Psicologia e educação: Interfaces preview

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Práxis Educativa é obra coletiva, pensada e realizada no diálogo construído na Direção Ampliada – que reúne a direção da FEUFF, as em Pedagogia, a Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação e a Coordenação Geral de Pós-Graduação lato sensu e no Colegiado de Unidade da FEUFF – instância colegiada superior que reúne representação docente e discente. A proposta editorial de Práxis Educativa, aprovada com louvor pela Comissão Editorial da EdUFF, foi amplamente discutida naquelas instâncias, a partir de um documento preliminar elaborado por comissão especialmente designada pelo Colegiado de Unidade, a cujos integrantes, professores Eunice Trein, Francisco Silveira Lobo e Maria Ciavatta Franco, muito agradecemos pela relevante contribuição ao processo de criação da Série. Lucia de Mello e Souza Lehmann, Doutora em Psicologia Social e da Personalidade pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com bolsa CNPq. Mestre em Psicologia Clínica Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Inclusão do Instituto de Biologia da UFF. Coordena o grupo de pesquisa NUPES (Núcleo de Pesquisas Subjetividade, Educação e Cultura) UFF. Pesquisadora associada ao NIPIAC (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas) da UFRJ e Editora associada da Revista Desidades - UFRJ. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense. Luciana Gageiro Coutinho, Mestre e doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com bolsa-sanduíche (CNPQ) em Paris VII. Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, onde integra o grupo de pesquisa NUPES (Núcleo de Pesquisas Subjetividade, Educação e Cultura). É também pesquisadora associada ao NIPIAC (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas) da UFRJ e psicanalista, membro do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro. Sua área de pesquisa e atuação concentra-se em Psicanálise e Educação, na interface com outras áreas das ciências humanas e sociais, com ênfase na questão da adolescência no contemporâneo.

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: INTERFACES

Helena Amaral da Fontoura Professora Associada Faculdade de Formação de Professores Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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Lucia de Mello e Souza Lehmann Luciana Gageiro Coutinho (Orgs.)

sentido possível, o perguntador, que indaga ao campo, que indaga ao outro, que indaga à sociedade, e que busca respostas nessas instâncias em permanente diálogo. Não temos uma única Psicologia para dar conta dessa demanda plural, mas Psicologias, que atravessam o social, o individual, o familiar e o coletivo, as escolas e outros espaços educativos, não mais aplicada como uma ferramenta mas transversalizando e tecendo junto com. Acredito que essa obra, que informa processos e dinâmicas, pesquisas plurais e caminhos diversos, possa vir a acrescentar às diferentes conversas construtivas sobre Educação e Psicologia, em diálogos permanentes, construções conjuntas, diferenças que somam, caminhos entrecruzados alicerçados na pesquisa e no fazer diuturno da Ciência.

Lucia de Mello e Souza Lehmann Luciana Gageiro Coutinho (Organizadoras)

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: INTERFACES

Atuar na interface da Psicologia com a Educação é desafio constante para os que desejam encontrar nos diálogos possíveis entre as duas áreas caminhos para desenvolver pesquisas que venham a agregar valor ao que se faz na área de Educação, dentro de um espaço como uma Faculdade de Educação, de tradição na formação de professores em diferentes áreas, todas utilizando disciplinas de Psicologia como componente importante da preparação do futuro docente. Polissêmica por natureza, a Psicologia que dá sustentação às reflexões educacionais na formação docente pode trazer temas como ensinar e aprender, explicações sobre saberes em aspectos relacionais, atitudinais, avaliativos, subjetivos, individuais e coletivos, para citar apenas alguns. Também vemos na obra como é plural o referencial teórico e metodológico utilizado nas pesquisas que focam na intercessão de áreas, e como contribuem para debates frutíferos, fugindo do que é visto na obra como uma ‘ortopedia’, consertar o que está quebrado ou precisa de reparos, como tradicionalmente foi vista (ou talvez ainda seja) a função do que é da ordem do psicológico nos ambientes educacionais. A proposta aqui é disputar esse sentido reparador trazendo outro



PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO


SÉRIE PRÁXIS EDUCATIVA Comissão editorial José dos Santos Rodrigues – FEUFF Marília Etienne Arreguy – FEUFF Marcos Pinheiro Barreto – FEUFF Comissão científica Henrique Nardi – UFRGS Daniele Nunes – UNB Leandro de Lajonquière – USP Francisco Ramos de Faria – UNIRIO Mariana Paladino – UFF Edith Frigotto – UFF

Joana Novaes de Vilhena – PUC-Rio Elizeu Clementino – UFBA Lucia Rabello de Castro – UFRJ Ana Paula Miranda – UFF Estela Scheinvar – UFF Maria Tereza Goudart – UERJ Aparecida Tirandentes – Fiocruz Anita Handfaz – UFRJ Marisa Brandão – CEFET-RJ Álvaro Moreira Hypolito – UFPel Luiz Gonzaga Falcão – UFU Lucia Neves – CNPq/UFJF Fernanda Vecchi – HUPE/UERJ Horácio Sívori – IMS/UERJ

Universidade Federal Fluminense Reitor: Sidney Luiz de Matos Mello Vice-Reitor: Antonio Cláudio Lucas da Nobrega Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense Diretor: Aníbal Bragança Comissão Editorial (2012-2014) Presidente: Mauro Romero Leal Passos Ana Maria Martensen Roland Kaleff Eurídice Figueiredo Gizlene Neder Heraldo Silva da Costa Mattos Humberto Fernandes Machado Luiz Sérgio de Oliveira Marco Antonio Sloboda Cortez Maria Lais Pereira da Silva Renato de Souza Bravo Rita Leal Paixão Simoni Lahud Guedes Tania de Vasconcellos


PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: INTERFACES Lucia de Mello e Souza Lehmann Luciana Gageiro Coutinho (Organizadoras)


© 2015 by Lucia de Mello e Souza Lehmann, Luciana Gageiro Coutinho Projeto gráfico: FUTURA Capa: Marcos Antonio de Jesus

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – (CIP) P974 Psicologia e educação: interfaces / Organização de Lucia de Mello e Souza Lehmann e Luciana Gageiro Coutinho. – Niterói : Editora da UFF, 2014. – 153 p. ; 21 cm. – (Série Práxis Educativa, v.9)

Inclui bibliografia ISBN 978-85-228-1086-4 BISAC EDU000000 EDUCATION / General

1.Educação. I. Lehmann, Lucia de Mello e Souza. II. Coutinho, Luciana Gageiro. III. Série. CDD 370

Direitos desta edição reservados à Eduff - Editora da Universidade Federal ­Fluminense Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - ­Niterói, RJ - Brasil Tel.: (21) 2629-5287 - Fax: (21) 2629-5288 www.editora.uff.br - E-mail: secretaria@editora.uff.br É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora. Impresso no Brasil, 2015 Foi feito o depósito legal.

Editora filiada à


SUMÁRIO FOOTNOTES.............................................................................................7 PREFÁCIO..................................................................................................9 APRESENTAÇÃO.....................................................................................11 I – SABER LER E ESCREVER: UMA QUESTÃO DE AUTONOMIA..................................................................................... 17 Ana Lucia Paes de Barros Lucia de Mello e Souza Lehmann Janaína Coelho Monteiro II – PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO, POR UM ENCONTRO POSSÍVEL.......................................................................................33 Cristiana Carneiro Luciana Gageiro Coutinho III – JOGOS ELETRÔNICOS NO CENÁRIO DA INCLUSÃO: AVALIAÇÃO/INTERVENÇÃO.....................................................49 Cristina Lúcia Maia Coelho IV –

LISTA BÁSICA DE INDICADORES DE SUPERDOTAÇÃO: PARÂMETROS PARA A OBSERVAÇÃO DE ALUNOS EM SALA DE AULA.......................................................................71 Cristina Maria Carvalho Delou

APÊNDICE................................................................................................87


V – UM DIÁLOGO ENTRE PSICOLOGIA E LITERATURA PARA UMA PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DE PROJETOS...95 Eda Maria de Oliveira Henriques VI – LINGUAGEM E COTIDIANO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE.....................................111 Maria Angélica Augusto de Mello Pisetta VII – POR UMA PSICOLOGIA QUE INCLUA AS CRIANÇAS BRASILEIRAS: LINGUAGEM, CULTURA E COGNIÇÃO SITUADAS EM CONTEXTOS...................................................123 Marisol Barenco de Mello VIII – SUBJETIVIDADE E NEGRITUDE: REFLEXÕES NA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA.................................................151 Maria das Graças Gonçalves IX – SUBJETIVIDADE E NEGRITUDE: REFLEXÕES NA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA.................................................179 Sandra Santos Cabral Baron ORGANIZADORAS...............................................................................201 AUTORAS...............................................................................................203


FOOTNOTES

IG = inteligência geral. PC = pensamento criador. CL = capacidade de liderança. CP = capacidade psicomotora.



PREFÁCIO

A obra Psicologia e Educação: Interfaces, organizada pelas Prof.as Dr.. as Lucia de Mello e Sousa Lehmann e Luciana Gagueiro Coutinho, reflete o esforço conjunto de um grupo de docentes pesquisadores, professores de Psicologia da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, no sentido de tornar público o avanço na construção de conhecimento acerca da frutífera relação da Psicologia com a Educação, tendo como eixo norteador o relato de pesquisas bem delineadas e conduzidas por suas autoras. Contendo temáticas de relevância ímpar, a coletânea possibilita ao leitor uma reflexão sobre assuntos atuais e pertinentes, que marcam e perpassam a inclusão do saber psicológico no diálogo com a Educação. Assim, contribui sobremaneira para ampliar os horizontes da relação entre esses saberes, sobretudo no que concerne à formação de professores. Preenche uma lacuna ao explicitar e sistematizar pesquisas realizadas por um grupo de docentes atuantes e compromissados com a Psicologia Educacional nacional, que compartilham com o leitor suas inquietudes e reflexões. Torna acessível conhecimentos profundos de cada uma de suas áreas de


atuação, tendo como fio condutor a legítima preocupação com a formação de professores e a melhoria das práticas educativas em todos os segmentos da escolarização, desvelando, de modo original, novas e diferentes formas de se pensar as contribuições da Psicologia para a Educação. O tripé leitura, escrita, autonomia, os subsídios da Psicanálise para a Educação e as relações da Literatura com a Psicologia, bem como temas que tratam da linguagem, da cultura, dos processos de subjetivação, da cognição situada, do papel dos jogos eletrônicos na aprendizagem, de instrumentos para a identificação precisa de superdotados, da contribuição da construção de projetos de pesquisa para futuros professores e da importância da formação do educador atento e engajado na promoção da igualdade racial fazem do livro uma leitura necessária, valiosa e instigante para todos aqueles que se interessam pela relação Psicologia e Educação. Prof.a Dr.a Evely Boruchovitch Departamento de Psicologia Educacional Faculdade de Educação – UNICAMP


APRESENTAÇÃO

Vivemos um momento em que as inovações e as complexidades da vida social atravessam a constituição das subjetividades, bem como as questões referentes ao viver coletivo e ao educar. Tal panorama nos desafia a ressignificar as teorias tradicionais e a dialogar com múltiplos olhares sobre a educação e as novas temáticas e demandas que se apresentam à psicologia. O núcleo deste livro é formado pela contribuição de professores e pesquisadores que atuam na interface da psicologia com a educação. A coletânea surge a partir do interesse dos professores de psicologia da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense em produzir uma publicação conjunta que possa refletir um panorama atual desse setor, por meio da apresentação de suas pesquisas e reflexões em andamento. As disciplinas de interface da psicologia com a educação estão presentes, tradicionalmente, no curso de pedagogia e psicologia e, mais recentemente, em todas as licenciaturas. A inserção da disciplina de psicologia nos diversos cursos de licenciatura (letras, biologia, educação física, história, ciências sociais, enfermagem e muitos


Lucia de Mello e Souza Lehmann e Luciana Gageiro Coutinho

outros) cria uma ampla demanda de recursos na área para fazer frente às inúmeras possibilidades de atuação perante os professores em formação. Girando em torno de temas que articulam psicologia e educação, esta coletânea apresenta um conjunto de artigos que fala de múltiplas psicologias e de diversas formas de conceber o que seja educar, saber, aprender, ensinar. Psicologias porque os trabalhos reúnem diferentes matrizes teóricas, diferentes formas de pensar e compreender a complexidade humana, as subjetividades e as relações sociais, bem como as epistemologias cotidianas e os questionamentos em relação ao futuro. Os artigos que compõem esta coletânea, com seus específicos objetos de interesse, refletem também um leque de possibilidades de fazer pesquisa na área utilizando-se de metodologias diferentes. Estes trabalhos apresentam algumas conjunções, coincidências e disjunções entre paradigmas da educação, orientando-se por contextos sociais diversos, expondo assim possíveis encontros e desencontros da psicologia com a educação no Brasil. Durante muito tempo a psicologia aplicada à educação no Brasil exerceu uma ortopedia, atuando no sentido de identificar, normalizar e conter comportamentos desviantes. Praticamente não havia lugar nesse âmbito de interesses para questões sobre a escola, o funcionamento institucional e as bases sociais e políticas nas quais ela se inseria, bem como para o campo semântico e os discursos que constituíam as relações educativas. Nesse sentido, a psicologia não se ocupava do cotidiano da escola, ficando à margem, até mesmo geograficamente, em um espaço de atendimento em que recebia alunos, pais e professores isoladamente. Com a abertura política e a constituição de 1988, ampliam-se o contingente e a diversidade de crianças e jovens que frequentam a escola, ao mesmo tempo em que novas matrizes teóricas são convocadas para alicerçar o diálogo entre a psicologia e a educação, 12


Apresentação

introduzindo cada vez mais a dimensão social dos sentidos e dos discursos que constituem as subjetividades da criança, do jovem e do educador. Com isso, os processos de subjetivação produzidos a partir das experiências do sujeito em contextos históricos, sociais, culturais e institucionais também passam a ser alvo de muita investigação na construção de novas interfaces entre a psicologia e a educação. Seguindo essa direção, todos os trabalhos reunidos aqui pensam as subjetividades presentes nos contextos educativos em seu caráter processual e dinâmico, revelando a proximidade da psicologia com as demandas da educação na sociedade atual e o compromisso social. A psicologia passa a incluir em suas reflexões e propostas de ação no campo educativo os aspectos contextuais em que os educandos e os educadores se inserem, pensando-os em suas inserções social, cultural, familiar e escolar. A atuação dos educadores não pode ser concebida fora de atravessamentos sociais e institucionais, assim como não é possível pensar o sujeito aluno dissociado desses atravessamentos, que se tornam significativos em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Ao propor uma incursão sobre as temáticas que têm transformado as subjetividades no mundo contemporâneo, iniciamos com o primeiro capítulo do livro, escrito por Ana Lucia Paes de Barros, Lucia de Mello e Souza Lehmann e Janaína Monteiro, que aborda as representações sociais que jovens e adultos constroem a respeito do saber ler e escrever. Realizado com base em um estudo com participantes do Programa Brasil Alfabetizado e balizado na Teoria das Representações Sociais, o artigo aponta os sentidos e as significações que tem para esses sujeitos, homens e mulheres, o saber ler e escrever, quais são realmente suas motivações e interesses para, muitas vezes com sacrifício, buscar esse aprendizado. No segundo capítulo, Cristiana Carneiro e Luciana Gageiro Coutinho partem de quatro máximas consagradas pelo senso co13


Lucia de Mello e Souza Lehmann e Luciana Gageiro Coutinho

mum em relação às contribuições da psicanálise para a educação e abordam um possível encontro entre ambas. Levando em conta a concepção freudiana relativa à “educação impossível”, a ideia de inacabamento, tanto em relação ao sujeito quanto à educação, serve como guia para as autoras no sentido de dissolver a ilusão de um modelo ideal de ser humano mais maduro e acabado e uma técnica perfeita para atingi-lo através da educação. As autoras defendem que é possível um encontro entre os dois campos, sustentado no intervalo entre “nada é impossível” e “nada é possível”. O terceiro capítulo, da autora Cristina Lúcia Maia Coelho, analisa o impacto dos jogos eletrônicos educativos como instrumento de avaliação interativa no desenvolvimento cognitivo de alunos com dificuldade de aprendizagem. O recorte teórico é balizado na teoria sócio-histórica, nos conceitos de aprendizagem mediada (Feuerstein) e na avaliação interativa (Tzuriel). Propõe o uso de jogos eletrônicos como facilitador na intervenção psicopedagógica e faz considerações sobre o papel que os jogos eletrônicos assumem nos processos de subjetivação e de inclusão social. Já o quarto capítulo do livro, de autoria de Cristina Maria Carvalho Delou, remete à criação de um instrumento para a identificação de alunos com altas habilidades/superdotação. Trata-se de um checklist que apresenta parâmetros definidos, como Comportamentos Observáveis e Características Comportamentais Típicas de Alunos com Altas Habilidades/Superdotação. A autora utiliza uma metodologia de estudo para identificação dos alunos com altas habilidades por meio da Lista Base de Indicadores de Superdotação – Parâmetros para Observação de Alunos em Sala de Aula. Em seguida, o quinto capítulo escrito por Eda Maria de Oliveira Henriques, apresenta o relato de uma experiência de formação desenvolvida com um grupo de alunos do curso de pedagogia, por meio de uma proposta realizada no espaço curricular denominado “projetos”. A experiência se refere à construção de proje14


Apresentação

tos de pesquisa pelos alunos através da narrativa de experiências vividas em suas trajetórias escolares. Nesse processo, a leitura e a discussão de contos e crônicas que abordam o universo escolar, articuladas à discussão de Vygotsky sobre a relação pensamento e linguagem, possibilitaram a construção de relações entre temáticas e a construção de um projeto de pesquisa por cada um dos componentes do grupo. O capítulo seguinte, de Maria Angélica Augusto de Mello Pisetta, reflete como a conceituação de linguagem e cultura pode auxiliar o professor na lida com seus alunos, construída no registro da palavra. Considerando que as relações no cotidiano escolar transmitem formas de laço social inconscientes, prioriza as considerações de Witggenstein, que alerta para a contingência da linguagem com o conceito de jogo. Ao pensar a função da linguagem na vida das crianças, o artigo avança com as considerações de Vygotsky, para quem a linguagem testemunha o elo entre o homem e seu meio. Na articulação das intervenções possíveis, destaca a leitura da linguagem como expressão inconsciente, constituída na tensão entre o sujeito e o outro, e destaca a importância da defesa das multiplicidades linguísticas pela educação. Já o sétimo capítulo, de Marisol Barenco de Mello, parte de uma abordagem crítica às teorias psicológicas que pensam o desenvolvimento infantil de maneira linear, previsível e descontextualizado, contribuindo para a criação de um quadro em que as crianças brasileiras, de classes sociais menos favorecida, são, no mais das vezes, refratadas do sistema educacional. O artigo busca caminhos para uma mudança no olhar que possam conceber a criança no seu “em si”, mais do que tentar ajustá-la a modelos teóricos que nem sempre se adaptam à realidade das crianças e produzem imagens de déficits e problemas. Dedica-se à apresentação de uma base teórica da cognição social, sustentada nas teorias da escola soviética de Vygotsky, Luria, Leont’ev e Bakhtin, que pri15


Lucia de Mello e Souza Lehmann e Luciana Gageiro Coutinho

vilegie o conhecimento dos processos cognitivos contextualizados pela linguagem e pela cultura. O penúltimo capítulo, de autoria de Maria das Graças Gonçalves, enfoca as produções de si mesmo das pessoas negras e analisa as reflexões de um grupo de estudantes de pedagogia integrantes do Projeto Negros e Negras em Movimento. O projeto diz respeito a uma pesquisa-ação que visa ampliar a formação-reflexão dos estudantes, baseada na premissa do educador-investigador de sua prática, agente de transformações. No presente trabalho, as narrativas destacadas da fala dos participantes do projeto demonstram dimensões importantes de crescimento ao longo do projeto como: trabalho coletivo; identidade e negritude; potencial cognitivo-reflexivo e formação para a promoção da igualdade racial. O último capítulo, elaborado por Sandra Santos Cabral Baron, trabalha com a ideia de que as relações de ensino situam-se no campo das transformações subjetivas e desenham as formas como se apresentam no cotidiano. Ao partir de um exame das proposições da psicanálise e passando por algumas reflexões de Deleuze, Guattari, Rolnik, Winnicotte José Gil, procura articular a análise dos modos de subjetivação contemporâneos e os processos de subjetivação ativados pelos campos da educação e da clínica em suas implicações ético-políticas. Enfim, os nove artigos apresentados delineam uma riqueza de possibilidades que se apresentam no diálogo da psicologia com a educação, derivadas de estudos, pesquisas e práticas desenvolvidas no âmbito da universidade, permitindo ao leitor, profissional ou estudante das diferentes áreas de interface com a educação visualizar uma pluralidade de abordagens, temáticas e métodos.

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I – SABER LER E ESCREVER: UMA QUESTÃO DE AUTONOMIA Ana Lucia Paes de Barros Lucia de Mello e Souza Lehmann Janaína Coelho Monteiro INTRODUÇÃO A Constituição Federal Brasileira garante a todo cidadão o acesso gratuito ao ensino fundamental (CF, art. 208, I), entretanto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2009), existem cerca de 14,7 milhões de analfabetos acima de 10 anos, o que faz com que o exercício de sua cidadania seja limitado por não dominarem o mundo da leitura e da escrita. A educação é um dos recursos fundamentais para que os sujeitos se apropriem dos bens da sociedade contemporânea. Nesse cenário, a escola se apresenta como um dos principais instrumentos utilizados por jovens e adultos para a aquisição da leitura e a participação na vida social, que envolve conhecimentos para a formação de opinião, crítica, reflexão e proposição.


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