www.revista100porcentocaipira.com.br Brasil, fevereiro de 2020 - Ano 8 - Nº 80 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Cientistas desvendam mecanismo de percepção do frio na macieira
Macieira precisa de frio para superar dormência e iniciar a brotação REVISTA 100% CAIPIRA |
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Foto capa: Ana Beatriz Costa Czermainski
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Nutrição animal: Milho moído pode alimentar melhor os porcos
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Café:
Brasil exporta 40,6 milhões de sacas de café em 2019 e bate recorde histórico
Governo:
Pequenos produtores recebem orientação para tornar terras pouco produtivas em negócios
Agricultura familiar: Pró-Genética ajuda a melhorar rebanho bovino do Vale do Jequitinhonha
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Artigo:
Cientistas desvendam mecanismo de percepção do frio na macieira
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Gestão:
Como a digitalização da cadeia de fornecimento reduzirá o desperdício
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Meio ambiente:
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Transgênicos: Não tem motivo para temer transgênicos, diz professora
Mato Grosso recebe R$ 36 milhões e terá mais R$ 54 milhões
Certificação:
A Coamo faz bem pra você: selo completa dois anos
Receitas Caipiras: Sidra de maçã caseira REVISTA 100% CAIPIRA |
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NUTRIÇÃO ANIMAL
Milho moído pode alimentar melhor os porcos
Brasil,fevereiro de 2020 Ano 8 - Nº 80 Distribuição Gratuita
EXPEDIENTE
Revista 100% AGRO CAIPIRA www.revista100porcentocaipira.com.br
As papilas gustativas podem absorver mais nutrientes Os resultados de uma nova pesquisa na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, indicam que os produtores podem reduzir os custos de alimentação se o milho amarelo, um alimento básico da dieta suína nos Estados Unidos, for moído para um tamanho menor e mais fino. O menor tamanho de partícula permite que os porcos obtenham mais energia do milho, o que significa que os produtores podem reduzir a quantidade de gordura adicionada às dietas. Hans H. Stein, professor de ciências animais da Universidade, e seu laboratório conduziram um experimento para determinar se o desempenho do crescimento e as características da carcaça diferiam entre porcos alimentados com dietas com a mesma quantidade de energia, mas mles continham milho moído em diferentes níveis. As recomendações atuais da indústria exigem que o milho fornecido aos porcos seja moído com um tamanho de partícula de cerca de 650 mícrons. 6 | REVISTA 100% CAIPIRA
“Quando o milho é moído para partículas menores, os porcos podem obter mais energia porque o aumento da área superficial significa que as enzimas digestivas têm mais acesso aos nutrientes do milho, resultando em uma maior digestibilidade do amido” disse Stein. “Portanto, você pode reduzir a quantidade de gordura adicionada às dietas sem perda de energia metabolizável se usar milho moído mais fino. Neste estudo, testamos a hipótese de que a gordura adicionada pode ser removida de dietas que contêm milho moído finamente, sem afetar o desempenho do crescimento e as características de alojamento dos porcos”, completa. Os pesquisadores alimentaram dietas de porcos em crescimento e finais contendo milho moído até 865, 677, 485 e 339 mícrons. As dietas foram formuladas para conter a mesma quantidade de energia metabolizável, variando a quantidade de gordura adicionada. Fonte: Agrolink
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AQUICULTURA E PESCA
Mato Grosso do Sul se consolida como maior exportador de Fonte: Semagro-MS
tilápia do Brasil
Em 2019 foram 901 toneladas enviadas ao mercado externo, o que representa 85,6% do total exportado no país, segundo dados do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços). Os números compilados pela Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) mostram que o volume em toneladas exportadas subiu 32% no ano passando. Além disso, Mato Grosso do Sul aumentou em 26% o faturamento com a venda do peixe ao mercado externo, na comparação de 2019 com 2018. O faturamento brasileiro com as exportações de carne de peixe somou U$ 5,6 milhões em 2019, sendo o Mato Grosso do Sul responsável por 94,3% do total. Para se ter ideia da força da piscicultura no Estado, o segundo no ranking é o Paraná com
Pelo segundo ano consecutivo, Mato Grosso do Sul foi o primeiro no ranking dos estados que exportam carne de peixe para outros países
apenas 2,7% do faturamento anual do país, mesmo tendo aumentado consideravelmente sua participação no mercado de peixes em 2019. Os números são referentes a tilápia, a principal espécie produzida no Brasil e o forte desempenho de Mato Grosso do Sul se deve à política de atração de investimentos implantada pela atual gestão estadual, com o investimento das industrias Geneseas e Tilabrás em empreendimentos na Costa Leste. Instalada em Aparecida do Taboado, a Geneseas tem 90% da produção destinada ao mercado externo. Em 2019 atingiu a marca de 5.100 toneladas de filé de tilápia produzidos e inaugura a duplicação da unidade nos próximos meses, podendo chegar a abater 100 mil unidades por dia. A indústria da Tilabrás, em Selvíria se encontra em fase de obras.
Recentemente o frigorífico de peixes Mar e Terra, em Itaporã, foi vendido ao grupo Paturi Piscicultura Agroindustrial, com planos de expansão da unidade. Em novembro a Semagro entregou um certificado de adesão ao SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) para a Samak pescados, que pretende elevar a produção para 7 mil quilos/dia em Angélica. Titular da Semagro, o secretário Jaime Verruck destaca que o Mato Grosso do Sul que estes são frutos da política de desenvolvimento pautada na atração de empresas. “Nos últimos anos investimos no aumento da piscicultura por acreditar na importância de diversificar a economia e temos bons resultados, como este, que demonstram um setor estruturado, forte e com potencial para continuar crescendo”, afirma. REVISTA 100% CAIPIRA |
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Cientistas desvenda percepção do fr ARTIGO
Macieira precisa de frio para super 8 | REVISTA 100% CAIPIRA
am mecanismo de rio na macieira
rar dormência e iniciar a brotação Fonte: Viviane Maria Zanella Bello Fialho REVISTA 100% CAIPIRA |
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Descoberta de pesquisador e s d a E m b r ap a Uv a e Vi n h o (RS) abre caminho para o desenvolvimento de macieiras que precisam de menos dias d e f r i o p a r a p r o d u z i r. E l e s descobriram o mecanismo de ação do gene ICE1 no processo de indução e superação da dormência da planta, etapa fundamental para garantir a produção dos frutos. De acordo com a hipótese dos cientistas, esse gene funciona como um gatilho térmico que, ao s er estimulado p elo f rio, dispara uma cascata de respostas como a indução da dormência, processo fundamental para plantas originalmente de clima temperado florescerem e produzirem frutos. “Esse processo é tão importante que instituições de pesquisa do mundo inteiro investem recursos em estudos p a r a t e n t a r e n t e n d ê - l o”, f r i sa o pesquisador da Embrapa Luís Fernando Revers, responsável pela equipe que fez a descoberta. Ele explica que o controle genético da dormência em Rosaceae, família botânica à qual pertence a maçã, é um processo complexo e a identificação dos genes controladores é um grande desaf io. “Po demos us ar ess e conhecimento para desenvolver novas cultivares com menor exigência de frio e continuar a produzir a fruta mesmo com o aquecimento percebido nos ú l t i m o s a n o s ”, e s c l a r e c e . Depois de identificar o gene responsável ICE1, a e q u i p e d a E m b r ap a Uv a e Vi nho criou uma um modelo hipotético explicando como ocorre o processo de indução e superação da dormência, etapa fundamental para garantir a produção dos frutos . A ideia do projeto foi selecionar e estudar ao longo de sete anos duas populações segregantes de maçãs do Programa 10 | REVISTA 100% CAIPIRA
de Melhoramento Genético da Epagri, com diferentes perío dos de brotação e f loração, sendo mais tardias ou precoces. Ness e p erío do, a p es quisa foi conduzida em duas etapas: genotipagem e fenotipagem. A etapa da genotipagem permitiu a montagem do mapa genét ico. Poster ior mente, a integração dos dados de fenotipagem com o mapa genético levou à identificação dos locus associado ao período de brotação e o gene ICE1. Aut or i a d o ar t i go O artigo Spring Is Coming: Genetic Analyses of the Bud Break Date Locus Reveal Candidate Genes From the Cold Percept ion Pat hway to D orm an c y R e l e a s e i n App l e ( Ma lus × domestica Borkh.) teve c o m o a u t o r e s : Yo h a n n a E v e l y n M i o t t o , C a r o l i n a Te s s e l e , A n a Beatriz Costa Czermainski, D i o g o D e n a r d i P o r t o , Ví t o r da Silveira Falavigna, Tiago S a r t o r, A m a n d a M a l v e s s i C a t tani, Carla Andrea Delatorre, S é r g i o A m o r i m d e A l e n c a r, Orzeni l B onf im da Si lva-Jun i o r, R o b e r t o C o i t i To g a w a , Marcos Mota do Carmo C osta, G e o r g i o s J o a n n i s P a p p a s J r. , Priscila Gr ynberg, Paulo Ricardo Dias de Oliveira, Marc u s V i n í c i u s Kv i t s c h a l , F r e d e r i c o D e n a r d i , Va n e s s a B u f f o n e Luís Fernando Revers. O cruzamento dos resultados permitiu a elaboração da hipótese do modelo de brotação divulgado em um artigo cientifico intitulado A primavera está chegando: análises genéticas do locus da data de brotação revelam genes de percepção do frio e de superação da dormência em macieira (Malus X domestica B orkh.) (Spring Is Coming: Genetic Analyses of the Bud Break Date Locus Reveal Candidate Genes From the Cold Percept ion Pat hway to D orm an c y R e l e a s e i n App l e ( Ma -
l u s X d o m e s t i c a B o r k h . ) ”, p u blicado na revista Frontiers in Plant Science. O cientista da Embrapa conta que a geração de cultivares adaptadas a cenários com menor disponibilidade de frio demanda avanços no conhecimento básico dos mecanismos biológicos de controle da d o r m ê n c i a d a s g e m a s . “A p e s a r de se saber a respeito da ação de alguns fatores sobre o controle da dormência, ainda não se dispõe do conhecimento de como eles se inter-relacionam e o que pode ser classificado c o m o c a u s a o u c o n s e q u ê n c i a”, pontua o pesquisador Marcus V i n í c i u s Kv i s t c h a l , q u e c o o r dena o programa de melhoramento genético da macieira da Empres a de Pes quis a Ag ropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), parceiro nas pesquisas da Embrap a Uv a e Vi n h o. A e q u i p e d e Kv i s t c h a l i r á t e s t a r n a p r á t i c a o uso conhecimento gerado no trabalho para o melhoramento de macieira. Pes quis ador explica o mecanismo de dormência e percepção do frio da macieira Desenvolvimento de cultivares
acelerado
O pesquisador da Epagri comenta que, caso a hipótese se confirme, a descoberta do funcionamento do ICE1 poderá acelerar o processo de desenvolvimento de uma nova c u l t i v a r e m a t é d e z a n o s . “A descoberta irá possibilitar ações de melhoramento mais precisas e rápidas por meio da seleção assistida por marc a d o r e s m o l e c u l a r e s ”, p r e v ê . O cientista explica que a partir de agora a seleção de uma nova cultivar com menor exigência de frio poderá ser feita a s s i m q u e a s e m e n t e g e r m i n a r, dispensado a sua avaliação de des envolvimento no camp o.
Evelyne Costes, pesquisadora da área de Melhoramento Genético e Adaptação de Plantas Mediterrânicas e Tr o p i c a i s ( A G A P ) d o I n s t i tut National de la Recherche Agronomique (INRA), da França, considera a parceria entre Embrapa e INRA importante para enfrentar o desafio imposto pelas mudanças climáticas. “Espera-se que a expertise complementar de cada grupo beneficie muito a parceria, implementada desde 2016 por meio de um projeto conjunto chamado Dormap, que se beneficiou do financiamento da Embrapa e da Fund a ç ã o A g r o p o l i s ”, l e m b r a . Ela conta que o trabalho é organizado em três eixos científicos principais: a geração e troca de dados genômicos; a análise funcional de genes relacionados à dormência e a exploração da variabilidade genética para apoiar o melhoramento de plantas. Entre os resultados futuros, Evelyne destaca a elaboração de um acordo permitindo a criação do “Laboratório Int e r n a c i o n a l A s s o c i a d o”, a s e r construído por meio de parceria entre as instituições, a fim de facilitar as visitas mútuas de pessoal (estudantes e pesquisadores) e a elaboração de novos projetos a serem financiados para apoiar as pesquisas. Mais de 600 horas de frio A macieira, assim como outras fruteiras de clima temp erado, é induzida ao estado de dormência pelos primeiros frios do outono e passa o inverno acumulando horas de frio para superar a dormência e retomar o crescimento na primavera. As cultivares dos grupos Gala e Fuji representam mais de 90% da produção brasileira e demandam em média de 600 a 800 horas de frio para superar a dormên-
cia e atingir uma produção sustentável. Segundo levantamentos da Área de Agrometeo r o l o g i a d a E m b r ap a Uv a e Vi nho, com bas e nos dados das Estações Meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), nos últimos cinco anos, a média das horas de frio (abaixo de 7,2ºC) da região de Bento Gonçalves (RS) ficou em 302 horas e nos Campos de Cima da Serra, em 561horas, ou seja, abaixo do considerado ideal para uma b oa pro dução. Para comp ensar a exposição ao frio abaixo do ideal, a produção sustentável da macieira no sul do Brasil depende da aplicação de agentes químicos capazes de induzir a brotação. Segundo acompanhamentos da equipe técnica é comum a ocorrência de perdas de produção atribuídas à insuficiência de acúmulo de frio durante o período de repouso hibernal e com as perspectivas das mudanças climáticas a produtividade poderá ser afetada. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), hoje, além de atender o mercado nacional, a produção brasileira é responsável pela exportação anual de cerca de US$ 52 mil hõ es em f r ut a f res ca. Por iss o, des de 2007 a equip e da Embrapa, em parcerias com universidades e institutos de pesquisa no Brasil e no exter i o r, v e m c o n c e n t r a n d o e s f o r ços na temática, a partir da execução de diversos projetos de pesquisa (veja quadro no fim do texto). A pesquisa “A e s c o l h a d a s p o p u l a ç õ e s da pesquisa foi feita a partir do trabalho desenvolvido pelo melhorista da Epagri, hoje a p o s eFonte: n t a d oABEEólica , Frederico Denar-
di. Ele já havia selecionado algumas populações híbridas que a apresentavam menos requerimento de frio dentro do estudo que vinha conduzindo d e s d e 1 9 7 2 , n a E p a g r i ”, e x p l i ca Kivtchal, que deu continuidade ao trabalho. Para essa pesquisa, foram selecionadas duas populações com base no fenótipo de requerimento de frio mediano dos genitores. Em uma das etapas do mapeamento genético foi realizado o sequenciamento parcial do genoma dos genitores para encontrar polimorfismos, ou seja, identificar diferenças. “S ó é possível montar um mapa genético se forem identificadas as características segregantes e e s s a é a p r i m e i r a e t a p a”, e x plica Revers. A etapa seguinte foi fazer o mapa genético com base em ch ip s d e DNA p ar a ge not ip a gem em larga escala (nove mil marcadores de polimorfismo único). Além do trabalho de genotipagem no lab oratório, a equipe também realizou a fenotipagem, ou seja, avaliaram no campo como essas populações se comportavam em relação ao f rio e à brotação. Essa atividade ficou sob a responsabilidade da pesquisadora da Embrapa Ana Beatriz Costa Czermainski, que ao longo de sete anos acompanhou as populações do cruzamento no camp o. As duas populações foram cultivadas respectivamente em B ento Gonçalves, na Serr a G a ú c h a , e e m Va c a r i a , n o s Campos de Cima da Serra, uma região com invernos mais rigorosos, com o objetivo de mensurar o efeito do clima de cada região no período de brotação. “Durante o exp erimento, to das as plantas foram avaliadas de duas a três vezes por semana, nos meses de julho a novembro, para monitoREVISTA 100% CAIPIRA | 11
rar o momento exato da brot a ç ã o e d a f l o r a ç ã o”, c o n t a a pesquisadora, que na sequência realizou a análise que resultou na fenotipagem. Descoberta ajudará melhoramento genético em todo o mundo Segundo Revers, depois de utilizar uma série de programas complexos que auxiliaram a fazer o mapa genético e da exploração da fenotipagem para identificação dos loci ( re g i õ e s d o DNA ) a ss o c i a d o s à brotação/f loração, o b olsista Tiago Sartor realizou uma inspeção visual detalhada no s e g me nto d e DNA d a e x t re m i dade do cromossomo 9 e identificou o gene ICE1 na porção mais significativa do locus ass o ciado à brotação. Ele conta que ao longo desse trabalho foram publicados diversos artigos sobre os avanços relacionados ao mecanismo da dormência e brotação nas macieiras e o grupo da Embrapa foi o único a identificar esse gene e a sua relação com o pro cess o. “A c h a r o g e n e I C E 1 f o i c r u cial para elaborar a hipótese de como acontece indução da dormência e a brotação após o período invernal. Agora precisamos continuar e test a r n o s s a h i p ó t e s e n a p r á t i c a”, r e v e l a o p e s q u i s a d o r, q u e i r á contar com a colaboração do INRA e da Epagri nessa nova etapa. Melhoramento genético mais rápido Kv i s t c h a l e x p l i c a q u e s e a hipótese for comprovada, o trabalho de melhoramento genético s erá mais rápido, possibilitando uma vantagem interessante. “Em vez de ter de esperar a nova seleção de macieira apresentar as carac12 | REVISTA 100% CAIPIRA
terísticas no camp o, vamos poder fazer o teste logo que a semente germinar e, por meio d a e x t r a ç ã o d o DNA , av a l i ar o gene ICE1. Se tiver a marca, a seleção segue na avaliação e caso não tenha, já será desc a r t a d a”, e x p l i c a e l e . O pesquisador pondera que a descoberta será de extrema importância para todos os programas de melhoramento no mundo, esp ecialmente para os interessados no desenvolvimento de novas cultivares mais adaptadas a regiõ es com menos f rio, como é o caso do Brasil, garantindo maior agilidade e precisão na criação de cultivares. Nos 47
anos de existência do Programa de Melhoramento Genético da Maçã da Epagri, foram lançadas19 cultivares, sendo 15 híbridas e quatro seleções de mutações espontâneas. Para Costes, do INRA, a descoberta contribuiu significativamente para o estudo do processo de dormência e controle genético em macieira. Ela considera que a equipe liderada por Revers confirmou a robustez da associação entre a data da brotação e o locus na extremidade do cromossomo 9, onde estão presentes genes como ICE1, F L C e P R E 1 . “A s d e s c o b e r t a s e a hipótese da brotação rela-
tadas no artigo abrem novas perspectivas para a comunidade científica e para aplicaç õ e s e m f r u t i c u l t u r a”, a v a l i a ela. Costes destaca que a descoberta não irá auxiliar apenas o setor produtivo no sul do Brasil, pois muitos outros locais sofrem com a redução da exp osição ao f rio, como regiões produtoras do Mar Mediterrâneo, p or exemplo. “A l g u n s d o s g e n e s q u e f o ram associados à data de brotação podem ser potencialmente usados em programas de melhoramento para obter novas variedades melhor adaptadas aos cenários climá-
ticos presentes e futuros, no Brasil, mas também em diferentes países e para diferentes c o n d i ç õ e s c l i m á t i c a s ”, a f i r m a a pesquisadora. As pesquisas com macieiras Ao longo de 12 anos, pesquisadores da Embrapa, Epag r i e Un i v e r s i d a d e Fe d e r a l d o Rio Grande do Sul (UFRGS) vêm fazendo uma série de experimentos, coletas e observações sobre os mecanismos de controle da dormência nas á r e a s d e g e n é t i c a m o l e c u l a r, melhoramento genético, modelagem e fisiologia vegetal. A preocupação principal foram
os efeitos impostos pelas mudanças climáticas no planeta, que afetaram negativamente a pomicultura brasileira. Essas são algumas publicações desses trabalhos: Banco de dados sobre dorm ê n c i a : o App l e B u d D or m an c y D at ab a s e ( App l e B DDB ) é um aplicativo para web que permite consultar uma base de dados de genes relacionados ao processo de dorm ê n c i a . Apre s e nt a re g i s t ro s amostrais para os 57 mil genes de macieira a partir de oito experimentos comparativos, resultando em mais de 450 mil registros de níveis de expressão.
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ANÁLISE DE MERCADO
Faesc contra a tentativa de tributação do agronegócio Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional
O aumento da carga tributária sobre o setor primário é a grande ameaça de 2020 14 | REVISTA 100% CAIPIRA
Novas tentativas para aumentar a tributação sobre importantes cadeias produtivas do agronegócio serão perpetradas em 2020 pelo Ministério da Fazenda. A previsão é da Federação da Agricultura do Estad o d e S a n t a C a t a r i n a ( FA E S C ) com base no comportamento d o G o v e r n o e m 2 0 1 9 . “ Tr i b u tar o agro é um erro histórico que muitos países já cometeram, com resultados sociais e e c o n ô m i c o s n e f a s t o s”, a d v e r t e o p r e s i d e n t e d a FA E S C , J o s é Z efer ino Pe drozo. O dirigente obser va que no ano passado foram várias as tentativas de aumento da carga tributária, que só não prosperaram porque muitos parlamentares que conhecem a importância do setor estavam atentos – mas que continuam na pauta. To d a s a s a v a l i a ç õ e s i n d i c a m que a área técnica do Governo insistirá no aumento da tribut aç ão. Por iss o, a lguns temas exigem atenção, em esp e cia l o C onvênio 100, pactuado pelo C onselho Fazendário Nacional (Confaz) e que reduz ou isenta a base de cálculo de inúmeros insumos utilizados na produção agrícola. Os Secretários da Fazenda se reunirão para discutir a renovação ou não do C onvênio 100/97 para os anos de 2020 e 2021. Ainda não há consenso no Confaz sobre a sua pror rogação. Na prát ica, é possível prever que alguns produtos serão excluídos. A solução sairá na reunião prog ramada p ara março próximo. Pe drozo ava li a que não pror rogar a referida norma implicará em aumento de carga tributária para o agronegócio de até 7,6% no preço dos insumos. Outro tema preocupante está relacionado à PEC 133, a chamada ”PEC paralela da Ref o r m a d a P r e v i d ê n c i a”. E x i s t e previsão de taxação do agronegócio exportador com a in-
clusão da contribuição à Previdência Social por parte de empresa exportadora e do produtor pessoa física que exporta diretamente. A ameaça dessa tributação ganhou corpo com a aprovação do relatório d o s e n a d o r Ta r s o J e r e i s s a t i , na Comissão de Constituição e Just iç a do S enado Fe dera l. O relatório contempla a tributação nas exp or t açõ es do ag ro. A proposta pretende a reoneração das receitas decorrentes de exportações do setor do ag rop e c uár io. O t r ibuto de ve somar R$ 60 bilhões ao caixa da Previdência nos próximos d e z a n o s . “ Tr i b u t a r a s e x p o r t açõ es é um completo absurdo, algo que não encontro paralelo em nenhum sistema tributário r a c i o n a l ”, p r o t e s t a o p r e s i d e n te. Em fevereiro o STF julgará a validade dessa cobrança do Funr ura l na atua l leg islação. A FA E S C t a m b é m e s t á p r e ocupada com a MP 899, que criou uma nova espécie de p arcelamento t r ibut ár io, que deverá ter fraca adesão em decorrência dos descontos baixos e de muita discricionariedade p or par te da Fazenda Nacional. C om iss o, p erde-s e a op or tunidade de regularizar o passivo do Funrural. Foram apresentadas 700 emendas a essa matéria. A quarta preocupação é a CPI do Funrural criada com a finalidade de cobrar do Palácio do Planalto e dos Ministérios da Fazenda da Agricultura uma solução definitiva sobre a remissão das dívidas do Funrural. Outro objetivo da proposta é levantar dados oficiais sobre o p assivo do f undo, est imado em R$ 11 bilhões pela Receita. S e a CPI concluir ser inviável o p erdão, o débito p o derá s er cobrado imediatamente. AMEAÇAS Pedrozo adver te que s e es-
sas proposições se tornarem lei, o produto brasileiro perderá competitividade no mercado externo. A elevação do custo mediante aumento da tributação ao produtor rural terá profundos efeitos negativos. “S erá um desestímulo a quem carrega o País nas cost a s a d u r a s p e n a s ”, l a m e n t a . Assevera que uma possível tributação afetará a economia brasileira com a redução das exportações e, os produtores rurais, com a perda de renda. A competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional despencaria e, em alguns casos, inviabilizaria as exportações. Pedrozo diss e compreender a necessidade do Governo Federal em aumentar a arrecadação e buscar o equilíbrio das contas públicas, mas col o c a q u e “é u m e r r o g r a v e e grosseiro penalizar o setor que se tornou a locomotiva da economia nacional e está garantido o superávit da balança comercial nas últimas d é c a d a s ”. O p r e s i d e n t e d a FA E S C observa que o tema assume proporções ainda mais sinistras nessa fase em que foram estabelecidos novos acordos comerciais, vitais para a economia brasileira, como o rec e nt e a c ord o Me rc o s u l / Un i ã o Europeia, no qual haverá transação de mercadorias sem incidência de tributos entre os países. “ Tr i b u t a r a s e x p o r t a ç õ e s do setor primário será um grave equívo co. Perderemos nossa competitividade até mesmo no mercado doméstico, por exemplo, para os produtos agropecuários export a d o s p e l a Un i ã o Eu rop e i a , pois além de não tributar as exportações, a Comunidade Europeia ainda fornece subsídios agrícolas para os seus p r o d u t o r e s ”, e n c e r r a . REVISTA 100% CAIPIRA | 15
CAFÉ
Brasil exporta 40,6 milhões de sacas de café em 2019 e bate recorde histórico País encerrou 2019 com crescimento de 13,9% no volume das exportações ante 2018 • Volume de cafés diferenciados apresentou alta de 21,2% com a exportação de 7,5 milhões de sacas • Em dezembro, Brasil embarcou 2,99 milhões de sacas de café
Em 2019, o Brasil exportou 40,6 milhões de sacas de café, considerando a soma de café verde, solúvel e torrado & moído, segundo relatório consolidado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). O dado representa um recorde histórico das exportações do produto, assim como aumento de 13,9% em relação ao volume total exportado em 2018. A receita cambial com as exportações de café em 2019 alcançou US$ 5,1 bi16| REVISTA 100% CAIPIRA
lhões, enquanto que o preço médio da saca foi de US$ 125,49. “A performance das exportações de café brasileiro em 2019 apresentou um resultado dentro daquilo que nós prevíamos para o ano, com o recorde histórico de 40,6 milhões de sacas embarcadas para o mundo. Os resultados ao longo de 2019 foram, sem dúvidas, muito positivos e refletem a excelência e eficiência do agronegócio café do Brasil em atender à demanda glo-
bal pelo produto. É importante observarmos também que, entre os maiores consumidores de café brasileiro, quase todos apresentaram um aumento substancial nas importações, o que foi de suma relevância para o desempenho das exportações ao longo do ano de 2019”, declara Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé. “O Brasil mantém sua posição de liderança mundial e é um país protagonista na oferta de cafés susten-
táveis para o mundo, oferecendo um produto com total segurança e qualidade, graças a sua alta competência e ao foco na sustentabilidade. Temos um quadro importantíssimo de países importadores – no ano passado foram 128 países parceiros que consumiram o nosso café – e é importante salientarmos também que o país está preparado para atender a demanda global crescente com grande possibilidade de incremento nos próximos anos”, ressalta. Com relação às variedades embarcadas, no total do ano de 2019, o país exportou 36,6 milhões de sacas de café verde (32,6 milhões de sacas de arábica e 3,9 milhões de robusta), o que representa um aumento de 14,8% em relação a 2018. Vale destacar que a exportação do café robusta (ou conilon) apresentou crescimento de 59,5%, se comparado ao ano anterior, enquanto o arábica registrou aumento de 11% no período. Já os cafés industrializados apresentaram alta de 7%, com a exportação de 4 milhões de sacas, sendo 3,98 milhões de café solúvel e 24,4 mil de torrado & moído. Neste caso, o café solúvel teve crescimento de 6,9%, enquanto que o torrado & moído, 27,2%. Vale destacar também que tanto as exportações de café verde (robusta + arábica) quanto de café solúvel apresentaram resultados recordes no desempenho das exportações em 2019.
-Safra 2019/20 (jul-dez), o Brasil exportou 20,2 milhões de sacas de café, com destaque para o crescimento de 17,3% nas exportações de café robusta na mesma base comparativa de 2018. A receita cambial do período até agora foi de US$ 2,5 bilhões e o preço médio de US$ 125,34.
de café brasileiro para os países produtores (2,2 milhões de sacas); para o BRICS, aumento de 28,8% (1,4 milhão); Leste Europeu, +16,4% (1,7 milhão); União Europeia, +10,3% (19,3 milhões); Oriente Médio, +6,3% (2,4 milhões); e Países Árabes, +4,9% (1,8 milhão).
Principais destinos
Cafés diferenciados
No compilado do ano civil de 2019, os Estados Unidos permaneceram como o país que mais consumiu café exportado do Brasil, com 7,9 milhões de sacas (19,4% das exportações totais no ano passado). O segundo maior destino foi a Alemanha, com 6,8 milhões (16,7%) e, em terceiro, a Itália, com 3,6 milhões (8,8%). Na sequência estão: Japão, com 2,6 milhões de sacas (6,4%); Bélgica, 2,5 milhões (6,2%); Turquia, 1,2 milhão (2,9%); Federação Russa, 1,1 milhão (2,6%); México, 951 mil (2,3%); Reino Unido, 941 mil (2,3%); e Canadá, 900,2 mil (2,2%). Exceto o Reino Unido, que apresentou queda de 25,5% nas exportações quando comparado a 2018, todos os principais destinos registraram aumento no consumo de café brasileiro, com destaque para o México, que teve crescimento de 200,8% na compra; seguido por EUA (24,7%); Alemanha (19,4%); Federação Russa (18,6%) e Turquia (18,2%).
Números de dezembro
Exportações por continente
No ano civil de 2019, as exportações de cafés diferenciados (aqueles que têm qualidade superior ou algum tipo de certificado de práticas sustentáveis) corresponderam a 7,5 milhões de sacas, representando 18,6% do total embarcado no ano passado e avanço de 21,2% em relação ao volume de cafés diferenciados exportado no ano civil de 2018. A receita cambial dessa modalidade no acumulado de 2019 foi de US$ 1,2 bilhão, correspondendo a 23,6 % do total gerado com os valores da exportação de café. O preço médio dos cafés diferenciados ficou em US$ 159,19. Os 10 maiores países importadores de cafés diferenciados representam 80,3% dos embarques com diferenciação. Os Estados Unidos são o país que mais recebe cafés diferenciados do Brasil, com 1,9 milhão de sacas exportadas, o que corresponde a 24,8% das exportações da modalidade. A Alemanha ficou em segundo lugar, com 934,6 mil sacas exportadas (12,4%), seguida pelo Japão, com 824,3 mil (10,9%), Itália, com 742,5 mil (9,8%), Bélgica, com 631,9 mil (8,4%), Canadá, com 293,3 mil (3,9%), Reino Unido, com 224,8 mil (3%), Suécia, com 208,3 mil (2,8%), Finlândia, com 183,1 mil (2,4%); e Espanha, com 142,2 mil (1,9%).
No último mês de 2019 foram exportadas 2,99 milhões de sacas de café, com receita cambial de US$ 384,2 milhões e preço médio de US$ 128,10. As exportações de cafés verdes somaram 2,7 milhões de sacas (2,3 milhões de arábica e 340,7 mil de robusta), enquanto que os industrializados corresponderam a 309,1 mil sacas embarcadas (308,2 mil de café solúvel e 950 de torrado & moído). Entre as variedades, destaque para o café robusta, que dobrou a exportação no mês registrando aumento de 102,6%.
Os embarques do café brasileiro por continente apresentaram evolução em quase todas as regiões no ano de 2019. As exportações de café para a Europa registraram, em comparação a 2018, um aumento de 10,7% (equivalente a 20,9 milhões de sacas). Na América do Norte, o aumento foi de 29,8% (9,7 milhões); na Ásia, de 6,9% (7,1 milhões); América do Sul, 4,4% (1,6 milhão); África, 51,6% (640,9 mil); e Oceania, 4,3% (396,7 mil). Apenas as exportações para a América Central registraram queda de 27,7% em comparação a 2018 (total de 128,2 Ano-Safra 2019/20 mil). Também se destaca em 2019 o Nos seis primeiros meses do Ano- crescimento de 35,4% das exportações
Portos Em 2019, o Porto de Santos se manteve na liderança como a principal via de escoamento da safra para outros países, com 78% de participação (31,7 milhões de sacas embarcadas no ano passado). Os portos do Rio de Janeiro seguem em segundo lugar, com 12,7% de participação (5,1 milhões de sacas embarcadas por eles). Fonte: Cecafé REVISTA 100% CAIPIRA |17
BOVINOS DE CORTE
A carne e os riscos da globalização
Após uma escalada de 32,40% no último trimestre do ano passado, o preço da carne bovina se tornou o vilão da inflação que fechou o mês de dezembro com surpreendente alta de 1,15% 18| REVISTA 100% CAIPIRA
Após uma escalada de 32,40% no último trimestre do ano passado, o preço da carne bovina se tornou o vilão da inflação que fechou o mês de dezembro com surpreendente alta de 1,15%. Só nos meses de novembro e dezembro, a alta da carne chegou aos 27,61%. Com isso, o item Alimentação e Bebidas, no qual a carne tem o maior peso nas despesas familiares, acumulou alta de 6,37% no ano passado e fez o IPCA, o indicador oficial da inflação, atingir 4,31% acima do centro da meta do Banco Central, fixado em 4,25%. Numa prova de que o movimento pode ter sido uma combinação de especulação em cima da oportunidade aberta pela pressão compradora da China, cujo rebanho suíno, que era responsável por 47% do abastecimento de carne do país, foi dizimado em quase 40% pelo surto da gripe suína africana, os departamentos econômicos do Itaú e do Bradesco apostam que o movimento altista não vai se sustentar e que as taxas de inflação voltam a ficar abaixo de 0,30% nos primeiros três meses de 2020. O Itaú situou a projeção preliminar para o IPCA de janeiro em 0,26%. Como a taxa subiu 0,32% em janeiro de 2019, se a previsão for confirmada a taxa do IPCA em 12 meses desce de 4,31% para 4,24%. O Banco espera igualmente 0,26% para fevereiro e 0,28% para o IPCA de março. Como as taxas foram de 0,43% e 0,75%, respectivamente, nos mesmos meses de 2019, isso significa que se as previsões estiverem certas, a taxa anualizada do IPCA ficará novamente abaixo de 3,60% em março: em 3,58%, para ser mais preciso. Se os departamentos econômicos dos dois maiores bancos privados estiverem certos, a alta da carne no último trimestre do ano foi um surto que está passando. De fato, com o regime de chuvas devolvendo vigor às pastagens, o gado está engordando rapidamente e o mercado voltou a reequilibrar-se entre a oferta (que aumentou) e a procura (que arrefeceu). No mercado doméstico, a alta de preços comprimiu o consumo. De outra parte, com o fim da temporada,
acabaram os churrascos semanais dos rubro-negros, que ajudavam, junto com a pressão compradora da China, a sustentar as manobras altistas. Brincadeira à parte, as importações chinesas de carne bovina aumentaram 80% no ano passado, atingindo UD$ 2,677 bilhões, correspondendo a 41,24% das vendas totais (27% em 2018). Somando aos 11% absorvidos por Hong Kong, os chineses levaram metade da carne bovina brasileira em 2019. Na falta da carne de porco, os chineses compraram mais 53,7% de carne de frango, liderando a fila dos compradores com 19,41% das exportações. Nunca o famoso ditado chinês de que a crise é sinônimo de oportunidade caiu tão bem. No caso brasileiro, o impacto da peste suína africana reduziu as importações de soja em grão e triturada pela China de US$ 27,2 bilhões para US$ 20,5 bilhões. Uma perda de US$ 6,7 bilhões não compensada pelo incremento das vendas de carnes (bovina, de frango e suína). Mas pode estar surgindo a oportunidade de o Brasil mudar um pouco o foco na venda de produtos agrícolas primários. O ciclo de criação de suínos, do nascimento até o abate dura 18 meses. No caso do gado bovino, o ciclo da gravidez até o abate dura pelo menos 30 meses. A carne mais fácil de ser produzida é a de frango. Em 40/45 dias um pinto alimentado com farelo de soja e de milho, está pronto para ser abatido. Com um ganho enorme em termos de valor agregado, incorporando mão de obra e riqueza no processo de abate e embalagem para exportação. Deixar de ser mero exportador de milho e soja para se tornar ainda mais competitivo no mercado de proteína animal, onde o Brasil lidera a venda de carne de boi e de frango, à frente dos Estados Unidos, é uma oportunidade que o país deve agarrar com unhas e dentes. Para isso temos de manter seriedade e profissionalismo na cadeia da produção ao abate. Episódios como os identificados pela operação “Carne Fraca” quase arranharam a reputação brasileira.
A carência de proteína nos mercados globais, a começar pela China, mantém o apetite em relação ao mercado brasileiro. Mas é preciso não perder espaço após o anúncio do acordo comercial entre Estados Unidos e China. Se as vendas americanas forem reabertas para a China, será um desafio para o Brasil enfrentar a disposição de Trump & cia em ganhar terreno nessa área. O risco do mercado doméstico de carne é um encarecimento geral dos cortes. No ano que passou, o tipo de carne que mais subiu foi a capa de filé (mais de 50%). Todo cuidado é pouco com os especuladores. Um boicote não seria mal para esfriar a ganância. Os departamentos econômicos acreditam que o surto de alta da carne vai passar, mas o que dizer para o trabalhador que teve o salário mínimo (reajustado pela variação do Índice Nacional dos Preços ao Consumidor – INPC, que mede a cesta básica de consumo das famílias até cinco salários mínimos de renda) subavaliado? O reajuste de R$ 998 para R$ 1.039 levou em conta a projeção de que o INPC subiria 4,1% em 2019. O INPC subiu 4,38%. Ou seja, o correto seria o mínimo subir para R$ 1.042,71. O Congresso e o próprio presidente Jair Bolsonaro podem resolver isso. Pode parecer pouco, mas R$ 3,71 ajudam a comprar alguma coisa a mais no fim do mês. A escalada da carne lembra a crítica da música Saco de Feijão, com letra de Francisco Santana e imortalizada na voz de Beth Carvalho, em 1977. O país vivia o segundo ano de uma crise de abastecimento de produtos básicos, como feijão, farinha de mandioca e milho, em consequência da erradicação de cafezais no Paraná e em São Paulo, após as geadas de 1975. E a letra falava, ainda na nostalgia do tempo do milréis, quando com um tostão a pessoa saía da venda com um saco de feijão; “depois que inventaram o tal cruzeiro eu saio com um embrulhinho na mão e deixo um saco de dinheiro”. Hoje, deixa-se um saco de reais para comprar meio quilo de carne moída de 2ª. Fonte: Jornal do Brasil REVISTA 100% CAIPIRA | 19
LOGÍSTICA E TRANSPORTE
Porto de Paranaguá c escoament Juntos, no ano, os dez terminais que compõem o complexo exportaram mais de 20,23 milhões de toneladas de soja e milho, em grão e farelo Fonte: Portos e Navios
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consolida recorde no to de grãos O volume alcançado registra mais uma marca histórica, superando em quase 2,4% o número de 2018 –de 19,76 milhões de toneladas. “A movimentação e a produtividade alcançadas nos três berços do Corredor de Exportação é resultado de um trabalho muito focado e alinhado entre a autoridade portuária e os terminais que atuam no complexo”, comenta o presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. Eficiência – Em 2019, como informa Garcia, não houve obras de reestruturação do local. O esforço foi em reorganizar o fluxo, alinhar as regras e a atuar com o máximo de eficiência conjunta entre a equipe da Diretoria de Operações da Portos do Paraná e a dos operadores. “Em 2020, já entramos o ano com a expectativa das obras de repotenciamento do Corredor de Exportação”, diz Garcia. Segundo ele, está sendo finalizada a contratação da empresa que fará o projeto básico da remodelação que vai dobrar a capacidade operacional, com investimentos em novas correias transportadoras e a aquisição de novos equipamentos eletromecânicos. Corredor – O Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá é um conjunto de terminais, público (um, com dois silos) e privados (nove), interligados por correias transportadoras até seis equipamentos carregadores de navios que operam em três berços, à oeste do cais – 212, 213 e 214. Produtos – Soja em grão foi o principal granel exportado pelo Porto de Paranaguá. Em 2019, apenas pelo Corredor de Exportação mais de 10,6 milhões de toneladas do produto foram exportadas, principal-
mente para a China – que recebeu mais de 89% do produto que saiu do porto paranaense. O Porto de Paranaguá é o terceiro principal exportador da commodity do Brasil, atrás de Santos e Rio Grande. O volume de milho exportado pelos três berços do complexo é de 5,36 milhões de toneladas. Os principais destinos do produto que saiu por lá são o Irã (42%), o Japão (29,7%) e a Coreia do Sul (7,1%). O Porto de Paranaguá é o segundo principal exportador de milho do país, atrás apenas do Porto de Santos. De farelo de soja, foram 4,19 milhões de toneladas exportadas pelo Corredor em 2019. Os principais destinos do produto foram Holanda (25,69%), França (17,67%) e Coreia do Sul (15,28%). O Porto de Paranaguá é também o segundo principal exportador de farelo de soja do país, atrás apenas do Porto de Santos, por um milhão. Movimentação geral – Como divulgado no último dia 31 de dezembro, a marca histórica também foi superada na movimentação geral dos Portos do Paraná. Agora consolidado, o volume total de importações e exportações de Paranaguá e Antonina chegou a 53,2 milhões de toneladas; 0,3% a mais que o registrado em 2018, 53 milhões. Quase 62,6% da movimentação total de 2019 é de exportação: 33,3 milhões de toneladas. O restante, 37,4%, é de importação: 19,9 milhões de toneladas de produtos. Os granéis sólidos representam mais de 65% das movimentações de 2019, com 34,92 milhões de toneladas importadas e exportadas. Na importação, os principais produtos são os fertilizantes com quase 9,43 milhões de toneladas movimentadas. As principais origens do fertilizante
importado pelos portos de Paranaguá e Antonina são Rússia, China, Canadá e Estados Unidos. O Porto de Paranaguá é o primeiro do país na importação do produto. Cargas – O segundo segmento que mais movimentou cargas em 2019 pelos portos paranaenses é o da Carga Geral. Neste, mais de 11,34 milhões de toneladas foram registradas nos dois sentidos de comércio. Este volume é puxado pelas cargas que chegam e saem em contêineres pelo Porto de Paranaguá. Em 2019, o Terminal de Contêineres de Paranaguá movimentou 867.185 TEUs. Quase a metade para a importação e exportação. O volume registrado no ano passado é 13% maior que o de 2018 (769.908 TEUs). Ainda no segmento de Carga Geral, entram as exportações e importações de veículos. Em 2019, por Paranaguá, foram 135.293 carros movimentados, 7% a mais que a quantidade de 2018, 127.017 unidades. Líquidos – De granéis líquidos, mais de 6,9 milhões de toneladas foram exportadas e importadas pelo Porto de Paranaguá. Nas exportações, os principais produtos são os óleos vegetais, 659.896 toneladas. Nas importações, se destaca o volume de derivados de petróleo, com 4 milhões de toneladas. O segundo do país – Os demais portos públicos do Brasil ainda não divulgaram os dados do fechamento anual de 2019. Até o momento, considerando as últimas estatísticas da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o Porto de Paranaguá é segundo em movimentação de cargas, atrás apenas do Porto de Santos. REVISTA 100% CAIPIRA |21
GOVERNO
Fonte: Governo do Estado de Rondônia
Pequenos produtores recebem orientação para tornar terras pouco produtivas em negócios rurais lucrativos em Rondônia Incumbido pelo governador Marcos Rocha da missão de ajudar o Estado a ser mais produtivo, José Jodan explica que o avanço do agronegócio faz parte do Plano Estratégico do governo 22| REVISTA 100% CAIPIRA
Pequenos proprietários rurais da região do reassentamento Riacho Azul, em Porto Velho, foram ouvidos pelo vice-governador e governador em exercício de Rondônia, José Jodan, na terça-feira (14), para alinhar ações que façam de fato a produção agrícola do Estado avançar, aumente a geração de emprego e renda; melhore a qualidade de vida nas comunidades e fixe as novas gerações nos negócios rurais. Incumbido pelo governador Marcos Rocha da missão de ajudar o Estado a ser mais produtivo, José Jodan explica que o avanço do agronegócio faz parte do Plano Estratégico do governo. ‘‘O coronel Marcos Rocha está focado no setor agro, precisamos fortalecer o homem do campo. Eu estarei cobrando nossos técnicos para que nossos produtores tenham capacitação e recebam o que precisam. É preciso dar viabilidade aos produtores. O que precisa no nosso Estado é aplicar técnicas’’, afirma. José Jodan apontou que a produção tecnificada, que envolve a análise de solo, adubação correta, inclusive com calcário, e o acompanhamento da assistência técnica, é o que garante que a produção agrícola aumente. Para Jodan, é inadmissível que o produtor rondoniense plante sem nenhuma assistência técnica e, por isso, é uma determinação que recebam todo o apoio necessário. Ele assegurou junto à comitiva que o acompanhou na visita técnica aos reassentamento, formada por integrantes da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater), que os produtores precisam ser acompanhados desde a análise de solo até a conscientização do custo da produção. O secretário de Estado da Agricultura (Seagri), Evandro Padovani, reforçou que é preciso fomentar a produção agrícola existente no reassentamento, fazendo um levantamento das principais produções, para futuramente agregar valor às matérias-primas, com a efetivação de agroindústrias na região. ‘‘Não queremos que o produtor plante sem análise de solo, sem acompanhamento técnico porque é assim que a produção fica raquítica. A produção não vai para frente e o produtor desanima porque não tem o que ele precisa
no solo. Fica achando que não tem mais como mexer com agricultura, mas não é assim. É possível conseguir uma boa produção com acompanhamento técnico’’, explica o vice-governador. DE TERRAS POUCO PRODUTIVAS A NEGÓCIOS RURAIS LUCRATIVOS - As novas perspectivas de melhoramento de produção trouxeram para os produtores uma visão diferente e esperança. Aqueles que enxergavam apenas um pedaço de terra pouco produtiva, passaram a ver a possibilidade de inovar e fazer da propriedade, de fato, um negócio rural lucrativo. Foi o caso de Francisco Pandolfi, 70 anos, que cedeu parte da sua propriedade para o plantio de mandioca para uma vizinha, mas que, agora, já pensa em plantar também cacau e investir na criação de peixes. O governador em exercício orientou o produtor a plantar além da mandioca, o cacau, assim como tem orientado em todo o Estado, pois a colheita do cacau se dá a cada oito meses, o plantio se adapta à região. Rondônia importa, segundo ele, 60% do que é consumido, além disso, tem um retorno lucrativo aos produtores. A propriedade de Francisco foi visitada pelo vice-governador que percorreu a área explicando o passo a passo de uma análise de solo correta e ele mesmo fez a coleta das amostras. ‘‘Estou mostrando ao seu Francisco como se faz uma análise para ele colher muito mais sacas de farinha em um hectare. Isso vai trazer o bem-estar para ele na propriedade’’, disse Jodan. Francisco reforçou o que José Jodan havia afirmando sobre o fato da produção sem técnica desanimar o produtor. Francisco já teve experiência ruim com a produção, na época de banana, que acabou não dando certo. ‘‘Era para eu estar com essa área todinha de plantação de banana’’, lamenta. Agora, ele disse estar animado a produzir, desta vez, utilizando as técnicas corretas. ‘‘Eu fico muito grato a essa visita do vice-governador porque era o que estávamos precisando aqui no reassentamento’’, avalia o produtor. Atualmente, a aptidão do reassentamento Riacho Azul, onde moram cerca de 40 famílias, é o plantio de mandioca. O vice-governador também visitou a
única produção de farinha do local que pertence a família da produtora rural Neuraci Monteiro do Nascimento. Ele incentivou a preparação do solo e assistência técnica para que a propriedade consiga também ampliar a quantidade de produção de mandioca por hectare. ‘‘Com assistência técnica, eles vão sair de 3,5 para 7 toneladas por hectare, vão trabalhar menos e produzir mais’’, garante. Durante a visita técnica, foi dada, ainda, a oportunidade para que produtores do reassentamento de São Domingues, vizinho ao Riacho Azul, apontasse os desafios que precisam ser superados. ‘‘Todo ajuda é bem-vinda para o produtor, achei muito importante o vice-governador ter vindo até aqui para ver de perto as nossas necessidades e as dificuldades que temos para produzir’’, conta o produtor rural Miguel Ribeiro. ‘‘Foi importante a atitude de o vice-governador querer nos ouvir e saber de verdade as nossas dificuldades, pois muitos produtores estão desanimados com a baixa produção. Acontece que muitos, no primeiro ano, conseguem 100 sacas de mandioca, mas já no segundo cai para 80, no terceiro para 40 e aí já não começa a dar mais nada, pois é uma produção sem calcário e sem adubo. Eu acredito que o governo de Rondônia vai trazer mudanças’’, disse o produtor Antônio Aparecido de Oliveira. Ainda durante a visita, foi apresentado ao vice-governador o trabalho realizado pela ONG Raiz Nativa, que trabalha com arranjos produtivos nos reassentamentos com eixos de reflorestamento e desenvolvimento sustentável. No Riacho Azul, a instituição possui um viveiro com capacidade para 200 mil mudas de açaí BRS Pará e Chumbinho. Tem a proposta de ampliar o plantio, implantar a irrigação para alcançar até três safras por ano e projeta uma agroindústria para beneficiar a produção local. O vice-governador concluiu a visita ao reassentamento Riacho Azul apontando medidas para correção dos desafios apontados, com orientação de novas medidas e garantindo que, com uma produção tecnificada, é possível dar sustentabilidade as propriedades rurais, envolver e fixar as novas gerações nos negócios rurais. REVISTA 100% CAIPIRA | 23
SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade: o qu
europ
Pesquisa feita recentemente na Europa, (Longitude), investigou como andam as pe sobre alimentos produzid Fonte: CCAS
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ue estão pensando os
peus
, por empresa do grupo Financial Times rcepções dos consumidores e agricultores dos de forma sustentável O trabalho apoiou-se em um levantamento com 2.500 consumidores e 600 produtores/gestores agrícolas, em sete países, de leste a oeste do continente europeu. O estudo (“Sistema Alimentar Sustentável”) foi iniciativa da Corteva européia e apontou que a produção alimentar exigirá mais ciência e mais sustentabilidade no futuro, em resposta às visões da sociedade sobre alimentação, saúde e bem-estar. Quanto mais as pessoas tornam-se conscientes do impacto que os alimentos podem ter sobre a saúde e a prevenção de doenças advindas do estilo de vida contemporâneo, mais vão dirigir suas escolhas alimentares nessa direção. Na pesquisa, 75% dos consumidores disseram acreditar (totalmente ou em parte) que “comprar alimento produzido de forma sustentável contribui para sua saúde e bem-estar”. Apenas 8% discordaram dessa afirmação e 17% não souberam responder. Na mente dos europeus, portanto, parece ter se estabelecido um elo claro entre produção sustentável, saúde e bem-estar. Certamente o sabor continuará soberano na escolha dos alimentos, bem como aspectos nutricionais para os mais exigentes. Mas quando se trata de sustentabilidade, quais os critérios que balizam os consumidores? Segundo o estudo, metade (51%) diz evitar alimentos produzidos com insumos sintéticos, também metade (48%) fala em opções que reduzam o desperdício de alimen-
tos e outros 35% mencionam relacionamento justo com a comunidade e os pequenos produtores. A percepção de sustentável, pelo visto, vai além dos fatores agronômicos de produção e tem uma dimensão simbólica ampliada. As cadeias produtivas do agro parecem estar hoje sob exame dos consumidores, que querem alinhá-las com o que acreditam ser os melhores padrões de sustentabilidade. Assim, do agricultor à indústria de alimentos e supermercados, é preciso estar consciente desses ventos de mudança e de que pode estar vindo uma revolução do alimento, liderada por pessoas que acreditam querer o melhor, com mais sustentabilidade e com produtos autênticos. É uma energia cultural ponderável, tanto que boa fatia dos produtores europeus está convencida de que o atual sistema de produção precisa mudar e inovar, segundo mostra a pesquisa. Sob pressões ambientais ou de consumo, diretas ou através das cadeias produtivas, os produtores buscam de modo crescente práticas sustentáveis de produção. Percebem que devem produzir de um jeito mais eficiente, com mais qualidade e menor impacto ambiental, mas que os formuladores de políticas agrícolas não estão ajudando nesse desafio, que também é oportunidade. Aliás, quando questionados sobre os maiores desafios para seus negócios, 33% dos agricultores europeus apontam para as políticas agrícolas desfavoráveis. Logo
depois, com 27% de menções, aparece “a mudança na demanda dos consumidores”. Embora tenham a percepção de que enfrentam escolhas difíceis e de que nem todo santo ajuda, os agricultores parecem reconhecer o imperativo de se buscar soluções sustentáveis. De acordo com a pesquisa, abordagens pró-sustentabilidade estão em alta entre produtores europeus - como agricultura de precisão, qualidade do solo, redução da pegada de carbono nas fazendas, gestão ambiental de resíduos, redução de produtos sintéticos e conservação de água. Práticas que já são conduzidas por 20% a 30% dos entrevistados, segundo declaram, e atingem o nível de 50% de adoção, se o horizonte é de dois anos para frente. O estudo também segmentou sua análise para agricultores que já adotam pelo menos três práticas recomendadas para uma produção sustentável, os quais denominou “campeões da sustentabilidade”. Com eles, o grau de adoção de manejos sustentáveis avança para a faixa de 50% e sobe para 60% - 70% no horizonte de dois anos. Para o produtor brasileiro, índices assim dizem muito sobre o rumo dos padrões de competitividade internacional nos próximos anos. Algo para se ficar de olho, principalmente com a inserção internacional que o nosso agro pretende cultivar, ainda mais. Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor da ESPM.
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AGRICULTURA FAMILIAR
Pró-Genética ajuda a melhorar rebanho bovino do Vale do Jequitinhonha Fonte: Ascom Emater-MG
Depois de trabalhar alguns anos com inseminação artificial, o pecuarista Antônio Luiz Guimarães decidiu mudar e fazer o melhoramento genético do seu rebanho com a compra de touros de alto padrão genético 28 | REVISTA 100% CAIPIRA
S e g u n d o e l e , o p r o c e s s o t o rnou-se mais simples e com bons r e s u l t a d o s , c o m o, p o r e x e m p l o, a maior valorização dos seus a n i m a i s n o m e r c a d o. E s s a m u dança foi possível a partir de a ç õ e s d o P r o g r a m a d e Me l h o r i a da Qualidade Genética do Rebanho B ovino de Minas Gerais ( P r ó - G e n é t i c a ) , n o Va l e d o Je quitinhonha. Em 2014, Antônio Guimarães comprou dois touros da raça Zebu. Os animais foram inseridos no rebanho e logo vieram as c r i a s . S e g u n d o o p r o d u t o r, t o dos os bezerros e bezerras são comercializados. Como os animais possuem alto padrão gen é t i c o, o p e c u a r i s t a r e c e b e u m valor melhor por eles. “Esses animais, crias dos touros que adquiri, são de ótima genética e engordam rapidamente e, assim, podem ser vendidos num período de temp o m e n o r ”, d i z A n t ô n i o G u i m a rães. Com o dinheiro das vendas, o p r o d u t o r i nv e s t e n a c o m p r a d e v a c a s F 1 d a r a ç a G i r o l a n d o. “Dessa forma, eu consigo repor a s f ê m e a s d o m e u r e b a n h o. Is s o mantém o rebanho sempre jov e m e e s t a b i l i z a d o”, a f i r m a . A propriedade do Antônio Guimarães fica no município de Jo a í m a . E l e c o n t a q u e a r e a l i z a ção de uma feira do Pró-Genética no município foi o que viabilizou a compra de touros de g e n é t i c a s u p e r i o r. “A l é m d o v a lor ser mais viável e financiado pelo Banco o Brasil, eu não teria como ir em outro lugar para a d q u i r i r e s s e s a n i m a i s”, c o n t a . Ampliando as ações Antônio Guimarães é um d o s p r o d u t o r e s d o Va l e d o Je quitinhonha que conseguiram melhorar geneticamente seus rebanhos por meio das feiras e leilões do Pró-Genética. O interesse dos produtores e os bons
resultados obtidos estimularam a E m a t e r- M G , u m a d a s i n s t i t u i ções que executam o Pró-Genética, a propor parcerias para a realização de eventos para a venda de bovinos melhorad o s g e n e t i c a m e n t e . C o m i s s o, a região passou a receber mais leilões e feiras com o apoio do Pró-Genética, o que garante a q u a l i d a d e d o s a n i m a i s o f e rt a d o s . A E m a t e r- M G a t u a n a mobilização dos produtores interessados e no apoio aos organizadores das feiras e leilões. “A c o m e r c i a l i z a ç ã o d e g a d o de leite e corte ficou mais viá v e l . Na r e a l i z a ç ã o d a s f e i r a s e leilões muitas vezes os municípios não dispõem de estrutura adequada, tendo que improvisar com aluguel de instalações apropriadas, i nv i a b i l i z a n d o economicamente os eventos. Esta ação foi uma iniciativa com os parceiros locais como prefeituras, leiloeiras, sindicatos de produtores rurais e pecua r i s t a s d a r e g i ã o”, d i z o c o o r d e n a d o r r e g i o n a l d a E m a t e r- M G , Robspierre Ferraz. Entre 2009 e 2019 foram realizados 19 eventos do Pró-Genética e mais 12 promovidos pela iniciativa privada, sindicatos e prefeituras com o apoio programa em 11 municípios d o Va l e d o Je q u i t i n h o n h a . D e a c o r d o c o m a E m a t e r- M G , n e s se período foram ofertados 630 t o u r o s P. O ( P u r o d e O r i g e m ) , sendo comercializados mais de 400. O número de fêmeas com e r c i a l i z a d a s c h e g o u a 5 0 0 . Já com a realização de leilões foram comercializados mais de 3 mil bezerros e bezerras. Segundo Robspierre, a ação tem contribuído para a melhoria genética do rebanho da reg i ã o. “ Te m o s v i s t o n a p r á t i c a a qualidade dos bezerros e bez e r r a s q u e v ê m n a s c e n d o, p r o porcionando assim um ganho econômico aos pecuaristas, não só pela valorização dos animais
como também na precocidade dos mesmos, ou seja, temos bezerros e bezerras mais pesados e que chegarão ao peso de abat e m a i s c e d o, m e l h o r a n d o s i g nificativamente a qualidade da nossa carne e obtenção de matrizes leiteiras mais produtivas, n o c a s o d o r e b a n h o l e i t e i r o”. Pró-Genética O Pró-Genética é uma iniciativa é do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretar ia de Ag r ic u ltura, Pe c uár ia e Abastecimento (S e apa), Emp r e s a d e A s s i s t ê n c i a Té c n i c a s e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Instituto Mineiro de Agropecuár ia (IMA) e Empres a de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Epamig), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e o apoio de associações de criadores, agentes financeiros, sindicatos, cooperativas e prefeituras. A ideia é facilitar a compra de touros e fêmeas melhorados geneticamente, por meio de feiras ou leilões de touros e matrizes, com valores mais em conta e financiados. Vo l t a d o prioritariamente para pequenos e médios pecuaristas, o Pró-Genética contribui para aumento na renda d o p r o d u t o r, g e r a e m p r e g o s no campo e aumenta a oferta de carne e leite aos consumidores. Em 2019, de acordo com a Emater-MG, foram realizados leilões e feiras em divers os municípios do Estado, com 1.076 animais comercializados. No total, foram promovidos 85 eventos do Pró-Genética, sendo 65 feiras e 20 leilões. O valor total das vendas é cerca de R$ 7,7 milhões. REVISTA 100% CAIPIRA |29
GESTÃO
Como a digitalização da cadeia de fornecimento reduzirá o desperdício global de alimentos A escala do problema global de desperdício de alimentos é impressionante De acordo com alguns relatórios, 1,6 bilhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas a cada ano, o que equivale a um valor total de US $1,2 trilhão que sai da cadeia de suprimentos. Com um terço da quantidade total de alimentos produzidos globalmente sendo mal utilizado, a indústria precisa buscar a inovação e a digitalização para combater essa tendência cada vez maior. Ao adotar a tecnologia e digitalizar a cadeia de suprimento de alimentos, é possível adotar uma medida para reduzir a quantidade de desperdício e perda de alimentos na indústria. Não apenas isso, mas também pode ajudar a garantir que haja recursos suficientes para apoiar de forma sustentável a futura população global. Com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estabelecendo uma meta de reduzir pela metade a perda e o desperdício de alimentos até 2030, a digitalização da cadeia de suprimentos poderia ajudar a diminuir o desperdício global de alimentos. A necessidade de inovação para reduzir o desperdício Embora o desperdício de alimentos seja evidente em toda a cadeia de suprimentos, a grande maioria ocorre no início (durante a produção) e no final (durante o consumo). O primeiro deles 30 | REVISTA 100% CAIPIRA
Fonte: ALARCÓN & HARRIS
é mais comum nos países em desenvolvimento, onde a infraestrutura é de baixo padrão e não pode lidar com os alimentos, criando resíduos, enquanto o segundo é mais pronunciado nos países desenvolvidos, sendo os resíduos causados por varejistas e consumidores. De acordo com o Boston Consultancy Group (BCG), a quantidade de desperdício de alimentos criada na cadeia de suprimentos deve aumentar 1,9% entre 2015 e 2030. Você pode pensar que esse é um pequeno aumento, mas quando colocado em perspectiva com o atual 1.6 bilhões de toneladas desperdiçadas a cada ano, esse número aumentará em 30,4 milhões de toneladas. Para combater esse aumento de desperdício, a cadeia de suprimentos de alimentos precisa passar por uma transformação digital. Desde a produção e o processamento até os próprios varejistas, são necessárias mudanças sistemáticas no gerenciamento da cadeia de suprimentos de alimentos para ajudar todos a utilizar esse recurso precioso com mais eficiência e reduzir a quantidade de resíduos que estamos criando como sociedade. Utilizando a IoT na cadeia de suprimentos Melhorando os níveis de comunicação em toda a cadeia de suprimentos, a quantidade de desperdício de alimen-
tos produzida pode ser reduzida. Cada membro da cadeia de suprimentos deve estar em constante contato um com o outro para garantir que nossos recursos sejam gerenciados com eficiência. É aqui que a Internet das Coisas (IoT) pode suportar e melhorar a eficiência da cadeia de suprimentos. Com base em sistemas e processos interconectados e inter-relacionados, a IoT permite que cada integrante da indústria de alimentos tenha acesso a dados importantes sobre o fornecimento, produção e gerenciamento de produtos, o que pode ajudar a reduzir a quantidade de resíduos criada. Sem a adoção mais ampla da IoT na cadeia de suprimento de alimentos, os níveis de desperdício de alimentos poderiam aumentar de 50 a 90% como resultado de vários fatores combinados, como o aumento da demanda de alimentos devido à crescente população. Ao permitir que todas as partes interessadas da cadeia de suprimentos acessem os principais dados compartilhados em sistemas integrados, os processos podem ser otimizados ainda mais na cadeia para maximizar a maneira como o produto é tratado. Por exemplo, um lote ruim de maçãs com uma alta percentagem de escurecimento interno exigiria a instalação de um equipamento específico e precisaria ser ajustado com precisão para garantir que o valor máximo possa ser extraído
das maçãs. Acredita-se que ter essa conectividade possa economizar a cadeia de suprimentos em até US $ 60 bilhões em resíduos. Por ter esse pré-aviso de qualquer informação sobre um lote de produtos, os agricultores podem não apenas otimizar seus rendimentos reduzindo o risco de desperdício, mas os outros interessados também podem planejar adequadamente para tentar evitar a causa do desperdício. Ter essa capacidade de compartilhar dados através da IoT também pode ajudar a reduzir o desperdício do ponto de vista do consumidor. Os varejistas podem usar os dados em tempo real nas lojas para mostrar quando o produto foi colhido e oferecer informações sobre a “venda por data” projetada. Isso pode educar ainda mais os consumidores quanto tempo eles têm para comer os produtos, ajudando assim a reduzir o desperdício de alimentos através da implementação da tecnologia. Usando a inovação para melhorar a infraestrutura atual Além de utilizar a IoT, a cadeia de suprimentos também pode usar a digitalização para ajudar a melhorar a infraestrutura que possui atualmente. A cadeia de frio desempenha um papel enorme na indústria de alimentos, criando resíduos, principalmente devido à infraestrutura deficiente - na Índia, por exemplo, são perdidos US$ 14 bilhões a cada ano devido às instalações precárias da cadeia de frio. No entanto, a implementação de sistemas inovadores e eficientes pode ajudar bastante na abordagem do desperdício de alimentos - principalmente nos mercados em desenvolvimento. A implantação de soluções mais avançadas da cadeia de frio nos mercados emergentes, que compartilham os dados da cadeia de suprimentos por meio da Internet das Coisas, pode impedir a perda e o desperdício de alimentos em larga escala. As condições também podem mudar no armazenamento a frio e a temperatura afeta muitas tecnologias de classificação, de modo que a capacidade de vincular sensores de armazenamen-
to a equipamentos de embalagem pode melhorar o desempenho. Mas isso não existe em muitos mercados emergentes, criando condições precárias de armazenamento e transporte de alimentos no início da cadeia de valor que levam à perda de alimentos em larga escala. A implantação de soluções mais avançadas da cadeia de suprimentos - incluindo a cadeia de frio nos mercados em desenvolvimento - pode reduzir o problema em US$ 150 bilhões anualmente. Investir em sistemas eficientes de classificação é uma abordagem fundamental para ajudar a cadeia de suprimentos a reduzir o desperdício de alimentos. Queremos saber tudo sobre o produto. Tudo, desde o peso e tamanho até as propriedades e defeitos externos, e até a composição química interna para prever maturação e longevidade. Mas há apenas dois pontos em que você pode coletar informações sobre pedaços de frutas individuais: quando são colhidos e quando são classificados. Estes são os pontos críticos de aquisição de dados. Os KPI’s precisam basear-se na compreensão dos tipos de tipos de defeitos e classes / notas por lote, para ajudar a criar um mapa completo e uma visão total do produto. Isso, por sua vez, pode ajudar a criar big data, o que significa que cada lote fornece novas informações e permite que você construa uma imagem maior, criando a capacidade de tomar decisões ainda mais informadas baseadas em dados. Quando apropriado, os dados podem ser compartilhados e expandidos para o “contexto”, como dados meteorológicos ou marcação geográfica. O passo final é colocar a inteligência artificial em camadas para começar a entender padrões não vistos anteriormente e formas ainda mais eficientes de trabalhar. Embora esses KPI’s tendam a não ser projetados para ajudar a limitar a quantidade de resíduos produzidos, a utilização da tecnologia de classificação pode suportar automaticamente um ambiente sensível a resíduos, recuperando qualquer produto e reutilizando-o para outro fim, como ração para
gado ou ração para animais. Isso significa que, em vez de criar desperdício de alimentos, é encontrado um uso alternativo e mais adequado. Frutas de qualidade inferior podem ser usadas para sucos ou despolpadas para se tornarem produtos como fonte de guacamole ou maçã, enquanto amidos podem ser usados para fins médicos. Tudo isso nos ajuda a reduzir o desperdício e a usar produtos de menor qualidade. Tornar-se digital para combater o desperdício de alimentos Com as estatísticas cada vez maiores sobre desperdício de alimentos, agora é a hora de a indústria adotar uma abordagem mais digitalizada em toda a cadeia de suprimentos. A implementação de sistemas integrados e inovadores permitirá que todos os principais interessados, do campo ao garfo, gerenciem com eficiência os alimentos e reduzam o risco de desperdício. A digitalização não apenas ajuda do ponto de vista da sustentabilidade, mas também ajuda as empresas a impulsionar sua própria lucratividade, melhorando processos e eficiências. Torna-se a resposta ao paradoxo push-pull para benefício comercial e combate ao desperdício global de alimentos. Na TOMRA, estamos comprometidos em criar sistemas de classificação baseados em sensores para ajudar a cadeia de suprimentos a vencer a batalha contra o desperdício de alimentos. Através de nossos sistemas, nosso objetivo é ajudar as empresas de alimentos a maximizar os rendimentos e garantir que qualquer produto possa ser recuperado e reutilizado, aumentar a produtividade com classificação de alta capacidade e fornecer garantia alimentar de alta qualidade consistente. Também entendemos que devemos dar os próximos passos. O TOMRA Insight é a nossa resposta para conectar nossos sistemas de classificação, extrair informações valiosas sobre o desempenho da classificação e os produtos, e torná-lo transparente para os negócios de alimentos. Incorporar isso ainda mais a uma cadeia de suprimentos digitalizada ajudará a fechar o link da fazenda para o garfo no futuro. REVISTA 100% CAIPIRA |31
CAPRINOS E OVINOS
Cuidados com manejo de caprinos e ovinos podem evitar ataques de predadores Ataques de predadores são uma preocupação na rotina de produtores de caprinos e ovinos Investidas de onças, raposas, gaviões e outros animais podem causar perdas em rebanhos, com consequente prejuízos para sistemas de produção. Algumas recomendações simples de manejo, porém, podem evitar algumas dessas ocorrências e minimizar os problemas produtivos. Segundo o médico veterinário Marcílio Frota, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos, dois cuidados de manejo são fundamentais: recolher os rebanhos para instalações ao fim da tarde e proteger os animais em condições mais vulneráveis, como as crias. A primeira recomendação acontece porque boa parte dos predadores têm hábitos noturnos. A segunda, porque esses animais, mais frágeis, são vítimas preferenciais da caça dos predadores. “Como predadores atacam mais no final do dia ou período noturno, o criador tem que ter, como prevenção, o hábito de recolher os animais para um local seguro, como um estábulo ou cercado, de preferência próximo à casa do tratador. Esse animal sairia do campo e ficaria resguardado”, destaca Marcílio. De acordo com ele, os ataques são mais comuns em ambientes de matas ou florestas do que em pastagens. Mesmo assim, reforçar piquetes com telas ou cercas também é útil para proteger contra 32 | REVISTA 100% CAIPIRA
as investidas. Um manejo de cria e recria que mantenha animais mais jovens próximos da atenção do manejador também é recomendável. “Uma sugestão é você ter locais como piquetes, onde as fêmeas venham a parir, próximos às instalações da fazenda”, recomenda Marcílio, lembrando que recém-nascidos são vítimas de ataques de animais como os gaviões carcarás, que podem matar ou ferir com gravidade os cabritos ou borregos. Essas recomendações, segundo Marcílio, são úteis para sistemas de produção intensivos ou extensivos, mesmo que, nestes últimos, haja alguma dificuldade para ter atenção aos animais, que passam boa parte do dia no pasto e podem transitar por áreas onde apareçam predadores. Ele reforça que, como caprinos e ovinos de criatórios desenvolvem hábito de retornar às propriedades ao final do dia, é possível recolhê-los com segurança, mesmo em áreas maiores. “Se este manejo for difícil na rotina, que pelo menos o produtor tenha atenção para proteção das crias”, frisa ele. Predadores e ataques ocasionais Na fauna brasileira é possível identificar animais como onças, raposas e
gaviões entre os principais predadores (animais que atacam com objetivo de se alimentar) de caprinos e ovinos. Em alguns biomas, como o Pantanal, as serpentes de maior porte, como a sucuri, também podem devorar os pequenos ruminantes. Há outros animais que, mesmo não se classificando como predadores (porque não têm caprinos e ovinos como preferência alimentar), podem atacar rebanhos, com prejuízos consideráveis. Entre eles, estão alguns cães e serpentes venenosas. No caso dessas últimas, as picadas geralmente são acidentais, provocados quando caprinos ou ovinos transitam pelo habitat natural de cobras que procuram, dessa forma, se defender. Já no caso das cães, há espécies que atacam, segundo Marcílio, por instinto de caça, mas que não devoram os animais. Este tipo de ataque, segundo ele, acontece com alguma frequência. “Se o ataque de cães for frequente, é importante conscientizar os proprietários das fazendas próximas para evitar este tipo de acidente. Muitas vezes é possível criar os cães em outras áreas da propriedade, evitando o contato com os rebanhos”, recomenda Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos o Marcílio.
PRAGAS E DOENÇAS
Vespas como aliadas no controle de pragas agrícolas
Espécies comuns de vespas podem ser valiosas no manejo sustentável de pragas agrícolas, entre elas a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e a lagarta Spodoptera frugiperda, que ataca principalmente plantações de milho
Resultados de um experimento controlado mostraram que a presença de vespas na lavoura reduz efetivamente as populações dessas duas espécies de pragas e também o dano às plantas. O estudo foi realizado por pesquisadores da University College London (Reino Unido), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal. Os dados foram publicados na revista Proceedings of The Royal Society B. A pesquisa recebeu apoio da FAPESP e do Departamento de Negó-
cios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido, no âmbito de um acordo da Fundação com o British Council e Newton Fund. Os autores lembram que as vespas são encontradas em todo o mundo e podem ser usadas facilmente em pequena ou grande escala para controlar uma série de pragas comuns. “Vespas são muito comuns, mas pouco estudadas. Com esta pesquisa, fornecemos evidências importantes de seu valor econômico como controladoras de pragas”, disse o autor principal do estudo, Robin Southon, da University College London.
O experimento foi o primeiro do gênero realizado em condições controladas e ao ar livre. Foi usado milho infestado pela Spodoptera frugiperda, popularmente conhecida como verme do exército, e cana-de-açúcar contendo Diatraea saccharalis. A eficiência de algumas espécies de vespas nas culturas e na dieta de lagartas já havia sido demonstrada, explicaram os pesquisadores, “mas sem o controle minucioso feito nesta pesquisa, com infestação controlada dentro e fora da planta”. A parte experimental do estudo foi feita em Ribeirão Preto, conta o professor da FFCLRP-USP Fábio Nascimento, e realizada em estufa, com a inserção de vasos com as plantas; primeiro, de cana-de-açúcar e depois de milho, já infestados com as larvas das pragas de forma aleatória, e de outras duas maneiras: externamente e internamente na planta. Na estufa estavam os ninhos com as vespas comuns, denominadas Polistes satan. “As vespas mostraram eficiência acima do que esperávamos nas duas culturas – 90% e 100% sobre as lagartas expostas nas folhas, e 40% e 60% sobre as lagartas abrigadas dentro da cana e do milho”, disse Nascimento. O pesquisador brasileiro comemora os resultados: “Diferentemente do que se pensava, elas são capazes de encontrar as lagartas entre as junções das folhas das plantas. Assim, a eficiência delas como controladoras é significaFonte: Grupo Cultivar tiva.” REVISTA 100% CAIPIRA |33
Os verdadeiros guardiões das culturas sertanejas
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Cachaça Leandro Batista
O sommelier de cachaças Leandro Batista escolheu a premiada Weber Haus para elaborar as cachaças que levam sua chancela. O especialista começou sua trajetória no restaurante Mocóto /SP. Formado mestre alambiqueiro pelo Centro de Tecnologia da Cachaça, também fez curso de Análise Sensorial na USP de São Carlos e de Bartender no SENAC. No ramo a mais de oito anos, é responsável pela seleção de cachaças do Restaurante Barnabé, além de realizar degustações orientadas e palestras. A cachaça Leandro Batista é um Blend de madeiras brasileiras que envelhecem durante um ano em cada barril de amburana, bálsamo e canela sassafrás, resultando em uma cachaça leve, com notas de especiarias, destacando no aroma baunilha, anis e um leve sabor marcante de canela.
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MEIO AMBIENTE
Mato Grosso recebe R$ 36 milhões e terá mais R$ 54 milhões por não exceder limite de área desmatada O Estado de Mato Grosso recebeu parte do segundo desembolso do Programa REM (do inglês, REDD+ para pioneiros) Fonte: Só Notícias
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São 8 milhões de euros (R$ 36,8 milhões na cotação de hoje) repassados pelo Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW) e depositado na conta do Fundo Brasileiro da Biodiversidade (Funbio), responsável por gerenciar os valores. 10 milhões de libras (R$ 54,6 milhões) estão previstos para março, p elo R eino Unido, p or meio do Departamento Britânico para Energia e Estratégia Industrial (BEIS). Para garantir a segunda parcela, Mato Grosso não poderia ultrapassar o limite de 1788km2 de área desmatada. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que determina a taxa anual de desmatamento consolidada pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), apontou que Mato Grosso totalizou 1.490km2 de área desmatada em 2018 (agosto de 2017 a julho de 2018). De acordo com a coordenadora do Programa REM M a t o G r o s s o , L í g i a Ve n d r a min, os recursos serão investidos no fortalecimento da produção sustentável. “Nesta fase, nossa prioridade é investir nos projetos para os beneficiários do programa, entre os quais estão os indígenas, povos e comunidades tradicionais, agricultores familiares e m é d i o s p r o d u t o r e s ”, r e f o r ç a a analista da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT). A confirmação do depósito do segundo desembolso foi feita durante a 25ª edição da Conferência da ONU s o b r e o C l i m a ( C O P 2 5 ) . “À exemplo do Programa REM Mato Grosso, identificamos durante as reuniões novas oportunidades para o de-
senvolvimento sustentável. Além de resultados expressivos na redução do desmatamento, Mato Grosso tem estruturadas importante políticas públicas com foco em desenvolvimento sustentável, a exemplo doo Instit u t o P r o d u z i r, C o n s e r v a r e I n c l u i r, t o r n a d o o E s t a d o mais atrativo para novos inv e s t i m e n t o s ”, p r o j e t a a s e cretária de Estado de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti. A divisão dos recursos destinados pelos dois governos europeus prevê o fortalecimento institucional por meio de investimentos em ações já realizadas por Mato Grosso para combater o desmatamento e enfrentar as mudanças climáticas. Em 2019, o programa Rem Mato Grosso investiu na aquisição da Plataforma de Monit o r a m e n t o d a C o b e r t u r a Ve getal, que utiliza imagens da constelação Planet para monitoramento diário e de alta resolução espacial de todo Estado. O sistema detecta o início do desmatamento a partir de um hectare e envia alertas semanais dos indícios de desmatamento. A plataforma é utilizada pela Sema, Corpo de Bombeiro M i l i t a r, B a t a l h ã o d e Po l í c i a Militar Ambiental e demais órgãos parceiros. O monitoramento permite ação rápida dos órgãos ambientais e forças de segurança para cessar o desmatamento, além de permitir a autuação remota de 100% dos casos de d e s m a t a m e n t o i l e g a l . To d a s essas ações estão previstas na terceira fase do Plano de Ação para Prevenção Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais no Estado de Mato Grosso (PPCDIF/MT).
O REM segue todos os princípios e critérios da Convenção-Quadro das Naçõ es Unid as s obre Mud anças Climáticas na qual não ocorre transferência de créditos de carbono. Sendo assim, o Estado é premiado por reduzir suas emissões, mas sem afetar a contabilidade de carbono florestal do país, sem comprometer o cumprimento das metas estabelecidas no acordo de Paris, ratificado pelo congresso nacional em 2015. O contrato do REM Mato Grosso prevê recursos na ordem de 44 milhões de euros do governo da Alemanha por meio do Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), e o gover no do R eino Unido, por meio do Departamento Britânico para Energia e Estratégia Industrial (BEIS). A totalidade do recurso só será liberado se o estado se mantiver o desmatamento abaixo do limite, chamado de gatilho de performance, que é de 1.788 Km2/ano. A primeira parcela dos recursos foi liberada em dezembro de 2018. Os desembolsos serão realizados anualmente conforme a estratégia de pagamento por resultado. O Funbio é o gestor financeiro e operacional da iniciativa. Os recursos do Programa estão distribuídos da seguinte maneira: 60% para os subprogramas de agricultur a f a m i l i a r, p o v o s e c o m u n i dades tradicionais na Amazônia, Cerrado e Pantanal; territórios indígenas; e produção sustentável, inovação e mercados. Os demais 40% são destinados ao fortalecimento institucional de entidades governamentais do Estado e na aplicação e desenvolvimento de políticas públicas estruturantes. REVISTA 100% CAIPIRA |37
CERTIFICAÇÃO
A Coamo faz bem pra você: selo completa dois anos Fonte: Assessoria de Comunicação COAMO
Os Alimentos Coamo trazem consigo a marca da qualidade e da origem 38 | REVISTA 100% CAIPIRA
Isso porque são produzidos nos campos dos mais de 29 mil associados da cooperativa, que contam com assistência técnica em todas as etapas da produção. Além disso, a Coamo prima pela qualidade em todas fases da produção, desde a escolha da semente, à industrialização até a entrega deste produto. Por este motivo, para marcar esse diferencial que somente uma cooperativa tem, há dois anos, todos os Alimentos Coamo compostos das marcas Coamo, Primê, Anniela e Sollus, têm nas embalagens um selo indicativo com o seguinte texto: “A Coamo faz bem pra você. Produto de Cooperativa”. A iniciativa de demonstrar que os Alimentos Coamo são de uma cooperativa, partiu do resultado positivo de uma pesquisa encomendada pelo Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), ao Grupo Datacenso, que resultou na Pesquisa de Imagem e Posicionamento do C ooperativismo e suas marcas no Paraná, onde a origem e qualidade dos alimentos produzidos pelas cooperativas do Paraná foram reconhecidos pelo consumidor. O superintendente Comercial da Coamo, Alcir José Goldoni, afirma que essa divulgação voltada a demonstrar a origem dos Alimentos Coamo objetiva reforçar a confiança que o consumidor pode ter nos alimentos das marcas Coamo, Primê, Anniela e Sollus. “Estamos comprometidos com as tendências dos consumidores, que desejam estar muito bem informados sobre o alimento que estão consumindo. A Coamo tem origem desde a sua fundação, com um processo de qualidade que começa na escolha da semente que
será semeada no campo dos donos da cooperativa, até o momento da entrega da produção. Assim, com essa rastreabilidade dos Alimentos Coamo, temos a certeza de entregar um alimento seguro e com qualidade e sabor ao consumidor.” Para que a produção da semente seja realizada com perfeição, a Coamo conta com um corpo técnico de especialistas no assunto, conforme explica o superintendente Técnico da Coamo, Aquiles de Oliveira Dias. “Além de contarmos com mais de 280 agrônomos e m
campo, temos um grupo de profissionais que orienta cada cooperado de produção de sementes sobre a importância no processo de produção de sementes com qualidade para a Coamo. Essa qualidade só vai aparecer se o cooperado seguir orientações desde o plantio até a colheita. ” Destaca-se ainda o fato de que por meio de diversas certificações e sistemas implementados, é possível assegurar que os alimentos produzidos pela Coamo, têm origem. “Com base em sua visão e valores, a Coamo tem desenvolvido vários
processos operacionais e industriais que tem permeado em várias certificações, tais como: FSSC 22000 (Food Safety System Certification); GMP+B2 (Feed Safety Assurance - Holanda); GMP+B3 Internacional; PQC - Programa de Qualidade do Café da ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café na Torrefação de Café; e pela Kosher, que atestam que os alimentos foram produzidos dentro dos requisitos exigidos de qualidade”, explica o superintendente Industrial da Coamo, Divaldo Correa. O presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini, reforça que todo esse trabalho sempre fez parte da Coamo e que existe uma busca constante de evolução comercial e técnica, e os associados já estão conscientes dessa necessidade. “Em nossos eventos técnicos e reuniões de campo, sempre orientamos os associados, que a matéria-prima gerada no campo só agregará valor se for produzida dentro dos padrões de qualidade e sustentabilidade. Produzir alimentos é uma grande responsabilidade e, por isso, cumprimos essa tarefa com muita seriedade e comprometimento. Essa postura, o nosso quadro social adota há vários anos”, registra o presidente. PORTFÓLIO - Os Alimentos Coamo, comercializados por meio das marcas Coamo, Primê, Anniela e Sollus, contam com um amplo portfólio de produtos alimentícios que abrange: óleo refinado de soja, linha completa de margarinas, linha diversificada de gorduras vegetais, várias categorias de café e também uma linha diversificada de farinhas de trigo e misturas para pães e bolos. Todos produtos atendem a linha varejo e industrial, com qualidade, sabor e economia. REVISTA 100% CAIPIRA | 39
FLORICULTURA
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TRANSGÊNICOS
Não tem motivo para temer transgênicos, diz professora Crescente
aumento
da
população
mundial exige técnicas de edição
A professora emérita de bioquímica e biologia mol e c u l a r d a E s c o l a Té c n i c a Superior de Engenheiros Agrônomos da Universidade Politécnica de Madri (UPM) Pilar Carbonero afirma que não existem motivos para temer os transgênicos. Ela salienta que “o q u e e s t á a c o n t e c e n d o n a Europa com plantas transgênicas é uma esquizofren i a i n t o l e r á v e l ”. De acordo com ela, em 42 | REVISTA 100% CAIPIRA
2050, teremos 10.000 milhões de pessoas, o que representa um desafio muito importante de escassez de terras e água agrícola, com a necessidade de fazer duas safras por ano. Cabronero reconhece que esses desafios implicam a necessidade de se fazer um esforço em todos os níveis, não apenas agronômicos. “ Te r e m o s que modificar a fisiologia das plantas com toda a tecnologia
que temos à nossa disposição. A engenharia genética (biotecnologia) e a edição do genoma serão uma parte i m p o r t a n t e ”, a f i r m a a r e n o mada cientista espanhola. Ela diz que que estão sendo colocados obstáculos, tornando praticamente impossível para um fazendeiro europeu plantar transgênicos, enquanto grandes quantidades de milho e soja vão diretamente para alimentar moinhos e para alimentar gado. E defende a legislação baseada no foco científico no produto final e não na metodologia utilizada. Sobre os obstáculos na União Europeia, Carbonero reconheceu que, ao tornar o processo de autorização mais complexo a extremos intransponíveis, o mercado de biotecnologia agrícola foi relegado às multinacionais, uma vez que são os únicos que conseguem lidar economicamente, deixando de fora as pequenas e médias empresas que não suportam isso. Fonte: Agrolink
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BOVINOS DE LEITE
Preço do leite sobe na safra com pressão de produtos industrializados Com custo alto, a produção mineira de leite foi de 8,9 milhões de litros em 2019 - Crédito: Alina Souza/ Especial Palácio Piratini Mesmo em período de safra, a tendência do mercado do leite, em Minas Gerais, é de aumento dos preços. A alta vem sendo promovida pela valorização de produtos industrializados, principalmente o leite em pó e a muçarela. De acordo com o Conselho Paritário Produtores/ Indústrias de Leite do Estado de Minas Gerais (Conseleite-Minas), está previsto para a produção entregue em janeiro e paga em fevereiro um aumento de 1,6% nos preços do leite padrão no Estado, com cotação por litro de R$ 1,31. Porém, para que a alta seja sustentada ao longo dos próximos meses, será necessária uma reação da economia, o que é essencial para es-
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timular o consumo. Segundo o presidente da Comissão Estadual de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e coordenador do Conseleite Minas, Eduardo Pena, o setor está animado em função da tendência de alta em plena safra, quando, normalmente, é registrada desvalorização dos preços. O que provocou a reação nos preços, em janeiro, foram os aumentos verificados nos preços do leite em pó e da muçarela, produtos mais fabricados pelo setor lácteo. O quilo do leite em pó subiu de R$ 16,15, em janeiro de 2019, para R$ 16,95 em janeiro de 2020. Também foi verificada valorização dos queijos, prin-
cipalmente, da muçarela, que subiu de R$ 17,15 em janeiro de 2019, para R$ 18,62 no mês atual, por quilo. No período, somente o leite UHT teve o preço reduzido, caindo de R$ 2,36 para R$ 2,34 por litro. “Nós estamos na safra de leite, então, normalmente, é um período de maior oferta pela disponibilidade ampla de pastagem e, por isso, você tem preços em baixa. O que nos deixou animados é que, no momento de safra, o preço está com tendência de alta. O que precisamos entender é que, para a permanência da alta, a economia precisa reagir para estimular o varejo”, explicou. Ainda conforme Pena, as expectativas são positivas em relação à retomada da economia. “Esperamos
que a economia dê uma aquecida. Agora, teremos a volta às aulas e o consumo nas escolas aumenta. O mercado está melhorando e a expectativa é de um PIB maior. A economia voltando a crescer tem impacto direto no setor”, disse. De acordo com os dados do Conseleite Minas, a tendência para o pagamento de fevereiro, referente à produção entregue em janeiro, é de um avanço de 1,6%, com o litro de leite padrão calculado em R$ 1,31. O leite padrão tem teor de qualidade e volume definidos. A cotação mais alta, que depende da qualidade e do volume, pode chegar a R$ 1,64 por litro e a menor, a R$ 1,21. Custos elevados – Um dos principais desafios para o setor conti-
nua sendo os custos de produção, principalmente, com a alimentação do rebanho. “Hoje, os nossos custos estão elevados. Nós esperamos que, com a entrada da safra de milho, os custos caiam um pouco. O preço da soja também está mais alto, então, isso impacta diretamente no custo da produção. Além disso, os gastos com energia, salário mínimo e medicamentos ficaram maiores. Hoje, fala-se de custos entre R$ 1,10 a R$ 1,20. O produtor precisa estar com controle da gestão, porque a margem de lucro é muito pequena e qualquer alteração pode significar prejuízos”, explicou Pena. Com custos elevados e baixa rentabilidade, a produção de leite em Minas Gerais ficou abaixo da expec-
tativa. Em 2019, foram produzidos 8,9 bilhões de litros, mas a expectativa era de produzir cerca de 10 bilhões de litros. De acordo com Pena, o alto custo fez com que muitos produtores abandonassem a atividade. Outro fator que pode impactar na produção do leite, em 2020, são os preços do boi gordo próximos a R$ 200, o que estimulou a venda de animais em 2019. “Muitos produtores, que estavam com prejuízos, aproveitaram o mercado firme do boi gordo e venderam novilhas e vacas. Apesar dos preços não serem os mesmos do boi gordo, os animais estavam valorizados. Não sabemos o impacto ainda, mas vai desfalcar no futuro”, afirmou Fonte: Diário do Comércio Pena. REVISTA 100% CAIPIRA | 45
CAPACITAÇÃO
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RECEITAS CAIPIRAS
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SIDRA DE MAÇÃ CASEIRA INGREDIENTES
6 maçãs-verdes 6 maçãs argentinas bem vermelhas 1 laranja do tipo Valência 1 xícara de açúcar mascavo 1 noz-moscada inteira 4 paus de canela 1 colher de sopa de cravo-da-índia PREPARO 1. Lave bem as maçãs e a laranja e em seguida corte-as em quatro partes cada uma. Leve-as para a panela e adicione o açúcar. 2. Corte um pedaço médio de morim no formato de um quadrado e, bem no meio, coloque a canela e os cravos-da-índia. Com o auxílio de uma faca, corte a noz-moscada em lascas. Cuidado para não se machucar. 3. Feche o tecido com um barbante, formando uma trouxinha. Esse conjunto de especiarias vai dar o sabor especial à sua sidra. Coloque-a na panela com o restante dos ingredientes. 4. Adicione água mineral ou filtrada, o suficiente para cobrir todos os ingredientes. Tampe e deixe ferver por pelo menos uma hora até as frutas ficarem bem cozidas e macias. 5. Passado esse tempo, amasse-as bem com o amassador de batatas. Tampe a panela novamente e deixe cozinhar por pelo menos duas horas em fogo baixo. Em seguida, deixe esfriar completamente, e remova a trouxinha de especiarias. 6. Pegue uma vasilha grande coloque o coador com um pedaço de morim por cima (caso não o tenha, utilize um pano de prato ou um tecido mais fino limpo). Com o auxílio de uma concha transfira o conteúdo da panela para o coador. Depois, esprema bem com as mãos para sair todo o líquido. Coloque em um recipiente de conserva e deixe apurar por 30 dias.
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