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NO EMBALO DA SOLIDARIEDADE

Renata Maluf ajuda a viabilizar a Fundação Julita com uma festa tão animada quanto filantrópica

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Por Oscar Pilagallo Fotos Érico Hiller

Em um sábado de junho de 2015, o frio teimoso do inverno paulistano era um convite sedutor para se passar a madrugada em casa, diante da TV e de uma cumbuca de pipoca. A partir das dez da noite, no entanto, centenas de pessoas desafiaram as baixas temperaturas e começaram a desembarcar no Espaço Traffô, na Vila Olímpia.

Uma delas era Renata Maluf, que dias antes deixara a presidência da Fundação Julita, cargo que ocupara nos cinco anos anteriores. Como os outros convidados, ela espantou o frio dançando madrugada adentro ao som do DJ Milton Chuquer e do percussionista Paulo Campos, artistas que têm no currículo a animação de festas de celebridades, como as de Athina Onassis. Mas Renata tinha uma razão a mais para estar feliz naquela noite, além da alta voltagem da diversão.

O fato é que o sucesso do evento — uma ideia que ela colocou de pé pela primeira vez em 2010 — gerava fundos para viabilizar financeiramente o antigo projeto filantrópico da fundação situada na carente Zona Sul de São Paulo, a poucos quilômetros da balada. Desde então, a festa beneficente “Fazer o Bem Faz Muito Bem”, incorporada ao calendário anual da entidade, representa uma fonte importante e permanente de recursos. “Pelo preço de um jantar, é possível ajudar a transformar a vida de mais de mil crianças de baixa renda atendidas pela Fundação Julita”, diz Renata. Com uma folha de pagamentos de 120 funcionários — dos quais 40 educadores —, a Fundação Julita depende da contribuição de pessoas, físicas e jurídicas. Da receita de R$ 6 milhões prevista para este ano, por exemplo, apenas dois terços virá de dinheiro público, por meio de um convênio mantido com a prefeitura de São Paulo. Quanto ao terço restante, não está garantido, e é preciso sempre correr atrás, uma necessidade ainda mais premente em momentos de crise econômica.

Parte do dinheiro que falta para fechar as contas vem de empresas de telefonia, que alugam um pequeno pedaço do terreno da fundação, onde estão instaladas antenas. Outra parte vem do aluguel de um imóvel da entidade. A iniciativa privada também comparece. Todas essas rendas juntas, porém, não são suficientes. Daí a relevância da festa anual criada por Renata, que permite a renovação, a cada ano, de uma iniciativa filantrópica que já contempla no horizonte a marca de sete décadas.

A fundação foi criada por Antônio Manoel Alves de Lima, filho de Octaviano Augusto, pioneiro da exportação de café brasileiro. A atividade do pai, levada adiante pelo herdeiro, chegou a chamar a atenção de Olavo Bilac. Certo dia, em visita a Buenos Aires, o poeta olhou um edifício e registrou em tom parnasiano: “Casa querida! Como tu lembras, aqui, no estrangeiro, todas as casas da minha vida”.

Ele se referia à sede do Café Paulista, fundada por Octaviano, cujo produto — assim dizia o slogan — era “o melhor do mundo”.

Nos primórdios da República, o nome com o qual seria batizada a fundação entra na história. É uma história de amor que tem como protagonistas representantes da mais fina flor da aristocracia paulistana. Em 1898, Antônio Manoel se casa com Julita Prado, sobrinha do primeiro prefeito de São Paulo, Antônio da Silva Prado, cuja família era dona dos melhores endereços da cidade. Viveram juntos por quase meio século, até Julita morrer, em 1945. Segundo o mito ainda corrente na fundação, ela teria voltado num sonho do marido e pedido que ele construísse uma escola na região mais ensolarada de suas terras. Em 6 de dezembro de 1951 é constituída a Fundação Julita.

De acordo com o primeiro estatuto, a missão da entidade era construir casas para abrigar famílias da zona rural e criar um espaço em que elas pudessem morar, plantar e vender seus produtos de forma cooperada. Foram construídas quatro casas de dois quartos, de tão boa qualidade que resistiram ao tempo, tanto que hoje uma delas foi adaptada para servir ao setor administrativo da fundação. Além disso, a entidade oferecia às crianças assistência médica, educação, alimentação e orientação profissional. A natureza mais assistencialista da fundação permaneceu a mesma até 1969, quando Antônio Manoel, que a presidiu desde o início, morreu aos 96 anos.

A Fundação Julita é um oásis em meio à violência das comunidades ao seu redor, entre elas as do Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim São Luiz, que se espalham entre as subprefeituras de Campo Limpo e de M’Boi Mirim, ambas às voltas com problemas recorrentes derivados de infraestrutura inadequada nas áreas de transporte, educação e saúde.

Trata-se de um lugar muito diferente daquele que, nos anos 1950, Antônio Manoel escolheu para sediar a entidade e onde comprou um terreno de quase 60 mil metros quadrados, dos quais cerca de 80% constituem a propriedade da fundação. Na época, com o processo de ocupação apenas engatinhando, a região ainda era considerada rural, dominada por chácaras e sítios que aos poucos se desmembravam em lotes menores. São Paulo acelerava o desenvolvimento econômico e a Fundação Julita atraía trabalhadores que vinham de longe para se empregar nas primeiras indústrias da vizinha Santo Amaro. Não distante da represa do Guarapiranga, era uma área aprazível, conhecida como Riviera Paulista, uma referência algo exagerada ao chique litoral mediterrâneo da França.

Renata Maluf entrou para a fundação como voluntária, atendendo a um convite para participar de sua diretoria,

durante a gestão de Lucien Bernard Mulder Belmonte, que a partir de 2003 moldou o perfil atual da entidade, centrado no atendimento das comunidades locais. A decisão de se dedicar à fundação foi uma decorrência natural da formação humanística dessa ex-aluna do tradicional Colégio São Luís. Adolescente nos anos 1980, ela testemunhava a atividade socialmente solidária dos padres jesuítas. “Eu sempre quis fazer um trabalho social relevante”, diz Renata.

A oportunidade surgiu em 2010, quando, para sua surpresa, foi indicada para assumir a presidência da fundação. Queria intensificar o trabalho voluntário, mas teve antes que vencer uma resistência inicial, provocada pela impressão de não estar suficientemente preparada para o cargo. Afinal, sua experiência profissional é de advogada especializada na área de direito imobiliário — ela é o “M” do conceituado escritório MGB Advogados, que mantém com outros dois sócios.

A impressão estava errada, e nos cinco anos seguintes Renata manteve a entidade nos trilhos, até passar o bastão a Hélcio Alcides Nosé. Hoje, com mais de 60 anos de serviços prestados, a Fundação Julita é uma referência no terceiro setor.

A excelência pode ser notada já a partir da intensa arborização. A área verde preservada abriga a Fazendinha, com cavalos, vacas, galinhas, coelhos e até ovelhas. Os animais, mantidos soltos na propriedade, dão às crianças de uma inóspita periferia da cidade a sensação de estar no interior, desfrutando as tais “terras ensolaradas” da mensagem onírica de Julita. Palco de atividades de conscientização ambiental, o espaço dispõe de tecnologias relacionadas ao uso da água e energia e à reciclagem de resíduos sólidos. O Centro de Educação Ambiental prevê o desenvolvimento de pesquisa e a utilização de bioconstruções para ampliar a infraestrutura local.

O bosque é dotado de centros de cultura, esportes e saúde. A fundação oferece oficinas de música, fotografia e expressão corporal, além de disponibilizar para a comunidade uma biblioteca com acervo de cerca de 15 mil livros. Com quatro quadras poliesportivas, promove jogos, sete dias por semana, para 2.500 adolescentes, com direito a refeições supervisionadas por nutricionistas. Na área da saúde, provê atendimento psicológico e odontológico, fornece informações sobre controles de doenças e dependência química, estimula hábitos saudáveis de higiene e incentiva a prática de meditação.

Embora estabeleça uma conexão intensa com os moradores de todo seu entorno, a Fundação Julita tem vocação especial para o ensino das crianças e dos adolescentes. No primeiro ano da gestão de Renata, os programas educacionais foram divididos em quatro pilares batizados com nomes de árvores

presentes no terreno: castanheiro, ipê-amarelo, paineira e araucária.

O Programa Castanheira é dedicado à educação infantil, promovendo o desenvolvimento integral das crianças, através de atividades culturais, ambientais, esportivas e de cidadania. O Ipê-Amarelo é voltado para a educação complementar, com a realização de oficinas de maracatu e percussão, artes visuais, dança, comunicação, expressão e criação. Algumas atividades visam a mediação de conflitos. O foco do Paineira é o mundo do trabalho, incluindo técnicas comerciais e administrativas. E o Programa Araucária atende aos idosos, que contam com programação cultural, rodas de leitura, além de aulas de relaxamento e meditação.

Para Renata, a maior recompensa do trabalho voluntário é poder observar o resultado — simbolizado no caso do exaluno da fundação que se tornou educador — e saber que aquilo se deve em parte aos embalos de solidariedade social que ela um dia idealizou.

EMOÇÃO

18. Porsche Cayenne S E-Hybrid

31. Opcionais e acessórios

32. “Tudo começou em 1899 com o Lohner Porsche, primeiro veículo do mundo a contar com um motor elétrico, alimentado por bateria”

34. Porsche Panamera

36. “Tudo foi pensado e planejado para criar um roteiro rico e repleto de atividades para encantar as pessoas”

44. “Sempre com o intuito de quebrar a rotina, de sair fora do perfil de uso diário de seus carros, agregando aventura e momentos prazerosos, seja na convivência, seja nas atividades”

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