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Novos modelos de redistribuição: tirar aos menos pobres para dar aos pobres. Que consequências na coesão social? Eduardo Vítor Rodrigues (Sociólogo e Professor Auxiliar do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Investigador no Instituto de Sociologia da FLUP; Email: eduardor@letras.up.pt)
(publicado a 6/4/2012 - http://pt.mondediplo.com/spip.php?article859)
O actual contexto socioeconómico e político e os recentes caminhos do Estado Social português criam uma fundamental necessidade de compreensão dos processos em curso, particularmente no que respeita às políticas redistributivas, como o Rendimento Social de Inserção (RSI). Neste quadro, importa, à luz dos debates públicos recentes e das mudanças (financeiras e jurídicas) das políticas sociais, aprofundar a discussão sobre o papel das políticas de mínimo garantido nos processos de mudança social, ou somente na atenuação (reprodutora) dos impactos da pobreza e dos mecanismos excludentes.
1. Portugal semiperiférico e políticas sociais tardias Portugal é um país dito da periferia da Europa. Mas isso apenas é o resultado da dimensão territorial a definir a questão. Do ponto de vista desenvolvimentista, Portugal apresenta características de país na semiperiferia do sistema-mundo (Immanuel Wallerstein), situando-se numa posição de charneira entre os países ricos e os países desfavorecidos, com consequências nas opções diplomáticas e de política externa, mas também nas opções económicas, de política social, assim como nos mais variados indicadores sociais. A condição desenvolvimentista de Portugal também não pode ser explicada pela dimensão ou escala demográfica, como insistentemente ocorre. Os dados mostram que países com metade da população portuguesa, como a Finlândia ou a Dinamarca, ou com muita mais população, como a França, têm modelos bem mais estruturados de Estado Social, fruto simultaneamente das opções políticas que o enquadram e do contexto histórico em que foram desenvolvidos.