ExperiĂŞncia do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath entre escritos e vividos
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Anélia Montechiari Pietrani
Experiência do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath entre escritos e vividos
Editora da Universidade Federal Fluminense Niterói, 2009
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Fonte - CIP P 626 Pietrani, Anélia Montechiari Experiência do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath entre escritos e vividos / Anélia Montechiari Pietrani — Niterói : EdUFF, 2009. 212 p. ; 23 cm. — (Coleção Biblioteca EdUFF, 2004) Bibliografia. p. 195 ISBN 978-85-228-0469-60460-3 1. Literatura. 2. Cultura. I. Título. II. Série
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A meus pais, inĂcio de tudo, e a minha filha Clara, fim de tudo, dedico este trabalho, com o amor sem limites.
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Agradecimentos Este livro foi escrito, originalmente, como tese de Doutorado, defendida no Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, em 2005. Foi submetido à avaliação da banca composta pelos professores Célia Pedrosa, Jorge Fernandes da Silveira, Maria Esther Maciel e Regina Zilberman, aos quais sou sinceramente grata pela argüição consistente e pelas sugestões valiosas que contribuíram para o aprimoramento deste trabalho. Agradeço também aos professores Ítalo Moriconi, Maria Lucia de Barros Camargo e Matildes Demétrio dos Santos, pelas críticas e sugestões pertinentes, ainda quando este estudo estava apenas em seu início. Um agradecimento especial devo à minha orientadora e amiga, professora Lucia Helena, pela leitura atenta, crítica e eficiente de meus textos e pela condução segura desta orientação. Também sou grata aos colegas do grupo de estudos Nação e Narração, criado e liderado por Lucia Helena, pela participação instigante na leitura e discussão de partes deste texto, impedindo, assim, que ele se esquecesse em meio à solidão do exercício acadêmico. Devo gratidão à minha família, pela sempre presença, e aos meus tão queridos: Zezé Vargas, pela revisão dos originais da tese; Anabelle Considera, Isabella Lomelino, Marcelo Portugal, Rita Carvalho e Tereza Carmona, pela amizade, atenção e preocupação; Fabrício Neves, pelo cuidado; Clara, pelos beijos. Finalmente, agradeço à EdUFF, pela iniciativa.
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Sumário Agradecimentos, 7 Prefácio, 11 Palavras iniciais, 15 Uma modernidade (c)sem limites, 25 Anjos e demônios da modernidade, 25
Fantasmas do eu em solidão e em multidão, 32 Entre mundo e literatura, a ansiedade de ser outro, 38
Migração de gêneros e sentidos, 63 A ousadia de dizer-se, 63
Jogo de eus: a correspondência de Ana Cristina Cesar, 68 Entre cartas e diários, um eu e uma (outra) história, 86 Alterbiografia: o risco da autobiografia, 96 Ler o eu, escrever o outro, 110
Morrer na vida, viver na poesia, 121 (Não é só) uma questão de vida e morte, 121
Eros e Tanatos sob a figuração do feminino, 127 O gato e a fênix sob a estética da finitude, 143
Tra(u)mas de ana cristina cesar e sylvia plath, 159 O lugar e o fora-do-lugar da arte; o tempo e o fora-do-tempo da arte, 159 Poesia e poder: por uma lírica social, 166 Em nome do pai: o filho-poeta, 175
Considerações finais, 191 Referências, 195
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O coração vibrátil do ensaio e da poesia entre mulheres Lucia Helena (UFF, UFRJ, CNPq)
Maria Gabriela Llansol, excelente escritora portuguesa com sobrenome galego, trata das palavras com tal apuro, que sempre me encanta a forma arrojada com que prova que o caminho mais curto entre o brilho e o talento não é a linha reta. Já de batismo, Portugal e Galícia nela se encontram, nomes próprios da poesia que vem de um presente de casamento, no século XII, entre as culturas ibéricas dominantes, a doação, por Castela, de um Condado Portucalense. Diz a sagaz prosadora, poeta e pensadora Llansol que há três coisas que lhe metem medo: a primeira, a segunda e a terceira. Na poesia também, assim como na vida, assim como na escrita, principalmente naquela escrita a que chamamos tese. Em primeiro lugar, tem-se que preencher um quesito difícil, o da originalidade. Em segundo, defender idéias que comprovem o ponto de partida, tornando fechado o molde. Em terceiro, e terceiro, “o terceiro que é?” – diria Laura, a personagem de Lispector, abrindo e fechando gavetas, desarrumando-as para arrumá-las depois, esperando Armando chegar para irem à casa de Carlota, no conto “A imitação da rosa”, texto potente de Laços de família. Digamos que Llansol se faz aqui necessária porque não me posso afastar de quem me ensinou que, ao se tirar o D de Deus, juntamo-nos aos eus que fazem de nossa desoladora solidão a porta de entrada da hipótese do convívio com os (nossos e de outros) (outros) eus. Li sua obra por indicação de meu querido amigo Jorge Fernandes da Silveira, no meado da década de 1980, preparando aulas em comum, em cursos que dávamos e preparávamos a quatro mãos na Pós-Graduação em Letras da UFRJ. Assim Llansol entrou em minha vida juntando-se a Lispector, e esse convívio gerou o meu livro Nem musa, nem medusa: itinerários da escrita em Clarice Lispector. Esse exercício de memória vem para dizer, ao prefaciar a atual versão da tese de Anélia Pietrani, que tive o prazer de orientar na Pós-Graduação em Letras da UFF, que não é preciso escrever poesia para ser poeta. Llansol é poeta em prosa e Lispector também. Aos que conhecem a matéria, não digo com isso nada de novo. Mas Nelson
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Prefácio
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Rodrigues, esse gênio da dramaturgia brasileira, como cronista sempre me lembrava que é fundamental trazer à baila o “óbvio ululante”. Até porque, em um mundo desmemoriado, cada um que nasce pensa reinventar a roda. Hannah Arendt fez poesia no ensaio filosófico quando, finalmente, conseguiu redigir o seu magnífico Rahel, outro livro dos meus quereres. Tratou do íntimo de Rahel, sua personagem, que era, no entanto, uma personagem pública, tão pública que o mundo privado de sua correspondência nasceu e viveu da convivência de Rahel com os que freqüentavam os famosos saraus que ela (pobre, mulher, feia e judia - schlemiel) oferecia no final do século XVIII. Aquela Rahel era também uma outra Rahel, era de si e da outra que sobre ela escreveu, a Hannah. Arendt fugira da Alemanha com as cartas pesquisadas e levou muitos anos até escrever o belo livro em que examina, com grandeza e argúcia, os prós e contra da razão iluminista e do intrincado nó intimista romântico, tudo isso a partir de uma intervenção ensaística, filosófica e ficcional, até, sobre as cartas escritas e deixadas por Rahel, editadas por Hannah, em labirinto, em seu livro intitulado Rahel Varnhagen: a vida de uma judia alemã na época do Romantismo. Trabalhei esse material em cursos que ministrei na pós-graduação do Instituto de Letras da UFF, entre os anos de 1998 e 2004, quando estudava as relações entre o nacionalismo e a solidão, entre o intimismo e o espaço público, buscando entender não só o Romantismo e a fundação do estado-nação, mas o que disso resultou no hoje da globalização, questões de que tratei amplamente no meu A solidão tropical: o Brasil da modernidade e de Alencar. A escritora Anélia Pietrani, que agora se reafirma, havia publicado um outro livro, O enigma mulher no universo masculino machadiano, surgido de sua dissertação de Mestrado e no qual estudou Machado de Assis. Tive o prazer de orientar esses dois estudos e de vê-los publicados pela EdUFF, cabendo-me a satisfação de prefaciar ambos. Creio que poucos orientadores tiveram a chance de acompanhar a elaboração, por um só estudante, de dois trabalhos que representam contribuição válida para os estudos da crítica de textos literários entre nós. Qual não é minha alegria, ao encontrar, neste livro, uma escrita rigorosa e inteligente, oblíqua, que surgiu da pena daquela jovem, que veio de fora do Rio de Janeiro e conheci em 1995. Anélia Pietrani tem bom gosto e olhos agudos. Antes escolheu Machado de Assis, esse bruxo da linguagem; agora, duas outras escritoras, que não ficam a dever ao casmurro do Cosme Velho o gosto
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pela linguagem e pelo artesanato engenhoso do que se tem chamado “a literatura”, como diz Lacou-Labarthe, ao falar acerca dos primeiros românticos alemães. A autora abriga neste livro duas escritoras magníficas – Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath – que pertencem à tribo dos que compreendem a literatura como uma construção de linguagem que produz mundo, sem necessitar (nem poder) reproduzi-lo. É com sagacidade que, tendo se inspirado em práticas de estudos sobre o Romantismo, a identidade, as estratégias da escrita, remaneja-as rumo a uma outra direção, fazendo dessas práticas o arcabouço que lhe permite penetrar teoricamente no mundo poético das obras que escolheu focalizar. E, no que concerne ao tratamento que até hoje haviam recebido Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath, entre nós, essa é uma virada interessante. Se não é original a junção Rousseau-Rahel, pois esta é fruto da criação da própria Rahel, que se assinava, por vezes, J.J. Rahel (Jean-Jacques Rahel), nem o estudo sobre o intimismo e a solidão, e entre estes e a escrita que lê o eu, questões tratadas em obras recentes por outros estudiosos que a antecederam, é perspicaz, no entanto, o aproveitamento que faz dessas cogitações em proveito da leitura crítica de duas autoras do “pós-moderno” que, pela mão de Anélia, se reencontram com as questões da exegese sobre o Romantismo e outras, trazidas pelos primeiros românticos alemães. Isso faz gerar um torcicolo na “ignorância culta” contemporânea que, por vezes, parece supor que acredita que o mundo nasceu a partir do surgimento do “pós-moderno”, tantas e tão díspares as versões sobre o entendimento deste termo que Anélia busca amparar criticamente. Ao leitor que chegar até este livro e que, porventura, ler este prefácio, digo: não perderá tempo se for, agora mesmo, direto ao texto da autora, no qual encontrará um trabalho que acrescenta qualidade à ampla bibliografia atualmente dedicada a Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath. Anélia Pietrani, versada na prosa machadiana, agora se dedicou ao poema. Mas seja acerca da prosa, seja sobre a poesia, como os que gostam da linguagem e têm um saber-sabor pela literatura, nossa autora procura encontrar as chaves a que se referia Drummond, quando incitava o leitor a penetrar surdamente no reino das palavras e perguntava: “Trouxeste as chaves?”. Tratar da questão dos limites e dos (c) sem limites da linguagem não é coisa vã. Como nos diz Anélia Montechiari Pietrani, “o ato ensaístico, incompleto por sua natureza, faz com que nos deparemos, com freqüência, com uma pedra sobre o papel [...] Esse processo de atingir o cerne da produção poética nos lembra a imagem surpreendente de Schlegel que, ao falar da autonomia da obra de arte e, ao mesmo tempo,
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Lúcia Helena
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Prefácio
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de seu caráter fragmentário, traz à baila o porco-espinho, como se, para o poeta e seu crítico, houvesse, pulsando no ato de ler, reler e escrever, um porco-espinho-pedra de artérias e veias num coração vibrátil.” No coração vibrátil deste livro, dá-se um belo encontro das palavras da poesia com as do ensaio em sua melhor (e sempre perigosa) versão.
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Palavras iniciais “Parava, levantava os olhos um pouco, inventava: ‘go go go, said the bird: mankind cannot bear much reality’”
(Cesar, 1998b, p. 105)
Há mais coisas entre a poesia de Ana Cristina Cesar e a de Sylvia Plath do que pode sonhar nossa vã capacidade crítica. Os versos de T. S. Eliot, reinventados por Ana Cristina e transcritos do poema “Burnt Norton”, sugerem algumas delas: “Go, go, go, said the bird: human kind \ Cannot bear very much reality” (ELIOT, 2004, p. 334). E remetemnos – via Ana – às seguintes palavras de Sylvia Plath, registradas em seu diário: “Quero escrever por ter um ímpeto de me destacar num meio de traduzir e expressar a vida. Não consigo me satisfazer com a tarefa colossal de simplesmente viver” (PLATH, 2004, p. 216). Não poder suportar tanta realidade, não se satisfazer com a simples tarefa de viver são palavras que, mais que um dobre melancólico de finados, ressoam como perspectivas para se refletir sobre a complexidade da questão que envolve o estatuto do literário. Perseguindo textos em que o conceito de literatura é proposto a partir dos tênues limites entre mundo da vida e mundo da obra, são merecedoras de atenção as obras das poetas Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath. Duas autoras suicidas que, por seu talento, tornaram-se expoentes da poesia lírica brasileira e norte-americana do século XX e entrelaçaram em seus textos imagens de loucura, morbidez, amor, morte, palavra-corpo. No entanto, como é muito difícil esquivar-se da terrível morte das duas jovens poetas, passemos – de antemão – a dados de sua vida e obra. Sylvia Plath nasceu em 27 de outubro de 1932 em Boston, Massachussetts, filha de imigrantes germano-americanos: pai alemão, culto cientista e professor, de formação luterana; mãe austríaca de segunda geração, que falava alemão em casa, lecionava línguas até casar-se e tornar-se dona-de-casa, mãe e datilógrafa-secretária do marido. Aos oito anos de Plath, falece seu pai, e ela tem um poema publicado no Boston Herald. Torna-se, então, a moça inteligente, compelida à perfeição, popular na escola, obtendo seus As, prêmios e bolsas: a vencedora do concurso de ficção da Mademoiselle Magazine, com o conto “Sunday at the Mintons”, em 1951; a redatora convidada para um estágio na mesma revista, entrando em contato com a vida cultural de Nova
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Palavras iniciais
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York, em 1952; a graduada em inglês com láurea acadêmica no Smith College, apresentando a tese de graduação “The mirror – a study of the double in two of Dostoievski’s novels”, em 1955; a ganhadora da bolsa de estudos Fulbright, indo estudar em Cambridge também em 1955. No ano de 1956, enquanto está estudando na Inglaterra, conhece o poeta inglês Ted Hughes, com quem se casa no literário 16 de junho, Bloomsday. Em 1957, após completar estudos no Newnham College, muda-se com o marido para os Estados Unidos e é convidada para lecionar no Smith College, enquanto Hughes dá aulas na Universidade de Massachussetts. A partir de dezembro de 1959, retorna definitivamente para a Europa. Em 1960, nasce sua filha Frieda e seu primeiro livro, The Colossus, é publicado na Inglaterra. Sylvia, o marido e a filha mudam-se para uma casa de campo em Devon, onde nasce seu filho Nicholas. Porém, menos de dois anos após o nascimento de seu primeiro bebê, o casamento é rompido. O terrível inverno de 1962-63 encontrará Sylvia Plath em um apartamento londrino, residência onde morara o poeta Yeats, fervendo de gripe e palavras, compondo nas primeiras horas da manhã, antes que as crianças acordassem, os poemas que viriam a constituir mais tarde, em 1965, o livro Ariel. Em janeiro de 1963, é publicado, sob o pseudônimo de Victoria Lucas, The bell jar. Em 11 de fevereiro de 1963, aos 30 anos de idade, suicida-se, não sem antes deixar aos filhos, protegidos no quarto, pão e leite. A poeta carioca Ana Cristina Cesar nasceu em 2 de junho de 1952, numa família de intelectuais, de religião protestante: pai ligado à atividade editorial; mãe, professora de literatura. Menina (também) precoce, bem pequena ditava os poemas à mãe, que os anotava. “Menina prodígio”, escrevia um poema, que era publicado nas revistinhas da Igreja, colocado no mural da escola, destacado por “alguém que conhecia alguém na Tribuna da Imprensa”, conforme palavras da própria Ana em depoimento a Carlos Alberto Messeder Pereira, publicado em Retrato de época: poesia marginal anos 70 (PEREIRA, 1981, p. 190-1). Em 1969, muito jovem, aos 17 anos, vai para a Inglaterra pela primeira vez, por intermédio de um programa de intercâmbio. De volta ao Brasil, em 1970, completa o clássico no Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia. Ingressa no curso de Letras da PUC-RJ, onde conhece os jovens poetas que se organizavam para a produção e veiculação “independente” de suas obras: Cacaso, Geraldo Carneiro, João Carlos de Pádua, Eudoro Augusto, Luiz Olavo Fontes. Anos 70: anos férteis. Crítica, tradução e muita poesia. Ensaios e resenhas de sua autoria podiam ser lidos em revistas culturais como Almanaque, em jornais “alternativos” como o Opinião e efêmeros
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como o Beijo, bem como em grandes órgãos de imprensa como no suplemento “Livro” do JB e no “Folhetim” da Folha de S. Paulo. Em 1976, integrou a antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, que acabou se tornando um marco para a poesia dos anos 1970. A publicação é intensa em 1979: em junho/julho, Cenas de abril; em agosto, a irônica “2a” edição de Correspondência completa. Neste mesmo ano, conclui sua pesquisa sobre “A literatura brasileira no cinema documentário”, com que obteve o título de mestre em Comunicação pela UFRJ, que é publicada no ano seguinte com o título Literatura não é documento pela Funarte, financiadora do projeto. Ainda em 1979, retorna à Inglaterra para participar do “Curso de Literatura – Teoria e Prática da Tradução Literária”, na Universidade de Essex. Dedicando-se ao estudo e à prática da tradução, a Ana Cristina crítica literária e ensaísta aproxima-se literariamente de Sylvia Plath, dentre outros poetas, ao analisar e traduzir textos da poeta norte-americana, e obtém, em 1980, o grau de Master of Arts, with distinction, com uma tradução completa e comentada do conto “Bliss”, da escritora neozelandesa Katherine Mansfield. Ainda lá fora, publica Luvas de pelica, que ela chamaria de um “romance”. No início de 1981, volta ao Brasil e se intensifica sua atividade crítico-jornalística. No final de 1982, A teus pés é publicado por uma editora comercial, incluindo os três outros livros publicados independentemente. Em 29 de outubro de 1983, suicida-se aos 31 anos de idade. Não há dúvida de que a prematuridade e a aura de tragicidade que envolveram a morte das poetas construíram mitos que correm o risco de – infelizmente – ofuscar o intenso e importante trabalho literário que empreenderam, se seus leitores não estiverem advertidos de que, para elas, a construção literária se dá para além da esfera da mera representação. Portanto, vale a pena nos distanciarmos desse veio mitificador e reducionista em que alguns insistem em mergulhar ao estudar os poetas suicidas. Assim, o espaço do literário nos oferecerá não a certeza de um limite, mas a transversalidade de caminhos que, ludicamente, se aproximam e distanciam. Diante do texto literário, os limites já não são estáveis, estão prontos à transgressão. A linguagem da conversão de realidade em imaginário será – se houver algum – o ponto de fusão (e confusão) entre o ser de palavras e o real, formando, de fato, uma palavra-corpo que se (con)forma na produção1 (e não representação) mimética, através de uma espécie de jogo com a aparência de certeza de se estar revelando a verdade. Também as obras de Ana Cristina
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Cesar e Sylvia Plath nos convidam a trilhar os “(des)caminhos da dialética do imaginário, trajetória em que o próprio leitor assume a função de descobrir, na aparência de real do texto ficcional, no mundo do ‘como se’, a correlação crítica e sutil com a realidade” (PIETRANI, 2000, p. 24), ainda que tais palavras tenham sido dirigidas originalmente ao texto de Machado de Assis. De fato, o tema do limite e do sem-limite é contagiante. Penetra nos escritos, no tempo e nos espaços com que nos defrontamos. Para justificar esse contágio e deslocar-me, um pouco, do tom acadêmico que sempre percorre dissertações e teses, farei referência a um fato acontecido comigo, na ocasião em que eu e minha filha, na época com dois anos, assistíamos à encenação da peça Branca de Neve e os Sete Anões, no Teatro Abel, em Niterói. Eis que o espelho responde à pergunta da madrasta. Ele é um homem vestido com uma roupa branca e prateada que, lentamente, se ergue atrás do espelho-real, atendendo ao chamado da bruxa. Um menininho, sentado atrás de nós, dirige-se aflito a sua mãe: “O que é isso, mãe?” Ao que ela responde: “É um homem fingindo que é espelho”. Provavelmente, o menino já conhecesse a história da Branca de Neve e nunca houvesse estranhado o fato de o espelho falar. Mas ali, naquele momento, quando a imagem una do espelho se desfaz e surge, entre ele e o menino, um homem (real?), como um vulto verbal não textualizado, talvez algo se tivesse rompido para a criança. Assumindo a função de concretizar um imaginário, a figura do homem, ainda que disfarçada por roupas de clown, interrompeu o fluxo da ficção: detrás do espelho um homem de carne-e-osso irrompera. O encantamento próprio do limite lábil entre a vida e a ficção, em que os lados do infinito – um que parece tão próximo, outro tão distante – se bipartem, não fora conseguido. E o menino, sensível, manifesta sua estranheza. É possível acreditar na literatura. Mas, quando sua imagem se faz real, de forma um tanto canhestra, algo de fundamental se perde: e tinha sido exatamente a ausência do limite em latência – essa coisa difícil de tratar – que se perdera ali. Partindo da idéia de como é difícil se estabelecerem limites, ao mesmo tempo que se acredita na sua existência e se insiste que, só com eles, é criado “um outro”, este trabalho se propõe a estudar a experiência (do) limite, a relação entre escrita, vida e morte, abrindo-se para o estudo de um leque de oposições: fingimento e realidade, ficção e história, solidão e multidão, eu lírico e eu social, silêncio e palavra, loucura e lucidez, escrever e viver, culminando na mais trágica de todas elas, por sua inexorabilidade: viver e morrer.
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A relação entre vida e arte, implantada pela poesia de Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath, implica enfrentar a questão da duplicidade, do paradoxo, da ambigüidade como signos que marcam a modernidade e a pós-modernidade. Por conseguinte, são esses também os elementos que formam os jogos de linguagem dos textos modernos e pós-modernos e que serão destacados para estudo na poesia lírica das autoras. A perspectiva dualista é aqui entendida a partir de vários aspectos: a mediação tão tênue entre vida e arte, confissão e ficção, objetividade e subjetividade, sociedade e lírica, vida e morte, como vimos afirmando. Inclusive, a própria Ana Cristina já havia demonstrado essa preocupação em muitos de seus ensaios críticos sobre literatura e tradução, que foram compilados em Crítica e tradução, pela Editora Ática, em 1999. Como ilustração, vale a pena destacar uma citação em que Ana C. analisa o poema “Words” de Sylvia Plath, após ter feito a sua tradução:
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No poema de Plath a linguagem é algo com valor absoluto. A poeta encontra as palavras no caminho. As palavras são o outro lado da realidade, ingovernáveis, ásperas. Será por isso que elas não designam, não colaboram com o autor nem obedecem a ele? A linguagem não está ligada à emoção e há algo de mortífero nela. Não haverá nesta separação um elemento que faz sofrer? Ao contrário de Mallarmé, Sylvia Plath constata que a linguagem é um “signo puro, que deixou de designar as coisas”, afirmação essa que sugere um certo tipo de loucura. E a modernidade sofre, no final de tudo. Não há margem para qualquer tipo de brinde. (CESAR, 1999b, p. 418, grifos do autor)
A citação é elucidativa. Ana Cristina explicita bem o (des)limite entre linguagem e realidade, o ato criador e a criatura, a escrita e a morte, a escrita e a loucura, a escrita e o sofrimento: questões estas fundamentais que serão exploradas no decorrer deste trabalho. O material aqui apresentado divide-se em quatro capítulos. O primeiro, intitulado “Uma modernidade (c)sem limites”, reúne o resultado da pesquisa sobre as bases teóricas da modernidade e seus (sem) limites, principalmente a partir dos estudos de Walter Benjamin, e apresenta a análise de textos das autoras que possam corroborar a imagem da “literatura de abismos” que o tortuoso caminho benjaminiano parece sugerir e instigar, em conjunto com os estudos de Hannah Arendt e Jean Starobinski.
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Benjamin, Arendt e Starobinski tratam, grosso modo, de questões importantes que tocam na condição fragmentária e deslizante de um eu que transita entre sentimentos e expressões, recuperando na/ pela arte a complexidade do ser e da linguagem. Citemos, a título de ilustração, os autores com que trabalharam esses teóricos nas obras a que, neste trabalho, se faz referência: Charles Baudelaire, Rahel Varnhagen, Jean-Jacques Rousseau, Friedrich Schlegel. No mesmo patamar desses artistas, podemos posicionar Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath. A expressão de um rosto e de uma história marcados pelas alegorias da ruína, do cadáver, da caveira – de que fala Walter Benjamin em Origem do drama barroco alemão – torna significativo iniciar com esse autor o estudo teórico sobre as condições paradoxais dessa modernidade pós-moderna,2 que vive ou revive o impasse entre as enormes possibilidades abertas pelo progresso e pela modernização, mas convive sem solução com as discrepâncias provocadas por um mundo “moderno” e “modernizado”, que não ficou nada melhor; ao contrário, criaram-se abismos entre homens, entre sociedades, entre culturas. Assim como Charles Baudelaire chama a atenção de Walter Benjamin por ter-se debatido com as fantasmagorias da Modernidade e da metrópole parisiense do século XIX, transitando poeticamente entre o eu interior e o eu social, criando e recriando a imagem consciente (apesar da construção em fragmentos e em ruínas) do pessimismo e da melancolia, também as poetas aqui estudadas flagram um momento em que o sujeito se inteira dos fragmentos (que valha o paradoxo) que circundam a vida, a escrita, a loucura, a morte. São elas criadoras de textos que desmistificam limites e certezas. O benefício é exclusivo do vazio, da lacuna, da falta que faz o si mesmo e o outro: o outro ficcional, que só a escrita – em sua solidão – pode completar; ou o outro real – o leitor, possivelmente aquele mesmo hipócrita, irmão de Baudelaire. O segundo capítulo, com o título “Migração de gêneros e sentidos”, complementa a idéia que persegue este trabalho, a da modernidade que se (des)faz no eu em pedaços, no outro que aparece ao eu, no limite que se experimenta, ao tratar das cartas e diários escritos por Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath. Por se tratar de textos que comumente se aproximam do texto-documento e por apresentarem momentos de reflexão acerca do fazer literário e de referências crítico-teóricas, torna-se bastante interessante cotejá-los com os textos ficcionais por elas produzidos, principalmente com Luvas de pelica, de Ana Cristina, e The bell jar, de Plath.
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Tanto as cartas quanto os diários orientam e avançam o estudo das inter-relações e das oposições até aqui apontadas, uma vez que se pretende sempre ressaltar que não estamos diante de um epistolário ou diário “leigos”, mas de um produto de uma (ou duas) “escritora[s] por vocação e profissão”, conforme expressão de Italo Moriconi, que aparece em seu ensaio biográfico sobre Ana Cristina Cesar, e que aqui gostaríamos de estender a Sylvia Plath (Cf. MORICONI, 1996, p. 11). Somente isso já bastaria para pensarmos no caráter de literaridade que ronda tais textos. Fugindo à argumentação da mera análise biográfica, ainda mais à especulação em torno da figuração mítica que assumiu o suicídio de Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath, buscamos no terceiro capítulo, “Morrer na vida, viver na poesia”, a evocação, através das imagens da morte suscitadas pela leitura dos seus textos, dos elos entre escrita e vida, entre corpo de escrita e corpo de realidade, que se faz morto para viver na poesia. Trata-se, ainda, das reflexões em torno dos limites da produção textual. Nesse aspecto, o texto de Maurice Blanchot, O espaço literário, será importante para que reflitamos sobre essas questões. Ainda se espera analisar aqui as relações entre gênero, identidade e subjetividade e mostrar a figuração de uma temática do feminino extremamente dessacralizadora e distanciada dos limites impostos à poeta-mulher por uma concepção de poesia voltada ao etéreo, doce e singelo. Rompendo esses elos conservadores, a poesia de violência de Ana Cristina e Sylvia Plath trabalha a erotização que o texto literário provoca como uma espécie de “frenesi da escritura”, ao mesmo tempo que a condição fragmentária da modernidade e do seu eu vem sugerida no tom de morte e melancolia que perpassa seus textos. Sobre a reflexão acerca da presença de uma subjetividade e identidade femininas no texto literário, vale-nos citar as obras Reflections on Gender and Science, de Evelyn Fox Keller, e Technology of gender: essays on theory, film and fiction, de Teresa de Lauretis, que estudam e põem em questionamento o sistema de “generização da cultura” e a articulação mítico-ideológica da “tecnologia dos gêneros”. Os termos entre aspas foram utilizados, respectivamente, pelas autoras citadas e, grosso modo, fazem referência ao aparato sociocultural de implicação ideológica que constrói a diferenciação sexual. Além dos já referidos textos de Keller e Lauretis, complementam este estudo os significativos livros Beyond feminist aesthetic: feminist literature and social change, de Rita Felski, e Nem musa, nem medusa: itinerários da escrita em Clarice Lispector, de Lucia Helena. O primeiro procura questionar estudos teóricos de feministas ortodoxos que trabalham
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Palavras iniciais
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sem mediação a conexão entre literatura e realidade, estabelecendo relações diretas entre “o ser das palavras” e “o ser da existência”. O segundo, apesar de tratar da análise da narrativa de Clarice Lispector, é um texto que elucida muitas das questões a respeito da figuração do feminino como transgressão de modelos dominantes. Há um aspecto que deve ser considerado imprescindível em um trabalho que pretende estudar a produção literária lírica moderna e pós-moderna: a reflexão sobre o papel e o lugar da arte neste momento em que – diz-se – está derrotada a utopia, fragmentou-se o mundo multifuncionalizado, as fronteiras se esvaíram, perderam-se as grandes narrativas, as luzes iluministas apagaram-se em meio à escuridão que se insufla na pós-modernidade. Este será o pano de fundo para as questões desenvolvidas no quarto capítulo: “Tra(u)mas de Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath”. No que diz respeito ao “mal-estar” que ronda a modernidade, será retomado o seminal estudo de Freud em O mal-estar na civilização. Em continuidade às reflexões sobre as instabilidades do mundo moderno e o sentimento de desencantamento que nele se manifesta, consideramos relevante a análise de Michael Löwy, em Redenção e utopia, sobre o caráter pregnante da reflexão dos pensadores judeus da Europa Central – dentre eles, Benjamin – acerca dos veios neoromânticos e melancólicos da modernidade. Cientes de que estamos em um mundo tão pouco reflexivo e que é a reflexão a única possibilidade de se atingirem as “luzes elucidativas” (valendo o pleonasmo) refletidas sobre a escuridão da melancolia, convém pensar acerca da questão da cultura pós-moderna associada ao discurso sobre a sociedade pós-industrial, no que diz respeito ao conceito de “saber”. Na sociedade informatizada, da proliferação dos “pós”, estabelece-se uma relação mercantilizada entre saber e poder. Conseqüentemente, isso pode ser estendido para um questionamento estético-político sobre o fazer poesia hoje, nesta contemporaneidade desumana e bárbara, em que o saber perde o “valor de uso” e assume um “valor de troca”. Assim, neste último capítulo, ao retomarmos algumas das idéias expostas no primeiro, os livros As ilusões do pós-modernismo, de Terry Eagleton, e As origens do pós-modernismo, de Perry Anderson, não contribuirão apenas para trabalhar o conceito de uma era e de um estilo chamados pós-modernos, considerando aqui que modernidade e pós-modernidade são termos polêmicos que, para uns críticos, representariam estilos de época diferentes enquanto, para outros, apesar das especificidades de cada um, o pós-moderno representaria um capítulo do moderno. Mas contribuirão principalmente para se
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pensar a relação entre arte e história, correlacionar as dimensões universal, social e individual na obra de arte e encarar o fenômeno da arte, da poesia como reflexão. Sem dúvida, é importante abrir-nos ao questionamento acerca do significado do fazer poético e do poder da arte/da poesia nessa sociedade dita pós-moderna, que prima pela desmemoriação e pela aceitação quase passiva da fragmentação. Há lugar para a arte nesse meio infernal?
Anélia Montechiari Pietrani
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Notas 1
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As expressões “mímesis da representação” e “mímesis da produção” são de Luis Costa Lima e foram analisadas pelo ensaísta em Mímesis e modernidade: formas das sombras (Rio de Janeiro: Graal, 1980), ao defender a idéia de que a linguagem literária é criadora de mundo e não mera transparência deste. E, por falar em (des)limites, convém destacar a dificuldade de se estabelecer dife rença entre modernidade e pós-modernidade, principalmente quando se observa que, se há diferenças estéticas entre um e outro movimento a ponto de alguns críticos incluírem certas obras em um ou outro estilo, as bases históricas que fundamentaram a modernidade permanecem atuantes na pós-modernidade (isso se quisermos usar os termos para marcar a diferença temporal e de gerações entre um e outro); por isso, acaba por ser mais provocativo usar o termo moder nidade pós-moderna. A inteligente analogia que Terry Eagleton faz com a fábula da criança e do rei nu é elucidativa nesse sentido: “O pós-modernismo [...] não pode mesmo chegar a um termo, tanto quanto não poderia haver um fim para a pós-Maria Antonieta. Ele não é, aos próprios olhos, uma ‘etapa da história’, mas a ruína de todo esse pensamento etapista. Ele não vem depois do modernismo no mesmo sentido que o positivismo vem depois do idealismo, mas no sentido de que o reconhecimento de que o rei está nu vem depois de se olhar para ele. E assim, da mesma forma como era verdade que o imperador esteve nu o tempo todo, sob certo aspecto o pós-modernismo existia mesmo antes de começar. Num determinado nível pelo menos, ele não passa da verdade negativa da modernidade, um desmascaramento de suas pretensões míticas e, portanto, presume-se que fosse tão legítimo em 1786 quanto o é hoje” (EAGLETON, 1998, p. 37).
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