Edição 126

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P.12 / COM A PALAVRA Mario Sérgio Cortella fala sobre moral e ética

UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS Nº 126 /// ANO XXII /// FEVEREIRO - MARÇO 2018

O VALOR DAS HUMANIDADES

P.18 / GESTÃO Acerte na contratação de profissionais


2 /// COMEÇO DE CONVERSA

Mudar é preciso CARINE FERNANDES Editora da Educação em Revista

projeto editorial é o destaque à “ação”, evidenciado na nossa nova marca e também na proposta editorial, que vai trazer importantes reflexões teóricas associadas à prática, com maior interação dos leitores. Mas vamos parar por aqui para não antecipar mais as novidades, deixaremos que você, leitor, confira o resultado nas próximas páginas! Esta primeira nova edição vem repleta de conteúdos interessantes: temos desde uma entrevista exclusiva com

Nos últimos anos, a Educação em Revista tem investido fortemente em pautas que incentivam a mudança, a inovação, o “pensar fora da caixa”. Agora, chegou a nossa vez de mudar. Nesta edição de março, inauguramos novo projeto gráfico e editorial pensado nas novas necessidades e anseios dos nossos leitores, claro, sem perder a qualidade e a relevância de

o filósofo Mario Sérgio Cortella a reportagens sobre BNCC, seleção de professores, planejamento estratégico, ensino híbrido, novas legislações na Educação Básica e Superior, entre outros assuntos. Esperamos que você goste das novidades! Uma ótima leitura e um excelente ano letivo para todos nós!

LUCIANA SEVERO /3EX IMAGENS AÉREAS

conteúdo, marcas registradas da Educação em Revista há mais de 20 anos. A nova Educação em Revista não poderia chegar em um melhor momento para o SINEPE/RS, já que 2018 é o ano em que comemoramos os 70 anos do nosso sindicato. Motivos em dobro para comemorarmos ! Nas próximas páginas, você vai conferir um projeto gráfico mais arejado e arrojado e maior profundidade nos temas. Exemplo disso é a matéria de capa. Um assunto tão importante e tão profundo como “humanização” é abordado em diferentes

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perspectivas e ênfases, com a visão de especialistas, cases

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de instituições e um ponto de vista interdisciplinar, tratado sob o ponto de vista da cultura. Outra ênfase importante do

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/// Humanização é abordada em diferentes perspectivas

/// EXPEDIENTE EDIÇÃO: Carine Fernandes. Produção: Carine Fernandes (MTB 15449), Patrícia Gastmann (MTB 15336) e Wagner Miranda de Figueiredo (MTB 18739). Reportagens: Carine Fernandes, Ângela Ravazzolo (MTB 28041), Vívian Gamba (MTB 9383) e Padrinho Conteúdo. Capa: Istock Photo. Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação. Revisão: Rosane Vargas e Milton Gehrke. Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres, Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1º Secretário: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: Hilário Bassotto, 2º Tesoureiro: João Olide Costenaro. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Joacir Della Giustina, Laura Coradini Frantz, Nestor Raschen, Jacinta Maria Rothe, Carlos Roberto Milioli. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Cátia Teresinha Lange. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Guilherme Kühne ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E MARKETING: Coordenador: Prof. Osvino Toillier. Assessora de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani. Assessora de Imprensa: Carine Fernandes. Jornalista: Wagner Miranda de Figueiredo. Criação: Hermes Moura. Estagiário: Bruno Pinheiro. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org. br. Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123 A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.


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PÓS-GRADUAÇÃO COM METODOLOGIAS ATIVAS

Aulas aos sábados quinzenais com início em Abril de 2018.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


4 /// SUMÁRIO

06 CAPA Humanidades têm papel transformador na educação

12 COM A PALAVRA Mario Sérgio Cortella: “A ética está sempre em crise”

22 PEDAGÓGICO Ensino híbrido é tendência na educação superior

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28 DIVERSIDADE

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Tudo o que a sua instituição precisa saber sobre deficiência auditiva

30 RADAR Como implantar a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental

41 ER PERGUNTA Planejamento estratégico dá resultado?


NOSSO PRINCIPAL CONTEÚDO É O SER HUMANO


6 /// CAPA

HUMANIDADES TÊM PAPEL TRANSFORMADOR NA EDUCAÇÃO POR VÍVIAN GAMBA


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m mundo de relações frágeis, de crise de ética e de

e, a um só tempo, o direito e o dever de eles se ‘afastarem’ do

valores, de corrupção e de intolerância pode ter na

presente e, a partir de conhecimentos sólidos e criteriosamente

educação, em especial nas Ciências Humanas, um

organizados, produzirem pensamento crítico”, defende. O treino

caminho para um futuro mais promissor. O papel das Artes, da

para dar respostas, não depender de ninguém e se virar sozinho

História, da Sociologia, da Filosofia, as chamadas Humanidades,

tem que dar lugar ao pensar fora da caixa, questionar, olhar

mostra-se cada vez mais importante na formação dos alunos

outros ângulos. É a partir disso, e da autocrítica, que a mudança

diante de uma realidade que clama por mudanças.

acontece, alega Zeca de Mello. Laura também destaca o papel

“Há um déficit de humanidade na nossa formação em geral”,

do professor nesse processo: “seja ele pedagogo, professor de

acredita o professor de Humanidades e Gestão na Fundação

História, Filosofia ou Sociologia, precisa ter liberdade para trazer

Dom Cabral Zeca de Mello. Tanto que, na última década, cursos

os assuntos para a sala de aula; e o aluno, liberdade para construir

de formação de líderes passaram a ter uma ênfase muito forte

seu conhecimento. Conhecimento, não opinião. Ciências Humanas

em pensamento e conhecimento crítico, em relação com outras

não são opinião; talvez esse seja o ‘pulo do gato’ para que elas

culturas e em capacidade de imaginação. “A maior parte das

reconquistem sua legitimidade frente à comunidade escolar”,

lideranças estratégicas, no Brasil, é de formação muito técnica

argumenta Laura. Para que isso ocorra, contudo, a escola precisa

(engenheiros, economistas, administradores). O desafio das

assumir esse discurso, afirma a especialista.

organizações é lidar com a diversidade cultural, com as novas

Para a doutora em Educação, além de criar contextos de

relações, com a tecnologia.”

aprendizagem colaborativos – que são extremamente

E o da escola é começar a desconstruir o modelo que privilegia

positivos –, a escola precisa, igualmente, pensar em trabalhar

datas. A Matemática é a ciência com maior importância porque

o “bem comum”, o olhar generoso em relação ao outro, àquele

os frutos são imediatos, enquanto os frutos das Humanidades

que é diferente. Porque não se deve levar em consideração

são mais lentos, quase imperceptíveis, explica o professor. Essa

apenas a forma desse trabalho, mas a sua finalidade.

seria a razão de essas disciplinas não terem tanto destaque na

E a relação entre Tecnologia e Humanidades existe? Sim, e

formação básica. “Projetos educacionais mais ousados têm

não é antagônica. O pesquisador e professor da Ufrgs Alfredo

dado ênfase à educação socioemocional e à importância de

Veiga-Neto afirma que discussões sobre o divórcio – e até

lidar com a diversidade, a violência, a empatia para lidar com

competição – entre a Tecnologia e as Humanidades “revela

a violência”, aponta Zeca de Mello. As Artes e a Literatura, em

uma lamentável esquizofrenia, típica da contemporaneidade”.

geral, têm um poder de transformação muito grande, segundo

Entre os muitos ângulos possíveis para abordar tal dissociação,

ele. Ao ler um livro, assistir a uma peça, somos convidados

está aquele associado ao que ele chama de mercadorização.

a nos colocar no lugar do personagem. Isso influencia numa

“É bem mais fácil valorar, em termos de mercadoria, qualquer

série de coisas, inclusive na escolha profissional, em qual papel

produto ou atividade tecnológica do que qualquer prática ou

vamos desempenhar na sociedade. “Outra coisa importante é a

princípio ético. Adquire destaque aquilo que pode ser medido

tendência de separar o certo e o errado, o bom e o mau, e a vida

objetivamente.” Moralidade, decência, compreensão, tolerância

não é assim. Edgar Morin fala muito bem da necessidade de

e acolhimento da diferença não são mensuráveis de forma

envolver um pensamento capaz de lidar com a complexidade

objetiva e, por isso, são muitas vezes desprezados, como se

do mundo atual, e no ambiente artístico é possível ver isso

não existissem ou não tivessem importância.

mais de perto. É possível se apaixonar pelo vilão, porque a gente consegue entender que ele não é de todo mau.”

Interdisciplinaridade

A produção de pensamento, em especial de pensamento acerca

Uma única disciplina não seria capaz de explicar, problematizar

do presente, é o principal papel das Ciências Humanas para a

e tampouco apontar caminhos para a (suposta) solução de

doutora em Educação e coordenadora do Fórum das Licenciaturas da Unisinos, Laura Habckost Dalla Zen. Dessa forma, é possível compreender o mundo em que se vive, não apenas reproduzi-lo. “Na formação dos alunos, as Humanidades são a oportunidade

As Artes e a Literatura, em geral, têm um poder de transformação muito grande EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


8 /// CAPA

LUCIANA SEVERO /3EX IMAGENS AÉREAS

problemas, desafios, ou “perigos” do nosso tempo, que são extremamente complexos, alega Laura. Essa é a razão pela qual as disciplinas de Ciências Humanas, mas não apenas elas, precisam ser trabalhadas de modo interdisciplinar, com foco na resolução de problemas. “Problemas complexos exigem abordagens complexas, e isso pressupõe articulação entre saberes e conhecimentos”, fala a professora. Zeca de Mello orienta os professores a desenvolverem o espírito crítico e o raciocínio analítico a partir de casos reais. “Crítica, na Filosofia, é a arte da distinção, o distanciamento de uma situação para avaliá-la. Uma forma de fazer isso é

/// Escolas devem investir nas habilidades socioemocionais

trabalhar com algo que está acontecendo e buscar oferecer opiniões diversas, criar uma polarização. É fundamental

Mello, é preciso distanciamento de uma situação para avaliá-la.

exercitar a habilidade de tomar o lugar de quem pensa

Fazer com que o aluno tenha uma base sólida para formar

diferente da gente, por mais difícil que isso seja.”

seus próprios argumentos não é tarefa fácil. Ainda mais

É o que faz o professor de Geografia do Colégio Santa Inês,

com a facilidade de acesso a informação com tantos vieses e

de Porto Alegre, Bruno Peres, que acredita que a teoria, por si

opiniões inflamadas nas redes. Até que ponto o “argumento”

só, não tem mais lugar na sala de aula. “Hoje é mais comum o

não é apenas reprodução daquilo que se ouve? “Esta é uma

próprio aluno trazer uma notícia e cabe ao professor aliar essa

questão importante e que tem sido muitíssimo discutida de uns

informação aos conhecimentos científicos e teóricos e trazer

tempos para cá. Afinal, ninguém nasce intolerante, racista ou

significado para esses conhecimentos. Isso desacomoda o

homofóbico. Aprende-se a ser intolerante, racista ou homofóbico

aluno, levando-o ao desenvolvimento reflexivo.”

por obra da Educação, tanto na escola quanto fora dela. Além

No “momento aleatório do professor” – prática instituída na

de importante, essa questão apresenta várias facetas”, alerta

escola, na qual os dez primeiros minutos de aula são de bate-

Veiga-Neto. Uma delas, a limitação do poder do discurso.

papo cotidiano –, ele fala sobre notícias garimpadas em jornais

Práticas discursivas e não discursivas moldam, juntas, nossos

e na internet pertinentes à geografia e à realidade dos alunos.

entendimentos e nossas ações, aponta o professor. “Qualquer

“A ideia é trazer uma problemática e provocar a reflexão sobre

prática educativa centrada apenas na palavra, dissociada das

o tema proposto. Então fazemos os links e as associações

ações, produz efeitos pífios ou danosos. Se não houver coerência

possíveis com o currículo-base da disciplina.”

e nexo lógico entre o que um professor diz e o que ele faz, seu

Os alunos, segundo Peres, estão cada vez mais informados,

trabalho será um fracasso. É isso que a Pedagogia diz quando

mas é preciso ver o que é válido e o que deve ser deixado de

recomenda ensinar pelo discurso e pelas atitudes ou ações.”

lado nas discussões. Em questões políticas, o professor afirma que mesmo no âmbito de uma escola privada, que pressupõe

Reflexo da formação humana

um bom padrão financeiro, há discursos de várias linhas. “Mas

Foram aulas como essa que ajudaram o administrador e

trabalhamos, no entanto, para compreender como os governos

empresário Leandro Gostisa na busca por autonomia e

brasileiros contribuíram para a melhora ou desfavoreceram o

independência intelectual na sua formação acadêmica. O

desenvolvimento humano dentro do país.” Como falou Zeca de

gosto por História, Filosofia, Psicologia e Sociologia, por tentar entender as grandes mentes, o porquê da ação humana e as relações entre as pessoas, fez com que ele, inclusive, mudasse

Área das humanidades oportuniza desenvolver pensamento crítico e o pensar ‘fora da caixa’

de curso – sua primeira opção tinha sido Análise de Sistemas. “[Essa base das Humanidades] me permite ter mais condições de percepção, minha e dos outros, e me ajuda na tomada de decisões. [Me ajuda] a ser mais curioso e menos arrogante;


9 a mudar conclusões prévias e ideias antigas; a administrar

era se colocar no lugar do outro, buscar empatia, consistência de

emoções, como a ansiedade, e a desenvolver empatia.”

discurso e argumentação. “Acredito que as experiências ligadas às

Ele, que é Conselheiro do Instituto de Estudos Empresariais

Ciências Humanas propiciadas pela escola, em sala de aula e fora

(IEE), afirma que um dos maiores problemas observados nas

dela, são fundamentais na formação. [Definem a forma] como nos

organizações é a falta de consciência do indivíduo e do líder, muito

comunicamos, como trabalhamos em grupo, como negociamos

mais que as deficiências técnicas. “Conforme alguns estudos,

em todas as esferas de nossa vida, como estabelecemos empatia

presidentes de empresas sem MBA têm tido resultado melhor

com o outro, como apresentamos um projeto ou uma ideia.”

que aqueles com tal formação. Há evidências que mostram que o

Entre os desafios que os professores têm pela frente, Veiga-Neto

problema está no baixo desenvolvimento de consciência, o que é,

destaca apenas um: conferir importância a saberes e práticas que

basicamente, tema das Humanidades”, destaca.

a imensa maioria considera não importantes. “Ensinar e aprender

A sócia diretora da Enfato Comunicação Empresarial e

Poesia, Música, Filosofia e Humanidades em geral é visto, por

professora da Pucrs, Raquel Boechat, também acredita que as

muitos, como uma perda de tempo, um desvio em relação ao

Humanidades foram decisivas para sua formação, tanto na área

que seria mais importante para o futuro, como Química, Biologia,

profissional quanto pessoal. As aulas de Filosofia, no Ensino

Física etc. Tal equívoco é grosseiro, polarizador, conservador e

Médio, nas quais o professor, chileno, incentivava muito o debate,

revela o desconhecimento acerca do que seja a nossa dimensão

o pensamento crítico e a avaliação sobre o mundo – a turma

humana. Somos humanos porque, pela Educação, nos tornamos

acabou viajando para o Chile, uma experiência única – e os júris

humanos; e uma Educação que não contemple as muitas faces

simulados foram pontos de destaque para a jornalista. Em temas

desse ‘tornar-se humano’ vai produzir lacunas insanáveis na

polêmicos, era preciso assumir a posição de defesa ou acusação,

sociedade e nas gerações futuras.”

independentemente de concordar ou não com a ideia. O exercício

Sugestão de pauta de Laura Dalla Zen.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


10 /// ENTRE ASPAS

Ciências Humanas a serviço da sociedade

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compromisso de formar indivíduos que façam pleno uso de seu conhecimento em benefício da coletividade. Em Geografia, podemos exemplificar a necessidade da compreensão do significado da Terra para a vida humana e a importância do lugar em que as pessoas se encontram e atuam como um fator organizador de conceitos fundamentais para a educação. A BNCC demonstra que o raciocínio geográfico deve estar associado à identidade com a comunidade, com o ambiente local no qual os estudantes possam desfrutar experiências diretas. Já o conteúdo de História passa a ser organizado segundo a cronologia dos fatos, além de mostrar que ela é parte do que

udanças profundas para uma educação brasileira

somos, de nossa identidade, nossas origens, nosso passado.

qualitativa e equânime foram iniciadas em dezembro

Não há pessoa nem povo sem história. Para sabermos aonde

do ano passado, por meio do ministro Mendonça

vamos, precisamos entender de onde viemos.

Filho, com a homologação da Base Nacional Comum Curricular

A História pode dar um novo rumo à nossa realidade.

(BNCC) da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

Podemos tirar dela grandes lições do passado, valorizarmos

Temos pela frente uma etapa essencial, que é fazer com que a

o que foi bom, não repetir os mesmos erros e entender que

BNCC saia do papel para, efetivamente, levar as mudanças reais

um futuro melhor pode ser construído por nós. Empatia,

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e necessárias às salas de aula. Essa implementação deve ocorrer

humanidade e tolerância são nobres qualidades que devem

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com a colaboração entre o Ministério da Educação (MEC) e os

ser amplamente cultivadas na busca por uma sociedade

sistemas de ensino distrital, estaduais e municipais, tendo as

brasileira igualitária e desenvolvida, prevista na BNCC.

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escolas e os professores como protagonistas desta transformação

O poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941) afirmou:

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“Na educação, o fator mais importante é uma atmosfera de

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que impactará diretamente a vida dos estudantes.

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Sendo um documento completo e contemporâneo, que

atividade criativa”. É esse sentimento que a Base Nacional

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responde às demandas do cidadão desta época preparando-o

Comum Curricular deve suscitar em todos os educadores,

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para o futuro, a área de Ciências Humanas do Ensino

pois, pela primeira vez, temos na educação brasileira um

Fundamental da BNCC preza pela oferta de uma compreensão

documento que define os direitos de aprendizagem para o

ampla da humanidade, propiciando aos alunos habilidades para

estudante do Amazonas ao Rio Grande do Sul.

assimilar e solucionar processos e fenômenos sociais, políticos e culturais por si só, de forma ética, responsável e autônoma. Na BNCC, antes de mais nada, existe a necessidade de reconsiderarmos o ensino em termos de inclusão, tanto de especialização como de educação ampla e aprofundada. Nesse contexto, esse documento propicia ao corpo docente a autonomia e o desenvolvimento de métodos de ensino inovadores, para oferecer ampla e plena assistência aos estudantes. Ela acena para a possibilidade de os professores desenvolverem métodos criativos, inspirando os estudantes com entusiasmo por um método positivo, que gere a transformação da sociedade. As Ciências Humanas estão orientadas no sentido de ajudar a cultivar um conhecimento que sirva à sociedade, em vez de encher a cabeça dos estudantes com informações

ROSSIELI SOARES DA SILVA

fragmentadas. As competências dessa área alertam sobre o

Secretário da Educação Básica do Ministério da Educação


hÁ 70 ANOS O SINEPE/RS agrega e protagoniza. Une e fortalece. Questiona e desafia. Ensina e aprende. É mestre e é aluno.

Sabemos que novos desafios virão e estamos preparados!


12 /// COM A PALAVRA

NANA HIGA

“A ética está sempre em crise” WAGNER MIRANDA DE FIGUEIREDO

A

moral e a ética estão no eixo central da formação humana. Diante da crise em que vivemos desses

valores na sociedade, muitos se perguntam onde a

educação errou. Para o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, a escola tem uma função importante na construção e na reconstrução da moral, mas não pode agir sozinha. Ele vê essa função da educação num sentido mais amplo, envolvendo a família e a sociedade. Nesta entrevista concedida à Educação em Revista, o especialista explica porque a ética está sempre em crise e faz previsões para o futuro. Confira. Educação em Revista – A escola cada vez mais é cobrada para trabalhar a moral e a ética com os alunos. O senhor acha que é o seu papel? Mario Sergio Cortella – Também é... Não é algo que a escola faça sozinha, mas ela não pode deixar de fazer. Esse papel

éticos. Nesse sentido, nossa experiência – últimos cinco anos – é

secundário da escola se dá pelo fato de o tempo que uma

absolutamente importante. E essa experiência tem uma natureza

criança convive na estrutura escolar ser menordo que outros

pedagógica muito forte. Mudamos aquela áurea de invisibilidade

tempos que ela tem. O que não se pode de maneira alguma é

que se tinha, em que uma parcela imensa da sociedade

atribuir somente à escolarização essa tarefa, que é muito mais

dissimulava as encrencas existentes no campo público e privado,

ampla e que, num ponto de partida, cabe à estrutura familiar.

no campo da família, da escola, da mídia, da política, da empresa e deixava isso como se fizesse parte da normalidade. Passamos a

E como deve ser feito esse trabalho com os alunos?

cada vez mais entender como sendo distorcido aquilo que agride

A escola pode aplicar a moral e a ética de dois modos: primeiro,

a ética. Por isso, vivemos um momento em que, embora a sujeira

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como parte de algum conteúdo que vai estar distribuído

seja produzida, já somos capazes de recusá-la.

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nas disciplinas, sendo capaz, portanto, de refletir sobre os

O Brasil não vive agora uma crise ética porque a ética, para

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temas dentro do conteúdo interdisciplinar das várias áreas do

nossa alegria, ela está sempre em crise, no sentido de

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conhecimento. O segundo é de natureza exemplar, isto é, não

mudança da percepção e da vigilância. Por outro lado, o que

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aparece como conteúdo em sala de aula, mas no cotidiano da

nós temos agora é uma crise do nosso modo de enfrentamento

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escola – convivência em sala de aula, no pátio e nas festividades.

das questões éticas. Não dá mais para fingir que as coisas não estão acontecendo dentro e fora de nós. Nesta hora, claro,

O senhor define a ética como um conjunto de valores e princípios

parece uma crise externa. E ela não é. É interna e se reflete,

usados para a conduta em sociedade; e a moral, a prática desses

obviamente, no conjunto da vida coletiva.

princípios. O que explica a crise de moral e ética no país? Hoje, no Brasil, vivemos um momento especialmente importante

E o papel da educação na retomada da moral brasileira?

porque nós começamos a refletir mais densamente sobre valores

A recuperação da moral brasileira passa pela educação, mas

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13 não exclusivamente pela escola. A educação, sendo a formação

cotidiano, mas não a partidarização, doutrinação, segmentação.

de uma pessoa, se dá nas várias instituições sociais. Nesse

É evidente que uma educação que não leve em conta aquilo que

sentido, a educação na família, a educação na mídia, a educação

é o contexto e o ambiente como sendo parte do assunto a ser

no lazer e a educação na escola têm a intenção de fazer com

tratado é uma escola que falha na sua tarefa de formação geral.

que se possa edificar uma convivência que seja saudavelmente

O que a escola não deve, obviamente, é partidarizar ou doutrinar

ética. Por isso, sem a educação num sentido mais amplo, essa

numa direção exclusiva, mas fazê-lo de modo que esse tema

retomada da moral brasileira não acontece. Afinal, ninguém

possa vir para a compreensão do corpo discente e uma ação

nasce pronto e, nesse sentido, a busca pela prática do malévolo

mais relevante do corpo docente. Isso é até um dever ético, não

ou do benévolo resulta de uma escolha a partir da formação de

sendo apenas uma questão circunstancial.

princípios que a pessoa tenha. Nessa hora, a educação não é só uma das formas de fazer com que a conduta ética seja decente.

Quais as suas perspectivas para este ano?

Ela é a única forma de fazê-lo,na medida em que a educação é

O Brasil vive um momento especial. Não há cura sem febre.

exatamente a construção de cada um de nós.

Nosso momento é febril, mas é necessário para que a gente possa depurar tudo aquilo que aí estando resulta ou de coisas

É possível discutir a situação política do país dentro da sala de

que não conhecíamos ou de situações com as quais somos

aula sem viés ideológico?

coniventes, algumas delas deque nós nos beneficiamos, outras

A escola não pode se omitir quanto à reflexão política.

omitimos, outras fomos ludibriados. Nesse sentido, 2018 é um

Obviamente, que nenhuma unidade escolar pode ter uma

ano de extrema atenção para que a gente seja capaz de não

condução partidária nessa atividade. Do ponto de vista global,

ser nem negligente e nem pouco inteligente em relação àquela

Revista 1 06/02/2018 11:13:04 umaSinepe_Minecraft1.pdf escola tem a tarefa de trazer o conteúdo político para o seu

nação que é nossa e a qual queremos bem.

EDUCAÇÃO EM REVISTA /// E D U C AT I O N


14 /// PONTOS DE VISTA

O professor e sua O professor sempre foi e sempre será a referência para seus alunos. Muito mais do que passar conhecimento acadêmico, ele tem a oportunidade de transmitir sua visão de mundo e valores. Parte do seu repertório de vida é formada por sua bagagem cultural, que se reflete diretamente em sala de aula. Trouxemos especialistas em literatura e cinema para mostrar como essas duas áreas influenciam na formação humanística do professor.

É

um consenso o quanto o uso de obras cinematográficas

representação das ditas minorias. Se a mulher, historicamente,

se tornou um instrumento pedagógico importante

sofreu com uma brutal marca da inferioridade de gênero, os

para a educação em qualquer nível. O fato não deixa

negros e as sexualidades não heteronormativas há pouco

de colocar em questão, todavia, a qualidade e o sentido desse

ganharam maior visibilidade, ainda que enquadrados nos

recurso, cuja potencial banalização pode vir acompanhada por

mais diversos clichês e estereótipos. Isso nos esclarece sobre

um caráter meramente instrumental. Se concordamos com o

o processo de dominação e/ou integração social replicado na

fato de que os filmes são perfeitos para ilustrar ou materializar

grande tela e em suas narrativas ficcionais e documentais. Se não

contextos sócio-históricos e mesmo conceitos científicos, há

atentarmos para o caráter de mercadoria dessas obras, do seu

que se discutir a abordagem relativa a tais obras, para além de

papel no sistema da Indústria Cultural e do seu poder discursivo

sua dimensão de entretenimento.

num panorama de representação que Stuart Hall denominou

Já se tornou um lugar comum que alunos sejam incitados a

de política da imagem, o repertório fílmico dos educadores

pensar o holocausto a partir de produções como ‘A Lista de

poderá se converter num instrumento de conformismo social

Schindler’ e ‘A Vida É Bela’. Eis que a suposta solução converte-

ou mera propaganda ideológica. Tal possibilidade pode solapar

se num problema, dado o estatuto limitado de ambos os títulos

completamente a dimensão emancipatória do cinema e reforçar,

não apenas no aspecto histórico (o caráter salvacionista que

para usar um termo caro a Theodor Adorno, a vida administrada

desloca a questão central do implacável extermínio industrial)

e sua colonização pelo mercado.

como na própria abordagem da memória das vítimas e de sua identidade cultural, que pereceram sem deixar testemunho do horror. Troque estes filmes digeríveis e redentores por ‘Noite e Neblina’ e ‘Shoah’, e os alunos terão uma perspectiva muito mais realista e profunda da dimensão da catástrofe. Assim, as obras fílmicas só iluminam as humanidades se forem por elas previamente iluminadas, a partir de conhecimentos da crítica cultural, da filosofia, da história, da estética, entre outras áreas, necessariamente com uma abordagem crítica. Pois os filmes constituem um universo de representação nada inocente, marcado por estereótipos, visões de mundo e ideologias hegemônicas e, não raro, conservadoras. Além de um espaço eminentemente masculino e dominado por potências econômicas e políticas cujo olhar repisa seu menosprezo e desconfiança em relação ao “Outro”. O fato é provado pelas contradições que atravessam a

ADRIANA KURTZ Professora da ESPM-Sul e doutora e mestre pela UFRGS


15

ua bagagem cultural

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uitos pensam que a literatura serve para passar

de leituras com as quais o livro X possa dialogar. Mas é

mais rapidamente o tempo quando não se

inegável que há alguns livros que têm maior poder do que

tem nada a fazer, ou que é útil para distração

os outros. Para mim, isso aconteceu com as ‘Confissões’,

nas férias. Há os que dizem ter sempre uma leitura na

de Agostinho de Hipona. Posso dizer que, se não me

cabeceira da cama... para que o sono venha logo. Você

transformei noutra pessoa, passei a entender melhor a

deve ter muitos conhecidos que dizem “estou lendo um

vida, o mundo e as pessoas que nele habitam.

livro”, e se você quer saber como vai a leitura, respondem

Por fim, a literatura é fonte de conhecimento do

com um vago “vai bem, mas estou ainda na página dez,

mundo. Por exemplo: conhece-se o que foi a França da

porque não tenho tempo para ler, você sabe bem como

Restauração lendo Balzac, e só se entende a fundo o que

é nossa vida de professor, aulas, correção de provas,

é uma seca no Nordeste lendo O ‘Quinze’, de Rachel de

preparação de aulas, essas coisas”. E não arrisque

Queirós, e sabemos bem o que era o Rio de Janeiro no

perguntar mais nada.

segundo império com a leitura de José de Alencar.

Hoje em dia, é mais comum alegarem a concorrência dos

Se soubermos internalizar essa tríplice função da

modernos meios audiovisuais – mas eu duvido: o nível de

literatura, faremos um grande bem a nós mesmos e, assim,

não leitores é o mesmo de anos atrás. Numa sala de aula,

estaremos aptos a convencer nossos alunos. Insistir

em 1978, quando não havia nada disso, eu percebia que

apenas no “prazer da leitura” perante os jovens é algo

quatro ou cinco alunos eram leitores habituais – e esse

temerário, às vezes com dano perene. Esse prazer deve

índice permanece o mesmo quarenta anos depois.

dialogar com a transformação e o conhecimento que a

Assim, a questão é mais profunda. Nós, professores, temos

literatura propicia.

a responsabilidade de dar o exemplo, mas, para isso,

e não sou o primeiro a dizer isso. A literatura é fonte de prazer. Desde que tenhamos feito uma boa escolha do livro, ele preenche nossa necessidade de bem-estar. Com toda certeza, você já disse que estava

DOUGLAS MACHADO

temos de estar convencidos de três pontos que podem nos ajudar,inclusive como argumentos perante nossos alunos –

“louco” para ir para casa, para continuar uma leitura. O nosso Quintana escreveu que o livro é a melhor maneira de estar só e acompanhado ao mesmo tempo. A literatura é meio de transformação. No século XVIII, o ‘Werther’, de Goethe, teve esse papel; ‘O apanhador em campo de centeio’, de Salinger,mudou a cabeça do século XX. Mas penso na transformação que ocorre no plano individual. Você já leu ou ouviu alguém dizer, em entrevistas, talvez com um pouco de hipérbole, que “o

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

livro X mudou minha vida”. Mas um livro sozinho só irá

Doutor em Letras, professor da Escola de Humanidades-Letras da PUCRS. Romancista, com mais de 20 livros publicados.

mudar uma vida se o leitor já tiver uma intensa carga

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


16 /// INSPIRE-SE

Teatro e Literatura para formação humana

O

teatro é um meio importante para trabalhar a

desdobra em um processo avaliativo que contempla a

humanização. A dramatização contribui para a

criação, o comprometimento e a intenção de visualizar uma

socialização, a autonomia, o protagonismo juvenil,

transformação no meio educativo. Ao conhecer e fazer

além de intensificar a assimilação de conteúdos de diferentes

arte, o estudante investiga percursos de aprendizagem

áreas do saber. Mas como trabalhar o teatro de forma

que proporcionam conhecimentos específicos e o

instigante e eficaz no Ensino Médio? O Colégio Marista Santa

desenvolvimento de habilidades e competências.

Maria, de Santa Maria, investe desde 2002 no projeto ‘Maristas em Arte (Marte)’. Por meio de encenações sobre temas

Interligação das diferentes áreas do conhecimento

escolhidos a partir dos textos literários cobrados pelo Exame

A realização do projeto ‘Marte’ está alicerçada na proposta

Nacional de Ensino Médio (Enem), as turmas são desafiadas

pedagógica marista, que alia preparação acadêmica à formação

a estarem à frente de todo o processo da montagem das

humana. Cada componente curricular articula e aborda o tema

peças, incluindo pesquisa, roteiro, cenário e figurino. O projeto

de acordo a especificidade do seu conteúdo, expandindo, assim,

conquistou o 8º Prêmio Inovação na Educação, promovido pelo

outros olhares sobre o assunto proposto e fortalecendo a

SINEPE/RS ano passado, na categoria Área-Fim.

interdisciplinaridade na área de Ciências Humanas e Linguagens.

Inicialmente, o ‘Marte’ fazia parte da disciplina de Artes, mas

Ao longo de 15 anos, o projeto envolveu 1165 estudantes na

depois foi reconfigurado em uma proposta interdisciplinar,

criação de 95 espetáculos. Uma pesquisa realizada junto aos

integrando os componentes de Língua Portuguesa, Literatura,

participantes mostrou que 100% deles consideram que o

História, Filosofia e Sociologia. Diante das mudanças do

‘Maristas em Arte’ contribui para o desenvolvimento do trabalho

Enem, em 2015, passou-se a priorizar crônicas do cotidiano.

em equipe, da responsabilidade, do comprometimento com

A intenção era unir teatro e literatura para aplicar conceitos

os objetivos e para o exercício da liderança e do protagonismo.

diversos e desdobrar temáticas que dessem ao estudante a

Assim, o ‘Marte’ representa a busca pela cultura visual, sendo

possibilidade de selecionar, relacionar, organizar e interpretar

uma proposta de tarefas e desafios e uma oportunidade de

informações para defender um ponto de vista.

desenvolvimento de habilidades e valores essenciais para a vida

Além desse reforço na produção textual, o projeto se

escolar e a formação pessoal de cada jovem.


PERGUNTA DO LEITOR /// 17

Nova legislação no Ensino Superior

monitoramento, que tem o propósito de verificar a qualidade e a regularidade das instituições e a oferta de cursos e subsidiar o MEC nos processos autorizativos. Entre as principais alterações no decreto, podemos citar: a avaliação externa in loco realizada por comissão única de avaliadores; a possibilidade de credenciamento prévio de instituições vinculadas às mantenedoras já recredenciadas com CI igual ou superior a 4 e não penalizadas em processo

Com a alteração da legislação do ensino superior, os

administrativo de supervisão nos últimos cinco anos;

processos de avaliação de cursos e credenciamento

número máximo de 5 cursos e necessidade de publicação

ou recredenciamento de IES serão mais ágeis? Qual a

de regulamento; autonomia para expedição de diploma por

perspectiva com relação à alteração das avaliações internas

faculdades com CI 5 nas duas mais recentes avaliações e com

para o reflexo da avaliação pelo MEC?

um curso pós-graduação stricto sensu reconhecido pelo MEC,

Giulia Jaeger Englert, coordenadora institucional da

que não tenham sido penalizadas em decorrência de processo

Faculdade Monteiro Lobato – Fato

administrativo de supervisão nos últimos dois anos; a Seres poderá dispensar a avaliação in loco caso a IES tenha CI igual

O

ou superior a 3, inexistência de processo de supervisão e oferta

Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017, que dispõe

de cursos na mesma área de conhecimento, entre outras.

sobre o exercício das funções de regulação, supervisão

Além disso, a exemplo do Decreto nº 9057/2017, o Decreto

e avaliação das instituições de educação superior e dos

nº 9.235/2017 criou uma serie de bônus regulatórios,

cursos superiores de graduação e de pós-graduação no sistema

condicionando a avaliação satisfatória considerando o CI

federal de ensino, produz reflexos nas instituições de ensino

igual a 3 e, em diversos casos, igual ou maior que 4. Mas

superior e na oferta de cursos de educação a distância.

manteve o processo de supervisão com possibilidade de

Ao alterar o Decreto nº 9.057, também de 2017, que

aplicação inclusive de medidas cautelares em função da

regulamenta o art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da

oferta de conceitos insatisfatórios e descumprimento da

Educação Nacional, o decreto estabelece que a avaliação

legislação educacional, razão pela qual as instituições de

será realizada por meio do Sistema Nacional de Avaliação

ensino devem capacitar seus gestores e corpo docente,

da Educação Superior – Sinaes, com caráter formativo, e

objetivando cumprir o novo marco regulatório.

constituirá o referencial básico para os processos de regulação e de supervisão da educação superior, a fim de promover a melhoria de sua qualidade, e também que os pedidos de ato autorizativo serão decididos com base em conceitos atribuídos ao conjunto e a cada uma das dimensões do Sinaes, avaliadas no relatório de avaliação externa in loco realizada pelo Inep. Ou seja, as instituições de ensino deverão rever seu PDI e projetos pedagógicos de curso, considerando obter para o conjunto e para cada uma das dimensões do Sinaes, no mínimo, o conceito 3 no caso da avaliação de cursos, na avaliação institucional, e igual ou maior do que 4 quando forem faculdades, centros universitários e universidades, além de cumprir a legislação educacional. Na avaliação dos cursos de Direito e Medicina, o conceito deverá ser, no mínimo, igual ou superior a 4. Outra inovação prevista no decreto é a possibilidade do

JOSÉ ROBERTO COVAC Sócio da Covac Sociedade de Advogados.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


18 /// GESTÃO

Acerte na contratação de profissionais POR RENATA CRAWSHAW


19

A

falta de alinhamento e envolvimento do funcionário

com a instituição de ensino é uma das principais queixas dos dirigentes quando o assunto é gestão

de pessoas. A causa desse problema pode estar no momento da contratação, na forma de condução do processo seletivo.

“A questão maior é comportamental. É importante que o professor saiba lidar com grupos e frustrações, com possíveis conflitos”, Kátia Biehl

Ter uma política de recrutamento e seleção de professores e funcionários auxilia a instituição a tornar o processo mais claro

conflitos, saiba gerenciar jovens e adolescentes e equilibrar os

e menos subjetivo e formar uma equipe alinhada com os seus

valores com os mesmos da instituição”, afirma.

objetivos. Etapas de entrevistas, simulação de aulas e trabalhos

Para Luciano, uma seleção pouco profissionalizada contribui

coletivos são importantes porque ajudam a conhecer mais

para equívocos de seleção de profissionais. “Um trabalho de

profundamente o candidato do que apenas a análise do currículo.

parceria entre o RH e a área em que o profissional vai trabalhar,

“Certamente, a parcela de subjetividade da seleção precisa ter

permeado por regras claras e procedimentos mapeados,

critérios claros para diminuir as chances de uma seleção que

são elementos que qualificam o processo seletivo, seja de

não contemple as necessidades”, afirma o gerente educacional

professores, seja de funcionários”, reforça.

da Rede de Colégios Marista, Luciano Miraber Centenaro. Ter a definição clara da política da área de Recursos Humanos

Transparência e organização

antes de iniciar um processo seletivo é de extrema importância,

Crismeri Correa, diretora da Possibilità Consultoria Organizacional,

bem como esclarecer os valores da escola e, principalmente,

lembra que os conflitos entre professor e escola podem acontecer

dar acompanhamento ao profissional com avaliação de

por vários motivos, mas o método de cada um é ponto forte nesse

desempenho, por exemplo. “As regras claras são primordiais

desalinhamento. “As escolas, muitas vezes, não conseguem

para facilitar a gestão e para facilitar o trabalho do professor.

engajar os professores para entrarem nesse ritmo desejado.

Outra questão importante é que as escolas tenham definido

Alguns não conseguem se adaptar à instituição, outros não

antes de qualquer coisa um perfil de que tipo de professor

trabalham dessa maneira. Não existe um alinhamento completo,

estão buscando, para que o processo seletivo seja criterioso,

estamos em um processo de mudança constante”.

que fique de acordo com a missão e os valores da instituição”,

Dulcinéia Fraga Hardt é coordenadora da Educação Infantil

afirma a psicóloga e administradora Kátia Biehl. Ela concorda

do Maria Auxiliadora, em Porto Alegre, e acompanhou a

que a avaliação do currículo não é a principal fonte eliminatória.

profissionalização do processo seletivo da escola. “Participamos

“A questão maior é comportamental. É importante que o professor saiba lidar com grupos e frustrações, com possíveis

de palestras, realizamos exercícios e dinâmicas de grupo. Depois, organizamos com o grupo de coordenadores os comitês para

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EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


20 /// GESTÃO

elaborarmos os critérios para processo de seleção da instituição.

tanto no que diz respeito à simulação de aulas, por exemplo,

Estes iam desde uma entrevista com os candidatos, dinâmicas

quanto, até mesmo, em entrevistas coletivas. “A gestão

de grupo, até apresentação das habilidades, integração e

destes espaços de diálogo também é uma habilidade

contratação. Todos os gestores receberam uma pasta com os

necessária para a instituição. Complemento ainda,

critérios organizados, mostrando um passo a passo do nosso

salientando a importância de uma devolutiva adequada aos

processo seletivo”, conta. Para ela, a profissionalização ajuda

candidatos aprovados e não selecionados, o que requer a

na gestão da escola, pois padroniza os critérios para a melhor

capacidade de gestão de pessoas”, afirma.

escolha dos profissionais a serem contratados, buscando a

Quando questionados sobre a diferença de gerações entre

qualidade e o perfil desejados pela instituição.

os colaboradores da escola e se isso poderia contribuir para um possível problema no processo seletivo, todos os

Processos seletivos estruturados

entrevistados deram a mesma resposta: essa dificuldade

As formas de gestão em um processo seletivo são muitas. Para

não existe. “Se as pessoas contemplam as habilidades

Kátia, que trabalha com escolas e realiza cursos na área de

solicitadas e estão dispostas para o trabalho, tudo é possível,

gestão e seleção de pessoas, existem algumas imprescindíveis.

independentemente das diferentes gerações. É importante

“Gosto de utilizar bastante a avaliação de currículo para uma triagem inicial, incluindo o pedido de todos os documentos

ter conhecimento (cognitivo, tecnológico e afetivo) e ser assertivo, demonstrando responsabilidade, bondade, firmeza

para comprovação de formação e experiência. Depois, fazemos

e competência”, afirma Dulcinéia.

uma avaliação técnica para seguir com uma dinâmica de grupo

Já Luciano, no papel de gerente educacional, acredita que

e avaliação de comportamento”, explica.

a diferença de idade pode contribuir, e não atrapalhar os

Para Luciano, é essencial que a escola tenha profissionais

profissionais. “Pensamentos divergentes podem ajudar a

qualificados para mediar o processo junto aos candidatos,

equipe de seleção a entender como cada candidato pensa e identificar quais estão mais alinhados com a proposta da instituição.” A psicóloga Kátia ressalta que o mais importante está no perfil do candidato. Para ela, o que deve ser mais considerado é se o professor se encaixa nos valores da instituição. “A diferença de idade não delimita se a pessoa vai se adaptar ou não. Por isso, traçar o perfil internamente é muito importante para a escola que vai fazer a seleção”, diz. Alinhamento entre professor e escola A Rede de Colégios Marista possui 18 escolas e, para a contratação de novos professores, existe um alinhamento para que elas possam ser assertivas no processo seletivo. Primeiro, o profissional deve se inscrever para determinada vaga no portal da instituição. O passo seguinte é uma entrevista inicial com a coordenação, que faz uma triagem a partir daí e questiona elementos da concepção pedagógica da Rede Marista, para averiguar se existe um alinhamento entre professor e escola. Depois, o professor é convidado a participar de uma espécie de miniaula, para ministrar para parte da coordenação, explicar um determinado conteúdo e ensinar algo de sua livre escolha. Após essa etapa, um retorno – positivo ou não – é dado ao concorrente.


GESTÃO NA PRÁTICA /// 21

Rede Notre Dame profissionalizou a gestão de pessoas

P

O processo seletivo da Rede Notre Dame conta hoje com várias etapas, existindo inclusive a possibilidade de se realizar processo de seleção interna para encontrar o profissional desejado e dar oportunidade de crescimento aos que já trabalham na instituição. A informalidade e a subjetividade dos critérios de escolha deram lugar à Avaliação Psicológica e à Avaliação Técnica – no caso do professor, Avaliação Pedagógica, em que o candidato precisa dar uma aula experimental. A centralização na figura do diretor de escola no processo seletivo foi substituída por um processo que envolve o

ara ser mais assertivo na seleção de professores e

psicólogo da área de Gestão de Pessoas, o gestor da vaga

funcionários, desde 2014, a Rede Notre Dame vem

em questão e, às vezes, até outros profissionais. Quando

investindo na profissionalização da gestão de pessoas.

se trata de selecionar um professor, é o coordenador

O trabalho foi orientado por uma consultoria especializada em

pedagógico o responsável pela entrevista técnica.

Desenvolvimento Humano e Organizacional.

Contudo, pouco adiantaria realizar um processo de seleção

A partir de um diagnóstico organizacional, foi identificada a

profissionalizado se, ao ingressar, o professor ou funcionário

ausência de alguns processos básicos, por isso, ainda em 2014,

não fosse devidamente integrado. “A socialização é um processo

foi estruturado um trabalho de captação e seleção e outro de

de Gestão de Pessoas que tem por objetivo o alinhamento de

socialização, com acompanhamento, de novos colaboradores.

expectativas mútuas, a introdução da cultura organizacional

No ano seguinte, foi elaborado um Código de Conduta e, em

– sobretudo a princípios e valores – e a garantia de um maior

2017, os processos de Avaliação de Desempenho e Feedback.

conforto numa etapa tão delicada quanto os meses iniciais de

A consultora responsável pela execução do trabalho, Ieda

um novo contrato de trabalho”, explica Ieda.

Rhoden, explica que, para dar sustentação a tantas mudanças,

Para a diretora do Colégio Santa Teresinha, Maria Isabel Rossetti,

foi preciso qualificar todos os gestores das escolas por meio de

o investimento realizado pela mantenedora contribuiu para que

um Programa de Desenvolvimento de Lideranças. “Finalmente, as lacunas e equívocos na forma de gerir profissionais,

o processo de seleção de colaboradores seja eficiente e assertivo. “Além da eficácia na contratação, os novos colaboradores

detectados no diagnóstico organizacional, puderam ser

sentem-se acolhidos e amparados devido ao programa de

resolvidos. A inexistência de perfis preestabelecidos foi

integração. A avaliação de desempenho e o feedback são

substituída por descrições de cargo que contemplam a definição

constantes e enriquecedores, permitindo a todos o crescimento

clara dos requisitos ou competências para contratação, incluindo

pessoal e profissional e, à instituição, a certeza de cumprir com

os cargos de professor e assistente de ensino”, relata Ieda.

sua missão com a Proposta Notre Dame de Educação”, destaca.

/// Gestores participam de capacitação sobre feedback

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


22 /// PEDAGÓGICO

Ensino híbrido é tendência na educação superior POR PEDRO PEREIRA


23

E

m meio ao debate sobre as particularidades dos ensinos presencial e a distância, surge uma espécie de terceiro elemento: a modalidade híbrida, que conquista

espaço no Brasil, a exemplo do que já ocorre em outros países. O Ministério da Educação (MEC) não soube informar quantas instituições de educação superior (IES) brasileiras adotam esse novo sistema, mas quem atua na área acredita

9,04%

Foi o ganho de aprendizado dos alunos do modelo híbrido, na comparação com o presencial, em pesquisa realizada em oito IES, em 2017

que o número já ultrapasse 200. Mas o que é, exatamente, o ensino híbrido? O conceito parte

que quiser, mas ainda tem toda a abordagem prática, que muitas

da ideia de que, para receber o conteúdo, o aluno não precisa

vezes é importante para aquelas competências que precisam ser

estar em sala de aula. Pelo contrário: estima-se que, em duas

desenvolvidas – ou em equipe, ou em laboratório”, avalia.

semanas após uma aula totalmente expositiva, o receptor já tenha esquecido 80% do que foi ensinado. O ideal é que o aluno possa

Nem presencial nem a distância

acessar o material didático quantas vezes precisar, onde e quando

A opção por um modelo mesclado se justifica quando se observa

preferir. Já a parte prática, esta sim deve ser aplicada em conjunto,

o aproveitamento dos alunos submetidos aos dois modelos mais

sob a supervisão de um professor, a fim de experimentar o que foi

difundidos atualmente. O diretor do Grupo A, Gustavo Hoffmann,

visto na teoria e esclarecer eventuais dúvidas.

passou 18 meses analisando métodos híbridos em Harvard, nos

O que se propõe, de fato, é aplicar preferencialmente (mas

Estados Unidos, e garante que o sistema presencial não funciona

não obrigatoriamente) as teóricas a distância e as práticas

mais, por dois motivos: primeiro, porque o aluno não tem mais

em sala de aula. Este conceito é chamado de aula invertida,

paciência para ficar três ou quatro horas ouvindo alguém falar;

originalmente denominado flipped classroom, em inglês – já

o segundo motivo é o fato de que o aluno tende a esquecer o

que no modelo tradicional o aluno vai para a sala de aula

conteúdo com o passar do tempo.

receber o ensino teórico e, depois, leva a lição para resolver em casa. “As metodologias ativas são uma realidade que deve ser a tendência da educação brasileira”, sinaliza o professor Aécio Lira, pós-graduado nos Estados Unidos e que atuou como consultor da Unicesumar para um projeto na área. Ele aponta o que considera ganhos: preço mais acessível, resultado de aprendizagem maior e empregabilidade do aluno – segundo ele, os cursos crescem em qualidade. Esse modelo de ensino pode ser aplicado tanto na modalidade a distância quanto na presencial, uma vez que o ensino presencial pode oferecer 20% de sua carga horária em EAD. Em outubro do ano passado o MEC emitiu a Portaria 1.134, em que regula a oferta de ensino hibrido nos polos, estipulando a carga horária máxima presencial de 20%. Caso a oferta dessa modalidade ocorra na sede da instituição, a carga horária pode ser distribuída em 50% presencial e 50% a distância. O fundador da Educa Insight, Luiz Trivelato, evita falar em vantagens ou desvantagens do modelo híbrido, já que depende de como a instituição o aplica e da preparação de alunos e professores. “Prefiro chamar de um método mais contemporâneo, que permite flexibilidade de estudar na hora em

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


24 /// PEDAGÓGICO

Hoffmann acredita que no modelo presencial o aluno não fica satisfeito porque cada um tem seu ritmo de aprendizagem. “Quando a gente expõe o conteúdo no mesmo ritmo para todo mundo, acaba não respeitando as individualidades. O acesso ao conteúdo, que hoje acontece predominantemente em sala de aula, deveria acontecer em qualquer hora, em qualquer lugar. Se pego esse conteúdo, estruturo e coloco em um ambiente virtual de aprendizagem, permito que cada aluno, no seu próprio ritmo, tenha acesso e aprenda quando e quantas vezes quiser ou precisar”, sustenta. Aproveitamento Para estudar a viabilidade dos modelos híbridos no Brasil, Hoffmann conduziu pesquisas com instituições de ensino de diversos estados. O modelo aplicado nos cursos de

/// Ensino híbrido propõe que as aulas presenciais sejam práticas

Engenharia Civil de uma IES, em 2016, contemplava 50% de aulas presenciais, com exposição a metodologias ativas,

“Algumas vezes, as instituições negligenciam o fato de terem

e a outra metade a distância. Depois, o aproveitamento foi

em seu quadro esses professores formados no passado. Eles

comparado aos modelos exclusivamente presencial ou a

devem ser um pouco mais bem preparados em relação àqueles

distância, com os seguintes resultados:

que tiveram mais contato com essas tecnologias durante a

• Alunos do presencial aprenderam, em média, 36% mais do que os alunos do ensino totalmente a distância. • Já os alunos do modelo híbrido, mesmo tendo 50% de carga

formação”, defende Trivelato. E se engana quem imagina apenas instituições de ensino superior aplicando o conceito híbrido. Hoffmann enxerga no

horária presencial, aprenderam 16% mais do que aqueles que

modelo o futuro da educação. “Na educação básica é a mesma

foram submetidos ao sistema presencial. A diferença, claro, é

coisa. A gente deveria convergir para algo único que tem

ainda maior em relação ao EAD.

elementos de tecnologia, de comunicação, mudando o papel do

Uma segunda pesquisa, de 2017, comparou dois grupos –

presencial para fazer um híbrido”, acredita.

100% presencial x híbrido no formato 50% presencial e 50%

Hoffmann acredita que, nos próximos anos, o Brasil deve

a distância – em oito IES. A conclusão foi de que os alunos do

experimentar uma convergência para um modelo único de

modelo misto obtiveram 9,04% mais de aprendizado do que

educação, independentemente da área de conhecimento.

na metodologia restrita à sala de aula.

Segundo ele, ainda se separa muito o que é ensino a distância e presencial. Setores que têm um pouco mais de complexidade,

Desafio: preparar os professores

como laboratórios, aulas práticas, exigem um pouco mais

Fundador da Educa Insight, Luiz Trivelato alerta para a

de presencialidade, diz. “Já em outras áreas, como gestão,

importância da preparação do corpo docente nas instituições

licenciaturas, o que vai definir a quantidade de presença é a

que optam pela mudança de metodologia. Ele observa que há

complexidade do curso. Mas, sem sombra de dúvida, é um

professores formados há 20 ou 30 anos, preparados em um

modelo que vale para todos os cursos e todas as áreas”, ressalta.

contexto de tecnologia e de modelos pedagógicos diferentes.

É claro que sem consistência teórica para a aplicação do conhecimento nenhuma metodologia funciona. O que o ensino

“O aluno não tem mais paciência para ficar três ou quatro horas ouvindo alguém falar”, Gustavo Hoffmann

híbrido permite, no entanto, é que esse conhecimento seja adquirido da forma mais conveniente para cada aluno. Nas palavras do professor Aécio Lira, trata-se do seguinte: “No dia em que o aluno for à faculdade, tem de botar a mão na massa”.


PEDAGÓGICO NA PRÁTICA /// 25

Instituições obtêm bons resultados com o novo método

M

encontro presencial. Além de aulas laboratoriais a cada 15 dias. As atividades presenciais representam em torno de 20% da carga horária das disciplinas. “Contamos com especialistas para a construção de uma estratégia de ensino e aprendizagem customizada para os cursos de metodologia ativa. Desta forma, a experiência do aluno na construção do conhecimento é muito mais autêntica e significativa”, alega o diretor executivo de ensino da instituição, Janes Fidélis. A aprendizagem é baseada na reflexão sobre a experiência, em projetos, solução de problemas e timing, e conta com estudos de caso, gamificação e peer instruction. A sala de

uitas instituições de ensino no Brasil já estão

aula é invertida: antes das aulas, o aluno se prepara sobre o

migrando para essa modalidade de ensino, ou

tema; durante as aulas, ele pratica os conceitos aprendidos; e

oferecendo-a como alternativa em alguns de seus

depois revisa o conteúdo e estende seu aprendizado.

cursos. Na Universidade Positivo, são exemplos Pedagogia,

A experiência de ambas as instituições é de um aluno mais

Gastronomia, Estética, Análise e Desenvolvimento de

engajado em relação ao do curso presencial. Na Universidade

Sistemas, Biomedicina, Educação Física e Engenharia de

Positivo, a participação é 30% superior e o desempenho

Produção. “Trabalhamos com um conjunto de metodologias

10% maior. “Eles desafiam muito mais o professor. A aula é

ativas, como aprendizagem baseada em problemas (PBL) e

muito mais viva”, comenta Longo. A instituição projeta até

peer instruction. Nossos professores estão preparados para

2022 ter todos os cursos híbridos. A aposta é que o sucesso

escolher a mais adequada ao processo de ensino, aquela que

acadêmico seja proporcional à disciplina, à auto-organização

tenha mais aderência em função da disciplina e do conteúdo”,

e à interação de cada aluno. “O desempenho dos estudantes

explica o pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo,

nessa modalidade é resultado de uma constante evolução

Carlos Longo.

da capacidade de aprender a aprender, a competência mais

Cerca de 25% da carga horária é presencial e engloba

importante para os profissionais do século XXI”, aponta o

atividades diversas em sala de aula e laboratórios e as

diretor da Unicesumar.

avaliações. A opção do modelo híbrido surgiu da percepção de um perfil de aluno com falta de tempo e sem disposição para fazer um curso totalmente a distância. “Temos cursos totalmente presenciais, outros 100% a distância e os semipresenciais. Os cursos são os mesmos, o aluno só escolhe a forma que quer aprender”, diz Longo. A Unicesumar também apostou em metodologias ativas, com aulas teóricas a distância e investindo nos momentos presenciais para praticar o conteúdo. A proposta está sendo aplicada nos cursos oferecidos de Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, Engenharia Mecatrônica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção e Arquitetura e Urbanismo, todos com cinco anos de formação. O ano letivo é dividido em quatro módulos, com duração de dez semanas cada e duas disciplinas por módulo. A semana tem cinco dias de atividades: três de autoestudo, um de aula ao vivo (transmitida via streaming live) e um de

/// Na Universidade Positivo, as aulas presenciais envolvem metodologias ativas como o peer instruction

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


26 /// INOVAÇÃO

/// Estudantes são orientados por tutores e mestres, cada um com funções específicas

Lumiar investe no protagonismo do aluno POR ÂNGELA RAVAZZOLO

U

pedagógico próprio, que escapa do modelo tradicional e apresenta uma proposta em que os alunos são protagonistas ativos e o professor, um tutor ou um mestre. A escola licenciada de Porto Alegre segue os pilares da Lumiar de São Paulo, que existe há 15 anos. O cotidiano de professores e alunos se diferencia do modelo tradicional em vários pontos. Uma das diferenças mais evidentesestá na organização dos grupos de estudantes. A escola funciona a partir de três ciclos: o F1 recebe crianças entre 6 e 8 anos;o F2, dos 9 aos 11; e, no terceiro ciclo, adolescentes entre 12 e 14 anos. Cada ciclo dura três anos, somando nove anos. As turmas misturam perfis e idades distintas, e a diversidade e a diferença são entendidas

ma gigantesca e veloz rede de informações,

como riqueza. “Acaba com a competitividade e dá mais espaço

acompanhada de um turbilhão de dúvidas.Esse

para crianças que são mais imaturas”, exemplifica a diretora-

cenário global, que se transforma a cada segundo,

geral da Lumiar de Porto Alegre, Maria Soledad Gómez. Cada

impacta diariamente o cotidiano das escolas. Pelos corredores

turma tem, no máximo 22 alunos, sendo que o ciclo F3

das instituições ou nos congressos que debatem educação, a

comporta grupos de até 25 alunos.

pergunta é recorrente: como se adaptar e atender às demandas

Para orientar esses três ciclos, há tutores e mestres. Os

contemporâneas? Para buscar essas respostas, a escola

tutores são profissionais licenciados em educação e são uma

Lumiar vem construindo, primeiramente em São Paulo e

referência para a turma,organizam o grupo, acompanham

desde o ano passado também em Porto Alegre, um projeto

atividades cotidianas e pesquisas individuais, como um


27

Projeto pedagógico foi inspirado em diferentes metodologias e teóricos, como Paulo Freire e José Pacheco

compondo uma forma que representa não apenas um conteúdo memorizado ou compreendido, mas também as habilidades e as competências conquistadas. “A plataforma permite o upload de evidências, o registro de pareceres avaliativos, tanto dos educadores quanto dos

orientador ao longo de todo o ano. Já os mestres são

estudantes, possibilitando um real diálogo e feedback sobre

profissionais de diferentes áreas e podem ser convidados a

o desenvolvimento das crianças, no grupo e individualmente.

participar de um projeto ou oficina específicos.

Em outras palavras, é possível enxergar um raio X dos

“Temos aqui em Porto Alegre uma categoria chamada mestres

grupos e dos estudantes individualmente, no que tange

fixos, professores das áreas, para dar conta do saber, do capital

ao desenvolvimento das habilidades e à apreensão dos

cultural da humanidade, que está lá nos livros didáticos e que

conteúdos: quantas vezes já foi trabalhada tal habilidade?

precisa se desenvolver nos projetos. Mas também estamos

Qual foi a avaliação dos estudantes nessa habilidade, dentro

sempre aliados a mestres da vida real”, conta Maria Soledad.

desse projeto? E nos outros projetos? Onde então eu preciso

O conteúdo trabalhado em sala de aula segue os parâmetros

trabalhar com mais atenção? Qual conteúdo ainda não foi

curriculares nacionais, mas os projetos, os módulos e as

trabalhado?”, explica a coordenadora pedagógica da Lumiar

oficinas de que participam todos os estudantes têm por trás

Educação, Fabia Batista Apolinario.

uma preocupação com as competências e com as habilidades

A escola de Porto Alegre tem uma licença para utilizar a

que se pretende desenvolver. “O módulo vem para dar conta de

metodologia, com o compromisso de trabalhar a partir dos

um saber mais formal, e ele pode ser dentro ou fora do projeto,

pilares da Lumiar, como aprendizagem ativa, multietariedade,

mas sempre deve ter um contexto. A oficina é uma questão de

currículo em mosaico, mas há certa flexibilidade, de acordo

desenvolvimento de habilidades que não visa necessariamente

com a realidade de cada escola. Fábia explica que a Lumiar

a um saber científico, mas ela precisa desenvolver algum tipo

se inspirou em diferentes metodologias e teóricos, entre eles,

de conhecimento empírico”, esclarece Maria Soledad.

Paulo Freire e José Pacheco, da escola da Ponte (Portugal), mas

Um diferencial importante da escola para colocar em prática

construiu um projeto pedagógico próprio ao longo dos anos.

este processo de aprendizagem e descoberta é a utilização de uma ferramenta, uma plataforma digital desenvolvida exclusivamente para a Lumiar: o Mosaico Digital, que permite um acompanhamento intencional e detalhado do desenvolvimento do estudante. Com a ferramenta online, os professores podem planejar as aulas, desenvolvendo na própria plataforma diferentes projetos, de acordo com os objetivos que se pretende alcançar. Os pais têm acesso ao Mosaico, que ainda abriga os relatórios e os pareceres avaliativos. Os próprios estudantes também podem registrar no Mosaico impressões ou uma autoavaliação de sua participação em determinada atividade. O Mosaico tem o formato de um círculo, dividido em fatias coloridas, que representam competências e habilidades que serão trabalhadas em determinado projeto, módulo ou oficina. Está dividido em cinco eixos: instrumental, epistêmico, sensório-motor, socioemocional e lógico-formal. À medida que o estudante vai percorrendo e finalizando os trabalhos em sala de aula, o seu Mosaico individual vai se colorindo,

/// Currículo conta com oficinas para desenvolver o conhecimento empírico

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


28 /// DIVERSIDADE

/// Material visual é importante para dar significado às palavras

Deficiência auditiva: questão linguística, não clínica POR VÍVIAN GAMBA

A

chegada de alunos com deficiência auditiva fez com que o Colégio La Salle Carazinho repensasse suas metodologias. As dúvidas

eram muitas: o professor precisa saber Libras?; os demais alunos devem ser alfabetizados nessa língua?; é necessário tradutor? A certeza, uma só: prover um ensino de qualidade para essas crianças. De acordo com a professora do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da UFRGS Liliane Ferrari Giordani, o primeiro desafio, nesse processo, é compreender a surdez como uma condição linguística e cultural, e não como uma questão clínica que deve ser corrigida. “Ao entender que a língua de sinais deve ocupar um lugar central na comunicação da criança surda, muda-se a perspectiva desde o acolhimento aos processos de avaliação. Para tanto, é preciso contar com o apoio de um tradutor intérprete e com a inclusão da disciplina de língua de

sinais no currículo da escola.” A coordenadora pedagógica Júlia Linck da Silva acreditava que era, sim, necessário que os alunos soubessem Libras, pois o implante coclear não ajudava muito nos aspectos pedagógicos. As crianças com deficiência auditiva, então no Ensino Fundamental, iniciaram aulas de Libras na Associação dos Deficientes Auditivos da cidade, juntamente com suas famílias e professores que tivessem interesse. “A escola também disponibilizou alfabetização em Libras


29 para os alunos e professores que auxiliam o trabalho pedagógico. Os colegas dessas crianças já tinham, no geral, aulas de Libras desde a Educação Infantil.” Com a melhora da comunicação, o foco foi direcionado às estratégias pedagógicas. “Os alunos, com conhecimento

“É preciso que o professor acolha o aluno com o ‘olhar’, que busque sinais básicos para uma comunicação individual”, Liliane Ferrari Giordani

inicial em Libras, passaram a ter o acompanhamento de auxiliares e algumas atividades e avaliações foram elaboradas em Libras”, destaca Júlia. O uso de recursos concretos é outro caminho para que seja possível dar significado às palavras. Os textos escritos são complementados com elementos que favorecem a sua

Compreensão e acolhimento

compreensão, como linguagem gestual, língua de sinais,

Os alunos com deficiência auditiva não captam tudo

leitura orofacial, imagens, materiais visuais e outros

o que está sendo realizado em sala de aula, ou pelo

de apoio. “Os alunos também utilizam o tablet para

menos da mesma forma, mas têm condições de abstrair

visualização de imagens e conteúdos relacionados ao que

as competências básicas e os conceitos do nível a

está sendo trabalhado com os demais”, complementa.

que pertencem, avalia a coordenadora pedagógica do

A professora da Ufrgs valida a metodologia que explora

Colégio La Salle Carazinho. “A caminhada não é fácil,

a visualidade além da língua de significação (Libras) e

nem para o educando nem para os profissionais que o

sugere que, mais que constituir materiais que possam ser

acompanha. Porém, os resultados alcançados ao vê-lo

narrados pelas suas imagens, é interessante que a escola

compreendendo o que se passa no ambiente escolar não

tenha o que se chama de uma biblioteca visual sinalizada. “Hoje há muitos materiais da literatura traduzidos em

têm como ser traduzido”, avalia Júlia. Como as turmas tiveram contato com a linguagem dos sinais desde a

Libras, é preciso que a escola organize este material e o

Educação Infantil, o relacionamento entre os colegas

disponibilize ao aluno.”

evoluiu ao longo do tempo. As crianças passaram a compreender mais os alunos surdos, e esses também a

O professor

conseguir se expressar e entender as mensagens que

Não é necessário que o professor seja fluente em Libras,

recebiam. “Eles passaram a se sentir compreendidos e

afirma Liliane, até porque ele não poderá sinalizar e

acolhidos.”

oralizar ao mesmo tempo, dado que são duas línguas

A coordenadora acredita que não há receita pronta, que o

diferentes, com estruturas narrativas diferentes. “Mas

desafio da inclusão está na observação de cada indivíduo

é preciso que ele acolha o aluno com o ‘olhar’, que

e das suas necessidades em relação a metodologias e

busque sinais básicos para uma comunicação individual.”

adaptação escolar, não apenas a curricular. “A mudança

Em aula, o professor vai precisar da tradução de um

acontece em toda a escola e com todos os envolvidos, do

intérprete, seja do oral para os sinais ou o contrário. Além

porteiro ao diretor. Todos aprendemos a cada dia.”

disso, é fundamental que ele compreenda que a língua

É preciso, de fato, criar um contexto em que a linguagem

portuguesa é a segunda língua do seu aluno surdo e

dos sinais possa estar em todo o ambiente da escola: na

que ele deverá ser avaliado dessa forma. “Exigências de

sala de aula, no pátio, no refeitório, na secretaria. Somado

escrita pela gramática, com as mesmas cobranças de um

a isso, aprender que a comunicação acontece muito para

ouvinte, só desestimulam o surdo a escrever.”

além da oralidade. Para Liliane, a surdez sugere essa

A sala de recursos, para a especialista, é um apoio. “Ela deve

leitura. “Precisamos olhar para o outro sem a estranheza

ser o elo entre professor e aluno no auxílio da aquisição da

que nos congela, sem a necessidade de corrigir, sem o

língua de sinais, na produção do material e, principalmente,

desejo de normalidade. Assim, a escola pode realmente

na investigação dos modos e processos de aprendizagem.”

ser um lugar de aprendizagens.”

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


30 /// RADAR

/// Escolas têm até o início do ano letivo de 2020 para estarem alinhadas à Base da EI e do EF

Como implantar a BNCC POR PEDRO PEREIRA

H

referência para a formulação dos currículos e das propostas pedagógicas de todas as escolas do Brasil. A BNCC não promove, necessariamente, profundas mudanças nos projetos pedagógicos das escolas – especialmente entre as instituições privadas, que, por terem maior liberdade de inovação e por vezes integrarem redes nacionais ou internacionais, já contemplam parte das competências previstas. “Primeiro a escola precisa rever seu projeto pedagógico, ver o que ela é e o que quer ser. Depois a escola vai olhar para a BNCC e analisar, dentro do

omologada pelo Ministério da Educação (MEC) em

que está sendo proposto de habilidades, de competências, o

dezembro do ano passado, a Base Nacional Comum

que ela já vem fazendo e o que precisa mudar para atender

Curricular (BNCC) para a Educação Infantil e o

às demais exigências”, explica a assessora pedagógica e de

Ensino Fundamental foi criada com a intenção de garantir

legislação educacional do SINEPE/RS, Naime Pigatto. Isso

um padrão mínimo de aprendizagem a todos os alunos do

não quer dizer que o planejamento deva ficar engessado

país. Trata-se de um guia de caráter normativo, que “define o

ou limitado ao que consta no guia. “Ele deve ser o ponto de

conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais”

partida para assegurar acesso ao mínimo estipulado e, a

que devem ser contempladas ao longo da Educação

partir dali, desenvolver outros conceitos e competências

Básica. O documento de mais de 450 páginas pretende ser

que julgar importantes”, complementa.


31

“A BNCC não pode ser considerada uma camisa de força”, Cesar Callegari

“competências e habilidades” deve ser considerada como equivalente à expressão “direitos e objetivos de aprendizagem” presente na Lei do Plano Nacional de Educação (PNE). “É importante que se discuta o que vem a ser uma competência e

Integrante do Conselho Nacional de Educação e presidente

uma habilidade, porque nisso as escolas e os professores ainda

da Comissão da Base Nacional Comum Curricular – órgão

têm dificuldade”, afirma Naime. Ela observa que até mesmo a

responsável pela elaboração do documento, a pedido do

formação dos professores sofrerá alteração para se adequar

MEC –, Cesar Callegari alerta que a BNCC é um referencial e

às diretrizes da BNCC, a fim de garantir que o ensino esteja

“não pode ser considerada uma camisa de força”. Ele reforça

alinhado. “Existe uma grande diferença e uma dificuldade em

que a Base não é o currículo. Portanto, o grande trabalho que

dizer o que é uma competência, uma unidade temática, um

deve ser feito a partir de agora é o de levar em consideração

objeto de conhecimento. Os gestores das escolas vão precisar

o documento como referência para um processo de natureza

disponibilizar tempo de planejamento para os seus professores

autoral e criar opções curriculares distintas. “Isso diz respeito

poderem rever conceitos acadêmicos, então um dos impactos

às escolas, individualmente, às redes escolares e aos

para o ensino privado está na questão de horas que precisarão

sistemas de ensino”, ressalta Callegari.

ser destinadas para reuniões de construção de um novo currículo para a escola – e isso é um impacto financeiro”, aponta.

Competências

Diante do tamanho do desafio, não se pode perder tempo.

Analisar o currículo e o projeto pedagógico à luz do que

Até porque os órgãos do MEC têm um ano para fazer as

preconiza a BNCC não é tarefa simples, pois exige que se

adequações necessárias às avaliações de larga escala,

compreenda uma série de definições apresentadas no

tanto no governo federal quanto nos governos estaduais

documento. A principal delas diz respeito às competências,

e municipais. Segundo normativa elaborada pelo MEC, as

definidas como “a mobilização de conhecimentos (conceitos

escolas têm até o início do ano letivo de 2020 para estarem

e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e

alinhadas, mas Callegari acredita que o processo deve ser

socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas

acelerado. “As avaliações vão oferecer um papel indutor mais

complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania

rápido. Como a BNCC não é um currículo e quem deve fazê-lo

e do mundo do trabalho”. É aí que aparece um ponto crucial na

são os profissionais, é neles que as escolas devem investir,

adequação das escolas: tempo para estudos e planejamento.

para que possam compreender o que é a Base, fazer uma

Segundo a Resolução do MEC que institui a BNCC, a expressão

leitura crítica e criativa e revisar suas propostas curriculares,

/// Gestores devem prever tempo para estudo e capacitação dos professores

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


32 /// RADAR

planos de aula, materiais didáticos, livros, processos de avaliação, enfim, tudo”, acredita o conselheiro. Outro item importante é o acompanhamento dos professores por parte da coordenação pedagógica, a fim de esclarecer dúvidas, criando um espaço para discussão a respeito de temas que serão trabalhados ao longo da vida escolar, com profundidades diferentes. “Às vezes, professores lá do Ensino Médio não se dão conta de que há conceitos básicos trabalhados ainda na Educação Infantil. É importante que os professores estejam motivados para buscar o enriquecimento do seu trabalho”, defende Naime. Regulamentação A Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental foi homologada pelo MEC no dia 20 de dezembro de 2017. Dois dias mais tarde, foi emitida a Resolução CNE/CP Nº 2, que institui e orienta a implantação da BNCC, a ser obrigatoriamente respeitada ao longo das referidas etapas de Educação Básica. É esse o documento que define 2020 como o prazo para a adequação das escolas, mas as instituições gaúchas aguardam um parecer do Conselho Estadual de Educação (CEEd). “Precisamos das diretrizes estaduais, à luz da BNCC, para termos segurança na hora de reconstruir os currículos para a implementação da Base”, ressalta Naime. O presidente do CEEd, Domingos Buffon, conta que o órgão acompanhou a tramitação da BNCC e contribuiu nos diferentes momentos de consulta pública ao longo do processo. “O tema está em discussão no momento, sendo ainda prematura a definição de posicionamento ou dos procedimentos de sua implementação. Tão logo esse processo esteja finalizado, será amplamente publicizado”, explica. até março, dando início a um trabalho de discussão e realização BNCC do Ensino Médio

de audiências públicas pelo Brasil. Portanto, ainda é incerto

A Base em vigor diz respeito somente à Educação Infantil e

quando esse documento ficará pronto. Vale lembrar que esse

ao Ensino Fundamental. Um novo documento será elaborado

será o gatilho para os cronogramas de implantação da reforma,

exclusivamente voltado ao Ensino Médio, mas ainda não há

pois depois que a Base Nacional do Ensino Médio for aprovada

uma estimativa precisa de quando isso deve ocorrer. “Nós

pelo CNE, os sistemas de ensino terão um ano para estabelecer

ainda não recebemos do MEC a proposta da Base do Ensino

normas complementares e as escolas, um ano para fazerem

Médio. Cabe ao Conselho Nacional de Educação instituir a

todo o seu processo de preparo. “Concretamente, a reforma do

norma, como aconteceu agora com o Ensino Fundamental e

Ensino Médio nas escolas brasileiras, públicas e privadas, não

a Educação Infantil. Para isso, levamos praticamente de abril

acontecerá antes de 2020, 2021”, projeta Callegari.

a dezembro, em uma situação que é até um pouco menos complexa do que a do Ensino Médio”, explica Callegari. O MEC já sinalizou ao CNE que deve apresentar uma proposta

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL • Baixe a BNCC e comece já os estudos na sua instituição


INSTITUCIONAL /// 33

Educação em Revista de cara nova

A

Educação em Revista dá início ao ano de

comemoração dos 70 anos do SINEPE/RS de cara nova. Mudanças gráficas e editoriais reforçam a

proposta assumida pela publicação nos últimos anos, de

trazer conteúdo relevante e de qualidade aos seus leitores e de dar ênfase às práticas educacionais. “Queremos apresentar às instituições alguns caminhos para fazer as mudanças necessárias na educação e orientações para enfrentar os desafios tanto da área de gestão quanto da área pedagógica”, afirma a editora da revista, Carine Fernandes. A nova capa contempla um lettering mais limpo,

2018

contemporâneo e que reforça a palavra “ação” dentro do nome, deixando evidente a proposta de conteúdo da publicação, que apresenta o que há de mais atual no segmento do ensino e estimula a atitude dentro das escolas a que atende. Nas páginas internas, o projeto

2012

gráfico segue a mesma linha, com layout mais limpo e moderno, com a apresentação do conteúdo de um jeito simples e agradável de ler, por meio de infográficos

2010

coloridos e fotos. Um dos objetivos das mudanças editoriais é conferir mais espaço para aprofundamento do tema de capa, com abordagens diversas, cases e opiniões pontuais de especialistas da área, pondera Carine. A editora também destaca o maior espaço para contribuição das instituições, mostrando seus cases em diversas seções, como “Na prática”, “Inspire-se”, “Inovação”, além da seção “Compartilhar”. “Isso também permite maior socialização entre os associados.” Nos 22 anos de Educação em Revista, esse é o sétimo projeto gráfico. É possível conferir os layouts anteriores no link: educacaemrevista.com.br.

1996

2005

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL • Confira todos os projetos gráficos da Educação em Revista

/// Principais mudanças na marca da Educação em Revista

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


34 /// COMPARTILHAR

COLÉGIO FARROUPILHA INVESTE EM NOVOS ESPAÇOS O Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, iniciou o ano letivo de 2018 com novidades. Os alunos ganharam laboratórios Maker e Multimídia e uma minicidade, na qual as crianças podem circular, aprender e aplicar questões de trânsito e cidadania. Na biblioteca, foram construídas duas salas para estudos em grupo, e a biblioteca Kids foi integrada. No estacionamento, foi criado um Lounge para as famílias que quiserem esperar os filhos com mais conforto. Um novo prédio, com 3.400 m2² e quatro andares será inaugurado em janeiro de 2019. Todos os andares terão acesso via escada e elevador, destinado a pessoas com /// Biblioteca ganhou espaço alternativo para leitura

dificuldade de locomoção.

SÃO CARLOS LANÇA LIVRO SOBRE METODOLOGIAS ATIVAS O Colégio São Carlos, de Caxias do Sul, lançou o livro ‘Aprendizagem ativa: desafios para uma educação disruptiva’. A publicação reúne artigos escritos pelos professores da instituição e de outras escolas da Rede AESC sobre os resultados obtidos nas turmas com a transformação na maneira de ensinar com a adoção de técnicas de metodologias ativas. O livro tem 280 páginas. No prefácio, a diretora do Colégio São Carlos, Ir. Sueli Nardin, e o superintendente de Educação da AESC, Gustavo Gastardelli, afirma que “inovar em educação é oferecer um ensino que atenda às demandas do mundo contemporâneo, no qual a informação é vasta e de fácil acesso”.

/// Instituição pode atender mais de 1.200 alunos

GRAVATAÍ RECEBE ESCOLA DA REDE SÃO FRANCISCO A Rede de Escolas São Francisco inaugurou sua primeira unidade em Gravataí. Com capacidade para atender mais de 1.200 alunos, numa área física de 7.881,20 m2, a instituição iniciou o ano letivo de 2018 com turmas da Educação Infantil e a partir do 1º ano do Ensino Fundamental. A escola oferece espaços físicos amplos e adequados às atividades pedagógicas, como biblioteca, área para recreação, quadra para a prática esportiva, espaço para o cultivo de horta, brinquedoteca, laboratório de Ciências,

/// Ir. Sueli Nardin e Gustavo Gastardelli no lançamento do livro

entre outros.


35 35

DUPLA CERTIFICAÇÃO ATRAI ESTUDANTES NO MARISTA ROSÁRIO No Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio têm a possibilidade de cursar o currículo brasileiro e norte-americano de forma simultânea. O programa ‘American High School’ conta com um ambiente de aprendizado informatizado e aulas ministradas inteiramente em inglês, garantindo o convívio entre alunos e educadores nativos dos EUA. Em dezembro, quatro estudantes do programa receberam a dupla certificação validada pela organização AdvancED, pois também finalizaram o Ensino Médio no Colégio. Outros 19 estudantes formalizarão a conclusão no programa ao encerrar o Ensino Médio no currículo brasileiro.

ALUNOS DO INSTITUTO IVOTI ORGANIZAM MINICONFERÊNCIA Os alunos do Instituto Ivoti, de Ivoti, coordenados pela professora Jéssica Finger e o professor Lucas Breunig, prepararam uma miniconferência para debater assuntos atuais e se familiarizar com o modelo de conferência do MUN, na qual cada aluno representa um país específico e seus interesses políticos, sociais e econômicos. As temáticas debatidas foram o Estado Islâmico e sua influência no mundo e a crise dos refugiados. Os comitês de debate foram o Conselho de Segurança e o Conselho Econômico e Social. No evento, todo conduzido em inglês, os alunos discutiram sobre os temas e escreveram diretivas propondo soluções para os problemas apresentados.

Alunos do Nossa Senhora de Lourdes levam otimismo às ruas Na data em que foi comemorado o Dia de Ação de Graças,

FACTUM LANÇA CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

em 24 de novembro, os alunos do turno da manhã do

A Faculdade Factum lançou os cursos de pós-graduação

otimismo à população. Foram confeccionados cartazes

Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Farroupilha, saíram às ruas para levar uma mensagem de paz e

lato sensu nas áreas da educação ‘Formação em Educação

de sensibilização e distribuídas mensagens positivas, que

Profissional’, ‘Educação Especial’ e ‘Inovação na Educação’. O

afirmavam que cada um é responsável por tornar os dias

diferencial é a utilização de metodologias ativas de ensino e

e o mundo melhores. A atividade surpreendeu as pessoas

aprendizagem no processo de ensino. Os estudantes terão relatos

que passavam, justamente por ser uma mobilização pela

de experiências, visitas guiadas a espaços inovadores, simulação

empatia nas relações humanas. Assim, muitos sorrisos

de situações da realidade, ensino personalizado, ensino híbrido,

foram despertados durante uma manhã que, inicialmente,

entre outros métodos. Os cursos têm início previsto para 28 de

seria como qualquer outra.

abril. Informações e inscrições: factum.edu.br.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


36 /// COMPARTILHAR

PALESTRAS INSPIRADORAS NO COLÉGIO ANCHIETA Um dos projetos de destaque do Colégio Anchieta, de Porto Alegre, em 2017, que terá continuidade neste ano é o Magis Anchieta. A iniciativa tem como objetivo provocar reflexões sobre diversos temas da atualidade por meio de histórias inspiradoras. Em 2017, o evento foi organizado pelos alunos do 9º Ano, do Ensino Médio e de uma equipe de professores, e teve como tema escolhido ‘Efeito Dominó’, ou seja, como pequenas ações podem contagiar e causar grande impacto. Foram nove palestras que trouxeram experiências em empreendedorismo, voluntariado, protagonismo juvenil, inteligência artificial, entre outros. O evento também contou com apresentações culturais.

Alunos desenvolvem produto para deficientes visuais Um dos projetos de destaque do Colégio La Salle Canoas, de Canoas, em 2017, foi realizado pela turma do 9º ano. Os alunos desenvolveram uma bengala para deficientes visuais com sensor ultrassônico, que emite uma vibração 50 cm antes de encostar em obstáculos. O produto foi testado por deficientes da Associação de Deficientes Visuais de Canoas e, com os retornos, foi possível fazer os ajustes necessários. Os alunos inscreveram o projeto em diversas Feiras de iniciação científica, incluindo

MARISTA SÃO PEDRO INCENTIVA PROTAGONISMO ESTUDANTIL

a Expocol – Exposição do Colégio La Salle. Na 5ª edição do IFCITEC, conquistaram o 2º lugar e, na Expo Ulbra, ganharam o Prêmio Destaque na IV Mostra de Ciências e Inovação.

Para que os estudantes possam exercer o seu protagonismo, expondo suas ideias e contribuindo para melhorias no colégio, o Marista São Pedro, de Porto Alegre, realiza trimestralmente as Assembleias de Turma.

Faculdades EST oferece cursos EAD

Estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental até o Ensino

A Faculdades EST, de São Leopoldo, recebeu autorização do MEC

Médio participam desses momentos de debate conduzidos pela

para ofertar cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu na

equipe pedagógica e de comunicação da escola. As partilhas

modalidade EAD. São oferecidos cinco cursos de especialização a

abordam os aspectos positivos e negativos de cada turma e as

distância: Ensino Religioso, Bíblia, Docência no Ensino Superior e

sugestões de melhoria para a escola, com o objetivo contribuir

Profissional, Aconselhamento e Psicologia Pastoral e Mobilização

para a construção coletiva de um ambiente escolar saudável e

de Recursos e Sustentabilidade. As inscrições estão abertas;

que proporcione a formação integral dos estudantes.

mais informações em www.est.edu.br/estonline/. Além do curso de graduação em Teologia, a EST oferece o único bacharelado em Musicoterapia dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além da Licenciatura em Música.


37

PROJETO DA ESCOLA DO HORTO ENSINA SOBRE ARQUEOLOGIA Vestidos com uniforme colete, chapéu e lupa, os alunos dos segundos anos do Fundamental da Escola do Horto, de Uruguaiana, transformaram-se em arqueólogos para o projeto ‘Arqueólogos em ação’. Para que os estudantes pudessem simular uma escavação, as professoras construíram um sítio arqueológico na escola, onde enterraram ossos e

/// Sala para atender alunos com deficiência

vasos de cerâmica. Os materiais encontrados foram relacionados, com

ESCOLA PÃO DOS POBRES TEM SALA MULTIFUNCIONAL

identificação de sua utilidade e idade estimada, e expostos durante a Feira de Ciências. O projeto encerrou-se com um passeio de estudos na Estância São Miguel, fazenda junto às margens do Rio Uruguai.

A Escola La Salle Pão dos Pobres, de Porto Alegre, construiu a sala multifuncional para servir de apoio ao trabalho inclusivo realizado na adaptação curricular. Os espaços são destinados a alunos com deficiência, transtornos de desenvolvimento e alunos com altas habilidades/superdotação. A educadora de atendimento especializado, Débora Lautert Jacobsen, comemora os resultados. “Um dos nossos alunos com deficiência intelectual leve estava com a alfabetização prejudicada e passou a frequentar o espaço. Hoje, ele se encontra na

/// Encontros entre alunos e equipe escolar são realizados trimestralmente

hipótese silábica alfabética, segundo as autoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky.”

MARISTA SANT’ANNA CRIA ESTÚDIO DE APRENDIZAGEM O colégio Marista Sant’Anna, de Uruguaiana, inaugurou no início deste ano o Estúdio de Aprendizagem, um espaço multifuncional que acolhe a robótica educacional, tecnologias e recursos para trabalhos práticos envolvendo as habilidades de criar, experimentar, manipular e produzir. A sala conta com tecnologias educacionais, mobiliário diferenciado, com mobilidade facilitada, impressora 3D, TV, parede com textura própria para permitir escrita, lousa móvel e canto com sofás, pufes e tapete.

/// Espaço incentiva uso da tecnologia para trabalhos práticos

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


38 /// PESQUISA

A gestão curricular frente às avaliações em larga escala POR ADRIANA JUSTIN CERVEIRA KAMPFF*

O

presente artigo aborda os desafios da gestão curricular frente às avaliações em larga escala. Para tanto, parte da pesquisa bibliográfica, com

referenciais da área de gestão curricular e das avaliações em larga escala utilizadas em âmbito nacional e internacional.

O gestor educacional deve considerar os resultados das avaliações em larga escala como um dos elementos importantes para avaliar a qualidade educacional, formando os docentes para interpretá-los e considerá-los na proposição de melhorias curriculares. legislação educacional pertinente e o Projeto Político Palavras-chave: Gestão Curricular; Avaliações em Larga

Pedagógico da instituição educacional. Esses documentos

Escala.

de referência constituem-se em elementos norteadores para o planejamento compartilhado do currículo praticado,

1. Introdução

ampliando-se de acordo com pautas emergentes dos

Compreende-se que a educação deve contribuir para a

interesses e necessidades dos sujeitos e seus contextos.

formação integral dos sujeitos, para que possam exercer

Uma dimensão importante para acompanhamento da

plenamente sua cidadania. Para tanto, os sistemas de

qualidade das aprendizagens produzidas é a avaliação. No

ensino – e cada instituição educacional com sua comunidade

cotidiano educacional, diversas são as formas de avaliar,

– devem construir currículos amplos e multifacetados, que

para poder agir sobre os potenciais e as dificuldades

permitam produzir conhecimentos, saberes, valores e

identificadas, objetivando reorganizar os processos de ensino

identidades, em um mundo multicultural e diverso.

e aprendizagem.

O currículo organiza, dinamiza e potencializa os princípios

O Projeto Educacional do Brasil Marista (UMBRASIL, 2010,

e intencionalidades institucionais, estruturando e

p. 89) afirma que “a ação de avaliar consiste num processo

mobilizando as grandes áreas de conhecimento e seus

que deve ser sistemático, compartilhado e demanda

componentes curriculares em redes de conhecimentos,

assertividade, organização, sensibilidade e criticidade”. Além

saberes, valores, aprendizagens e sujeitos da educação,

das avaliações produzidas internamente, estão presentes no

da aula e da escola. (UMBRASIL, 2010, p. 81)

cenário educacional as Avaliações em Larga Escala (ALE),

O planejamento curricular, em qualquer nível de ensino,

que podem subsidiar as instituições escolares com dados

seja na Educação Básica ou Superior, deve considerar a

sobre a aprendizagem dos estudantes e sobre elementos de


39 contexto, contribuindo para a tomada de decisão para um melhor gerenciamento do currículo. O ato de avaliar a qualidade dos processos educativos e seus resultados tem tomado cada vez mais espaço nas discussões que versam sobre garantias de aprendizagem. Então, vale perguntar: com que objetivo se avalia? Surgem inúmeros

O ato de avaliar a qualidade dos processos educativos e seus resultados tem tomado cada vez mais espaço nas discussões que versam sobre garantias de aprendizagem.

instrumentos, internacionais e nacionais, em diversos níveis de ensino. Termos como PISA (2017), Provinha Brasil (2017), SAEB (2017), ENEM (2017) e ENADE (2017) tornam-se corriqueiros nas discussões sobre qualidade educacional.

2.1 Legitimação das Avaliações em Larga Escala

É preciso desmistificar como se constituem as ALE e

Para participar de uma avaliação em larga escala, o primeiro

seus objetivos, para compreender como funcionam, o

passo é legitimá-la. A legitimação da avaliação em larga

que pretendem medir, a quem se destinam, como são

escala aplicada nos estudantes de determinada instituição

apresentados seus resultados e como podem ser utilizados

escolar depende de um binômio importante e complementar:

para melhoria da qualidade da educação. As ALE partem de

sabê-la como instrumento parcial, não capaz de mensurar

matrizes de referências, com temas e/ou competências e

tudo o que se pretende desenvolver no processo educativo;

habilidades definidas. Em geral, nas ALE, os itens de prova são

mas, ainda assim, reconhecer que o que se propõe a

desenvolvidos com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI),

avaliar é coerente e relevante em relação aos objetivos de

em que cada questão que compõe o conjunto de questões de

aprendizagem da instituição.

uma prova busca aferir uma habilidade única, com questões

Ao validar a avaliação e seus instrumentos, o gestor habilita

pré-testadas que buscam minimizar as possibilidades de

toda a comunidade a estudá-la com profundidade, a

acerto ao acaso, tornando os resultados das ALE mais

compreender sua matriz de referência, sua organização em

consistentes, além de propiciar a geração de provas cujos

áreas e questões, seus questionários complementares, seus

resultados possam ser comparados com edições anteriores.

relatórios e forma de interpretá-los para a tomada de decisão

A mídia divulga os resultados das ALE, comumente,

que resultem na construção de estratégias de melhoria.

ranqueando países, regiões, cidades, instituições ou sujeitos participantes, dependendo da granularidade com que os

2.2 Formação dos Educadores frente às Avaliações em Larga

resultados são apresentados. Mas, esse não é, na essência,

Escala

o objetivo fundante das ALE. Tais avaliações, para que

O gestor educacional tem compromisso com os resultados

efetivamente cumpram seu papel, devem fornecer dados para

de aprendizagem gerados nas ALE, consciente de que esses

que os avaliadores e aqueles que se submetem à avaliação

resultados são originados em um cenário complexo: contexto

possam receber um diagnóstico de suas realidades, refletir

sociocultural dos estudantes e famílias; formação dos

sobre seus resultados e construir estratégias de melhoria.

professores, inicial e continuada; infraestrutura da instituição de ensino; escolhas curriculares e metodológicas; integração

2. Compromisso da gestão frente às avaliações em larga escala

família e escola; etc.

Observamos, atualmente, o empenho de organismos

Compreender esse panorama multifacetado é um exercício

internacionais, nacionais e locais para produzir avaliações

que deve ser compartilhado com a comunidade escolar

em larga escala, potencialmente geradoras de resultados que

e, especialmente, com os docentes da instituição para a

possam ser utilizados para melhorar a educação. Então, como

definição de estratégias de intervenções múltiplas que

o gestor pode mobilizar a comunidade educacional para

potencializem as aprendizagens dos estudantes.

compreensão, engajamento na participação e estudo dos

Para compreender os resultados de aprendizagem dos

resultados das avaliações em larga escala, oportunizando a

alunos, os professores precisam apropriar-se das matrizes

implementação de melhorias educacionais?

de referência dessas avaliações. No desenvolvimento do

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


40 /// PESQUISA

processo formativo para professores, observa-se que a

a muitas mãos, com responsabilidades compartilhadas

maior parte das ALE atuais organizam-se em competências

pelos diversos membros da comunidade escolar. Se a

e habilidades. Também é fundamental explorar as provas,

decisão for intensificar hábitos de estudo extraclasse,

estudando a forma como são construídos os itens e como

melhorar o ambiente disciplinar nas aulas, incluir novos

buscam avaliar cada habilidade.

tópicos de estudo em determinada área ou mesmo

A análise dos dados gerados nas ALE constitui-se em etapa

modificar a metodologia com que a instituição trabalha, é

essencial deste processo. Não há sentido em avaliar, obter

fundamental acompanhar a implementação das mudanças

notas/resultados, se eles não forem detalhadamente depurados

e, especialmente, aferir, em novas edições das ALE, se as

por gestores e docentes. Quanto mais detalhada for a análise,

modificações realizadas produziram melhores resultados.

registrando as reflexões geradas, mais elementos estarão à disposição para a construção de planos de ação efetivos.

3. Considerações Finais Os compromissos do gestor educacional são muitos, com

2.3 Construção de Planos de Ação

destaque para a gestão curricular. Acompanhar a qualidade

A análise dos dados gerados em ALE precisa,

educacional da instituição que gerencia, em um sentido

necessariamente, implicar na construção de planos de ação

amplo, é essencial. Buscar referências sobre os resultados

para melhoria de seus resultados. Uma competência ou

de aprendizagem dos estudantes e mobilizar a comunidade

habilidade em que, por exemplo, boa parte dos estudantes

educativa na construção de estratégias de melhorias

não tem bom desempenho, requer identificar sua causa, se

curriculares contínuas é um caminho possível para desenvolver

não está sendo desenvolvida ou se a forma ou complexidade

ações eficazes que resultem em aprendizagens qualificadas.

com que vem sendo trabalhada não está adequada.

Frente às ALE, o gestor educacional deve oportunizar a

Os planos de ação devem ser construídos e executados

preparação da comunidade educativa para recebê-las, compreendê-las, interpretar os dados resultantes e construir planos de ação a partir deles, em um currículo vivo e em constante evolução. Compreender o ato de avaliar como formativo, como movimento para colher subsídios que permitam refletir sobre os processos educativos e melhorá-los, é marca de uma gestão comprometida com a qualidade educacional. * Formada em Informática, Especialista em Gestão Curricular, Mestre em Ciência da Computação e Doutora em Informática na Educação. Foi Vice-Diretora Educacional do Colégio Marista Rosário de 2010 a 2017. Atualmente, é Diretora de Graduação da PUCRS. Referências ENADE, 2017: Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/enade. Acessado em: 21/12/2017. ENEM, 2017. Edital do Exame Nacional do Ensino Médio 2016. Disponível em: https://enem.inep.gov.br/. Acessado em: 21/12/2017. PISA, 2017. Disponível em: http://inep.gov.br/pisa. Acessado em: 21/12/2017. PROVINHA BRASIL, 2017. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ provinha-brasil. Acessado em: 21/12/2017. SAEB, 2017. Sistema de Avaliação da Educação Básica. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/educacao-basica/saeb. Acessado em: 21/12/2017. UMBRASIL, 2010. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica. Brasília: UMBRASIL, 2010.


EDUCAÇÃO EM REVISTA PERGUNTA /// 41

Planejamento estratégico dá resultado?

Muito utilizado na área empresarial, o planejamento estratégico é um processo gerencial que formula objetivo se planos de ação visando atingir uma meta estabelecida. Nas últimas décadas, essa ferramenta de gestão vem sendo adotadapor muitas instituições de ensino. Mas qual será a verdadeira efetividade do planejamento estratégico na educação? Ele realmente funciona?

Há sete anos, sob a coordenação da consultora Ângela

Iniciamos o primeiro ciclo do planejamento estratégico em 2003

Schmidt, iniciamos a estruturação do planejamento

com o espírito empreendedor do Pe. Joacir Della Giustina, que

estratégico definindo pontos básicos como: missão, visão e

desde o início do processo até fevereiro de 2017, esteve à frente

valores da instituição. O planejamento possibilitou a tomada

da direção. Em 2018, estamos fechando o terceiro ciclo, sempre

de decisões de forma ágil, segura e assertiva, diante de um

com a consultoria do SINEPE/RS, que foi orientando o processo.

contexto de elevado índice de inadimplência, de redução

Buscamos o planejamento estratégico para obter respostas

de matrículas e da necessidade de adequação de espaços

novas às perguntas novas. Até então, a instituição era muito

físicos. Com a análise detalhada do cenário, identificaram-se

reconhecida pelo seu trabalho social e pouco enquanto

as oportunidades e ameaças. E, em encontros periódicos, a

instituição de ensino. Tinha apenas 341 alunos em 2003, e as

equipe composta pelos membros da mantenedora, equipe

estruturas físicas eram ultrapassadas.

diretiva, professores e funcionários formulou os objetivos, as

Aos poucos, os resultados foram aparecendo, como a

estratégias e as ações para superação dos desafios.

ampliação do número de alunos – atualmente são 1400 –,

Por meio desse trabalho, identificamos a possibilidade de

reformas e adaptações do espaço físico,construção do teatro,

incorporação e ampliação epassamos a oferecer na Unidade

profissionalização e capacitação da equipe e criação de novos

I – Escola Evolução, Educação Infantil ao 9º ano e na Unidade

setores, como Comunicação e Marketing.

II o Ensino Médio e Técnico, onde o aluno pode cursar, além

Em 2012, a mantenedora, o Instituto Leonardo Murialdo,

das disciplinas obrigatórias, com ênfase no ensino científico,

abriu as portas para o Ensino Superior,com a Faculdade

as de formação técnica em agropecuária.

Murialdo, ocupando também as dependências do colégio. Os

No ano de 2015, encerramos o primeiro ciclo do planejamento

novos ambientes, a qualificação dos profissionais, a disciplina,

estratégico com o atingimento de 97% dos objetivos propostos.

o incentivo ao esporte e à cultura, a consolidação da marca, a

Hoje procuramos avançar constantemente em relação ao

implantação do Programa Bilíngue e o trabalho em rede são

nosso projeto educacional, oferecendo um ensino de referência

alguns diferenciais que resultaram na satisfação dos usuários,

na região, solidez de valores e excelentes resultados.

evidenciados na avaliação institucional.

CLECIANE MORO

PE. RAIMUNDO PAULETTI

Diretora da AVAEC – Academia Veranense de Assistência em Educação e Cultura, de Veranópolis.

Diretor do Colégio Murialdo de Caxias do Sul

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


42 /// POR DENTRO DA LEI

Orientações sobre o Decreto nº 53.817/2017

O

particular e está ressaltada a base legal que obriga a inclusão da temática étnico-racial, além de atentar para a necessidade de reformulação compartilhada do Projeto Político Pedagógico, adequando o currículo para tal. No capítulo 2, é apresentada uma breve sugestão pedagógica de metodologia para a aplicação do ensino das histórias e das culturas afro-brasileiras, africanas e dos povos indígenas para a organização nas etapas e nas modalidades de ensino.

Decreto nº 53.817, de 28 de novembro de 2017,

No que diz respeito ao Projeto Político Pedagógico

publicado no Diário Oficial do Estado em 29 de

(PPP), as Coordenações Pedagógicas têm a importante

novembro de 2017, institui o Plano Estadual de

função de orientar, organizar e supervisionar, para

Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais

que seja desenvolvido em todas as áreas de ensino/

para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o

conhecimento o componente relativo às histórias e às

Ensino das Histórias e das Culturas Afro-Brasileiras,

culturas africanas, afro-brasileiras e dos povos indígenas.

Africanas e dos Povos Indígenas. O decreto supracitado

Também devem garantir que as temáticas étnico-racial,

orienta para a implementação, no Rio Grande do Sul, das

indígena e afro-brasileira se façam presentes nos Planos

legislações atinentes ao tema da inclusão das Histórias e

de Cursos e nos Planos de Estudos em todas as áreas

Culturas dos Povos indígenas, Afro-Brasileiras e Africanas

do conhecimento. Igualmente, a instituição gestora das

na Educação. O objetivo do plano é fazer cumprir e

escolas particulares deve atentar para que estas tenham

implementar as diretrizes estabelecidos nas legislações

um acervo específico que contemple as temáticas étnico-

brasileira e estadual. Sua base estruturante possui seis

racial, indígena e afro-brasileira. Devem, ainda, instigar

eixos estratégicos: 1) Fortalecimento do marco legal; 2)

que as escolas identifiquem os possíveis casos de racismo

Política de formação para gestores e profissionais de

em suas dependências e as encaminhem para que sejam

educação; 3) Política de material didático e paradidático;

tomadas as providências cabíveis, entre elas, medidas

4) Gestão democrática e mecanismos de participação

socioeducativas.

social; 5) Avaliação e Monitoramento; 6) Criação de condições institucionais para o desenvolvimento de ações relacionadas à educação étnico-racial. O Plano Estadual visa transformar as ações e os programas de promoção da diversidade e de combate à desigualdade racial na educação em políticas públicas de Estado. Igualmente, reporta ao estado, aos municípios, aos sistemas educacionais e às instituições públicas e particulares de ensino as exigências legais, bem como atribui responsabilidades entre as diferentes instâncias da educação sul-rio-grandense que devem estar instrumentalizadas para a efetiva implementação de uma educação adequada às relações étnico-raciais. No capítulo 1 item 4, estão as atribuições e as competências dos sistemas de ensino público e da rede

SONIA LOPES DOS SANTOS Coordenadora da Divisão da Diversidade e Direitos Humanos DP da Secretaria Estadual de Educação e Lúcia Regina Brito, Assessora de Educação das Relações Étnicas.


EM DESTAQUE /// 43

ENSINE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA COM O PROJETO LOBOGUARÁ Há 27 anos, o projeto Loboguará ministra, na forma de aulas de campo, cursos de Educação Ambiental e Ecologia Prática para alunos de instituições de ensino que visam a uma complementação das atividades curriculares de sala de aula.

SAIBA COMO USAR O MINECRAFT EM SALA DE AULA O sonho de todo educador é ter de seus alunos uma fração

É um trabalho interdisciplinar, no quala Biologia é conectada com assuntos da Geologia, da Física, da Química e da história local, além de atividades físicas com caminhadas pelas trilhas. O projeto oferece às instituições diversos locais para trabalhar, com diferentes ambientes e ecossistemas. Há programas em várias cidades do Rio Grande do Sul. Mais informações: contato@projetoloboguara.com.br/ (54) 999 338 851/ www.projetoloboguara.com.br

da atenção e da motivação que eles apresentam quando engajados em seus games preferidos, como o popular Minecraft, que já vendeu mais de 144 milhões de unidades. Não é coincidência que os canais do YouTube mais assistidos são especializados nesse game: é um jogo que não incentiva a competição, e quem joga está criando um mundo, o que exige criatividade, raciocínio e pensamento analítico para resolução de problemas. Já imaginou como seria poder associar esse game com uma proposta pedagógica para engajar os seus alunos na construção ativa de conhecimento? Descubra mais em http://bit.ly/sinepers.

TOTVS INVESTE EM APPS PARA O SETOR DE EDUCAÇÃO A TOTVS aposta em soluções móveis para simplificar a comunicação de toda a comunidade acadêmica, alunos e professores. O app ‘eduCONNECT’ é uma plataforma intuitiva criada para oferecer todas as informações sobre o estudante diretamente no celular e na gestão escolar e unifica todos os departamentos, da secretaria aos professores. O ‘TOTVS Saída Inteligente by Filho sem Fila’ gerencia o momento em que os alunos deixam o colégio. Mais de 100 instituições reduziram em até 75% o tempo de espera. Outro diferencial é o modelo de contração SaaS, ou seja, a solução fica hospedada na Nuvem da TOTVS e a escola paga apenas uma mensalidade para o uso. Informações: www.totvs.com. Fone: (51) 3025 6900.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///



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