALORES ADICIONADOS À AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

10° IPAMERI

Carneiro, são responsáveis pela redução de 30% dos custos totais da produção. Ainda há parcerias direcionadas ao crédito, como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que financia projetos, com a finalidade de gerar renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Entretanto, devido à ampla extensão territorial de Ipameri, os programas não atendem todas as famílias e demandas existentes. Zenaide Ferreira, 52 anos, moradora do Assentamento Olga Benário, ressalta que, mesmo com todas essas iniciativas, “a assistência técnica nunca apareceu. Ainda não chegou trator e as estradas não são boas.”. Outro problema é a falta de investimentos em questões estruturais, como reforça Luiz Afonso, morador do Assentamento. “Este ano entraram programas, mas com limites. Ainda falta crédito

subsidiado para a produção. O programa “Balde Cheio” é fundamental, com ele é possível aprender, mas eu preciso de um pasto, uma terra estruturada, um solo que responda, para aplicar a técnica que aprendi. E isso não existe de fato.”. O governo já apresenta medidas para atenuar esse cenário. Estão previstas para 2014 a construção de dois novos armazéns e de uma fábrica de ração, além do planejamento de alguns projetos voltados para o meio ambiente, como práticas de reflorestamento. Além disso, há novos cursos profissionalizantes agendados, bem como programas como o PNHR (Plano Nacional de Habitação Rural), e o convênio com a AGEHAB (Agência Goiana de Habitação). Todas essas atitudes objetivam fazer com que Ipameri desenvolva-se mais no aspecto econômico e social, tornando os donos de terra verdadeiros IPAMERI | 26


Cidade

Mãos de ofício Há 46 anos, a Cerâmica Boa Nova ajuda jovens carentes a desenvolver habilidades através do artesanato, além de oferecer aulas de reforço e de esportes Texto: Melina Fleury e Eduardo Carvalho Foto: Melina Fleury e Lucas Ludgero Infografia: Eduardo Carvalho X | GRANDE REPORTAGEM


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Cerâmica Boa Nova é uma das instituições mais antigas e tradicionais de Ipameri. Sua imagem é, comumente, associada à cidade pelo importante papel que desempenha, ao movimentar o mercado artesanal e desenvolver a filantropia por meio de projetos sociais de capacitação profissional para jovens carentes. Criada pela Associação Adelino de Carvalho, a Cerâmica desenvolve projetos de integração social desde 1966. À princípio, a Cerâmica era mantida apenas com os recursos financeiros de seus fundadores Margarida Horbylon, Alenon e Irene Fleury. Mesmo assim, tornou-se reconhecida internacionalmente como exemplo de projeto social. A Boa Nova foi classificada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), na década de 80, como uma das cinco instituições modelo da América Latina no atendimento a crianças e adolescentes carentes. Recebeu, também, o prêmio Top 100 Sebrae de Artesanato em 2012 e foi reconhecida pelos jornais norte-americanos The New York Times e The Boston Globe.


História de Boa Nova Melina Fleury

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os anos 1960, Ipameri passava por um problema crescente e degradante: havia número considerável de crianças e adolescentes vivendo nas ruas, fadados à mendicância. Decidida a mudar esta realidade, Margarida buscou parcerias que pudessem ajudá-la a desenvolver um projeto capaz de tirar aqueles jovens das ruas e oferecer-lhes perspectiva de vida, além de capacitação profissional. O apoio de que precisava, encontrou no casal Alenon e Irene Fleury e no Grêmio Espírita da cidade. Inicialmente, a ideia do projeto era realizar um trabalho artesanal com telas de arame, mas após viagem a São Paulo para comprar materiais de produção, novas perspectivas surgiram. Irene e Alenon conheceram o Professor Boog, do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que lhes sugeriu o trabalho de cerâmica. Segundo

o professor, as várias etapas de produção das peças de argila seriam ideais para manter os jovens ocupados e interagindo entre si. O trabalho começou aos poucos, com técnicas arcaicas de produção, mas, apesar da falta de recursos tecnológicos, a equipe sempre se preocupou com a apresentação das obras de artesanato: todas as cerâmicas recebiam os dizeres “Lembrança de Ipameri”, escritos com tinta à base de ouro, uma tendência da época. Como a tinta era cara e a escrita requeria precisão no traçado, Irene e Margarida costumavam se encarregar desta etapa. “Muitas pessoas nos perguntaram se nossa intenção era formar ceramistas e o que aconteceria com o comércio da cidade, mas nossa intenção sempre foi educar, alcançar a família através da criança. Queríamos trabalhar disciplina e educação”, comentou Irene Fleury sobre os objetivos do projeto. Na época em que a Cerâmica foi criada, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ainda não existia e, portanto, não havia restrição de idade para a participação no processo de produção. “Margarida decidia muito pelo coração e pela própria percepção. Às vezes, via uma família cuja mãe não tinha onde deixar os filhos e aceitava os meninos. Então tivemos muitas crianças com oito anos por lá, apesar de a idade mais comum ser a partir dos 10, 12 anos”, contou Alenon. Nesse mesmo período, foi criado o

programa Jovem Trabalhador, que profissionalizava crianças que trabalhavam nas ruas como engraxates, faxineiros ou vendedores ambulantes. Era, também, uma forma de fazer a triagem destas crianças para que, posterirormente, entrassem na Cerâmica. Desde que foi criada, a Boa Nova passou por muitas mudanças, tanto nos processos de produção, quanto na quantidade de jovens assistidos. Quando o ECA entrou em vigor, somente adolescentes com 15 anos ou mais podiam participar e, por isso, muitas crianças deixaram de ser beneficiadas. “O Estatuto da Criança e do Adolescente mudou as dinâmicas da Cerâmica. O código da criança deveria ser revisto por região, para que cada uma pudesse trabalhar com a sua própria realidade. Nós agora somos obrigados a trabalhar com uma realidade que não é a nossa,” afirmou a Secretária de Comunicação e Turismo de Ipameri, Beth Costa. O presidente da Boa Nova, Alberto Costa, explicou que o projeto não poderia ser classificado como trabalho infantil, pois é uma forma dinâmica e educativa de ocupar as crianças, sem visar lucros com o trabalho delas. Antes de se tornar presidente, Alberto entrou na Cerâmica como aluno em 1978 e hoje representa a segunda geração de administradores. “Para o governo, o trabalho faz um jovem de 14 anos perder a infância. É preciso ter bom senso. Nas classes sociais mais altas, os jovens têm ocupação: aulas de inIPAMERI | 26


glês, natação, piano... E para aquele de baixa renda? Ele quer uma roupa nova, um celular. E onde consegue?”, concluiu Alberto. Atualmente, a Cerâmica passa por dificuldades financeiras de manutenção devido à queda nas vendas. Segundo Alberto, a competição no mercado de artesanato está acirrada, devido ao número de profissionais muito especializados. “Nós não somos uma empresa. Não lançamos produtos novos sempre. E os clientes não aceitam mudanças de preço em produtos antigos. Talvez seja um sintoma do voluntariado”, conta sobre as limitações da instituição. O presidente comentou, também, que o modelo de trabalho estabelecido pelo ECA dificulta a relação com os adolescentes. Antes, a Cerâmica recebia crianças mais jovens e, assim, tinha chance de educar e transmitir valores, mas hoje a construção da disciplina e do comprometimento é mais

difícil. “Quando o menino chega com 15 anos, está com vícios. O foco da instituição não é preventivo, mas terapêutico, que é muito caro, difícil e muito penoso”, completou Alberto. Os jovens recebem uma bolsa mensal e bonificação que varia de acordo com o desempenho durante o trabalho. De todo modo, apesar das dificuldades, Boa Nova mantém-se estável e os responsáveis mostram-se confiantes para levar o trabalho à diante. “É preferível ir mais devagar, mas todo mundo junto, do que um sozinho na frente”, afirmou Alberto. Equipes do projeto vão, regularmente, a escolas públicas divulgar o trabalho e procurar jovens interessados no trabalho da Cerâmica. Ao longo dos últimos 40 anos, a Cerâmica conseguiu desenvolver a mentalidade do amparo na comunidade de Ipameri e evitou que muitas crianças chegassem, ainda pequenas, à condição de pedintes.

Processo de produção das peças ETAPA 2:TORNEAMENTO

o processo possui 5 etapas. em todas elas, há adultos auxiliando os aprendizes

a argila começa ganhar forma de vaso

ETAPA 1 :ARGILA

três Máquinas aperfeiçoam a argila para o uso X | GRANDE REPORTAGEM


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Projetos sociais Eduardo Carvalho

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oficina-escola Cerâmica Boa Nova surgiu da Associação Adelino de Carvalho na década de 60 e levou um novo olhar à juventude carente de Ipameri. A iniciativa assiste adolescentes na faixa etária de 15 a 17 anos, capacitando-os e complementando a renda familiar com uma bolsa de iniciação ocupacional. Além disso, a Cerâmica incentiva a permanência escolar, pois, para ser aceito, o adolescente deve estar matriculado na rede pública de ensino. O processo de produção na Cerâmica (ver nfográfico abaixo).é divido em três seções: torneamento, acabamento e pintura e acessórios. Cada uma é liderada por monitor e auxiliares, que assessoram a equipe tanto às técnicas de produção, quanto à orientação educacional. Estes profissionais são ex-alunos

ETAPA 3: ENTALHE

Após o torno, o vaso passa pela fase de acabemento em que os desenhos são feitos

da oficina que voluntariam-se para ajudar e, por isso, têm experiência na produção e no acompanhamento dos adolescentes. A Associação Adelino de Carvalho também desenvolve trabalhos sociais para menores de 15 anos. Segundo o presidente da instituição, Luiz Alberto Costa, estes projetos são alternativas às crianças que não podem ingressar na Cerâmica, por não terem idade para trabalhar. Adolescentes na faixa de 13 a 14 anos podem participar do Ponto de Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura. Voltado às crianças com menos de 12 anos, há o Projeto de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do governo federal em parceira com a prefeitura e a associação. “Estes projetos não têm a parte do trabalho, da iniciação profissional. É apenas reforço esco-

ETAPA 4:QUEIMA

os vasos vão ao forno à gás de 860° por um dia

Adolescentes aprendem as etapas de produção da cerâmica

ETAPA 5:PINTURA

depois do forno, as peças recebem a última decoração E OS ACESSÓRIOS

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Alexandre Alves entrou na Associação Adelino de Carvalho pelo PETI.

Luiz Antônio Alves, o Litte, é funcionário da Cerâmica Boa Nova há 34 anos.

Crianças do PETI confeccionando artigos para a decoração de Natal sob supervisão da professora

lar, teatro, taekwondo, informática, escolinha de violão, futebol. Enfim, uma ocupação pra essas crianças e jovens”, afirma Luiz Alberto. As crianças que participam do PETI recebem aulas diárias, que vão desde língua portuguesa até práticas desportivas. Em novembro, os alunos se envolvem na produção artesanal de artigos natalinos, sob a supervisão da professora de Artes e Teatro, Claúdia Decúrcio Cabral. Os decorativos são feitos a partir da reutilização de garrafas pet e a criação fica a cargo das crianças. O objetivo é estimular a criatividade, educar para a sustentabilidade e levar a alegria das crianças a Ipameri com enfeites de Natal feitos por elas. Atualmente, as turmas de Claúdia esperam os materiais para acabamento das peças que serão cedidos pela prefeitura. O PETI funciona como porta de entrada ao mercado artesanal para aqueles que desejam se aperfeiçoar no ramo. Alexandre Alves entrou para o projeto aos 12 anos e agora, aos 15, trabalha na Cerâmica Boa Nova. Ele acredita que o PETI é uma oportunidade que ajuda nos estudos e na qualificação para o mercado de trabalho. Assim como Alexandre, o funcionário Luiz Antônio Alves, conhecido como Litte, descobriu a associação Adelino de Carvalho aos 12 anos. Desde então, dedicou-se à Cerâmica e fez do artesanato sua principal fonte de renda. Com 34 anos de contribuição à Boa Nova (ele tem 46 anos?), hoje ele auxilia o projeto na área de trabalhos manuais, mas já esteve na decoração, no entalhe e na área de relações públicas.


Apesar das oportunidades que a Cerâmica oferece, Litte aponta o fato de que, atualmente, os adolescentes estão mais desinteressados. Segundo ele, este problema decorre do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que deli-

mita idade mínima para trabalhar. “Ele [o adolescente] entra aqui e não é como antigamente, que crescia. Sai rapidamente e não tem muito compromisso, por isso hoje está mais complicado de lidar com eles”.

Adair Valdivino, ex-engraxate de 50 anos, revela gratidão à Cerâmica Boa Nova e a seus responsáveis Aos 13 anos de idade, Adair Valdivino de Souza era um dos muitos meninos engraxates que trabalhavam na Praça da Liberdade. Irmão de mais oito jovens, acabou sendo “encontrado” por Margarida Horbylon e pela atual Secretária de Comunicação e Turismo, Beth Costa, que o convidaram para o programa Jovem Trabalhador, no qual legalizou seu trabalho de engraxate. “Era difícil, porque lá na praça, às vezes, a pessoa pedia para engraxar e saía sem pagar e o no Jovem Trabalhador a gente passou a ter advogado, dentista e médico”, relembrou. Aos 15 anos, ficou conhecido como Fizin e ingressou efetivamente na Cerâmica, onde logo virou Chefe da tapeçaria e, depois, assumiu o cargo de Coordenador Geral. Aos 50 anos, Adair se emociona ao falar da Cerâmica, onde trabalhou lá por 25 anos, mas nunca parou de prestar ajuda. Hoje é motorista voluntário e conta feliz que a instituição o ajudou a tirar carteira do tipo “E”, para conduzir caminhões. Oficialmente, trabalha como motorista do conselho tutelar, mas diz não ter deixado a Cerâmica: “Saí, mas não me desliguei de lá, porque eu participo de tudo, sei o que está acontecendo”. Adair conta do carinho que sente por Margarida, que diz ser uma pessoa boa como ele nunca viu igual, “Dona Margarida cobrava até na maneira de falar, corrigia. E a gente sabia que ela estava querendo o nosso bem mesmo”. Ressalta que pessoas como Dona Margarida e o Doutor Alenon eram “companheiros com a gente, paravam para nos ouvir. E ensinavam sempre que caráter é mais importante que dinheiro.” Adair ressalta que Cerâmica sempre fará parte de sua vida, afinal foi o que mudou sua visão de mundo: “A Cerâmica me ajudou muito, o que eu faço hoje por ela não é nem um pouquinho do que eles me deram. O que aprendi lá está valendo para minha vida. Eu não sou formado nem nada. A gente não vai conseguir consertar todos os jovens, mas muitos são homens de família. Hoje você não vê menino pedindo nas ruas,” contou satisfeito. IPAMERI | 26


Escola básica:

Um espelho de múltiplas faces

Diferenciais e contrassensos da rede pública em Ipameri Texto e Fotos: Mariana Lozzi

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o dia 02 de janeiro de 2013, Ana Lúcia Vaz Simão e mais dez Secretários ocuparam suas salas na prefeitura da cidade, marcando o início da gestão da Prefeita Daniela Vaz Carneiro, eleita pelo PSDB no final de 2012. Com 22 anos de experiência na área de educação, Ana Lúcia hoje é responsável por administrar 16 escolas municipais

da cidade de Ipameri. Faltando um dia para completar onze meses desde o início de seu trabalho no gabinete da Prefeitura, no dia 1º de novembro Ana Lúcia Vaz Simão senta-se atrás de sua mesa. Nas cadeiras à sua frente, dois jovens lhe aguardam-na com câmeras fotográficas penduradas nos pescoços e gravadores em punho. Enquanto blocos de notas eram arranhados

por canetas frenéticas, em tentativa de registrar cada de suas frases, a Secretária de Ipameri ritmava a fala, pronunciando cada palavra. Depois que a conversa teve fim e Ana Lúcia se despediu dos entrevistadores com dois beijinhos nas bochechas de cada, as cadeiras foram ocupadas por uma nova dupla de jovens. Assim haveria de transcorrer o resto de sua manhã – na mira de um gravador, IPAMERI | 26


a Secretária de Educação do Município de Ipameri introduziu os visitantes (os estudantes/repórteres da UnB) ao cenário educacional da cidade. De cabelos descoloridos, olhos claros, pequena estatura e gesticulação incessante, Ana Lúcia fala de sua cidade com entusiasmo, “A localização geográfica de Ipameri é muito privilegiada. Somos a intersecção entre as grandes metrópoles de Minas, de Goiás e estamos pertinho da capital da República!”. Sobre a sua mesa repousam algumas canecas com canetas, uma pilha de papéis e, no centro, um documento fechado em cuja capa se lê: “Plano de Educação 2014”. Ela desliza as mãos sobre os papéis e diz: “Esse aí eu ainda não corrigi, por isso X | GRANDE REPORTAGEM

não posso discutir nossas metas para 2014 com vocês”. Apesar da insistência, Ana concordou em citar duas atribuições urgentes da Secretaria de Educação para o próximo ano: a nomeação de novos Diretores para as unidades escolares e a definição de um calendário escolar para o período da Copa do Mundo. “Apesar das dificuldades que enfrentamos diariamente, acredito que os habitantes de Ipameri se orgulham de nossas escolas” começa Ana Lúcia, referindo-se aos mais recentes dados liberados sobre o Ideb (Índices de Desenvolvimento da Educação Básica), indicador criado pelo governo federal para medir a qualidade de ensino nas escolas públicas. “Com média 6.5,

Ipameri superou a média nacional de 5.0”, explica, referindo-se aos índices de 2011. “Dentro do Estado, nossas escolas só perdem para as federais”, revela, com sorriso triunfante. A Secretária menciona a média de remuneração do professor da rede pública em Ipameri, considerado por ela suficiente para levar uma vida relativamente confortável. Em 2008, a Lei 11.738/08, conhecida como “Lei do Piso”, estabeleceu um piso salarial válido em todo país para os professores de Ensino Fundamental e Médio. No ano de implantação da Lei, era de R$950,00 e desde então houve um aumento no piso de R$617,00, hoje fixado em R$1.567,00. “Em janeiro de


cada ano, podemos observar um aumento considerável no salário do professor”, diz Ana Lúcia, referindo-se à obrigatoriedade de atualização do piso no mês de janeiro, como prevê a Lei. do Piso. Em 2014, o aumento salarial dos professores é estimado em 19%. “É como ser Diretora de 16 escolas”, desabafa Ana, referindo-se à carga de trabalho na Secretaria. Apesar de ser responsável por um grande número de unidades escolares, ela não tem controle sobre as nove escolas Estaduais de Ipameri. “A prefeitura fica encarregada de gerir as unidades municipais, por isso, não tenho acesso aos dados das estaduais”, revela.

encarregados de absorver toda a demanda da cidade por educação média gratuita. Segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre 1991 e 2010, 54,3% dos jovens ipamerinos de 15 a 17 anos concluíam o ensino médio. Índice consideravelmente maior que os 13,2% de crianças entre 7 e 14 anos que não estavam cursando o Ensino Fundamental. Denise dos Santos Miguel, Coordenadora Pedagógica da Escola

Estadual Normal César Augusto Ceva, atribui a defasagem escolar entre alunos do Ensino Médio mais ao desejo de obterem independência financeira do que ao envolvimento com drogas ou gravidez precoce. “Normalmente, os alunos que deixam a escola estão envolvidos com o comércio local ou como programas de capacitação empresarial, como o IEL”. O Instituto Euvaldo Lodi (IEL) oferece serviços de capacitação empresarial e gestão financeira a distância e, por não exigir

Uma sala de muitos espelhos

Em Ipameri, mais de 30 escolas funcionam regularmente, número considerável quando são levados em conta os quase 25 mil habitantes do município. Mas somente três delas oferecem Ensino Médio: a Escola Estadual Normal César Augusto Ceva (ENCAC), o Colégio Estadual Pedro Eduardo Mancini (CEPEM) e o Colégio Universitário Sistema Poliedro, entidade privada. Considerando que nenhuma dessas é municipal, o trabalho que a Prefeitura realiza na coleta de dados para a obtenção de um panorama geral da educação no município fica restrito ao Ensino Fundamental. Além de a falta de comunicação entre os governos municipal e estadual comprometer a obtenção de um panorama realista da educação em Ipameri, os colégios estaduais CEPEM e ENAC ficam IPAMERI | 26


diploma de conclusão de Ensino Médio, é uma alternativa comum aos jovens ipamerinos que procuram inserção no mercado de trabalho.

Área de intersecção

As diferenças entre os desempenhos de alunos de Ensino Fundamental de escolas estaduais e municipais não constam nos documentos de controle da Prefeitura nem do Estado. Assim, as X | GRANDE REPORTAGEM

divergências entre as respostas aos métodos de ensino das redes são analisadas em conversas informais entre professores, e não dentro de gabinetes. A razão da ausência de instrumento pedagógico que vise nivelar os desempenhos dos alunos das escolas públicas em Ipameri é a adoção, pela Prefeitura e pelo Estado do Goiás, de exames distintos. Enquanto as escolas municipais realizam a Prova Brasil,

as estaduais avaliam o desempenho pelo Saego (Sistema de Avaliação Educacional do Estado de Goiás), tornando inviável uma análise comparativa. Denise dos Santos Miguel, além de Coordenadora da Escola Normal durante a manhã, trabalha, no turno da tarde, no Centro Municipal de Ensino e Treinamento João Marcelino. “É bastante comum”, explica a Secretária Ana Lúcia, “que professores da rede estadual


também dêem aula na rede municipal, uma coisa não impede a outra”. Ana acredita que a participação de professores em ambas as redes só tem a contribuir para o diálogo entre as unidades estaduais e municipais. Maria Ivone, Diretora da Escola Municipal Godofredo Perfeito, declarou que procura conversar com o corpo docente de colégios Estaduais antes de adotar determinado nível didático. “Assim, evitamos tomar

rumos pedagógicos muito diferentes”, diz Maria Ivone.

Telefone sem fio

O Colégio Estadual Professor Eduardo Mancini, mais conhecido como CEPEM, com 80 anos, é a unidade escolar mais antiga e com maior número de alunos matriculados (580 alunos). Formada em Artes Visuais e Pedagogia, Márcia Aparecida leciona no colégio há 14 anos, se reveza

entre salas de aula de Ensino Fundamental e Ensino Médio e, assim como a colega Denise dos Santos Miguel, dá aulas para ambas as redes. Ao longo dos anos, Márcia coletou impressões sobre os possíveis desdobramentos da bipartição da educação pública dentro do município. “Acredito que o aproveitamento na rede municipal seja maior, talvez porque seja mais rigorosa. O fato de haver uma Prefeitura praticamente no quintal das escolas é de grande ajuda durante as horas de crise”, ela explica. Segundo Márcia, a grande distância entre as escolas estaduais e a sede do governo do Estado de Goiás dificulta a comunicação. “Não é incomum termos de nos deslocar até a Subsecretaria, em Pires do Rio, quando o problema exige urgência maior”, ela revela. Além da demora na obtenção de uma resposta quando um problema da escola é transmitido para uma das Subsecretarias estaduais, a mensagem, de tanto ser repassada por mediadores, corre o risco de chegar danificada aos ouvidos de quem interessa. Com a experiência que adquiriu como educadora Márcia entende que as prioridades do sistema educacional brasileiro precisam sofrer mudanças drásticas para que os alunos não sejam prejudicados. “Somos contemplados por um sistema educacional que visa quantidade e não qualidade”. Segundo Márcia, os alunos são “bombardeados” com um volume muito grande de conteúdo para ser aprendido em um curto período de tempo. Com isso, completa a professora, “a aprendizagem torna-se superficial, o conIPAMERI | 26


teúdo não é fixado devidamente e nem aprofundado e, uma vez que o aluno deixa a escola, é fácil esquecer-se do que foi aprendido em sala de aula”. Um dos efeitos negativos dessa mentalidade imediatista, afirma Márcia, é tornar os alunos dependentes de resumos didáticos, conhecidos como “fórmulas”. Tais fórmulas são eficientes durante a prova porque auxiliam o aluno a se lembrar um conteúdo extenso, mas, em longo prazo, a fórmula é esquecida. Márcia também explica que o aluno não precisa necessariamente entender o processo de raciocínio que resultou na fórmula para usá-la na prova e obter êxito, o que acaba X | GRANDE REPORTAGEM

por desestimular a curiosidade na busca por conhecimentos fundamentados. “O jovem precisa saber que ele é capaz de andar com as próprias pernas.”, sintetiza.

Faxina

Em seu escritório na Prefeitura de Ipameri, na mesma manhã de novembro em que aspirantes a jornalistas a visitaram com gravadores e canetas frenéticas, a Secretária de Educação Ana Lúcia contou uma historia antiga que se desenrola até o presente. Quando foi indagada a respeito de dados precisos e quantitativos imprescindíveis para traçar um panorama geral da educação no Município, disse: “Queria poder

ajudá-los, mas não posso.” Sorriu com os olhos baixos e espalmou as mãos sobre o “Plano de Educação 2014”. “Quando cheguei nessa sala, dia 2 de janeiro, encontrei o escritório limpo. E não é de pó que estou falando – não havia um único documento referente ao trabalho da gestão anterior. Queriam que eu começasse do zero”. Ana descreve o episódio como uma prática recorrente dentro de Prefeituras de Municípios pequenos quando a troca de gestão faz com que alianças políticas sabotem os mandatos umas das outras na alternância do poder. “Infelizmente, é assim que se faz política por aqui”, ela diz, e levanta para se despedir dos visitantes.


Inclusão A Escola Estadual Dom Bosco é um exemplo de tratamento aos alunos portadores de necessidades especiais. Hoje, 119 crianças são divididas em cinco turmas, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. Em cada uma das salas, há dois professores – um é chamado “professor titular” e o outro, “professor de apoio”, pois dedica atenção exclusiva aos alunos portadores de necessidades especiais. Maria Rosilda, Coordenadora de Turno da Escola Estadual Dom Bosco, esclarece, “Somos orientados a admitir na escola todas as crianças cujos pais nos procuram. Não importa qual seja a natureza da deficiência de nossos alunos, encontramos formas de nos adaptarmos”. Os educadores da Dom Bosco também são orientados a resolver problemas disciplinares através de conversa com alunos e da inclusão dos pais. “Infelizmente”, completa a Coordenadora, “muitos de nossos alunos não têm pais participativos, acho que pela falta de tempo”. Dos 119 alunos matriculados na escola, 16 apresentam transtornos mentais relacionados à dificuldade de aprendizagem e, um deles, problema de visão. “Para que esses alunos sejam devidamente acompanhados, a presença de um Psicólogo e um Fonoaudiólogo dentro da escola é de extrema importância”, diz Maria Rosilda. Porém, a Coordenadora explica que, em conversas anteriores com a Secretaria do Estado, a disponibilização de profissionais especializados mostrou-se inviável. Apesar das dificuldades na comunicação com os provedores de material didático e assistência especializada, a diretora Luciana Gonçalves se mostra satisfeita com o trabalho desempenhado pelo corpo docente da Dom Bosco, “É sempre possível buscar apoio na Prefeitura ou na Subsecretaria em Pires do Rio, não posso deixar de estar orgulhosa de nossa escola”.

Maria Rosilda,

Coordenadora de Turno da Escola Estadual Dom Bosco

“Somos oriennatadesosa admitir as cricola todasjos pais anças cu m. Não nos procura al seja importa qu da dea naturezae nossos ficiência dencontraalunos, mos formas”. de nos adaptarmos


Lazer

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Do interior para o mundo

O lado artístico da cidade ganha cada vez mais visibilidade internacional através do ballet

Texto e Foto:Bruna de Araujo Lima Ilustração: Eduardo Carvalho

O

s alunos da Cia de Ballet Farley Mattos se preparam para umas das maiores chances de seguir carreira na dança. Professores da Miami City Ballet School, dos Estados Unidos, vieram até Ipameri à procura de novos talentos e com o intuito de distribuir bolsas de estudo do programa Summer Intensive. Selecionaram 15 bailarinos, sendo três deles com bolsa integral. O curso, que acon-

tecerá no mês de julho em Miami, tem duração de apenas um mês. Caso o aluno tenha um bom desenvolvimento, pode ganhar a chance de continuar dançando na escola americana, potencializando as projeções de ser tornar um grande bailarino. Giovana Castro (12 anos) e Tamara Reis (11 anos) estão ansiosas para a viagem. As duas ganharam bolsa integral e pretendem aperfeiçoar suas técnicas e dar início

a uma carreira promissora como bailarinas, sonhando chegar a fazer parte da mais famosa academia: a Bolshoi. Hoje, elas reconhecem que todo o esforço, disciplina e dedicação valeram a pena. “A sapatilha já deixou de machucar faz tempo. Agora é hora de treinar bastante para seguir carreira como bailarina profissional”, relata Giovana. A Cia de Ballet Farley Mattos tem sua matriz em Ipameri e uma filial em Caldas Novas. São mais


de 400 alunos na sede e 200 na filial, que, além do ballet, oferecem aulas de jazz e artes marciais. “Uma das maneiras de incentivar meus alunos é trazendo professores renomados para dar aula” diz o dono e professor da academia que leva seu nome, Farley Mattos. Já passaram por lá Aurora Dickie, da Whashington Ballet, Mavi Chiachieto, formada pela Royal Academy of Dance de Londres e o uruguaio Jorge Peña,, que trabalhou no Ballet da Câmara em São Paulo. “O espetáculo da academia que ocorre em dezembro é um dos grandes motivadores para os alunos”, diz Farley. Os festivais de final de ano de ballet são um dos eventos mais aguardados pela cidade e capazes de chamar um grande público, tendo se tornado uma tradição em Ipameri. Além Cia de Ballet Farley Mattos, a Rise Studio de Dança contribui fortemente para a visibilidade de novos talentos brasileiros, além de abarcar projetos sociais que dão oportunidade a crianças e adolescentes carentes de terem um contato significativo com a cultura. A academia engloba estilos de dança que variam desde o


Quem é Farley Mattos?

A sapatilha já deixou de machucar faz tempo. Agora é hora de treinar bastante para seguir carreira como bailarina profissional Giovana Castro clássico, até o contemporâneo e o estilo livre. É dirigida por Maria Eliane Barbosa e conta com a concepção coreográfica das filhas Raissa e Mayara. A Rise Studio, em seus 11 anos de existência, fez muita história. Em 2012, o grupo participou da mesma seleção para o Summer Intensive da Miami City Ballet School. Este ano, apresentou-se em Berlim, na Alemanha. Hoje, os bailarinos da Rise Studio se preparam para o espetáculo La Danse, que acontecerá em Ip-

ameri e, em 2014, será apresentado no Grand Prix de Dança dos EUA, na Flórida. Juntas, Rise Studio de Dança e Cia de Ballet Farley Mattos contribuem para a visibilidade de Ipameri, no cenário cultural. Ao explorarem uma das mais consagradas expressões artísticas de forma tão competente, dão à população uma opção de atividade e exportam grandes talentos, engrandecendo culturalmente o nome da pequena, porém importante, cidade do interior de Goiás.

Farley Mattos iniciou seus estudos aos nove anos de idade e viu no ballet um modo de vida. Apresentou-se em palcos internacionais e chegou a ganhar quatro prêmios de melhor bailarino nos festivais dos quais participou, trazendo suas experiências para dentro da sala de aula. Além de ministrar aulas de dança, Farley ocupa o cargo de diretor municipal de eventos culturais de Ipameri, sendo responsável por organizar desfiles, aniversários, festas sociais e, neste ano, o famoso carnaval local, que lota a cidade com a recepção de vários turistas. Sonha, ainda, em ocupar o cargo de prefeito de Ipameri, trazendo a liderança, luta e garra que aplica no balé para o mundo político.

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