www.revista100porcentocaipira.com.br Brasil, setembro de 2014 - Ano 2 - Nº 15 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Festa de Barretos
comemora saldo positivo REVISTA 100% CAIPIRA |
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Cai o número de pessoas que passam fome no mundo
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Arroba do boi deve seguir em alta no 2º semestre Produção familiar: o mais importante pilar da agricultura
Saboreie uma deliciosa sobremesa com o Abacate
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Agricultura familiar contribui para erradicação da fome no Brasil, diz ONU
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PIB do agronegócio cresce 1,9% no 1º semestre
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Barretos: flashes da festa de peão
Inteligência Geográfica na gestão agrícola
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SEGURANÇA ALIMENTAR
Cai o número de pessoas que passam fome no mundo Atualmente, 63 países em desenvolvimento atingiram a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e a América Latina e o Caribe se destacam com os maiores avanços
C
erca de 805 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome, de acordo com o novo relatório das Nações Unidas divulgado este mês. O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2014, na sigla em inglês) confirmou a tendência positiva global de diminuição do número de pessoas que passam fome, reduzindo 100 milhões na última década e mais de 200 milhões em relação a 1990-1992. A tendência geral na redução da fome nos países em desenvolvimento significa que o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) de reduzir pela metade a proporção de pessoas subalimentadas até 2015 pode ser alcançado “se os esforços adequados e imediatos forem intensificados”, aponta o relatório. Atualmente, 63 países em desenvolvimento atingiram a meta dos ODM, e mais seis estão próximos de alcançá-la em 2015. O documento aponta que a erradicação da fome requer o estabelecimento de um ambiente favorável e de uma abordagem integrada, o que inclui investimentos públicos e privados para aumentar a produtividade agrícola; o acesso 6 | REVISTA 100% CAIPIRA
à terra, serviços, tecnologias e mercados; e medidas para promover o desenvolvimento rural e a proteção social para os mais vulneráveis. O relatório também enfatiza a importância de programas de nutrição específicos, principalmente para corrigir as deficiências de micronutrientes de mães e crianças menores de cinco anos. O relatório é publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA). A redução da fome acelerou, mas alguns países ainda não avançaram. Apesar dos avanços significativos em geral, várias regiões e sub-regiões ainda não avançaram. Na África Subsaariana, mais de uma em cada quatro pessoas permanecem cronicamente subalimentados. Na Ásia, região mais populosa do mundo, 526 milhões de pessoas passam fome. A Oceania apresentou uma melhoria modesta na prevalência de desnutrição (1,7% de queda), que era de 1 % em 2012-14. Por outro lado, a América Latina e o Caribe
se destacam como a região com os maiores avanços globais no aumento da segurança alimentar. De acordo com o relatório a proporção de pessoas que sofre com a subalimentação na região América Latina e Caribe caiu de 15,3% em 1990/92 a 6,1% em 2012-2014, totalizando 37 milhões, diferente das 68,5 milhões registradas em 1990-92. Isso significa que em pouco mais de duas décadas, 31,5 milhões de homens, mulheres e crianças superaram a subalimentação. A América Latina e o Caribe também é região que concentra o maior número de países que alcançaram o ODM relacionado à fome. No total, 14 países já cumpriram a meta e, segundo o SOFI, outros três países estão a caminho de alcançar antes de 2015. O relatório deste ano traz ainda sete estudos de caso - Bolívia, Brasil, Haiti, Indonésia, Madagascar, Malaui e Iémen - que destacam algumas iniciativas de como estes países estão combatendo a fome. Os países foram escolhidos por causa de política, economia, diversidades e diferenças culturais, principalmente no setor agrícola.
Brasil:
país cumpriu com ambas as metas Dos países da América Latina e Caribe, o Brasil foi um dos que cumpriu tanto a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem com a fome (meta 1C dos ODM) quanto à meta de reduzir pela metade o número absoluto de pessoas com fome (meta CMA). No período base (1990-1992), 14,8% das pessoas sofriam de fome. Para o período de 20122014, o Brasil reduziu a níveis inferiores a 5%.
Para a Representante Regional Adjunta da FAO para a América Latina e Caribe, Eve Crowley, a implementação de um conjunto de políticas públicas de forma articulada e integrada, com o estabelecimento de marcos legais e institucionais permitiram os avanços do país na superação da fome. “Nos últimos anos, o tema da segurança alimentar foi posto no centro da agenda política do Brasil. Isso permitiu que o país alcançasse tanto o primeiro objetivo do ODM como da Cúpula Mundial da Alimentação”, avaliou Eve Crowley. Os atuais programas que têm
como objetivo erradicar a pobreza extrema no país estão focados na vinculação de políticas para o fortalecimento da agricultura familiar com a proteção social de forma inclusiva.
“
Há ainda muito a ser feito no Brasil, mas as conquistas estão preparando o país para os novos desafios que deverão enfrentar
”
Representante Regional Adjunta da FAO. REVISTA 100% CAIPIRA |
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ABASTECIMENTO
Agricultura familiar
contribui para erradicação da fome no Brasil, diz ONU
30% dos alimentos que compõe a merenda escolar são de produtores locais As políticas públicas voltadas para agricultura familiar são destaques no combate à fome e na superação da extrema pobreza. É o que revelam os relatórios “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo” e “Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil – Um Retrato Multidimensional”, divulgados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). De acordo com os documentos, a agricultura familiar desempenhou papel importante no aumento da oferta de alimentos. 8 | REVISTA 100% CAIPIRA
Somente no ano passado, os investimentos em programas de apoio aos agricultores familiares somaram R$ 17,3 bilhões. Outra ação reconhecida pela FAO foi o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que estabelece, como meta, a compra de 30% dos alimentos que compõe a merenda escolar diretamente dos produtores locais. Para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Laudemir Müller, a reforma agrária também merece menção nos êxitos alcançados pelo País.
“Com políticas voltadas para a reforma agrária e concessão de crédito, possibilitamos aos trabalhadores uma alimentação melhor, além de condições para que produzissem excedentes que contribuíram com a saúde da população brasileira. Geramos renda, reduzimos a desigualdade e aumentamos a capacidade de produção do País”, destacou. Representante Regional Adjunta da FAO para a América Latina, Eve Crowley explicou que os avanços brasileiros foram possíveis porque os programas de distribuição de renda e erradicação da pobreza estão vinculados às políticas de fortalecimento da agricultura familiar. “A agricultura familiar é uma poderosa ferramenta para garantir a segurança alimentar da população mundial e das futuras gerações. Essa é uma visita de agradecimento e de esperança para podermos continuar atuando juntos”. Brasil sai do Mapa da Fome O desempenho brasileiro é um marco. De acordo com os relatórios apresentados pela FAO, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome em 2014. Os documentos também mostram que o Indicador de Prevalência de Subalimentação, medida empregada pela FAO há 50 anos para dimensionar e acompanhar a fome em nível internacional, tem no Brasil nível menor que 5% - percentual fixado pela organização para considerar um país superou o problema da subnutrição.
PESQUISA
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ARTIGO
Preservação de áreas verdes urbanas contribui para a qualidade de vida
* Por Paulo Figueiredo Quando falamos em Dia da Árvore, comemorado em 21 de setembro, costumamos lembrar das florestas. No entanto, a conservação de árvores em áreas urbanas é uma iniciativa que também merece uma atenção especial. Isso porque um estudo divulgado recentemente por pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, apontou que os moradores de bairros com menos de 10% de áreas arborizadas são mais propensos a sofrerem com sintomas de depressão, estresse e ansiedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o recomendado é que 10 | REVISTA 100% CAIPIRA
exista um mínimo de 12m² de área verde por habitante. O número está bem distante de algumas cidades brasileiras, como São Paulo. Apesar de dados divulgados pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente apontarem que a cidade possui 12,43 m² de área verde por habitante, quando consideramos apenas a mancha urbana da capital paulista, ou seja, o conjunto de ruas, residências e comércios, o município tem uma média 2,6m² por pessoa. Na contramão temos Goiânia, a capital de Goiás, que possui 94 m² de área verde por habitante. Esse é o segundo maior índice do mundo e fica atrás apenas de Edmonton, no Canadá.
Porém os espaços verdes vão muito além da beleza e bem-estar, as árvores atuam no combate à poluição, contribuindo para melhorar a qualidade do ar respirado, reduzem o calor e a incidência direta de raios solares, além de serem importantes para a retenção das águas das chuvas, reduzindo a ocorrência de enchentes. Diante de tantos benefícios, a preservação e cuidados com esses espaços verdes se transformaram em ações extremamente importantes. Para isso temos a Silvicultura Urbana, uma atividade responsável pelo cultivo e manejo de árvores em busca do bem-estar fisiológico, social e econômico da sociedade urbana. A partir des-
se trabalho, os profissionais conhecem as melhores técnicas de poda, visando à preservação da vida das árvores e todo o entorno em que estão localizadas, como a fiação de rede elétrica, postes, residências. O mercado de equipamentos também se fortaleceu para atender esse segmento e demonstra que a preocupação não é apenas com a preservação dos espaços verdes urbanos, mas também com a segurança dos profissionais do segmento. Já existem no mercado podadores, sopradores e motosserras que produzem resultados muito mais efetivos no processo de poda de galhos mortos e podas de limpeza. Pois são leves,
ergonômicos e potentes, exigindo menos esforço físico na operação e ainda garantem aumento da produtividade. A manutenção das árvores com equipamentos corretos e profissionais preparados são extremamente importantes e devem ocorrer não apenas no verão, época de chuvas fortes e quando aumentam os registros de quedas, mas durante o ano todo de maneira preventiva, seja em áreas públicas ou privadas. Temos que saber cuidar das árvores para que elas continuem cuidando de nossas paisagens e de nossa saúde. Paulo Figueiredo é técnico de produtos da Husqvarna, líder global no fornecimento de equipamentos para o manejo de áreas verdes e que comemora 325 anos em 2014. REVISTA 100% CAIPIRA |11
ECONOMIA
PIB do agronegócio cresce 1,9% no 1º semestre Desempenho foi puxado pelo setor primário, que teve alta de 4,04% no semestre, segundo CNA e Cepea O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio fechou o primeiro semestre de 2014 com alta de 1,90% em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento foi puxado principalmente pelo desempenho do setor primário, que teve expansão de 4,04% nos primeiros seis meses do ano, 12 | REVISTA 100% CAIPIRA
segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O segmento primário, que representa a atividade “dentro da porteira”, foi o que teve maior alta na cadeia produtiva do agronegócio no acumulado de janeiro
a junho. Os setores de insumos e de distribuição cresceram 1,84% e 1,57%, respectivamente. Já o PIB das agroindústrias subiu apenas 0,10%. Um dos fatores que contribuiu para a alta do PIB da agropecuária no semestre foi a expansão do faturamento médio da atividade, de 5,91%.
Um dos destaques no período foi o algodão, que teve aumento de receita de 31,72%, por conta dos preços e da produção. Levando em conta estes dois fatores, outros produtos também tiveram bom desempenho, como o cacau (53,91%), laranja (46,57%), soja (10,45%), banana (4,78%) e arroz (4,10%). O café e a uva também registram expectativa de expansão no ano, de 8,89% e 4,51%, respectivamente, impulsionados pela alta das cotações. No caso do trigo, o maior volume de produção explica a alta da receita de 34,81%. O segmento primário na agricultura cresceu 2,91% no primeiro semestre, sendo o principal responsável pelo desempenho da cadeia produtiva agrícola global, que subiu 0,6%. Os segmentos de insumos e distribuição tiveram variação, no acumulado de janeiro a junho, de 0,98% e 0,08%, respectivamente. Já a indústria teve desempenho negativo, com retração de 0,57%. Com cotações e volumes em alta, a pecuária de corte, de leite e a avicultura de postura registraram expressivo crescimento no período, de 16,24%, 18,88% e 11,39%, respectivamente. Já a suinocultura registrou variação de 5,81% na receita, em razão do aumento de preços na atividade no semestre. Estes resultados contribuíram para o bom comportamento da atividade primária na pecuária, que registrou alta de 5,52%, contribuindo para a expansão da cadeia produtiva da pecuária, de 4,9% em 2014.
COMÉRCIO EXTERIOR
Exportações do agronegócio atingiram US$ 67,61 bilhões de janeiro a agosto de 2014 As exportações do complexo soja e das carnes somadas representaram 57,1% do valor total das exportações do agronegócio O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou o valor das exportações do agronegócio, que registraram o montante de US$ 67,61 bilhões, de janeiro a agosto de 2014. O complexo soja foi destaque no período, com exportações que alcançaram a cifra de US$ 27,25 bilhões e aumento de 9,5% no valor. A soja em grãos foi o principal produto exportado do setor, e atingiu 41,97 milhões de toneladas (+13,0%). O setor de carnes foi o segundo que mais exportou entre janeiro e agosto deste ano e atingiu o valor de US$ 11,34 bilhões, o que representou 16,8% na participação das exportações do agronegócio. No setor, a carne bovina teve aumento na quantidade exportada (+9,0%) e no preço médio de exportação (+3,5%), registrando vendas externas de US$ 4,71 bilhões no período. De janeiro a agosto de 2014, os produtos florestais ou pa-
pel, celulose e madeira tiveram expansão de 2,9% nas exportações: as vendas de papel e celulose atingiram US$ 4,81 bilhões e as exportações de madeira alcançaram US$ 1,73 bilhão. Para as exportações dos produtos de café, o valor foi de US$ 4,06 bilhões, o que representou aumento de 14,8%. Últimos 12 meses As exportações do agronegócio brasileiro alcançaram a cifra de US$ 98,54 bilhões, entre setembro de 2013 e agosto de 2014. Dentre os principais produtos, os itens de origem animal participaram com 23,0% do total exportado no período (US$ 22,63 bilhões) e os produtos de origem vegetal formaram a maioria das exportações do agronegócio (77,0%), com o montante de US$ 75,91 bilhões. Os dados são da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Mapa.
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PESQUISA
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TERCEIRO SETOR
Minhocas aumentam produtividade agrícola Estudo que contou com a participação de um pesquisador brasileiro e acaba de ser publicado na Scientific Reports, única publicação de acesso livre do Nature Publishing Group, revela que a presença das minhocas no solo aumenta a produtividade agrícola. O resultado mostra que “em média, a presença das minhocas aumentou a produtividade de grãos em 25% e a biomassa aérea de plantas, em especial as utilizadas em pastagens, em 23%”, afirma George Brown, pesquisador em ecologia do solo da Embrapa Florestas (PR), e um dos coautores do trabalho. “A biomassa das raízes também aumentou em 20%”, revela. Outra conclusão é que as minhocas não afetaram o teor de nitrogênio das plantas, indicando que a qualidade não foi afetada. “Portanto, as minhocas afetam principalmente a produtividade”. “O resultado era esperado”, afirma 16| REVISTA 100% CAIPIRA
Brown. “Há centenas de anos as minhocas são consideradas aliadas do agricultor, ajudando no crescimento das plantas. Contudo, o que não sabíamos ainda era a dimensão do efeito positivo nem como ele funcionava. Foi isso que avaliamos nesse trabalho”, completa. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores reuniram artigos sobre o assunto publicados em revistas indexadas: no total foram 58 – o mais antigo é de 1910. Todos os ensaios mediram o efeito das minhocas na produtividade agrícola e a biomassa vegetal. Em seguida, foi realizada uma meta-análise dos dados, técnica estatística usada para avaliar e buscar padrões em grandes volumes de dados. A equipe de pesquisa incluiu, além de Brown, professores e alunos de pós-graduação da Universidade de Wageningen (Indonésia) e um pesquisador da Northern Arizona
University (Estados Unidos). Os autores procuraram, ainda, elucidar os mecanismos por trás dos efeitos positivos proporcionados pelas minhocas. “Com a construção de galerias, a ingestão de solo e a produção de coprólitos (excrementos), as minhocas liberam o nitrogênio presente nos resíduos vegetais e na matéria orgânica do solo, transformando o que seria adubo orgânico em mineral”, explica Jan Willem van Groenigen, líder da equipe e primeiro autor do trabalho. “E o nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para o crescimento das plantas”, completa. O efeito positivo desapareceu quando doses maiores de adubo nitrogenado eram aplicadas pelos produtores ou quando leguminosas (que fixam nitrogênio do ar) estavam presentes. No entanto, Brown explica que as minhocas não produzem nitrogênio. Elas apenas ajudam a torná-lo mais
Estudo comprova que presença de minhocas no solo aumenta a produtividade de grãos em 25% disponível para as plantas. O efeito positivo das minhocas foi maior quando estavam presentes no solo maiores quantidades de resíduos das culturas, que, por sua vez, alimentam para as minhocas, como no plantio direto, por exemplo. Os autores concluem, então, que as minhocas são especialmente importantes para dois tipos de agricultores: aqueles que podem usar somente baixas doses de (ou nenhum) adubo nitrogenado porque não têm condições financeiras ou acesso a ele; e aqueles que não querem usá-lo, pois dependem do processo de decomposição natural da matéria orgânica para liberar nutrientes para as plantas, como no caso da agricultura orgânica. Portanto, em sistemas intensivos de produção, com necessidade de alto uso de insumos e adubos químicos, o efeito benéfico das minhocas sobre a produtividade das cultu-
ras provavelmente será menor. Há muitas perguntas a serem respondidas, enfatiza Brown. “Encontramos um paradoxo: as minhocas têm maiores benefícios na produção em solos pobres, de baixa fertilidade, onde suas populações também podem estar limitadas por falta de alimento. Portanto, trabalho futuros devem buscar formas de aumentar as populações de minhocas nesses solos, especialmente com uso racional de insumos orgânicos. Dessa forma, o agricultor se tornará aliado da minhoca, assim como ela é aliada do agricultor”, explica Brown. “Além disso”, pondera, “ainda não está claro como as minhocas afetam a disponibilidade de outros nutrientes essenciais para as plantas, especialmente o fósforo. Eventualmente, teremos que saber isso para poder entender como as minhocas podem nos ajudar a construir uma agricultura mais sustentável”.
Os resultados não significam que o produtor poderá adicionar deliberadamente minhocas ao seu terreno para aumentar a produtividade, pois é uma prática inviável do ponto de vista econômico e ecológico para a maior parte das culturas. “Isso só deve ser realizado excepcionalmente, pois o bom manejo das culturas e da propriedade agrícola já ajuda na manutenção e no aumento das populações de minhocas no solo. Para ser um aliado das minhocas e desfrutar dos benefícios que elas proporcionam ao solo, o agricultor deve evitar o uso excessivo de agrotóxicos, a movimentação excessiva do solo (por exemplo, a inversão do solo com arado), a erosão, a compactação e a contaminação do solo e manejar a adição de restos das culturas no solo, visando aumentar a matéria orgânica que serve de alimento para as populações de minhocas”, sentencia Brown. REVISTA 100% CAIPIRA |17
BARRETOS
Festa do Peão de Barretos comemora resultados positivos de público e movimentação econômica Evento recebeu aproximadamente 900 mil visitas e apresentou mais de 200 shows artísticos
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Aa 59ª edição da Festa do Peão de Barretos terminou em 31 de agosto. O evento, considerado o maior da América Latina, recebeu aproximadamente 900 mil visitas durante os 11 dias de festa. Finais das maiores competições de rodeio do país e do mundo apresentaram os mais corajosos competidores em busca de uma premiação de mais de R$700 mil. O diretor de rodeio Kiko de Almeida Prado comemorou o sucesso proposto para os campeonatos, informando que Barretos recebeu 53 companhias de touros e 15 de cavalos que proporcionaram grandes espetáculos todos os dias da Festa. Final da Professional Bull Riders – PBR, final da Associação Nacional de Três Tambores – ANTT, final da Liga Nacional de Rodeio, competição de Novos Talentos no cutiano, modalidade brasileira de rodeio e fechando as provas o 22º Barretos International Rodeo. Kiko ressaltou também a harmonia entre rodeio e shows. “Este ano conseguimos manter os horários, sem atrasos, resultado de organização e harmonia entre as diretorias”, disse. Foram mais de 200 shows divididos em diferentes palcos e apresentações inéditas como o show que reuniu no mesmo palco dois ícones da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó e Milionário & José Rico. Ricardo Rocha, diretor cultural, declarou que foram feitos investimentos em iluminação, em tecnologia de ponta e na estrutura dos palcos, que foram ampliados. “Conseguimos fazer os shows serem surpreendentes. Todas as apresentações do palco do Estádio de Rodeio foram exclusivas e inéditas”, declarou. Em entrevista coletiva no final do evento, o presidente Jerônimo Luiz Muzetti agradeceu a imprensa: “nós planejamos e realizamos o evento, mas vocês são os responsáveis por nos ajudar a fazer da Festa do Peão um sucesso”. Jerônimo disse também que estava apreensivo por ser um ano atípico no país devido à Copa do Mundo e eleições, porém o público compareceu em peso e a Festa surpreendeu até mesmo a direção.
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Palco Culturando REVISTA 100% CAIPIRA21 |
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Palco das Raízes Sertanejas REVISTA 100% CAIPIRA23 |
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Queima do Alho REVISTA 100% CAIPIRA23 |
AQUECIMENTO GLOBAL FLORICULTURA
Queima do Alho 24 26 | REVISTA 100% CAIPIRA
ENTREVISTA
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ARTIGO
A agricultura
brasileira
estรก voando REVISTA100% 100%CAIPIRA CAIPIRA 28||REVISTA
Por Ulisses Rocha Antuniassi*
potencial de causar danos a outras lavouras e contaminação do ambiente. Apesar de extremamente segura se realizada de acordo com as recomendações, a aplicação aérea esteve de fato ligada recentemente a incidentes que repercutiram de maneira muito negativa na mídia, acirrando a disputa do setor com entidades ambientalistas que buscam impor restrições ao mercado. Em meio a este processo, o setor aeroagrícola brasileiro vem buscando reagir. Com o apoio da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal) e o do SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola), um programa denominado Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS) foi criado para certificar que os operadores atuam de acordo com critérios rigorosos quanto à sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Coordenado por universidades públicas e gerido pela Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (FEPAF), o CAS já certificou 30 empresas apenas neste ano (de um total de 227 empresas), e espera que até 2017 pelo menos 75% dos operadores estejam certificados. Este movimento é uma resposta importante do setor às críticas, e sua qualificação será, certamente, benéfica para toda a sociedade.
Há uma estatística impressionante sobre a aviação agrícola no Brasil: cerca de 50% das aeronaves vendidas na última safra foram adquiridas para uso privado. Ou seja, produtores rurais estão investindo pesado na aplicação aérea como ferramenta para o tratamento de suas lavouras. Num mercado que sempre foi direcionado para a prestação de serviços, as empresas que comercializam aviões agrícolas estão comemorando o avanço de sua participação sobre os chamados operadores privados (aqueles que possuem aeronaves para uso próprio e não prestam serviços). Só no ano passado mais de 100 aeronaves agrícolas novas foram acrescidas à frota nacional, que já ultrapassa a casa das 2000 unidades. Ou seja, em 2013 cerca de 50 aeronaves agrícolas foram compradas para uso privado. Não que o mercado de serviços no setor esteja reduzindo, ao contrário, mas há uma crescente percepção dos empresários rurais de que a aplicação aérea é ferramenta indispensável. O curioso é que este processo ocorre no momento em que a aviação agrícola vem sofrendo pressões por conta de incidentes envolvendo casos de deriva. A deriva ocorre quando parte do pro- * Professor Titular do Departamento de Engeduto aplicado se desloca para áreas vizinhas, com nharia Rural FCA/UNESP - Botucatu/SP
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Refrigeração Cacique promove 6º Boi no Rolete beneficente Confraternização reúne clientes, amigos e parceiros do comércio do interior paulista
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A Refrigeração Cacique realizou, em 16 de agosto, na cidade de Cedral (SP), seu 6º Boi no Rolete, tradicional evento promovido anualmente pela empresa em prol de entidades beneficentes de São José do Rio Preto e Jaci. Compareceram à sexta edição do encontro cerca de 800 convidados, entre clientes, amigos, funcionários da empresa, fornecedores e suas famílias. Para o empresário idealizador da festa, Rogério Rosalles, o encontro sempre foi uma oportunidade única de reunir amigos e parceiros em torno de uma causa justa. “Aconteceram muitos fatos positivos na minha vida e sempre disse que quando tivesse condições faria uma festa em
agradecimento a Deus. É um grande prazer estar com minha família aqui neste momento especial e engajar tantas pessoas pelo bem do próximo”, destacou. A festa deste ano foi realizada em benefício do Instituto Riopretense dos Cegos Trabalhadores, Instituto Educacional Francisco de Assis e a Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus. No total, foram arrecadadas mais de 4 toneladas de alimentos, e R$ 42 mil foram divididos entre duas das instituições beneficiadas. “Veio gente do Brasil inteiro prestigiar este evento. É, certamente, o dia mais feliz da minha vida e da minha esposa, Cássia”, comemorou Rosalles.
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AGRICULTURA
Produção de grãos atinge 195 milhões de toneladas
A produção brasileira de grãos da safra 2013/2014 chegará a 195,46 milhões de toneladas, um aumento de 6,80 milhões de toneladas ou o equivalente a 3,6% sobre a safra anterior, de 188,65 milhões de t. Os dados são do 12º e último levantamento de grãos da safra atual, que foi divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A cultura de soja, que apresentou um incremento de 4,62 milhões de toneladas ou 5,7% a mais na produção de 86,12 milhões de toneladas, foi o maior destaque da safra. O trigo foi outro que teve bom desempenho, com um acréscimo de 2,14 milhões de toneladas ou 38,7% acima na produção, chegando a 7,66 milhões de toneladas. A elevação se deve ao au34 | REVISTA 100% CAIPIRA
mento de 21,4% na área plantada. O feijão, com melhor produtividade, registrou elevação de 637,8 mil toneladas ou o equivalente a 22,7%, totalizando 3,44 milhões de toneladas. Já o milho total (primeira e segunda safras) teve queda de 1,6 milhão de toneladas, o que equivale a perda de 2%, passando de 81,5 milhões para 79,9 milhões de toneladas, como reflexo da diminuição da primeira safra. O fechamento do ciclo se dará em dezembro, com a participação dos produtos de inverno (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale) e as safras de feijão e milho do Nordeste. O total de área plantada chega a 56,93 milhões de hectares, o que significa uma alta de 6,3%, se com-
parado à de 53,6 milhões de hectares da safra 2012/2013. A soja teve crescimento de 8,8%, passando de 27,7 milhões para 30,2 milhões de hectares, enquanto o trigo apresentou crescimento expressivo de 21,4%, subindo de 2,21 milhões de hectares para 2,68 mil hectares. Outro destaque é o feijão, que elevou 8,4% no total, alterando a área de 3,07 milhões para 3,33 milhões de hectares. A Conab fez a pesquisa do dia 24 a 30 de agosto, levantando informações para a pesquisa em parceria com agrônomos, técnicos do IBGE, cooperativas, secretarias de agricultura, órgãos de assistência técnica e extensão rural (oficiais e privados) e agentes financeiros e revendedores de insumos.
COMÉRCIO EXTERIOR
Paraná sobe uma posição no ranking de exportações O estado exportou US$ 1,2 bilhão em agosto
Ç SOJA
86,12 milhões de toneladas
Ç TRIGO
7,66 milhões de toneladas
Ç FEIJÃO
3,44 milhões de toneladas
Ç MILHO
79,9 milhões de toneladas
A Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou o ranking dos estados que mais exportaram em agosto de 2014. O estado de São Paulo continuou em primeiro lugar, com a cifra de US$ 1,59 bilhão. Com exportações que atingiram o montante de US$ 1,39 bilhão, o estado do Mato Grosso permaneceu em segundo lugar. Já o Paraná subiu de posição, atingindo US$ 1,20 bilhão, alcançando o terceiro lugar. E o Rio Grande do Sul, com o montante de US$ 1,18 bilhão, ficou na quarta posição. Por último, dos cinco primeiros, está o estado de Minas Gerais, com US$ 719,79 milhões exportados em agosto. Acumulado do ano De janeiro a agosto de 2014, São Paulo exportou US$ 12,11 bilhões do agronegócio. Deste valor, US$ 4,41 bilhões foram do complexo sucroalcooleiro, US$ 1,71 bilhões do setor de carnes e US$ 1,32 bilhões do complexo soja. No mesmo período, o total exportado por Mato Grosso foi de US$ 11,34 bilhões. O setor que mais exportou pelo estado foi o complexo soja, que
atingiu o montante de US$ 8,91 bilhões. Em segundo lugar, estão as carnes com US$ 1,11 bilhões em remessas. No Paraná, o total de produtos exportados foi de US$ 9,13 bilhões nos primeiros oito meses. O destaque ficou por conta do complexo soja, que exportou US$ 4,72 bilhões, entre janeiro e agosto deste ano. Dentro do complexo, a soja em grãos é responsável por US$ 3,16 bilhões das exportações. O setor de carnes foi o segundo que mais exportou no estado, alcançando a marca de US$ 1,72 bilhão. O Rio Grande do Sul alcançou US$ 8,32 bilhões em produtos do agronegócio. O complexo soja e o setor de carnes foram os mais exportados pelo estado, sendo que o primeiro atingiu US$ 4,24 bilhões, com destaque para a soja em grãos (US$ 3,33 bilhões) e o setor de carnes alcançou US$ 1,35 bilhão. Em Minas Gerais, os produtos do agronegócio exportados alcançaram o montante de US$ 5,23 bilhões. O produto mais vendido foi o café, com o montante de US$ 2,47 bilhões. O segundo setor que mais exportou no estado foi o complexo soja (US$ 768,15 milhões), sendo US$ 686,27 milhões de soja em grãos.
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PECUÁRIA
Arroba do boi deve seguir em alta no 2º semestre Exportações e valorização do bezerro devem restringir oferta de animais. Milho e soja não apresentam grande volume de negócios, segundo a CNA
Com o bom desempenho das exportações de carne e a valorização dos bezerros, a arroba do boi gordo deve seguir em alta no segundo semestre deste ano. A expectativa é de que a oferta de animais para abate continue restrita e as vendas externas continuem crescendo nos próximos meses, provocando elevação dos preços da carne no mercado interno. A análise está no boletim “Custos e Preços”, elaborado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Os frigoríficos têm trabalhado com escalas reduzidas, já que a disponibilidade de animais prontos para abate é pequena frente à demanda aquecida, principalmente do mercado ex36 | REVISTA 100% CAIPIRA
terno”, explica o estudo da CNA. De janeiro a julho, os embarques de carne, industrializada e in natura, para o exterior somaram, em volume, 1,28 milhão de toneladas, 11% a mais do que no ano passado. Segundo o boletim, a tendência é de crescimento das exportações de carne. Um dos fatores que pode contribuir é a possibilidade de a Rússia aumentar as importações do Brasil, diante dos embargos econômicos impostos por União Europeia e Estados Unidos ao país, em razão da crise na Ucrânia. De acordo com o estudo, o mercado interno já sente os efeitos do cenário externo. Em São Paulo, a arroba do boi em agosto teve alta
de 4,2% em relação a julho, cotada a R$ 122,19. Na comparação com agosto de 2013, a elevação foi de 22%. Em Goiás, o preço da arroba, no mês passado, foi de R$ 113, 53, aumento de 2,3% frente a julho e de 24,6% em relação a agosto do ano passado. Soja – O mercado de soja não teve grande movimentação nos negócios em agosto e os preços da oleaginosa sofrerem pequenas valorizações. Em Sorriso (MT) e Rio Verde (GO), as sacas tiveram altas de 2,9% e 1,6%, respectivamente. No mercado internacional, diz o estudo, as expectativas estão voltadas para as condições climáticas nos Estados Unidos, que têm sido favoráveis para o aumento da produção. No entanto, a demanda aquecida e os estoques apertados até a entrada da nova safra devem sustentar os preços. Milho – De acordo com o boletim, a colheita do milho safrinha está na reta final e apresenta ótimo resultado. Entretanto, este fator deve dificultar a reação dos preços do cereal no mercado interno, diante do excedente do grão. Para melhorar o cenário, a CNA avalia a necessidade de exportar este excedente para a recuperação das cotações. No entanto, não há previsão de embarque de grandes volumes no curto prazo.
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Produção familiar:
o mais importante pilar da agricultura REVISTA100% 100%CAIPIRA CAIPIRA 38||REVISTA
Q
Trabalho Agrícola
Agricultor familiar contabiliza mais de meio século de dedicação à vida no campo Danielle Forte De Minas Gerais
uando o então presidente do Brasil Juscelino Kubitschek instituiu 28 de julho como o Dia do Agricultor, Luiz Gomes de Lima já atuava no campo. A vida sempre foi na lavoura e o senhor de 72 anos aprendeu o ofício ainda criança. Desde então, acompanhou e vivenciou os diversos momentos que a agricultura brasileira atravessou, inclusive o intenso êxodo rural que permeou o século XX. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, IBGE, entre os anos 1970 e 2006, a população brasileira praticamente dobrou. Já a participação na atividade agropecuária no mesmo período passou de 19 para 8,8% da população total. Um homem simples que resistiu e persistiu, vô Luiz hoje contabiliza mais de meio século como pequeno produtor rural na região sul de Minas Gerais. O caminho não foi fácil. Ao relembrar, os olhos marejam. Criado pelo pai, sem a mãe, via na lavoura uma razão existencial, plantando para sobreviver, vendendo o excedente. Da união com Maria do Carmo Pereira, filha de bem-sucedidos pecuaristas, vieram os 10 filhos. A pecuária bovina foi, inclusive, sua área de atuação preferida. Mas, o revés bateu a porta há quase 30 anos, quando financiou 20 alqueires de batatas e, por conta dos altos juros, acabou perdendo tudo. Viraram empregados e as crianças tiveram que parar de estudar para ajudar na roça. REVISTA 100% CAIPIRA | 39
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Naquela época, a gente irrigava as cebolas com o regador e carregar caminhões de milho deixavam as mãos em carne viva. Não tinha incentivo para estudar, o ensinamento passado para os filhos era a lavoura Ana Agricultora
”
“Naquela época, a gente irrigava as cebolas com o regador e carregar caminhões de milho deixavam as mãos em carne viva. Não tinha incentivo para estudar, o ensinamento passado para os filhos era a lavoura”, relembra Ana, o feijão perdido da família, como costumava ser chamada pelo pai, já que “nunca foi muito da roça”. Hoje ela a representa nos módulos 26 e 27 do MLP, na empresa do seu irmão Ismael no Entreposto Terminal de São Paulo, comercializando folhagens. Mais urbana, Ana mora na capital paulista há cerca de 25 anos. Deu continuidade aos estudos e titulada Mestra, lecionou em universidades. Largou tudo após o falecimento de sua mãe, dois anos atrás. “Meu irmão precisava de alguém na Ceasa e eu disse ‘eu vou’. Desde que me conheço por gente a família vende na Ceagesp e na Cantareira, mas quando cheguei 40 | REVISTA 100% CAIPIRA
lá foi aquela confusão, entrei no pavilhão errado, não sabia nem onde eu deveria ficar”, conta rindo de si mesma. Na Lavoura, os irmãos de Ana contaram com o apoio e incentivo de um grande produtor de batatas, o Seu Clemente, para
iniciar a plantação e comercialização de brócolis ninja no sul mineiro. Hoje, a principal cultura da região. A família tem sítios nas cidades de Munhoz, Itapeva e Senador Amaral, as culturas são variadas, além de criações.
Eles também abastecem os mercados do RJ e BH. Simples, a casa da família, onde o pai ainda mora – e não sai de jeito nenhum – dista mais de 20 km em estrada vicinal do centro de Itapeva. A agricultura familiar é um dos pilares mais importantes na agropecuária brasileira. No país existem 5 175 636 estabelecimentos rurais dispostos em uma área total de 333 680 037 hectares de terra. Os dados são do censo agropecuário, realizado pelo IBGE em 2006. A simplicidade, união e o esforço da “Família dos Valérios” - como são conhecidos no mercado -, dimensiona a realidade da agricultura familiar em um país ainda enraizado pelo conceito patronal, priorizando as grandes propriedades rurais e monocultura de exportação. “Somos uma família de pequenos produtores, mas como somos vários, dá para trabalhar por conta”, elucida a comerciante. O Plano Safra disponibilizará 156,1 bilhão de reais para a agricultura empresarial durante o biênio 2014/15, enquanto os recursos destinados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) somam 24,1 bilhões. Ainda assim, o valor aumentou mais de 12 vezes desde 2002, quando foi de dois bilhões. O Pronaf foi criado há quase 20 anos, quando pequenos produtores reivindicavam uma política pública específica. Júlio, um dos filhos de Luiz, produz brócolis, batata, milho e ervilha. O trator Massey Ferguson adquirido recentemente faz parte do Programa Mais Alimentos, uma linha de crédito do Pronaf que financia investimentos para a modernização de propriedades rurais familiares a juros subsidiados.
Família reutiliza água da chuva na plantação de cravos e astromélias FotoS: DANIELLE FORTE
Números: produção da agricultura familiar
87% 70% 58% 46%
50%
59%
34%
mandioca
feijão
milho
arroz
leite
aves
suínos
*Censo agropecuário IBGE / 2006
Quando a matriarca adoeceu, os produtores da família começaram a refletir sobre o uso de agrotóxicos. Ano passado Júlio experimentou cultivar brócolis organicamente. Não deu certo. Com aspecto fora dos padrões e sem valor no mercado, acabaram perdendo tudo. Ainda assim, eles limitam o uso de agrotóxicos ao máximo e fazem o próprio adubo para a produção de mudas. Além disso, a água da chuva é armazenada e utilizada para a irrigação. “Faltou água, faltou tudo”, comenta o produtor.
Preocupada com a preservação dos recursos naturais e entusiasta do segmento educacional e de pesquisas, Ana sonha desenvolver uma escola agrícola voltada para a produção sustentável: “quero ensinar a não tirar da natureza mais do que precisa”, explica. Enquanto isso, na educação de seu filho Miguel, se preocupa em oportunizar sua vivência na ruralidade, com liberdade para conhecer e se um dia quiser atuar com isso. Miguel, aos nove anos, quer ser biólogo quando crescer. O motivo é simples, ele não quer conhecer apenas uma área da natureza, quer estudar todas. REVISTA 100% CAIPIRA | 41
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INVESTIMENTOS EDUCAÇÃO
IEPEC
realiza curso online sobre marketing no agronegócio O curso é dividido em quatro partes e vai ampliar a visão dos produtores O Instituto de Estudos Pecuários (Iepec) realizará a partir de 13 de outubro o curso online “Introdução ao Marketing no Agronegócio”. Desenvolvido com o intuito de ampliar o pensamento estratégico de criadores e produtores ao abordar fundamentos da administração em Marketing, o curso abordará conceitos como necessidades, desejos e demandas, mercados-alvo, posicionamento e segmentação, ofertas e marcas, valor e satisfação, canais de marketing, cadeia de suprimento, concorrência, ambiente de marketing e planejamento de marketing. O curso está dividido em quatro partes. A primeira tem como foco Administração de Marketing, Marketing no Agronegócio, Plano de Marketing e a apresentação de casos de sucesso. Para inscrições e outras informações, acesse http://www.iepec. com/curso/marketing-agronegocio ou ligue para (44) 3026-3009. 44| REVISTA 100% CAIPIRA
Agricultura familiar contrata R$ 5,36 bi em 2 meses Nos dois primeiros meses da safra atual, agricultores familiares acessaram R$ 5,36 bilhões do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) – para aumento da produção e compra de máquinas e equipamentos a juros baixos. O valor representa 22% dos R$ 24,1 bilhões previstos no Plano Safra 2014/2015. De 1º de julho a 31 de agos-
to deste ano foram realizados 395 mil contratos. No mesmo período do ano passado, foram contratados R$ 3,9 bilhões e firmados 364 mil contratos. O estado com maior volume de contratação é o Rio Grande do Sul, com mais de 92 mil contratos, que representam R$ 1,75 bilhão. Isso é quase um terço do total (R$ 5,6 bilhões), incialmente, previsto para o estado.
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COZINHA DA ROÇA
Abacate
Uma receita simples, saborosa e fácil, agrada paladares de quem nunca experimentou
Creme de Abacate com leite condensado e creme de leite
Excelente ***** Ingredientes 1 lata de leite condensado 1/2 lata de creme de leite 2 abacates médios maduros 3 colheres (sopa) de suco de limão Modo de Preparo
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Despeje em uma tigela ou coloque-o em taças. Leve à geladeira por cerca de 1 hora. Sirva a seguir, como sobremesa ou no lanche. Dicas: • Para que este creme fique bem saboroso, é preciso que os abacates estejam bem maduros;
Bata no liquidificador o leite • Não prepare esta receita com condensado, o creme de leite, os muita antecedência, pois o abacate tende a amargar abacates e o suco de limão.
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ARTIGO
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ARTIGO
Inteligência Geográfica na gestão agrícola Alexandre Marques Sendo uma atividade dinâmica no tempo e espaço, a Agricultura tem contado cada vez mais com o apoio das tecnologias geoespaciais para gestão e execução das operações agrícolas, fazendo com que produtores e empresas do setor busquem elevar a eficiência da operações agrícolas com base em informações confiáveis que permitam decisões mais assertivas para melhor retorno dos investimentos na produção. O setor está vivenciando a era 50 | REVISTA 100% CAIPIRA
do “Big Data na Agricultura” e, isto se deve ao fato das máquinas e sensores aplicados nas atividades agrícolas gerarem uma imensidão de dados operacionais. Analisar tais informações e tomar decisões eficientes em prol da produtividade do negócio é um grande desafio para os gestores da área de Agricultura. Como atuar de maneira mais precisa agora para a próxima safra? As respostas para questões como esta podem ser obtidas por meio do uso dos Sistemas de Informações Geográficas (GIS), que são capazes de organizar essa grande quantidade de
dados, norteando as estratégias e as táticas para viabilizar o aumento de produção, maior rentabilidade e melhor qualidade dos produtos. É importante ressaltar que as operações na Agricultura têm uma grande variabilidade espacial dos dados geográficos, o que torna a sua sistematização complexa. De um ano para o outro, as práticas agrícolas podem exigir diferentes tipos de tarefas para condução da lavoura e, se a gestão não for apropriada, o negócio estará suscetível a falta de controle, ampliando os custos de produção, desperdícios e prejuízos.
Quarto passo: criar uma cultura de uso da Inteligência Geográfica que oriente as funções de todos os envolvidos na produção agrícola, da gestão até a operação, e permita a troca de experiências entre os diferentes grupos de trabalho. Por exemplo, se a operação agrícola é responsável pelo o que está sendo realizado no campo, será necessário quebrar barreiras para que a informação flua e garanta conformidade nos indicadores de gestão para tomadas de decisões, para isso o uso de mapas é fundamental. Os indicadores acessados por meio de mapas são mais precisos quanto à localização exata dos processos de produção.
Desta forma, a aplicação da Inteligência Geográfica no processo agrícola torna-se essencial para permitir que o gestor agrícola atue com base em informações precisas e atualizadas, promovendo uma gestão inteligente e eficiente de suas operações. Um dos caminhos para trabalhar com o “Big Data” é a organização dos dados agrícolas gerando informações úteis em análises espaciais, por meio da integração da Geografia com a gestão agrícola. Todos os dados e informações de safras passadas podem ser analisados para planejar a safra seguinte melhorando o conhecimento das áreas onde os gestores devem investir mais porque há potencial para produzir mais, assim como investir menos em áreas onde não há potencial para aumento da produção. Alguns passos são fundamentais para integrar a Inteligência Geográfica na gestão das operações agrícolas. Destacamos os seguintes: Primeiro passo: garantir a consolidação de um bom cadastro das unidades de produção, que seja simples e organizado para colocar dados que permitam integração com bases de outras plataformas. Desta forma, é possível consolidar insumos para gerar informações importantes ao gerenciamento da produção agrícola, o que permite realizar análises da produção até o nível da unidade de talhão. Por exemplo, estimativas de produção, alocação varietal mais apropriada para cada condição de ambiente de produção, produtividade da safra anterior e da safra atual, análise pré-colheita, ocorrência de pragas, doenças, plantas daninhas e outras observações agronômicas. Segundo passo: registrar a execução das atividades agrícolas no campo, coletando apontamentos de levantamentos e vistorias, sempre com foco no resultado do escritório e retorno de informações para o campo. Dados espaciais podem ser melhor
aproveitados quando integrado com uso de dispositivos móveis em campo. O registro apropriado em campo potencializa a gestão geográfica das unidades de produção e possibilita a atualização dos dados das operações agrícolas em tempo real. Terceiro passo: integrar dados agrícolas e geográficos e, em seguida, elencar e classificar as análises desejadas para melhorias nas operações agrícolas, rentabilidade na produção, controle das atividades, redução de custos, conformidade ambiental e direcionamentos de investimentos e aprimoramento da gestão. Essa integração permite ter uma percepção de inúmeras informações que ajudam, por exemplo, no controle da aplicação de adubos e defensivos, além de estabelecer medidas mais apropriadas para planejamento e controle dos custos de produção, produtividade e rendimento de cada talhão.
Quinto passo: configurar aplicações para analisar o desempenho da safra e verificar se há ocorrência de padrões espaciais das informações agrícolas juntamente com uma análise real das informações apuradas no campo, o final de safra. Desta forma, é possível obter indicadores de desempenho das lavouras e usar a localização geográfica a favor da eficiência na gestão e precisão na execução de atividades. A capacidade de lidar com as informações agrícolas baseadas na localização geográfica permite análises e acompanhamento das atividades operacionais nas unidades de produção. É possível, por exemplo, consultar os talhões para obter informações de desempenho, identificar áreas com problemas e avaliar inclusive o aumento ou diminuição da produtividade e uso de insumos. Vivemos um momento decisivo, no qual a aplicação da alta tecnologia e do poder da análise Geográfica nos processos da Agricultura são elementos chave de diferenciação das empresas que terão sucesso na produção agrícola. *Alexandre Marques é gerente para os setores de Agricultura e Floresta da empresa Imagem. REVISTA 100% CAIPIRA |51
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