Edição 56 100 por cento caipira fevereiro 2018

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www.revista100porcentocaipira.com.br Brasil, fevereiro de 2018 - Ano 6 - Nº 56 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

C U LT U R A CAIPIRA I N VA D E SAMBÓDROMO DE SÃO PAULO

Escola de samba Dragões da Real trás para a avenida a miscigenação de duas culturas; agronegócio e moda de viola no maior espetáculo do mundo

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Foto capa: Comunicação Dragões da Real

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Orgânicos: Leite orgânico obtém avanços no extremo oeste

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Feijão:

SAFRA DE VERÃO: Entrou muita água no feijão paranaense

Pesquisa: Pesquisa participativa cria bancos de sementes de adubo verde no Nordeste Pastagem: Oito dicas para o manejo do pasto no período das águas

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Artigo:

Cultura caipira invade sambódromo de São Paulo


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Análise de mercado: O agro “salvou a lavoura”

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Pragas e doenças:

Produtores da Serra Gaúcha ganham sistema de monitoramento de pragas

Gestão:

Cooperativas oferecem ágio de 26% para garantir milho Bovinos de leite:

Leite: quase um ano de preços em queda desanima produtor Receitas Caipiras: Palmito nativo grelhado REVISTA 100% CAIPIRA |

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ORGÂNICOS

Leite orgânico obtém avanços no extremo oeste Brasil, fevereiro de 2018 Ano 6 - Nº 56 Distribuição Gratuita

EXPEDIENTE Revista 100% CAIPIRA®

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Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional

O Leite Orgânico é um dos projetos que integram o Programa de Desenvolvimento Econômico e Territorial (DET) promovido pelo Sebrae/SC em parceria com os Poderes Púbicos municipais de 24 municípios do extremo oeste catarinense O Leite Orgânico é um dos projetos que integram o Programa de Desenvolvimento Econômico e Territorial (DET) promovido pelo Sebrae/SC em parceria com os Poderes Púbicos municipais de 24 municípios do extremo oeste catarinense. Implementada há três anos, a iniciativa vem apresentando importantes resultados. O projeto atende produtores que recebem apoio de técnicos de extensão, pequenas cooperativas, sindicatos e organizações não governamentais, visando um modelo sustentável de produção do produto. O projeto para o desenvolvimento do Leite Orgânico também conta com a parceria da Associação dos Municípios do Extremo Oeste (Ameosc) e outras entidades e instituições. O sistema adota baixos investimentos, uso racional de produtos externos e ênfase na produção a base de pasto perene. Entre as formas de manejo destaca-se o sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV), que está se consolidando em algumas propriedades e gera bons resultados técnicos, econômicos, sociais e no emprego de mão de obra. Para avançar mais ainda neste sistema, as famílias e organizações se preparam para comercializar o leite orgânico que vem sendo produzido. Hoje, já vendem o primeiro queijo orgânico 6 | REVISTA 100% CAIPIRA

de Santa Catarina, desenvolvido após as consultorias tecnológicas do Sebraetec – uma das soluções presentes no DET. “Somente no projeto da cooperativa foram atendidas 600 propriedades rurais de 12 cooperativas distribuídas em diversos municípios da região”, observou o presidente da Cooperativa Central, Moacir Bernardi. O coordenador regional extremo oeste do Sebrae/SC, Udo Trennepohl, lembra que o projeto de desenvolvimento do leite orgânico iniciou com a identificação das potencialidades existentes no setor, por meio de estudo, organização e planejamento para subsidiar e dar solidez às ações práticas da iniciativa. A cadeia produtiva do leite orgânico inclui os insumos para sua produção (alimentos e medicamentos permitidos), as indústrias exclusivas para transformação do leite (não pode haver na mesma indústria produção paralela), os insumos para a indústria de transformação (material de limpeza, coalhos, polpas, sal, etc.), produtos ofertados (leite, queijos de diversos tipos, Iogurtes, bebida láctea, entre outros) e fomento e assistência técnica para os vários segmentos. O DET que encerraria no fim de 2017 continuará em 2018 devido aos expressivos resultados nos municípios atendidos.

Diretor geral: Sérgio Strini Reis - sergio@ revista100porcentocaipira.com.br Editor-chefe: Eduardo Strini imprensa@ revista100porcentocaipira.com.br Diretor de criação e arte: Eduardo Reis Eduardo Reis eduardo@ revista100porcentocaipira.com. br (11) 9 6209-7741Conselho editorial: Adriana Oliveira dos Reis, João Carlos dos Santos, Paulo César Rodrigues e Nilthon Fernandes Publicidade: Agência Banana Fotografias: Eduardo Reis, Sérgio Reis, Google imagens, iStockphoto e Shutterstock Departamento comercial: Rua das Vertentes, 450 – Vila Constança – São Paulo - SP Tel.: (11) 98178-5512 Rede social: facebook.com/ revista100porcentocaipira A revista 100% Caipira é uma marca registrada com direitos exclusivos de quem a publica e seu registro encontra-se na revista do INPI Nº 2.212, de 28 de maio de 2013, inscrita com o processo nº 905744322 e pode ser consultado no site: http://formulario. inpi.gov.br/MarcaPatente/ jsp/servimg/validamagic. jsp?BasePesquisa=Marcas. Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião desta revista, sendo eles, portanto, de inteira responsabilidade de quem os subscrevem.


GOVERNO

Fonte: Assessoria de Comunicação Social MAPA

Mapa vai lançar plano para aumentar exportações de frutas O Brasil é o terceiro maior produtor do mundo, mas ocupa a 23ª posição no ranking de exportadores Está previsto para o próximo mês, o lançamento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Plano Nacional de Desenvolvimento da Fruticultura, com o objetivo de traçar uma política e estratégias de ação para o setor visando avançar na qualidade da produção, o aumento do consumo interno e das exportações. Há expectativa de que o Brasil dobre a produção em cinco anos e aumente em, pelo menos 50%, o volume de exportações em dois anos. O país ocupa a 23ª posição no ranking mundial de exportação de frutas, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), parceira na elaboração do plano. De acordo com o assessor da Secretaria-Executiva do Mapa, Ricardo Cavalcanti, “alguns gargalos impedem maior competitividade da fruticultura brasileira, por isso é importante a adoção de políticas de médio e longo prazos, compreendendo parceria público-

-privada em conexão com as demandas de mercado”. Se consideradas apenas as frutas frescas, os avanços dos últimos 15 anos alcançados pelas exportações brasileiras são pouco expressivas, observa Cavalcanti. A fruticultura brasileira é uma das mais diversificadas do mundo e a área de cultivo supera 2 milhões de hectares, gerando expressivo resultado em termos de geração de empregos no campo, na agroindústria, em toda a cadeia produtiva, no agroturismo e na esfera de fornecedores de insumos e serviços, além da renda nos mercados interno e externo. O setor de fruticultura é considerado prioritário no governo, tendo em vista o potencial exportador. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial nesse segmento, depois da China e da Índia, mas exporta apenas 2,5% do que produz. Em 2017, as exportações brasileiras somaram 784 mil toneladas de frutas, com divisas de US$ 852 milhões. Esse valor coloca o país atrás de outros

países latino americanos produtores de frutas como o Chile (US$ 4 bilhões) e o Peru (US$ 2,4 bilhões). O plano, elaborado por agentes públicos e privados, está assentado em dez tópicos: 1) Governança da cadeia produtiva; 2) Pesquisa, desenvolvimento e inovação; 3) Sistemas de produção; 4) Defesa Vegetal; 6) Marketing e comercialização; 7) Gestão da qualidade; 7) Crédito e sistemas de mitigação de riscos; 8) Legislação; 9) Infraestrutura e logística; 10) Processamento e industrialização. Participaram do plano associações de produtores, exportadores, processadores e fornecedores de insumos no ramo da fruticultura. Feijão Já está sendo elaborado um plano de desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Feijão, no mesmo molde do da Fruticultura. O objetivo é organizar a cadeia produtiva do grão e estimular a exportação do feijão, como o caupi. O lançamento está previsto para março. REVISTA 100% CAIPIRA |

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ARTIGO

Escola de samba Dragões da miscigenação de duas cultu viola no maior esp

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C u l t u r a caipira invade sambรณdromo de Sรฃo Paulo

a Real trรกs para a avenida a uras; agronegรณcio e moda de petรกculo do mundo Por: Adriana Reis

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Neste ano o sambódromo de São Paulo trará através da escola de samba Dragões da Real a vida do homem do campo e suas culturas com o enredo “Minha música, minha raiz! Abram a porteira pra essa gente caipira e feliz!”. Com apenas 17 anos de existência a escola que foi vice-campeã do carnaval de 2017 trás para este ano seu maior carnaval com 2800 componentes e o cantor Sérgio Reis como padrinho do enredo e a cantora Roberta Miranda como embaixadora do enredo. A escola apresenta a explicação do enredo de forma simples e humilde que abrange a todos que estão envolvidos com a cultura caipira “A origem da explosão musical que leva multidões de pessoas pelos palcos de todo o Brasil, já foi vista pejorativamente como “música rural”, “do campo” e popularmente como Música Caipira. Com seu jeito simples de contar e cantar a vida, as modas de viola saíram do campo e festas religiosas e ganharam o mundo. É através da Música Caipira que o homem simples do campo expressa seus sentimentos e conta seus “causos” e histórias. Hoje o carnaval se rende a esta manifestação musical que ganhou o mundo com suas melodias e letras peculiares, vem cantar e contar, as origens, conquistas e vitórias da Música Caipira.” e para os admirados desta cultura tão rica. Desta forma a revista 100% Caipira não poderia deixar de registrar este momento único para a cultura caipira, por isso fomos conferir pessoalmente e aproveitamos e entrevistamos o diretor de carnaval e historiador Márcio Santana, confira abaixo a entrevista: Revista: - A logomarca do carnaval deste ano é uma viola caipira, instrumento que não é utilizado no ambiente do samba, como foi esse processo? Márcio: - Esse logotipo carrega um pouco da identidade da escola. Uma das principais marcas da escola é ser reconhecido como a escola de gente feliz, então essa demarcação de gente caipira e feliz é a junção da felicidade da comunidade da Dragões da Real com o jeito caipira de ser, então a construção da identidade da logomarca passa pela junção dos costumes. 10 | REVISTA 100% CAIPIRA

R: - Como a Dragões escolheu o tema deste ano e como foi a votação do enredo? M: - A escola vem com um enredo autoral e histórico, então o nosso enredo tem muitas passagens históricas dentro do que é a música caipira, mas ao mesmo tempo tem a liberdade autoral que eu preservo dentro do caráter artístico dos meus carnavalescos. Hoje a comissão de carnaval da Dragões é formada pelo Márcio Gonçalves, Dione Leite e Rogério Felix que são os três pilares da criação, são as três bases da idealização deste projeto, tanto que até a proposta de enredo, a construção de enredo é deles, e eu como diretor de carnaval sou o gestor do projeto. A Dragões, ela tem uma característica que é a abertura democrática de escolha de enredo. A escolha de enredo é feita dentro da cúpula da diretoria, então o primeiro passo é a gente entender isso. O que é a cúpula da diretoria? É o presidente, o vice, o diretor de carnaval, o diretor de planejamento e o diretor financeiro, juntamente com os seus carnavalescos. A votação, ela se deu a partir do que tivemos em 2017. Em 2017 a Dragões da Real veio falando da música “asa branca”, e a gente viu o quão rica é a essência brasileira, então a escolha da música caipira ela se dá a partir do encontro que nós tivemos com a cultura interiorana em 2017, então a gente pode dizer sim que é a continuação de um projeto, é claro, um novo projeto com características diferentes, mas dentro de uma proposta que já havia se estabelecido em 2017. R: - Com dois ritmos tão unicamente brasileiros, qual foi a expectativa em relação a aceitação deste enredo pela comunidade? M: - A aceitação ela foi imediata, porque a gente vinha de um enredo carregado de emoção, de muito sofrimento, muita identidade, de seca, de algo muito rústico pra algo extremamente alegre, então a nossa comunidade ela estava carente já, ela tinha essa necessidade, então a música caipira retratada é uma referência de alegria, então tão logo foi apresentada, a comunidade abraça o enredo e passa a se identificar com ele, tanto que logo em seguida a gente já via

Foto: Arquivo Dragões da Real

a presença de grupos com vestimentas características do caipira, é uma comunhão mesmo. A partir do momento que a gente faz a escolha, que a gente apresenta pra escola e a aceitação ela se dá de forma imediata como foi, o projeto deslancha. R: - É sabido que o agronegócio atualmente é o arrimo da economia brasileira e a música caipira é a trilha sonora do trabalhador rural, isto influenciou na escolha do enredo, e se foi como os integrantes da escola viram a importância do tema que é a realidade na mesa de todos os brasileiros? M: - Essa parte ela tão era sabida pela escola quanto da escolha do enredo que ela vem descrita dentro do nosso projeto visual, quem assistir o desfile da Dragões da Real verá muito da presença do agronegócio, verá muito da presença, desse convívio entre a música, o homem do campo e suas produções, até porque elas são elos muito próximos, se a gente pegar por exemplo todo o nosso primeiro setor que vai falar da inspiração pra música caipira a gente vai ter a certeza de que a música caipira é inspirada pelo lidar com a terra e automaticamente a gente acaba encontrando uma cofluência entre o agronegócio e toda essa seção. R: - Além do prazer e orgulho de levar este espetáculo maravilhoso para


todos, qual sentimento de homenagear a cultura caipira que está presente na maioria das famílias interioranas e nas nossas origens? M: - Acho que a palavra que marca muito claramente isso dá é resgate. Resgate de uma identidade que a muito vem se perdendo, o nosso projeto de carnaval ele é esse resgate de identidade. Boa parte de nós integrantes da escola temos as nossas origens interioranas. Eu acho que a grande identidade caipira ela se dá também por conta do avanço interiorano, quanto mais se avança ao interior, mais se expande a idéia da cultura caipira. Você pega anterior a década de 1960, 1970, por exemplo, os redutos caipiras ainda eram São Paulo, Paraná, aí começa a se expandir para Mato Grosso, Goiás, então conforme vai se desbravando o interior do Brasil a cultura caipira também ela vai se expandindo dentro desse interiorano. São Paulo é o berço da cultura caipira. R: - O estado de São Paulo é tão caipira quanto o interior de qualquer cidade brasileira. Em diversos lugares do estado você encontra um rancho ou um bar caipira que cultuam a música de raiz, por exemplo, o município de Osasco é por lei considerado como “capital da viola”, claro que existe toda uma história antiga que envolve esse grande título, mas muitas pessoas que não conhecem a cultura caipira não faz idéia da grandeza num estado tão urbano. R: - Qual reação é esperada na platéia do sambódromo de São Paulo tendo a viola caipira como base do samba? M: - Primeiro a emoção. Levar ao público a idéia de um violeiro que toca o coração, então essa é a nossa primeira expectativa, é ganhar o público por meio de uma ação emocional, da qual a gente vai emotivar o nosso público, vai emocionar e principalmente vai trazer também a garra. A garra do caipira que não desiste nunca, porque se um ano não é bom de colheita, não vamos desistir, vamos tentar o próximo que será, então é essa idéia de força, essa idéia de garra mesmo que a gente quer trazer pra avenida. R: - Quais foram as sugestões do cantor Sérgio Reis e como foi o encon-

tro com ele? M: - O encontro do Sérgio Reis..., O Sérgio Reis, “são coisas que assim”, eu costumo dizer que são os deuses do carnaval que colocam no lugar certo, na hora certa. Esse ano a nossa escola optou por fazer uma troca dentro do quadro de profissionais, que era a contratação de uma nova coreógrafa pra comissão de frente, que é a Roberta Melo. A Roberta não sabia da nossa escolha de enredo, nós nem tínhamos definido ainda a escolha de enredo quando apresentamos a proposta pra ela e descobrimos que ela era uma amiga de longa data do Sérgio Reis e que ela é uma militante, e uma assídua bailarina do mundo sertanejo e da música caipira. Tão logo ela viu o título do nosso enredo e a proposta de enredo, ela abraçou a causa e fez a aproximação entre a escola e o Sérgio Reis. Aproximação que até nos surpreendeu porque tão logo foi feita a apresentação do projeto pra ele, ele abraçou o projeto como dele. Hoje a gente pode dizer que o nosso maior representante do enredo é o Sérgio Reis, dentro do mundo caipira, até porque, apesar da gente estar levando pra avenida o mundo caipira existe ainda as distinções, meu público ele é um público de carnaval, um público sambístico, agora o Sérgio Reis ele trouxe o público caipira pra dentro do samba, então hoje ele é muito da identidade do nosso enredo, ele é sim o portador da nossa representatividade dentro do mundo caipira. R: - Atualmente há um grande número de jovens que viraram adeptos à viola caipira, o tema: “Minha música, minha raiz!”, na sua opinião, isto vai incentivar ainda mais os jovens a fortalecer a cultura caipira? M: - É o resgate de identidade, uma escola de samba tem que ter o seu compromisso social e esse é o nosso objetivo quando a gente escolhe o enredo. O nosso compromisso social com o resgate de identidade passa também pelo resgate cultural, se pudermos e assim conseguirmos contribuir com a expansão da procura pela música caipira, com a expansão da viola caipira e de todos os costumes a gente fará o máximo, até porque o objetivo a todo custo é digni-

ficar a cultura do caipira na sua plenitude, então um dos nossos objetivos sim é que os frutos desse carnaval siga por longos anos, assim como a gente fez o ano passado com a discussão da seca, com a discussão do sofrimento, da imigração que também são temas bem pertinentes ao dia a dia. Adriano Pera, diretor de comunicação observou neste momento que, já houve mudanças no seu dia a dia com a influência da música sertaneja em sua família por conta do tema do enredo deste ano, retratando que esse resgate gerará muitos frutos vindouros. R: - Quando nos referimos a influência dos jovens, exatamente pensando num todo, na grande responsabilidade que uma escola de samba tem, já que o carnaval não é uma comunicação regional e sim uma comunicação internacional, sendo transmitida pra todo o Brasil, trazendo gente do Brasil e do mundo inteiro para assistir o espetáculo, como a Dragões recebe essa responsabilidade? M: - Pois é, se eu não me engano foram 130 países que assistiram a última transmissão do carnaval, de 2017. É uma responsabilidade muito grande, ter um veículo em massa dessa proporção e passar a imagem errada, a mensagem errada. A mídia hoje é uma orientação. E isso é uma das preocupações, até dentro das concepções que a gente vai Foto: Arquivo Dragões da Real

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levar pra avenida, porque quando eu estou levando a história de alguém eu tenho que levar com muita responsabilidade, com muita verdade, se eu levo com mentira, se eu levo com omissões eu pago o preço disso tudo lá na frente, então a escolha do nosso enredo ele foi pautado nisso, por isso que é um enredo autoral e histórico, ele é um enredo que vem mesmo preservando essas características históricas de identidade, de respeito e até em alguns momentos de resgate, que é aquilo que é a preservação de identidade a resgatar mesmo, porque as vezes as coisas elas vão caindo no esquecimento e a gente tem um papel social de resgate. R: - Do samba à moda de viola raiz, é a primeira vez que um gênero musical homenageia outro e qual a grandeza desta homenagem para a arte brasileira? M: - São culturas tão diferentes e ao mesmo tempo tão próximas, eu acho que o maior legado disso tudo, pelo menos pra nós que estamos vivendo essa realidade, é sem dúvida nenhuma o respeito e a tolerância, porque dentro das nossas características sambísticas a gente aprende, a gente resgata, a gente respeita e a gente tolera, então por se tratar de algo constante do carnaval que a gente faz caminhos inversos. A escolha da comissão do projeto ela se deu pautada acima de tudo em respei-

Foto: Arquivo Dragões da Real

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to aquilo que a gente ia apresentar. Do qual eu acredito que vocês como defensores da cultura caipira, defensores das raízes caipira, vendo nosso projeto tem a certeza de que o máximo de respeito foi colocado nesse projeto. A nossa escolha de enredo ela vai de encontro a desmistificação do preconceito, porque a gente conseguiu aproximar dois povos que caminham por estradas diferentes, mas que agora estão juntos defendendo aquilo que é a base, que é a cultura brasileira. O carnaval é uma grande peça de teatro em movimento, cada fantasia é um personagem, cada alegoria é um cenário. R: - A composição de um samba enredo é um desafio muito maior do que a composição de uma música, já que a música tem toda a liberdade poética, como que se constrói um samba enredo? M: - O projeto de uma escolha de um samba enredo ele é diferente de um processo de composição de uma música, porque a música você tem toda a liberdade poética, todos os devaneios, todos os sonhos e toda a inspiração que cai sobre você naquele momento e você constrói a sua composição, já o samba enredo tem obrigações técnicas. Como funciona? A escola ela lança o enredo e constrói uma sinopse. Essa sinopse é onde estão todas as obrigações técnicas que a escola tem. É na sinopse que está tudo aquilo que eu vou mostrar na avenida, então o compositor quando vai compor um samba enredo, ele tem que se apegar a sinopse e cumprir as obrigações técnicas, então ele na verdade vai encontrar recursos pra ele de encontro com a sinopse e a necessidade musical, então ele faz muitas vezes uma adequação, uma junção entre um e outro. Quando o compositor de samba enredo ele tem essa necessidade e assim cumprindo criativamente, é óbvio, que tem sim a questão da inspiração, melodia, tem a questão da inspiração, da escolha, de cada caminho a ser seguido, é que a gente constrói o samba enredo, então eles buscam as influências por exemplo: pra uma apresentação, a inclusão de um berrante, a inclusão de uma viola, coisas que não são típicas do ambiente sambís-

tico, não são instrumentos que compõe a musicalidade sambística, mas que se integram em razão da necessidade que ele tem de traçar um novo caminho, um caminho a partir do enredo, então é aí que tem mesmo essa construção do samba enredo. Saber encaixar cada pecinha desse quebra-cabeça com muita musicalidade, com muita alegria, e de forma natural, não pode ser algo imposto, as pessoas tem que ver isso com naturalidade. R: - A cultura caipira é muito rica, o agronegócio esta na mesa de todos, como a Dragões da Real conseguiu reunir tanta informação, tanta cultura e como tudo isso será apresentado na avenida? M: - A Dragões pro desfile criativamente escolheu dividir a escola em cinco setores, que chamamos de cinco modas de viola. A primeira moda de viola é a inspiração, é aquela que vai dar origem a musicalidade, é o inicio de tudo. A primeira ala que a gente vem representando é o primeiro som do dia a dia do caipira, é o galo cantando, atentando-se a letra, a gente tem o galo canta inspirando a melodia, posteriormente a gente vem com nosso primeiro casal que é o encontro entre o zangão e o girassol, o processo de polinização, só quem é do interior que consegue ouvir o bater das asas de um zangão, é quase que um bailado hipnotizante. A segunda ala que é a representação dos pardais, ele é o pássaro que recebe o homem no campo, quando o trabalhador rural chega ao campo uma revoada de pardais acontece, e esse bater das asas também é o encontro da musicalidade, então é a terra dando origem a música, é a música nascendo da terra, isso eu não ensaiei, isso eu não desenhei, foi a natureza que nos trouxe, nos presenteou. Em seguida temos nosso abre alas, o nosso abre alas é o primeiro carro da escola, ele vem sendo caracterizado como um grande rancho, é o rancho fundo, é a morada da melodia, é a morada da música. A segunda moda de viola eu vou buscar o cotidiano, porque é o encontro da musicalidade com os primeiros versos, as primeiras músicas caipiras elas cantam a vida do caipira, o dia a dia, seja na ali-


mentação, seja no trabalho, seja nos amores, enfim, seja na religião, então ele está falando o que ele vivencia, então a minha segunda moda de viola é o cotidiano que vem da seguinte forma para a avenida, vem primeiro retratado como o ouro negro que é o feijão, além disso eu venho com o florescer da laranjeira, que é símbolo de pureza que é o que representa o meu segundo casal. Aí eu venho com a minha ala de baianas, a ala de baianas é a base estrutural, em toda a escola a ala mais respeitada, mais cultuada é a ala de baianas, porque o samba nasce a partir de “tia Ciata”, a partir de um terreiro, a partir de uma baiana, então as baianas elas serão sempre as maiores representações, será sempre aquele olhar de respeito e no nosso enredo desse ano o nosso olhar de respeito ele vem configurado como o véu de noiva, véu de noiva expressão caipira para a florada do algodão, elas vem fantasiadas de algodão em florada, representando leveza, pureza, brilho, beleza, é através dessa linguagem alegórica que eu vou representar a pureza das minhas baianas, a pureza dessas senhoras que desfilam por amor ao pavilhão, que não se furtam de ensaiar na chuva, no sol. É o encontro cultura. E a próxima ala são os espantalhos, que serão representados pela bateria, porque os espantalhos são os zeladores do campo, nesse caso a bateria ela entra em desfile e depois fica estática, é a única ala da escola que fica parada o desfile inteiro, então eles serão os zeladores da nossa escola, eles vão ficar vigilantes quanto a passagem de toda a escola, fica estático recebendo a escola que está passando. Normalmente a gente tem espantalho no milharal, a natureza da o tom do meu destino, o milharal frutificado é o milagre da natureza personificada, dali sairá sabores e costumes, porque o milho ele não dá só o sabor, ele dá costumes, pamonha, cural, sorvete, pipoca, ele dita um milagre da natureza. Seguindo, eu tenho a jóia do campo, que é o trigo, a jóia do campo por conta da sua cor dourada no período de colheita, o dourado personifica a medalha de sucesso de qualquer plantação, um campo dourado a ser colhido é a representação do sucesso den-

Foto: Arquivo Dragões da Real

tro da lavoura. E depois, assim como nosso samba “da varanda, um tempero me convida” que o que é mais característico dentro do caipira do que o café de bule, café de coador, é o que a gente vai trazer representados ainda na cor vermelha, que é uma das variações de cores do café em fruto, e aí, a minha segunda alegoria que é o segundo cenário, que é uma locomotiva de sabores que saí do interiorzão e toma as cidades, porque é assim que os sabores chegam nas cidades. Os costumes caipiras eles chegam nas cidades pelas estradas de ferro, e aí essa locomotiva é uma grande brincadeira, caracterizada em cima de dormentes feitos de fogão de lenha, com uma espiga de milho, abóbora e um grande espantalho agora se sentando a

mesa, porque o espantalho vivo é o próprio lavrador do dia a dia, é ele que espanta, então é ele que se senta agora a mesa pra consumir os costumes, pirão, bolo, pão. A terceira moda de viola é a cultura, quando a música começa a ganhar ares, começa a crescer e isso se dá de algumas formas bem claras, a primeira que a gente escolhe é o picadeiro, o primeiro palco da música caipira é o chão batido do circo do interior. Cornélio Pires é a base de muito da nossa pesquisa histórica, e aí as companhias circenses que dão a visibilidade de que a música precisa, mas tem uma questão, antes mesmo dela ser circense ela é religiosa, é a coroação da fé. E aí esse encontro entre a música e religião a gente vai retratar com a pesca milagrosa aonREVISTA 100% CAIPIRA |13


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o movimento atual da música caipira, invadindo ao ambiente do erudito, afinal o teatro ainda hoje é considerado a casa do erudito e que está sendo invadida pelos movimentos caipira, citando as peças encabeçadas por Michel Teló, Sérgio Reis, Fernando e Sorocaba, assim o erudito se rendendo ao caipira e depois a representação da coroação do sucesso. O sucesso do caipira se dá pela conquista do disco de ouro, a música caipira é receita de sucesso a partir do momento que ela é reconhecida como disco de ouro, e nesse grande palco a gente rende homenagem a Roberta Miranda, que vem compondo a alegoria, vem na frente do carro como principal destaque. A quinta moda de viola é o mundão sem porteiras que é a música caipira invadindo espaços que não pertenciam a ela e tomando mesmo o lugar, então mesmo hoje o sertanejo universitário ele vai cantar uma música caipira, a gente vem com essas referências imortalizadas, a primeira é o fuscão preto, que é a identidade de muitos grandes shows hoje ainda passa por essas músicas, não só músicas, a gente teve pessoas também, por exemplo, muito se fala hoje no estilo ostentação de Milionário e José Rico, com seus cordões de ouro, ditando um estilo muito característico. Depois a gente vem embalado por “Fio de cabelo” que ditou moda também, posteriormente a gente vem com a boate azul, a história das desilusões amorosas que a gente representa Adriano Pera e Márcio Santana

Foto: Revista 100% Caipira

de a minha viola se torna um altar de Nossa Senhora, santa de devoção para 100% dos caipiras, essa é a viola em altar, é o encontro da cultura caipira com a religiosidade com a devoção a Nossa Senhora, assim a gente tem a pesca milagrosa, logo em seguida temos uma ala que é uma representação da comunidade sobre a festa junina e logo depois o padroeiro dos violeiros que é São Gonçalo, onde eu venho com “fui a voz do coração”, porque é o estilo caipira de tocar a viola, encostada no peito, é como se ele estivesse cochichando os sons da viola pra dentro do coração, essa representação é um elo de fé e devoção, aproximando a música mesmo do coração, então a minha terceira alegoria que é o encontro disso tudo, aonde eu tenho um coreto de praça que é o principal palco da cidade , a partir dali eu tenho uma grande capela em volto a balões juninos que darão esse ar de festa e de elo entre religião e show. A quarta moda de viola, que fala da moda caipira que durante muito tempo a moda caipira foi vista como algo brega, e com o passar do tempo com a imponência da música esta passou a ser vista como algo a ser copiado, algo a ser exaltado, então a moda caipira ganhou uma importância junto com a música caipira, assim a primeira ala que eu levo são “as comitivas”, é a ala Brasil à dentro que virá com várias bandeiras de estados que representam muito da cultura caipira ainda hoje, o estado de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, enfim, os grandes redutos hoje da música caipira, e a partir disso que a gente justifica no nosso samba enredo “cruzei fronteiras por este mundão”, desta forma na identidade seguinte eu já venho com a estética atual que é uma moda de respeito, aliás eu também uso essa expressão dentro do meu samba enredo “fui me tornando uma moda de respeito”, hoje é respeitada, eis que vem a ala do chique e do brega que é também a personificação do filme, aqui já começa a sofrer influências do americano, com suas vestimentas (fivelas, chapéus), daí eu venho com o OSCAR caipira, primeiro uma representação a Mazzaropi e após com o filme “Dois filhos de Francisco”. Adentrando então no teatro que é

com nossas passistas, elas vão entrar sambando sobre o sofrimento dos corações partidos, depois a gente não poderia deixar de fora a presença da “majestade e o sabiá”, também uma representação muito forte e por último a ala comitiva da Dragões. A nossa comissão de frente vem representando um ar caipira, o lar, aonde nasce a música caipira, nesse carro estarão aqueles personagens imortalizados pela música caipira, esses personagens a gente vai representar por Tonico e Tinoco, Inezita Barroso, Tião Carreiro e aquele ícone que ainda está vivo representado pelo Sérgio Reis. E aí o Sérgio Reis vem como uma proposta final mesmo de um grande paizão ainda da música caipira que a gente trás pra avenida. E com essa maravilhosa homenagem ao mundo caipira que podemos perceber com maior intensidade que o samba e o caipira tem tudo haver com uma só cultura, com um só povo unidos por uma causa que é trazer alegria e cultura a todos os brasileiros e todos os amantes do carnaval e de um grandioso evento como o que é. Nossa raiz é agro, nossa raiz é caipira. Aproveito e convido a todos a assistirem o desfile da Dragões da Real que acontecerá no dia 10/02 – sábado, e será a penúltima escola a desfilar e para isso vamos aprender o enredo da escola que é nosso, é caipira, é samba de gente feliz com certeza:


MINHA MÚSICA, MINHA RAIZ. ABRAM A PORTEIRA PARA ESSA GENTE CAIPIRA E FELIZ Compositores: Armênio Poesia, Xandinho Nocera, Léo do Cavaco, Ronaldo Maransaldi, Renne Campos, Paulo Senna, Alemão do Pandeiro, Fabio Brazza, CG e Wagner Rodrigues Eu sou caipira pirapora sim, sinhô! Venho de longe pra mostrar o meu valor “Chora viola”, vamô simbora! Abre a porteira que a Dragões chegou! O galo canta, inspirando a melodia Uma linda sinfonia onde mora o sabiá A natureza dá o tom do meu destino Feito um sonho de menino Sou raiz deste lugar E nessa longa “estrada da vida” A enxada na lida, o suor na plantação Da varanda, um tempero me convida Tô chegando, mãe querida Bota lenha no fogão! Nos lugares que passei (que passei!) Fui a voz do coração (coração) Embalei a “Romaria”, na divina cantoria E a fé na procissão “Ainda ontem, chorei de saudade” Cruzei fronteiras por este mundão Fui me tornando uma moda de respeito Orgulho no peito, chapéu na mão Vi “Evidências” num “Fio de Cabelo” Um violeiro se emocionar “Tocando em Frente” segue a “Galopeira” No “Rancho Fundo” à luz do luar “É o Amor” dessa gente feliz que não pode faltar! REVISTA 100% CAIPIRA | 15


FEIJÃO

SAFRA DE VERÃO: Entrou muita água no feijão paranaense A sequência de dias chuvosos por todo o Paraná, que atravessou o Natal e o Ano Novo, não fez bem à primeira safra de feijão no estado Fonte: Gazeta do Povo

Na principal região produtora, nos Campos Gerais, cerca de 25% das lavouras estão atualmente em condições ruins, justamente no momento crítico de maturação e colheita dos grãos. Avaliação - Cautelosa, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) diz que apenas agora, com solo mais seco, irá a campo para ouvir produtores, cooperativas e assistência técnica e avaliar a extensão das perdas em termos de produtividade e qualidade do produto. Mas o próprio relatório semanal do Departamento de Economia Rural, da Seab, adianta que o índice de lavouras em más condições chega a 30% em Campo Mourão e Pato Branco, e 25% na região de Ponta Grossa. O Paraná é o principal produtor de feijão no país e responde por 22,5% da produção nacional, segundo o IBGE. Mercado - “Como o feijão tem um mercado extremamente especulativo, qualquer notícia que for dada agora quanto à extensão das perdas de produtividade e qualidade pode prejudicar tanto o produtor como o consumidor. 16| REVISTA 100% CAIPIRA

Nos próximos dias estaremos fazendo essa avaliação”, afirma Francisco Simioni, diretor do Deral. Reação - O mercado, no entanto, já reagiu aos estragos da chuva, com os preços ao produtor subindo até 30% em relação aos valores praticados antes do Natal e chegando a R$ 110 a saca de 60 kg do feijão carioca, em Ponta Grossa. Cobertor curto - Na avaliação de Marcelo Lüders, do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), a alta do feijão carioca – que domina 65% do mercado brasileiro – só deve ser percebida pelo consumidor a partir dos meses de fevereiro e março, quando a oferta da safra nova já não for tão grande. “A entressafra será em abril e maio. Quando ocorre uma perda como essa, o cobertor fica mais curto, e o volume acaba não sendo suficiente para cobrir toda a demanda”, pondera. Recuperação dos preços - Por outro lado, diz Lüders, a recuperação atual dos preços ocorre ainda sobre uma base muito baixa, próxima ao mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 82,96 para

o feijão carioca e R$ 76,50 para o feijão preto. “O Ministério da Agricultura, inclusive, já sabia do problema dos preços baixos e ia solicitar recursos ao Ministério da Fazenda para garantir os preços mínimos. Mas agora não será necessário, diante desta situação de perdas por causa do clima”, aponta Lüders. Prática comum - Uma prática comum da colheita, no Paraná, é cortar o pé de feijão e deixar os grãos secarem alguns dias ao sol, antes de fazer a debulha. Em várias propriedades, foi nesse momento que a chuva dos últimos dias se abateu, impedindo o recolhimento dos grãos, que acabam germinando ou ficando “chuvados” (com excesso de umidade). “O que preocupa, é que o pessoal do clima está apontando algo como 20 dias de chuva durante o mês de janeiro, o que seria terrível para a produção paranaense, porque cerca de 70% será colhido entre janeiro e fevereiro. Se continuar a chover, daí sim a situação poderá ser muito grave”, conclui o diretor do Ibrafe. Atraso - O excesso de chuva trouxe também algum atraso ao desenvolvimento das principais culturas da safra de verão no Paraná, milho e soja, que mesmo assim encontram-se 88% e 86% em boas condições, respectivamente. Não houve estragos que não possam ser recuperados, segundo Simioni, do Deral. “A chuva forte provocou erosão e lixiviação da adubação em algumas áreas, arrebentou curva de nível e fez sulcos na plantação. Mas dentro de uma normalidade de clima, seguindo as orientações da assistência técnica e fazendo os tratos culturais, os produtores podem recuperar tranquilamente essas lavouras”.


FRUTICULTURA

Safra de uva para indústria declina

A safra gaúcha de uva deverá atingir 600 mil toneladas para processamento industrial em 2018, queda de 20,3% se comparada ao recorde de 753 mil toneladas registrada no ano passado, estima o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) O R i o G r a n d e d o Su l é re s p on s áv e l p or 8 5 % d a pro du ç ã o br a s i l e i r a d e u v a s e v i n h o s e d e u i n í c i o à c o l h e it a n a s e g u n d a qu i n z e n a d e d e z e mbro, du a s s e m a n a s a nt e s d o h a bitu a l . E m n ot a , o I br av i n e x p l i c a qu e “a s c on d i ç õ e s c l i m át i c a s e o m a n e j o a d e q u a d o re a l i z a d o a o l on g o d o s m e s e s e s t ã o prop orc i on a n d o à s u v a s b o a qu a l i d a d e e n í v e i s a lt o s d e g r a du a ç ã o d e a ç ú c a r”, o qu e d e v e g a r a nt i r a q u a l i d a d e d a s b e bi d a s pro du z i d a s a p a r t i r d a s uvas colhidas nesta safra. “D e v i d o à s re g u l a r i d a d e s d a s c hu v a s e à s u v a s e s t a re m a m a du re c e n d o c om c l i m a m a i s s e c o,

v a m o s t e r u m a e x c e l e nt e qu a l i d a d e”, av a l i a o pre s i d e nt e d o I br av i n e d a Fe d e r a ç ã o d a s C o o p e r at i v a s Vi n í c o l a s d o R i o G r a n d e d o Su l ( Fe c ov i n h o / R S ) , O s c a r L ó. C on f or m e o i n s t itut o, a s v a r i e d a d e s b ord ô, n i á g a r a , v i o l e t a , c on c ord , pi n ot n oi r e c h a rd on n ay f or a m a s pr i m e i r a s a s e re m c o l h i d a s n o E s t a d o. Ne s t e m ê s , a s v i n í c o l a s e s t ã o re c e b e n d o t a mb é m a s u v a s m e r l ot , r i e s l i n g it á l i c o e g l e r a , e e m f e v e re i ro e m a rç o s e r á a v e z d a s c a b e r n e t s au v i g n on e f r a n c , t a n n at , m o s c at o br a n c o, i s a b e l e t re b bi a n o. E m re l at ór i o, a E mpre s a d e

As s i s t ê n c i a Té c n i c a e E x t e n s ã o Ru r a l d o R i o G r a n d e d o Su l ( E m at e r / R S ) proj e t ou a pro du ç ã o d e 7 2 0 m i l t on e l a d a s , i n c lu i n d o a u v a p a r a pro c e s s a m e nt o e c on s u m o i n n atu r a . S e g u n d o o e n g e n h e i ro a g rôn om o d a E m at e r / R S - As c a r, E n i o  n g e l o To d e s c h i n i , 2 0 1 7 re g i s t rou ap e n a s 1 8 8 h or a s d e f r i o a b a i x o d e 7 , 2 º C e m B e nt o G on ç a l v e s , a b a i x o d a m é d i a h i s t ór i c a d e 4 1 0 h or a s . “A l é m d i s s o, a a lt a pro du ç ã o d e f r ut a s n a s a f r a p a s s a d a i mp ô s u m c on s u m o d e nut r i e nt e s a l é m d o p ot e n c i a l d e re p o s i ç ã o d a p l a nt a , d e i x a n d o - a e x au r i d a p a r a o c i c l o s e g u i nt e”, av a l i a . Fonte: DCI REVISTA 100% CAIPIRA |17


NUTRIÇÃO ANIMAL

5 dicas para gerenciar a dos ruminantes e evitar m

Alguns cuidados são essenciais no manejo dos alimentos fornecidos ao gado de corte e leite, a fim de reduzir impactos das toxinas na produtividade e na rentabilidade das propriedades 18| REVISTA 100% CAIPIRA


as micotoxinas na dieta múltiplas contaminações A combinação de supersafra, as adversidades climáticas como chuva excessivas ou seca, as cotações instáveis e o espaço reduzido para armazenagem dos grãos podem ser prejudiciais para a qualidade dos insumos utilizados na alimentação animal. Se estocado de forma incorreta, os ingredientes utilizados na dieta dos animais podem desenvolver fungos e, consequentemente, as micotoxinas, que interferem na eficiência dos animais no confinamento ou na criação a pasto. Atualmente são conhecidas mais de 500 tipos de micotoxinas e o risco está na interação entre elas, o que pode potencializar as perdas de rentabilidade e desempenho no campo. No caso dos bovinos, a múltipla

contaminação é ampliada devido a utilização de forrageiras (pastagem, feno, silagem), alimentos fermentados (silagem de grão úmido) e subprodutos na dieta, que representam um risco considerável para o gado. O nível de contaminação dependerá das condições do solo, da data de colheita da forrageira, do controle dos processos de ensilagem, da origem dos grãos e subprodutos e sua estocagem na fazenda. “Segundo estudo conduzido no APTA Colina/SP, a perda de desempenho de animais confinados expostos à contaminação por micotoxinas pode chegar a uma redução de 150 gr de carcaça/animal/dia, o que reduziria a lucratividade do produtor em aproximadamente R$ 100,00 no período de

confinamento", explica Gustavo Siqueira, Pesquisador do Apta Colina/SP. Produzidas por fungos, as micotoxinas são substâncias tóxicas e podem causar problemas diversos, como a redução de ingestão de alimento, queda na imunidade, diarreia, lesões hepáticas ou intestinais, infertilidade, redução no crescimento e até morte dos animais. “Nos últimos dois anos, as forragens armazenadas tiveram um aumento no risco de contaminação. Por isso, esse cenário precisa ser monitorado e os produtores devem acrescentar um programa abrangente e integrado de gestão de micotoxinas à sua operação”, afirma o diretor Global do Programa de Gestão de Micotoxinas da Alltech, Nick Adams.

Confira algumas práticas para minimizar esse impacto no manejo dos ruminantes. 1. Controle de qualidade: realizar o controle de qualidade dos ingredientes dentro da fazenda pode diminuir o risco do aparecimento de micotoxinas. Isso engloba a produção da silagem adequada e a análise dos alimentos. 2. Cuidados no armazenamento: as condições de armazenagem dos ingredientes na propriedade é um dos principais fatores que tem influência no aparecimento de micotoxinas. Por isso, o produtor deve evitar o armazenamento de alimento em locais úmidos. 3. Gerenciamento da temperatura: a temperatura interna do galpão deve ser ambiente, não muito alta, nem muito baixa. Esse controle é essencial para evitar a contaminação do alimento. 4. Planejamento nutricional: conhecer os riscos e potencial de contaminação de cada ingrediente para cada fase de produção da propriedade, aliado à correta formulação das dietas contribui para otimizar o resultado produtivo e financeiro da propriedade. 5. Uso de adsorvente: isso poderá reduzir os riscos causados pelas micotoxinas. Um exemplo é o Mycosorb A+, da Alltech, solução de amplo espectro de ação que é acrescentada à dieta dos animais e atua em todo o trato digestivo, reduzindo os riscos causados pelos diversos tipos de micotoxinas. Além disso, oferece capacidade superior de aderência, resultando em uma maior proteção contra as principais micotoxinas, como aflatoxinas, fumonisinas, zearalenona, vomitoxina, toxina T2 e ocratoxina. Fonte: Centro de Comunicação REVISTA 100% CAIPIRA |19


CAFÉ

Produtividade é maior responsável pelo aumento da rentabilidade de café no Brasil

Fonte: CONAB

Os efeitos positivos da mecanização na produtividade do café são um fato real, refletido na rentabilidade. Por outro lado, há uma tendência de crescimento dos gastos com agrotóxicos Os efeitos positivos da mecanização na produtividade do café são um fato real, ref letid o n a r e n t a b i l i d a d e . Po r o u t r o l a d o, h á u m a t e n d ê n c i a d e c r e s cimento dos gastos com agrotóxicos. Estas informações, entre outras, estão em estudo divulgado no dia 09/01 pela C ompan h i a Na c i o n a l d e Ab a s t e c i m e n to (Conab). O t r a b a l h o, i n t i t u l a d o “A Cultura do Café: Análise dos Custos de Produção e da Rentabilidade nos Anos-Safra 2008 a 2 0 1 7 ”, a p o n t a a p r o d u t i v i d a de como responsável pela melhoria de rentabilidade tanto da variedade arábica quanto do conilon. Em algumas áreas de cultivo 20| REVISTA 100% CAIPIRA

d o a r á b i c a , c o m o Lu i z E d u a r d o M a g a l h ã e s / BA e C r i s t a l i n a / G O, a rentabilidade foi positiva em quase todos os anos analisados. O m e s m o o c o r r e u c o m Pa t r o c í n i o e S ã o S e b a s t i ã o d o Pa r a í s o / MG, onde houve comportamento semelhante em 2011 a 2016, c o m e x c e ç ã o d e 2 0 1 3 . Ta m b é m Franca (SP) e Londrina (PR) tiveram recuperação positiva a partir do ano de 2014, com a verificação de melhor remuner a ç ã o d o p r o d u t o r. Já o s p r o d u t o r e s d e c a f é a r á b i c a d e Ve n d a No v a d o I m i g r a n t e ( E S ) q u e s o mente tiveram resultados positivos em dois dos nove anos analisados (2012 e 2016). No c a s o d a p r o d u ç ã o d e c o nilon, o comportamento tam-

bém não foi uniforme. Em R o n d ô n i a , p o r e x e m p l o, e n t r e 2008 e 2013 o uso de métodos de plantio menos tecnificados teve reflexos na baixa produtividade e na rentabilidade, levando prejuízo ao produtor em três dos seis anos analisados. A partir de 2015, com a mudança r a d i c a l n o p a c o t e t e c n o l ó g i c o, a t e n d ê n c i a s e i nv e r t e u e h o u v e forte aumento na produtividade e melhor remuneração dos p r o d u t o r e s . Já e m P i n h e i r o s , no Espírito Santo – principal estado produtor de conilon - a boa produtividade e os preços recebidos pelo produtores de conilon foram essenciais para atingirem bons resultados em todos anos analisados.


LOGÍSTICA E TRANSPORTE

Porto do Itaqui tem recorde histórico na exportação de grãos – Maranhão

O Porto do Itaqui fechou 2017 com movimentação de 19,1 milhões de toneladas de cargas, o que representa crescimento de 13% em relação a 2016 e de 3% em relação ao previsto para o ano O Porto do Itaqui fechou 2017 com movimentação de 19,1 milhões de toneladas de cargas, o que representa crescimento de 13% em relação a 2016 e de 3% em relação ao previsto para o ano. Os granéis sólidos responderam por 12,7 milhões de toneladas durante o ano, com recordes históricos na exportação de milho (194%) e soja (60%) e na importação de fertilizante (18%). Em granéis líquidos, a importação de etanol, também, bateu recorde histórico, com volume 212% maior do que em 2016. As operações com arroz registraram aumento de 109%, a escória de cimento foi 53% maior e as cargas de combustíveis para o mercado interno cresceram 23% no comparativo com o ano anterior. A projeção do mercado para 2018 é conservadora e depende da expansão

dos terminais, em processo de execução. No entanto, os investimentos que o Governo do Maranhão vem realizando por meio da gestão do Porto do Itaqui serão atrativos para alavancar resultados positivos. No setor de combustíveis, a entrada em operação do Berço 108 ainda neste semestre incrementa em 40% a capacidade de operação desse granel líquido. A Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), que gerencia o Porto do Itaqui, está desenvolvendo Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental de novos terminais, voltados para a movimentação e armazenagem de combustíveis. “O plano é dobrar a capacidade de armazenagem em três anos”, afirma diretor de Planejamento e Desenvolvimento da Emap, Jailson Luz.

A Emap trabalha focada no mercado, para que o Itaqui volte a ter uma linha regular de contêiner e carga geral. Para isso, o porto conta com novo pátio, entregue no final de 2017, equipado para receber, também, carga refrigerada, o que favorece a operação com carne processada. O volume de movimentação de fertilizante deve crescer neste ano, acompanhando a tendência de crescimento verificada em 2017, quando obteve 22% de aumento em relação ao previsto para o ano. Investimentos em logística fora da poligonal do Itaqui apontam para esse crescimento. E a movimentação de grãos, que atingiu 7,1 milhões de toneladas em 2017, deve crescer 13% em 2018, fechando o ano com cerca de 8,1 milhões de toFonte: Folha Nobre neladas. REVISTA 100% CAIPIRA |21


PESQUISA

Pesquisa participativa cria bancos de sementes de adubo verde no Nordeste A pesquisa participativa entre cientistas da Embrapa, professores, estudantes e pequenos produtores de frutas e hortaliças do Nordeste resultou na criação de vários bancos de sementes de plantas utilizadas como adubos verdes Fonte: Embrapa Meio-Norte

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O trabalho, desenvolvido no interior do Piauí, Rio Grande do Norte, C eará e Maranhão, está ampliando e fortalecendo a fruticultura orgânica na região, reduzindo custos de produção e gerando mais renda. A adubação verde é baseada no uso de plantas, especialmente leguminosas, que fornecem nutrientes e melhoram a qualidade do solo. C om maior oferta local de sementes dessas plantas, agricultores nordestinos economizam ao não ter que exportar o material de outras regiões. Ganharam bancos de sementes os municípios de Pedro II, Jatobá do Piauí, São João do Piauí, Parnaíba, Campo Maior, Piracuruca, São R aimundo Nonato e Simplício Mendes, todos no Piauí; S erra do Mel, no Rio Grande do Norte; Pacajús, no C eará; e Magalhães de Almeida, no Maranhão. O acesso dos agricultores às sementes acontece por meio das cooperativas, em uma dinâmica em que a “moeda” de compra é a própria semente. O empréstimo é feito em volume de sementes, e a cooperativa recebe o pagamento em uma quantidade superior à fornecida para garantir o estoque comunitário e a segurança do plantio nas próximas safras. A área instalada de cada banco corresponde a mil metros quadrados, e no cultivo não são usados implementos agrícolas motorizados, insumos químicos e defensivos. A irrigação é feita por aspersão comum, com turno de rega em dias alternados. O trabalho de semeadura e manejo é manual, bem como a colheita, beneficiamento e armazenamento. As sementes, após os processos de pós-colheita, são armazenadas em garrafas pet, identificadas com nome comum da espécie e datadas. O ambiente de armazenamento corresponde a nove metros quadrados, espaço em que as

garrafas são guardadas em prateleiras e em temperatura ambiente. Todas são protegidas de insolação direta. A multiplicação das sementes entre os agricultores, por meio desses bancos, tem sido o ponto de equilíbrio do sistema de produção nas regiões atendidas. A experiência do engenheiro-agrônomo e analista da Embrapa Meio-Nor te Mauro S érgio Teodoro, líder da equipe que executou o trabalho, mostra que os bancos de sementes são a chave do sucesso do pequeno produtor. “O banco dá autonomia ao produtor no momento de decidir o que plantar. Tem também o fator econômico, que liberta o agricultor da necessidade de comprar sementes de fora, reduzindo o custo de produção.” Atualmente, a compra de um quilo de semente de chocalho-de-cobra (Crotalaria juncea) no Município de Piracicaba, no interior de São Paulo, por exemplo, custa R$ 13,00 e mais R$ 4,00 de frete. O quilo do feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), outra importante leguminosa do sistema de adubação verde, é vendido também no Sudeste por R$ 10,00 e mais R$ 4,00 de f rete. “Esse custo, muitas vezes, é problema para o pequeno agricultor, que nem sempre tem dinheiro para importar sementes”, ressalta Teodoro. Além dos benef ícios para o agricultor, a pesquisa par ticipativa liderada pela Embrapa também tem contribuído para a Ciência, com o resgate de espécies nativas e a descober ta de funções de plantas antes presentes apenas em outras regiões. Imp or tância da tro c a de exp eriências A ideia inicial de criação dos bancos de sementes de adubos verdes começou a sair do papel

em 2013, quando o analista Mauro Teodoro buscava alternativas de controle de plantas invasoras. Durante três anos, ele conduziu o projeto “For talecimento da Fruticultura Orgânica” no Município de Parnaíba, a 336 quilômetros ao nor te de Teresina. C om a instalação de uma unidade de pesquisa par ticipativa, a ação tem se consolidado. A troca de experiência ganhou força com o envolvimento de agricultores associados à C ooperativa dos Produtores Orgânicos dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí (Biof r uta), de professores e alunos da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e do Instituto Federal de Educação do Piauí (IFPI), além dos pesquisadores Francisco S eixas e Carolina Rodrigues, da Embrapa. A participação de todos na obser vação do desempenho de espécies que ajudam no controle das plantas invasoras, segundo Teodoro, consagrou a ideia. Trinta agricultores par ticiparam ativamente da pesquisa. “A condução da pesquisa foi uma via de mão dupla, com troca de experiências, percepções e tira-dúvidas. Foi tudo harmonioso. A tomada de decisão sempre era conjunta”, lembra o pesquisador Francisco S eixas. Ativista do Movimento Orgânico, um coletivo de pequenos agricultores e técnicos da região nor te do Piauí, o produtor Pablo B eraldo Pimenta, de 36 anos, diz que foi na pesquisa par ticipativa que ele pôde conhecer na prática os recursos tecnológicos só vistos na literatura. “Foi por meio da Embrapa, nessa pesquisa, que pude compreender melhor a impor tância da adubação verde, que uso já há mais de três anos em minha propriedade”, conta. S egundo ele, a redução dos custos de produção com os adubos verdes chega a 30%. As receitas cresREVISTA 100% CAIPIRA | 23


ceram 20%. Pimenta, um paulista de Campinas que mora no Piauí há sete anos, é um dos principais associados da cooperativa Biofruta. Em 8,5 hectares, ele planta coco, banana, macaxeira, feijão, acerola e maxixe. Acerola é o carro-chefe da propriedade. Em 2016, foram produzidas 120 toneladas da fruta. Noventa toneladas de acerola ainda verde foram compradas pela empresa norte-americana Nutrilit ao preço de R$ 3,00 o quilo. O restante da produção seguiu para as indústrias de suco da região. A cooperativa Biofruta surgiu em 1998, no Município de Parnaíba, com o início das atividades no Distrito de Irrigação Tabuleiros Litorâneos do Piauí (Ditalpi), criado pelo Departamento Nacional de Obras C ontra as S ecas (DNO CS). Os atuais 21 cooperados cultivam frutas, e a acerola é o destaque da produção. Em 2016, a produção alcançou mais de mil toneladas de acerola. O faturamento chegou a R$ 3 milhões. Ganhos para a ac ademia Experiente na sala de aula, o professor do curso de agronomia da Uespi Valdinar B ezerra dos Santos pôde ver na prática a importância da pesquisa participativa. “Pude aprofundar os estudos de condição de solo e água com meus alunos. Foi uma experiência inovadora”. S egundo ele, o trabalho possibilitou o resgate da importância de espécies nativas, como a chocalho-de-cobra e a gramínea caninha, além de conhecimento científico sobre espécies no ambiente do Nordeste. Na Uespi, o trabalho continua evoluindo, por meio de uma unidade demonstrativa no próprio campus do Município de Parnaíba, com o plantio consorciado de macaxeira, milho e mucuna-preta (Stizolobium aterrimum) e a ins24 | REVISTA 100% CAIPIRA

talação de um banco de sementes. A parceria resultou ainda em seis trabalhos de conclusão de curso e uma disser tação de mestrado na Universidade Federal do Piauí, campus do Município de B om Jesus, no sudoeste do estado. Professor de agroecologia no Instituto Federal de Educação do Piauí, campus do Município de C ocal, também na região Nor te do estado, Flavio Crespo é um defensor intransigente da pesquisa participativa. “O agricultor sente que a pesquisa na qual ele está par ticipando é uma coisa boa. Ele vê os resultados, assimila a tecnologia e põe em prática. Há um senso de pertencimento.” Crespo, que também é professor voluntário em escolas agrícolas no vizinho estado do C eará, acredita que se todas as pesquisas agrícolas envolvessem diretamente os produtores, “a região Nordeste estaria com uma agricultura em um patamar acima do atual estágio”. Para ele, a pesquisa deve ser constr uída com a troca de opiniões entre cientista e agricultor. A parceria com o IFPI gerou um banco de sementes que ajuda na orientação dos estudantes. A ideia que se consolidou entre os pequenos produtores de f r utas também inf luenciou a constr ução de dois projetos de pesquisa. O primeiro, com o título “Integração de atividades e viabilidade da pequena e média exploração do cajueiro no Nordeste do Brasil”, já está em execução. O segundo, denominado “Estratégias para a sustentabilidade da produção orgânica irrigada na região Nordeste”, será iniciado em breve. Crotalaria, a rainha do sistema de adubaç ão verde Para entender o sistema, é preciso voltar no tempo. Usada há mais de dois mil anos, a adubação verde começou pela China, Grécia

e Itália. Adotada em diversos sistemas de produção, ela é conhecida no Brasil há quase um século, com resultados agrícolas positivos e retorno econômico. Os adubos verdes são plantas utilizadas na melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. A tecnologia consiste no cultivo e cor te de plantas em plena f loração. A preferência é por leguminosas, já que elas têm capacidade de f ixação de nitrogênio, elemento fundamental no crescimento e desenvolvimento celular das plantas. São funções impor tantes da adubação verde cobrir e proteger o solo da erosão, reduzindo a temperatura na superfície e a evaporação da água; reciclar nutrientes das zonas mais profundas do perf il à superf ície; romper as camadas coesas ou compactadas; e aumentar o teor de matéria orgânica. O resultado é que os agricultores têm ganhos de produtividade, redução dos custos de produção e mais capacidade produtiva do solo. Três esp écies s e dest acam no mundo da adubação verde. A chocalho-de-cobra, ou xiquexique, que é a rainha na preferência dos agr ic ultores; feijão-de-p orco e feijão-guandu-anão (C ajanus cajan). Or iginár ia da Índia e da Ásia Tropical, com o nome científ ico de Crot alar ia junce a, p er tencente à família Fabace ae, a cho calho-de-cobra abs olut a é a prefer ida em praticamente o Brasil. O cres cimento inicial dess a esp écie é rápido, p o dendo chegar a 1,58 metro ap ós 67 dias de s emeadura. O rendimento médio dela, s egundo estudos da Embrapa, é de 26,2 toneladas p or hec t are de biomass a f res ca. É uma esp écie muito ef icaz em sistema rot acionado, com b oa pro dutividade em c ulturas como ar roz, feijão, cana-de-aç úcar, mil ho, s oja e hor t aliças.


PASTAGEM

Fonte: Barenbrug Brasil

Oito dicas para o manejo do pasto no período das águas

O período das águas, que ocorre no Brasil entre outubro e março, é caracterizado pela estabilização do regime pluviométrico, temperaturas elevadas e fotoperíodos longos O pasto verde é um colírio para os olhos dos pecuaristas, entretanto, é uma época propícia para o desenvolvimento de plantas invasoras e pragas. Com o intuito de auxiliar os pecuaristas a obterem resultados produtivos em sua pastagem, o engenheiro agrônomo da Barenbrug do Brasil, Robson Mengatti, concede orientações para o manejo do pasto no período das águas: 1- Deve-se recorrer frequentemente os pastos avaliando a altura e disponibilidade de forragem para determinar as melhores sequências de pastejo ou ajustar taxas de lotação; 2- Monitorar a performance animal, avaliando ganhos de peso, condição corporal e indicadores reprodutivos, fazendo os ajustes necessários e descartando os animais que puxam a média para baixo; 3- Manter os pastos dentro das alturas de manejo recomendadas de acordo com o sistema adotado (contínuo ou rotacionado), as cultivares presentes na área, as condições de fertilidade do

solo e o nível de intensificação de cada propriedade; 4- Nesta época, poucas plantas invasoras devem estar presentes no pasto. Caso haja presença destas, mesmo que em pouca quantidade, o controle deve ser realizado. O objetivo é evitar que ocorra altas infestações e o controle se torne mais oneroso, além de prejudicar a produção e uniformidade do pasto; 5- O uso de herbicidas para limpeza de pastagens poderá ser feito em área total ou de forma localizada conforme a porcentagem de infestação. Se as plantas invasoras apresentarem um porte muito elevado ou estiverem durante o período de florescimento, recomenda-se fazer uma roçada antes da aplicação e esperar que os rebrotes formem uma boa área foliar para então aplicar o herbicida. Quando as plantas forem resistentes às aplicações foliares, recomenda-se a aplicação no toco; 6- Inspecionar regularmente as

pastagens para detectar sintomas de ataques de pragas. Os principais insetos que ocorrem nesta época são os percevejos, lagartas desfolhadoras, besouros e o complexo das cigarrinhas. O controle deve ser feito seguindo orientação do técnico especializado; 7- Anualmente, é recomendado fazer a adubação de manutenção com base nos resultados da análise de solo. O uso de nitrogênio garante aumentos de produção de forragem e teores mais altos de proteína na forragem. Recomenda-se adubação de pelo menos 50 kg N/ha/ano como forma de prolongar a vida útil do pasto; 8- A adubação deve ser escalonada nas áreas a fim de evitar uma produção acima da capacidade de consumo, o que pode favorecer a perda de forragem. Também tem a finalidade de evitar a perda de nitrogênio, principalmente em solos muito arenosos. Recomenda-se a aplicação após o pastejo, com uma rebrota de pelo menos 10 cm e boa disponibilidade de água. REVISTA 100% CAIPIRA |25


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MERCADO FLORESTAL

Setor moveleiro prevê crescimento em 2018 Os empresários do setor moveleiro podem respirar mais aliviados e retomar projetos de investimento Essa postura resulta dos sinais de melhora na economia do País e do estado de Santa Catarina. O presidente da do Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai (Simovale) - que engloba 80 empresas associadas e abrange 79 municípios - Osni Verona estima um ano melhor. “Vejo o setor com expectativas de melhora entre 5 a 6% em relação a 2017. No período de dificuldades pequenas e médias empresas fecharam as portas. De lá para cá, houve muito investimento para se manter no mercado e o empresário está cauteloso sem deixar de visualizar um crescimento e melhores perspectivas a partir de 2019 e 2020”. Ilseo Rafaeli, da Sonetto Móveis de Chapecó, também está otimista e espera um crescimento em torno de 25% na empresa que é especializada na fabricação de salas de jantar em série. “Minha expectativa é muito positiva. Teremos um ano excepcional. Acreditamos na recuperação da economia que afetou to28 | REVISTA 100% CAIPIRA

Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional

dos os setores desde 2014 e fará a roda girar gradativamente”, avalia o empresário que atende todo território nacional. O empresário destaca que o último trimestre do ano de 2017 já apresentava sinais para um cenário mais positivo e avalia como contribuição a Reforma Trabalhista. “Espero que possam ocorrer outras reformas como a previdenciária e a fiscal, além de uma reestruturação para permitir os ajustes necessários. Isso contribuirá na credibilidade do País e no aumento da confiança por parte do empresariado e do consumidor. Com isso, acredito que vamos voltar a respirar”. Rafaeli também cita a melhora no mercado internacional e diz que sobreviverão à crise as empresas que souberam se reinventar e compreender o perfil do consumidor. “Ele tem buscado produtos mais sofisticados, especialmente na relação custo e benefício não somente um móvel que seja de utilida-

de, mas também que seja decorativo e atenda seus desejos e expectativas”. PERFIL DO CONSUMIDOR - O consumidor está mais exigente, por isso, a inovação deve ser o diferencial para melhores resultados. “Também está atento a qualidade, aos prazos e garantias do produto”, indica Rafaeli. O empresário Geraldo Knakiewiicz, da KK Móveis de Nova Erechim, segue a mesma perspectiva. “O ano iniciou com o mercado mais aquecido. Nossa perspectiva é aumentarmos 30% a produção. Será um ano de desafios e oportunidades,” considera. Knakiewiicz avalia fundamental tomar iniciativas de mudanças. “Não devemos esperar alguém fazer por nós porque isso não acontece,” e acrescenta a importância das taxas do câmbio se mantenham nos níveis que estão, “caso estejam desfavoráveis deixamos de ser competitivos,” acrescenta o empresário da KK Móveis que exporta para Inglaterra e Emirados Árabes.


CLIMA

Climatempo vê mais chuva em hidrelétricas do Brasil no 1° semestre, exceto no Nordeste

Fonte: Reuters

Antes, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) também havia revisado para números mais positivos suas projeções para o comportamento das chuvas A consultoria especializada em meteorologia Climatempo elevou de modo geral as projeções de chuva na área dos reservatórios das hidrelétricas do Brasil no primeiro semestre, com previsões mais positivas para Sudeste, Sul e Norte e redução das expectativas apenas no Nordeste, que passa por temporadas consecutivas de seca, segundo dados vistos pela Reuters. O maior otimismo da Climatempo vem em um momento em que especialistas do setor elétrico destacam números favoráveis da recuperação dos reservatórios no começo de janeiro, que derrubaram preços no mercado livre de eletricidade, onde grandes empresas negociam contratos Antes, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) também havia revisado para números mais positivos suas projeções para o comportamento das chuvas. O Climatempo prevê agora que as usinas hídricas da região Sudeste devem receber chuvas em 100 por cento da média histórica em janeiro, 94 por cento em fevereiro e 81 por cento em

março. Em abril, a projeção é de 84 por cento, em maio de 101 por cento e em junho de 148 por cento. No início do mês, as estimativas para janeiro no Sudeste eram de precipitações em 98 por cento da média, seguidas por 87 por cento em fevereiro e 79 por cento em março. Entre abril e junho, a projeção manteve-se estável. No Sul, o Climatempo elevou as perspectivas de precipitações para os primeiros quatro meses do ano: para 156 por cento da média em janeiro, 113 por cento em fevereiro, 85 por cento em março e 79 por cento em abril. Em maio e junho a estimativa é de 87 por cento e 147 por cento. As projeções no início do mês para a região eram de 119 por cento da média em janeiro, 96 por cento em fevereiro, 72 por cento em março e 68 por cento em abril. Em maio e junho os números já apontavam para 87 por cento e 147 por cento, respectivamente. Já o Nordeste teve uma revisão para baixo, com expectativa da Climatempo para chuvas em 39 por cento da média histórica em abril, 36 por cento em fe-

vereiro e 32 por cento em março. Maio e junho mantiveram-se estáveis em 36 por cento e 35 por cento, respectivamente. As expectativas da consultoria para a região, que enfrenta falta de chuva há anos, apontavam antes para afluências em 49 por cento da média em janeiro, caindo para 42 por cento em fevereiro, 35 por cento em março e 37 por cento em abril. As hidrelétricas respondem por mais de 60 por cento da capacidade de geração no Brasil, e os maiores reservatórios estão no Sudeste e no Nordeste. O período entre novembro e abril é geralmente associado a maiores precipitações na região dessas usinas, quando há expectativa de recuperação da capacidade de armazenamento. Atualmente, as hidrelétricas do Sudeste estão com 30,25 por cento da capacidade em seus lagos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), enquanto as do Nordeste estão com 16,4 por cento de armazenamento. REVISTA 100% CAIPIRA |29


ANÁLISE DE MERCADO

O agro “salvou a lavoura” O setor agropecuário deu um alento à economia, mais uma vez, ao derrubar a inflação em 2017 - efeito da queda acentuada no preço dos alimentos

O brasileiro está gastando menos para se alimentar graças ao compromisso do produtor rural em aumentar sua produtividade e assim oferecer alimento de qualidade e barato para a população. Para este ano, a perspectiva é que a inflação continue baixa - também auxiliada pelo agro. Em 2017, a economia brasileira registrou o menor índice inflacionário dos últimos 20 anos. Medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação fechou 2017 com alta de 2,95% - atrás apenas dos 1,65% registrados em 1998, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Índice que ficou até mesmo abaixo da meta do Banco Central, de 3% a 6%, e que teve como contribuição determinante a queda dos preços do grupo Alimento e Bebidas, que recuou nada menos do que 1,87%. A queda dos números para a alimentação em domicílio foi maior ainda, alcançando 4,85%. Resultado de uma safra recorde em 2017, com 240,6 milhões de toneladas, resultado 29,5% maior que o de 2016 - o que corresponde a 54,8 milhões de toneladas. Além do crescimento de 13,4% do setor, maior 30 | REVISTA 100% CAIPIRA

alta em mais de 20 anos. A última vez que foi registrada essa diminuição de preços dos alimentos foi em 2006, de 0,13%, o resultado mais baixo da série histórica do IBGE até então, iniciada em 1994. Esta deflação é resultado do compromisso e da seriedade do setor agro, que no ano passado quebrou recordes de safra utilizando tecnologia para aumentar a produtividade e poupar recursos naturais. Um alívio no bolso do consumidor comprovado por dados como o menor preço de alimentos importantes como as frutas, que no ano passado ficaram até 16,52% mais baratas. É a demonstração de que a produção agropecuária não apenas ameniza déficits na Balança Comercial brasileira, mas também dentro de casa, literalmente. Uma força já conhecida por quem faz parte do setor, mas que mais uma vez reverbera fora da porteira, influi diretamente na qualidade (e quantidade) da alimentação do brasileiro. Não apenas produzimos comida de qualidade, com saudabilidade e sustentabilidade como nos orienta o governador Geraldo Alckmin, mas também ajudamos a recuperação econômica brasileira. Mais um ótimo motivo para come-

morarmos é o já tradicional auxílio na Balança Comercial. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as 23 principais commodities exportadas pelo País em 2017 responderam por 77% do aumento das exportações de 2016 para 2017 e representaram 52% do total exportado. Já as exportações de não-commodities experimentaram crescimento inferior ao das commodities atingindo 8,8%, em valor. O bom desempenho das commodities é explicado tanto pelo aumento de 13,8% nos preços quanto pelos 10,5% relativos à expansão em volume, entre 2016 e 2017. O setor agropecuário aumentou suas importações de bens de capital em 2017 em 39,7%, neste caso, puxado pela safra recorde. E o otimismo deve continuar neste ano, com o IBGE creditando à safra agrícola a responsabilidade de segurar mais uma vez a inflação. A previsão é que a produção brasileira alcance 224,3 milhões de toneladas em 2018 - a segunda maior da história. Mais um bom resultado de um trabalho permanente e compromissado do nosso produtor rural - que alimenta a população e a retomada econômica Fonte: UDOP de Notícias brasileira.


APICULTURA

Mel brasileiro se destaca no mundo Fonte: Estado de Minas

O setor apícola vem registrando crescimento na produção e exportação de mel e derivados A própolis verde, produzida somente em Minas Gerais, chega a atingir mais de US$ 100 por quilo, enquanto o mel in natura recebe, em média, US$ 4 por quilo. O produto já tem certificação de indicação geográfica, e em breve contará com um selo de garantia da origem e qualidade. Em 2016, o setor faturou mais de R$ 470 milhões. O país exportou, naquele ano, segundo o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), mais de 24 mil toneladas. Própolis verde tem origem na floração do alecrim-do-campo, nativo em regiões de mineração de ferro. A produção tem a ver com altitude, temperatura e tipos de abelhas. Muito comum no Sul, Zona da Mata e parte de São Paulo. O mel brasileiro e seus derivados são considerados entre os mais puros do mundo e têm grande aceitação nos mercados europeu e norte-americano. “O mel brasileiro é orgânico e um dos melhores do mundo, pela alta qualidade”, atesta Andresa Aparecida Berretta, vice-presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel). Nos Estados Unidos, o maior produtor e um dos maiores consumidores do mundo, o mel agregado (misturado com xarope de milho ou de cana) passou a sofrer restrições. Laboratórios na Alemanha, outro país de grande consumo, desenvolveram tecnologia para

detectar essas misturas. Entretanto, a China desenvolveu um xarope de arroz não detectado pelos laboratórios germânicos, provocando restrições ao produto de origem asiática. “O mel é um alimento, mas no Brasil é considerado remédio”, reconhece Cristiano Carvalho, presidente da Cooperativa Nacional de Apicultores (Conap). Enquanto cada europeu consome 1,5 quilo per capta, entre os brasileiros o consumo não ultrapassa 100 gramas. Mais conhecido in natura, ele também é utilizado na indústria de cosméticos, com variedade de produtos, cremes, hidratantes e máscaras faciais, entre outros. Muitos países europeus, segundo Cristiano, compram o mel brasileiro e agregam a produtos inferiores de outras nações, para ganhar volume e diminuir os preços. A mistura não é aceita pelos mercados europeus. Gourmet Nas mesas brasileira, o mel gourmet começa a ganhar espaço, assim como o vinho e a cerveja. Os grandes chefs de cozinha já introduzem em seus cardápios a harmonia de cada tipo de mel com pratos específicos. “O mercado hoje pede mel monofloral específico, como de assa-peixe, muito comum em nossa região, eucalipto ou mesmo

aroeira, produzido no Norte de Minas, mais escuro e menos atrativo, mas com bom preço no mercado medicinal”, explica Getúlio Ferreira de Oliveira, técnico agrícola e produtor de mel e própolis. O mel silvestre é um mix de florações diversas. Já o mel composto ainda tem consumo incipiente, como os de extrato de romã, guaco, plantas medicinais, mas também utilizado em cozinhas sofisticadas. Outros são sazonais e de plantas com floradas rápidas, que exigem manejo mais específico, como o café e a jabuticaba. Segundo o presidente da Conap, a validade do mel é infinita. Em temperatura ideal e umidade abaixo de 20%, ele pode durar por séculos. O maior entrave está na perda de colmeias proporcionadas pelo uso de agrotóxicos, monoculturas em grandes extensões, provocando algumas doenças e, algumas vezes, dizimando as colmeias. “A cultura de soja, por exemplo, se dá em grandes extensões. As abelhas visitam as plantas rasteiras que nascem nessas plantações e acabam levando agrotóxico, que contaminam as comunidades de insetos”, explica Getúlio. Segundo Cristiano, o número de abelhas nos Estados Unidos é a metade da época da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940. REVISTA 100% CAIPIRA |31


ANร LISE DE MERCADO

MANDIOCA/RETRO 2017: Baixa oferta e queda no processamento impulsionam preรงos em 2017

O ano de 2017 foi marcado pela baixa disponibilidade de mandioca, cenรกrio que reduziu expressivamente o volume processado pelas unidades produtivas 32 | REVISTA 100% CAIPIRA


O ano de 2017 foi marcado pela baixa disponibilidade de mandioca, cenário que reduziu expressivamente o volume processado pelas unidades produtivas. Isso porque as condições climáticas bastante desfavoráveis nesse ano tiveram consequências negativas às indústrias, especialmente à de fécula, que trabalhou com forte ociosidade. Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apontam que a quantidade de raiz processada pelas fecularias no 1º semestre caiu 42% frente ao mesmo período do ano anterior. Com a baixa oferta, houve disputa pelo produto disponível e as cotações se elevaram. De acordo com dados do Cepea, de janeiro a abril, considerando o período de entressafra, havia pouca mandioca de segundo ciclo disponível, e produtores estavam retraídos. Assim, a média Cepea passou de R$ 473,25/ tonelada (R$ 0,8230/grama) em dezembro para R$ 514,52/t (R$ 0,8948/ grama) em abril/17, alta de 8,7%. A partir de abril, período de início de safra, as cotações caíram; em maio, a raiz se desvalorizou em 8,7%, com a tonelada chegando a R$ 458,27 (R$ 0,7969/grama), mas ainda assim com aumento de 50% frente ao mesmo mês de 2016. Já a partir de junho, os preços voltaram a subir, atingindo R$ 671,22/t (R$ 1,1673/grama) em novembro, o que superou em 48,1% a média de igual período do ano anterior, conforme dados do Cepea. Praticamente sem mandioca de segundo ciclo e com preços elevados, na segunda metade de 2017 produtores começaram a colher raiz mais nova, em muitos casos abaixo de 12 meses. Ainda assim, segundo pesquisadores do Cepea, a oferta ficou baixa, refletindo em queda no processamento de 25% em comparação ao mesmo período de 2016. Em 2017, devem ser processadas cerca de 35% a menos em relação ao volume do ano anterior – o menor em 11 anos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a estimativa é que, em 2017, a área com mandioca seja de 1,4 milhão de hectares, apenas 0,2% maior que a de 2016. A produtividade média deve ser de 14,6

toneladas por hectare, queda de 2,3% em relação à de 2016. Assim, a produção deve totalizar 20,6 milhões de toneladas, 2,1% abaixo da do ano anterior. No Paraná, a produção deve ser 20% menor em 2017, seguido por Sergipe (-19,2), São Paulo (-7,3%), Mato Grosso do Sul (-5,9%) e Pará (-0,7%), ainda segundo o IBGE. FÉCULA: Competitividade se reduz, devido a preços elevados e à menor produção – Em 2017, a produção de fécula de mandioca caiu, devido à baixa oferta de raiz. Neste cenário, os preços atingiram patamares recordes e o produto perdeu competitividade nos segmentos industriais frente a outros amidos, especialmente o de milho. Além disso, as margens das fecularias foram menores ao longo de 2017. No primeiro trimestre do ano, o preço médio da tonelada da fécula subiu 13,7%, chegando a R$ 2.858,53/t (R$ 71,46/saca de 25 kg). Já em maio, registrou a menor cotação média do ano, de R$ 2.500,73/t (R$ 62,51/saca de 25 kg), reflexo da entrada da nova safra. Esse cenário foi revertido nos períodos seguintes, visto que os valores tiveram sucessivas altas, atingindo a maior média de 2017 em novembro, de R$ 3.496,04/t (R$ 87,40/saca de 25 kg). O preço médio nominal a prazo para a tonelada de fécula de mandioca em 2017 foi de R$ 2.851,93 (R$ 71,30/saca de 25 kg), alta de 34% frente à média de 2016. De acordo com dados do Cepea, que consideram a moagem, os dias trabalhados e o rendimento de amido, em 2017, a produção brasileira de fécula pode ter expressiva redução de 34% frente a 2016 – o pior resultado desde 2004. Apesar de a economia brasileira dar sinais de melhora, podendo crescer cerca de 1% em 2017, o consumo de fécula ficou abaixo das expectativas dos agentes consultados pelo Cepea. As vendas de fécula tiveram melhor desempenho nos segmentos de massas, biscoito e panificação, inclusive o de tapioca, ao contrário das empresas frigoríficas que, devido à operação Carne Fraca, reduziram as compras. FARINHA: Indústria registra queda nas vendas em 2017 – O ano foi

marcado pela baixa liquidez nas transações de farinha do Centro-Sul, devido aos elevados patamares de preços e à retomada da produção em parte do Nordeste, que passou a adquirir menos volume de farinha de mandioca o Centro-Sul. Com a baixa oferta de mandioca nesse ano, parte da indústria de farinha limitou sua produção. Ainda assim, aquelas que mantiveram as atividades também tiveram altas nos preços da matéria-prima e, como em anos anteriores, intensificou-se a disputa com a indústria de fécula. Em 2017, o valor médio nominal para a tonelada de mandioca posta farinheira ficou em R$ 548,13 (R$ 0,9533/grama), alta de 48,9% frente à média do ano anterior. No noroeste do Paraná, o ritmo de trabalho foi mais intenso para as farinheiras que atenderam as empacotadoras do próprio estado ou os segmentos atacadistas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, uma vez que diminuiu expressivamente o volume comercializado para o Nordeste. A indústria de farinha do centro-oeste paranaense também registrou queda nas vendas, em especial para os atacados do Distrito Federal e de Minas Gerais. Mesmo com a demanda mais fraca, os preços do derivado subiram, por conta das altas nos valores da matéria-prima. A região paulista de Assis, que foi grande vendedora de farinha (e também de mandioca) para os estados do Nordeste, registrou forte queda no volume de comercialização em 2017, pressionando a produção no período. Nos últimos meses do ano, por conta da maior produção em parte dos polos produtores do Nordeste, caíram as vendas para aquela região. Além disso, passou a haver o fluxo contrário de vendas de farinha daquela região para o Sudeste. O preço médio da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 em 2017 foi de R$ 114,68 por saca de 50 kg, 17% acima da média de igual período do ano anterior, sendo a maior da série histórica do Cepea, iniciada em 2005, em termos nominais. A farinha de mandioca branca grossa/crua tipo 1 teve média anual de R$ 91,25/saca de 40 kg, valor 16,5% maior que aquele do ano anterior, sendo também o maior da série histórica. Fonte: Fonte: CEPEA CEPEA REVISTA 100% CAIPIRA |33


Os verdadeiros guardiões das culturas sertanejas

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CULTURA CAIPIRA

Associação Brasileira dos Artistas Sertanejos - ABAS inicia ano com sucesso No dia 20 de janeiro a ABAS retomou suas atividades já com a nova diretoria que trouxe mudanças significativas em beneficio a cultura caipira. Muitas duplas compareceram e um grande público veio prestigiar esse recomeço. Com calendário fechado para o ano de 2018, a ABAS terá apresentações quinzenais, com horário das 17:30 as 22:00 hs, sempre aos domingos na Rua Ciriema, n° 100 – Vila Ayrosa – Osasco/SP, entrada gratuita. Aguardem mais novidades e participem prestigiando os artistas e associando-se em prol da cultura caipira.

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PRAGAS E DOENÇAS

Produtores da Serra Ga de monitorame

Fonte: Embrapa Clima Temperado

ARegião de Pelotas é responsável pela produção de 95% do pêssego em calda brasileiro 38 | REVISTA 100% CAIPIRA


aúcha ganham sistema ento de pragas

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ma parceria entre a Embrapa e a Emater/RS-Ascar com o apoio das secretarias municipais de agricultura de B ento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira possibilitou que os produtores e técnicos ganhassem o Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas, um ser viço de monitoramento constante que avisa o produtor com antecedência sobre a presença do inseto na região. A rede de monitoramento nos principais municípios produtores já está atuando na safra 20172018, ao acompanhar a presença da mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus), principal praga que ataca a cultura. Os produtores recebem boletins semanais com informações sobre insetos coletados em armadilhas e orientações a produtores e técnicos para lidar com a situação encontrada. “Detectar a chegada do inseto com rapidez traz mais segurança a toda a cadeia produtiva, pois evita a tradicional aplicação de produtos por calendário, garantindo a produção de frutas de qualidade”, declara o pesquisador Marcos B otton, que coordena a ação na Embrapa Uva e Vinho, localizada em B ento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Trata-se da ampliação de um sistema de monitoramento que é utilizado há sete anos na região de Pelotas (RS), onde são produzidas 95% da fruta destinada à indústria de conser vas. O sistema foi desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado (RS), em parceria com o setor produtivo e instituições de ensino, pesquisa e extensão (veja detalhes no quadro no fim deste texto). Agora,

o programa foi expandido e leva tecnologias de manejo para três municípios da Serra Gaúcha: B ento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira, responsáveis por 80% do pêssego produzido na Serra. A cultura da fruta na região ocupa cerca de três mil hectares e, além de abastecer o mercado gaúcho, é vendido para o Paraná, São Paulo e região Nordeste. Praga pode afetar produção inteira A mosca-da-frutas ataca todas as espécies de frutíferas cultivadas na Serra Gaúcha, sendo a principal praga das frutas de caroço, como ameixa e pêssego, e pode levar o produtor a perder toda a sua produção se não for controlada. Os danos ocorrem em função de as fêmeas colocarem seus ovos nos frutos, que, além de permitir a entrada de microrganismos, desenvolverá a lar va e provocará o apodrecimento do fruto. Durante a safra que está sendo acompanhada, a ocorrência da mosca-das-frutas foi baixa, não sendo registradas infestações precoces nem picos populacionais significativos. “O sistema foi uma ferramenta fundamental para o controle da mosca, auxiliando no manejo correto, apoiando os produtores nas decisões e dando uma dimensão da infestação real”, avalia Ênio Todeschini, assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul. Monitoramento reduz incidência e inseticidas Todeschini comenta que, devido ao inverno mais ameno, a expectativa era ter grandes infes-

tações da praga, o que não ocorreu. Com o acompanhamento da situação no campo com as armadilhas, foi possível reduzir a aplicação de inseticidas para a mosca, sendo utilizado outras aplicações no controle da grafolita, uma outra praga que ataca as ponteiras e provoca o murchamento e secamento dos galhos, danificando a produção. “Ao fim da safra, haverá um melhor dimensionamento dos ganhos com o sistema, mas nossa expectativa é investir ainda mais na próxima safra, ampliando o número de armadilhas e os municípios envolvidos”, prevê. Alexandre de Oliveira Frozza é agrônomo da Emater-RS/Ascar e acompanhou propriedades no Município de B ento Gonçalves e foi o principal porta-voz do Sistema de Alerta por meio de programas em uma rádio local. Em sua percepção, o acompanhamento da flutuação populacional da mosca-das-frutas nos pomares de pêssego e ameixa possibilitou que as recomendações para o controle da praga não se limitassem unicamente às pulverizações de inseticidas. A divulgação aos produtores envolveu recomendações técnicas como a isca tóxica e a captura massal, além de dicas para reduzir focos de infestação, como eliminar pomares abandonados e locais de descarte de frutos. Evandro Faguerazzi é um dos produtores parceiros do projeto em B ento Gonçalves (RS). Em conjunto com seus pais e esposa, produz e comercializa pêssego e ameixa na Serra Gaúcha. Ele já fazia o monitoramento e ficou entusiasmado em participar da iniciativa a fim de reduzir o número de aplicações de produtos químicos na lavoura. “É muito interessante REVISTA 100% CAIPIRA | 39


esse apoio para controlar a mosca, pois, muitas vezes, falta tempo para nós pequenos produtores fazermos esse monitoramento da forma correta, e esse projeto ajudou a decidir sobre a aplicação do produto na hora certa”, comenta. Divulgação impressa, por rádio e WhatsApp “As principais vantagens do monitoramento são evitar perdas provocadas pela mosca-das-frutas, utilizar o mínimo de produtos na plantação e fazer manejo mais sustentável”, pontua B otton. O pesquisador da Embrapa comenta que o sistema de alerta ajuda na introdução de novas tecnologias como é o caso do emprego de iscas tóxicas, prática que deve ser ampliada nos próximos anos, visto que, em baixas infestações, muitas vezes evita a pulverização de inseticidas em cobertura sem ocorrer perdas na produção. A estratégia de produzir e divulgar semanalmente o boletim, relatando a situação da população de moscas, indicando as ações de controle bem como outras orientações relacionadas ao manejo da cultura, abriu um canal de comunicação com o setor. “ Tanto o envio por WhatsApp, como na página do Sistema e o próprio programa de rádio são esperados e acompanhados semanalmente [pelos produtores]”, comenta. Ao todo, já foram publicados mais de 20 boletins e 22 programas de rádio. Liderado pelo jornalista Felipe Machado, a edição sempre traz informações do B oletim com uma entrevista com técnicos envolvidos. Segundo o jornalista, a repercussão foi muito boa e muitos agricultores já entraram em contato para mais informações. “Diante da divulgação na R ádio, produtores procuravam a emissora em busca de mais esclarecimentos, e, consequentemente, encaminhávamos para a Embrapa e Emater. Ou seja, o retorno foi imediato e conseguimos 40 | REVISTA 100% CAIPIRA

cumprir nosso papel, prestar serviço de relevância aos ouvintes e agricultores da região com apoio dos técnicos envolvidos”, avaliou. O boletim segue circulando até finalizar a colheita das cultivares tardias que são mais suscetíveis ao ataque do inseto. Para a próxima safra, a equipe planeja incluir no sistema de monitoramento também outra praga — a mariposa grafolita — e ampliar a participação dos produtores, que deverão ser capacitados e passar a fazer o monitoramento semanal, possibilitando assim o aumento da rede de armadilhas. “Nosso objetivo é obter informação sobre o comportamento da praga ao longo da safra, e dessa forma entender o comportamento da mosca na região, buscando métodos mais sustentáveis para a produção de frutas”, pontuou B otton. C omo funciona o Sistema de Alerta? O Sistema de Alerta surgiu na safra 2010/2011 na cultura do pessegueiro na região de Pelotas. O monitoramento do inseto é realizado o ano inteiro em pomares de produtores parceiros. Um técnico percorre, no início de cada semana, as unidades de obser vação na região definidas no programa. Nelas foram instaladas armadilhas McPhail (do tipo bola), iscadas com proteína hidrolisada, um atrativo que captura com maior eficiência as moscas. O programa preconiza a instalação de uma armadilha por hectare, que são vistoriadas para contagem da mosca-das-frutas. Esse material é conduzido ao Laboratório de Entomologia, no qual é feita sua análise. Os dados apurados compõem o conteúdo dos boletins informativos. O monitoramento feito com as armadilhas do tipo bola é importante para indicar ao produtor se a população da mosca está alta ou baixa. Sabendo o tamanho do problema, ele pode tomar a melhor

decisão. Se a população estiver baixa — detecção de até três moscas por armadilha a cada semana — deve ser feita pulverização por isca tóxica nas bordas do pomar. Se forem capturadas mais de três moscas por armadilha a cada semana, a população do inseto é considerada alta e a recomendação é a pulverização por cobertura sobre todo o pomar. Em cada uma das unidades de obser vação, ou próximo a elas, há estações meteorológicas para acompanhamento de dados climáticos, uma vez que a incidência das moscas tem relação com as variações do clima. Os dados colhidos pelas estações, como temperatura e umidade do ar, chuva, umidade do solo e temperatura do solo alimentam o Laboratório de Agroclimatologia. Essas variáveis ser vem para estudos comparativos feitos pelo Laboratório, mas também ajudam a indicar as estratégias de manejo que devem ser tomadas pelo produtor. Um sistema que deu certo A decisão de criar o Sistema de Alerta surgiu depois da safra 2008/2009, na qual caminhões lotados de produção de pêssego foram perdidos na metade sul do estado em função do ataque da mosca-das-frutas. Muito dessa perda estava relacionada à retirada dos inseticidas com ação de profundidade da lista de agrotóxicos autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da mosca-das-frutas. Anteriormente, os produtores faziam aplicação por calendário e buscavam controlar os ovos e as lar vas do inseto com produtos químicos de ação de profundidade. Porém, desde a nova legislação, o controle da praga passou a estar focado na fase adulta do inseto, sendo o produto aplicado principalmente quando o monitoramento indica maior incidência dessas moscas


nos pomares. “Se há uma mosca no pomar, a recomendação é: use isca tóxica!”, obser va o pesquisador responsável pelo Programa, Dori Edson Nava, da Embrapa Clima Temperado, que criou o programa. Região concentra 95% do pêssego em calda brasileiro Na região de Pelotas, a importância do Sistema de Alerta é grande, pois a cultura do pessegueiro é uma das mais expressivas cadeias produtivas, envolvendo também os municípios de Arroio do Padre, Canguçu, Cerrito, Piratini, Morro Redondo e São Lourenço do Sul. Atualmente, a cultura é conduzida em cerca de duas mil propriedades, de até dez hectares, envolvendo cerca de seis mil pessoas. O pêssego é processado em 13 indústrias que, juntas, produzem 95% do pêssego em calda do Brasil – uma média anual de cerca de 50 milhões de latas. Ao todo, as indústrias chegam a gerar cerca de sete mil empregos diretos e três mil indiretos. Um dos grandes resultados do programa apontados por Nava foi promover a compreensão do produtor sobre o porquê da não possibilidade de registro dos produtos químicos para controlar pragas especificamente para o pessegueiro. Além disso, o cientista frisa a importância do grupo de discussão gerado a partir do programa, por meio do qual é possível conhecer os problemas da cultura e obser var reivindicações do setor. “É a pesquisa, que conversa com o produtor, que conversa com a extensão; é a extensão, que conversa com a indústria; e é a indústria, que conversa com o produtor e a pesquisa. Atingimos um grau de maturidade entre as instituições”, elogia. Evoluções do Programa Há 30 anos, Volnei Mendez Natali vive na Colônia Santa Maria

do Sul, na casa dos seus antepassados, datada no ano de 1939, a cerca de 40 km da área urbana de Pelotas. Há alguns anos o produtor vem se adaptando a outro cenário: retirada de produtos fitossanitários, especificamente para cultura do pessegueiro, da grade de licenciados pelo Ministério da Agricultura, adoção de novos hábitos e estratégias de prevenção e controle de doenças e pragas nos pomares e oscilações climáticas prejudiciais ao desenvolvimento da cultura. Uma das formas de Natali enfrentar essas mudanças no manejo da cultura foi participar do programa Sistema de Alerta para Monitoramento e Controle da Mosca-das-Frutas na Cultura do Pessegueiro. Por meio de reuniões técnicas e dias de campo é possível conhecer o manejo adequado e prevenir doenças e pragas, além de acompanhar os B oletins Informativos do Sistema de Alerta, semanalmente. O presidente do Sindocopel, Paulo Crochemore, diz que o Sistema de Aler ta representa um diferencial para a indústria do pêssego, especialmente quando foram retirados os produtos químicos para uso pelo setor produtivo. “É uma ferramenta que auxiliou na recuperação das perdas em pomares e a melhorar a qualidade do f r uto, pois havia muito pêssego contaminado que chegava à indústria e, por isso, muito desperdício”, lembra o proprietário de indústria da região de Pelotas. Crochemore diz que há muito a se melhorar, mas com as mudanças o produtor de pêssego passou a atender as exigências de regulamentação de uso de produtos químicos, tendo índices muito baixos de f r utos bichados. Ele diz que o programa também propiciou que os produtores se qualificassem em outras áreas da produção como a adubação do solo, adoção do sistema de irrigação, controle de doenças e uso

de mudas de maior qualidade. “A produtividade aumentou, mesmo enf rentando questões climáticas, passando de uma produção entre sete a dez toneladas por hectare para 20 ton/ha”, conta o representante das indústrias. Já o presidente da Associação dos Produtores de Pêssegos de Pelotas (APPRP), o produtor Marcos S chiller diz que o envolvimento de um grande número de produtores do setor permitiu conduzir um trabalho de maneira mais limpa. “C omeçamos a observar e a identif icar como a mosca entrava no pomar e como ela se compor tava, daí aprendemos a adaptar nossa forma de manejo e a fazer outras indicadas pelo Programa”, comenta S chiller. S egundo ele, há propriedades que, atualmente, conseguem fazer 100% do controle do inseto-praga com o monitoramento e uso da isca tóxica, não utilizando mais as aplicações de cober tura de produtos químicos nos pomares. “Muitos produtores conhecem o sistema e, a par tir de sua experiência, outros começaram a participar do programa, utilizar as estratégias para controle da mosca-das-f rutas e práticas de manejo preventivas para tratar outras doenças e fungos, que comprometem a qualidade da produção”, enfatiza o presidente da Associação. “O programa tem como propor testes de ef iciência de iscas tóxicas nos pomares e avançar no uso de parasitoides como controle de mosca-das-f r utas por meio da instalação de biofábricas,” avalia Nava, da Embrapa. S egundo ele, já estão sendo executadas técnicas de criatórios de parasitoides na Unidade de pesquisa da Embrapa, em Pelotas, onde já estão sendo analisadas as colônias de parasitas nativos. Outra forma é associar o uso de machos esterilizados, para que, quando copularem com as fêmeas, não deem continuidade à prole, impedindo a infestação do inseto-praga. REVISTA 100% CAIPIRA | 41


GESTÃO

Cooperativas oferec garanti A situação preocupa as cooperativas do Paraná que produzem ração para alimentar aves e suínos destinados ao abate

Fonte: Avisite

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cem ágio de 26% para ir milho Após uma produção recorde de milho na safra 2016/17, que derrubou os preços no mercado interno, a área destinada ao plantio do cereal no Brasil no próxima safra de inverno (a safrinha) deverá ser a menor desde 1976/77, segundo estimativas do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). A situação preocupa as cooperativas do Paraná que produzem ração para alimentar aves e suínos destinados ao abate. Para tentar impedir que a queda da área plantada supere expectativas, algumas das principais cooperativas do Estado adiantaram as campanhas para a compra de insumos pelos produtores cooperados que lhes fornecem o milho e estão oferecendo em troca, em operações de barter, comprar o grão com preços futuros até 26% maiores que os praticados no mercado disponível. A Coopavel, com sede em Cascavel, começou em novembro a campanha para a venda de defensivos, fertilizantes e adubos aos produtores de milho que vão plantar a safrinha. “Precisamos garantir uma produção de 550 mil toneladas de ração no ano para atender os próprios cooperados e outros criadores de suínos e aves”, afirma o diretor presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. Para que o produtor faça o barter com o pacote de insumos, a cooperativa ofereceu pagar entre novembro e este mês de janeiro R$ 26 a R$ 29 por saca de milho a ser colhida na próxima safrinha. No mercado à vista, o preço varia de R$ 22 a R$ 23. “Conseguimos garantir 10% da estimativa de produção com o sistema. O barter é tradicional, mas costuma ter preços futuros mais baixos, apenas cerca de 5% acima do valor à vista”, afirma Grolli. Os cooperados da Coopavel devem semear 80 mil e 100 mil hectares de milho e produzir cerca de 420 mil tone-

ladas. “A estimativa é que 30% da área de produção de milho migre para o trigo, que pode ser plantado mais tarde”. LAR e C.Vale, que atuam no Paraná e em Mato Grosso do Sul, não estabeleceram um valor maior para o preço futuro, mas afirmam querer garantir que a relação entre a troca de insumos e o custo de produtividade seja viável para a safrinha. “Com a queda do preço do milho, a tendência seria de perda para o produtor. Mas a função da cooperativa é garantir a produção, até porque não há alternativa para todos os cooperados ao milho no inverno”, afirma Vandeir Conrad, superintendente de negócios agrícolas da LAR. Segundo ele, a cooperativa processa entre 25% e 30% dos grãos que recebe e comercializa o restante. A expectativa é que, em 2017/18, a LAR receba 32 milhões de sacas de milho, mesmo patamar do ciclo passado. A C.Vale não divulga quanto pretende negociar em operações de barter, mas Alexandre Tormen, gerente comercial da cooperativa, diz que este ano a modalidade deve voltar a crescer diante dos menores preços da soja e do milho. “Menos capitalizados que em 2016, os produtores dão mais atenção ao barter”. Sem divulgar estimativas, Tormen afirma não acreditar em uma redução expressiva do plantio entre os cooperados, porque não há o que plantar no inverno. “Em poucas regiões onde atuamos o trigo é uma alternativa viável”, diz ele. Para Robson Mafioletti, agrônomo e assessor técnico e econômico da Ocepar, organização que representa as cooperativas do Paraná, a perspectiva de maior recuo de preços do milho ao longo de 2018 também reduz o interesse do produtor pelo plantio do grão. “Ninguém quer gastar com insumo diante da ten-

dência de preços em queda e do estoque elevado no Brasil. Por isso, as cooperativas fazem esse tipo de campanha para, pelo menos, garantir parte da produção”, afirma. Segundo o Cepea, a relação de troca entre milho e alguns insumos piorou em 2017 devido à alta de fertilizantes e sementes em tempos de queda dos preços do grão. “Atualmente, verifica-se atrasos nas compras de insumos para a segunda safra, indicando pouco interesse de produtores”, considera o centro. O comportamento dos preços do milho desde 2016 explica esse quadro. Entre maio e junho daquele ano, período de colheita da safrinha, a saca de milho custava R$ 35 a R$ 40 no Paraná. Na mesma época de 2017, o preço caiu para entre R$ 16,50 e R$ 17. Atualmente, está na casa dos R$ 23. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, a área destinada ao milho no Estado deverá recuar 11% no inverno, para 2,15 milhões hectares. A Conab ainda não divulgou nova estimativa para a safrinha nacional, mas destacou em relatório que o atraso na semeadura de soja, em função do clima seco, pode impedir que o plantio no Paraná e em Mato Grosso do Sul seja feito no período ideal. “Por isso, a opção dos paranaenses pode ser o trigo”, diz Grolli. Apesar de todo esse quadro, não faltará milho no Brasil como um todo. “Com produção total na casa de 92,2 milhões de toneladas no ciclo 2017/18 e considerando-se os estoques iniciais, a disponibilidade interna pode superar as 111,6 milhões de toneladas. Ao subtrair o consumo interno (58,5 milhões de toneladas), o excedente interno pode superar 53 milhões de toneladas, o que seria o maior da história”, diz o Cepea. REVISTA 100% CAIPIRA |43


ARTIGO

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BOVINOS DE LEITE

Leite: quase um ano de preços em queda desanima produtor

Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional

Os preços praticados na compra de leite pelos laticínios, neste início de 2018, estão nos mesmos patamares de 2013 Os produtores rurais estão trabalhando no vermelho. E a culpa não é das indústrias. Essa situação foi dimensionada pelo Conselho Paritário Produtor/Indústrias de Leite do Estado de Santa Catarina (Conseleite/SC), que esteve reunido na última semana em Florianópolis para definir os valores de referência para o mês. De acordo com projeção do Conselho, o leite entregue em janeiro para processamento industrial a ser pago em fevereiro pelos Laticínios terá uma redução de dois centavos/litro nos valores de referência, ou seja, queda de 2,4%. Os valores projetados são os seguintes: leite acima do padrão R$ 1,0985/litro; leite padrão R$ 0,9552 e abaixo do padrão R$ 0,8684. Os valores se referem ao leite posto na propriedade com Funrural incluso. O vice-presidente do Conseleite e, também, vice-presidente regional da Federação da Agricultura e Pecuária de SC (Faesc) Adelar Maximiliano 46 | REVISTA 100% CAIPIRA

Zimmer resume a situação: os custos de produção situam-se em R$ 1,30 por litro e a remuneração, no mercado, está um pouco acima de R$ 1. “O desânimo começa a tomar conta dos produtores que vão, aos poucos, abandonando a atividade”, relata. O baixo nível de consumo é o principal motivo dos preços baixos. Neste momento: as indústrias estão fortemente estocadas e o consumidor, nesse período de verão, prefere outras bebidas, como águas saborizadas, refrigerantes e cervejas. Reflexo disso é o fato dos supermercados fazerem todas as semanas promoções para venda dos estoques, ofertando o leite longa vida a menos de R$ 2 a unidade. “Estamos em uma fase em que nem o produtor rural nem as indústrias estão ganhando. Estamos todos no prejuízo”. Zimmer lembra que somente a embalagem tetrapak das caixinhas de leite custa mais de 25% do valor de venda no varejo. A Federação da Agricultura e Pecu-

ária do Estado de Santa Catarina (FAESC) espera uma lenta recuperação, mas avalia que somente a retomada do consumo em grande escala e as exportações irão recompor a rentabilidade da cadeia produtiva de lácteos. “Precisamos de um programa de exportação para escoar nossa vasta produção ao mercado externo. Não há outro jeito de prosperar e de superar essas crises cíclicas”, encerra o dirigente. EXPRESSÃO NACIONAL - Santa Catarina é o quarto produtor nacional. O Estado gera 2,9 bilhões de litros ao ano. Praticamente todos os estabelecimentos agropecuários produzem leite, o que gera renda mensal às famílias rurais e contribui para o controle do êxodo rural. O oeste catarinense responde por 75% da produção. Os 80.000 produtores de leite (dos quais, 60.000 são produtores comerciais) geram 8,3 milhões de litros/dia, mas a capacidade industrial está estruturada para processar até 10 milhões de litros de leite/dia.


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