Edição 82 abril 2020

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Vespas

nativas

são usadas para controlar moscawww.revista100porcentocaipira.com.br Brasil, abril de 2020 - Ano 8 - Nº 82 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

das-frutas

Larvas da vespa se alimentarão das larvas da praga, controlando a proliferação REVISTA 100% CAIPIRA |


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Foto Capa: Paulo Lanzetta

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Agricultura de precisão: Drones evitam desperdício de pesticidas

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Café: Pesquisa mostra que café cultivado com Cloreto de Potássio contém altos níveis de cloro

Fruticultura:

Cargill une esforços para aumentar produtividade de cacau no Pará

Análise de mercado: O que esperar depois do inesperado?

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Artigo:

Vespas nativas são usadas para controlar mosca-das-frutas


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Laticínios:

Indústria trata água residual com mais de 90% eficiência

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Clima:

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Gestão: Comprovação da vacina contra aftosa pode ser feita até 30 de abril

Estiagens de verão são fenômenos recorrentes no Sul do Brasil Fruticultura:

Coronavírus pode afetar as exportações de frutas?

Receitas Caipiras: Kibe frito REVISTA 100% CAIPIRA |

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AGRICULTURA DE PRECSÃO

Drones evitam desperdício de pesticidas Brasil,abril de 2020 Ano 8 - Nº 82 Distribuição Gratuita

Fonte: Agrolink

EXPEDIENTE

Revista 100% AGRO CAIPIRA www.revista100porcentocaipira.com.br

Tecnologia identifica o estresse das plantas Os drones, ou veículos aéreos não tripulados (UAVs), estão desempenhando o papel de médicos e agora podem diagnosticar os níveis de estresse das plantas, o que poderia levar a um menor uso de inseticidas. Isso porque o estresse nas plantas é um fator chave em sua suscetibilidade a ataques de pragas. As plantas podem ser estressadas por várias razões, mas uma das mais comuns é a deficiência de nutrientes, de acordo com um cientista do Departamento de Agricultura e Alimentos de Washington, Dusty Severtson. “Em particular, estudos anteriores descobriram que plantas deficientes em potássio serão mais suscetíveis a ataques de pragas, como os pulgões”, diz ele. Os níveis de estresse de cada planta nos campos de canola foram avaliados usando a avançada tecnologia de imagem de um drone (um octocóptero de oito rotores), montado com uma câmera multisensor. Os pesquisadores 6 | REVISTA 100% CAIPIRA

foram capazes de ver quais áreas no campo têm o menor crescimento das plantas, estudando as imagens das câmeras e os comprimentos de onda da luz emitida pelas plantas. As estruturas celulares das folhas das plantas refletem fortemente a luz infravermelha quando são atingidas pela luz solar. Quanto mais luz infravermelha é refletida, mais folhas uma planta tem, o que indica sua saúde. A imagem do UAV foi mais precisa (99,9%) na detecção de canola com deficiência de potássio a 120 metros acima do nível do solo, aproximadamente quatro meses após o plantio. No estudo, plantas com deficiência de potássio apresentaram menos biomassa e infestações muito maiores de pulgões verdes. Severtson diz que regiões podem ser selecionadas para a detecção precoce de pragas e doenças e, se os resultados do estudo forem verificados, eles também poderão permitir aplicações específicas de inseticidas.

Diretor geral: Adriana Reis - adriana@ revista100porcentocaipira. com.br Editor-chefe: Eduardo Strini imprensa@ revista100porcentocaipira. com.br Diretor de criação e arte: Eduardo Reis Eduardo Reis eduardo@ revista100porcentocaipira. com.br (11) 9 6209-7741 Conselho editorial: Adriana Oliveira dos Reis, João Carlos dos Santos, Paulo César Rodrigues e Nilthon Fernandes Publicidade: Agência Banana Fotografias: Eduardo Reis, Sérgio Reis, Google imagens, iStockphoto e Shutterstock Departamento comercial: Rua das Vertentes, 450 – Vila Constança – São Paulo - SP Tel.: (11) 98178-5512 Rede social: facebook.com/ revista100porcentocaipira Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião desta revista, sendo eles, portanto, de inteira responsabilidade de quem os subscrevem.


SOJA

Condições climáticas favorecem desenvolvimento da safra 2019/20

Fonte: Assessoria de Comunicação da Climatempo

As condições climáticas apresentadas, até o momento, indicam bom desempenho da safra 2019/2020 e, de maneira geral, superior ao da safra passada As condições climáticas apresentadas, até o momento, indicam bom desempenho da safra 2019/2020 e, de maneira geral, superior ao da safra passada, recuperando o ocorrido na última temporada, quando importantes estados produtores sofreram com a estiagem em dezembro de 2018 e janeiro de 2019. Apesar do início de safra sem chuvas, as lavouras de soja recuperaram e começam a ser colhidas com uma boa produtividade. Já o milho no Rio Grande do Sul sofreu com a estiagem em dezembro e início de janeiro, reduzindo a produtividade em relação à safra passada. Neste sexto levantamento da safra elaborado e divulgado pela CONAB, o retrato das lavouras mostra que a colheita da soja está em andamento e juntamente vem a semeadura do milho segunda safra e algodão, tornando esses produtos os grandes destaques. Milho A estimativa de milho primeira safra, na temporada 2019/20, é

de 4,23 milhões de hectares, 3,2% maior que a área cultivada na safra 2018/19, influenciada pelas boas cotações atuais do cereal. Problemas climáticos na Região Sul, sobretudo no Rio Grande do Sul, prejudicaram o potencial produtivo das lavouras, o que deverá resultar em um rendimento 24,3% menor que na última safra. O processo e colheita foi iniciado em janeiro na região, somando 48% no final de fevereiro. Enquanto isso, ainda há áreas sendo semeadas no Matopiba, mesmo com substituição de lavouras de soja por milho, nesta safra. A segunda safra de milho tem a semeadura acontecendo de acordo com o avanço da colheita da soja. Mato Grosso, principal estado produtor, é o mais adiantado no plantio do milho, com mais de 92% semeado até o fim de fevereiro, e uma expectativa de um incremento de 9% na área de milho, tendo em vista sua rentabilidade atual e as condições climáticas favoráveis ao cultivo. Por outro lado, o atraso no plan-

tio da soja em todo o país, por conta da falta e desuniformidade das chuvas em outubro passado, criou uma expectativa de risco por conta do ciclo da soja, que poderá ter sua evolução avançando sobre fevereiro, encurtando a janela de plantio favorável ao milho segunda safra, fato que ajuda explicar a estimativa de redução de área em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná. Para o milho de terceira safra a produção estimada é de 1,16 milhão de toneladas. Esse milho, que tem sua oferta, principalmente, na região da Sealba (Sergipe Alagoas e nordeste da Bahia), além de Pernambuco e Roraima, é produzido num calendário parecido com o do Hemisfério Norte, concentrando-se no período entre maio e junho.Dessa forma, a estimativa nacional de produção de milho, considerando a primeira, segunda e terceira safras, na temporada 2019/20, deverá apresentar um volume semelhante ao da safra 2018/19, e resultar numa produção de 100,1 milhões de toneladas. REVISTA 100% CAIPIRA |

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ARTIGO

Vespas nativas são u mosca-da

Larvas da vespa se alimentarão das larv 8 | REVISTA 100% CAIPIRA


usadas para controlar as-frutas

vas da praga, controlando a proliferação

Por: Cristiane Betemps - Embrapa Clima Temperado REVISTA 100% CAIPIRA | 9


1 - Um a v e s p a n a t i v a b r a s i leira é capaz de parasitar duas espécies de moscas-das-frutas. 2 - A vespa Dor yctobracon areolatus alcançou 40% do parasitismo da praga. 3 - A vespa coloca seus ovos no interior da lar va da mosca a qual ser virá de alimento para a lar va da vespa q u e e c l o d i r á d o o v o. 4 - Prática é promissora para o manejo integrado de pragas. 5 - Po r s e r l i m p a , p r á t i c a não fere restrições de países europeus que vetam importações de frutas tratadas com químicos. Um a t e c n o l o g i a i n o v a d o r a utiliza parasitoides nativos para controlar as moscas-das-frutas (A.fraterculus e C. c a p i t a t a ) . Pe s q u i s a d o r e s d o L aboratório de Entomologia

Doryctobracon areolatus

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d a E m b r a p a C l i m a Te m p e r a d o, e m Pe l o t a s ( R S ) , e m p r e garam a vespa Dor yctobracon areolatus, que alcançou até 40%de parasitismo das lar vas da mosca, considerada um dos grandes problemas da frutic u l t u r a n o m u n d o. Os cientistas informam que os resultados são promissores e indicam potencial de uso nos pomares como técnica de controle biológico dentro de uma estratégia de manejo integrado de pragas (MIP). O parasitoide poderá ser indic a d o t a n t o p a r a c u l t i v o s o rgânicos quanto para pomares c o nv e n c i o n a i s . C omo é uma estratégia que não usa químicos, a ação da vespa é adequada à recente instrução normativa do Ministério da Agricultura (nº19 de 7/8/2019) que regulamenta os procedimentos para que as

frutas brasileiras recebam a certificação internacional de produtos de origem vegetal. “ Vá r i o s p a í s e s d a Un i ã o Europ eia imp õ em restriçõ es ao uso de defensivos químicos na fruticultura, por caus a d i s s o, p a r a e x p o r t a r p a r a esses mercados o Brasil deve substituir as aplicações por alternativas limpas de control e d e p r a g a s”, e s c l a r e c e o e n t o m o l o g i s t a D o r i E d s o n Na v a , pesquisador da Embrapa. O que é controle biológico? Tr a t a - s e d a r e g u l a ç ã o d o número de plantas e animais por inimigos naturais, chamados de agentes de mortalidade biótica. Entre esses inimigos naturais, estão os predadores, os parasitoides e os microrganismos. Tr a t a - s e d e u m m é t o d o d e


controle racional e que atende os princípios da sustentabilidade e que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais que causam menos impacto ao ambiente e à saúde da população quando comparados com o uso de produtos químicos. Como funciona? Na p r á t i c a , o u s o d e s s e p a r a s i t o i d e e nv o l v e e t a p a s d e produção das vespas, em lab o r a t ó r i o, s e g u i d o d e s u a l i beração nos pomares que estejam com ataque de mosc a s - d a s - f r u t a s . Ap ó s a l i b e r a ç ã o, a s f ê m e a s d o p a r a s i t o i de irão localizar as lar vas da praga no interior dos frutos para proceder a oviposição (colocar seus ovos no interior das lar vas). Do ovo colocado pelo parasitoide, irá eclodir outra lar va, que se alimentará das vísceras e do conteúdo d o h o s p e d e i r o, a t é o m o m e n to em que ela se transformará em pupa, no interior do pupár i o d a m o s c a - d a - f r u t a . Ap ó s alguns dias, o correrá a emergência da vespa, evitando assim a perpetuação da mosca-da-fruta. A pesquisa Inicialmente, os cientistas coletaram informações básicas da biologia e ecologia da praga e, em especial, do parasitoide Dor yctobracon areolatus. A segunda etapa procurou estabelecer uma técnica de criação tanto para o hospedeiro (a mosca-da-fruta), q u a n t o p a r a o p a r a s i t o i d e . “A ideia é aprimorar as técnicas de criação para serem mais baratas e darem menos mão

d e o b r a . Já q u e e l a r e p r e s e n t a cerca de 50% do custo de prod u ç ã o n a s c r i a ç õ e s”, o b s e r v a Na v a . A s t é c n i c a s f o r a m d e s e nv o l v i d a s e j á e s t ã o d i s p o níveis para produtores. Ta m b é m f o r a m e s t u d a d a s etapas relacionadas à seletividade de inseticidas ao parasitoide, comportamento de busc a e p a r a s i t i s m o, e n t r e o u t r a s . To d a s e s s a s f a s e s s ã o i m p o rtantes para avaliar o possível uso da vespa em programas de c o n t r o l e b i o l ó g i c o. “O q u e s e b u s c a é a r e s p o s t a p a r a a p e rgunta: qual é a taxa de parasitismo (controle) em condições de campo? O seu uso é v i á v e l ? ”, i n d a g a Na v a . O cientista ressalta que o controle biológico não é uma opção única contra a mosca-das-frutas. Ele deve ser utilizado com outros métodos de controle dentro da filosofia do Manejo Integrado de Pragas (MIP). C ontrole alternativo da mosca-das-frutas A l é m d i s s o, a d i s p o n i b i l i zação de agentes de controle biológico vem em boa hora, já que a maior parte das frutíferas não possui grade de produtos fitossanitários indicados. No e s t u d o, o s r e s u l t a d o s iniciais indicam taxas de parasitismo variáveis de 6,2% a 40%. Esses valores dependem de época de liberação da vespa, níveis de infestação da praga, espécies de mosca-das-frutas entre outros fatores. O trabalho terá outras etapas de avaliação e estudos que estão programadas para os próximos anos. A equipe de pesquisa ain-

da não tem uma estimativa de custos de produção com o u s o d e p a r a s i t o i d e s . Na v a r e vela que a tendência é haver um custo inicial mais elevado que diminuirá ao longo do tempo à medida em que a tecnologia se popularizar e for empregada em uma escala m a i o r. “ E x i s t e u m a p e r c e p ç ã o do produtor e da comunidade em geral de que o uso do controle biológico reduz cust o s d e p r o d u ç ã o. Na v e r d a d e , o custo do controle depende d e m e r c a d o. Q u a n t o m a i o r o m e r c a d o, m e n o r s e r á o c u s t o”, a n a l i s a Na v a . O futuro do estudo O cientista informa que ainda faltam outras etapas para estabelecer parâmetros de liberação do parasitoide (época, quantidade, frequência,etc). A tecnologia de controle biológico é des envolvida em parceria com uma empresa lo cal, a Par tamon. A ideia é que ela comercialize a tecnol o g i a n o f u t u r o. Além da Par tamon, o parasitoide Dor yctobracon areolatus poderá ser produzido em b i o f á b r i c a s , c o m o a Mo s c a s u l , que está sendo instalada em Va c a r i a ( R S ) e q u e e m p r e g a r á a Té c n i c a d o I n s e t o E s t é r i l e de parasitoides para o controle biológico de mosca-das- f r u t a s . “A l é m d a g e r a ç ã o d e tecnologia é necessário avançar nos programas de manejo de mosca-das-frutas e que envolve não apenas o fruticult o r, m a s t a m b é m a s i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s e a s p r i v a d a s”, c o m p l e t a o p e s q u i s a d o r. I s t o ocorre devido a necessidade de se realizar um controle mais abrangente geograficaREVISTA 100% CAIPIRA | 11


mente para o grupo das moscas-das-frutas, já que o controle local resolve o problema apenas momentaneamente. As dificuldades do controle químico At u a l m e n t e , p a r a m o s c a -das-frutas existem produtos químicos registrados e permitidos no Brasil apenas para pomares de citros, maçã e p ê s s e g o. P a r a a m a i o r i a d a s culturas não existem, ou há uma deficiência, de defensivos químicos registrados. “A m a i o r i a d a s f r u t í f e r a s não tem mais produtos registrados para controle de mosc a - d a s - f r u t a s . A l é m d i s s o, o s que sobraram, principalmente os do grupo dos organofosforados, já foram banidos pelos p a í s e s d a Un i ã o E u r o p e i a”, i n forma o pesquisador da Embrapa. S egundo ele, uma boa parte dos países já utiliza o controle biológico como estratégia de controle da praga. E l e d e s t a c a a a t u a ç ã o d o Mé x i c o, I s r a e l e C h i l e , c o m o r e ferência em controle biológico de mosca-das-frutas, o que possibilita a exportação de suas frutas para vários mercados consumidores mundiais. O prejuízo mosca

causado

pela

Os pomares com infestação de mosca-das-frutas não são aptos para exportação e as perdas causadas também provocam prejuízos no mercado i n t e r n o b r a s i l e i r o. Na v a e x plica que as lar vas da mosca-das-frutas destroem a polpa d o s f r u t o s p a r a s e a l i m e n t a r. “Ao r e a l i z a r a p o s t u r a , a s f ê meas introduzem o oviposi12 | REVISTA 100% CAIPIRA

t o r, c a u s a n d o u m f e r i m e n t o [abertura], que facilita a entrada de fungos causadores d e p o d r i d õ e s . A l é m d i s s o, o s danos provocam o amadurecimento precoce e consequent e q u e d a d o s f r u t o s”, d e t a l h a Na v a . Estudos indicam que dos 14,7 bilhões de dólares anuais de perdas econômicas na agricultura causadas por insetos, 1,6 bilhão está associados à produção de frutas. De acordo com avaliação realizada pelo Mapa, em 2015, para o Brasil, ao levar em consider a ç ã o a s p e r d a s d e p r o d u ç ã o, comercialização e custos de controle, somente as moscas-das-frutas causam um prejuízo anual de 180 milhões de reais. Quem são as moscas-das-frutas? A s m o s c a s - d a s - f r u t a s p e rt e n c e m à f a m í l i a Te p h r i t i dae. Existem várias espécies descritas, mas apenas algumas causam danos econômicos. Entre essas se destacam a mosca-das-frutas sul-americana Anastrepha fraterculus e a mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata. Na v a d i z q u e a m o s c a - d a s -frutas sul-americana é uma espécie de origem neotropical, ocorrendo do sul dos E s t a d o s Un i d o s a t é a A r g e n t i n a . “ No B r a s i l , e s s a e s p é c i e se distribui em todas as regiões, atacando frutíferas cultivadas e nativas, e ataca mais de 90 espécies hospedeiras de 2 0 f a m í l i a s b o t â n i c a s . No R i o Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) é a espécie pred o m i n a n t e”, r e v e l a o p e s q u i s a d o r.

Já a m o s c a - d o - m e d i t e r r â neo é a espécie exótica introduzida no Brasil por volta de 1900 e possui relevância econômica mundial, distribuída nas áreas tropicais e subtropicais. Está presente também em t o d o s o s e s t a d o s d a f e d e r a ç ã o, sendo predominante na front e i r a d o B r a s i l c o m Ur u g u a i e A r g e n t i n a . “ Tr a b a l h o s d e p e s q u i s a e s t i m a m , p o r e x e m p l o, que, se C.capitata reduzir a produção brasileira de citros em 50%, as perdas econômicas podem alcançar cerca de 242 m i l h õ e s d e d ó l a r e s”, r e s s a l t a Na v a . O controle da mosca Um a d a s f o r m a s d e c o n t r o le da praga tem sido feita pelo uso de produtos fitossanitários em aplicação seletiva, na forma de isca tóxica, ou aplic a ç ã o e m c o b e r t u r a . Ap ó s a s restrições de uso de produtos fitossanitários, devido à retirada do mercado de inseticidas do grupo dos organofosforados sistêmicos, outras alternativas estão são buscad a s p e l o s e t o r. Um a d e l a s é a i n s t a l a ç ã o, no sul do País, do programa Sistema de Alerta para o cont r o l e d a Mo s c a - d a s - F r u t a s . Ele abrange uma grande área envolvendo as regiõ es do sul do Rio Grande do Sul e parte da região produtora de frutas da S erra Gaúcha onde são cultivados pessegueiros. Iniciado há quase uma década, o projeto tem contribuído para definir o momento correto de aplicação dos inseticidas pelo p r o d u t o r, m e l h o r a r o s i s t e ma de produção e obter um produto de melhor qualidad e e m a i s l i m p o. To d a s e s s a s


ações têm propiciado avanços significativos no manejo da mosca-das-frutas e estão inseridas no conceito atual de manejo de pragas em áreas amplas, que contemplam pragas de grande mobilidade. Brasil é terceiro maior exportador de frutas do mundo O Brasil é o terceiro produtor mundial de frutas, depois da China e da Índia, com uma área plantada de 2,3 milhões

de hectares e produção de cerca de 44 milhões de toneladas por safra. Em 2018, foram produzidas 124,3 mil toneladas de frutas frescas e processadas enviadas a divers os países. Do total de frutas produzidas, apenas 2,5% é destin a d o à e x p o r t a ç ã o, s e g u n d o a Associação Brasileira de Produtores Exportadores de Frut a s e D e r i v a d o s ( Ab r a f r u t a s ) . Especialistas acreditam que há potencial para aument a r o v o l u m e e x p o r t a d o, m a s

é necessário transpor o desafio de se controlar pragas diminuindo ou zerando o uso de agroquímicos, apontados como um dos principais fatores que impedem o incremento das vendas internacionais. A fruticultura no Brasil é diversificada, sendo que em todas as regiões o cultivo faz parte da economia e do desenvolvimento social local. E em todas as regiões produtoras, a mosca-das-frutas está presente.

Ciclo biológico de mosca-das-frutas em pessegueiro

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Ministra destaca compr GOVERNO

rurais e tranquiliza s

“Brasil é um grande celeiro, produtor de alimentos, e não precisamos ter nenhuma expectativa negativa” 14 | REVISTA 100% CAIPIRA


romisso dos produtores

sobre abastecimento “O B r a s i l é u m g r a n d e c e l e i r o, p r o d u t o r d e a l i m e n t o s , e não precisamos ter nenhuma expectativa negativa de que não teremos alimentos para nosso p o v o”, a f i r m o u Te r e z a C r i s t i n a . A m i n i s t r a Te r e z a C r i s t i n a ( A g r i c u l t u r a , Pe c u á r i a e Ab a s t e cimento) afirmou hoje (18) que a agropecuária brasileira segue produzindo com êxito e abast e c e n d o o m e r c a d o. “O B r a s i l é u m g r a n d e c e l e i r o, p r o d u t o r d e alimentos, e não precisamos ter nenhuma expectativa negativa de que não teremos alimentos p a r a n o s s o p o v o”, a f i r m o u , r e f e rindo-se às mudanças na rotina dos brasileiros, impostas pela pandemia do coronavírus. A ministra ressaltou, durante evento no Ministério da Ciê n c i a , Te c n o l o g i a , I n o v a ç õ e s e C o m u n i c a ç õ e s ( Mc t i c ) , q u e a população deve se manter tranquila em relação à oferta de produtos alimentícios no varejo e elogiou os produtores rurais. “S ã o o s n o s s o s h e r ó i s , q u e n e s te momento estão lá (no campo) d a n d o d u r o, p r o d u z i n d o e r e alizando a maior safra colhida neste país, batendo recorde um sobre o outro para alimentar n o s s a p o p u l a ç ã o”. A estimativa da safra de grãos 2020/2021 deve ser de 251,9 milhões de toneladas, 4,1% acima da colheita passada, segundo levantamento divulgado no último dia 10 pela Comp a n h i a Na c i o n a l d e Ab a s t e c i -

mento (C onab), ligada ao Mapa. Mo n i t o r a m e n t o d e r o t i n a feito pelo Ministério não vislumbra qualquer indício de problema no abastecimento de produtos alimentícios no país. Além do trabalho do produtor n o c a m p o, Te r e z a C r i s t i n a d i s se que o desempenho positivo registrado atualmente pela agricultura brasileira se deve à c i ê n c i a e t e c n o l o g i a d e s e nv o l v i da principalmente pela Empresa B r a s i l e i r a d e Pe s q u i s a A g r o p e cuária (Embrapa), vinculada ao Mapa. C onvênio A empresa assinou hoje com a Financiadora de Estudos e Pe s q u i s a s ( F i n e p ) , i n s t i t u i ç ã o v i n c u l a d a a o Mc t i c , a c o r d o q u e v i s a i d e n t i f i c a r c o nv e r g ê n c i a s de atuação entre as duas partes que estimulem a incorporação d e i n o v a ç õ e s d e s e nv o l v i d a s p e l a Embrapa na estratégia de empresas. Essa ação deverá fortalecer os parceiros privados da Embrapa com financiamento da F i n e p, p r o p i c i a n d o a e x p a n s ã o d e s u a s t e c n o l o g i a s p a r a o m e rc a d o. O presidente da Embrapa, C e l s o Mo r e t t i , d e s t a c o u q u e a a g r i c u l t u r a b r a s i l e i r a é “m o v i d a à c i ê n c i a” e q u e , n e s s a s ú l timas quase cinco décadas, o Brasil deixou de importar para ser um dos maiores produtores e e x p o r t a d o r e s . “ Ho j e n ó s a l i -

mentamos sete Brasis e só tivemos isso porque o país tomou a d e c i s ã o d e i nv e s t i r e m c i ê n c i a”. Ele obser vou que essa cooperação irá trazer maior proximidade do setor privado com a pesquisa e disse que, desde janeiro de 2019, seguindo orient a ç ã o d a m i n i s t r a Te r e z a C r i s t i n a , a e m p r e s a t e m d e s e nv o l v i d o um trabalho firme para estreit a r e s s a a p r o x i m a ç ã o. “S a í m o s de 6% de projetos da carteira em parceria com o setor privado e quase quadruplicamos, quase 2 0 % ”. O m i n i s t r o M a r c o s Po n t e s ( Mc t i c ) d i s s e q u e a p a r c e r i a t e m uma “importância gigantesca p a r a o p a í s” e q u e t e r u m a e m presa como a Embrapa é motivo de grande orgulho para os bras i l e i r o s . “ Po r t o d o e s s e t r a b a l h o q u e t e m s i d o f e i t o n o d e s e nv o l vimento do agronegócio; por tudo que isso representa para o país e para o planeta em termos d e s e g u r a n ç a a l i m e n t a r. E i s s o é f e i t o a t r a v é s d a c i ê n c i a”, a f i rmou. Pe l o a c o r d o, s e r ã o d e s t i n a d o s R$ 100 milhões em recursos reembolsáveis para contratações nos próximos dois anos. As empresas poderão acessar a linha de financiamento reembolsável do Programa Finep Conecta, que oferece condições vantajos a s p a r a e m p r e s a s q u e i nv e s t e m e m Pe s q u i s a e D e s e nv o l v i m e n t o em parceria com Instituições de C i ê n c i a e Te c n o l o g i a . Fonte: MAPA REVISTA 100% CAIPIRA | 15


CAFÉ

Pesquisa mostra que café cultivado com Cloreto de Potássio contém altos níveis de cloro Você provavelmente já tomou uma boa xícara de café hoje, não é mesmo? Fonte: Ação Estratégica Comunicação

Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café, o consumo médio anual de café do brasileiro é de 839 xícaras por pessoa. O grande problema é que você pode estar ingerindo uma grande quantidade de cloretos junto com o seu cafezinho. Uma análise do laboratório CBO Análises Laboratoriais apontou que a bebida preparada com café cultivado com o K Forte, fertilizante mineral produzido pela Verde, tem 71% a menos de cloretos em comparação com a bebida preparada com café cultivado com fertilizantes que contém cloro em sua composição, como o Cloreto de Potássio (KCl). O estudo teve início em 2018 e os 16| REVISTA 100% CAIPIRA

resultados foram entregues no final de 2019. Para realizar a análise, o laboratório testou uma amostra de café cultivado com K Forte, utilizado na produção do café feito pela Academia do Café, uma das empresas referência no plantio, venda e preparação de cafés especiais do Brasil. Também foi analisada uma amostra da Três Corações, marca popular de cafés no país, cultivada com cloro. Os resultados mostraram que a concentração de cloretos totais no pó de café, antes do preparo da bebida, foi quase 73% menor no café cultivado com K Forte. Depois da bebida preparada, os números não foram muito diferentes:

a concentração de cloretos na bebida feita com o café cultivado com K Forte foi 71% menor do que na marca popular. A quantidade maior de cloretos tanto no pó quanto na bebida indica que o uso de fertilizantes com cloro faz com que ele seja absorvido pelos grãos. Um dos principais fertilizantes clorados utilizados na agricultura é o KCl, usado pelos produtores para fornecer potássio ao solo e planta de café. Ao contrário do K Forte, o KCl tem uma alta concentração de cloro em sua composição, com 47% desse elemento, sob a forma do ânion Cl-. De acordo com a Associação Nacional Para a Difusão de Adubos (ANDA), o Brasil utiliza 10 milhões de toneladas de KCl para fornecer potássio às plantações por ano. Com isso, são cerca de quatro milhões de toneladas de cloro no solo agrícola brasileiro, anualmente. E parte desse cloro acaba indo parar no café, como demonstra o estudo da CBO Análises Laboratoriais. O cloro prejudica a produtividade e qualidade do café - Os efeitos do excesso de cloro podem ser bastante prejudiciais para a qualidade do café. Desde problemas de crescimento e desenvolvimento dos pés de café até parâmetros de qualidade da bebida. No artigo Toxidez de Cloro em Mudas de Café Arábica Cultivadas em Vasos, o Dr. Cesar Abel Krohling e outros pesquisadores mostram que pés de café expostos a uma grande


quantidade de cloro acabam tendo necrose nas folhas e outros tecidos. A consequência disso é a queda da produtividade da lavoura. Mas não é somente a produtividade do café que é afetada pelo excesso de cloro. No estudo Qualidade de grãos de café beneficiados em resposta à adubação potássica, o Doutor em Ciência do Solo Enilson de Barros Silva demonstra a interferência do cloro na atividade de uma enzima chamada polifenoloxidase. A atividade da polifenoloxidase está significativamente ligada à qualidade do café: quanto menos atividade da enzima, pior a qualidade da bebida, como escreve a Doutora em Nutrição de Solos pela Universidade de São Paulo, Hermínia Emilia Prieto Martinez, junto com outros pesquisadores, descreve no artigo Nutrição mineral do cafeeiro e qualidade da bebida. Sobre os efeitos negativos do uso de cloro na produção de cafés de qualidade e como o uso do K Forte minimiza esses malefícios, Bruno Souza, o 1º Q-Grader do Brasil e fundador da Academia do Café nota: “Se você pensar a quantidade de cloro que você coloca [no solo] com o Cloreto de potássio, no efeito que esse cloro vai ter no processamento do café, eu acho que o uso do K Forte traz uma melhora na qualidade da bebida”. Efeitos prejudiciais vão além do café - Os malefícios do cloro na agricultura vão além da cultura do café. Um dos efeitos causados pela alta concentração desse elemento é a compactação do solo. Isso acontece porque o cloro diminui a umidade do solo, reduzindo a sua capacidade de manter os microporos que garantem que haja espaço entre suas partículas. Isso traz problemas para o desenvolvimento das raízes e aeração do solo. O professor de Geologia e Ciência Agrícola da Universidade de Illinois, nos EUA, Dr. Timothy Ellsworth, juntamente com outros pesquisadores, diz no estudo The Potassium paradox: Implications for soil fertility, crop production and human health: “O valor estabilizador do KCl

há muito tempo é reconhecido na construção de pavimentos e fundações impermeáveis. Infelizmente, as consequências agronômicas [dessa compactação e impermeabilidade] incluem a perda de CTC (Capacidade de Troca Catiônica) e baixa CRA (Capacidade de Retenção de Água), o que não traz crescimento e produtividade da lavoura”. Além disso, o uso intenso de fertilizantes como o KCl, que tem alto teor salino (cerca de 116%), aumenta a salinidade (acúmulo de sais minerais) e a acidificação (diminuição do pH) do solo. Isso causa estresse hídrico nas plantas e queda na produtividade. O cloro também mata os microrganismos que compõem a microbiota do solo. Esses microrganismos estabelecem relações importantes com as plantas, que contribuem tanto para seu melhor desenvolvimento quanto para que elas desenvolvam mecanismos naturais de proteção contra pragas e doenças. Sobre isso, Bruno Souza nota: “O remédio está matando o paciente. É preciso reavaliar o que a gente está colocando no solo, o que realmente é importante. Quanto menos químicos a gente puder usar é melhor, principalmente químicos que provocam a morte de alguma coisa” Inovação para melhores resultados - Os resultados da pesquisa com o café cultivado com K Forte pela Academia do Café mostra como Bruno Souza é um produtor preocupado em inovar para garantir a qualidade dos seus produtos. Bruno foi o primeiro brasileiro a receber a certificação de Q-Grader, que é dada a profissionais de classificação e degustação de cafés. Também é fundador da Academia do Café, espaço voltado para o ensino técnico e profissional, e laboratório de teste de qualidade de cafés. Desde 2016, Bruno Souza utiliza o K Forte na adubação dos cafeeiros que cultiva. A primeira experiência do renomado produtor com o fertilizante mineral da Verde foi feita através da aplicação em uma pequena área. Após aprovar os resultados, Bruno aumentou o uso do K Forte e

hoje aduba 100% da área de produção com o fertilizante da Verde. “Houve um aumento do tamanho da peneira e o café está um café extremamente doce, melhorou a qualidade nesses três anos que eu estou usando”, diz Bruno Souza, sobre as melhorias percebidas desde que começou a utilizar o K Forte. Outra percepção do produtor foi o aumento na porcentagem da produção com alta pontuação na escala da Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association). O K Forte traz bons resultados não somente para o café, mas todas as culturas. Isso porque é livre de cloro, o que evita os malefícios desse elemento para o solo e para as plantas. Ele é fonte de potássio, silício, magnésio, zinco, cobalto e manganês. A matéria prima do K Forte é o siltito glauconítico. Essa rocha sedimentar é rica em glauconita, um mineral cujo uso na agricultura dos Estados Unidos acontece desde 1760, onde é conhecido como greensand. A glauconita melhora a estrutura do solo, trazendo muitos benefícios. O pesquisador da Rutgers, The State Universty of New Jersey, escreve no artigo Greensand and Greensand Soils of New Jersey: A Review que “os efeitos benéficos da glauconita no solo parecem estar proximamente relacionados a uma combinação de fatores, como ter uma alta capacidade de absorção de nutrientes do solo e uma capacidade de retenção de umidade relativamente alta”. Utilize o K Forte e garanta a produtividade e a qualidade da sua produção! - Cristiano Veloso é fundador e CEO da Verde Agritech Plc (“Verde”), mineradora inglesa listada na Bolsa de Valores de Toronto. Tem ampla experiência e conhecimento nos setores agrícola e mineral. Cristiano é especialista em Sustainable Business Strategy pela Harvard Business School, mestre em Direito pela University of East Anglia e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. A frente da Verde, Cristiano lidera uma empresa inovadora cujo propósito é melhorar a saúde das pessoas e do Planeta. REVISTA 100% CAIPIRA |17


GESTÃO

Produção de touros: negócio para especialista Enfim, um mundo mais real e outro mais glamoroso

Fonte: Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha

Na pecuária de corte, algumas pessoas dividem os produtores em dois grupos: o do pecuarista comercial, dedicado a produzir terneiros, à recria ou a animais para abate; e o do pecuarista produtor de touros, envolvido com rebanhos de gado “puro”, das cabanhas, dos programas de melhoramento genético, das exposições, dos grandes leilões, das notícias nos jornais. Enfim, um mundo mais real e outro mais glamoroso. Não se fala disso muito abertamente, mas existe, também, a percepção de que não somente as atividades 18| REVISTA 100% CAIPIRA

desses pecuaristas são diferentes, não é somente o gado que difere (comercial e elite), mas de que o produtor também ganha algum status ou posição social diferente quando deixa de trabalhar com gado geral e passa a trabalhar com genética. Ele não é mais um generalista, mas sim um especialista. Ele, agora, é uma marca. Não é mais uma porteira sem logotipo. Tentarei abordar, neste texto, alguns dos motivos que percebo no querer ou na decisão de alguns pecuaristas em migrar da pecuária comercial

para a produção de touros ou, o mais complicado, naqueles que decidem ingressar na pecuária diretamente na produção de touros, mais ou menos como quem quer aprender a pilotar diretamente na cabine de um Boeing. Não há necessidade de perder tempo com aeromodelismo ou planadores, vamos direto para o alto e avante! Onde come uma vaca comum, come uma vaca PO Pois bem, trago esse tema porque é assunto recorrente em minha ativida-


de profissional nos últimos 15 ou 20 anos. Normalmente, a frase é assim: “Velloso, estou te contatando porque vou montar uma cabanha. Gostaria de discutir algumas questões contigo, mas já estou decidido e preciso apoio para comprar algumas vacas registradas”. Observe que o pecuarista não quer mais discutir essa decisão. Ele quer pilotar o Boeing, e logo. Os motivos ou argumentos para partir para a produção de touros normalmente são os mesmos: “Tu vês, onde come uma vaca comum, come uma vaca PO. E tem mais: ao invés de vender um novilho gordo de dois anos, vou vender um touro pelo valor de três a quatro novilhos”. A priori, as afirmações não estão erradas, mas o entusiasmo leva o criador a dar peso somente às possíveis vantagens do negócio, esquecendo que a compra de uma vaca PO custa, normalmente, o valor de dois ou mais exemplares de gado geral. E esquecendo também que se vende um touro pelo preço de três ou quatro novilhos, mas que esse touro deverá pesar 50% ou mais que o peso do novilho para abate, e que muitos machos PO nascidos não se tornam touros, ficam pelo caminho. Mas isso são detalhes. Já dizia a marchinha do Carnaval de 1947: “Que me importa que a mula manque, eu quero é rosetar!”. Desculpas por usar exemplos com marchinhas, mas estou redigindo no pré-Carnaval. De qualquer forma, o cidadão está decidido. Argumentar contrário seria perda de tempo.

(terneiras, matrizes, embriões, sêmen etc.). A reflexão deste texto é consequência das tantas vezes que me deparei com novos clientes entusiasmados, e até meio afobados, para montarem as suas cabanhas, sem o entendimento das implicações que esse negócio tem e do perfil necessário ao investidor que pretende tornar-se um bom vendedor de touros. Para os novatos na pecuária, perfil tão comum de novos investidores, oriundos da indústria, empresários, profissionais liberais de sucesso, a opção por ingressar na pecuária com a produção de touros é, provavelmente, o aprendizado mais caro disponível no mercado. Os investimentos e custos serão do nível “elite”. Os resultados serão, certamente, do nível gado geral em pecuária “sofrível”. Mais ou menos como trabalhar no Uber X dirigindo uma Dodge Ram 3500. Não vai ser fácil fechar essa conta. As atividades relacionadas a manejo, sanidade, reprodução e nutrição do rebanho devem estar minimamente dominadas e incorporadas na rotina da fazenda para que se possa cogitar trabalhar com reprodutores, mas não é sempre assim que acontece. Muitos novos investidores entusiasmam-se com as possibilidades da pecuária voltada para a genética e, literalmente, pulam alguns estágios necessários para o aprendizado. O bom produtor de touros tem que ser um bom pecuarista

Mas produzir touros não pode ser É bastante simples compreender: bom negócio? somente s erá um b om pro dutor de touros aquele que, antes, for um Seguramente que sim. É a ativida- b om p ec uar ist a. Parece t ão báside com a qual trabalho diretamente, co, mas os pr incípios mais básicos e conheço muitos produtores de tou- s ão meio es quecidos no dia a dia. ros que são exitosos na produção e S e a fazenda e o plantel não tivena comercialização de reprodutores. rem b ons indicadores técnicos e Conseguem colher mais faturamento pro dutivos, não há como s e re alie resultados por trabalharem com um zar um b om programa de s eleção, produto de valor unitário mais eleva- e, p or t anto, s erá dif ícil ofer t ar do que no gado comercial. Possuem b ons touros e em quantidade. custos maiores, mas os compensam e Faz par te do pro cess o de s eleos superam, com a venda de produ- ção nor mal de qualquer plantel tos de maior valor também, sejam os a re a lização de des car tes. E para touros ou a “genética” como um todo que o programa f uncione, ou s eja,

para que exist a avanço genético no rebanho, os des car tes de vem s er volunt ár ios (decididos p elo p ec uar ist a), e não involunt ár ios (decididos p elos noss os er ros). quando a p ec uár ia est á ainda com baixo nível de ef iciência, muitos des car tes ou p erdas o cor rem involunt ar iamente p or falhas no sistema de identif icação, do enças, mor tes, vacas vazias p or falt a de condição cor p oral ou er ros de manejo etc. D ess a for ma, b oa genética p o de est ar s aindo do rebanho s em s ab er mos, e genética comum p o de est ar f icando no rebanho p orque resistiu às falhas de noss o pro cess o. Mas p or que ab ordar ess e tema? O objetivo não é cr iticar de for ma s olt a os novos pro dutores de touros, mas fazer um alert a s obre as implicaçõ es e s obre o p er f il necess ár io para este novo cabanheiro. A pro dução de genética pressup õ e projetos de longo prazo, maiores investimentos em animais e tecnologia, maior envolvimento do propr iet ár io, af inidade com controles de rebanho, planilhas, relatór ios e, p or f im, habilidades nas áre as de marketing e comercialização menos necess ár ias no gado geral. Tudo iss o é fac tível, mas o grande número de cr iadores que abandona s eus plantéis, fazem liquidaçõ es e s e desligam das ass o ciaçõ es de raça anualmente me faz p ens ar que ess a avaliação pré via é p ouco considerada. Obs er ve que concluo este texto s em cit ar nenhuma raça. Não é p or acas o. A regra é geral e ir restr it a. Não imp or t a s e est amos falando de uma raça europ eia, sintética, comp ost a ou zebuína. Vale para to das. Não falo nome de uma raça p orque os temp os andam s ombr ios. A canet a anda es crevendo mais p es ada, mais medros a de us ar algumas palavras proibidas. A patr ulha est á meio geral. Até no C ar naval. Mas, Vellos o, insisto: onde come uma vaca geral, come uma PO. R .: D e acordo: eu quero é ros et ar. REVISTA 100% CAIPIRA | 19


TURÍSMO RURAL

Turismo de aventura e gastronômico atraem visitantes para Anchieta Rotas dos cânios com belíssimas cachoeiras, grutas e trilhas; voo de balão e parapente e a rota “Encantos e Sabores” da Associação Anchietense de Turismo (ANCHIETUR) são alguns dos atrativos turísticos do município de Anchieta, no extremo oeste catarinense

Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional

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Os visitantes também podem conhecer as maravilhas apresentadas na Expo Anchieta, na Festa das Sementes Crioulas e na Exposição Anual de Orquídeas. Essas ações de fomento do segmento e de fortalecimento das empresas locais são realizadas pelo poder público em parceria com o Sebrae/SC, a Epagri e outras entidades. “Acreditamos que nossa região tem grande potencial para receber os turistas e conquistá-los com os atrativos consolidados e as belezas naturais, por isso apoiamos e motivamos iniciativas que promovam condições e conhecimentos para o crescimento do turismo e para instigar o interesse de investidores da iniciativa privada. O que precisamos é edificar empreendimentos que promovam qualidade de vida e experiências únicas aos visitantes”, argumenta o prefeito de Anchieta, Ivan José Canci, ao complementar que o município também tem carência em estrutura para eventos, na sinalização turística e no paisagismo. Para o prefeito o turismo é essencial para desenvolver a economia da região e para integrar as atividades econômicas existentes seja no campo da agroindústria, da indústria e do comércio em uma nova atividade que passa pela cultura, pela história e pela natureza. “Investir no turismo é uma oportunidade de desenvolver de forma equilibrada e sustentável os municípios. Contudo, isso se concretizará se os munícipes compreenderem isso e dirigirem seu olhar para além do que sempre foi feito e esse é o desafio”, enfatizou.

para receber turistas. Segundo a consultora credenciada ao Sebrae/SC, Traute Limberger, foram promovidas palestras (turismo rural, acolhida na colônia e turismo integrado e sustentável) e oficina de qualidade no atendimento. Além disso, foi elaborado o projeto “Floração Anchieta mais bonita e boa de viver” e visitas de sensibilização para integrar novos interessados em exercer essa atividade econômica no município, que tem uma população de 5.638 habitantes e sua etnia predominante é o italiano. O prefeito relatou que a atividade turística em Anchieta iniciou há 20 anos, porém se intensificou há quatro. “Nesse processo o Sebrae/SC foi fun-

damental para trazer conhecimentos sobre estratégias de planejamento, de apoio ao município e da integração regional. A instituição tem sido nossa mola propulsora do turismo na região, principalmente por sua expertise e pelo compromisso com o desenvolvimento territorial”, enfatizou Canci. “Os municípios do extremo oeste catarinense estão se preparando para receber o novo público de turistas, extremamente exigente e com muitas expectativas, que está disposto a consumir novidades e ter experiências diferenciadas enquanto aproveita a vida”, enalteceu o gerente regional do Sebrae/SC no extremo oeste Udo Martin Trennepohl.

AÇÕES Para desenvolver o setor foi criado o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) e fundada a Associação Anchietense de Turismo (ANCHIETUR) composta por: Ar Livre Ecoturismo, Cervejaria Birrifício Frisando, Restaurante Bombocado, Restaurante Central, Orquidário da Rosa, E-Atelier, Sítio di Amici, Mirante Vale do Sol, Sítio Vidoria e Sítio Vale Vêneto que estão recebendo turistas, entre outras empresas associadas que estão adequando seus empreendimentos REVISTA 100% CAIPIRA |21


FRUTICULTURA

Cargill une esforços para aumentar produtividade de cacau no Pará enquanto recompõe áreas florestais Projetos visam melhorar bem-estar dos produtores e fornecer amêndoas sustentáveis

para

indústria

chocolate 22| REVISTA 100% CAIPIRA

de


A Cargill, em parceria com a ONG Imaflora, fomenta dois projetos para auxiliar os produtores de cacau do Pará a aumentar sua produtividade, ao conciliarem ações de conservação ambiental com boas práticas agrícolas. A expectativa é ajudar 150 famílias de São Felix do Xingu, que fazem parte da Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (CAMPPAX), a recuperar áreas previamente degradadas, em um total de 300 hectares de terras. Além disso, em Medicilândia, serão treinados mais de 50 produtores sobre as melhores técnicas de cultivo e uso eficiente de insumos para atender aos padrões de produção sustentável de cacau. As iniciativas estão alinhadas às metas globais da companhia referentes à prosperidade econômica dos agricultores e à proteção de florestas. A intenção é promover um setor de cacau seguro e sustentável para as próximas gerações. Para atingir esses objetivos, a Cargill conta com a expertise em cacau e agricultura familiar da Imaflora. A ONG atua com foco no fortalecimento da cadeia produtiva do cacau, incentivando a educação e apoiando políticas públicas de combate ao desmatamento ilegal. O suporte financeiro e de gestão da Cargill é fundamental para fortalecer as ações associadas à cadeia produtiva e à adequação ambiental. “Atuamos em São Felix do Xingu há dez anos e vemos que esses projetos são muito importantes para a melhoria das condições de produção, a partir de assistência técnica, enquanto recupera áreas degradadas”, afirma Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente de projetos do Imaflora. A Cargill concentra seus esforços no início da cadeia de suprimentos porque entende que é neste ponto que se baseiam alguns dos desafios mais urgentes, e é também onde pode causar o maior impacto. “Os projetos só fazem sentido quando criamos benefícios duradouros para os produtores de cacau, suas famílias e comunidades, capacitando-os para alcançar seu próprio sucesso nos negócios. Isso está diretamente ligado à nossa estratégia global de sustentabilidade e faz parte do plano de ação da Cargill para proteger nosso planeta”, explica Laerte Moraes, diretor do negócio de Cacau e Chocolate da Cargill no Brasil.

O cacau é uma espécie nativa da Amazônia e, quando cultivado em meio a outras espécies, oferece um sistema economicamente viável que aumenta a resiliência do cacau enquanto promove a cobertura vegetal em terras agrícolas e conserva a biodiversidade. “Acreditamos em uma abordagem coletiva na qual todos têm seu papel a desempenhar e reconhecemos o valor de compartilhar as melhores práticas, desenvolvendo iniciativas que complementam as atividades de outras pessoas e trabalhando em estreita colaboração com parceiros especialistas que conhecem o contexto e a cultura local. E é trabalhando juntos, com projetos como o Floresta Produtiva e o Farmer Coaching, que ajudaremos produtores a prosperarem a medida que aumentamos a produtividade do cacau sustentável no Pará”, resume Laerte. O Floresta Produtiva envolve 150 produtores na implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e a adequação ambiental das propriedades perante o Código Florestal Brasileiro. Estes produtores receberão mudas de espécies nativas do bioma Amazônico e insumos para

produção de mudas de cacau; assistência técnica para elaboração do Cadastro Ambiental Rural (CAR); Plano de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas; e treinamento em gestão ambiental. Já o Farmer Coaching está treinando mais de 50 produtores para serem disseminadores das boas práticas de produção sustentável de cacau para toda a região. Entre as técnicas ensinadas estão instruções de poda, uso eficiente de fertilizantes, controle de doenças, fermentação, segurança do trabalho, aplicação correta de insumos e uso de EPIs. Ambos os projetos estão inseridos no Cargill Cocoa Promise, compromisso para que agricultores e suas comunidades obtenham melhores rendas e padrões de vida, lançado em 2012. “Assim como todas as intervenções que fazem parte do Cargill Cocoa Promise, nossa atuação no Brasil visa aumentar a resiliência social, econômica e ambiental de pequenos produtores de cacau e suas famílias para garantir a segurança futura da cadeia do cacau, de forma mais justa e sustentável”, ressalta Moraes. Fonte: Cargill

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ANÁLISE DE MERCADO

BOLETIM CNA: impacto do coronavírus No dia 11 de março a OMS decretou Pandemia do novo coronavírus Fonte: Assessoria de Imprensa CNA

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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) traça um cenário do impacto da pandemia do Covid-19 para o agro, a partir de levantamentos periódicos de informações sobre o cenário interno e externo. No dia 11 de março a OMS decretou Pandemia do novo coronavírus. Desde estão os estados e o governo federal têm adotado medidas emergenciais para conter a disseminação da doença no País. Com o intuito de garantir o abastecimento de alimentos para a população e garantir que os produtores irão continuar produzindo, a CNA criou um grupo para monitorar a crise do Covid-19. A análise desses primeiros dias segue nesse boletim. MERCADOS China O escritório da CNA em Xangai não identificou interrupção de importações de bens agropecuários devido à pandemia da Covid-19. Mas o cancelamento de rotas marítimas já resulta em atrasos no transporte internacional. O escritório também apurou que comércio de grãos, óleos e alimentos registrou aumento de 9,7% entre os meses de janeiro e fevereiro de 2020 – apesar da queda das vendas totais do varejo em 20,5% nos dois primeiros meses do ano. A “corrida” dos consumidores aos supermercados é a provável causa do aumento das vendas de itens básicos para a dieta chinesa. As vendas de alimentos online também cresceram 3% no mesmo período.

percebeu nenhum impacto no comércio. O governo norte-americano tem tomado medidas mais focadas na saúde das pessoas e garantiu que a produção de alimentos não para;

na demanda. No caso das f lores de corte, a redução já supera 70% devido à proibição massiva de grandes eventos, redução da circulação e mesmo pela alteração momentânea do padrão Arábia Saudita: de consumo das famílias, que passam a priorizar bens básicos Houve aumento de deman- em momentos de crise. da por fornecedores brasileiros p ara supr ir o merc ado inter no. B oi gord o Exportadores brasileiros e importadores relatam atraso na O mercado do boi gordo iniliberação de cargas no porto de ciou a semana com pressão dos G i d á . Ap a r e n t e m e n t e , o c o n t r o - f r i g o r í f i c o s , r e d u z i n d o o s v a l o le p or tu ár io est á mais r íg ido. res ofertados em relação à sem a n a a n t e r i o r. M a s p o r f a l t a d e Produtos negócios na segunda, o indicador Cepea se manteve estável. Para as principais commoAo longo da s emana , p oucas dities agrícolas, como soja, negociações ocorreram, derrumi l ho e c afé, houve que d a nos b ando a cot aç ão. C om iss o, a preços internacionais. No en- escala dos f rigoríf icos foi ret anto, em f unç ão d a a lt a do duzid a, forç ando a ele vaç ão d ó l a r, o s p r e ç o s r e a i s n ã o f o - d o s p r e ç o s n a q u i n t a e n a s e x t a . ram impactados. Para o setor Os três maiores frigoríficos sucro energét ico e o a lgo d ão, o anunci aram fér i as colet ivas em maior problema foi a guerra do alguma das suas unidades, fapetróleo entre Rússia e Arábia tor que deverá pressionar a coSaudita, que derrubou os pre- tação na semana que vem, data ços nestes setores. que as plantas efetivamente irão interromper suas atividaFr utas des.

A demanda por frutas e hortaliças nos supermercados cresceu de 20% a 30% nos primeiros dias de intensificação da pandemia. A comercialização no varejo representa em torno de 53% das movimentaç õ e s d e ss e s pro duto s . Por ou t ro l ado, a pro c ura em re des de fast food, bares e restaurante caiu drasticamente. C om a ordem de fechamento em grandes União Europeia: cidades, espera-se que demanda recue a níveis nunca vivenAinda sem impactos expressi- c i a d o s p e l o s e t o r. vos no comércio com o Brasil. Hoje as medidas restritivas estão muito F l o r e s mais focadas na redução da movimentação de pessoas do que na cirA intensificação da crise culação de mercadorias. poderá colocar em xeque o des e m p e n h o d o s e t o r. N o c a s o d a s Estados Unidos: f lores de vas o, comerci a lizad as principalmente nos sup ermerAssim como na UE, ainda não se c a d o s , h o u v e r e d u ç ã o d e 5 0 %

Av e s e s u í n o s Ao contrário dos f rigoríf icos de bovinos, as plantas de aves e suínos garantiram que não vão inter romp er su a pro duç ão. Mas a queda no food ser vice preocupa. As empresas já sentiram queda de 10 a 15% nos pedidos. Por out ro l a d o, o s p e d i d o s d as redes de atacado e varejo aumentaram. Na par te da exp ort aç ão, a fa lt a de contêineres tem dificultado as vendas de proteínas animais. Aquicu ltur a A queda no consumo do food ser vice preocupa a cadeia da aquicultura. A comercialização de c amarão, p or exemplo, te ve queda de 80%, mas aumentou 20% nas vend as no varej o. REVISTA 100% CAIPIRA |25


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ANÁLISE DE MERCADO

O que

esperar depois do inesperado? Se você está lendo este comentário, caro leitor e prezada leitora, isso significa que você sobreviveu, mesmo que às duras penas, ao turbilhão que se apoderou do mundo e, ao que tudo parece, ainda está bem longe de terminar Se alguém disser que tem a menor ideia do que pode acontecer na próxima semana (nas próximas 24 horas, alguém?) com os mercados, certamente ou está especulando ou sofrendo prematuramente os efeitos alucinógenos da quarentena impostas a todos nós. Ninguém sabe. Nessas horas o melhor a fazer é estressar o cenário até onde vai nossa imaginação e tentar exceder o que tal cenário pode impactar no resultado da empresa. E, mesmo estressando, convenhamos, nem somos muito bons nisso. Se há apenas 30 dias alguém dissesse numa roda, cercado de seus pares do mercado de açúcar, que NY iria negociar abaixo de 11 centavos de dólar por 28 | REVISTA 100% CAIPIRA

libra-peso e o dólar valeria mais do que 5 reais, iria receber uma sonora vaia ou uma sardônica gargalhada. Pois é, temos dificuldade de lidar com o acaso. As lições que estamos aprendendo nesse conturbado momento serão extremamente valiosas, particularmente se forem assimiladas. Como dissemos aqui, na semana passada, temos que treinar nossa mente assiduamente para enxergar o mercado de maneira abrangente, não nos restringindo tão somente à nossa visão muitas vezes alimentada por estritos vieses. Quando tratamos de riscos, existem diversas metodologias para quantificá-los e mitigá-los, seja por meio de opções, seguros ou outros derivativos

estruturados para esse fim. Em tempos bicudos, como os que estamos passando, até mesmo a proteção mais simples acaba se tornando extremamente cara em função da elevada percepção de risco endêmico do mercado que provoca um aumento substancial na volatilidade fazendo com que a proteção que buscamos fique impraticável do ponto de vista financeiro. Tente, por exemplo, comprar uma call (opção de compra) ou put (opção de venda) de câmbio junto aos bancos nesse momento. Uma enorme volatilidade será embutida na formação de preço em função da procura por esse tipo de estrutura e da percepção de risco por parte do agente financeiro. Quando tratamos de incerteza, a


coisa é mais complicada. Não temos como nos proteger das incertezas. Resta-nos pensar de maneira proativa e evitar tomar decisões com base no pânico. Como disse Warren Buffet, “o mercado é uma máquina de transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes”. Poderíamos adicionar que o mercado é uma máquina de triturar vaidades. Voltemos ao mercado de açúcar. Impressiona como as coisas mudam num piscar de olhos. O ano de 2020 prenunciava um tom mais otimista para com o mercado sucroalcooleiro. O petróleo ao redor de 50 dólares por barril assegurava excelente competitividade para o etanol hidratado e o mix de produção pró açúcar seria ligeiramente elevado em conformidade com o fortalecimento da moeda americana. A economia brasileira teria, na visão do mercado, um crescimento da ordem de 2.0-2.4% que projetava (nosso número) um aumento do consumo Ciclo Otto para 2020 em 5%. O coronavirus e a picuinha entre Arábia Saudita e Rússia viraram esse quadro róseo de cabeça pra baixo. O governo brasileiro decretou estado de calamidade pública, aprovado pelo Congresso, até 31 de dezembro. O comércio em geral, shoppings, cinemas, teatros, bares e restaurantes, serviços, etc em praticamente todas as principais cidades do país estão fechados. O consumo de combustíveis, alguns se atrevem a estimar, pode derreter em

50% nesse período de quarentena que, preliminarmente, deve durar até o final de abril. Companhias aéreas amargam enormes prejuízos e cancelaram 70% de suas rotas nacionais e internacionais. O petróleo, no momento que este comentário é escrito, negocia abaixo de 20 dólares por barril. Que quadro, possivelmente, pode ser traçado sob essa condição, senão um bem drástico? As usinas que fixaram seus açúcares antes desse banho de sangue estão aliviadas. Tomara que não sejam picadas pelo bichinho da especulação e recomprem suas posições de futuros para depois achar que conseguirão vender novamente num preço mais alto (algumas fizeram isso em 2016 e estão arrependidas até hoje). Esse quadro de incertezas e sustos contínuos aponta para um enorme crescimento do mix de açúcar para esta safra de 2020/2021. Não há dúvida que usinas organizadas e capitalizadas, que administram sua própria mesa de futuros e opções vão dar prioridade ao açúcar. Nossa estimativa preliminar é que o mix de açúcar para a safra 2020/2021 possa alcançar 44% (contra 34.5% da safra 2019/2020). Mais açúcar será produzido do Centro-Sul num momento em que se estima que menos açúcar será consumido no mundo em consequência da recessão que veremos ao longo do ano. Pouco produtores mundiais con-

seguem sobreviver sem subsidio governamental. O fechamento de NY na semana, de 10.90 centavos de dólar por libra-peso combinado com o dólar cotado a R$ 5.0267 equivalem a R$ 1,259 por tonelada FOB Santos, um valor que remunera condizentemente boa parte das usinas do Centro-Sul. Para se ter uma ideia desse valor, em 2017 a média de NY foi de R$ 1,155 por tonelada, em 2018 R$ 1,023 e em 2019 R$ 1,118 por tonelada. O que vai impactar de maneira negativa o resultado das empresas do setor é o etanol hidratado que vai sofrer a redução do preço da gasolina na bomba (a Petrobras ainda tem espaço de R$ 0,30 por litro para redução) e a enorme contração do consumo de combustíveis. O que parecia ser um ano promissor para o setor transformou-se num ano que vai exigir enorme capacidade de gestão, muita engenhosidade, paciência e determinação. O setor deverá buscar ajuda governamental para postergar impostos a pagar e criação de linha emergencial para conseguir atravessar um mar revolto num cenário que tudo parece dar errado. Nos bastidores, comenta-se que uma trading de renome está encontrando enorme dificuldade de ter a carta de crédito aberta pelo comprador. Por: Arnaldo Luiz Corrêa - Diretor da Archer Consulting

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LATICÍNIOS

Indústria trata água residual com mais de 90% eficiência e ainda ajuda produtores rurais com doação de fertilizantes Sistema adotado no parque industrial da Marajoara, em Hidrolândia, além de deixar água em total condições para ser devolvida ao meio ambiente, gera biomassa usada como nutriente para o solo

Fonte: COMUNICAÇÃO SEM FRONTEIRAS

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Em qualquer processo industrial a água é um elemento amplamente usado, no setor alimentício isso é ainda mais evidente. Muitos tipos indústrias dependem de reações usando produtos químicos dissolvidos em água, ou suspensão de sólidos na água, ou usa-se o líquido para dissolver e extrair substâncias, ou então simplesmente para a lavagem de produtos e equipamentos. Imagine então tratar a água gerada por uma indústria que envasa por dia milhões litros de produtos derivados do leite, cada um passando por um processo fabril diferente? Esse é o desafio de marcas como a Marajoara Alimentos, cujo parque industrial fica em Hidrolândia, cidade da região metropolitana de Goiânia. Só de leite longa vida a empresa envasa mais de 12 mil litros por hora. Ao todo, a marca oferece mais de 10 itens em sua linha de produtos, entre leites desnatado, semidesnatado, sem lactose, cremes de leite, leite condensado e achocolatado. Desde 2013, para tratamento de toda a sua água residual, a indústria usa um método chamado Flotação por meio de flotador por ar dissolvido - que garante um nível de eficiência no processo de purificação superior a 90%, bem acima dos 60% exigidos pela legislação ambiental. As impurezas retiradas da água ainda se transformam numa biomassa que é fornecida gratuitamente para produtores rurais como fertilizante. O processo de reaproveitamento de resíduos gera cerca de 300 toneladas de adubo por mês. “Essa água residual da indústria de laticínios tem uma carga orgânica muito alta e um grande desafio é justamente encontrar um método adequado para fazer esse tratamento, em especial quando se usa uma enorme quantidade de água. Felizmente aqui na Marajoara conseguimos fazer esse processo dentro de um alto grau de eficiência e ainda geramos essa biomassa que vira fertilizantes para produtores locais”, explica o gerente industrial da Marajoara, Antônio Júnior Vilela. Segundo ele, são cerca de 40 mil

litros de água tratados por hora, num sistema que precisa funcionar sem parar, 24 horas por dia. Toda a água que é gerada pelas fábricas da indústria Marajoara, desde aquela que sai do próprio leite, que naturalmente já é composto por mais 87% de água, até a que é usada na lavagem industrial, de máquinas e na limpeza em geral passa pelo sistema. *Equalização* “O tratamento começa pelo tanque de equalização que recebe o que chamamos de água bruta. Nessa etapa é onde se consegue um líquido homogêneo, ou seja, fazemos a equalização dessa água bruta por meio de um agitador que há no tanque. Nessa etapa é feita a averiguação da água, desde seu Ph até toda a sua carga orgânica”, explica o gerente indústrial. Antônio Júnior diz que essa etapa inicial de equalização da água residual, antes do tratamento propriamente dito, evita grandes variações e ajustes no sistema, mantendo o elevado padrão de qualidade. Em seguida, uma bomba leva a água para o início do tratamento, num sistema tubular onde é feito a correção do Ph. “Isso é feito adicionando soda (alcalino) ou ácido, por meio de bombas dosadoras. O nível do Ph deve estar entre 6 e 7”, esclarece o gerente indústrial. Depois é usado sulfato de alumínio, que é um coagulante poderoso e irá transformar essas impurezas da água, matéria orgânica e inorgânica, em pequenos flóculos. De acordo com Antônio Júnior, as partículas poluidoras desestabilizam-se e sofrem uma aglutinação, o que facilita a sua deposição ou aglomeração em flóculos. A próxima etapa do processo de tratamento é a flotação, que é quando se adicionado polímero. “Após a injeção do sulfato de alumínio, usamos o polímero que funciona como um floculante, fazendo essas impurezas virarem os flóculos e subirem para a superfície da água. Usamos, também nessa etapa, a injeção de ar por microbolhas, que auxi-

liam a flotação de todas impurezas”, explica o gerente industrial da Marajoara. Após esses processos químicos, na câmara de expansão as microbolhas de ar se expandem e agregam-se às partículas dos poluentes suspensos (óleo, gorduras, proteínas e outras substâncias orgânicas) e flotam (flutuam) para a superfície. Em seguida um raspador remove o lodo que se forma sobre a superfície da água. Esse lodo, segundo explica o gerente industrial, é justamente a biomassa que será aproveitada como fertilizante. “Nessa fase a água já está praticamente limpa, mas antes de levá-la ao meio ambiente a passamos para um outro tanque onde fazemos uma lapidação dessa água. O objetivo é eliminar alguns resíduos que possam ficar devido ao processo de flotação. Isso é feito por meio de um sistema de peneiras”, revela Antônio Júnior. Depois de tudo isso a água volta para o meio ambiente totalmente tratada. Fertilizante Antônio Júnior revela que a biomassa gerada após o tratamento da água tem uma importante destinação. “Há quase um ano conseguimos autorização da Semad [Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos] para oferecermos a produtores rurais de Hidrolândia essa Biomassa, que é um fertilizante, que fica após o processo de tratamento da água. Essa biomassa é muito rica em matéria orgânica, em micro e macronutrientes para o solo”, conta Antônio. O gerente industrial da Marajoara explica que o fertilizante é fornecido gratuitamente para produtores locais que são cadastrados. “Para receber esse adubo o produtor precisa fazer parte desse projeto. Antes de fornecemos esse material oriundo da biomassa fazemos uma série de análises de solo da propriedade, como outra série de averiguações para constatar se a terra pode receber o fertilizante”, diz. REVISTA 100% CAIPIRA |31


CLIMA

Lições de estiagens

Estiagens de verão são fenômenos recorrentes no Sul do Brasil Assinam essa nota: Gilberto R, Cunha, Genei Antonio Dalmago e Aldemir Pasinato, empregados da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

Impactos negativos na agricultura, na prestação de serviços de abastecimento urbano de água para a população e, de resto, em toda a economia regional, podem ser diagnosticados, com maior ou menor vulto, conforme a magnitude e a duração de cada evento de estiagem. Nos últimos 50 anos (1970-2020), podemos considerar que pelo menos 14 estiagens assolaram a agricultura do Rio Grande do Sul. Foram elas e as respectivas safras: 1977/78; 1978/79; 1981/82; 1985/86; 1987/88; 1990/91; 1995/96; 1996/97; 1998/99; 1999/00; 2003/04; 2004/05; 2011/12; e a atual 2019/20. Em cada uma dessas, as particularidades dos eventos, que possuem características próprias, as assimetrias da ocorrência de chuvas entre locais e as diferenças do padrão de tecnologia de produção entre empreendimentos agrícolas, no mesmo local, definiram a magnitude dos impactos e, vislumbra-se, também definirão na safra atual. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), em nota técnica climatológica, analisa as condições meteorológicas ocorridas, na região Sul do Brasil, entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. Destaca-se que, no período, o padrão de circulação da atmosfera (predominantemente anticiclônica nos altos e médios níveis) não favoreceu a formação de nuvens capazes de gerar chuvas e que foram poucas as frentes frias que passaram sobre a região. Assim, além de terem sido baixos os valores acumulados de chuva, os eventos de precipitação também apresentaram distribuição irregular no tempo e no espaço. O déficit hídrico, ainda que generalizado, foi menor na porção oeste do que na parte leste da região. Contribuíram para isso, 32 | REVISTA 100% CAIPIRA

uma área de baixa pressão posicionada sobre o nordeste da Argentina e do Paraguai, gerando aporte de umidade e áreas de instabilidade, que ocasionaram pancadas de chuva isoladas, e o desenvolvimento de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCMs), que produziram chuvas intensas, porém isoladas e passageiras. Acrescente-se ainda, nesse verão, a atuação, com mais intensidade e persistência, da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que contribuiu para que o escoamento de umidade permanecesse confinado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do País, baixando, no período, o índice de umidade na Região Sul. Some-se, ainda, que, no período, o fenômeno El Niño – Oscilação Sul (ENOS), estando na sua fase neutra, não atuou ou exerceu influência no regime de chuvas no Sudeste da América do Sul. Nesses anos, a influência do Atlântico Sul assume protagonismo maior. E, assim se deu, em novembro de 2019, com o registro de Anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (ATSM), no Oceano Atlântico Subtropical, no litoral uruguaio e gaúcho, com sinais positivos, que favoreceram a ocorrência de chuvas, especialmente na primeira metade do mês. A partir da segunda que quinzena de novembro de 2019, as chuvas escassearam e o registro das precipitações ocorridas ficou abaixo do padrão climatológico regional até o final do ano. Paralelamente, diminuíram as ATSM positivas no Oceano Atlântico Subtropical, atingindo uma condição de quase neutralidade no mês de dezembro de 2019. Em janeiro de 2020, as chuvas, com exceção da metade Sul do Rio Grande do Sul, ficaram acima do padrão climatológico normal. Por sua vez, em fevereiro de 2020,

o resfriamento do Oceano Atlântico Subtropical, junto à costa da Região Sul, com registro de ATSM negativas, pode ter contribuído para o aumento da deficiência hídrica em grande parte do Estado. Assim, restou configurada, pela análise do INMET, que, efetivamente, a condição climática ocorrida, na safra de verão 2019/20, determinou, especialmente por deficiência hídrica, perdas de rendimento nos cultivos de verão, em graus variáveis, ainda que a sua ocorrência tenha sido generalizada, dependendo de especificidades locais e da coincidência com os períodos críticos dos cultivos afetados. No tocante ao levantamento de perdas na agricultura gaúcha, o Informativo Conjuntural da Emater/RS (n.º 1598, de 19 de março de 2020), destaca que há perdas e prejuízos contabilizados em todas as regiões do Estado (com pedido de perícias de Proagro e Seguro Rural). No caso da soja, nosso cultivo de verão mais importante economicamente, a exemplo do acontecido em eventos passados de estiagens, as perdas são variáveis e com tendência de acentuação diante da persistência da falta de chuvas. A Emater/RS, dependendo da região, diagnosticou lavouras de soja com rendimento de grãos acima de 4.000 kg/ha e outras abaixo de 1.000 kg/ ha. O padrão das lavouras, com plantas apresentando retenção de folhas secas e hastes verdes, queda de vagens, grãos de tamanho reduzido, enrugados e com tegumento esverdeado, antecipação de maturação e morte de plantas, são indicativos dos efeitos de estresses hídricos e térmicos que vem assolando a agricultura gaúcha na safra de verão 2019/20. Nessa oleaginosa, as perdas ainda não foram contabilizadas integralmen-


te, havendo a necessidade de cautela com o manuseio de números preliminares, que no final podem se mostrar melhores ou até mesmo piores do que os até então tem sido apontados. O mais recente levantamento da RTC (Rede Técnica Cooperativa, coordenada pela CCGL), de 15 de março de 2020, indica uma perda média de 46,6% na produção de soja, abarcando uma área de três milhões de hectares, onde atuam 21 das principais cooperativas agrícolas do RS. Os reflexos da atual estiagem também foram e são perceptíveis em outros cultivos, com perdas de produtividade e produção em fumo, milho, feijão, forrageiras (com impactos na produção leiteira e de carne ), em fruteiras (a exemplo da uva, na Serra Gaúcha e Campanha), etc. O impacto dos estresses hídricos e térmicos, como os ocorridos na safra 2019/20, na produtividade dos cultivos, vai depender da sincronia dos acontecimentos com os períodos críticos ao longo do ciclo de desenvolvimento das plantas e suas respostas fisiológicas. Admite-se que, pela análise climatológica, na estação de crescimento da safra de verão 2019/20, no Rio Grande do Sul, houve pelo menos dois períodos, marcados por restrições hídricas e temperaturas elevadas, com potencialidade de impactar negativamente o desempenho produtivo dos cultivos. Depois de um inverno e começo de primavera relativamente secos, as chuvas de outubro de 2019 restabeleceram os níveis de umidade nos solos. Todavia, entre novembro e dezembro de 2019, as chuvas ficaram abaixo do padrão climatológico regional, acentuando, paralelamente à elevação da densidade de fluxo de radiação solar e da temperatura do ar, o problema de déficit hídrico para as plantas. Em janeiro de 2020, houve o retorno de chuvas regulares, que atenuaram os impactos dos meses anteriores, porém, a partir de fevereiro de 2020 os eventos de precipitação ficaram escassos e os problemas climáticos na agricultura gaúcha começaram a se evidenciar. Resume-se, então, que, na atual safra, os principais problemas climáticos, foram decorrentes do acontecido entre novembro e dezembro de

2019 e após fevereiro de 2020. No caso do rebaixamento do nível de armazenamento da água disponível no solo para os cultivos, a partir de novembro e com a sua acentuação na segunda metade de dezembro de 2019, infere-se a possiblidade de danos no milho, que, dependendo de quando foi semeado, o período dos 10 dias mais críticos para esse cereal ao redor do pendoamento-espigamento (3 dias antes do pendoamento até 7 depois) tenha coincidido especialmente no mês de dezembro de 2019. Também, no caso da soja, para cultivares de grupos de maturidade relativa baixo, semeadas no final de setembro ou começo de outubro, problemas de deficiência hídrica na fase critica de enchimento de grãos (pós-floração em dezembro) pode ter causado comprometimento no rendimento das lavouras. Além de que, em soja, o estabelecimento das lavoras semeadas no final de novembro e começo de dezembro foi dificultado, pelos baixos níveis de umidade no solo, reduzindo o crescimento das plantas e o fechamento do dossel nas lavouras. Na sequência, a restrição hídrica a partir de fevereiro e que se estendeu durante o mês de março de 2020, baixando acentuadamente o nível de água disponível para as plantas no solo, indubitavelmente, afetou o potencial de rendimento e a produtividade da maioria das lavouras de soja no Estado, cuja floração e enchimento de grãos acontecem nesse período do ano. Além de que, especialmente a partir de março, acentuou-se o comprometimento da produção e da qualidade dos pastos que são a base da alimentação dos rebanhos da pecuária leiteira e de corte. Frise-se que, duas peculiaridades climáticas, verificadas nos dois períodos mencionados (novembro a dezembro de 2019 e após fevereiro de 2020), foram determinantes nos impactos sobre a produção agrícola do Estado na atual safra. São ela: rebaixamento do nível de água no solo para valores inferiores a 70% da Capacidade de Armazenamento de Água Disponível (CAD), quando, em tese, começa a perda de produtividade potencial das

plantas cultivadas, que se acentua com a redução desses valores. Isso aconteceu em dezembro de 2019 e a partir de fevereiro de 2020. Também, nos períodos especificados, verificou-se, simultaneamente, a ocorrência de valores elevados de densidade de fluxo de radiação solar, com umidade relativa do ar baixa, e temperaturas elevadas (em muitos locais beirando os 40 ºC durante o dia e mantendo-se elevadas durante as noites), ampliando a demanda evaporativa da atmosfera, intensificando o rebaixamento da água no solo, e , ao mesmo tempo, ampliando as perdas de fotoassimilados pela respiração das plantas, especialmente no período noturno. Por fim, cabe destacar que estiagens, durante o verão são fenômenos recorrentes no Sul do Brasil, tendo sido, com a atual, contabilizados 14 eventos nos últimos 50 anos (19702020). Assim, reputamos como fundamental, para mitigar perdas causadas por estiagens na agricultura gaúcha, a tomada das seguintes providências: 1 – Construir a capacidade de resiliência dos sistemas de produção agrícola suportar períodos de deficiência hídrica, melhorando a qualidade dos solos cultivados por meio da adoção de práticas de agricultura conservacionista, que envolve observar os preceitos básicos do Sistema Plantio Direto. Além do mero não revolvimento do solo, também adotar esquemas de rotação de culturas, elevar os níveis de matéria orgânica no solo, remover camadas de impedimento (físicas e químicas) para o aprofundamento das raízes e sistematizar as lavouras para impedir o escoamento superficial das águas das chuvas. Isso exige planejamento de médio e longo prazos; e 2 – Aderir, sempre, aos instrumentos de securidade rural, seja na modalidade de garantia oficial (Proagro) do Governo Federal ou de Seguro Rural privado, que geralmente conta com alguma subvenção governamental. Agricultura, indiscutivelmente, é uma atividade de risco e o produtor rural tem que considerar incluir o custo do seguro rural na sua lista de insumos de Fonte: Embrapa Trigo produção. REVISTA 100% CAIPIRA |33


Os verdadeiros guardiões das culturas sertanejas

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A agricultura estรก f ANร LISE DE MERCADO

Serenidade, diรกlogo e cooperaรง

sociedade

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fazendo a sua parte

ção entre todos os setores da

e brasileira Isso é o que o País precisa nesse período em que o mundo enfrenta a pandemia do novo Coronavírus. É uma pena que essa orientação ainda não impregna plenamente os três Poderes da República na busca de convergência de ações e decisões no combate ao mal que nos aflige. De outra parte, algumas autoridades e especialistas (uma minoria, diga-se de passagem) deveriam parar de emitir opiniões e avaliações na contramão do que orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS), questionando os efeitos de orientações que o mundo todo segue. Esses são alguns dos aspectos que, nesse momento particularmente preocupante da vida nacional, desnecessariamente geram intranquilidade aos brasileiros. É consenso que, quando essa pandemia estiver superada e a perda de vidas humanas cessarem, as suas consequências serão terríveis no plano econômico. Milhares de empresas fecharão, milhões de empregos estarão ceifados, muitos pequenos negócios estarão inviabilizados. Provavelmente a sociedade brasileira não será mais a mesma. Então, será necessária uma hercúlea união nacional para a reconstrução. Nesse quadro perturbador é justo destacar o importantíssimo papel da agricultura brasileira: ela trabalha para que não faltem alimentos na mesa dos brasileiros, evitando que um quadro que se apresenta potencialmente caótico não se torne desesperador. Através da Confederação da Agri-

cultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) – e de forma articulada com as demais federações e confederações patronais e de trabalhadores – buscamos medidas junto a todas as esferas da Administração Pública para que todas as atividades ligadas à produção e à distribuição de alimentos jamais paralisem. A prioridade é combater os efeitos causados pelo Coronavírus para ajudar o produtor rural a continuar produzindo e garantir o abastecimento de alimentos à população brasileira durante a quarentena. Articulações junto ao Governo permitiram garantir a eficiência logística, assegurando a continuidade do fluxo da produção de alimentos, bem como da sua cadeia de suprimentos. Nessa mesma linha, para reduzir os impactos na comercialização dos produtos agropecuários, a Medida Provisória 926 e o Decreto 10.282 definiram a alimentação como atividade essencial durante a quarentena. Era necessário um normativo legal para determinar que a alimentação fosse uma prioridade, impedindo que todo o processo produtivo fosse interrompido. Assim, na longa cadeia de geração de alimentos, produtores, agroindústrias, fornecedores de insumos e transportadoras continuaram em pleno funcionamento. Em razão de sua complexidade, muitas foram as reivindicações para assegurar a normalidade e a viabilidade da agricultura, entre elas, aquelas relaciona-

das ao crédito rural e à tributação, prorrogação automática de todos os tipos de financiamento, principalmente custeio e investimento. Outro ponto foi a suspensão de qualquer tipo de procedimento em que o produtor precise ir ao cartório ou agência bancária. Para ampliar o fornecimento de comida à população carente defendemos medidas de apoio à comercialização de alimentos por meio de programas públicos de aquisição direto dos produtores rurais, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Nesse aspecto, foi fundamental a aprovação do Projeto de Lei 786/2020, que prevê a distribuição de alimentos da merenda escolar às famílias de estudantes da rede pública, que tiveram as aulas suspensas. A proposta é fundamental nesse momento de crise, pois beneficia os produtores que precisam continuar vendendo os produtos e as famílias que precisam de alimentos de qualidade. As entidades de representação e defesa do agro estão dialogando de modo responsável e produtivo com os Ministérios da Agricultura, da Infraestrutura e da Fazenda e com o Governo do Estado, subordinando os interesses setoriais e classistas aos superiores interesses da coletividade. A agricultura está fazendo a sua parte. José Zeferino Pedrozo - Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

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Coronavírus pode afetar

FRUTICULTURA

as exportações de frutas? Caso este cenário se mantenha, as exportações brasileiras de frutas poderiam Com o avanço do novo coronavírus pelo mundo, as preocupações quanto aos impactos na economia global se elevam por parte de investidores e dos governos, principalmente devido à possibilidade de uma recessão. Embora os reflexos ainda sejam indefinidos, várias instituições têm reduzido as perspectivas de crescimento mundial. Na China, onde a doença se originou, os efeitos são ainda mais intensos: a interrupção das atividades industriais, comerciais e de serviços, devido ao período de quarentena, afeta não só a atividade econômica, mas também o consumo. Caso este cenário se mantenha, as exportações brasileiras de frutas poderiam ser afetadas? Isoladamente, a China não se caracteriza como grande compradora das frutas brasileiras no mercado internacional. No entanto, há de se considerar que países concorrentes nos envios de frutas ao país asiático podem ter seus embarques limitados. A solução? Destinar as exportações a outros demandantes, os quais podem ser concorrentes diretos do Brasil. As exportações peruanas de manga à China, por exemplo, estão paralisadas. Segundo notícia do portal Fresh Plaza, este cenário preocupa produtores locais, já que, em 2019, cerca de 10 mil toneladas da fruta foram enviadas 38 | REVISTA 100% CAIPIRA

ser afetadas? a este destino. A solução, enquanto os embarques não são normalizados, está em intensificar a exportação para outras localidades, especialmente para países da Europa – principal destino das exportações de frutas brasileiras. Na Itália, país mais atingido pelo vírus em toda a Europa, as atividades também estão paralisadas. Segundo a Reuters, produtores temem, além da falta de comercialização durante o período de quarentena, que o comércio de produtos locais seja prejudicado pelo medo da contaminação. O maior impacto à fruticultura exportadora do Brasil, portanto, seria uma possível redução da demanda europeia, diante da paralisação e/ou redução da comercialização no bloco e da maior concorrência entre os países. Para muitas frutas, este impacto ainda é incerto, já que o período de maiores exportações nacionais é o segundo semestre – como é o caso da uva, melão, melancia e da manga. Contudo, colaboradores do Hortifruti/Cepea já têm relatado certa redução da demanda internacional por manga e lima ácida tahiti (sendo que, para a segunda, o principal período de envio é justamente o primeiro semestre). Este também é o caso da maçã, cujos impactos podem ser maiores, já que o primeiro semestre é o principal período

de comercialização. Neste ano, especificamente, a elevada oferta de frutas miúdas (preferidas nos principais destinos da maçã brasileira) trazia boas expectativas quanto aos envios em 2020. Vale lembrar que, além das questões comerciais, outro fator que pode impactar nas exportações de frutas do primeiro semestre é a chuva mais frequente nas principais regiões produtoras do Brasil, em especial no semiárido – responsável pela maior parte dos envios brasileiros. Recentemente, as chuvas já afetaram a qualidade de melões, melancias, mangas e uvas, o que também impactou os embarques internacionais. CUSTOS X PREÇOS – Outro efeito de médio prazo decorrente da pandemia seria o aumento dos preços das frutas. Para o caso de insumos que são importados da China, por exemplo, a paralisação das atividades, caso se prolongue, pode impactar os fluxos comerciais entre praticamente todos os países. Isso, atrelado à expressiva alta do dólar, podem resultar em aumento dos custos de produção e, consequentemente, dos preços das frutas. Contudo, há de se considerar que os eventos climáticos adversos têm sido frequentes no País e podem afetar a oferta de HF’s ao longo ano, sustentando os preços no mercado. Fonte: Cepea


MEIO AMBIENTE

Consórcio Cerrado das Águas relembra a importância da preservação das bacias hidrográficas em Minas Gerais Projeto piloto em Patrocínio (MG) liderado por produtores traz segurança hídrica para 100 mil habitantes no maior município produtor de café do Brasil

Em 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU), declarou o dia 22 de março como data oficial para comemoração do Dia Mundial da Água, como reconhecimento ao patrimônio vital da humanidade. A data, por sua vez, vai além do homenagem à este recurso ambiental e deve resgatar atitudes que precisam ser tomadas durante todos os dias do ano. Apesar do arcabouço legal, técnico e social que amparam o uso da água em todos os países, o processo de educação sobre o uso d’água nos diversos setores da economia ainda é incipiente. O setor mais próximo deste recurso é, sem dúvida, o agropecuário. Os impactos negativos de um manejo inadequado ou de ações imprudentes nas nascentes dos rios, mananciais, lagos e córregos podem ser percebidos em um curto espaço de tempo. Na região do Cerrado Minei-

ro, por exemplo, foi declarado estado de escassez hídrica por sete vezes nos últimos dez anos. A gestão eficiente dos recursos hídricos na região de Minas Gerais é uma das frentes que motivou a criação do Consórcio Cerrado das Águas, organização pioneira especializada no desenvolvimento de soluções customizadas para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas em bacias hidrográficas. A área de atuação do Consórcio cobre o Cerrado Mineiro como um todo, mas a bacia do Córrego Feio em Patrocínio (MG), foi eleita como piloto para o seu Programa de Investimento no Produtor Consciente, em função de ser a única fonte de água dos 100 mil habitantes do município e dos mais de 4.600 hectares de lavoura de café. Até a chegada do time do Consórcio, Patrocínio não tinha estações

para o monitoramento da vazão do córrego ou do volume utilizado pelos seus diversos públicos. O Programa de Investimento no Produtor Consciente instalou estações de monitoramento de quantidade e qualidade da água e promoveu a capacitação e assistência técnica aos produtores da bacia sobre as melhores práticas de gestão do solo. Além disso, um time de especialistas desenvolveu e implementou Projetos Individuais de Propriedade com cada um dos produtores para a restauração orgânica de vegetação nativa que irá aumentar a infiltração da água no solo, proteger as nascentes e evitar o assoreamento dos rios. De acordo com Fabiane Sebaio, Secretária Executiva do Consórcio Cerrado das Águas, o envolvimento dos produtores foi fundamental para o sucesso da implementação: “Os produtores entendem a importância da água e colaboraram com tempo e recursos para que o Programa alcançasse quase 50% da área adjacente à bacia. Atuamos com o diagnóstico, investimento e todo o apoio necessário aos produtores para que eles possam ter impactos ambientais e socioeconômicos positivos. O Consórcio dispõe das melhores tecnologias e trabalha para colaborar de forma efetiva com o Departamento de Água e Esgoto de Patrocínio (DAEPA) e para promover uma agricultura responsável. Apenas com informação e melhores práticas podemos oferecer segurança climática na bacia”, explica. Fonte: SMARTPR REVISTA 100% CAIPIRA | 39


FLORICULTURA

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GESTÃO

Comprovação da vacina contra aftosa pode ser feita até 30 de abril e por e-mail O prazo para a apresentação de notas ficais de compra de vacinas contra a febre aftosa às Inspetorias de Defesa Agropecuária ou Escritórios de Defesa Agropecuária foi prorrogado até 30 de abril Fonte: Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do RS

Conforme instrução normativa da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a comprovação deve ser feito preferencialmente por meio eletrônico. A medida faz parte dos esforços do Estado para deter a propagação do novo coronavírus no Rio Grande do Sul. Além de comprovar a vacinação por e-mail, é possível solicitar G u i a s d e Tr â n s i t o A n i m a l ( G TA s ) p e l o m e s m o c a n a l d e comunicação. Para isso, o produtor deve enviar à IDA em que está ca42 | REVISTA 100% CAIPIRA

dastrado a cópia da nota fiscal de compra da vacina contra febre aftosa e a declaração da quantidade de bovídeos vacinados, por categoria e data da aplicação da vacina. Com estes dois documentos, as IDAs p o derão pro ceder à homologação da vacina do p r o d u t o r, r e g i s t r a n d o o s d a dos na planilha de homologação e no Sistema de Defesa Agrop ecuária (SDA). O atendimento por e-mail também será possível para e m i s s ã o d e G u i a s d e Tr â n s i t o Animal, desde que o solicitante não tenha impedimen-

tos sanitários ou judiciais. O produtor enviará por e-mail, para qualquer IDA, cópia d a N o t a F i s c a l d e P r o d u t o r, devidamente preenchida. A G TA s e r á e m i t i d a e r e s p o n dida no mesmo e-mail. “Essas medidas vão facilitar a vida do pecuarista para comprovar a vacinação contra a aftosa e na emissão de G TA , g a r a n t i n d o a p r e s t a ç ã o de serviços da Secretaria da Agricultura e seguindo recomendações para prevenir o c o n t á g i o p e l o c o r o n a v í r u s ”, explica o secretário Covatti Filho.


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LOGÍSTICA E TRANSPORTE

Logística no Agro: frota própria ou terceirização? Uma reflexão que é preciso fazer A competitividade do transporte de cargas é um dos temas mais estratégicos do agronegócio Mu d a n ç a s re c e nt e s n a l e g i s lação e na tecnologia trazem n ov a s op or t u n i d a d e s e p e r g u n t a s p a r a o s e t or : e nt re e l a s , q u a l m o d e l o m a i s a d e qu a d o p a r a o m e u n e g ó c i o, a t e rc e i r i z a ç ã o ou a f rot a própr i a ? Pa r a u m a c on c lu s ã o, é pre c i s o a n a l i s a r a l o g í s t i c a n o s e t or a g ro br a s i l e i ro. O t r a n s p or t e d e c a r g a s e m n o s so país ainda é uma dificuldad e , pr i n c ip a l m e nt e qu a n d o f a l a m o s d e a g ron e g ó c i o, e m qu e s ã o t r a n s p or t a d o s pro dut o s p e re c í v e i s e mu it a s v e z e s d e l i c a d o s . O B r a s i l p o s s u i u m a m at r i z d e t r a n s p or t e i n a d e q u a d a qu a n d o c omp a r a d a a out ro s p a í s e s c on t i n e nt a i s . D e a c ord o c om d a d o s d o M i n i s t é r i o d o s Tr a n s p or t e s ( 2 0 1 5 ) , a s ro d ov i a s s ã o re s p on s áv e i s p or 5 8 % d o t r a n s p or t e d e c a r g a , e n qu a nt o a s f e r rov i a s f i c a m c om 2 5 % e a s h i d rov i a s c om 1 7 % . A c omp e t it i v i d a d e d o 44| REVISTA 100% CAIPIRA

a g ron e g ó c i o é a lt a m e nt e i mp a c tada pela dependência do modal v i á r i o a l i a d o à pre c a r i e d a d e d a s e s t r a d a s n o p a í s , qu e c o l a b or a p a r a o au m e nt o d e p e rd a s e c u s t o s d e m a nut e n ç ã o. O c u s t o d o s t r a n s p or t e s é p a r t i c u l a r m e nt e re l e v a nt e p a r a o s re s u lt a d o s n o s s e t ore s d o a g ron e g ó c i o e f l ore s t a l , e x i g i n d o at e n ç ã o d o s pro dut ore s . O c a r át e r s a z on a l d a pro du ç ã o c o loca desafios especiais à logístic a d o a g ro : o c i o s i d a d e d a f rot a própr i a n a e nt re s s a f r a x au m e n t o d o s c u s t o s d e f re t e s n a é p o c a d a c o l h e it a . Pou c o s pro dut ore s a d ot a m o m o d e l o d e f rot a 1 0 0 % própr i a e a t e rc e i r i z a ç ã o é o m o d e l o m a i s ut i l i z a d o n a s e mpre s a s a g ro n o p a í s . C ontu d o, re c e nt e m e nt e o u s o d e t r a n s p or t a d or a s e d e aut ôn o m o s f oi c o l o c a d o e m x e qu e p e l a s e mpre s a s a g ro p or u m a s é r i e d e

f at ore s , d e nt re o s qu a i s p o d e m o s c it a r : a g re v e d o s c a m i n h o n e i ro s e m 2 0 1 8 , o t a b e l a m e nt o d o s f re t e s , a s pre s s õ e s d o s m o t or i s t a s aut ôn om o s , o c u s t o d o s c ombu s t í v e i s e a s i n c e r t e z a s s o bre a s p o l ít i c a s pú b l i c a s . Te n d o e m v i s t a e s t a a lt e r a ç ã o d e c e n á r i o, a l g u m a s e mpre s a s e s t ã o re a g i n d o, s e j a bu s c a n d o n ov o s m o d a i s d e e s c o a m e nt o d a pro du ç ã o ou au m e nt a n d o s u a s f rot a s própr i a s . O ut r a s a g u a rd a m a d e c i s ã o f i n a l d o ST F s o bre a t a b e l a d e f re t e s p a r a d e c i d i re m s e u m o d e l o d e t r a n s p or t e . Ao c r i a r a t a b e l a d e f re t e s , e m m a i o d e 2 0 1 8 , o g ov e r n o at e n d e u a u m a d a s pr i n c ip a i s re i v i n d i c a ç õ e s d a c at e g or i a d o s c a m i n h on e i ro s , m a s i nt ro du z iu i n e f i c i ê n c i a s e i n c e r t e z a s a o t r a n s p or t e ro d ov i á r i o br a s i l e i ro. Ap ó s u m a n o e m e i o d e v i g ê n c i a , e l a c or re o r i s c o d e n ã o


Fonte: Fonte Comunicação

agradar a ninguém, nem mesmo à c at e g or i a qu e a re i v i n d i c av a . S e g u n d o e s t u d o d a Un i v e r s i d a d e Fe d e r a l d o R i o G r a n d e , a re c e it a d o s c a m i n h on e i ro s aut ô n om o s re c u ou 2 0 % p or c ont a d o t a b e l a m e nt o. A l é m d o d e s c ont e nt a m e nt o d o s c a m i n h on e i ro s , a m a nut e n ção da tabela poderá levar a uma on d a d e pr i m a r i z a ç ã o d o t r a n s p or t e n o a g ro. E e s s e s e r á a i n d a u m c e n á r i o d e s c on h e c i d o p a r a mu it o s pro dut ore s . S e r á n e c e s s á r i o av a l i a r – e mu it o b e m – o s c u s t o s qu e i s s o p o d e r á i mp l i c a r n a p ont a f i n a l d a c a d e i a . O ut ro f at or d e i mp a c t o n a l o g í s t i c a p a r a o a g ro é a t e c n o l o g i a . Te c n o l o g i a s d i g it a i s p o d e m of e re c e r p a r t e d a s o lu ç ã o p a r a a re l a ç ã o c omp l e x a e nt re e m b a rc a d ore s e t r a n s p or t a d ore s e o bt e re m o s u c e s s o qu e o t a b e l a m e nt o n ã o c on s e g u iu . E mpre s a s

s t a r tup s v ê m l a n ç a n d o m a r k e tp l a c e s p a r a a i nt e r m e d i a ç ã o d e c a r g a s e d i s put a m a p o s i ç ã o d e “ U b e r d o s c a m i n h õ e s”, prom e t e n d o ot i m i z a r a c ont r at a ç ã o d e f re t e s . E s s a j á é u m a re a l i d a d e e m p a í s e s c om o o s E s t a d o s Un i d o s e qu e j á c h e g ou a o B r a s i l . Vá r i a s s ã o o s b e n e f í c i o s apre s e nt a d o s p e l o s m a r k e tp l a c e s : é p o s s í v e l av a l i a r t a nt o e mb a rc a d ore s qu a nt o aut ôn om o s c om o n o s ap l i c at i v o s d e c a ron a , a e s c o l h a d o t r a n s p or t a d or é f e it a p or a l g or it m o s qu e l e v a m e m c on s i d e r a ç ã o o t ip o d e c a r g a , a d e q u a ç ã o d o e qu ip a m e nt o e p e r f i l ; h á a pre c i f i c a ç ã o d i n â m i c a , e qu i l i br a n d o of e r t a e d e m a n d a ; p e r m it e a re du ç ã o d a o c i o s i d a d e d o t r a n s p or t e e a re du n d â n c i a d e at i v o s , e nt re ou t ro s . A l é m d i s s o, a s s i m c om o n o c a s o d o t r a n s p or t e d e p a s s a g e i ro, h á r api d e z n a c ont r at a ç ã o,

p o s s i bi l i d a d e d o r a s t re a m e nt o d a c a r g a e a d i m i nu i ç ã o d a bu ro c r a c i a . A d e f i n i ç ã o, a i mp l e m e nt a ç ã o e a op e r a ç ã o c or re t a s d o m o d e l o d e t r a n s p or t e d e c a r g a s p o d e m ser decisivas para o sucesso do seu negócio e não existem solu ç õ e s “d e pr at e l e i r a”. É pre c i s o qu e o pro dut or e s t e j a at e nt o e c o l o qu e n a b a l a n ç a c u s t o s e b e n e f í c i o s d e s e opt a r p e l a f rot a própr i a ou t e rc e i r i z a d a . E o e s s e n c i a l é t e r e m m e nt e qu e o qu e ser ve para um não é necessariam e nt e o m a i s apropr i a d o p a r a o out ro. Robinson Cannaval Jr – Sócio fundador e diretor do Grupo Innovatech, Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em Engenharia Florestal pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica de Negócios pela Unicamp e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV. REVISTA 100% CAIPIRA | 45


CAPACITAÇÃO

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RECEITAS CAIPIRAS

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KIBE FRITO INGREDIENTES

1 xícara e ½ de chá de trigo para quibe 500 g de carne moída 3 xícaras de chá de água (para deixar de molho o trigo) ½ xícara de cebola bem picadadinha ½ colher de sopa de hortelã picada Sal e pimenta a gosto PREPARO

Lave bem o trigo e deixe de molho por uns 30 minutos. Escorra e esprema em um pano limpo. Coloque em uma vasilha e misture os outros ingredientes. Com uma colher de sopa tire as porções e vá formando os bolinhos de kibe do tamanho que você desejar. Colocar uns 3 cm de óleo numa panela. Quando estiver bem quente, frite os kibes aos poucos até dourarem bem. REVISTA 100% CAIPIRA | 49


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