4 minute read

Introdução

Next Article
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

“A arquitetura é o ato erótico supremo. Leve-a ao excesso e ela revelará tanto os vestígios da razão quanto a experiência sensual do espaço. Simultaneamente.” (TSCHUMI, 1978)

Advertisement

Aansiedade, o coração palpitando, os olhos cobertos de glitter, mareados pela fumaça de cigarro ou pela excitação? A cada passo na escada uma nova informação se desdobrava; pessoas as quais nunca vistas antes, as roupas, as maquiagens, os adereços; à dobra de uma quina a luz finalmente se abriu, com ela o espaço e sua orgia dionisíaca de corpos, cores, cheiros e o som, o som não era novidade, já conhecia a música eletrônica a tempos, artistas como New Order e Kreftwerk, tão notórios na cena desde os anos 1980 já faziam parte do meu repertório, assim como os que os sucederam no movimento French House dos anos 2000, Daft Punk, Justice, fizeram parte direta da minha infância, o que não fazia ideia era da existência de um local, que além de apreciar as músicas que escutava, juntava tantas ideias políticas, artísticas e pessoas, que até então, nem eu sabia que me identificava tanto. Sempre soube que fui diferente, desde que consigo me lembrar, os primeiros pensamentos auto existenciais foram questionamentos, o porquê eu era assim, o porquê das roupas que usava, o porquê dos meus comportamentos serem tidos como errados sendo que eram tão naturais pra mim. Nada fazia sentido, até conhecer o techno e dentro dele ver que era completamente possível ser o que sempre fui, mas tinha medo de ser, no techno foi onde conheci minha primeira pessoa trans e no techno tive a liberdade de me tornar a mulher que sou hoje. Parece piegas trazer como tema de Trabalho Final de Graduação algo tão pessoal, mas não teria trazido se não tivesse percebido uma ligação INTRODUÇÃO

com o curso de Arquitetura e Urbanismo, arquitetura é política, arquitetura é arte, arquitetura é sensual e arquitetura é espaço e luz. É política assim como ser travesti no Brasil, o país que mais mata pessoas trans no mundo segundo dados do ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), por si já é um ato político, mas no contexto do techno tal ato se torna mais forte, políticas internas criaram o trans free como estimulo para mais pessoas trans frequentarem as festas, juntando isso com uma amálgama de corpos dissidentes e marginalizados há tolerância zero para qualquer tipo de agressão, assédio ou preconceito, tornando esses espaços em refúgios urbanos, locais seguros, para minorias sociais em meio a uma sociedade intolerante. É arte assim como em tais refúgios urbanos ideias florescem e um espaço livre, sem pré-julgamentos, se cria para o desenvolvimento de performances, vídeo-performances, músicas e artes visuais. É sensual como a luz que contorna os corpos seminus em movimento e a pulsação que faz com que cada fibra do nosso organismo não permaneça estática. E é espaço e luz como numa festa de techno a própria luz constrói o espaço, essa talvez seja a maior beleza arquitetônica do techno, sem a luz não há techno, há apenas lugares degradados, fábricas abandonadas, galpões inutilizados; a luz revitaliza esses espaços criando novas realidades, e é isso que esse trabalho irá abordar. Pode-se usar como justificativa que a música, assim como toda forma de arte, sempre foi um veículo para questionar, disseminar ideias e com isso unir tribos, nos anos 1970, o punk declarou que qualquer um podia fazer música e levantou a bandeira de

que tudo bem ser estranho, tudo bem não se encaixar, esse caminho questionador também foi seguido pelo techno, nos anos 1980, que ao colocar no centro da ação as baterias eletrônicas, desvencilhou-se do velho cânone da produção e da composição musical e foi uma junção desses dois estilos que moldou a cena paulistana que vemos hoje, o techno em São Paulo, é muito mais que um estilo musical, é um movimento de pessoas dispostas a questionar toda a moral e os valores impostos tradicionalmente pela sociedade, criando um local de caráter inclusivo, plural e acolhedor para todos, o artista multidisciplinar Carlos Issa, em entrevista ao website da RedBull, nomeia o ambiente do techno como um ambiente de insurreição radical, tanto no sentido sonoro, pois inclui todos os sons do mundo, tanto no convívio, pois inclui todos os corpos do mundo, com isso é possível perceber que é impreterível a existência e a preservação desse movimento numa metrópole tão diversa como São Paulo e até mesmo no Brasil por inteiro.

Tendo isso em mente, o trabalho terá como objetivo principal analisar como um projeto de iluminação e cenografia pode ampliar a experiência do indivíduo em uma festa techno, abordando conceitos de luz e sensações do ponto de vista da fenomenologia, a partir dos ideais de Maurice Marleau-Ponty e Juhani Pallasmaa, abordando o contexto histórico-social do uso de iluminação ao longo da história desde o período neolítico ao gótico e das festas de techno a partir do conceito de errância por Paola Bereinstein, assim como o fazer projetual de uma festa, ponderando o equilíbrio do apolíneo e dionisíaco trazido por Friedrich Nietzsche no projeto. Já referente à instalação virtual será aplicado o que foi desenvolvido na pesquisa, tornando a instalação em um produto visual da mesma proporcionando uma experiência sensorial única e inesquecível ao usuário, ativando a memória afetiva nos antigos frequentadores dessas festas e instigando curiosidade e interesse nos que nunca foram.

This article is from: