O abraรงo do muriqui
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Sรกvio Freire Bruno (organizador)
O abraรงo do muriqui
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Coleção Didáticos, 19
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Impresso no Brasil, 2018. Foi feito o depósito legal.
Sumário PREFÁCIO, 7 PREGUIÇA-DE-COLEIRA, 11 Luiz Corrêa
FORMIGUEIRO-DO-LITORAL, 21 Talmo Manhães, Amanda Navegantes e Sávio Freire Bruno
LAGARTO-BRANCO-DA-AREIA, 33 Rhégia Brandão
MURIQUI-DO-SUL, 43 Josie Antonucci e Sávio Freire Bruno
JACUTINGA, 57 Josie Antonucci, Luiz Corrêa e Sávio Freire Bruno
CÁGADO-DO-PARAÍBA, 65 Fernando Matias e Sávio Freire Bruno
BOTO-CINZA, 77 Thábata Teixeira
TATU-CANASTRA, 91 Débora Chueiri e Josie Antonucci
MICO-LEÃO-DOURADO, 99 Guilber Amaral
SURUBIM-DO-PARAÍBA, 111 Ricardo Keim
Prefácio A diversidade biológica é imprescindível para a manutenção da vida como a conhecemos e, em todo o planeta, o Brasil é o país com o maior número de espécies, tanto animais, quanto vegetais. Essa diversidade tem relação direta com a qualidade de nosso ambiente, nossa cultura e sobrevivência, garantindo a produção do alimento que chega às nossas mesas e que impulsiona a economia da nação. Em suma, a diversidade biológica de qualquer país garante a sobrevivência do seu povo e suas riquezas. Mas a natureza tem antes de tudo seu valor intrínseco, as vidas que habitam um dado ecossistema não podem ser valoradas. Os biomas, em sua essência, são importantes por si mesmos, e a natureza merece nosso respeito, não devendo ser enxergada unicamente como recurso natural à espera de nosso interesse, seja ele tecnológico, econômico ou cultural. Indiscutivelmente, vivemos um processo de extinção em massa, em que inúmeros representantes de nossa fauna encontram-se sob algum grau de ameaça. A Mata Atlântica abriga cerca de 350 espécies de peixes, 849 de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis e 270 de mamíferos, números que até hoje vêm crescendo, como consequência de importantes investimentos em pesquisas, embora tendam a decrescer, devido às ameaças à sobrevivência dessa diversidade biológica. A flora da Mata Atlântica é representada por cerca de 20.000 espécies vegetais, algo em torno de 35% das existentes no Brasil. Nos domínios dessa floresta, incluindo as áreas desmatadas, vivem em torno de 120 milhões de pessoas e são gerados 70% do PIB brasileiro.1 Abraçado pela Mata Atlântica, o estado do Rio de Janeiro apresenta variações em seu ambiente – de solo, relevo ou clima – que lhe conferem alta diversidade biológica e considerável taxa de endemismos. Como exemplo disso, contabilizam-se 166 espécies de anfíbios, sendo 35 1
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Biomas: Mata Atlântica. Brasília, DF: MMA, 2013. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/mata-atlantica>. Acesso em: 1o jul. 2013.
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endêmicas, 127 de répteis, com cinco endêmicas, e 185 de mamíferos, com três endêmicas.2 Quanto às aves, há algo em torno de 628 espécies. E estamos tratando apenas de alguns representantes vertebrados. A diversidade biológica do Estado é de uma riqueza inestimável. Nele, vivem perto de 16 milhões de pessoas. Segundo dados do IBGE (2010),3 o Rio de Janeiro representa o segundo maior PIB brasileiro, com R$ 407 bilhões, o que lhe confere 10,80% da participação nacional, ficando atrás apenas do estado de São Paulo. Entretanto, o modelo capitalista de desenvolvimento não é compatível com a preser vação dos recursos naturais. Nesse modelo, as tentativas de compatibilizar crescimento econômico e conservação ambiental tendem a minimizar seus impactos, mas não se trata de um modelo verdadeiramente sustentável. Em 2012, o governo do estado do Rio de Janeiro lançou a campanha “Defenda as espécies ameaçadas – abrace essas dez!”. A campanha, promovida pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e pela Secretaria do Ambiente do RJ, visava “sensibilizar e mobilizar a sociedade para participar dos esforços para a preservação de espécies da fauna fluminense”. Foi nesse mesmo ano, 2012, que demos início à disciplina de Ecologia avançada no Programa de Pósgraduação em Engenharia de Biossistemas na Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense. Uma turma de mestrandos com diferentes formações acadêmicas, mas unida por uma “linha tênue”, tecida por “fios” comuns àqueles que “abraçam” uma ideia, uma causa, se engajou na luta por uma sociedade mais equilibrada, justa e ecologicamente responsável. 2
ROCHA, C. F. D.; BERFALLO, H. G.; POMBAL JUNIOR, J. P.; LENA, G.; SLUYS, M. V.; FERNANDES, R.; CARAMASCHI, U. Fauna de anfíbios, répteis e mamíferos do Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil. Disponível em: <http://acd.ufrj. br/~museuhp/CP/P.Avulsas/PAvulsas2005/PA104.pdf>. Acesso em: 1o jul. 2013.
FAUNA DO RIO, 2013. Disponível em: <http://faunadorio.blogspot.com.br/ 2013/06/comemoracao-do-dia-estadual-da-fauna.html>Acesso em: 1o jul. 2013.
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SOBRAL, L. Os Estados que mais contribuem com o PIB brasileiro. EXAME.com, 23 nov. 2012. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/ sao-paulo-correspondeu-a-33-1-do-pib-nacional-em-2010>. Acesso em: 1o jul. 2013.
Prefácio
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O maior primata neotropical, o muriqui (Brachyteles sp.) – tanto a espécie que vive no norte do estado (B. Hypoxanthus), quanto a que vive no sul (B. Arachnoides), esta última, contextualizada nesta obra –, é um componente típico de florestas em bom estado de conservação. Melhor dizendo, é um componente da Floresta Atlântica em estado clímax ou, ao menos, em avançado estágio de regeneração. Esse primata habita, predominantemente, os mais altos extratos dessa floresta, frequentando árvores nobres, de onde retira boa parte de seu alimento. Auxiliado por sua cauda preênsil, como um “quinto membro”, consegue manter-se a grandes alturas sem fazer uso dos braços. Ao encontrar um de seus pares, frequentemente se abraçam. “O abraço do muriqui” é uma menção, não só a um grande abraço a todas as espécies ameaçadas de extinção contempladas na campanha “Abrace essas dez!”, mas a todas as espécies, à Floresta Atlântica e suas fitofisionomias, a todos os seres vivos e, por que não, a nós humanos e ao planeta que habitamos. O abraço do muriqui almeja ser um modesto e delicado gesto de compaixão por todas as formas de vida e seus respectivos biomas, considerando nosso planeta como uma expressão única dessa vida e de suas esferas. Não fizemos apenas uma “prova”, no sentido tradicional de ensino. Fizemos, particularmente, este trabalho com o intuito de divulgar ideais ecologistas e de contribuir com uma campanha que consideramos bem-vinda. Assim, aproveitamos a oportunidade para congratular todos que nela estão envolvidos. Em adição ao conteúdo programático das aulas da disciplina de Ecologia Avançada, partilhamos nosso tempo no que foi resumido por muitos como “um laboratório de novos autores”. Que, como futuros mestres, os passos de cada novo autor sejam sempre bem fundamentados e seus esforços, bem-sucedidos! Sávio Freire Bruno