Agricultrura Biológica | Guía de Boas Prácticas

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ÍNDICE Capítulo 1. A Agricultura biológica no Espaço Atlântico 1.1.- Análises DAFO das regiões do Espaço Atlântico 1.2.- Aproximação à Agricultura Biológica dentro do Espaço Atlântico

Capítulo 2: A reconversão 2.1. Situação de partida 2.2. Problemas mais importantes durante o processo de reconversão 2.3. Os Métodos 2.3.1. Lemaire Boucher 2.3.2. Compostado em superfície 2.3.3. Biodinâmica 2.3.4. Howard – Sykes 2.3.5. Jean Pain 2.3.6. Permacultura 2.4. Técnicas utilizadas

Capítulo 3: O solo 3.1. O solo ecológico 3.2. Dinâmica 3.3. Formação do solo 3.4. Origem organomineral do solo 3.5. Maturidade do solo 3.6. Erosão do solo 3.7. O solo como sistema 3.8. A matéria orgânica 3.9. A vida do solo

Capítulo 4: A Fertilização 4.1. Reconversão 4.2. Utilização da matéria orgânica 4.3. Elaboração do composto 4.3.1. Compostado em montes 4.3.2. Compostado em superfície 4.4. A técnica dos adubos verdes 4.5. A técnica do acolchoado 4.5.1. Outros aspectos do acolchoado 4.5.2. Quando e como se deve acolchoar 4.6. A fertilização mineral

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Capítulo 5: Trabalho do solo 5.1. Métodos de lavoura 5.2. Acções de lavoura

Capítulo 6: A água e a rega Capítulo 7: Associação de culturas 7.1. Diversos tipos de associações

Capítulo 8: Rotação de culturas 8.1. A rotação na reconversão 8.2. A técnica da rotação 8.3. Rotações, ervas daninhas, pragas e doenças 8.4. Desenho de uma rotação 8.5. Algumas hortaliças agrupadas por famílias 8.6. Exemplos de rotações

Capítulo 9: Protecção de culturas 9.1. A saúde das plantas 9.2. Princípios fundamentais 9.3. A diversificação de culturas 9.4. Variedades resistentes 9.5. O adubo orgânico 9.6. Técnicas de controle biológico 9.7. Parasitas causantes das pragas e doenças 9.8. Os fungos 9.9. As pragas 9.10. Outras pragas

Capítulo 10: Ervas daninhas 10.1. Ecologia das ervas 10.2. O controle das ervas daninhas 10.3. Métodos preventivos 10.4. As ervas como indicadoras

Capítulo 11: Reconversão ganadeira Capítulo 12: Comercialização de produtos biológicos 12.1. O controle de qualidade 12.2. Rótulos biológicos 12.3. Normas de produção biológica

Capítulo 13: Legislação. BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS

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Introdução. A Iniciativa Comunitária INTERREG III B “Espaço Atlântico” pretende realizar una investigação e colocar em prática políticas que respondam aos seguintes objectivos: •

Fomentar a competitividade e o desenvolvimento económico do espaço.

Melhorar a inserção social e igualdade de oportunidades.

Assegurar a eficácia da utilização dos recursos e a protecção do meio ambiente e do património.

Procurar modelos de desenvolvimento efectivo, em particular, no que se refere à forma e às funções das zonas urbanizadas e as suas relações com o meio ambiente.

A estratégia do programa é uma importante iniciativa de criar uma “oficina permanente” de investigaçãoacção para preparar o posicionamento do Atlântico nas políticas comunitárias para depois de 2006. O projecto 019 “Agro: Conservação e valorização do Património Rural” ocupa-se de integrar nas estratégias de dinamização de actividades económicas um conjunto diversificado de recursos com potenciais próprios e cuja organização económica promove oportunidades de emprego e de integração sócio-profissional; permite que os diferentes sectores possam agrupar-se, trabalhar em muitos temas comuns e inclusivamente formar pequenos núcleos de colaboração dentro do Espaço Atlântico que enriqueça a oferta de produtos ou de actividades e que origine benefícios a todos os implicados e contribui para a permeabilidade das fronteiras através da colaboração, superando as barreiras – culturais, sociais, económicas,... que possam existir. Um dos eixos de trabalho do projecto é a agricultura biológica como fonte de produção de alimentos de qualidade, de manutenção e melhoria do meio e aproveitamento económico da actividade agrária. O termo “desenvolvimento sustentável” faz, precisamente, referência ao papel que o meio ambiente desempenha em todos os processos de desenvolvimento rural para delinear soluções que se possam aplicar a curto, médio e longo prazo. A questão é conseguir um enfoque capaz de fazer frente à ameaça da sustentação da produção agrária e o desenvolvimento rural. A agricultura biológica está virada para o desenho de modelos de produção baseados num enfoque mais ligado ao meio ambiente e mais sensível socialmente; enfoque centrado não só na produção mas também na estabilidade biológica do sistema de produção. É evidente que para implementar verdadeiramente uma agricultura e um desenvolvimento sustentável, serão necessárias mudanças, não só tecnológicas para incrementar a produtividade, mas também mudanças sociais, políticas, económicas e culturais. Ao longo deste guia abordam-se os temas mais importantes a ter em conta na hora de delinear a agricultura biológica como um modelo de desenvolvimento endógeno, de aproveitamento económico e de gestão sustentável. A agro-ecologia, gera modelos de produção economicamente viáveis capazes de unificar o crescimento económico e o desenvolvimento humano, sem acentuar a deterioração global. Actuam como motor para o desenvolvimento rural, uma vez que possibilitam a sobrevivência da agricultura como actividade económica fundamentalmente em zonas rurais marginais, potenciando a convivência entre modelos de desenvolvimento locais diversos, como instrumento básico de sustentabilidade do espaço rural.

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Capítulo 1. A Agricultura biológica no Espaço Atlântico A agricultura é um sector de actividade ainda muito presente nas regiões do Espaço Atlântico. Vinte e duas regiões registam taxas superiores à média europeia. É em Portugal e em Espanha onde os desvios, em relação à média, são mais importantes. Em todo o caso, a tendência geral observada é a redução dos empregos agrícolas. Mais de 60% da superfície total é trabalhada com fins agrícolas na maior parte das regiões do Espaço Atlântico: Irlanda, Grã-Bretanha, País do Loira, Poitou-Charentes, Centre, Normandia, Algarve. Os estudos de mercado, realizados na região do Espaço Atlântico, no que concerne aos produtos biológicos mostram que uma das razões principais para os consumidores os comprarem é que, este tipo de produção, protege o meio ambiente e preserva a paisagem. A segunda razão é que ao consumir estes produtos, estão a melhorar e a cuidar a sua própria saúde. A agricultura biológica procura um equilíbrio entre as necessidades, os meios de produção e o meio ambiente, juntamente com a qualidade de vida das pessoas que vivem da agricultura, trabalhando para conseguir alimentos cuja qualidade seja perfeitamente compatível com a saúde das pessoas e do meio. Esta actividade focada desta maneira tem um futuro importante nas regiões do Espaço Atlântico. A agricultura biológica dentro do Espaço Atlântico mantém o compromisso de gerar modelos de produção economicamente viáveis capazes de unir o crescimento económico e o desenvolvimento sem acrescentar a deterioração global. No entanto ainda são muitas as pessoas da região do espaço Atlântico que não conhecem a agricultura biológica ou que pensam que toda a agricultura é biológica quando não é assim. Por isso é interessante responder a alguma pergunta que o consumidor se coloca a si próprio ¿O que é isso da agricultura biológica? É um conceito diferente da actual agricultura industrial. Não é uma nova técnica agrícola nem é algo restritivo ou retrógrado, nem uma agricultura “tradicional”, pouco produtiva e que esgota o solo. Pelo contrário, é criativa, científica e avançada e permite a solução de graves problemas ambientais, sanitários e sociais, produzidos pelo desequílibro que supõe o desaparecimento da verdadeira agricultura e dos agricultores. Ao não utilizar agroquímicos, economiza dinheiro ao produtor, que utiliza para a fertilização os subprodutos da propriedade, com os quais evita, além disso, que contaminem. Economia também individual e colectiva, de maquinaria pesada e combustíveis e dos recursos e contaminações conseguintes. Melhora a saúde de produtores e consumidores ao evitar biocidas e outros produtos tóxicos e melhora a qualidade alimentar. Conserva e amplia a variedade de plantas cultivadas que os agricultores sabem utilizar para melhorar solos e proteger colheitas. É ecologicamente benéfica, ao respeitar as espécies silvestres animais e vegetais que coabitam em redor das culturas. ¿ A agricultura biológica tem alguma base teórica e científica?

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Há mais de 40 anos que científicos e técnicos, em todo o mundo, estudam e trabalham para melhorar as técnicas agronómicas da agricultura biológica. As diferentes tendências ou métodos das culturas têm em comum a não utilização de produtos químicos de síntese e o conhecimento do solo como organismo vivo. A fertilidade do solo e o equilíbrio do ecossistema são a chave do êxito na agricultura biológica. Além disso, cada vez mais vai tendo maior importância a indústria de transformação de produtos provenientes da mesma para a elaboração de produtos nutritivos e saudáveis. Não utiliza em nenhum momento do processo aditivos de síntese de nenhum tipo. Trata-se de uma indústria concebida ao serviço do consumidor e em colaboração com o agricultor: É necesario dominar a técnica de produção biológica nem demasiado grande, nem demasiado longe da produção, nem do consumo, nem demasiado sofisticada. Estudada para não contaminar e para reciclar. Retomando a investigação de antigos e procedimentos científicos, como a secagem, o pousio, o frio e as fermentações, aplicando no seu desenvolvimento os conhecimentos actuais. Além disso, o desenvolvimento da agricultura biológica tem uma serie de vantagens não só para os que a praticam mas também para os que consomem os seus produtos e para todos, em geral, uma vez que há benefícios gerais.

1.1.- Análises DAFO das regiões do Espaço Atlântico. A análise da situação sócio-económica das regiões do Espaço Atlântico objecto do projecto é muito semelhante. Detectam-se uma serie de características e necessidades através da análise DAFO:

Debilidades: Importante perda de população, muito dispersa e envelhecida e com o consequente abandono do meio rural. Escassa diversificação económica juntamente com a pouca capacidade de inovação. Falta de adaptação às mudanças que se produzem no meio rural. Escassez de iniciativa empreendedora. Dificuldades para a profissionalização dos sectores económicos do meio rural como a agricultura e o sector agro-alimentar. Aproveitamento insuficiente dos recursos naturais como a agricultura tradicional, a paisagem, as tradições… juntamente com a falta de recursos para acometer a transformação dos seus próprios produtos. Ameaças: Atraso na aplicação de medidas tendentes ao desenvolvimento alternativo como a transformação artesanal industrial dos produtos provenientes da agricultura. Desenvolvimento insuficiente do tecido associativo e do sistema de apoio para a consolidação produtiva e gestora das novas iniciativas de desenvolvimento e empresariais ao nível da comarca. Oferta formativa não adaptada às novas necessidades do meio rural e às novas tecnologias. Ênfase insuficiente na aplicação de critérios de qualidade nas ofertas agro-alimentares, meio ambientais e turísticas.

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Forças: Existência de produtos agro-alimentares de alta qualidade e valor acrescentado (produtos agrícolas e pecuários, as castanhas, os cogumelos, o artesanato..) O importante património histórico-cultural e meio ambiental com grande potencial a nível turístico. A crescente diversificação da actividade agrária aproveitando os recursos endógenos (aproveitamentos micológicos). A organização dos agentes e interlocutores sociais através dos grupos de acção local para promover o desenvolvimento de iniciativas empresariais. Oportunidades: Considerar a agricultura como a primeira base no sector agro-alimentar, potenciando a valorização dos produtos agrários mediante o seu tratamento, transformação e embalagem de qualidade nas próprias comarcas. Captar um maior volume de turismo rural, desportivo, ecológico e cultural, mediante uma oferta estruturada e mais integrada que a actual, em linha com o aumento do tempo livre e a procura do ócio e turismo de qualidade.

1.2.- Aproximação à Agricultura Biológica dentro do Espaço Atlântico. A necessidade de abrir as portas a novas opções de gestão agrícola que estão mais de acordo com objectivos da sustentabilidade deixando de lado o paradigma de intensificação originado desde a “Revolução Verde” dentro do Espaço Atlântico mantém aberto um profundo debate. A questão central é conseguir outros enfoques para enfrear a sustentabilidade da produção agrária, a conservação dos recursos naturais e o Desenvolvimento Rural. Algumas das respostas estão viradas para o desenho de modelos de gestão agrária baseados num enfoque mais ligado ao meio ambiente e mais sensível socialmente, centrados não só na produção mas também na estabilidade biológica do sistema de produção. Esta mudança de paradigma produz-se pela mão da chamada agro-ecologia que fornece as bases teóricas e técnicas da denominada Agricultura Biológica. A agricultura biológica é um modelo de gestão de agrossistemas capaz de utilizar alternativas de manuseio mais perduráveis, baseadas em parte no conhecimento tradicional sobre a administração dos agrossistemas –conhecimento que assegura a perdurabilidade na utilização dos activos naturais- e na agro-ecologia, disciplina científica que oferece um enfoque teórico e metodológico holístico – desde uma perspectiva agronómica, biológica e socioeconómica -, para o estudo do funcionamento dos agrossistemas, a gestão da actividade agrária e a dinâmica do desenvolvimento rural endógeno. Os modelos de produção biológica orientam as suas actuações para a consecução de sistemas agrícolas flexíveis nos seus usos e diversificados no que respeita à sua heterogeneidade espacial e seus componentes; capazes de se adaptarem às particularidades das condições locais e amplamente integrados no seu ambiente; estes modelos dotam o desenho seleccionado de habilidade para manter a produtividade e a qualidade das produções através dos tempos, em equilíbrio com os factores ambientais e as práticas agrárias utilizadas. A agricultura biológica dentro do Espaço Atlântico mantém o compromisso de gerar modelos de produção economicamente viáveis capazes de unificar o crescimento económico e o desenvolvimento sem

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acrescentar a deterioração global. Além disso, são modelos socialmente equitativos, em relação a uma menor desigualdade na distribuição de activos, aptidões e oportunidades, assim como na verdadeira equidade geracional em relação ao manuseio sustentável dos activos naturais, para utilização das gerações futuras. Actuam também como um motor para o desenvolvimento rural uma vez que possibilitam a sobrevivência da agricultura como actividade económica fundamentalmente em zonas rurais marginais potenciando a convivência entre modelos de desenvolvimento locais diversos, como instrumento básico de sustentabilidade do espaço rural que é um dos objectivos que se pretende alcançar dentro do Espaço Atlântico. As produções de qualidade geradas, mediante práticas agro-biológicas estão associadas a um conhecimento local específico, são uma fonte de diversificação das economias rurais e supõem uma estratégia favorecedora de uma articulação territorial devido à sua vinculação com o meio e o mantimento da população ligado à produção agrária. As bases técnicas que sustentam a produção agrícola biológica são o suporte e as práticas culturais as vias de actuação para a consecução do manuseio perdurável dos agrossistemas. A agro-ecologia, na perspectiva agronómica, estabelece como espaço de gestão e análise uns limites espaciais reconhecidos denominados “agrossistema”. Esta denominação faz referência ao resultado da intervenção humana sobre o ecossistema com fins produtivos, seguindo diferentes modelos de gestão, que são consequência de uma grande diversidade de esquemas económicos, culturais, técnicos ou ambientais. Por isso o “agrossistema” como unidade ambiental, na qual se desenvolve a actividade humana adquire o seu significado verdadeiro quando se aplica um enfoque sistémico para estudar os processos agronómicos, ecológicos, sociais e económicos que intervêm nos sistemas produtivos. No contexto agro-ecológico qualquer definição de sustentabilidade tem, necessariamente, de ter em conta as dimensões ambiental, económica e social, “a produção de elementos básicos só pode ter lugar no contexto de uma organização social que proteja a integridade dos recursos naturais e avigore a harmoniosa interacção dos humanos o agrossistema e o meio ambiente” (Goodman y Redclift, 1991). A sustentabilidade no manuseamento agrossistémico centra-se então, na necessidade de seguir crescendo em termos de produtividade agrícola, enquanto se mantém a quantidade e a qualidade dos activos naturais involucrados na agricultura e se respeitam os princípios de equidade social e bem estar da comunidade.

Os critérios que se deveriam seguir são os seguintes: Os recursos renováveis deviam ser consumidos na mesma quantidade que se geram. Os recursos não renováveis deveriam ser consumidos limitando a sua taxa de extracção à taxa de criação de substitutos renováveis. As taxas de emissão de resíduos deveriam ser iguais à capacidade de assimilação dos ecossistemas receptores de tais resíduos. A tecnologia a utilizar seria aquela que procurasse os maiores níveis de produtividade por unidade de recurso consumido. Finalmente, a escala da economia deveria ser estabelecida dentro dos limites impostos pela capacidade de carga de cada agrossistema. Neste sentido a gestão agro-biológica procura conseguir um equilíbrio entre produção e conservação.

As estratégias para o conseguir baseiam-se em alguns princípios básicos entre os quais podem destacar-se os seguintes: Reduzir o uso da energia e os recursos e regular a aplicação energética geral. Reduzir a perda de nutrientes diminuindo de forma efectiva a lavagem, a lixiviação e a erosão; e melhorar a reciclagem dos nutrientes através do fomento do uso das leguminosas, dos adubos orgânicos, associações e rotações. Promover a produção local de alimentos que se adaptem ao ambiente natural e sócio-económico.

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Suster a produção desejada preservando os recursos. Reduzir os custos e aumentar a eficácia e a viabilidade económica dos agrossistemas médios e pequenos. A transição agro-biológica ao nível de propriedade, também denominada reconversão implica um processo de mudança no uso das técnicas agrícolas contamináveis e altamente dependentes do capital por outras de menos impacto, de maior acessibilidade local que permitem a readaptação biológica e o aumento de funcionalidade do agrossistema.

Pomares ecológicos

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Capítulo 2: A reconversão Pode definir-se como o período de adaptação transitório no qual se passa do cultivo convencional ao ecológico no que progressivamente e de acordo com um plano organizado se incorporam as práticas da agricultura biológica e se corrigem os defeitos existentes como consequência de más práticas anteriores. Exige uma importante mudança de mentalidade para se adaptar às novas condicionantes e, sobretudo requer um enfoque diferente não só da produção mas também dos problemas relacionados com ela. Obriga a mudanças bastante radicais nas propriedades e impõe uma forma de diligenciar muito diferente à que se realizou anteriormente. A reconversão do sistema de exploração tem que começar por uma mudança pessoal do agricultor, de atitude e enfoque. Essa mudança deve ser apoiada por conhecimentos técnicos que lhe permitam em qualquer momento saber quais são as implicações das suas actuações e se o conduzem para o caminho que pretende seguir ou o desviam dele. A reconversão exige, Para a reconversão é importante a situação de partida além disso, um estudo em profundidade da situação actual da propriedade, a reflexão de quais serão os problemas mais importantes que vai encontrar durante o processo e o esboço completo do sistema de produção biológica.

Carência de informação ao agricultor Falta de estruturas de aconselhamento Escassa investigação Dificuldades no processo de transição

Problemas técnicos concretos Dificuldades no manuseio de cultivos e produtos Falta de fornecedores de aplicações, preços altos. Necessidade de realizar novas inversões Problemas na comercialização dos produtos. Escassa existência de estruturas sociais de apoio Campanhas de desorientação do sistema convencional de produção…

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Revalorização social da profissão Estímulos no processo de transição

Diversificação de actividades e de fontes de ingressos Diminuição dos custos variáveis Aumento do preço do produto

2.1. Situa ção de parti da.

A anál ise Maior capacidade de autonomia da situ açã Melhoria da produtividade o de part Maior qualidade das produções ida dev e dar a conhecer vários aspectos relacionados com a propriedade e as suas características para saber em cada um como se vai focar a nova gestão. Indicará qual pode ser o ritmo que se tomará na reconversão e permitirá uma primeira orientação das mudanças que se devem introduzir e em que medida. Alguns dos aspectos que devem ser incluídos na análise da situação de partida são: Melhoria da fertilidade e da biodiversidade

Características da propriedade: tamanho, distribuição das parcelas e das culturas, se se trata de uma propriedade agrícola ou, além disso, se há animais e que tipo, etc. Análise dos solos: situação do solo ao nível de estrutura, nível de nutrientes, conteúdo de matéria orgânica, erosão, contaminação, etc. Clima: pluviometria e a sua distribuição normal ao longo do ano, temperaturas média, mínima, máxima, período provável de geadas, etc. Sistema de gestão da matéria orgânica em geral e do estrume em particular. Instalações para os animais e a maquinaria: oficina, estábulos, currais, espaços para os animais. Factores potencialmente limitantes como: disponibilidade de mão-de-obra nos momentos de máxima actividade dentro da propriedade, de capital necessário para fazer frente às mudanças que se pretendem introduzir, de maquinaria, etc. Quais serão os canais de comercialização que se vão aplicar, isto é, como se vai a dar a conhecer o produto, a que tipo de mercado se quer destinar, como se vai aceder a esse mercado. Este é um aspecto importante visto que dele vai depender a solvência económica da quinta. Hoje em dia há uma procura de produtos biológicos por parte de determinados sectores do mercado e o que é necessário estabelecer é se interessa entrar nesses mercados que às vezes não se encontram perto dos lugares de produção ou se vale a pena pouco a pouco ir conquistando mercados locais nos quais a distribuição pode ser mais fácil e, sobretudo vai-se dando a conhecer aos consumidores. O mercado vai condicionar os gastos de transporte e também o preço final ao consumidor.

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2.2. Problemas mais importantes durante o processo de reconversão.

Estado do solo Um dos Ervas daninhas

Pragas e doenças

PROBLEMÁTICA

Distribuição de trabalho

Culturas a estabelecer

Aspectos financeiros problemas mais importantes consiste em conhecer qual é, em concreto, o estado do solo, como consequência das práticas utilizadas anteriormente e a aplicação de adubos químicos. Pode acontecer que se trate de um solo muito maltratado e, por isso, em más condições ou, pelo contrário, pode ser que se trate de um solo que tenha servido de pasto vários anos ou não tenha sido explorado durante vários anos. Em todos os casos é necessário estabelecer um calendário Deve haver uma estratégia de controle de ervas daninhas de trabalho com o solo para o equilibrar o mais possível, para levá-lo a um estado de maior estabilidade fornecendo aqueles elementos que faltam para o conseguir. Uma vez que o solo se encontra equilibrado teremos muito menos problemas não só na produção, mas também de pragas e doenças. Não se deve esquecer que a fertilidade do solo depende dos microrganismos que vivem no mesmo e, por isso, qualquer acção sobre o solo deve ter em conta não só a melhoria das suas condições de vida mas também a garantia da sua presença. Outro dos problemas é definir uma estratégia para o controle de ervas daninhas. Estas podem atingir um estado de invasão ao abandonar o uso de herbicidas durante a reconversão e como consequência do desequilíbrio inicial do solo ao não utilizar adubos de síntese. Em agricultura biológica utilizam-se de forma regular os métodos mecânicos para o controle de ervas daninhas, em complemento a um manuseamento adequado da cultura e das associações e rotações de culturas. É necessário contar com a maquinaria e alfaias agrícolas necessárias para realizar o controle mecânico das ervas daninhas. Há outros métodos que se podem aplicar embora sejam mais caros. Em todo o caso deve-se prever qual será o plano de acção que se colocará em marcha face a este problema. A forma de focar os problemas de pragas e doenças também supõe uma mudança importante. Um primeiro passo dá-se através do solo, melhorando as suas condições, mas apesar disso deve-se estabelecer um sistema de prevenção e controle das pragas e doenças mais comuns que podem afectar as culturas da propriedade.Esta é uma estratégia que se deve propor a médio ou longo prazo, tendo em conta que à medida que o sistema se encontra mais equilibrado será mais fácil poder resolver os problemas provocados pelos parasitas. Também pode acontecer que a situação de partida não esteja muito longe do ponto que se quer chegar e por isso seja mais fácil o controle dos parasitas. É um problema que deve ser delineado e contar com diversas medidas para colocar em marcha se for necessário. Outro aspecto importante a ter em conta consiste na distribuição do trabalho. O novo sistema de funcionamento aplicando os princípios da agricultura biológica supõe uma mudança na forma de delinear

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e levar a cabo os trabalhos, por exemplo; a adubação, ou tratamentos de controle de parasitas... Isso significa que existirão momentos ao longo da campanha que haverá mais trabalho e outros em que o trabalho diminui.O calendário deve determinar em que momentos se estabelecem as necessidades máximas de mão de obra para poder atendê-las nesses momentos. Será preciso prever se é necessário contratar mais mão-de-obra nesses momentos, se com a que se tem não se consegue realizar todo o trabalho que é preciso fazer. Por último, é preciso considerar desde o princípio as possíveis dificuldades financeiras que se podem delinear, os problemas de gestão associados à criação de um sistema ecológico novo e a obtenção, ao princípio, de produções inferiores sem o benefício de aumentos no preço comum, podem dar lugar a problemas financeiros.

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2.3. Os Métodos. Dentro da agricultura biológica podem-se apreciar diversos métodos de trabalho para alcançar os objectivos que se estabelecem. Os problemas que se abordam normalmente em agronomia não têm uma única solução, apenas permitem fazer diferentes delineamentos para chegar aos mesmos resultados. Em agricultura biológica preconiza-se a diversidade no sistema agrícola como meio de enriquecimento e de estabilização do sistema. Por isso, como não podia deixar de ser, há também uma diversidade de formas de enfocar os problemas. Podia-se dizer que cada agricultor pode personalizar o seu próprio método de trabalho em função das suas condições particulares e essa diversidade enriquece tanto a pessoa como o método. Deste modo, há uma serie de correntes mais definidas que fazem referência às pessoas que as impeliram e que estabelecem já uns sistemas concretos de trabalho para seguir essas linhas. Cada método tem o seu próprio ponto de partida embora também, em alguns casos, se possam observar similitudes entre eles e também as suas diferenças. Lemaire Boucher Compostado em superfície Biodinâmico Alguns métodos utilizados na agricultura biológica

Howard - Sykes Jean Pain Permacultura

2.3.1. Lemaire Boucher.

PRINCÍPIOS DO MÉTODO LEMAIRE - BOUCHER

Supressão de todo o tipo de substâncias tóxicas na cultura

Conservação da flora microbiana do solo através do húmus

Utilizar determinadas substâncias para a fertilização

Cobrir o solo fundamentalmente com restos vegetais

A utilização de associações e rotações de culturas

Supressão de trabalhos com volteio da terra

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Pretende-se conseguir a auto-suficiência do agricultor no que se refere às suas necessidades em forragens, cereais, leguminosas e fertilizantes, produzindo-os na própria propriedade, pelo que, o agricultor não necessitará de depender de produtos de fora da mesma. No sistema de adubação costuma-se aplicar duas classes de produtos de propriedades especiais: -

O litothamne, que é uma alga marinha, usada como parte ou constituinte da adubação – pela sua riqueza em magnésio e outros oligoelementos fertilizantes das culturas. Utilizado como alimento da pecuária, demonstrou-se as suas propriedades anti-infecciosas contra a febre aftosa, tuberculose, etc.

-

A utilização da aromatoterapia, isto é, o uso de essências ou plantas aromáticas como agentes de desinfecção, cicatrização e revitalização.

Procura o equilíbrio entre as superfícies cultivadas dedicando aproximadamente 45% da propriedade às culturas propriamente ditas, 35% a pradaria e pastos e 20% a florestas.

As plantas aromáticas desempenham uma importante função

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2.3.2. Compostado em superfície. É um método baseado em manter e potenciar a vida do solo e é também conhecido como o método de Rusch-Müller. Fundamenta-se na formação de composto na superfície do solo. Para ele o solo deve estar constantemente coberto por matéria orgânica, geralmente restos vegetais e animais, sem enterrar. Desta maneira leva-se a cabo um processo continuado de formação de húmus necessário para melhorar as reservas nutritivas do solo. Além disso, o solo fica protegido do calor do Verão, do frio do Inverno, do vento, da erosão e da condensação provocada pelas chuvas torrenciais. É uma espécie de abrigo, uma vez que o solo é sensível aos rigores das estações. Esta capa não só serve de protecção, como também, sendo de natureza orgânica, serve de nutrição aos organismos vivos da terra que estão em simbiose num processo de transformação, de destruição e reconstrução que não se deve interromper. Os principais organismos que podem intervir neste processo são:: Macrorganismos, que têm uma acção mecânica de transporte e mistura de produtos: insectos, aracnídeos, miriápodes, etc, alimentam-se de vegetais e, depois de tê-los digerido, restituem-nos ao ciclo natural Microrganismos de toda classe, que intervêem no processo de transformação, nomeadamente: nematódios, que são pequenas lagartas, em quantidade de vários milhões por metro cúbico de terra. algas superficiais. fungos, como os actinomicetes, que degradam a matéria orgânica. bactérias, que estão em quantidade de vários milhões por grama de terra. Entre estas bactérias, interessam-nos os tipos que são capazes de fixar o nitrogénio atmosférico. minhocas de terra, organismos muito conhecidos e fáceis de observar, que com o seu trabalho contribuem para a melhoria da fertilidade do solo. Desempenham um papel muito importante no arejamento da terra, que perfuram com as suas galerias e contribui para a formação da estrutura granulosa do solo que caracteriza a fertilidade.

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2.3.3. Biodinâmico. A agricultura biodinâmica baseia-se mais em processos que em substâncias. Procura a riqueza das forças naturais e a influência dos astros sobre os processos biológicos. Rudolf Steiner calculava já em 1924 e muito antes de se introduzirem os adubos químicos em massa, “que os produtos agrícolas estarão degenerados antes do fim do século e resultarão incapazes de alimentar o homem”. A agricultura biodinâmica procura: - Uma exaltação das energias ou forças vitais naturais, como a fecundidade do solo. - A qualidade do produto. - A saúde humana que está muito ligada ao tópico anterior.

Servindo-se de uns preparados, umas formas para elaborar estes preparados e tendo em conta os ritmos cíclicos anuais. Os preparados biodinâmicos são produtos obtidos de certas plantas medicinais ou aromáticas, geralmente ricas em óleos voláteis que se utilizam devido à sua acção dinamizante. Os preparados biodinâmicos são oito, numerados do 500 ao 508 e a sua base de fabricação é primordialmente de origem vegetal, mas também pode ser animal ou mineral. A análise indica que estes preparados são extremamente ricos em bactérias aeróbias e oligoelementos. As bases destes preparados são Preparado 502:

Mil-em-rama. Planta que se utiliza para dinamizar compostos.

Preparado 503:

Macela. Dinamiza compostos.

Preparado 504:

Urtigas. Dinamiza compostos.

Preparado 505:

Casca de azinheira. Dinamiza compostos.

Preparado 506:

Dente de leão. Dinamiza compostos.

Preparado 507:

Valeriana. Dinamiza compostos.

Preparado 508:

Cauda de cavalo. Planta rica em sílica, eficaz contra doenças criptogámicas.

O preparado 500 (bosta de bovino) e o preparado 501, a base de sílica (obtido de quartzo e feldspato moídos), utilizados conjuntamente estimulam a germinação e o enraizamento da planta. A técnica da agricultura biodinâmica refere-se à maneira de elaborar estes preparados através da relação dos ciclos da agricultura com os ciclos da natureza e com os signos do Zodíaco. Para obter uma qualidade superior no produto final, a matéria original e o processo subsequente também têm de ser de boa qualidade. Qualidade nos produtos agrícolas significa fertilidade natural da terra. Para que uma planta possa crescer e desenvolver-se de forma saudável necessita de uma terra fértil e viva. Uma terra viva tem de estar capacitada para se regular a si própria e adaptar-se a diferentes circunstâncias. A terra viva retém a água da chuva e mantém a humidade na época seca; mantém a sua estrutura e o seu conteúdo no ar. Considera-se que a fertilização tem de incorporar não só as substâncias nutritivas mas também as forças necessárias para o desenvolvimento das plantas.

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O composto considera-se como um organismo vivo a um nível mais alto que a terra. Tem forma visível e um certo equilíbrio entre ar e água, uma digestão que transforma forragem em adubo e produz energia. As actividades no campo regem-se por um calendário astronómico, no qual se manifesta a influência da lua no seu trajecto através das constelações do zodíaco, transmitindo uma serie de forças ao solo e às plantas tanto positivas como negativas que permitem o normal desenvolvimento das culturas, o controle das ervas daninhas e inclusivamente de pragas e doenças conseguindo melhores produções. Para regular processos sobretudo:

e

harmonizar os utilizam-se

-

A água de urtiga está indicada para ser utilizada em épocas frias e para combater pragas e doenças das hortaliças. É especialmente útil em épocas frias, quando o desenvolvimento é pobre e as plantas apresentam uma cor pálida. É um remédio universal, muito eficaz para adubar as culturas durante a época de crescimento. A água de urtiga de poucas semanas parece-se com um caldo e tem um cheiro desagradável, mas o seu efeito não varia, ou pode diluir-se em dez partes de água para borrifar as plantas durante o período de crescimento. -

A decocção de cauda de cavalo aplica-se face a doenças criptogâmicas. Prepara-se da seguinte forma: fervem-se 50 g. em três litros de água durante uma hora. Filtram-se, acrescenta-se água até 20 litros e borrifa-se a terra, uma ou duas vezes ao ano.

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2.3.4. Howard - Sykes. Este método é o resultado de dezenas de anos de trabalho de Howard nas Índias Orientais. O procedimento Indore, como também é conhecido, devido a uma experimentação numa região das Índias Orientais, consiste em manter a fertilidade do solo graças à fabricação de húmus, partindo de resíduos vegetais e animais. A ideia de origem é: ¿Como funciona uma selva que se mantém há milhares de anos?. Encontram-se animais de todo o tipo (não há agricultura sem esterco ou excrementos de animais). Espécies vegetais muito variadas e juntas. Não se perde nada e tudo o que morre regressa ao solo. A energia solar é totalmente captada pelas folhas, mas enfreada e atenuada na sua incidência sobre a terra, o mesmo acontece com o vento e a chuva. A água filtra-se lentamente através da capa de terriço. Não há erosão nem arraste pelas águas. Os sais minerais, principalmente fósforo e potássio que as árvores necessitam, são extraídos do solo pelas raízes profundas. Formam-se grandes reservas de húmus, que explicam a fertilidade das terras de floresta arroteadas e cultivadas. As grandes zonas de cultura da Europa e América do Norte foram antigas florestas. Outra fonte de informação, em relação a este método, é proporcionada pelas técnicas agrícolas do Extremo Oriente, que conservaram intacta a fertilidade da terra durante milénios e cujas técnicas podem resumir-se assim: -

Prática de culturas associadas que se estimulem umas às outras, sobretudo com a introdução de leguminosas na rotação.

Nas florestas naturais forma-se superficialmente uma capa de matéria orgânica denominada de terriço

-

Manter as diferentes camadas do solo no seu sitio, aplicando os trabalhos mas sem volteio da terra.

-

Adubar com esterco oriundo de uma quinta.

-

A incorporação da matéria orgânica ao solo faz-se de forma equilibrada e sem interrupção formandose um húmus que tem algumas qualidades:

- Tem, aproximadamente, 55 % de carbono e 3 a 6 % de nitrogénio (mais que o corpo das plantas e animais). - Está em perpétua transformação pelos microorganismos e é a fonte de vida e energia destes microorganismos. - Mantém a estrutura do solo e retém a água como uma esponja. - Deixa atravessar facilmente o ar. - Tem um efeito protector anti-infeccioso, tanto para as plantas como para os animais.

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2.3.5. Jean Pain. Elaborado pelo seu autor nos climas secos do sul de França, baseia-se em fazer um composto com a maleza silvestre recém cortada. A bacia do Mediterrâneo devido às suas condições climatológicas e aos incêndios florestais está-se a converter pouco a pouco numa zona desértica. Com esta técnica estão a obter-se resultados surpreendentes, a qual permite cultivar com êxito zonas com estas características.

Para fazer o composto utilizam-se restos vegetais recolhidos no campo

Em todos estes métodos um ponto de partida é a obtenção de composto para conseguir e manter a fertilidade do solo. Num solo fértil é mais fácil conseguir o desenvolvimento das plantas de forma rápida e com menos problemas sanitários uma vez que dispõem de todos os elementos necessários na sua alimentação e o meio é muito favorável.

Este processo de humificação que se produz de forma espontânea na natureza pode ser acelerado pelo homem durante o processo de compostado conseguindo um fornecimento regular de matéria orgânica de maneira que pode aproveitar-se dele para melhorar a nutrição das plantas. O material que se emprega neste processo é também natural e obtém-se do meio. O homem quando mistura os componentes consegue um húmus muito equilibrado e adaptado às necessidades nutritivas das plantas que, além disso, reúne os requisitos necessários para melhorar as condições físico-químicas do solo. Este composto, para que seja mais eficaz na sua função de melhorar a terra e nutrir as plantas, deve ter uma proporção equilibrada de matérias carbonadas e nitrogenadas; a relação C/N deve sofrer uma evolução desde o princípio até ao final (os seus valores iniciais podem ser 33/11 e os finais, quando se pode aplicar ao campo serão 12/1). A manutenção da humidade adequada, o conveniente arejamento e a fina divisão da matéria que se transformará, são as condições a ter em conta se se quer obter um compostado com rapidez. É necessário considerar o composto como um organismo vivo o qual é preciso proteger do frio, do vento, do sol e da chuva, isto é, dos elementos que podem deter ou alterar o processo de fermentação. Pode ser conveniente recobrir o monte com palha ou sacas para evitar que seque ou esfrie. Algumas plantas têm a propriedade de acelerar a decomposição das matérias do monte; estas podem ser: mil-em-rama, macela, urtiga, dente de leão, etc. que são vitalizantes ou dinamizantes e podem, inclusivamente, dirigir a fermentação, evitando talvez possíveis desvios. Quando se obtém uma matéria pardusca, finamente dividida, com um bom odor a terriço conseguiu-se um bom resultado e o composto está terminado e pronto para se utilizar. Além disso, de uma relação C/N adequada obteve-se um produto rico em bactérias e microrganismos benéficos e desprovidos de gérmenes patogénicos.

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2.3.6. Permacultura. O termo permacultura foi utilizado por Bill Mollison e David Holmgren para designar, entre outras, as técnicas utilizadas por Masanobu Fukuoka baseadas na filosofia de “Trabalhar com a terra, não contra ela”. É um sistema de desenho para a criação de um meio-ambiente sustentável. Trabalha com plantas, animais, construções e infra-estruturas e apoia-se nas relações que se podem estabelecer entre eles pela forma em que se enquadram na paisagem. A técnica baseia-se fundamentalmente na observação das paisagens naturais.

Ubiquação relativa

PRINCÍPIOS DA PERMACULTURA

Cada elemento (casa, piscina, aves) está situado em relação a outro.

Cada elemento desempenha várias funções. Cada função importante é suportada por muitos elementos.

Aproveitamento dos recursos biológicos.

Reciclagem da energia. A. Ubiquação relativa O ponto forte da permacultura é o desenho entendido como uma conexão entre coisas. Para fazer com que um componente do desenho (piscina, casa, floresta, sebe…) funcione de forma eficiente é preciso situá-los no sítio adequado - horto entre casa e curral; o que não se aproveita do horto é levado para o curral e o esterco deste para o horto- para ele é necessário recordar que as necessidades de um elemento são solvidas por outro elemento do sistema. Os resíduos de um elemento são utilizados por outro. B. Cada elemento desempenha várias funções. Cada elemento deve ser escolhido e situado de tal maneira que cumpra a maior quantidade possível de funções., um tanque, No método de Permacultura cada elemento desempenha várias funções por exemplo, serve para diferentes funções: rega, água para os animais, aquicultura, controle do fogo, aves aquáticas...

C. Cada função importante deve estar sustentada por muitos elementos.

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As necessidades básicas importantes como água, alimento, energia… devem satisfazer-se de duas ou mais formas diferentes. D. Planificação eficiente da energia. As áreas de trabalho diário (estufa, galinheiro, horto), situam-se perto; as áreas de trabalho esporádico (pomares, pastos, florestas) situam-se mais longe. A regra de ouro da permacultura consiste em desenvolver primeiro a área próxima ao centro e quando esta se encontra sob controle expandir as margens. E. Uso dos recursos biológicos. Em Permacultura quando se pode, usam-se os recursos biológicos para economizar energia ou para realizar o trabalho da propriedade. Há um trajecto no uso de recursos não biológicos para os biológicos.

Componentes do lugar - Água. - Solo. - Paisagem. - Clima. - Planta. Componentes sociais - Legislação. - Pessoas. - Cultura. - Comércio.

PERMACULTURA

Quadro fonte Introdução à permacultura 1998

Componentes energéticos - Tecnologias. - Estruturas. - Fontes. - Funções.

Componentes abstractas - Programação - Dados. - Ética.

A pecuária é um elemento importante na planificação

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F. Reciclagem da energia. Uma comunidade sustentada através da permacultura é independente do comércio de distribuição e garante uma dieta variada, provendo todos os requisitos nutritivos enquanto não sacrifica a qualidade ou destrói a terra.

Cada elemento desempenha várias funções Fonte União Agrícola 87

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2.4. Técnicas utilizadas. Praticar agricultura biológica supõe o conhecimento e a aplicação de uma serie de técnicas que permitem exercer um controle sobre o meio, potenciando, sobretudo os processos naturais.

Maneio do solo Fertilização Fabricação de composto Técnicas mais importantes utilizadas na agricultura biológica

Adubos verdes Acolchoado Trabalho do solo A Rega Associação de culturas Rotação de culturas

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Capítulo 3: O solo 3.1. O solo ecológico O solo é um dos factores de produção mais importantes. Em agricultura biológica tem uma função especial dado que no seu seio vão desenvolver-se as plantas. Geralmente é um meio desconhecido e, por isso, em muitas ocasiões, as medidas que se tomam são erróneas ao não tê-lo em conta ou dar-lhe pouca importância. Conhecer o solo e saber como funciona, como se desenvolvem as actividades que se levam a cabo no seu seio não é fácil, mas é aí que está a chave para conseguir equilibrar o sistema agrícola. Na hora de manusear o solo deve-se ter em conta que se trabalha com um meio muito instável e que se pode considerar como um organismo vivo. A razão de sobrevivência do solo encontra-se nos microrganismos que alberga e que são os causantes de todas as reacções bioquímicas que se produzem no seu seio. Por isso, deve dar-se muita importância e cuidar, especialmente, dos microrganismos do solo, favorecendo todas aquelas actividades que melhorem as suas condições de vida. Para isso devemos ter em conta dois factores: Os factores intrínsecos que A fertilidade do solo depende da vida que alberga dependem dos próprios microrganismos do solo para sobreviver. Os factores extrínsecos que dependem das condições do meio para favorecer em maior ou menor medida a sobrevivência dos microrganismos. Cabe estabelecer que a qualidade e a estabilidade do solo é maior quanto maior diversidade de organismos sustenta. Por isso num sistema ecológico a primeira tarefa consiste em trabalhar com o solo, conseguir que se alcance um equilíbrio o mais depressa possível entre todos os organismos que o habitam, as plantas que se vão desenvolver nele e os nutrientes que alberga. É necessário ir repondo os nutrientes à medida que se gastam. Deve-se fechar o ciclo da matéria no próprio sistema de maneira que, parte da energia produzida devolve-se ao sistema e o resto fornece-se em forma de matéria orgânica e, em todo o caso, podem ser feitas algumas separações de outros elementos se for necessário. É muito difícil dar um conselho geral de como manusear o solo uma vez que é preciso ter em conta as circunstâncias específicas de cada um, a sua situação geográfica e o clima da região. Por isso as linhas gerais que se podem dar devem-se ir adaptando às situações concretas para que sejam eficazes e com o passar dos tempos o solo melhore em todos os seus aspectos: estrutura, capacidade de retenção de água e nutrientes, vida microbiana… À medida que melhoram as condições do solo diz-se que é mais fértil. Na realidade a fertilidade do solo está relacionada com a capacidade que tem para albergar a vida no seu seio. Essa situação, se não se fazem bem as coisas, acaba por ser uma utopia que não se consegue alcançar. Ao contrário, quando se trabalha de forma adequada, podem observar-se rapidamente os progressos nas colheitas e na menor necessidade de intervenção do homem para manter e potenciar essa fertilidade. Um agricultor biológico estabelece a gestão do solo como a tarefa mais importante e a primeira a realizar; para ele deve levar-se a cabo um trabalho de avaliação que permita saber qual é o ponto de partida e o ponto ao qual se quer chegar. Nesse trabalho “podem descobrir-se e remediar-se as consequências dos erros cometidos ao lavrar, uma drenagem escassa ou as deficiências em nutrientes” (Lampkin1998). No final consegue-se um meio muito mais estável no qual se impõe o equilíbrio entre todos os factores que afectam o solo e fruto dele, os microrganismos podem trabalhar nas melhores condições possíveis. Nessas condições podem crescer as plantas atendendo a todas as suas necessidades com uma maior

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resistência tanto aos problemas provocados pelos climas adversos como aos produzidos pelos organismos patogénicos e/ou parasitas. Economiza-se muito tempo e dinheiro, o manuseio do sistema facilita-se muitíssimo e é nessas condições quando se começa a dar conta da importância que tem o solo e a influência que tem em todas as demais actividades agrícolas que se levam a cabo. Por isso vale a pena dedicar tempo ao solo, a conhecê-lo, a entendê-lo, a saber como se desenvolvem os seus ciclos para os respeitar o mais possível. 3.2. Dinâmica Podemos defini-lo como a camada mais superficial da terra na qual se desenvolve a vida. Além disso, é o lugar no qual se fecha o ciclo da matéria orgânica. Esta camada superficial tem uma origem organomineral e é frágil. O solo não é um meio estável apenas se encontra em contínua mudança. Costuma ser considerado como uma substância mais ou menos inerte, mas a realidade é que se pode considerar como um organismo vivo. Na sua dinâmica podem apreciar-se as mesmas características que servem para definir os organismos vivos: nasce (formação), desenvolve-se (maturidade) e morre (erosão). No seguinte esquema podemos ver a sua evolução.

Maturidade

Formação

Erosão

Tempo

Os processos de formação e de degradação do solo dão-se de forma espontânea na natureza e de forma simultânea nas três fases do solo. De facto as fases diferenciam-se uma da outra atendendo ao processo que predomina.

Fase

Processo

Formação:

Nesta fase predominam os processos de formação sobre os de erosão.

Maturidade:

Na fase de maturidade pode dizer-se que tanto os processos de formação como os de erosão estão equilibrados.

Erosão:

Na última fase predominam os processos de erosão sobre os de formação.

Conhecer qual é o estado do solo irá ajudar-nos a compreender em que fase se encontra, como evolui e como se pode influenciar de forma positiva na sua evolução futura.

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3.3. Formação do solo. A edafogénese estuda os processos que dão origem à formação do solo.

Esta primeira etapa da vida do solo caracteriza-se por: Uma maior alteração da rocha mãe inicial. O enriquecimento e transformação em matérias orgânicas procedentes de restos de animais e vegetais. Mobilização e estabilização das substâncias formadas. Acumulação de ditas substâncias.

1. Uma maior alteração da rocha mãe inicial. As rochas sofrem uma alteração física, produzida na maior parte pela acção dos agentes meteorológicos (chuvas, ventos, temperaturas...) que durante longos períodos de tempo e de forma continuada, dividem a rocha em partículas mais pequenas que formam a armadura do solo (pedras, cascalhos, barro). Além disso, os minerais que a constituem alteram-se quimicamente de forma progressiva; primeiro dão lugar aos colóides minerais (argilas, óxidos de ferro e alumínio) e mais tarde aos elementos minerais simples que os constituem. Estes dois processos costumam-se dar simultaneamente; a predominância de um sobre o outro depende das condições climatológicas particulares. Para que produza a alteração química é imprescindível a presença de água em forma líquida; a actividade química da água está potenciada pela temperatura graças à sua capacidade de dissolução. Por isto, nas zonas muito frias (glaciares) e nas zonas muito cálidas (desertos), a alteração das rochas é fundamentalmente física; pelo contrário no clima equatorial húmido a alteração química é muito grande. 2. O enriquecimento e transformação em matérias orgânicas procedentes de restos animais e vegetais. A matéria orgânica procede da vegetação e fauna que coloniza o solo. Da mesma forma que a rocha mãe, as matérias orgânicas sofrem uma alteração geralmente química e bioquímica. Em primeiro lugar dividem-se, mas sem alterar a sua composição química; posteriormente vão-se alterando quimicamente, dando lugar ao húmus (estado coloidal intermédio) e mais tarde aos minerais simples que as constituem.

No solo podem-se encontrar dois tipos de matérias orgânicas: As Matérias Orgânicas Facilmente Degradáveis (MOFD) e O Húmus Estável (HE).

A diferença entre um e outro é a velocidade de degradação (mineralização). As primeiras degradamse muito rapidamente; o húmus, pelo contrário, é o resultado de um processo no qual a mineralização da matéria orgânica se abrandou. Na natureza existem diferentes estratégias para alcançar este objectivo e, portanto, diferentes tipos de húmus. 3 Mobilização e estabilização das substâncias formadas. Os componentes resultantes da erosão tanto da matéria mineral como da matéria orgânica movemse no seio do solo. O movimento tem um duplo sentido, de cima para baixo e de baixo para cima.

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O movimento descendente ou de lavagem é o que domina nos climas húmidos, com alta pluviometria. Afecta os elementos minerais solúveis, como o cálcio, ferro, magnésio, sódio, fósforo...e as partículas coloidais quando no meio não há elementos minerais que lhes sirvam de enlace.

Matéria orgânica

O movimento ascendente deve-se ao transporte realizado pelas raízes das plantas e os animais do solo e aos fenómenos de capilaridade que se produzem nos solos onde dominam, as partículas pequenas inferiores a 2 µ, durante um período seco (pelo menos de dois meses). 4. Acumulação das ditas substâncias no solo.

Matéria mineral

Os elementos formados podem acumular-se na superfície, como acontece com as partículas grossas (areias); ou em profundidade, como acontece com os compostos coloidais (argila e húmus) e minerais solúveis. O resultado desta disposição é uma mudança de coloração para a cor pardo (empardecimento) e a formação de camadas ou capas (maturação) denominadas horizontes. O conjunto destas capas adquire o nome de perfil pedológico ou perfil do solo.

3.4. Origem organomineral do solo.

A origem dos componentes que o formam constitui a denominada genética dos solos. Na formação do solo podemos encontrar uma dupla origem: mineral. orgânica.

Na realidade o solo forma-se pela união dos elementos produzidos por degradação da rocha mãe e a matéria orgânica. Essa união produz o complexo argilo-húmico que é quem vai determinar a estabilidade do solo e a sua capacidade para reter elementos nutritivos. Origem mineral do solo. A origem mineral do solo procede da rocha mãe que se vai decompondo (meteorização) como consequência da acção de agentes climatológicos, processos químicos e biológicos. Desta forma, a rocha mãe, vai-se desagregando em partículas cada vez mais pequenas: pedras, cascalhos, areias, limos, argilas,...até chegar aos elementos minerais.

Meteorização física: ocorre devido à acção de agentes físicos sobre a rocha mãe produzindo a sua desagregação em partículas mais pequenas. Produz-se por: - Aquecimento e arrefecimento (diferenças de temperaturas, diárias e estacionais). - Congelação (a água que gela aumenta de volume). - Humedecimento e secagem (chuvas, neves, névoas). - Acção de erosão do vento.

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Meteorização química: Produzida por diversos processos de natureza química. - Dissolução de minerais por substâncias ácidas procedentes da contaminação ou dos seres vivos. - Hidrólise: minerais + água--> compostos solúveis. - Carbonatação: formação de bicarbonatos (sais solúveis). - Hidratação: combinação com água para decompor-se. - Oxidação – Redução: perda ou ganho de electrões. -Decomposição química. Meteorização biológica: Situada entre as duas anteriores.

- Acção mecânica e química dos organismos vivos. - As plantas tanto de forma física ao introduzir as suas raízes entre as rochas como de forma química através das substâncias que segregam pelas raízes. - Os microrganismos actuam fundamentalmente através dos seus processos metabólicos nos quais transformam umas substâncias em outras ou sintetizam e degradam.

Assim, a rocha mãe vai-se desagregando em partículas mais pequenas: areias, argilas,...até chegar aos elementos minerais.

Rocha mãe

Degradação que conduz aos seguintes produtos

Argilas carregadas negativamente

Catiões minerais positivos

Origem orgânica do solo. A componente orgânica do solo provém de toda a matéria orgânica que se vai depositando nele. No solo é transformada pelos microrganismos em húmus e em elementos minerais. O processo pode ser directo ou passando pela fase de húmus. Este tem carga negativa.

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Matéria orgânica Humificação Mineralização

húmus Mineralização

Elementos Minerais

Formação do complexo argilo-húmico Entre o primeiro estado de degradação e o último pode reconhecer-se um estado intermédio que é o estado coloidal. Os colóides procedentes da rocha mãe são as argilas e os da matéria orgânica é o húmus e ambos encontram dissolução na água do solo. Estes colóides têm carga negativa e podem unir-se aos elementos minerais simples carregados positivamente: cálcio, ferro, magnésio, alumínio que são os que permitem que uns colóides possam unirse a outros formando partículas de tamanho maior. Nesse estado dos colóides diz-se que estão em franja e formam o chamado complexo argilo-húmico.

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Decomposição e reconstrução específica dos elementos constituintes dos solos Elementos

Matériaorgánica orgânica Materia

restos vegetais

Processos

decomposição

Terriço

compostos livres

Fracção facilmente mineralizável

compostos precursores

organização

ácidos húmicos

M O inerte

Compostos húmicos activos domínio coloidal

(imobilização construída)

Minerais estáveis

finos activos

(insolubilização irreversível) limos finos

Fracção gestora da porosidade

(argilas, limos finos)

alteração

limos areias cascalhos

Rocha e relevo (estação)

pedras

fragmentação

Matéria mineral

Fonte: Yves Hérody: 1999

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O cálcio e o ferro são os elementos minerais mais importantes que mantêm unido o complexo argilo-húmico com mais estabilidade. É costume serem denominados elementos de enlace embora não

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sejam os únicos que actuam. O complexo argilo-húmico intervém de forma determinante tanto na formação do solo como na sua estabilidade porque permite: - Que se forme uma estrutura estável. - Reter as partículas minerais simples que servem de alimento às plantas. - Reter a água do solo.

H+

Na+

Ca++ Mg++

Complexo adsorvente argilo-húmico com carga -

Mg++

Na+ K+

H+

De todos os elementos que formam o complexo argilo-húmico há um que actua como factor limitante. Normalmente a argila ou o limo, que desempenham uma acção semelhante, é um elemento que provém da rocha mãe e se encontra de forma constitutiva no solo. Ao contrário a matéria orgânica, que é o factor limitante, pode faltar e então pode-se fornecer, favorecendo a formação do solo. Para que a matéria orgânica se transforme é necessário a cooperação dos microrganismos; é importante que o solo seja rico em microrganismos. Podemos dizer que um solo vivo é aquele que mantém a vida, não só vegetal mas também dos microrganismos do solo. Deles depende em último caso a fertilidade. Por isso, devem mimar-se e isso consegue-se fazendo do solo um lugar confortável para eles e prescindindo de todas aquelas práticas que o empobrecem para fazer dele um lugar hostil.

Por isso devem evitar-se:

O uso de herbicidas. A aplicação de fitossanitários. A queima dos restos vegetais.

3.5. Maturidade do solo. Durante a fase de maturação o complexo argilo-húmico tende a estabilizar o solo e fica constituído em diferentes camadas, capas ou horizontes, diferenciáveis desde a superfície à rocha subjacente. É o que se conhece como perfil pedológico do solo e é característico de cada um. O clima determinará a sua velocidade de crescimento e a espessura dos horizontes. No solo maduro podemos diferenciar os seguintes horizontes:

Horizonte 0: formado pela matéria orgânica de deposição (restos animais e vegetais). Costuma encontrar-se em alguns solos florestais.

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Horizonte A: domina a matéria orgânica sobre a animal, em solos agrícolas normalmente não existe. Horizonte B: mistura de matéria mineral e orgânica na qual domina a parte mineral sobre a orgânica. Misturam-no as minhocas e outros organismos. É o horizonte de nutrição das plantas. Horizonte C: parte puramente mineral metamorfoseada. Rocha mãe: rocha base da qual procede a componente mineral do solo.

Ao longo dos horizontes, num solo bem estruturado, a matéria orgânica vai diminuindo com a profundidade, enquanto que a matéria mineral fá-lo à medida que nos aproximamos da superfície. Os movimentos dos distintos componentes em sentido vertical, para cima e para baixo, são produzidos fundamentalmente por: - A água (lixiviada e capilaridade). - Alguns organismos do solo (minhocas, toupeiras,…) O resultado é uma mistura dos horizontes que faz com que a linha de separação entre eles não seja drástica apenas progressiva. Essa mistura facilita a formação do complexo argilo-húmico e favorece a estabilização do solo.

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3.6. Erosão do solo. Constitui a última fase da vida do solo e dá-se de forma natural e espontânea. Começa por um processo de dessaturação progressiva de bases, segue uma acidificação que produz a mobilização do ferro. Este pode acumular-se formando os solos ferruginosos ou ser lavado com o qual o complexo argilo-húmico perde um dos elementos de enlace importantes e destabiliza-se.

O resultado é: - A mobilização da matéria orgânica, - A sua decomposição em elementos minerais - A lavagem dos mesmos dando lugar a solos estéreis.

Desta forma verifica-se o processo da morte de um solo que pode ser acelerado devido à contaminação, a aplicação de trabalhos culturais inadequados e, em geral, por um defeituoso maneio do solo. Aprender a trabalhar o solo supõe manter e melhorar a sua fertilidade, evita muitas inquietações e é a longo prazo uma boa inversão económica.

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Esquema da fase de erosĂŁo do solo

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3.7. O solo como sistema. Considerando o solo no seu conjunto, pode ser considerado como um sistema formado por três fases que podem distinguir-se umas das outras pelos componentes que as constituem. O SOLO

FASE SÓLIDA

Matéria mineral

FASE LÍQUIDA

Matéria orgânica

FASE GASOSA

Água

Ar

A fase sólida é formada pela mistura dos compostos orgânicos e minerais, é a mais abundante em termos quantitativos e a que menos varia na sua constituição. A fase líquida é formada por água. A sua quantidade é variável tanto ao longo do tempo como pelas diversas condicionantes geográficas e climáticas. Desta fase depende uma serie de factores fundamentais do solo como por exemplo: a dissolução, o transporte de nutrientes, a erosão... e também é necessária tanto para a vida das plantas como dos microrganismos do solo. A fase gasosa do solo é constituída por ar que se encontra retido nos poros do solo da mesma forma que a água. A quantidade destes poros e as A composição do solo influencia na produção suas características dependem da composição dos elementos que formam a fase sólida. Assim nos solos argilosos a quantidade de poros será de 5-10%, nos solos francos de 10-25% e nos arenosos de 30-40%. Esta fase gasosa é também indispensável tanto para a respiração das raízes das plantas como para o tipo de microrganismos do solo. O volume de cada uma destas fases do solo varia ao longo do tempo e também, em cada lugar, dependendo das alterações das condições climatológicas e das condições geográficas. Num solo franco em boas condições para o desenvolvimento das plantas podem considerar-se as seguintes proporções:

Componente do solo

% em volume

Matéria mineral

45

Matéria orgânica

5

Água

25

Ar

25

Os volumes da água e do ar conservam uma relação inversamente proporcional; quando aumenta o volume do ar desce o da água e vice-versa. Num solo equilibrado o conteúdo em ar e em água do solo são iguais ou têm valores próximos um do outro.

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3.8. A matéria orgânica. A matéria orgânica do solo é por assim dizer de alguma forma uma reserva de alimentos que à maneira de despensa vão utilizando as plantas para conseguir os elementos nutritivos. A matéria orgânica sofre no solo um processo que se denomina mineralização e vai-se transformando em elementos minerais assimiláveis pelas plantas. A humificação é a formação de húmus no solo que é uma forma mais estável da matéria orgânica. Este húmus ao ir-se mineralizando dá origem aos elementos minerais que por sua vez são absorvidos pela planta ou lavagens (lixiviação). Se o solo está em boas condições os elementos minerais podem ser retidos, o processo de mineralização é mais lento e o solo conserva durante mais tempo a sua fertilidade. Se não está, acontece tudo ao contrário. Ciclo da matéria ATMOSFERA Fontes de Carbono, Nitrogénio, Hidrogénio e Oxigénio Semente Polimerização

gás: retorno à atmosfera

Despolimerização TERRIÇO minerais: retorno ao solo

1 ROCHA MÃE Minerais do solo

C.F.

2

MINERALIZAÇÃO

HUMIFICAÇÃO = Mineralização retardada

EROSÃO

Pode-se dizer que o húmus é um estado intermédio de degradação da matéria orgânica produzida pelos microrganismos do solo em concreto dos fungos. Forma também parte do colóide do solo no complexo argilo-húmico. A sua formação depende do tipo de matéria orgânica, das condições geográficoclimáticas e das características do solo.

O húmus influencia notavelmente nas condições do solo melhorando-as Proporciona-lhe uma coloração obscura que favorece o aquecimento e modera as variações de temperatura. Favorece a porosidade do solo e, portanto a capacidade de retenção da água. Melhora a estrutura dificultando os processos erosivos.

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Incrementa a capacidade de retenção de elementos minerais. Tem um importante poder tampão. Serve de sustento a uma grande quantidade de microrganismos. Favorece a nutrição das plantas.

3.9. A vida do solo. Parte-se de uma premissa importante e é que, um solo fértil é um solo vivo, isto é, com capacidade para suster a vida no seu seio, de maneira que quanto mais diversidade de organismos vivos há e mais quantidade, mais fértil é o solo. Por isso, capacidade para manter a vida e fertilidade são dois conceitos directamente proporcionais. Macrorganismos do solo: - Mamíferos. - Anelídeos.

Microrganismos do solo: Micro fauna

- Amebas. - Bactérias: fixadoras de nitrogénio. - Nematódios.

- Artrópodes: crustáceos, aracnídeos, miriápodes.

- Actinomicetos.

- Moluscos. Micro flora

- Algas: cianobacterias fixadoras de nitrogénio. - Fungos. - Líquenes. - Micorrizas.

No solo a microflora distribui-se de maneira que o seu número vai diminuindo com a profundidade dependendo das condições climatológicas e das características físico-químicas do solo. Podem distinguir-se dois tipos de flora microbiana: Flora microbiana de decomposição. Os fornecimentos de matéria orgânica fresca provocam um rápido crescimento das bactérias. Durante esta fase de decomposição, a capacidade de germinação das sementes fica inibida. Flora de assimilação. À medida que a matéria orgânica se vai decompondo, após a primeira fase, vai crescendo outro tipo de flora associada, favorável ao crescimento dos vegetais. Algas. O grupo mais importante constituem-no as cianobacterias (100.000 unidades/g de solo) que fixam nitrogénio atmosférico e indicam esgotamento do solo, quando estes adquirem uma cor esverdeada. Fungos. São muito importantes no solo, compreendem 2/3 da biomassa microbiana. Existem de vários tipos: - Depredadores de insectos. - Saprófitas: decompõem a celulose e a lenhina e transformam-na em húmus. - Produtores de antibióticos. Líquenes: são associações entre fungo e alga e funcionam como bio-indicadores de contaminação. Micorrizas: São associações com as raízes das plantas. Formam-se na maior parte das plantas terrestres. As plantas beneficiam-se melhorando a nutrição e a aquisição de fósforo e zinco do solo que estimulam a fixação de nitrogénio, aumentam a tolerância das plantas às infecções, imobilizam alguns metais pesados, melhoram a captação de água e tornam a planta mais resistente à seca e melhora a estrutura do solo. Alguns fungos produzem carpóforos visíveis

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Atribui-se o nome de rizosfera ao volume de solo que rodeia as raízes e que resulta afectado pelo desenvolvimento destas. Nela encontra-se a maior percentagem dos microrganismos do solo, vivendo às suas custas. Por isso, é preciso tê-la muito em conta quando se fala do solo e de compreender a importância que tem a diversidade de plantas de um solo na riqueza e fertilidade do mesmo.

Os microrganismos do solo distribuem-se de forma variável em função da sua proximidade ou afastamento à rizosfera - Formam a denominada microbiota do solo. - Numa grama de solo podem existir dezenas de milhões de microrganismos, no entanto a disponibilidade de substâncias carbonados metabolizáveis é baixa. Por isso, a maioria dos microrganismos costuma encontrar-se inactivos do ponto de vista fisiológico. - Quando se introduzem plantas no sistema a situação altera-se de forma drástica. As plantas são as principais fornecedoras de substâncias energéticas do solo. - As populações de microrganismos na rizosfera alcançam valores de centos de milhões por cm3. densidade que resulta de 10-1000 vezes superior à do solo no rizosférico. - O fornecimento de compostos cabornados solúveis ou insolúveis é feita em forma de exsudados ou lisados e são máximos na zona de crescimento activo da raiz (1-3cm. do ápice). - As raízes estão embebidas em mucigel (capa mucilaginosa que rodeia a raiz) que alcança uma espessura de 0,5mm. Na presença de microrganismos alcança os 8mm. - Esta substância actua como protector da raiz e fonte de energia dos microrganismos. Estes estimulam a fotossíntese. - Algumas bactérias e alguns fungos penetram dentro da raiz (endófitos) - O crescimento microbiano no solo rizosférico é muito lento e aos períodos de actividade seguem-se longos períodos de inactividade.

Interacções entre microrganismos: Da mesma forma que com o meio que os rodeia os microrganismos estabelecem uma serie de interacções entre si. Estas interacções podem ser: Positivas:

Comensalismo: o crescimento de uma espécie estimula-se pela presença da outra.

Negativas:

Competição: a luta de duas ou mais espécies por conseguir algum elemento ou condição ambiental essencial para a sobrevivência. Amensalismo: uma população microbiana afecta negativamente o crescimento da outra mediante a excreção de produtos inibidores. Predação: um microrganismo alimenta-se de outro; o microrganismo atacante é de maior tamanho que o atacado. Parasitismo: um microrganismo alimenta-se de outro; o microrganismo atacante é de menor tamanho que o atacado.

Interacções plantas-microrganismos.

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Da mesma maneira estabelece-se também no solo uma serie de interacções entre as plantas e os microrganismos que dão lugar a uma serie de relações: Saprófitos: Os microrganismos alimentam-se da matéria orgânica morta procedente das plantas. Parasitas: produzem doenças nas plantas. Simbiontes mutualistas: Formam umas associações baseadas na ajuda mútua na alimentação (as micorrizas). Os microrganismos da rizosfera condicionam a formação e a função das micorrizas, melhoram o crescimento, a saúde e a resistência ao stress da planta, enquanto que esta assim fortalecida é uma fonte de energia para o desenvolvimento da microbiota à volta das raízes. Os componentes da microbiota estimulados na rizosfera intervêm na formação de agregados com a consequente melhoria da estrutura e qualidade do solo, o que favorece o desenvolvimento das plantas. A rizosfera segue o ciclo das plantas, ou seja, nasce com a semente, cresce com a maturidade da planta, decresce quando esta envelhece e desaparece quando esta morre. Mas enquanto dura, forma parte activa do que se podia chamar a rede alimentar do solo. A rede alimentar do solo. A rede alimentar é formada por milhões de microrganismos que vivem na camada fértil da terra e constituem a base da saúde das plantas. O número de espécies e a quantidade de cada uma depende muito das culturas que se realizam, do sistema de trabalho que se emprega, do clima, do tipo de solo...Aplicando as técnicas biológicas o solo é muito mais rico em microrganismos que aplicando métodos convencionais à base de adubos químicos e pesticidas. As plantas proporcionam através das raízes a energia inicial para colocar em marcha o sistema de alimentação do solo. O material orgânico que provém das plantas mortas é decomposto por bactérias e fungos que aumentam em número rapidamente. Quanto maior for a diversidade das plantas maior será a diversidade de organismos no solo. A maior parte das bactérias Quando o solo tem pouca variedade de plantas é mais pobre e perde fertilidade e fungos do solo é benéfica e proporciona à planta grande quantidade de minerais essenciais que retêm evitando que sejam arrastados pela água para zonas profundas. Em condições normais competem com as espécies patogénicas e formam uma capa protectora à volta das raízes. Existem predadores como nematódios não patogénicos, protozoários, ácaros... que permitem reciclar nutrientes e mantêm as populações em equilíbrio. Por sua vez estes são controlados por outros: insectos, aves, outros animais pequenos com o qual se estabelece um equilíbrio entre todos. Quando um grupo qualquer é eliminado do sistema o equilíbrio vê-se elevado e isso pode afectar o desenvolvimento das plantas. Isto costuma acontecer quando se incorporam no solo substâncias químicas. Nestas populações de microrganismos pode residir a base de que nas rotações umas plantas favoreçam o desenvolvimento da seguinte cultura ou não. Certas actuações sobre o solo favorecem o desenvolvimento de uma população diversa de microrganismos. O composto, em particular, melhora a cultura e a disponibilidade de alimentos aos microrganismos e às plantas. Favorece a proliferação de bactérias, fungos, protozoários, micro artrópodes e seus recursos alimentares dependendo da maturidade do composto e da sua composição (matérias utilizadas para o fazer). Entre os organismos do solo produz-se uma grande concorrência pelo nitrogénio. Os microrganismos que possuam maior capacidade enzimática são os que absorvem mais nitrogénio.

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Dentro deste grupo estão as bactérias seguidas dos fungos. As plantas não podem competir com eles, sobretudo quando há limitações grandes de nitrogénio. As bactérias requerem um átomo de nitrogénio por cada 5 átomos de carbono e os fungos 10 átomos de carbono por cada um de nitrogénio. Os organismos predadores de fungos e bactérias obtêm muito mais nitrogénio que o necessário para cobrir os requerimentos de carbono. O excesso de nitrogénio é tóxico e é libertado à solução do solo e absorvido pelas raízes das plantas. Quando há falta de matéria orgânica e de populações de organismos associados a ela anula-se a capacidade do solo para reter carbono e este passa à atmosfera em forma de CO2. As bactérias retêm menos quantidade de carbono que os fungos, por isso, quando estes predominam sobre elas a capacidade do solo para reter CO2 diminui consideravelmente. Os fungos são, também, os responsáveis por grande parte do armazenamento de cálcio no solo. Um solo pobre em fungos permite que o cálcio se liberte e não se retenha no solo. Os fungos micorrizógenos associados às raízes das plantas são especialmente eficazes em proporcionar nutrientes às plantas. Produzem enzimas que decompõem a matéria orgânica e solubilizam o fósforo e outros nutrientes que procedem da fracção mineral do solo. Por sua vez o fungo alimenta-se dos hidratos de carbono que a planta produz. À volta da raiz forma-se uma matriz à base de microrganismos, A matéria orgânica protege o solo e potencia a actividade biológica dos microrganismos metabolitos excretados por estes e as raízes das plantas que é a rizosfera. Nela aparecem umas hifas finas de fungos que estabilizam o solo formando macro agregados que resistem à compactação e à erosão e favorecem o crescimento das plantas. Os microrganismos benéficos para as plantas requerem ar e água para sobreviver. Quando o terreno se compacta dificulta-se a sobrevivência dos microrganismos. Para as maiores populações de organismos é mais difícil sobreviver nessas condições. O solo altera-se e deixa de ser dominado por fungos para passar a ser dominado por bactérias e isto altera a disponibilidade de nutrientes e a estrutura do solo afectando também as plantas. Se a compactação continua juntamente com a alteração de microrganismos aparece uma maior quantidade de patogénicos e substâncias nocivas que podem provocar sérios problemas. Nessas condições a existência de micorrizas forma uma barreira impenetrável que defende as raízes das plantas. Qualquer prática que reduza ou altere as populações normais de microrganismos pode reduzir o potencial da cultura enquanto que a protecção destes microcosmos incrementará a saúde das plantas.

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Capítulo 4: A Fertilização. 4.1. Reconversão. Durante o período de reconversão uns dos pontos frágeis com o qual é preciso defrontar-se é precisamente com o da fertilização. Determinar o plano de fertilização é uma das prioridades porque, unido a outras práticas, vai permitir pouco a pouco o reequilíbrio do sistema do solo com o fim de torná-lo mais habitável para as plantas. O início não é fácil, pois, necessariamente, passa-se da utilização de adubos solúveis, de acção rápida, ao uso de adubos menos solúveis, de acção mais lenta, mas que melhoram a estrutura do solo e a conservação de nutrientes.

Delineamentos: Conhecer qual é a situação real do solo em relação aos nutrientes necessários para as plantas e para isso pode ser conveniente fazer uma análise do solo que sirva de ponto de partida para organizar o plano de adubação. Estabelecer um plano geral no qual a base da fertilização será a matéria orgânica obtida:

O plano de fertilização tende a conseguir um solo mais estável com maior capacidade para reter os nutrientes potenciando a presença dos microrganismos, que vão intervir de forma activa na decomposição da matéria orgânica e na dissolução dos elementos minerais necessários na alimentação das plantas. Num solo trabalhado de forma biológica a fertilização é muito importante nos primeiros anos; mas depois, não é que diminua a sua importância apenas as próprias condições que se vão gerando no solo fazem com que este possa auto-abastecer-se de maneira que as actuações de fora serão menos frequentes. A fertilização tem duas funções nomeadamente: Favorecer a vida dos microrganismos do solo. Repor no solo aqueles elementos que se gastam, de forma que possam ser utilizados pelas plantas.

Do ponto de vista dos microrganismos a fertilização consiste em facilitar a sua proliferação, de maneira que possam trabalhar em óptimas condições para mineralizar os elementos do solo para que posteriormente possam ser utilizados pelas plantas na sua alimentação. Estes microrganismos vão-se situando no solo a distintos níveis e em diferentes zonas. Os microrganismos quimiolitotrofos estarão dispersos pelo solo e a sua fonte de alimentação é a matéria mineral. A forma de activar estes microrganismos, caso seja necessário, é fornecer os elementos que constituem a base do seu sistema de obtenção de energia. Existem outros que se alimentam de matéria orgânica (organotrofos) e estão distribuídos no solo nas zonas mais ricas em matéria orgânica que costuma ser a parte superficial do solo e as imediações das raízes. Para estes é importante a presença da matéria orgânica e será preciso fornecê-la quando seja necessário para os activar. Outro grupo de microrganismos está associado às plantas, em concreto à zona das imediações das raízes (um ou dois milímetros) formando o que se chama rizosfera. Alimentam-se das substâncias que as raízes excretam e exercem uma dupla função: a de proporcionar elementos nutritivos à planta e a de proteger as raízes mediante a excreção de substâncias alelopáticas. Estes microrganismos vão-se activando à medida que entram em contacto com as raízes das plantas; quando estas desaparecem ficam desactivados no solo.

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Do ponto de vista das plantas não se deve esquecer que a nutrição se realiza tanto pelas raízes como pelas folhas. A diferença entre umas e outras está relacionada com os meios nos quais têm que se desenvolver e os elementos que devem captar. No caso das raízes devem adaptar-se a um meio instável e em contínua mudança, por isso, devem estar adaptadas a esse meio e nele devem ser capazes, ajudadas pelos microrganismos do solo, de extrair os elementos minerais necessários para a sua alimentação. Pelo contrário, a parte aérea desenvolve-se num meio estável e está especializada na captação da energia solar e no intercâmbio de gases com a atmosfera (oxigénio e dióxido de carbono) por isso para activar a alimentação através das folhas deve melhorar-se a insolação e o arejamento da planta. Na hora de activar a nutrição da planta devemos ter em consideração os dois meios, isto é, aqueles elementos que deve absorver pela raiz e os que deve receber do ar. Tendo em conta todo o anterior, pode-se definir a fertilidade como a aptidão do solo para produzir. No termo fertilização abrange-se todas as técnicas que estimulam o sistema produtivo agrícola (solo, microrganismos, plantas e animais, com a influência do clima).

Formas de melhorar o estado de fertilidade do solo: Através de matéria orgânica. Fornecendo elementos minerais naturais. Utilizando composto. Realizando adubos verdes. Potenciando a fixação de nitrogénio atmosférico. Aspectos básicos a ter em conta: O objectivo final é efectuar os fornecimentos necessários para proporcionar às plantas uma nutrição suficiente e equilibrada. Os fornecimentos de matéria orgânica constituem a base da fertilização. Os fornecimentos minerais são complementos da matéria orgânica e só se realizam em função das necessidades do solo. Utilizam-se produtos naturais, sedimentos marinhos ou terrestres, rochas moídas, etc.

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Desequilíbrios do solo. Situação de partida (análises)

Processos de erosão. Carências

Plano de fertilização

Utilização de matéria orgânica Plano de fertilização

Adubos verdes, culturas intercalares Possíveis correcções

Estabilidade do solo Resultados

Retenção de nutrientes Equilíbrio do sistema solo-planta

4.2. Utilização da matéria orgânica.

Melhorar a fertilidade consiste em fornecer ao solo substâncias ricas em matérias orgânicas. Podem utilizar-se substâncias que enriquecem o solo em húmus (esterco, composto, resíduos de colheitas), ou substâncias destinadas a fornecer nitrogénio (resíduos de matadouro, sangue, corno, osso, guano, purina) de maneira que através delas podem fornecer-se os elementos mais importantes para a nutrição da planta. Quando partimos de um solo equilibrado, só é necessário manter o equilíbrio e repor as substâncias gastas pelas culturas, mediante fornecimentos de matéria orgânica e mineral. A realidade demonstra que é muito difícil encontrar um terreno equilibrado, por isso é necessário desenvolver um plano que devolva o equilíbrio de forma pausada. Se se realizarem correcções de maneira precipitada desperdiçase, visto que o solo apenas pode assimilar uma parte do fornecimento e perde grande parte do fornecido, logo não se resolve o problema. É importante prestar especial atenção aos micro elementos, que ainda que não sejam necessários em grande quantidade, o seu excesso ou falta pode bloquear outros e provocar um efeito multiplicador da carência. A relação C/N tem especial relevância pelos graves efeitos sobre as plantas, causa do seu desequilíbrio. Pode-se equilibrar mediante a eleição das matérias-primas adequadas para fazer o composto e as correcções. Os fornecimentos de matéria orgânica são também imprescindíveis na hora de manter o complexo argilo-húmico, que é o que se encarrega de reter e colocar à disposição da planta os nutrientes em forma de iões. Também a matéria orgânica pode evitar níveis tóxicos de oligoelementos.

Antes de fertilizar é preciso conhecer o estado do solo

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O esterco é um tipo de matéria orgânica que pode ser utilizado na fertilização. É composto à base de uma mistura formada pelas fezes dos animais, a urina, restos da cama e é sólido. Representa uma fonte de elementos nutritivos: nitrogénio, fósforo e potássio, fundamentalmente, e de oligoelementos. A sua composição depende do tipo de animal, da sua alimentação e do material com que se confecciona a cama.

A compostagem pode ser feita em montes ou ser utilizada directamente sobre o terreno fazendo um compostado em superfície sozinho ou juntamente com restos de colheitas anteriores ou agregado a outros tipos de matéria orgânica. Pode utilizar-se fresco (recém saído da quadra) ou passado (depois de ter fermentado). No primeiro caso é preciso ter muito presente que ao utilizá-lo não pode entrar em contacto directo com as plantas uma vez que pode queimá-las. Em nenhum caso se enterra profundamente, apenas se deixa à superfície e posteriormente, com uma gradagem, semeia-se nos primeiros centímetros do solo para favorecer a sua Comprovando a textura decomposição aeróbia. Desta forma activa-se a vida microbiana desses primeiros centímetros que é onde se situa a maior parte das raízes das plantas. A matéria orgânica fornecida ao solo melhora a sua estrutura e a retenção de água ou ar segundo as suas necessidades. Além disso, é uma fonte de elementos nutritivos: N, P, K e oligoelementos; activa a vida microbiana e como tal a fertilidade e a sua lenta decomposição prolonga o período de fornecimento de elementos minerais imprescindíveis para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Ao fornecer a matéria orgânica desta forma deixando-a primeiro em superfície perde-se uma parte importante de nitrogénio. Mais tarde, ao activar a vida microbiana do solo, o que acontece é que se fixa nitrogénio em forma de proteínas microbianas que, quando estes morrem, vão-se decompondo, será recuperado parte do nitrogénio para o solo e poderá ser utilizado pelas plantas ou ser lixiviado (lavagem) pela água para camadas profundas. As plantas só podem usar o nitrogénio que se mineralize durante o período vegetativo. As necessidades de nitrogénio da planta não são homogéneas ao longo do ciclo vegetativo mas sim pequenas inicialmente, crescem quando o desenvolvimento é rápido e ao chegar à maturidade reduz-se. O nitrogénio do esterco pode-se encontrar em três fracções diferentes: Nitrogénio solúvel: que quando se aplica o esterco pode ser assimilado directamente pelas plantas. Costuma sofrer perdas durante a sua aplicação. Nitrogénio orgânico facilmente mineralizável: que permite que as plantas disponham dele ao longo do ciclo vegetativo. Nitrogénio dificilmente mineralizável: É difícil de utilizar em condições normais por parte das plantas devido à sua dificuldade de mineralização. Vantagens do uso de esterco ou matéria orgânica de libertação lenta: Há uma maior eficiência no uso de nutrientes em comparação com os que são mais solúveis. Produzem-se perdas menores por lavagem e decomposição. Reduz-se o perigo de fitotoxicidade. Proporciona à planta um crescimento mais equilibrado. Melhora a textura e a estrutura do solo e a actividade microbiana.

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4.3. Elaboração de composto. Do ponto de vista da fertilização o composto é uma substância muito completa porque, melhora a estrutura, a retenção de água, o arejamento, aumenta a capacidade de retenção de nutrientes, estabiliza o solo e, além disso, fornece os microrganismos responsáveis pela gestão dos nutrientes no solo para o benefício da planta. Há muitas fórmulas diferentes para o fazer a partir de diversos materiais ainda que, basicamente, as regras que se seguem para a sua confecção sejam as mesmas e o que costuma mudar são as matérias-primas que se utilizam e alguns aditivos que se podem acrescentar. O compostado é um processo biológico controlado (fermentação aeróbia) de resíduos orgânicos que asseguram a sua decomposição e o resultado é um produto estável, parecido à terra, rico em húmus e em microrganismos benéficos. A matéria-prima que se pode utilizar é muito variada.

Matéria de origem animal.

Matéria de origem vegetal.

Matéria seca: plumas, restos de matadouro.

Matéria seca: palha, serradura, ervas secas, casca, ramos…

Matéria húmida: purina…

Matéria húmida: bagaço de frutas, erva fresca…

Uma vez que se reúna a matéria prima necessária é preciso conseguir um equilíbrio entre os três elementos básicos do composto: A celulose: obtida a partir de: palha, serradura, ramitos, casca, ervas secas, aparas. Os açucares: obtidos a partir de: vegetais verdes bagaços. O nitrogénio: obtido a partir de: esterco, purina, leguminosas e restos matadouro.

Esses três elementos básicos permitem que, o processo de compostado, se realize sem problemas a uma velocidade adequada e, além disso, obter um composto equilibrado. Na hora de fazer o composto podem utilizar-se dois sistemas: compostado em montes ou em superfície. O resultado final é praticamente o mesmo e realizá-lo de uma forma ou outra depende da superfície que se aduba com composto, das condições geográficas e também das preferências de quem o realiza.

Na base colocam-se materiais que melhorem o arejamento

Pouco a pouco vão-se acrescentando camadas para fazer o monte

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4.3.1. Compostado em montes. É interessante ter em conta uma serie de detalhes na hora de proceder à fabricação do compostado em montes que permitem ao mesmo tempo conseguir que os elementos básicos; celulose, açucares e nitrogénio estejam em equilíbrio. Características dos montes: Procurar um lugar adequado (sombreado, não pavimentado, com ligeira inclinação). Organizá-lo segundo umas dimensões concretas: 1,5 m. de largura x 1,5 m. de altura x todo o comprimento que se queira. A preparação pode fazer-se de forma manual ou mecanizada. Confecção em camadas p. Ex. de 20 cm de espessura até alcançar a altura prevista. Uma camada de materiais grossos: ramos ricos em celulose. Uma camada de resíduos misturados de colheita, ricos em hidratos de carbono. Uma camada de esterco ou resíduos animais ricos em nitrogénio. Uma camada fina de terra (2 – 5 cm.). Fornecimentos de carbonatos ou restos de algas 2-5% para reduzir a acidez. Uma vez terminado o monte cobre-se com terra ou serradura (2 – 5 cm.). Regar abundantemente cada camada se não se tiver tido previamente de remolho o material aplicado, sobretudo todo o material grosso (restos de poda) ou em geral o material rico em celulose.

Realizar o monte seguindo estas regras evitar-se-ão problemas posteriores de funcionamento da fermentação. Por exemplo, a eleição do lugar adequado permitirá não ter problemas posteriormente de encharcamento. A realização de camadas permitirá manter o equilíbrio entre os elementos básicos do composto. O tamanho dos componentes aplicados misturados homogeneamente aumenta a velocidade da fermentação.

A estrutura em camadas favorece o arejamento e o equilíbrio entre os elementos integrantes do compostado

O monte de compostado pode ser fabricado mecanicamente

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Uma vez formado o monte, começará o processo de compostado que consiste numa decomposição aeróbia do mesmo.

Para que se produza a fermentação aeróbia são necessárias duas condições: A presença de ar: Necessário para a vida e multiplicação dos microrganismos aeróbios incumbidos de realizar a fermentação. A presença de água: Necessária para regular a temperatura e favorecer a decomposição. Se não se confeccionou bem o monte e este fica demasiado denso ou há falta de ar, então os microrganismos não se desenvolvem de forma adequada e o processo do compostado não se conclui porque em vez de uma fermentação aeróbia (em presença de oxigénio), o que se produziria seria uma fermentação anaeróbia (em ausência de oxigénio). Neste caso é preciso voltear o monte e voltar a refazêlo para que se perca o excesso de humidade e não interfira com a multiplicação dos microrganismos

incumbidos de o concluir. A água é necessária para que os microrganismos possam trabalhar. No decurso da fermentação aumenta a temperatura que pode chegar até aos 65 – 70 ºC. A essas temperaturas a água vai-se perdendo pouco a pouco e produz-se uma diminuição do tamanho do monte de composto. Quando a fermentação começa, produz-se um aumento brusco da temperatura. Se não se alcança a temperatura prevista ou se se excede o monte de composto ocasionará problemas.

Monte de composto concluído.

Quando não se alcança a temperatura prevista, o normal é que não se tenha estruturado bem o monte ou haja excesso de água e nesse caso seria preciso refazê-lo de novo. Mas também pode acontecer que a temperatura não suba por falta de humidade, neste caso a solução é regar o monte quando for necessário para favorecer a formação de húmus. Não é conveniente exceder a temperatura de 60ºC.-70ºC. porque para o tipo de microrganismos termófilos que trabalha não é o adequado. Para evitá-lo aconselha-se que se regue o monte. O material que se degrada mais facilmente vai sendo metabolizado e a velocidade de reacção vai diminuindo. O monte perde mais calor do que gera produzindo-se um decréscimo da Temp. Se a temperatura não sobe rapidamente ao principio produz-se uma queda brusca (2 - 3 semanas) é indicativo de que o processo não se está a realizar de forma correcta. Depois da fase de fermentação produz-se, mais lentamente, a fase de humificação ou de maduração do composto. Durante esta fase aparecem numerosos grupos de microoganismos que são os encarregados de transformar as substâncias em húmus e que serão também fornecidos ao solo quando este se utilize:

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4.3.2. Compostado em superfície. Consiste em fazer o mesmo mas directamente no campo, formando uma capa de matéria orgânica aproveitando os restos de colheitas anteriores, restos vegetais que existem no solo, restos procedentes de despojos das plantas que se encontram nas imediações da propriedade e inclusivamente, esterco. Este trabalho deve ser realizado no Outono, ao fim de 10-15 dias passa-se a grade superficialmente (8-10 cm.) para o semienterrar e acelerar a decomposição. 4.4. A técnica de adubos verdes. As necessidades de matéria orgânica podem ser satisfeitas não só com o fornecimento de esterco, há também outras fontes de matéria orgânica e outros métodos de trabalho para a conseguir; uma dessas fontes é precisamente a utilização de adubos verdes. Estas são culturas que se semeiam para ser cortados e incorporados no solo no mesmo lugar em que se produziram. O seu ciclo termina quando as plantas chegam à floração que coincide com o momento no qual a planta é mais rica em elementos nutritivos. Costumam utilizar-se em associação com uma cultura principal ou como cultura intercalar entre duas culturas principais.

O seu uso tem uma serie de vantagens: Limitam a invasão de ervas daninhas ao manter o solo ocupado. Aumentam a fertilidade dos agrossistemas ao fornecer matéria orgânica e activar a vida dos microrganismos. Evitam a lavagem dos elementos nutritivos que são fixados pelas plantas. As suas raízes melhoram a estrutura do solo. Protegem o solo da erosão. Se são leguminosas enriquecem o solo em nitrogénio. Estimulam a microflora mineralizadora do solo que irá decompor a matéria orgânica. Favorecem a nutrição das plantas da cultura seguinte. Melhoram a circulação da água e do ar no solo. Os objectivos que se pretendem com os adubos verdes em relação ao solo são vários: Aumentar a quantidade de nutrientes do solo. Melhorar as suas propriedades físicas. Aumentar a actividade microbiana. Tê-lo coberto durante uma época em que não há outra cultura.

Estes objectivos variam em função das características geográfico-climáticas da região, do sistema de trabalho aplicado e das seguintes culturas na rotação. Os adubos verdes podem ter também algumas limitações por exemplo, em culturas associadas, pode haver problemas de concorrência por causa do solo e dos nutrientes; podem ocasionar algum problema sobretudo se há escassez de água… Uma vez que se decidiu a utilização de um adubo verde é preciso eleger as plantas que se utilizarão.

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Em princípio é interessante escolher as plantas em função de: As condições do solo. As condições climatológicas e geográficas da zona. A duração do ciclo biológico da planta. O lugar que ocupa na rotação. As plantas que se utilizam frequentemente como adubos verdes pertencem fundamentalmente a três famílias: Leguminosas, são as mais utilizadas devido à sua capacidade de fixar nitrogénio atmosférico: trevos, ervilhaca, ervilhas, favas, luzerna, tremoceiro…. Crucíferas, costumam acompanhar as leguminosas, crescem rapidamente ainda que em solos pobres, mobilizam facilmente as reservas do solo e fornecem maior quantidade de hidratos de carbono: mostardeira, nabo forraginoso, colza, rabanete, couve…. Gramíneas, fornecem mais quantidade de celulose à mistura de plantas final: centeio, aveia, ray-grass. Uma vez semeado o adubo verde deixa-se até ao momento da floração; antes que esta se produza ceifa-se e em muitos casos pica-se e deixa-se sobre o chão durante uma a três semanas. Desta maneira as plantas começam a fermentar de forma aeróbia. Passado algum tempo realiza-se uma incorporação superficial nos primeiros cinco a dez centímetros do solo, desta forma estimula-se o processo de decomposição ao mesmo tempo que o crescimento dos microorganismos do solo. Uma semana mais tarde faz-se uma incorporação um pouco mais profunda nos dez a vinte centímetros do solo para que se acabe o processo de decomposição e as plantas do seguinte cultura possam ter acesso aos elementos nutritivos formados a partir do adubo verde. Devido à sua fraca relação C/N os adubos verdes decompõem-se rapidamente e não formam húmus mas têm uma acção fertilizante mais forte que outros fornecimentos de matéria orgânica. Os adubos verdes podem ser muito úteis em determinados momentos, por exemplo: -

Quando o terreno pendente fica desocupado para o proteger da erosão.

-

Quando é argiloso para melhorar a sua textura.

-

Quando a mineralização do húmus está bloqueada (como O adubo verde corta-se antes da floração consequência do frio excessivo, do excesso de carbonato cálcico no solo ou falta de actividade microbiana).

-

Antes de culturas com uma elevada carência em nutrientes.

Quando um dos fins que se pretende com o adubo verde é o controle de ervas daninhas podem utilizar-se algumas plantas específicas que ajudam a conseguir esse controle. Se se trata de uma invasão forte de ervas daninhas pode-se utilizar como adubo verde eficaz: a facelia, o trigo sarraceno. Se se trata de uma invasão de aveia louca, faz-se uma mistura que contenha aveia. Se predominam plantas de raiz semeia-se uma crucífera. Se se trata de combater a grama: realizam-se duas culturas seguidas de centeio.

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Algumas plantas interessantes para utilizar como adubo verde: Mostardeiras anuais

Crescem rapidamente e têm efeitos nematicidas.

Crucíferas

São plantas rústicas com poucas necessidades nutritivas e dão bem em condições de cultura difícil.

Colzas forraginosas anuais

Têm um crescimento rápido e ceifam-se assim que florescem.

Couves bianuais

Semeadas em forma densa impedem o crescimento das ervas daninhas.

forraginosas

Nabos forraginosos anuais

As suas raízes penetram no terreno profundamente. Podem ceifar-se várias vezes se for antes de florescer.

Saramago

Pode semear-se em terras pobres calcárias. Também é possível fazer vários cortes se realizados antes de florescer.

Em outras ocasiões acontece que é interessante não utilizar adubos verdes, por exemplo: -

Quando domina a mineralização sobre a humificação uma vez que com eles se favorece ainda mais a mineralização (solos arenosos e climas cálidos).

-

Com baixo nível de húmus no solo pela mesma razão que no caso anterior.

-

Em solos pouco profundos e quando já se utilizam outras matérias orgânicas facilmente assimiláveis (purinas, esterco fresco) ou práticas que favorecem a mineralização.

4.5. A técnica do acolchoado. O solo é um meio instável e convém protegê-lo. Para isso não se deve deixar desnudo em nenhum momento. Uma forma de protegê-lo é usar a técnica do acolchoado que, além disso, pode cumprir outras funções. O acolchoado consiste em cobrir o solo com material geralmente orgânico para: Proteger a terra e os microrganismos vivos dos rigores do clima: queimaduras do sol, chuva, variações bruscas de temperatura... Alimentar os microrganismos do solo uma vez que com o tempo termina por decompor-se e incorporar-se no solo. Evitar a excessiva evaporação do solo, melhorando as condições de humidade do mesmo. Controlar ervas daninhas: muitas asfixiam e não saem, pelo contrário outras podem sair mas arrancam-se muito facilmente porque saem debilitadas. Aumentar a quantidade de húmus e de elementos fertilizantes que dependerão do material que se utilize para acolchoar. Incrementar a actividade biológica com o aumento da população microbiana e da sua actividade.

O material que se pode empregar para realizar acolchoado é muito variado e depende da superfície a acolchoar e da disponibilidade de matéria-prima para o fazer. Alguns dos elementos mais utilizados para acolchoar são:

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Palha: é um dos materiais que mais se utiliza devido às suas qualidades ao melhorar o arejamento e a humidade e fornecer grande quantidade de húmus. Devido à sua lenta decomposição e à sua escassez em nitrogénio é conveniente acrescentar algo de adubo orgânico e humedecê-lo uma vez colocado. É ideal para acolchoar terras argilosas e para culturas cujos frutos apodreceriam ao cair na terra. Depois de se regar coloca-se o acolchoado

Os fetos devido às suas características têm uma forma de acção semelhante à palha, contudo, a sua decomposição é mais rápida. O Feno: é mais rico em nutrientes que a palha e é mais permeável ao ar e à água, mas tem o inconveniente de possuir sementes de ervas daninhas, nada recomendáveis, se for ceifado tarde. Os arbustos herbáceos e as folhas de hortaliças: têm qualidades intermédias entre a palha e a erva jovem. A erva jovem: tem propriedades opostas à palha. É preciso fornecê-la em quantidades adequadas porque se acrescentamos uma camada grossa então não circula bem o ar e se acrescentamos uma fina não protege bem. Este material é muito nutritivo para o solo e as plantas. Outros materiais para o acolchoado: as pedras, o cascalho e a areia, os adubos verdes, papéis procedentes de jornais (em branco e preto), os plásticos que juntamente com a palha são os mais utilizados devido à sua facilidade de manuseamento. Actualmente existem plásticos biodegradáveis o que está a impulsionar o seu uso uma vez que colocado vai-se degradando o solo e evitam-se trabalhos para o tirar e problemas de armazenamento. Quando se acolchoa com materiais secos e bastos a decomposição é mais lenta (palha, fetos, feno) é um tipo de acolchoado conveniente para terras pesadas com tendência para a asfixia e a compactação. Quando se utilizam materiais aquosos de decomposição rápida (erva jovem, folhas) é um tipo de acolchoado ideal para climas húmidos. Neste caso deve-se colocar uma camada fina, evitar a compactação e ao mesmo tempo que não impeça a passagem do ar. É um material que se deve renovar frequentemente. Acolchoado com palha

4.5.1. Outros aspectos do acolchoado. Se o material se tritura acelera-se a decomposição; quanto mais fino é o material que se utiliza mais rapidamente se decompõe. Não se tritura o material quando a função principal que se quer conseguir é a protecção do solo. A espessura da camada de acolchoado é variável dependendo do material que se utiliza, quanto mais leve, basto e arejado maior espessura.

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4.5.2. Quando e como se deve acolchoar. Normalmente o acolchoado realiza-se na Primavera quando a terra já está quente para favorecer o desenvolvimento da cultura e evitar assim o crescimento de ervas daninhas. Convém que o solo quando se acolchoa esteja livre de ervas daninhas, para isso realiza-se antes uma monda que permite arrebatá-las do solo. Dependendo do material utilizado será necessário renovar o acolchoado ou não. 4.6. A fertilização mineral. Embora, como se mencionou anteriormente, a base da fertilização em agricultura biológica seja a matéria orgânica não se deve pensar que a fertilização não é importante. Esta consiste em fornecer ao solo alguns elementos minerais que num determinado momento possam faltar. Para isso é preciso saber em primeiro lugar qual é a situação do solo no que se refere aos elementos minerais que vamos fornecer. Em função dessa determinação elegeremos os elementos e as quantidades de cada um que se devem fornecer. Por isso é recomendável fazer uma análise do solo que permita uma visão orientativa de qual é a sua situação. Uma vez que se conhecem as suas possíveis O material do acolchoado pode incorporar-se no solo com o carências realizam-se fornecimentos com elementos tempo minerais naturais. É preferível realizar os fornecimentos de forma gradual do que de uma só vez; assim consegue-se que os elementos possam ser absorvidos pelas plantas ou retidos no solo com maior facilidade. Ditos fornecimentos devem ser realizados, de forma geral, no Outono para culturas do ano seguinte. Também podem ser realizados na Primavera quando é preciso neutralizar uma carência mediante um fornecimento rapidamente assimilável e quando o solo é muito filtrante e o complexo argilo-húmico baixo. É preciso ter cuidado para não cair nos erros tradicionais em relação à fertilização mineral uma vez que partimos do princípio que se utiliza apenas em função das necessidades reais do solo. Deve evitar-se: Efectuar fornecimentos sem uma análise prévia e portanto sem conhecer a situação real do solo. Efectuar fornecimentos sistemáticos sem ter em conta se o solo ou as plantas necessitam deles. Não efectuar nenhum tipo de fornecimento pensando que não é necessário em agricultura biológica e que as carências minerais se vão corrigindo por si mesmas. Julgar que se podem substituir por completo os fornecimentos minerais por fornecimentos orgânicos. Pensar que pelo contrário os fornecimentos minerais constituem o essencial da fertilização e apoiar-se apenas neles ou convertê-los na base da fertilização do solo.

Há diferentes tipos de matérias naturais que são interessantes pelo seu conteúdo em elementos minerais e por isso podem ser utilizados em caso de necessidade. Umas são mais ricas num tipo de elemento e outras, pelo contrário, possuem vários elementos minerais interessantes para a fertilização.

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As algas: são vegetais marinhos que contêm, sobretudo, cálcio, magnésio e uma serie de oligoelementos proporcionados pela água marinha e a sua própria composição. Utilizam-se para favorecer o decréscimo da acidez do solo ou mantê-lo nuns níveis determinados. São ricas em N: 0,2-0,8%, P: 0,05-0,2%, K: 13%. A dose a utilizar dependerá da situação do solo e das condições geográfico-climáticas que influenciam no estado do mesmo. Um exemplo é o Lithothamne que é formado por restos de uma alga marinha rica em: CaO (42-47%) e MgO.(3-8%) Rochas siliciosas: São rochas muito comuns (granito, basalto, gneisse...) que se utilizam triturando-as até formar pó e que são ricas em elementos minerais e oligoelementos. As plantas que possuem um alto conteúdo de sílica são mais resistentes face aos ataques de fungos e outros parasitas, além disso, influenciam de forma positiva no aumento do aroma de frutas e verduras. As Fornecimento de elementos minerais doses, também neste caso, realizam-se em função das necessidades do solo e das necessidades das plantas, uma vez que sobre estas pode utilizar-se como sistema de controle da proliferação de fungos. Carbonatos e sulfatos de cálcio são importantes, sobretudo em solos ácidos nos quais pode haver baixo conteúdo ou carência de cálcio. Este elemento é importante no metabolismo da planta e se não há no solo deve fornecer-se. Além disso, cumpre também uma função importante na estabilização do complexo argilo-húmico. Costumam utilizar-se calcários triturados que têm uma riqueza média à volta de 48% Co3Ca. Também se podem usar as margas com uma riqueza um pouco inferior às anteriores 33% Co3Ca. Lá também estão a dolomia e o lithothamne com mais de 3% CaO.

Outras substâncias minerais utilizadas: Fosfatos naturais calcinados

Com um conteúdo entre 66 e 77% de fosfato tricálcico equivalente a 3033% P2O5 e 48-52% CAO.

Escórias Thomas.

Com uma riqueza em P2O5 entre 15 e 17%.

Sulfatos e cloreto de potássio.

- Sulfato de potassa com uma riqueza de 50% de K2O e de 18% de enxofre. - Patentkali: com uma riqueza de 28% de K2O, de 8% de magnésio, e de 18% de enxofre. - cloreto de potássio: uma riqueza de 60% de K2O.

Sulfatos e carbonatos de magnésio.

- Patentkali: com uma riqueza entre 8 e 10 % de magnésio. - Escórias Thomas: com uma riqueza entre 2 e 4% de MgO. - Calcário dolomítico: com uma riqueza entre 18 e 20% de MgO. - Calcário magnesiano: com uma riqueza entre 14 e 18% de MgO.

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Capítulo 5: Trabalho do solo. A preparação do solo mediante uma serie de trabalhos considera-se uma das técnicas básicas na agricultura. Deve-se ter em conta que o solo é um elemento do sistema que é preciso proteger porque é um sistema frágil e, portanto difícil de manter em equilíbrio, sobretudo ao princípio. Os trabalhos do solo incidem directamente sobre ele e por isso requerem, por um lado efectuá-los bem, no seu momento adequado e também ter muito claro qual é o objectivo que se quer alcançar com eles. A lavoura do solo tem uma grande importância no posterior desenvolvimento das culturas. Esta deve ser dirigida para proporcionar às plantas um meio no qual o desenvolvimento radicular seja adequado, mediante o arejamento, o amolecimento do solo e o controle das ervas daninhas. Alguns objectivos que se poderão alcançar com o trabalho do solo: Estimular a actividade biológica dos microrganismos. Se for efectuada correctamente potencia a actividade dos microrganismos para favorecer a cultura seguinte. Se for efectuada incorrectamente os microrganismos não se activam e inclusivamente as suas populações podem diminuir. Preparar o leito da sementeira de maneira que as plantas e os microrganismos do solo encontrem as condições mais adequadas para se desenvolverem com as quantidades necessárias de ar e de água. Controlar ervas daninhas muitas das quais são desenraizadas com esses trabalhos e algumas das suas sementes destruídas. Incorporação parcial dos resíduos de colheitas e restolhos nos primeiros centímetros do solo favorecendo a sua decomposição em condições de aerobiose.

O solo não se deve voltear

Corrigir a compactação sobretudo naqueles solos que são pesados e, portanto mais sensíveis à compactação. Num solo compactado os nutrientes movem-se mais lentamente e pode limitar a radicação das plantas, assim como provocar inundações que ocasionam problemas de asfixia radicular. Critérios básicos na hora de lavrar o solo: Respeitar as camadas ou horizontes do solo. Realizar o menor número de passagens possível. Que o solo reúna as condições necessárias para as realizar (tempero). Profundidade de trabalho adequada. Seguir as curvas de nível em terrenos com inclinação.

A).- Respeitar os horizontes do solo. Um solo bem constituído está estruturado numa serie de horizontes ou camadas. Quando se lavra devem-se respeitar esses horizontes, ou seja, o trabalho a realizar será arranhar a terra para favorecer o arejamento e a circulação da água, mas nunca se deve voltear.

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Se o solo é volteado misturam-se os horizontes e isso provoca uma serie de inconvenientes: Enterra-se profundamente a matéria orgânica ou os restolhos da colheita anterior acumulados na superfície com o qual se favorece a sua decomposição anaeróbia. Afasta-se das raízes das plantas os elementos nutritivos procedentes dessa matéria orgânica na seguinte colheita Obriga-se a planta a perfurar mais com as suas raízes para chegar ao alimento, gastando energias desnecessárias nessa tarefa. Os elementos minerais que se produziram são lavados (lixiviados) para baixo e, portanto perdem-se mais rapidamente que se estivessem situados na parte de cima do solo.

Os microrganismos encontram-se situados no solo cada um no seu habitat correspondente, de maneira que na zona mais superficial colocam-se os microrganismos aeróbios (necessitam de viver com ar) que são os mais interessantes porque trabalham com a matéria orgânica do solo. Na zona mais profunda situam-se os microrganismos anaeróbios (necessitam de viver sem ar). Quando se volteia o terreno o que se faz é mudar de lugar cada grupo de microrganismos, de forma que os aeróbios passam para as zonas mais profundas nas quais não há ar e os anaeróbios passam para a zona superficial onde há ar. Alteraram-se as condições de vida de cada grupo e isso significa que nenhum puderá trabalhar nem viver no novo habitat que lhes foi atribuído. Com o tempo voltarão a estabelecer-se de novo as respectivas populações, cada uma no seu sítio, mas Preparação do solo para a sementeira perdeu-se tempo e energia.

B).- Realizar o menor número de passagens possível. Quando se trabalha com maquinaria compacta-se o solo com o seu peso, de maneira que quanto mais vezes se passa, mais se compacta. Por isso nesta tarefa é preciso minimizar o número de passagens, com isso não só se melhora a estruturado solo como também se economiza energia não renovável.

C).- Que o solo reúna as condições necessárias. Quando o solo está demasiado húmido ou demasiado seco não se deve trabalhar porque se desestrutura mais facilmente. Para o trabalhar deve reunir as condições de humidade adequadas (tempero) e assim os trabalhos do solo são mais eficazes.

D).Profundidade adequada.

de

trabalho

A acção das condições climatológicas juntamente com a utilização de maquinaria pesada provoca uma Com o trabalho do solo a terra fica em perfeitas condições para a sementeira ou a plantação. desestruturação e uma compactação do solo agravados pela pouca actividade biológica que repare o dano estrutural. Para o evitar fala-se cada vez mais em reduzir a profundidade da

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lavra ou lavra mínima. Nos solos com lavra mínima a matéria orgânica e os microrganismos edáficos concentram-se na superfície e a actividade biológica multiplica-se, o que aumenta a porosidade e a estabilidade da superfície. Na agricultura biológica utilizam-se trabalhos superficiais porque se trabalha para aumentar a fertilidade do solo e não é necessário realizar trabalhos profundos. A parte mais interessante do solo é os primeiros 15-20 cm, de maneira que é a essa profundidade que nos interessa trabalhar o solo. Assim estimulam-se os microrganismos do solo, humifica-se a matéria orgânica nessa camada superficial e melhoram-se as condições nas quais se desenvolverão as raízes das plantas da cultura seguinte. Também se pode utilizar o sistema de trabalhos invertidos proposto por Jean Marie Roger no qual primeiro realizase um trabalho muito superficial e depois completa-se com outro um pouco mais profundo até chegar aos 15-20 cm.

E).- Seguir as curvas de nível. Sobretudo em terrenos com inclinação para evitar o deslizamento superficial e, portanto a erosão do solo produzida pela água durante a época das chuvas. Quando o terreno é pesado e plano e está no fundo de um vale pode haver problemas de inundações durante a época de chuvas. Para o evitar realiza-se um trabalho de drenagem que impede a retenção da água. 5.1. Métodos de lavoura. Os diferentes métodos de lavoura utilizam-se em função dos objectivos que se pretendem alcançar e, sobretudo da forma de entender a agricultura.

A).- Método clássico. Utiliza-se fundamentalmente na agricultura convencional. Neste método realiza-se primeiro um trabalho profundo normalmente volteando o terreno e enterrando, desta forma, tanto os restos de colheitas, como as ervas daninhas que se tenham germinado e o adubo. A esse trabalho seguem-se outros trabalhos mais superficiais para preparar o leito da sementeira. É um método que incide muito nas condições de vida do solo e também na sua capacidade para sofrer erosão.

É importante reduzir a profundidade da lavra

B).- Método de trabalhos invertidos (Jean Marie Roger). Com este método começa-se por realizar trabalhos superficiais e posteriormente trabalhos um pouco mais profundos. É possível prescindir do segundo trabalho quando se trabalha com solos secos ou com poucas ervas daninhas. Dá-se um grande espaço de tempo entre os distintos trabalhos para que a vida do solo se adapte às novas condições. Este método é menos agressivo que o anterior e, além disso, esgota a vegetação instalada (ervas daninhas) e permite que a vegetação se pre-humifique em superfície. A sementeira efectua-se quando há no solo grande actividade biológica.

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Nula

100%

Intensidade de lavoura Superfície coberta por resíduos

Frequente

0%

Relação entre a intensidade de lavoura e a cobertura do solo por restos de colheitas O solo bem trabalhado não se torna facilmente erosivo

C).- Lavoura de conservação. O solo sofre erosão cada vez mais rapidamente devido aos trabalhos muitas vezes inadequados que se realizam nele. Há uma corrente cada vez mais forte que aconselha a reduzir a profundidade da lavra e fala-se de lavra mínima ou reduzida. Com este método deixam-se no terreno os resíduos das colheitas anteriores o que permite proteger o solo das condições ambientais e conserva melhor a humidade. O mantimento de resíduos em superfície pode reduzir a erosão até 90%, aumenta a capacidade de infiltração da água no solo e reduz as oscilações bruscas da temperatura no terreno. Em todo o caso os trabalhos do solo vão-se restringindo.

Têm-se as seguintes possibilidades: Lavoura em leiras: lavram-se apenas as leiras de sementeira. Lavoura em sulco: lavra-se apenas o sulco de sementeira. Lavoura de cobertura: deixa-se uma parte de restos de colheita no solo. Lavoura mínima: Sementeira directa, faz-se o buraco para a semente.

D).- O método de não lavoura. Não indica que não se tenha que fazer nada, o que indica é que é preciso trabalhar de outra maneira para conseguir que o solo funcione. É o que acontece na natureza onde não existe a lavoura mecânica. É outra óptica diferente que se pode aplicar quando se trabalha de uma forma integrada com o sistema. Neste sistema aproveitam-se as próprias raízes das plantas das colheitas para trabalhar o terreno. Para isso utilizam-se plantas com diferentes sistemas radicais (mais compridos ou curtos, mais largos ou estreitos), que quando se recolhe a colheita se decompõem no solo deixando uma serie de canais pelos quais circulam a água e o ar.

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5.2. Acções de lavoura. Partindo de uma parcela na qual há restos de colheitas, adubo verde ou simplesmente abundante vegetação, o processo seria o seguinte: Triturar a vegetação. Gradar. Subsolar. Realizar camalhões. Tarefas de manutenção.

A).- Triturar a vegetação. Consiste em reduzir a vegetação em fragmentos pequenos para que seja mais facilmente incorporada no terreno e que a sua degradação seja mais rápida. Para isso a alfaia agrícola mais adequada é uma motorroçadora, quer seja accionada por um tractor quer seja manual, mas devendo vigiar a humidade do solo para não o compactar excessivamente com o tractor.

B).- Gradar. O objectivo que se pretende é incorporar superficialmente no solo os restos triturados com o trabalho anterior. Se a climatologia o permite é interessante que decorra algum tempo (15 dias) entre um trabalho e outro para que a vegetação perca algo de humidade e dê início ao processo de decomposição, sobretudo se é feito uma compostagem em superfície. Este primeiro trabalho realiza-se superficialmente (uns 10 cm) e cruzado para conseguir um melhor esfarelamento do terreno. Continua-se com os trabalhos aumentando a profundidade progressivamente (10-15 cm de cada vez) até chegar à profundidade e esfarelamentos desejados, realizando sempre trabalhos cruzados para um melhor esfarelamento, facilitar uma melhor drenagem e romper as superfícies compactadas, que se formam com os sucessivos trabalhos e alfaias agrícolas.

C).- Subsolar. Num solo que se lavra habitualmente, com o tempo, costuma aparecer justamente debaixo da profundidade de lavoura uma camada de terreno muito compactada chamada superfície compactada que impede o desenvolvimento da raiz em profundidade e, em determinadas ocasiões, pode reter água encharcando o solo e produzindo asfixia radicular. Para o evitar costuma-se trabalhar o subsolo. O subsolador Preparação de sucalcos rompe essa barreira formada pela superfície compactada e favorece a circulação da água e o arejamento em profundidade sem voltear o terreno, favorece o desenvolvimento das raízes e estimula a actividade dos microrganismos do solo. Trata-se de um trabalho profundo (60-100 cm) com o qual se pretende favorecer a drenagem e o arejamento do solo. Em geral os solos compactos e que tenham sido reiteradamente trabalhados com arado de aiveca necessitam deste trabalho. Uma boa altura para o realizar é entre a primeira e a segunda

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passagem de grade uma vez que a ausência de vegetação facilita o trabalho, e com as posteriores passagens acondiciona-se o leito da sementeira.

D).- Realizar camalhões. Normalmente utiliza-se um cultivador para realizar os camalhões com as medidas desejadas. Existem muitos tipos e tamanhos de relhas com as quais se podem fazer. Inclusivamente se o que se quer é fazer socalcos, são, também, de grande utilidade visto que praticamente se podem realizar, combinando os diferentes tipos de relhas. E).- Tarefas de manutenção. Destinam-se ao controle de adventícias e para manter a porosidade do terreno. Para o controle de adventícias não é necessário trabalhar a uma grande profundidade, não se pode esquecer que as raízes destas são um aliado importante para manter a porosidade do solo: por outro lado, sempre que a cultura seja o claro dominador, mantêm a humidade, servem de hospedagem aos depredadores naturais e protegem o solo das inclemências atmosféricas. Quando o que faz falta é amolecer o terreno é preciso ter cuidado com as raízes das plantas, uma vez que trabalhos profundos rompem muitos pelos absorventes das raízes criando desequilíbrios com a parte aérea.

O solo é algo vivo logo todas as intervenções nele vão ter uma resposta. O trabalho consiste em conseguir os objectivos desejados, alterando o menos possível a vida normal do solo, para isso deve-se considerar o seguinte: Trabalhar sempre com a terra em tempero. Utilizar sempre que se possa alfaias agrícolas verticais que não volteiem o terreno. Não realizar mais trabalhos que os necessários, o excessivo esfarelamento dos terrenos facilita o compactamento e a formação de crostas que impedem um bom arejamento e circulação da água. Conseguir a profundidade necessária escalonadamente para que os microrganismos do solo possam ir-se adaptando às novas condições e evitar a formação de torrões grandes difíceis de esmiuçar. Utilizar a maquinaria adequada para evitar ao máximo a compactação devido ao seu peso. Procurar não ocasionar movimentos de terra com as alfaias agrícolas para evitar deixar zonas sem solo fértil. Deixar passar sempre o tempo necessário entre cada trabalho. Nos períodos de reconversão devem decorrer à volta de dois meses entre o começo dos trabalhos e a sementeira.

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Capítulo 6: A água e a rega. A água é um dos factores mais importantes da produção agrícola. Supõe aproximadamente 70% das plantas vivas não lenhosas e está implicada no metabolismo da planta fundamentalmente na fotossíntese, na respiração e no transporte dos elementos nutritivos dentro dela. O ciclo hidrológico é o movimento da água através dos ecossistemas e dos diferentes meios da terra. A água evapora-se dos oceanos, dos rios, dos lagos e por transpiração das plantas. Uma vez evaporada condensa-se formando as nuvens que se movem como consequência dos ventos e quando se esfriam a água cai em forma de precipitações. Aproximadamente 10% das precipitações caem sobre a terra, o resto é no mar.

Ciclo hidrológico Fonte: L.E. Powers, R. McSorley 2000

Da água que cai na terra há uma parte que fica retida no solo dependendo da sua textura e da sua estrutura. Outra parte é absorvida directamente pelas plantas. O resto da água evapora-se ou infiltra-se no solo. A água que as plantas utilizam faz parte da reserva do solo que se chama água útil e a maior parte penetra nelas através das raízes e uma pequena parte através dos estomas das folhas. Nesta água que penetra pelas raízes encontram-se dissolvidos os elementos minerais necessários para a sua alimentação. Uma parte dessa água une-se ao CO2 absorvido pelas folhas na fotossíntese para formar os compostos orgânicos que se encontram na seiva elaborada. Outra parte entra a fazer parte dos tecidos da planta. Outra parte importante (98%) sai da planta através dos estomas em forma de transpiração. A transpiração é um processo importante da planta através da qual é favorecida a circulação da seiva bruta dentro da planta e, além disso, serve para regular a temperatura tanto do excesso de calor como do frio. A chuva é o principal fornecedor de água ao solo. Quando chove o solo armazena parte dessa água em maior ou menor quantidade dependendo da sua textura e da sua estrutura. Armazena-se nos pequenos poros do solo. Outra parte infiltra-se através do solo. A permeabilidade do solo é a capacidade que este tem para deixar passar a água através dele. Se a quantidade de água que cai é superior à que o solo pode reter e à sua capacidade de infiltração parte dessa água correrá pela superfície (enxurrada) podendo ocasionar fenómenos de erosão, sobretudo dos terrenos que se encontram inclinados. Em função da capacidade de água que o solo pode conter pode-se falar de solo saturado quando a água desloca o ar ocupando todos os seus poros. Esse solo não admite mais água e se persiste nesse estado muito tempo pode ocasionar problemas de asfixia radicular. Fala-se de capacidade de campo quando a água que satura o solo se vai infiltrando por gravidade (drenagem) e no solo a água fica retida nos poros pequenos e o ar nos poros grandes. O ponto de murchidão produz-se quando a água vai desaparecendo dos poros pequenos absorvida pelas plantas ou evaporada de maneira que as plantas já não têm possibilidades de abastecer as suas necessidades hídricas.

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Há uma serie de factores que condicionam a quantidade de retenção de água no solo: Textura: Solos de textura fina armazenam maior quantidade de água que os de textura grossa. Estrutura: O maior conteúdo de poros facilita a retenção de água no solo. Matéria orgânica: Tem elevada porosidade que permite reter bem a água. Espessura da superfície do solo explorado pelas raízes. Perfil do solo: Dependendo da espessura dos diferentes horizontes. Forças que retêm a água no solo: Aderência: Atracção entre as partículas sólidas e as líquidas. Coesão: Atracção das moléculas de água entre si. Forças que reduzem a quantidade de água no solo: A gravidade: que ajuda a que a água se infiltre mais no solo até chegar às camadas profundas e/ou aos aquíferos. A capilaridade: produz-se como consequência dos micro canais do solo pelos quais a água ascende e perde-se por evaporação. Ósmose: processo através do qual parte da água do solo penetra no interior das plantas.

O conteúdo em água do solo exerce uma influência sobre a velocidade de trabalho das plantas, no transporte dos elementos nutritivos absorvidos pelas raízes e sobre a abertura e fechamento dos estomas. A redução do rendimento por falta de água é variável para cada cultura e depende também do estado vegetativo em que a planta se encontre. A falta de água em Em algumas zonas é muito útil construir balsas para reter a água determinados períodos provoca problemas de stress hídrico e pode causar danos irreparáveis na planta. No solo produz-se falta de água quando a quantidade de água útil é menor que a quantidade que se perde por evaporação ou por lixiviação. Nessas condições é preciso pensar em utilizar a rega para realizar o fornecimento de água necessária.

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A rega que é tão necessária em determinadas circunstâncias ou em determinados lugares tem também alguns efeitos negativos: Descida do nível da capa freática quando se retira muita água para regar. Salinação da camada freática ou dos aquíferos quando se utilizam adubos muito solúveis ou se extrai muita água e os sais que ficam no solo encontram-se mais concentrados. Lavagem dos elementos nutritivos do solo se se realiza em excesso. Aumento das pragas e das doenças como consequência do ambiente de humidade que se forma em redor das plantas regadas.

Isto indica que se deve utilizar a água tendo em conta as necessidades das plantas e as condições do solo para evitar que tanto o excesso como a falta de água possa provocar problemas no solo e nas culturas. Para utilizar correctamente a água e aproveitá-la ao máximo deve-se ter muito claro tanto o sistema de rega que se vai aplicar como o sistema de manuseio do solo e das culturas. Pode-se falar de uma serie de medidas para utilizar mais eficientemente a água e minimizar a sua escassez: Aumentar a infiltração de água da chuva ou rega limitando a enxurrada. Organização das parcelas em terraços se há muita inclinação. Respeitar as curvas de nível, sobretudo em terrenos com inclinação. Evitar que se forme no solo uma crosta superficial que impede a infiltração e favorece a enxurrada. Ter o solo coberto a maior parte do tempo possível com um acolchoado ou um adubo verde. Utilizar de vez em quando plantas de enraizamento profundo. O uso de alfaias agrícolas verticais que não formam superfícies compactas. Utilizar sistemas de rega de baixo consumo. Fornecer a água no momento oportuno e na quantidade necessária. Manuseio adequado da rega tanto do transporte de água até à parcela como a eficiência na aplicação através do sistema de rega elegido. Nivelação correcta das parcelas. Não regar quando há um excesso de vento. Refrear as perdas de água útil mediante trabalhos do solo ou a utilização de sebes ou corta-ventos.

Quando se rega é preciso ter em conta alguns aspectos. Um deles é a inclinação que, se é acentuada (>3%), pode provocar processos erosivos por enxurrada; em solos arenosos haverá problemas de lixiviado; em solos salinos podem ser provocados problemas de fitotoxidade para as plantas por acumulação de sais na parte superficial do solo. Quando se rega aumenta-se a actividade biológica do solo e, portanto, aumenta a taxa de mineralização. Também é conveniente que a água reúna condições de qualidade (que não contenha substâncias químicas contaminantes ou elementos pesados). Quando se fala dos sistemas de rega referimo-nos à forma de distribuir a água sobre o solo.

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Superficial.

A manta por deslizamento.

A manta por imersão. TIPOS DE REGA Por sulcos (imersão lateral).

Por aspersão.

Gota a gota.

A).- Rega superficial. Neste tipo de rega deita-se a água que vai das zonas mais altas do terreno às mais baixas procurando que a distribuição da água seja o mais uniforme possível. Pode ser feita de duas formas: a manta ou por sulcos.

B).- Rega a manta por deslizamento. A água corre pela superfície por deslizamento formando-se uma película de água na superfície. É preciso ter muito cuidado com os terrenos que estão inclinados porque pode provocar-se danos por erosão do solo.

C).- Rega a manta por imersão. Produz-se uma inundação temporal. Neste caso a inclinação do solo tem que ser ligeira (<1%), podem-se produzir fenómenos de asfixia radicular temporal, o solo perde permeabilidade e como no caso anterior ao molhar-se toda a superfície favorece-se o aparecimento de ervas daninhas.

Rega por sulcos

D).- Rega por sulcos (imersão lateral). Faz-se através de sulcos nos quais a água infiltra-se lateralmente e ascende ao camalhão por capilaridade. É importante neste sistema a inclinação do terreno (< 20%) e a longitude dos sulcos em função da permeabilidade do solo. Quanto mais permeável for o solo mais curtos devem ser os sulcos. Adapta-se muito bem às culturas em linha.

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Este sistema tem uma serie de vantagens sobre os anteriores: A compactação do solo produz-se apenas no fundo dos sulcos. Ao não se molhar as folhas de base há menos riscos de doenças. Gastos de instalação muito reduzidos. Economiza-se mais quantidade de água. Este sistema tem uma serie de inconvenientes: Ao longo dos sulcos há uma distribuição irregular de água. Quando a água transborda os camalhões as plantas ficam danificadas. Produz-se erosão e arrasto para as zonas mais baixas. Podem produzir-se encharcamentos.

E).- Rega por aspersão. A água distribui-se em forma de gotas como a chuva que sai pelos aspersores e rega uma porção de terra em seu redor. Economiza-se à volta de 50% de água e é um sistema muito utilizado, sobretudo para grandes superfícies.

Este sistema tem alguns inconvenientes: O custo de instalação é elevado. Os sistemas móveis produzem compactação de terreno. Quando há vento a distribuição da água não é uniforme. Ao aumentar o grau de humidade foliar há mais possibilidades de desenvolvimento de doenças. Também há um aumento de ervas daninhas.

Rega por aspersão

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Este sistema tem uma série de vantagens: Adapta-se a toda a classe de culturas. O terreno não necessita de nenhuma preparação prévia. Não há movimentos de terra. Economiza-se água e mão-de-obra. As culturas podem-se mecanizar. Evita-se a lavagem de elementos nutritivos para a planta. Pode utilizar-se como recurso de luta contra as geadas. F).- Rega gota a gota. Com este tipo de rega pode-se economizar muita água e por isso está a ser imposta em muitos lugares. Consegue-se um fornecimento de água mais constante evitando facilmente os problemas de stress hídrico. Pode-se administrar à planta a quantidade exacta que necessita em cada momento. Também se evapora muito pouca água. Uma instalação de rega gota a gota consta dos seguintes elementos: uma cabeça de rega, uma rede de distribuição e os bocais para o gota a gota ou conta-gotas. O custo da instalação é grande. As raízes concentram-se, sobretudo, nas zonas húmidas em redor dos conta-gotas. O intervalo e a duração das regas depende das condições do solo, ambientais e do ciclo da planta. É boa para os invernadouros porque o aumento da humidade ambiental é menor que Nas áreas com carência de água é muito importante economizá-la com outros tipos de rega. Em agricultura biológica utiliza-se bastante a mangueira exsudante na qual uma mangueira que está cheia de poros pelos quais sai a água em toda a sua longitude. Produz uma mancha contínua de humidade em redor da mangueira. Costuma ser colocada entre duas filas da cultura, de maneira que favorece a formação de raízes numa área mais extensa que quando se trata de conta-gotas. Neste caso a instalação não necessita de mais nada a não ser a rede de distribuição. Em todos os casos é necessário fornecer um caudal concreto de água. Para isso costuma-se utilizar as acéquias ou, onde não é possível, os poços e as balsas de rega que permitem armazenar a água para empregá-la quando seja necessária. Rega por mangueira exsudante

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Capítulo 7: Associação de culturas. Em agricultura biológica a diversidade é um aspecto importante da cultura. Esta diversidade contribui para o equilíbrio do sistema e contribui mais quanto maior for a diversidade. Normalmente os agrossistemas não costumam ser tão variados como os ecossistemas naturais, mas podem introduzir-se neles factores de diversidade utilizando, por exemplo, as associações de culturas. Existem numerosos estudos que demonstram que se obtêm maiores rendimentos associando culturas que em monoculturas devido à acção conjunta de uma serie de factores. É uma técnica na qual duas ou mais espécies de vegetais se plantam com suficiente proximidade espacial para obter como resultado uma concorrência intraespecifica, interespecífica e/ou complementação. Associar culturas tem as suas vantagens e inconvenientes. Vantagens: Maior aproveitamento do solo e da água. Maior protecção do solo e menos erosão. Aproveitamento do microclima que se cria. Redução de riscos de má colheita. Sinergias na nutrição. Melhorias na qualidade das produções. Menos problemas de ervas daninhas. Menos problemas de parasitas. Aumento do rendimento por hectare. Pode aumentar a qualidade, o aroma e o sabor de algumas culturas. Inconvenientes Problemas com associações desfavoráveis. Interacção negativa por segregações alelopáticas.

As plantas competem pela água, a luz, os nutrientes ou o espaço. Podem ser estabelecidas concorrências intraespecíficas entre plantas da mesma espécie ou concorrências interespecíficas entre plantas de espécies diferentes. A concorrência intraespecífica costuma ser forte uma vez que as plantas têm os mesmos requerimentos físicos, químicos e biológicos. O grau de concorrência que se estabelece depende dos recursos. Para isso é importante ter em conta os espaços entre as plantas. Utilizar marcos de plantação mais pequenos pode dar como resultado maior quantidade de plantas, mas menor quantidade dos produtos. A concorrência interespecífica será mais ou menos forte dependendo dos recursos pelos quais se compete e a sua disponibilidade. Consequências dessa concorrência são a diminuição do ritmo de crescimento e produtividade de uma das plantas que entram em concorrência e redução da qualidade de uma das colheitas. As associações de culturas têm mais vantagens que inconvenientes

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Em função da concorrência teremos os seguintes tipos de culturas Comensalística: Uma espécie sai beneficiada e a outra é indiferente. Amensalística: Uma espécie sai prejudicada e a outra é indiferente. Monopolística: Uma espécie sai beneficiada e a outra prejudicada. Inibitórias: as duas espécies prejudicam-se Em alguns casos a concorrência não está associada ao meio nem às condições físico químicas, mas sim a uma serie de substâncias químicas produzidas pelas plantas e que se chamam substâncias alelopáticas. As substâncias alelopáticas: são produtos químicos fabricados pelas plantas e os microrganismos do solo, para estabelecer relações de favorecimento ou concorrência entre eles. As plantas sintetizam distintos tipos de alelosubstâncias: Autotóxicas para evitar concorrências entre plantas da mesma espécie. Dirigidas a outras plantas para evitar ou favorecer o seu desenvolvimento. Dirigidas a fungos, para evitar ou favorecer o seu desenvolvimento. Dirigidas a bactérias, para evitar ou favorecer o seu desenvolvimento. Preparar o meio para a germinação das próprias sementes. Em alguns casos existe um favorecimento das plantas nas associações, como consequência das suas relações alelopáticas. Nas plantas aromáticas há numerosos compostos voláteis com propriedades alelopáticas. Estas substâncias podem ajudar a planta com a qual se associam e então diz-se que a associação é boa ou pelo contrário podem inibir o desenvolvimento da planta associada e nesse caso dizse que é uma má associação. Formas de acção das alelosubstâncias vegetais.: Acção inibidora sobre outros vegetais. Interfere no nascimento e no crescimento de diversos vegetais. São substâncias muito específicas. Os possíveis mecanismos de acção destas substâncias são: sobre as hormonas vegetais ou sobre as membranas (celulares, mitocondriais, etc.), alterando as suas funções. Observam-se três possíveis casos de acção sobre os microrganismos: que as substâncias afectem apenas os microrganismos; que afectem unicamente as plantas; ou que afectem ambos. Por exemplo, os extractos aquosos de alho, Allium vulgare, têm acção antifúngica, mas não têm acção alelopática sobre as outras plantas. Pelo contrário os extractos procedentes da Hortelã pimenta demonstraram um forte efeito inibidor da germinação e crescimento da planta da alface. A especificidade da acção alelopática, que se observa por parte de muitos vegetais em direcção a outros, é fruto da evolução conjunta de organismos que competem pelos mesmos recursos. Com frequência se viu esta especificidade de acção nas comunidades arbustivas perante a implantação de árvores. Associar plantas tem como objectivo principal tirar um maior rendimento económico das colheitas e aproveitar em todo o caso os efeitos benéficos de umas plantas sobre outras. Quando é traçada uma associação é preciso ter em conta as plantas que se

Podem associar-se plantas com diferentes requerimentos nutritivos

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pretendem associar e as características da zona na qual se vão colocar, porque nem sempre as associações que funcionam bem num lugar o fazem igualmente noutro diferente. que tenham diferentes requerimentos nutritivos.

com diferentes sistemas radiculares.

CRITÉRIOS PARA A ASSOCIAÇÃO DE PLANTAS

com diferentes portes (vertical/horizontal).

7.1. Diver sos tipos de asso ciaçõ es.

A part icip açã que coincidam na época de sementeira. o das legu que permitam a mecanização do sistema. min osas tanto nos adubos verdes como nas associações tem o seu interesse porque estas são capazes de fixar o nitrogénio atmosférico parte do qual passa ao solo e pode ser aproveitado por outras plantas. com diferentes ritmos de crescimento (rápido/lento).

Uma associação clássica é a que reúne as gramíneas + leguminosas e se utiliza muito para a implantação de pradarias e pastos, como adubo verde e em horticultura Outra possibilidade é a associação de hortaliças com diferentes velocidades de crescimento: rabanete-cenoura, alface-cenoura, nabo-cenoura, rabanete-alface-cenoura, couve-alface, alho-francêscebola, batatas-cenoura, ervilhaca-aveia. TABELAS DE ASSOCIAÇÕES Leguminosas com quase todas as famílias, excepto com o alho e a cebola. Pomares com: abóbora, trevo, cenoura e no verão com acelga, alface e espinafre. Alface – borragem - cardo: vão muito bem devido ao regime de regas. Chirivia - escarola: distintos sistemas radiculares.

Espinafre de primavera - aipo. Cebola morango.

Feijão de enramamento – pepino.

Cenoura – cebola.

Cenoura - alho-francês: repelem a mosca.

Borragem - cardo.

Milho com quase tudo.

Tomate - cebola.

Ervilha - alface.

Feijão – beterraba - manjericão

Aipo - alho-francês

alface – rabanete – couve-rabanete

Cenoura – alface - alho-francês.

Tomate - salsa

ASSOCIAÇÕES A EVITAR Alface – salsa, aipo, couve

Funcho - tomate

Feijão - cebola

Couve – cebola, alho, outras couves

Tomate - ervilha

Feijão - ervilha

Batata – girassol, tomate

Pepino – rabanete, abóbora

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Alho – couve e feijões verdes

feijão verde – cebolinha, funcho, alho-francês

Cabacinha – pepino, batatas

Couve-flor – couve, cebola, batata

Ervilhas – cebola, alho-francês, tomate, pimentos

Tomate – funcho, ervilhas, beterraba

Pimento – beterraba vermelha, funcho, ervilha

Cenoura - menta

Planta

Associação e efeito

Manjericão

Tomate (melhora o crescimento e o sabor); não lhe agrada a arruda; afasta moscas e mosquitos.

Segurelha

Afugenta os pulgões dos feijões verdes.

Alho

Roseira e framboeseiro (afasta o gorgulho japonês). Com plantas aromáticas, aumenta a sua produção de essência. Afugenta as formigas. Afasta os roedores.

Agrião

Apenas o tomate e os morangos resistem no terreno onde se cultivaram agriões.

Borragem

Tomate, abóboras, morangos. Afugenta a lagarta do tomate, melhora o crescimento e o sabor, atrai as abelhas. Defende as couves das lagartas.

Capuchinha

Tomate, rabanete, couve, pepino, debaixo das árvores frutíferas. Afasta os pulgões e os inimigos das abóboras. Estimula o crescimento e o sabor.

Cebola

Beterraba, framboeseiro, tomate, alface (protege-os da lesma), feijão (protege-o das formigas), segurelha de jardim. Afugenta a mosca da cenoura.

Couves

Batata, aipo, endro, macela, salva, tomilho, hortelã, poejo, alecrim, alfazema, beterraba, cebola. As plantas aromáticas afastam as lagartas da couve.

Estragão

Bom em todas as partes da horta.

Morangueiros

Feijão anão, espinafre, borragem, alface (nas margens)

Feijão de enramamento

Batata, cenoura, pepino, couve-flor, segurelha de jardim, a maioria das hortaliças e plantas aromáticas.

Feijão anão

Girassol (pela sombra), pepino (combinação de plantas vorazes milho, aipo, segurelha de jardim.

Macela

Couves e cebolas. Estimula o crescimento e sabor.

Calêndula

Ajuda o tomate, mas também deve ser plantada em outras partes da horta. Afugenta o criocero do espargo, a lagarta do tomate e outros inimigos da horta. É um bom nematicida.

Hortelã

Grupo das couves, tomate. Afasta o marnestra brassicae da couve e as formigas.

Batata

Rabanete silvestre, feijão, milho, couve, cravos do defunto, feijão de lima, beringela (como armadilha para a pulga negra da batata).

Pepino

Feijão, milho, ervilha, rabanete, girassol.

Petúnia

Protege os feijões. Beneficia toda a horta.

Alho-francês

Cebola, aipo, cenoura.

Rabanete

Ervilha, capuchinha, alface, pepino, Um ajudante geral para afastar os insectos.

Alecrim

Cenoura, feijão, couve, salva. Afasta o marnestra brassicae da couve, o gorgulho das favas e a mosca da cenoura.

Salva

Alecrim, cenoura, couve, ervilha, feijão. Afasta certos insectos.

pouco vorazes), batata,

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Cravo defunto

do O melhor afugentador de inimigos. Mantém o solo sem nematóidos. Plantá-lo em toda a horta.

Tomate

Cebolinho, cebola, salsa, espargo, cravo do defunto, capuchinha, cenoura, feijão de lima. Em qualquer lugar da horta.

Valeriana

Boa em qualquer lugar da horta.

Cenoura

Ervilha, alface, cebolinho, cebola, alho-francês, alecrim, salva, tomate

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Capítulo 8: Rotação de culturas. 8.1. A rotação na reconversão. Para equilibrar o sistema agrícola é necessário aumentar o grau de diversidade no tempo e isso consegue-se traçando um sistema no qual intervenham diferentes culturas que se vão sucedendo umas às outras, evitando a monocultura. A utilização de rotações, a partir do período de reconversão, é uma necessidade para transformar a propriedade em produção biológica. Traçar bem uma rotação implica ter um conhecimento profundo das características geográfico-climáticas da zona, da composição e estrutura do solo assim como das diversas culturas que se podem aplicar e a sua possível sucessão cronológica. Além disso, tem como finalidade um conjunto de melhorias dentro da propriedade ou da parcela. Utilização mais racional do solo. Aumentar a diversidade do sistema. A utilização de adubos verdes. Uma forma de controlar os problemas de pragas e doenças. Uma maneira de estabelecer o controle de ervas daninhas.

Isto exige uma planificação das culturas para elaborar uma rotação adaptada às características do solo, às necessidades do produtor e atender de passagem as necessidades de fertilização do solo. Os critérios gerais que se seguem são: Evitar repetir uma mesma cultura em anos sucessivos. Utilização de plantas leguminosas como cabeça da rotação sempre que seja possível ou também utilizálas dentro da rotação como cultura principal ou como cultura associada. Alternar plantas de diferentes espécies botânicas que tenham diferentes necessidades nutritivas e com distintos problemas fitosanitarios. Trata-se de ter uma concepção integral da propriedade para conseguir, não só a melhoria agronómica da mesma e um maior grau de auto-suficiência, mas também, o principio no qual se baseia a sua rentabilidade económica utilizando plantas que tenham uma importante demanda no mercado e uma produção suficientemente variada que permita um menor risco económico.

8.2. A técnica da rotação. As rotações de culturas foram a base tradicional da agricultura europeia durante muitos séculos. Com o surgimento das novas técnicas aplicadas à agricultura: pesticidas, herbicidas, adubos solúveis...que solucionam muitos problemas a curto prazo, foi-se abandonando uma prática, a rotação, que resolvia muitos problemas. As dificuldades que a monocultura ocasiona a nível mundial são muito grandes apesar do uso das novas tecnologias. A policultura, pelo contrário, resolveria grande parte desses problemas.

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A rotação deve ocupar um lugar preferencial quando se realiza a planificação. Ainda mais a rentabilidade económica da propriedade vai estar ligada ao desenho da rotação das culturas. Se a rotação é adequada pode-se dizer que o benefício económico está assegurado e se não é provavelmente também não haverá benefício. Podemos definir a rotação como a sucessão de distintas culturas sobre uma mesma parcela durante um tempo concreto. A alternativa é o conjunto de culturas que intervêm na rotação a um dado momento e na sua distribuição espacial. Folha ou leira é cada uma das parcelas em que se divide a superfície da propriedade e que se dedica a uma cultura diferente da rotação. Cabeça da alternativa: são as primeiras culturas da rotação, por serem as mais exigentes ou as mais delicadas. Cultura intercalar: cultura de curta duração situada entre duas consideradas como principais. Com a utilização de rotações evita-se em grande medida a fadiga e a perda de fertilidade do solo, de maneira que as culturas que Desenhar bem uma rotação é também muito importante do ponto de vista económico crescem numa rotação dão maior produção que aquelas que se semeiam sempre no mesmo terreno porque, no primeiro caso, a nutrição é mais equilibrada e não se produzem deficiências de nutrientes. As culturas desenvolvidas na rotação alcançam uma maior resistência natural ao ataque de pragas e doenças. Na rotação nem todas as culturas se comportam de maneira igual. Há culturas que contribuem para manter o nível de nutrientes e a matéria orgânica do solo porque fornecem mais matéria orgânica do que gastam, outras não fazem nenhum tipo de contribuição (neutros) e outras gastam mais do que fornecem (exigentes) e tendem a terminar com as reservas do solo. Algumas vantagens das rotações: Melhora as reservas de húmus e o melhor aproveitamento dos elementos nutritivos. Estimula a actividade dos microrganismos do solo. Limita o desenvolvimento de adventícias, parasitas e doenças. Favorece a diversidade e o equilíbrio do sistema. Permite a possibilidade de alternar culturas exigentes e não exigentes.

As culturas extensíveis principais ocupam toda a temporada. As culturas secundárias: ocupam períodos entre duas culturas principais. É sempre interessante introduzir leguminosas anuais ou de vários anos. Começar a rotação se for possível com uma pradaria multi-específica que ajuda a melhorar a estrutura do solo. Os cereais não se cultivam mais de 2 anos seguidos no mesmo sítio. A regra básica de uma boa rotação hortícola é não cultivar sucessivamente numa mesma parcela culturas que tenham as mesmas necessidades e/ou os mesmos inimigos, portanto, não se colocam seguidas culturas da mesma espécie, nem duas espécies da mesma família. Também não se costumam colocar duas espécies do mesmo modo vegetativo: raiz, folha, flor ou fruto.

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8.3. Rotações, ervas daninhas, pragas e doenças. Em agricultura biológica as rotações são um dos meios mais importantes dos que se dispõe para o controle de ervas daninhas, pragas e doenças. Há culturas que devido à sua velocidade de crescimento, à competição, ou às interacções alelopáticas têm uma acção sufocante sobre as ervas daninhas. Ao contrário outras culturas têm menos capacidade de competir com êxito. A rotação permite alternar estes tipos de culturas para que o efeito global seja minimizar os problemas das ervas daninhas conseguindo que nenhuma domine. Algo semelhante acontece com as pragas e doenças, ao alternar culturas sensíveis e culturas não sensíveis os parasitas não podem completar os seus ciclos biológicos e têm que procurar outros lugares nos quais o possam fazer. Desta maneira pode-se reduzir a incidência de pragas e doenças. As rotações promovem diversidade e esta por sua vez influência de forma determinante no equilíbrio do sistema. Isto dá origem a um maior controle das ervas daninhas e de patogénicos. As culturas mistas e as policulturas proporcionam também elementos de diversidade. As policulturas costumam empregar-se normalmente naquelas circunstâncias nas quais as culturas principais estão muito tempo no solo como é, por exemplo, o caso da viticultura ou dos pomares. Nessas culturas é conveniente planificar o que As rotações devem completar a alimentação do gado se vai fazer com os espaços de terreno entre os pomares ou as videiras para melhorar a estrutura do solo, evitar a evaporação de água e a erosão e controlar as pragas. 8.4. Desenho de uma rotação. A componente mais essencial dos sistemas ecológicos é as rotações bem traçadas. Quando se planifica uma rotação é preciso ter em conta as condicionantes do meio como o clima, o solo, a orientação, etc. para cultivar plantas que se adaptem bem a essas condições. Depois também é preciso ter em conta as necessidades das culturas tanto no que diz respeito à água como aos nutrientes. Por isso, é importante introduzir leguminosas na rotação e também culturas verdes como culturas intercalares para melhorar a quantidade de matéria orgânica e de nitrogénio no solo. Por último é preciso ter em conta as condicionantes económicas, isto é, comprovar que essas culturas que se elegeram têm uma boa aceitação no mercado e se os custos de produção estão abaixo dos custos de venda. Por outro lado uma rotação bem traçada arrasta uma economia de adubos fitosanitarios, obtenção de mais qualidade nas colheitas, manutenção das propriedades físicas do solo e a sua fertilidade, redução dos riscos de más colheitas, melhor distribuição de trabalho e utilização da mão de obra e melhor aproveitamento dos recursos da propriedade. O ideal é que as rotações sejam o mais longas possível no tempo porque a rentabilidade e as vantagens são maiores. Apesar de ser longa pode-se sempre repetir alguma cultura rentável do ponto de vista económico ou introduzir alguma cultura nova. Em horticultura as rotações mais gerais são a trienal e a quatrenal. Nas culturas extensíveis são mais comuns a trienal e a bienal.

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8.5. Algumas hortaliças agrupadas por famílias

COMPOSTAS

CRUCÍFERAS

alcachofra

girassol

couve

Couverabanete

cardo

alface

endiva

salsifio

couve de CouveBruxelas nabiça

escarola

escorcioneira

couveflor

nabo rabanete

CUCURBITÁCEAS

GRAMÍNEAS

cabacinha

milho doce

abóbora

trigo

melão

centeio

pepino

cevada

melancia

aveia

brócolos LEGUMINOSAS

LILIÁCEAS

fava

soja

alho

feijão

grão-de-bico

cebola

ervilha

amendoim

alhofrancês

charlota

espargo

UMBELÍFERAS

ROSÁCEAS

aipo

salsa

morango

chirivia

cenoura

morango grande

funcho

lentilha SOLANÁCEAS

QUENOPODIÁCEAS

beringela

pimento

acelga

batata-doce

tomate

espinafre

batata

CONVOLVULÁCEAS Batata-doce

beterraba

8.6. Exemplos de rotações. CABEÇA DA ROTAÇÃO

2º ou 3º LUGAR NA ROTAÇÃO

FINAL DA ROTAÇÃO

Sobre esterco ou composto jovem

Sobre esterco ou composto decomposto

Sobre esterco muito decomposto ou compost bem elaborado

beringela

Batata

Acelga

Cenoura

Alho

Tomate

Melão

Aipo

Couve de Bruxelas

Feijão

Couve, repolho

Pimento

Espinafre

Couve

Ervilha

Pepino

Espargo

Couve-flor

Nabo

Fava

Cebolinha

Cardo

Brócolos

Cebolinha, Cebola

Alho-francês

Alcachofra

Couve-flor

Rabanete

Abóbora

Morango

Salsifio

Beterraba

Milho

Funcho

Escarola. Endiva

Melancia

Salsa

Às plantas com altos requerimentos pode-se lhes fornecer composto semidecomposto (couves, acelgas, espinafres, alho-francês, cucurbitáceas, solanáceas), ou bem decomposto (cenoura, beterraba,

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endiva). Para plantas que não fatigam o solo composto mais maduro: cebola, nabo, alface, chicória. Plantas melhoradoras: feijões, grão-de-bico, favas, trevo não se utilizam adubos ricos em nitrogénio.

FAMILIA

CABEÇA DA ROTAÇÃO

2º LUGAR

CHENOPODIÁCEAS

espinafre, acelga

COMPOSTAS

salsifio, alcachofra, cardo alface, escarola, endiva

alface, escarola, endiva

CRUCÍFERAS

couve, repolho, couveflor, brócolos, couve chinesa

couve de Bruxelas, nabo, rabanete

CUCURBITÁCEAS

pepino, cabacinha, melão, melancia abóbora, melão, melancia

LEGUMINOSAS

beterraba

3º LUGAR

Couve-flor, brócolos, nabo, rabanete, couve de bruxelas

beterraba

feijão, fava

feijão, ervilha, fava

LILIÁCEAS

alho-francês, espargo

cebola, cebolinha

alho, cebola, cebolinha

UMBELÍFERAS

aipo, funcho

cenoura, funcho

cenoura

SOLANÁCEAS

pimento, tomate, batata

tomate, batata

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Capítulo 9: Protecção de culturas. Desde que nasceu a agricultura que o objectivo é conseguir cada vez mais maiores produções e ter o mínimo de problemas possíveis nas culturas. Também desde o princípio apareceu uma serie de organismos cujos hábitos alimentares estavam muito relacionados com as plantas que se cultivavam. Com o passar do tempo evoluíram tanto as denominadas pragas como as culturas numa espécie de concorrência pela sobrevivência que seguirá de forma indefinida apesar dos meios que se adoptam para acabar com estes organismos tão molestos. Muitas estratégias se delinearam com o passar dos anos para proteger as culturas daqueles temíveis organismos que as afectam. Talvez o primeiro passo que é preciso dar seja conhecer como é e como funciona o sistema agrícola, compreender as múltiplas relações que se estabelecem nele; entender como se alcança um equilíbrio instável que pode ser modificado por agentes internos ou externos ao sistema. Quando é perturbado produz-se uma evolução do mesmo para alcançar novamente o equilíbrio. Este é um processo natural que se dá nos ecossistemas mas que às vezes é demasiado lento para as necessidades de muitos. Quando se fala de protecção de culturas, devem-se determinar quais são os factores que se desequilibraram e quais os meios que se podem adoptar para devolver novamente o equilíbrio. Isto significa que não se deve isolar um problema concreto (por exemplo; uma doença ou uma praga) do resto das condicionantes ambientais que também intervêm. No fundo trata-se de traçar sistemas de gestão sustentável que permitam encarar os problemas que arrasta a produção vegetal de maneira que não se hipoteque o futuro desses sistemas e se melhore a sua produtividade ao mesmo tempo em que não se altera o meio. 9.1. A saúde das plantas. Uma planta sã é menos vulnerável a ser afectada por pragas e doenças. A interacção entre organismos vivos e o seu ambiente é crucial para a saúde da planta. Em condições favoráveis, os próprios mecanismos de protecção da planta são suficientes para lutar contra a infecção. Esta é a razão pela qual um ecossistema bem gerido pode ser uma forma bem sucedida de reduzir o nível de população das pragas ou doenças. As condições de saúde de uma planta dependem em grande parte da fertilidade do solo. Quando a nutrição é equilibrada, a planta fortalece-se e é menos vulnerável às infecções. As condições climáticas, como temperaturas adequadas e uma provisão adequada de água, são outros factores cruciais para uma planta sã. Se uma destas condições não se cumpre, a planta pode passar a condições de stress. O stress debilita os mecanismos de defesa das plantas e torna-as um alvo fácil para as pragas e doenças. As plantas têm os seus próprios mecanismos para se protegerem dos seus inimigos, o que se pode considerar como o seu sistema imunológico. As pragas e as doenças não atacam as plantas ao acaso, mas sim e apenas as que não são capazes de lutar contra elas. Algumas plantas têm uma habilidade para prevenir ou restringir a infecção perante os patogénicos. É o que se denomina resistência. A cultura de variedades resistentes é uma importante medida preventiva em agricultura biológica para reduzir os danos causados por pragas e doenças.

As plantas têm os seus mecanismos de defesa contra parasitas

Muitos factores influenciam os mecanismos de resistência de uma planta. Alguns são de origem genética, enquanto que outros são causados por factores ambientais. Certas plantas são resistentes perante uma ampla classe de inimigos, enquanto que outras só podem enfrentar um patogénico específico. Algumas plantas são resistentes ao longo de todo o período vegetativo, outras apenas durante certas etapas da sua vida.

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9.2. Princípios Fundamentais. A gestão de pragas e doenças baseia-se num conjunto de medidas e actividades que se apoiam umas nas outras para proteger as plantas. A maioria das medidas de gestão são actividades a longo prazo que têm como finalidade a prevenção fitosanitaria perante os patogénicos que podem afectar as colheitas. A gestão dirige-se, sobretudo, à manutenção dos inimigos das plantas em níveis baixos. Em contraposição, o controle é uma actividade a curto prazo que consiste em diminuir essas populações. O enfoque geral em agricultura biológica é concentrar-se nas causas do problema antes de tratar os sintomas e isto é aplicável ao caso das pragas e doenças. Por isso, a gestão tem uma prioridade muito maior que o controle. Na agricultura biológica não se entende um sistema agrícola sem os seus parasitas e os seus depredadores. Juntos chega-se a alcançar um grau de equilíbrio que permite a sua coexistência. Por isso, nunca as estratégias de trabalho irão pretender a erradicação dos organismos parasitas ou patogénicos, apenas um certo controle, de maneira que as plantas e esses organismos coabitarão no mesmo sistema em condições nas quais a vida das plantas e a sua produtividade não sejam ameaçadas. Princípios gerais: Diversificação das culturas mediante a utilização de rotações e associações de culturas ou culturas mistas. A utilização de variedades mais resistentes contra determinados tipos de pragas e doenças mais comuns. O adubo orgânico que estimula a actividade biológica do solo. O uso de técnicas de controle biológico, à base de extractos de plantas e minerais naturais.

9.3. A diversificação de culturas. A diversificação de culturas é uma técnica muito importante na hora de lutar contra inimigos das plantas e, inclusivamente, contra as ervas daninhas. A rotação implica mudanças periódicas de plantas o que supõe que se produzem variações nutritivas nos possíveis parasitas. De maneira que, se são parasitas específicos, ao não encontrarem a planta específica da sua alimentação, tenham que emigrar para outros lugares nos quais se encontrem essas plantas. A isso é necessário acrescentar as associações de culturas ou culturas mistas. Com eles pode-se jogar com certas sinergias que se estabelecem entre distintos tipos de plantas, de tal forma que ao colocá-las Diversificação de culturas juntas favorecem-se uma à outra. Essa ajuda mútua pode manifestar-se na nutrição ao não terem que competir pelos mesmos nutrientes ou pode manifestarse no campo da protecção porque uma planta segrega substâncias que podem afugentar os parasitas da outra.

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9.4. Variedades resistentes. Geralmente as plantas cultivam-se pela sua produtividade, o seu comportamento face os factores geográficos, climatéricos, a sua resistência às pragas e doenças ou por outras características que as tornam apreciadas (sabor, cor, tamanho...). No processo de selecção é importante ter em conta o grau de resistência das plantas aos seus potenciais inimigos. A resistência pode-se expressar numa escala que vai desde a sensibilidade até à imunidade.

Sensibilidade

Tolerância

Resistência

Imunidade

As plantas denominadas sensíveis não têm nenhum tipo de protecção perante as pragas e doenças, portanto, quando são afectadas não têm defesa possível e se o ataque é forte pode acabar com elas. Tolerantes denominam-se as plantas que não actuam de nenhuma maneira quando são afectadas por uma praga ou doença determinada porque normalmente os danos nunca são graves e não impedem o seu desenvolvimento normal. Resistentes são aquelas plantas que têm mecanismos de defesa contra uma praga ou doença concreta e que num determinado momento podem utilizá-los ou não, dependendo do grau de infecção. Essa resistência que geram pode estar relacionada com a inibição completa da infecção ou pode estar ligada com a inibição do crescimento do patogénico; em ambos os casos o resultado é o mesmo, diminui o potencial da infecção. Esses mecanismos de defesa pode gerá-los antes da infecção para evitar danos graves. Podem manifestar-se em forma de barreiras físicas face ao parasita ou mediante barreiras químicas sintetizando substâncias que são tóxicas ou desprendendo-se das zonas danificadas evitando assim a sua progressão. Há variedades resistentes

Imunes são aquelas plantas que não são atacadas por uma praga ou doença determinada ou porque não formam parte da sua cadeia de alimentos ou porque a planta está bem protegida contra eles e não podem afectá-la. A resistência normalmente é uma marca genética que se transmite de umas gerações para outras na reprodução. À resistência muito específica chama-se também resistência vertical e é muito eficaz contra o parasita específico que a afecta, no entanto, não é muito útil face outros parasitas diferentes. À resistência menos específica e mais geral dá-se também o nome de resistência horizontal. Esta é menos útil face um parasita concreto, mas é mais útil face um leque amplo de parasitas. Não se pode seleccionar resistência horizontal em presença de resistência vertical (Simmonds 1979). Por isso na hora de seleccionar as variedades mais resistentes é preciso ter em conta a importância da diversidade genética.

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A diversidade regional permite obter uma serie de vantagens notáveis: Fornecer genes que podem ser a origem de novas variedades. Contribuir para a diminuição das pragas e as perdas de produção provocadas por elas. O facto de dispor de variedades diferentes é um seguro para evitar más colheitas.

9.5. O adubo orgânico. O adubo mineral solúvel exerce um efeito negativo sobre a micro-fauna do solo ao ser directamente absorvido quebrando a dependência e o equilíbrio que se estabelece entre os microrganismos do solo e as plantas. Pelo contrário o adubo orgânico estimula a actividade dos microrganismos do solo e reforça a dependência entre as plantas e os microrganismos. Os microrganismos do solo são muito abundantes em redor das raízes das plantas no espaço que se conhece como rizosfera. Essa abundância, em redor A matéria orgânica estimula a actividade microbiana do solo das raízes, gera uma primeira barreira física no sentido em que os microrganismos patogénicos para chegarem à raiz têm que atravessar em primeiro lugar essa barreira e é possível que não o consigam todos. Estabelecem-se umas relações de concorrência pelo espaço que protege a planta da chegada de muitos parasitas. Sobre a facilidade que têm algumas pragas ou doenças para atacar as plantas não só influencia o adubo do solo como também a quantidade de nutrientes. De maneira que quando no solo se produz um desequilíbrio em algum dos elementos nutritivos (por exemplo, o mais estudado é o caso do nitrogénio) a planta é mais sensível a uma determinada praga ou doença.

Os depredadores naturais desempenham um papel importante

Segundo o fisiólogo vegetal Chaboussou (1985), na qual chamou a teoria da Trofobiose, diz que “As plantas são capazes de resistir activamente às pragas e doenças. A resistência das plantas às pragas e doenças está relacionada com a composição dos sucos celulares proteínas que podem ter-se desequilibrado por efeito do praguicida. Isso produz um excesso de açúcares e compostos nitrogenados solúveis que constituem uma fonte de alimento para os patogénicos que se reproduzem mais

rapidamente e escapam ao controle natural das plantas”.

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Portanto todo o processo vital encontra-se sob a estreita dependência da satisfação das necessidades nutritivas do organismo vivo. A época mais sensível da planta é a floração e abundância onde predomina a degradação de proteínas sobre a formação de proteínas e a época mais resistente é a de crescimento.activo no qual predomina a formação de proteínas sobre a degradação de proteínas. Em resumo, o fornecimento de matéria orgânica estimula a actividade dos microrganismos benéficos que ajudam a manter sob controle as potenciais pragas e doenças. O emprego de adubos orgânicos permite às plantas absorver determinadas substâncias (fenoles) necessárias para colocar em marcha o seu sistema de defesa. O principal mecanismo de luta é constituído pelo antagonismo entre os microrganismos do solo mediante a fabricação de toxinas e antibióticos, a concorrência pelo habitat e os nutrientes face ao parasitismo. Mediante a adubação e os trabalhos do solo podem-se combater as pragas

9.6. Técnicas de controle biológico.

Em agricultura biológica o controle dos parasitas não depende do uso de uma serie de produtos apenas depende, sobretudo da aplicação de uma serie de técnicas para conseguir equilibrar o sistema, torná-lo mais estável e melhorar as condições de resistência das plantas. Isso requer um método de trabalho determinado no qual entram em jogo alguns dos aspectos já estudados como as rotações equilibradas, as associações de culturas, o uso de adubo orgânico, a utilização de plantas resistentes e outros novos como, por exemplo; os trabalhos culturais, as épocas de sementeira, a cobertura do solo, o favorecimento da presença de inimigos ou depredadores naturais das pragas em geral…

Os depredadores naturais podem albergar-se em algumas zonas do cultivo adaptadas para isso.

As técnicas de controle biológico baseiamse em actuar de forma preventiva para conseguir que os problemas que se podem produzir sejam menores em quantidade e em intensidade. Essas técnicas baseiam-se, sobretudo em conseguir equilibrar o biossistema: Com o seu meio físico através dos sistemas de cultura. Com o seu meio biológico através da diversificação e dos métodos de controle biológico. Potenciando a resistência das plantas, mediante o uso de variedades seleccionadas pela sua resistência e a utilização de substâncias vitalizadoras.

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A formar parte do controle biológico encontra-se a manipulação de parasitas e depredadores para manter controladas as populações de pragas que afectam as plantas. Este tipo de controle produzse de forma natural, mas também pode ser induzido pelo homem introduzindo no sistema depredadores de algumas pragas. 9.7. Parasitas causantes das pragas e doenças. Os parasitas são organismos que obtêm os nutrientes da sua alimentação de um ou mais hóspedes aos quais normalmente ocasionam uma serie de danos.

Tipos de parasitas: Micro-parasitas que se multiplicam directamente no hóspede, normalmente nas suas células (bactérias, vírus, protozoos, alguns fungos). Macro-parasitas crescem sobre o hóspede, mas multiplicam-se em processos de infestação e posteriormente passam a novos hóspedes (fungos superiores, nematódios, insectos, mamíferos….

Estes parasitas podem desenvolver-se em toda a planta: raiz, talo, folhas, fruto e podem ocasionar muitos tipos de sintomas: apodrecimentos, chagas, murchamentos, manchas foliares, mosaico, ferrugem, sarna...

Os organismos patogénicos causam a doença de diversas formas: Debilitando o hóspede. Alterando o seu metabolismo. Bloqueando o transporte de nutrientes. Alimentando-se dos sucos celulares do hóspede.

Em geral as plantas utilizam uma serie de mecanismos para se oporem à invasão dos agentes patogénicos. Para isso, utilizam características estruturais que actuam como barreiras físicas e impedem que o agente patogénico penetre e se propague. Também utilizam reacções bioquímicas que têm lugar nas células e nos tecidos e que produzem substâncias tóxicas para o agente patogénico ou criam as condições que inibem o seu crescimento.

Fases de desenvolvimento de uma doença Inoculação quando o agente patogénico e a planta hóspede entram em contacto. Fenómenos de penetração baseados nos métodos que utiliza o agente patogénico para penetrar na planta hóspede ou atravessar as barreiras físicas. Penetração mediante a introdução do agente patogénico na planta. Infecção quando o agente patogénico acasiona danos na planta e aparecem os sintomas da doença. Disseminação na qual o patogénico gera o produto que é capaz de infectar outras plantas mais ou menos adjacentes

9.8. Os fungos. Os fungos são organismos constituídos geralmente por uns filamentos denominados hifas que se entrecruzam umas com as outras para formar o micélio. Muitos dos fungos são benéficos, mas também

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há os que são parasitas. A maior parte das doenças das plantas é produzida por fungos parasitas que se alimentam delas. No seu processo de vida podem distinguir-se duas fases: uma vegetativa na qual assimila nutrientes e outra reprodutiva, embora haja espécies em que ambas as fases podem coincidir.

INFECÇÃO Ciclos secundários DISPERSÃO

DISPERSÃO

MULTIPLICAÇÃO MULTIPLICAÇÃO

Ciclo primário

SOBREVIVÊNCIA

Entre os fungos patogénicos e as plantas podem-se estabelecer duas fases: uma não associativa na qual o fungo e a planta evoluem cada um pelo seu lado e uma fase associativa na qual os dois entram em contacto, o fungo invade os tecidos e produz-se a infecção.

Os fungos patogénicos provocam a infecção através de quatro mecanismos que podem actuar de forma individual ou colectiva: Produção e libertação de enzimas que degradam a parede celular. A produção de substâncias que interferem com o metabolismo ou que afectam a estrutura normal do protoplasma das células vegetais. A libertação de substâncias que interferem com o crescimento e o desenvolvimento da planta. A interferência com o movimento normal da água, os nutrientes, os metabolitos.

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Plantas resistentes

Sulfato de cobre Cúpricos

Oxicloreto de cobre Caldo bordelês

Fungicidas tradicionais

Caldo borgonhês

MÉTODOS DE LUTA

Enxofre Outros

Polisulfureto de cálcio Silicato de soda Sílica

Preparados à base de plantas

Cauda de cavalo Macela Mistura de Cebola- Alho Milho e alho Sabugueiro Própolis

Purina de plantas preparada para realizar um tratamento de fitoterapia

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9.9. As pragas. Recebe o nome de praga o agrupamento de um conjunto de organismos que se alimentam das plantas e causa um prejuízo mais ou menos grave. Os animais que originam as pragas das culturas são fundamentalmente: insectos, ácaros e nematódios e em muito menor escala moluscos (caracóis e lesmas), aves (corvos) e roedores (ratos, toupeiras). Para que uma espécie animal constitua uma praga tem que haver uma invasão de grande número de indivíduos. Essa mesma espécie não constitui praga quando se apresenta em agrupamentos pouco numerosos que não causam danos apreciáveis na cultura.

Alguns depredadores naturais são muito activos

A capacidade que tem uma praga para produzir danos depende de dois factores, nomeadamente: o potencial biótico e a resistência do meio. O potencial biótico é a capacidade que tem um parasita de multiplicar-se sem que nada se oponha ou diminua o seu poder de multiplicação. O potencial biótico depende da velocidade de multiplicação do parasita e da proporção de indivíduos de cada sexo que produza em cada geração. A resistência do meio agrupa um conjunto de factores que, num dado ecossistema, contribuem para minorar a multiplicação do parasita e enfrear o desenvolvimento da população.

O maior ou menor grau de desenvolvimento de uma praga está relacionado com: As condições ambientais que favorecem ou dificultam o desenvolvimento do seu ciclo biológico. O grau de desenvolvimento da planta que a torna mais ou menos sensível ou apetecível à praga. A sua capacidade de resistência normalmente mediante a segregação de substâncias repelentes. A frequência da cultura que faz com que a praga se estabeleça na propriedade de forma continuada ou pelo contrário tenha que se deslocar quando se muda de cultura. Estratégia é o conjunto de métodos que se podem colocar em marcha para controlar uma determinada praga. Há de vários tipos: Preventiva: orientada para evitar que a praga se introduza no campo. Controle: baseia-se na redução das populações de parasitas para evitar que os danos que produzam possam ser graves. Não actuar: sobretudo em pragas que não ocasionam danos graves ou cujas populações estão em equilíbrio com as plantas de maneira que os danos causados sejam mínimos.

A luta contra as pragas baseia-se na aplicação de métodos que ajudam na redução dos danos causados pelos insectos. O controle natural ou equilíbrio natural de uma praga produz-se quando a acção dos factores naturais do meio mantém o nível de parasitas reduzido a uma densidade o suficientemente baixa para que causem danos económicos. Quando os factores naturais que controlam uma praga são superados por esta, depois de se ter realizado a avaliação correspondente estabelece-se a acção directa.

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Métodos de acção directa Métodos físicos: Mecânicos. Calóricos. Ultra-sons. Estímulos químicos: Feromonas. Atraentes. Repelentes. Métodos biológicos: Luta microbiológica. Introdução de depredadores ou parasitas da praga. Utilização de biopreparados. A biofumigação. Métodos culturais: Eleição de variedades resistentes. Adubação e trabalhos do solo. Associações e rotações de culturas.

Os distintos métodos de acção directa nem sempre se aplicam separadamente, muitas vezes seleccionam-se vários para se aplicarem conjuntamente conseguindo desta maneira uma acção mais eficaz. A acção directa exige que se coloque em andamento uma serie de mecanismos do próprio sistema ou alheios ao sistema com o fim de poder controlar o número de indivíduos da população causante da praga. Este tipo de acções leva-se a cabo quando a população excede o que seria aconselhável e o que pretende fundamentalmente é reforçar o equilíbrio do sistema, corrigir os desequilíbrios produzidos na parcela ou afectar directamente o número de parasitas da concreta praga. Na hora da actuação directa o que se deve conhecer em primeiro lugar é o inimigo causante da praga. Conhecê-lo significa saber qual é o seu ciclo biológico, em que momento do ciclo é mais prejudicial para as plantas, em que momento é mais vulnerável às possíveis medidas que se vão colocar em marcha e também se devem conhecer as possíveis causas pelas quais a população cresce desmesuradamente. Tudo isto permitirá eleger o método de luta mais eficaz, utilizá-lo no melhor momento e, sobretudo prevenir para que no futuro na medida do possível não se dêem as condições necessárias para que a população de parasitas dispare o seu crescimento.

Os danos que podem produzir estas pragas podem ser directos ou indirectos. Os danos directos devem-se à sucção de seiva (produz-se uma perda de vitalidade da planta, inibição do crescimento, deformação das folhas…) ou à perda de massa vegetal produzida por insectos mastigadores. Os danos indirectos são de dois tipos. Por um lado os insectos chupadores podem transmitir vírus, bactérias, fungos de umas plantas para as outras. Por outro lado podem debilitar a planta e tornála mais sensível à acção de outros parasitas e patogénicos.

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Os biopreparados elaboram-se fundamentalmente à base de plantas. Algumas destas plantas têm uma certa acção insecticida ou simplesmente contêm substâncias repelentes de determinados tipos de insectos, de maneira que os afugenta e tornam essas plantas menos apetecíveis dentro das suas necessidades nutritivas. Noutras ocasiões a função destes biopreparados consiste em fortalecer a planta de maneira que se torna mais resistente à acção dos parasitas, de modo que estes acabam por procurar outras fontes nutritivas mais fáceis de aceder. Estes preparados e caldos vitalizadores são substâncias que fomentam a resistência da planta. Em alguns casos podem utilizar-se como preventivos e noutros também como curativos. A forma de preparação depende do tipo de planta que se trate e também dos efeitos que se querem conseguir.

Há distintas formas de os realizar; os mais correntes são: Purinas fermentadas: preparam-se à base de plantas colocadas a macerar ao sol em água da chuva se for possível durante uma ou duas semanas. Ao fim desse tempo forma-se a purina que normalmente se dilui antes da sua utilização. Os purinas utilizam-se como adubo para o solo. Macerações: preparam-se de forma semelhante aos purinas só que neste caso se deixam as plantas em maceração em água durante dois três dias sem que fermentem. Ao fim desse tempo filtra-se, dilui-se em água e em geral emprega-se fumigando as plantas por cima. Infusões: preparam-se como uma infusão normal. Para isso coloca-se água a ferver e quando está a ferver acrescenta-se a planta. Tapa-se e deixa-se repousar durante um certo tempo. Dilui-se antes da sua utilização. Decocções: prepara-se deixando a planta em maceração em água durante vinte e quatro horas. Depois ferve-se durante vinte minutos. Deixa-se arrefecer tapada. Utiliza-se diluindo-a. Extractos em água fria. Partem-se em pedaços as plantas secas ou frescas e colocam-se de molho entre um a três dias no máximo. É preciso filtrá-lo antes que termine a fermentação. É menos forte que no caso das infusões ou decocções logo utiliza-se menos diluído.

Plantas que se costumam utilizar para o controle de pragas: Urtiga (Urtica dioica, U. urens). É uma planta muito interessante porque a sua utilização permite obter uma resistência geral da planta face aos parasitas chupadores de seiva e pode utilizar-se tanto para as prevenir como quando a planta já está atacada pela praga. Emprega-se em toda a planta menos nas raízes e recolhe-se se for possível antes da floração porque é quando a planta é mais rica em princípios activos.

Dente de leão (Taraxacum officinalis). É uma planta interessante porque estimula o crescimento das plantas e favorece a fermentação no composto. Pode-se utilizar toda a planta. Valeriana (Valeriana officinalis). É uma planta que, à parte das propriedades medicinais pelas quais é muito apreciada, tem também algumas acções sobre as plantas. Trata-se de uma planta vitalizadora que proporciona resistência geral da planta e favorece a abundância dos frutos. Além disso, aplicada às sementeiras facilita a germinação das Diente de león sementes. Segundo alguns autores também proporciona um certo grau de resistência ao frio em tempo de geadas. Consolda (Symphitium officinalis). É uma planta rica em nitrogénio e que se utiliza para melhorar a resistência geral da planta perante parasitas e patogénicos.

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Rabanete picante (Armoracia rusticana). É uma planta que tem propriedades insecticidas e se utiliza para combater áfidos, escaravelhos, lagartas, mosca branca e insectos de corpo mole. Maravilha o calêndula (Caléndula officinalis). Utiliza-se como repelente de escaravelhos, lagartas do tomate e insectos cortadores. Casca de laranja. A laranja e outros cítricos contêm substâncias insecticidas naturais como a limonina e o linalol. Estes compostos podem ser empregados contra insectos de corpo mole como áfidos, cochonilhas e como repelente de formigas. Rama de tomate ou batata. Serve para repelir escaravelhos, mata lagartas e larvas e actua como inibidor do apetite de alguns insectos. As solanáceas possuem uma grande quantidade de alcalóides nas suas folhas. Estes compostos diluem-se facilmente na água e podem ser extraídos deixando as folhas macerando em água. Os alcalóides não só actuam sobre os insectos que provocam a praga, como atraem os insectos predadores. Absinto (Artemisia absinthium). Afecta vários tipos de insectos como áfidos, lagartas, larvas. Pode repelir serpentes. É preciso salientar que o emprego de extractos de absinto em redor das plantas pode inibir o seu crescimento. Obtêm-se melhores resultados ao aplicar directamente sobre o insecto que provoca a praga. Sabugueiro (Sambucus nigra). É um arbusto dos quais se podem utilizar os talos, as folhas, as flores e os frutos. É eficaz contra os trips. A purina de folhas é um repelente contra o rato de campo e a toupeira. Mil-em-rama (Achillea millefolium). Esta planta tem propriedades insecticidas contra áfidos e insectos de corpo mole e é também um excelente fertilizante.

A purina de sabugueiro emprega-se contra ratos e toupeiras

Feto (Dryopteris filix-mas). As suas folhas são ricas em minerais, sobretudo em carbonato de potassa e são excelentes para acrescentar ao composto ou fazer um acolchoado. Para fazer a purina utiliza-se um quilograma de folhas frescas para dez litros de água de chuva. Tanaceto (Tanacetum vulgare). Utilizam-se as flores que se apresentam em forma de umbelas e são de cor amarela. Têm um odor forte e penetrante e contém óleos essenciais e substâncias amargas. Obtém bons resultados face às formigas, pulgões e ácaros. O seu forte odor tem uma eficácia relativa face à traça da maça e pêra. Outros extractos insecticidas. Elaboram-se a partir de certas plantas que segregam uma serie de substâncias alcalóides para se defenderem dos parasitas. Estas substâncias podem ser utilizadas em casos concretos quando tenham falhado os demais métodos de controle, mas não se devem aplicar de forma sistemática. Pelitre É uma substância que se obtém reduzindo a pó as flores de diversas espécies dos géneros Pirethrum e Chrysantemum. Como no caso anterior actua por contacto e ingestão. É preciso ter em conta que neste caso a utilização do pelitre é incompatível com a aplicação de caldo bordolês, polisulfureto e cal. Hidróxido de cálcio ou cal hidratada É útil face aos escaravelhos, ácaros e insectos em geral. Preparase misturando cento e quarenta gramas de hidróxido de cálcio com dois litros de água. Aplicar duas vezes por semana.

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Quadro de depredadores naturais Praga Lepidópteros Pulgões Mosca branca Trips Ácaros Minadores Cochonilhas

Macrolophus caliginosus

Depredadores Trichogramna

Aphidius sp. Aphidoletes aphidimyza Encarsia formosa

Chrysopa carnea

Coccinela sptepunctata

Eretmocerus eremicus

Eretmocerus mundus

Orius sp.

Hipoaspis sp.

Amblyseius californicus

Amblyseius cucumeris

Phytoseulus persimilis

Diglyphus isaea

Dacnusa sibirica

Criptolaemus montrouzieiri Leptomaxtic dactilopii

Rodolia cardinalis

9.10. Outras pragas. Podem estar ocasionadas por animais superiores (aves e mamíferos) como, por exemplo: pássaros, ratos, toupeiras… Em geral não são constituídas por um número importante de indivíduos e no entanto pode ocasionar grandes danos devido ao seu grande tamanho. No caso dos ratos e das toupeiras costumam-se utilizar armadilhas, algumas substâncias tóxicas ou de odores fortes que os afastam das culturas e das colheitas e também se pode utilizar os inimigos naturais como é o caso dos gatos ou certos predadores. Em alguns casos pode funcionar a introdução nas suas galerias e madrigueiras de substâncias que libertam fortes odores. No caso das aves os métodos de luta são mais complicados e costumamse utilizar espantalhos, ultra-sons, métodos pirotécnicos e outros semelhantes embora não haja nenhum que seja suficientemente eficaz. Outra praga pode estar ocasionada por moluscos: caracóis, lesmas que As aves são eficazes na hora de controlar as lagartas e lesmas e outras lagartas afectam, sobretudo as culturas hortícolas. Os métodos de luta neste caso são variados. Podem utilizar-se os inimigos naturais como ouriços-cacheiros, rãs, determinadas aves...Também se podem preparar armadilhas de cerveja utilizando recipientes mais ou menos grandes introduzidos no solo e cheios de cerveja à qual os moluscos são afeiçoados. Podem construir-se barreiras físicas em redor das culturas a proteger mediante a utilização de materiais molestos para estes animais como, por exemplo; a pinaça, a serradura, a gravilha... Para a luta contra os moluscos (lesmas e caracóis) é necessário proteger os inimigos naturais, introduzir galinhas, patos, usar agulhas de pinheiro para coberturas, regar plantas com maceração de begónias ou folhas de groselheira.

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Capítulo 10: Ervas daninhas. São plantas que estão adaptadas aos habitats fabricados pelo homem e interferem com as actividades humanas. Inconvenientes das ervas daninhas Competem com a cultura pelo espaço, a luz, a água e os nutrientes. Algumas podem ser parasitas das plantas de cultura. Outras podem ser venenosas, como os senecios nos pastos. Podem apresentar problemas de fraco paladar, pobreza nutritiva ou que estragam certos produtos animais, como o fardo e o forrageado. Ocasionam problemas com a maquinaria na colheita, nos trabalhos, etc. O maior problema das ervas daninhas é, sem dúvida, a concorrência pela luz, a água e os nutrientes. Podem actuar como hospedeiras de insectos parasitas da cultura.. Os aspectos negativos das ervas daninhas conhecem-se bem e são amplamente reconhecidos. Mas ignoram-se frequentemente determinados aspectos benéficos das mesmas. Acções positivas das ervas daninhas Proporcionam cobertura ao solo, protegendo-o da erosão, sobretudo depois da colheita. Com o seu sistema radicular profundo extraem nutrientes que as plantas cultivadas não aproveitariam e ao decomporem-se, enriquecem o solo em matéria orgânica. O seu sistema radicular melhora a estrutura e a estabilidade do solo. Potenciam a actividade biológica do solo. Podem ser aproveitadas como adubo verde e também supõem um fornecimento de biomassa para elaborar o composto e para usar como acolchoado. Aliviam o carácter de monocultura de certas culturas. Mantém-se a biodiversidade, evitando a extinção das espécies. Exercem um certo controle sobre as pragas: são devoradas pelos insectos que provocam a praga e servem de alojamento aos insectos úteis. Limitam a erosão nas margens da parcela.

10.1. Ecologia das ervas. As ervas daninhas mais frequentes são as que se adaptaram melhor ao ciclo das plantas de cultura e às práticas agrícolas. Além disso, têm várias características que lhes proporcionam vantagens sobre as plantas cultivadas: -

Vivem mais em comunidades do que em monoculturas, o que lhes permite explorar mais eficazmente os recursos disponíveis.

-

Adaptam-se a muitas classes de solo e clima, inclusivamente em condições

Ao princípio o controle de ervas daninhas é mais difícil

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extremas. -

A concorrência produz alterações dentro da comunidade, assim como entre indivíduos da mesma espécie, o que significa que o controle dirigido a uma erva daninha em particular pode facilitar que outras espécies se tornem dominantes.

-

Têm uma alta variabilidade genética que lhes proporciona a habilidade de se adaptarem rapidamente a condições hostis.

-

Muitas crescem com rapidez e produzem grandes quantidades de sementes ou partes perenes que lhes proporciona uma alta capacidade regenerativa.

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Frequentemente as sementes têm órgãos que facilitam a distribuição e muitas conservam a sua fertilidade durante longos períodos de tempo, inclusivamente quando são enterradas.

-

A germinação faz-se de forma escalonada, por isso é difícil destruí-las apenas com um trabalho.

-

Em geral, são mais resistentes às doenças e, portanto mais aptas para competir com plantas de cultura muito seleccionadas.

Há um período crítico de concorrência Cultura com cobertura vegetal que é o espaço de tempo no qual a presença de ervas daninhas implica uma perda de rendimento e assinala ao mesmo tempo qual é o melhor momento de realizar a monda. As ervas daninhas costumam interferir nas culturas principalmente por concorrência pelos factores de crescimento como a luz, o espaço, a água, o ar e os nutrientes. A composição das comunidades de ervas daninhas é influenciada pelo clima e as interacções entre o uso e as características do solo. Também influencia a adaptabilidade de certas ervas daninhas ao meio. Através da alelopatia produz-se uma influência directa ou indirecta de uma planta sobre outra como consequência da produção de compostos químicos que libertam ao meio ambiente; ao lavarem-se as folhas com a água da chuva, exsudado das raízes, volatilização das folhas. 10.2. O controle de ervas daninhas. A agricultura biológica que integra interesses económicos, sociais e ecológicos, baseia-se na planificação de sistemas agrícolas que minimizem as infestações fazendo mais ênfase no manuseio das ervas daninhas que no seu controle. O desenvolvimento de sistemas de controle e gestão eficazes, de baixo custo, respeitosos com o meio ambiente e adaptáveis às diversas situações requer avançar no conhecimento do funcionamento

Para o controle de ervas daninhas podem empregar-se diferentes sistemas

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do agro-ecossistemas. Deve-se incorporar aos estudos sobre a biologia e ecologia das ervas daninhas uma visão global do ecossistema e deve-se tender a escapar, sempre que seja possível, da análise das ervas daninhas como único componente do sistema. 10.3. Métodos preventivos. Alguns destes métodos são baseados no controle da dispersão das sementes das ervas daninhas uma vez que o controle das ervas daninhas deve começar antes destas aparecerem. Estas medidas são importantes e eficazes fundamentalmente a longo prazo. Um método de prevenção é realizar um manuseio adequado de adubos orgânicos e purinas. Os primeiros devem ser compostados e os segundos arejados. Desta maneira podem-se desactivar as sementes que contêm ao subir a temperatura. Também se deve prevenir a contaminação da cultura e a cama de sementeira mediante segas ao redor das parcelas. Devem ser limpos os lindes e as margens em redor da cultura. É preciso também controlar as águas de rega porque podem arrastar grande quantidade de sementes e limpar os canais e regueiros de ervas daninhas. Com todos esses trabalhos pode-se conseguir estabilizar e diminuir o banco de sementes na parcela.

Manual e mecânico

São os mais utilizados para todo o tipo de culturas

Uso do fogo

Utilizam-se em cultivos extensivos e forraginosos

Mulchin ou Acolchoado

Usam-se tanto resíduos vegetais e orgânicos como plástico

Métodos térmicos

Mediante fogo localizado, radiação infravermelha, microondas ou vapor

Inundação

Sobretudo na cultura do arroz

Métodos culturais

Utilizam-se diversas técnicas tanto em culturas intensivos como extensivos.

Métodos físicos

Mondado térmico

O acolchoado permite controlar as ervas daninhas

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10.4. As ervas como indicadoras. As ervas daninhas, como se viu, nem sempre têm uma acção negativa sobre as culturas e descreveram-se alguns aspectos benéficos. A eles é preciso acrescentar que, em muitas ocasiões, o aparecimento de determinado tipo de plantas permite ter uma ideia, sobretudo das características físicas do solo de uma determinada parcela. Em agricultura biológica a observação é uma ferramenta de trabalho muito útil que permite ter em conta muitos factores que de outra forma passariam despercebidos. Forma parte integrante do método de trabalho mais específico que um agricultor ecológico terá de ter. Em relação às características físicas do solo podem-se fazer as seguintes predições segundo os tipos de plantas que aparecem na parcela: Retenção de água: Mentha arvensis, Ranúnculus repens, Tussilago farfara, equisetum sp. Solos leves: Adonis aestivalis, Consolida regalis, cariofiláceas en general. Solos compactos: Potentilla anserina, Plantago major, Matricaria discoidea. Solos areno-limosos: Fumaria officinalois, Lamium purpureum, Myosotis arvensis Solos arenosos, pedregosos: Legousia Speculum-veneris, Erodium cicutarium, Falcaria vulgaris. Muita má estrutura: Anthoxantum odoratum, Equisetum arvense, Juncus sp., Poligonáceas en general. Má estrutura: Gramíneas em geral, Raphanus raphanistrum, Alchemilla vulgaris, Matricaria chamomilla. Estrutura regular: Avena fatua, Arthemis arvensis, Consolida regalis, Lithospermun arvense. Boa estrutura: Chenopodium album, Lamium sp. Estrutura excelente: Stellaria media, Mercurialis Euphorbia sp.

annua, Urtica urens, Galinsoga parviflora,

Em relação ao estado de alguns nutrientes do solo podem-se observar as seguintes espécies indicadoras: Ricos em nitrogénio: Urtica dioica, Chenopodium album, Mercurialis annua, Senecio vulgaris, Amaranthus retroflesux, Galium aparine, Echinocloa crus-gali. Pobres em nitrogénio: Alopecurus myosuroides, Alchemilla o Aphanus arvensis, Tripleoruspermum maritimum. Ricos em potássio: Althaea officinalis, Artemisisa sp., Centaurea sp., Fumaria officinalis. Falta de cal: Trifolium arvense, Digitalis purpúrea, Viola tricolor, Drosera sp., Verbascum lychnitis, Sarothamus scoparius.

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Capítulo 11: Reconversão ganadeira.

A pecuária é mais complexa que a agricultura e estabelece problemas mais difíceis de solucionar; por isso mudar de um sistema convencional para um sistema de manuseio ecológico do gado é uma tarefa que deve ser realizada cuidadosa e gradualmente. A regulamentação sanitária é mais severa e exigem-se instalações específicas para a manipulação dos produtos, assim como para o sacrifício do animal quando a produção é carne. Tudo isto juntamente com o facto de haver uma certa dispersão geográfica faz da pecuária uma actividade que deve estar muito bem planificada. Para realizar uma boa planificação é conveniente ter em conta alguns aspectos que indicam um caminho a seguir para evitar alguns problemas. A pecuária deve estar muito bem planificada

O primeiro passo importante é a eleição das raças que se vão utilizar. Reprovam-se as raças super produtoras uma vez que normalmente são muito mais sensíveis às doenças e costumam apresentar problemas de todo o tipo. Pelo contrário, procuram-se raças rústicas, se for possível adaptadas à zona, que apresentem certa capacidade para a produção que se quer obter. Estas raças normalmente têm menos problemas e adaptam-se mais facilmente às condições de vida a que estarão submetidas. Em relação à reconversão do gado numa propriedade biológica ter-se-ão de considerar os seguintes tópicos: -

A criação de gado deve ser considerada no contexto de um sistema agrícola ecológico, no qual os animais desempenham um importante papel fechando os ciclos de nutrientes, fornecendo esterco para a adubação das culturas e permitindo ampliar a variedade das rotações com a introdução de culturas forraginosas. A reconversão do gado num processo que implica o cumprimento das normas de produção agro-pecuária.

-

Se todas as espécies animais da quinta não se reconvertem de uma só vez, a reconversão deve realizar-se espécie por espécie, de forma que desde o seu início se sigam por completo as normas de produção ganadeira nas espécies inscritas, aumentando-as progressivamente até completar a totalidade das espécies criadas. Para isso o tratador do gado estabelecerá um plano de trabalho que o Conselho Regulador avaliará anualmente.

-

O plano de reconversão da quinta deverá incluir os seguintes aspectos: -

Planificação das forragens.

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Sistema de pastoreação.

-

Composição e obtenção das matérias-primas para elaborara ração alimentícia.

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Alojamento.

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Sanidade ganadeira.

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As condições e duração da reconversão serão estabelecidas pelo Organismo Regulador de acordo com a normativa e as características da quinta e as espécies de gado. Para a reconversão das parcelas dedicadas a pastos e forragens seguir-se-ão as indicações estabelecidas para a produção agrícola.

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Para a concessão da Denominação, os períodos mínimos de criação do gado conforme as Normas, fixar-se-ão de acordo com as seguintes directrizes:

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Vaca de leite: criada conforme as Normas como mínimo durante 3 meses para a venda de leite. Este período poderá ser reduzido, mas sem nunca ser inferior a um mês, quando o animal tenha vivido em condições muito próximas às da pecuária biológica durante toda a sua vida.

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Bovino de carne: criado conforme as Normas como mínimo durante um ano para a venda de carne. Este período poderá ser reduzido, mas sem nunca ser inferior a dois meses, quando o animal tenha vivido em condições muito próximas às da pecuária biológica durante toda a sua vida.

-

Terneiros de engorda: devem receber colostro pelo menos durante quatro dias e ser criados conforme as Normas desde os 28dias do seu nascimento como mínimo.

-

Porcino: Deve ser criado conforme as Normas como mínimo desde os 30 dias do seu nascimento.

-

Aves para ovos: Devem ser criadas conforme as Normas como mínimo desde os 30 dias do seu nascimento.

-

Cordeiros, cabras, coelhos e aves para carne: Devem ser criados conforme as normas desde o seu nascimento.

-

Não é permitida a criação simultânea biológica e convencional da mesma espécie animal.

Uns dos primeiros passos a dar é reduzir a tensão do animal. Para isso deve-se realizar uma modificação dos sistemas de estabulação, aumentando a quantidade e a qualidade do espaço disponível, utilizando camas próprias para cada tipo de pecuária, permitindo a flexibilidade nas datas de estabulação. Outro passo consiste em utilizar sistemas de criação naturais que evitem os estados de stress tanto nas mães como nas crias e respeitando ao máximo os ciclos biológicos reprodutivos de cada tipo de animal. Um aspecto importante que está relacionado com os anteriores é a redução dos produtos veterinários convencionais mediante eliminação do uso de antibióticos para a terapia, diminuição do uso de vacinas de segurança, redução de tratamentos rotineiros contra lombrigas, introdução de sistemas alternativos que ajudam os tratamentos como a homeopatia, a aromaterapia e outros. É preciso conseguir a integração da pecuária fechando o ciclo completo dentro da propriedade, fazendo recriação, adaptando a rotação à produção de alimentos para o gado, adaptando o tipo de gado às culturas e às possibilidades da produção do alimento, ou ao menos de uma parte, dentro dela. Por último, é necessário o desenvolvimento de um sistema de comercialização que permita sair ao mercado com os produtos identificados como ecológicos. Em certas ocasiões não é fácil chegar ao mercado ecológico e recorre-se ao convencional para a venda, o que impede o benefício do que supõe um aumento de preço de acordo com a qualidade da produção. Por outro lado, o Na quinta biológica deve-se produzir a maior parte da alimentação do gado consumidor, se não os encontra habitualmente no mercado, não é consciente do que significa o consumo de produtos ecológicos. Deste modo, é preciso ter claro qual será a estratégia de venda, como se chegará ao consumidor, que tipo de mercado é o mais interessante e como se pode aceder a ele. A estratégia de venda é importante assim como um trabalho de informação ao consumidor onde se estabelecem as vantagens que arrasta o consumo de produtos ecológicos que induzam ao seu consumo não só pelos benefícios de saúde que comporta o seu consumo, mas também pelos benefícios que tem sobre a melhoria e a manutenção do meio ambiente ao utilizar as técnicas de produção biológica.

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Capítulo 12: Comercialização de produtos ecológicos. A agricultura biológica surge pela necessidade objectiva de regenerar o meio e dispor de alimentos não contaminados. A partir daí são os pequenos produtores que começam a tomar consciência da importância que no futuro terá a agricultura biológica e começa-se a formar um mercado. Ao princípio não há nenhuma norma estabelecida e vão aparecendo diversas estruturas: associações de produtores, cooperativas, associações de consumidores... através das quais produtores e consumidores entram em contacto. O grande repto que se apresenta perante o tema da comercialização dos produtos ecológicos é a necessidade de compatibilizar os componentes ideológicos com os requerimentos de um mercado no qual se tem que competir em toda a classe de produtos e serviços. Nesse processo de adaptação e criação de novos canais comerciais podem-se estabelecer uma serie de fases: Identificar as necessidades e a demanda concreta do mercado. Conhecer quais são as características deste mercado. Criar as condições adequadas para levar a cabo a comercialização. Colocar em prática as acções previstas. Acompanhar todo o processo.

No processo de comercialização também se devem ter em conta uma serie de elementos: -

O mercado ao qual se quer chegar e abastecer em função da capacidade de produção e da diversidade de produtos que se podem oferecer ao longo do ano. É importante ter uma estratégia apropriada tendo em conta que, normalmente, quanto mais esforço é preciso fazer, tanto melhor pode ser o preço.

-

O consumidor que deve ser informado e conhecer as vantagens que tem desde o ponto de vista da qualidade, da saúde e da protecção do meio o consumo de produtos ecológicos, por exemplo: o

Afasta do prato os produtos tóxicos.

o

Protege a saúde dos produtores.

o

Previne a erosão dos solos e cuida a água.

o

Ajuda os pequenos produtores.

o

Recupera o sabor e a cor dos alimentos.

-

O produto que deve reunir uma serie de requisitos para ser mais apreciado pelo consumidor: qualidade, desenho, preço, embalado, rotulado, serviço, imagem. Deve competir com os produtos convencionais a todos os níveis.

-

Nele o preço dos produtos ecológicos costuma ser ligeiramente superior em função da sua qualidade, do seu maior tempo de produção, mas que não deve ser o impedimento do grande público poder aceder a eles. É difícil comparar os produtos ecológicos com os produzidos de forma convencional e o consumidor apenas puderá avaliar a diferença através da informação.

-

Procurar uma oferta diversa, no geral os compradores individuais procuram-na para se abastecerem da maioria dos produtos que se consomem durante uma semana (hortaliças, frutas, arroz, tubérculos, ovos, produtos lácteos). Uma opção para que o comprador tenha sempre a diversidade requerida na hora de vender, pode ser o intercâmbio de produtos com outros agricultores ecológicos.

-

Outra possibilidade é que um grupo de consumidores “perfilhe” um agricultor, o que quer dizer que se organiza uma produção diversa e constante, a qual o grupo se compromete a comprar.

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-

Trabalhar organizadamente com outros produtores ecológicos. Muitas vezes os produtores têm que se defrontar com certos problemas quando se inicia a comercialização por meio dos supermercados apenas com alguns produtos isolados em vez de oferecer um pacote de produtos. Neste caso, também é importante que nos preocupemos em trabalhar organizadamente com outros produtores ecológicos. -

Distribuição para que o consumidor possa aceder a esses produtos sem perder nenhuma das características que os tornam apetecíveis e lhes podem dar certas vantagens competitivas em relação ao resto dos produtos. O problema da acessibilidade é importante uma vez que se o consumidor não pode aceder a eles de forma habitual deixará de utilizá-los.

A publicidade cuja missão importante é dar a conhecer as características diferenciadoras dos artigos, as vantagens que tem o seu consumo e que permite diferenciá-los de qualquer outro tipo de produto, transmitindo informação compreensível e importante para o consumidor. O consumidor deve ter um bom acesso aos produtos ecológicos

12.1. O controle de qualidade. Com o fim de assegurar ao consumidor que o produto foi produzido de forma biológica, necessitase de algum tipo de controle de qualidade. O sistema de controle de qualidade em agricultura biológica é baseado no cumprimento de umas normas, inspecções, certificação e validação dos produtos. A certificação é necessária porque cada vez são mais os consumidores que se interessam pelos produtos ecológicos, porque se preocupam com a sua saúde ou estão conscienciosos com o meio ambiente; alguns estão dispostos a pagar um preço algo superior por estes produtos. Por outro lado, cada vez é maior o número de agricultores que mudam para a agricultura biológica por múltiplas razões. Pelo menos alguns deles esperam obter preços mais elevados pelos seus produtos porque têm que investir mais trabalho ou diminuem, sobretudo ao princípio, os rendimentos e os produtos são mais seguros e têm um melhor sabor. Um preço mais elevado só é possível se houver confiança mútua entre produtores e consumidores. O consumidor quer assegurar-se de que o produto que compra foi realmente produzido de maneira biológica. O agricultor ecológico também necessita de estar protegido da concorrência desleal de outros agricultores que usam o termo “ecológico” de uma forma fraudulenta. A certificação biológica pretende construir a confiança entre consumidores e agricultores ecológicos As normas biológicas são requisitos mínimos exigíveis para a produção biológica. A inspecção das propriedades biológicas é uma supervisão de todo o processo agrícola, a análise em laboratório é apenas uma ferramenta de trabalho. Os programas de certificação endógenos são importantes para desenvolver um mercado doméstico dos produtos ecológicos e pode reduzir os custos de inspecção.

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12.2. Rótulos ecológicos. Com o fim de mostrar aos compradores, nos mercados e lojas, que um produto é ecológico, normalmente aplicam-se rótulos e marcas de certificação. Como as marcas comerciais, estes rótulos estão registrados, protegidos e podem ser utilizadas unicamente por produtores e processadores autorizados. Normalmente a autorização obtém-se com a assinatura de um contrato quando um produtor ou processador utiliza a certificação. Esta confirma que o produto é elaborado segundo normas biológicas específicas. Os rótulos e marcas de certificação ajudam o consumidor a reconhecer facilmente os produtos ecológicos dignos de confiança, por isso, são ferramentas importantes de marketing que permitem alcançar um melhor preço comparado com o dos produtos convencionais. 12.3. Normas de produção biológica. Pode-se perguntar o que significa exactamente que um produto esteje rotulado como ecológico. O atributo de ecológico significa que o produto foi elaborado de acordo com certos requerimentos denominados “normas”. As normas biológicas não definem o status de qualidade que pode ser medido no produto final, por exemplo, quantos resíduos de pesticidas estão permitidos, mas sim definem o processo produtivo, isto é, que não se aplicará pesticidas químicos. As normas biológicas mais importantes internacionalmente são as normas básicas de IFOAM. Estas são revistas regularmente para assegurar que reflectem a realidade da agricultura biológica no mundo. Além dos requisitos mínimos, descrevem os princípios da agricultura biológica e fornecem recomendações de como alcançar os requisitos mínimos. Além disso, existem outros critérios ecológicos a nível privado, nacional e internacional. As normas básicas de IFOAM fornecem um padrão para processos de certificação e organizações de estabelecimento de controles em todo o mundo que desejem elaborar os seus próprios controles de certificação e não podem ser empregados para certificar eles sozinhos. Os controles de certificação local podem cumprir ou exceder os controles básicos de IFOAM, mas terão em conta as condições específicas locais e prover mais requisitos específicos.

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Capítulo 13: Legislação. Consideram-se produtos da agricultura biológica, biológica, orgânica, biodinâmica ou biológicodinâmica, aqueles produtos alimentares vegetais ou animais, elaborados ou não, que cumpram com o estabelecido no Regulamento de Agricultura Biológica e as suas disposições adicionais a nível nacional e europeu. Quando se lê o Regulamento Europeu e demais normativa técnica, pode-se apreciar que se trata de normas muito generalistas, isto é, apenas indicam os requerimentos mínimos e as pautas habituais para todos os produtores, transformadores, embaladores e importadores que desejem entrar num sistema de mercado ecológico. A nível nacional, existe uma Normativa Técnica legalmente estabelecida. Isto é, são, na sua maioria recomendações e normativas pragmáticas, não inovadoras, mas sim úteis, pois fazem uma recopilação da informação geral disponível na EU. Como todos sabemos, às vezes cumprir a norma não é suficiente, é preciso demonstrar que, como bom profissional, um produto cumpre com acréscimos os requerimentos e, além disso, fá-lo de forma sistemática e integralmente, quer dizer, desde o princípio até ao final da cadeia de produçãoalimentação. Isto é o que se deve considerar como prioritário com a finalidade de garantir por um lado o produto e por outro, que os clientes serão habituais porque estarão satisfeitos com o alimento que se colocou no mercado. Desde a divulgação do Relatório Brundtland na década de 80, quando se definiu o desenvolvimento sustentável, até a recente publicação do VI Programa de Acção de Meio Ambiente, o Governo e a Comissão Europeia estão preocupados em realizar um bom trabalho para manter o estado de bem-estar, ao mesmo tempo que torna possível que todas as actividades económicas sejam mantidas no espaço e no tempo de forma coerente com o meio natural. Neste caso, diz-se que a perdurabilidade das actividades produtivas deve estar garantida. A pecuária e a agricultura devem actuar coerente e respeitosamente com o meio, com a finalidade de fazer desta actividade empresarial, uma profissão rentável e duradoura para as gerações actuais e futuras. Este tema é de grande relevância, visto que implica directamente uma transversalidade directa com a alimentação e a saúde dos europeus. Por tudo isto, a Europa trata de se comprometer, cada vez mais, com aquelas actividades económicas que preservam e melhoram o meio, criando normativas que asseguram e garantem a protecção do solo e do meio em geral. Para isso na Europa aplicam-se dois princípios muito simples: Elabora umas normas de garantia nos métodos de produção. Aplica um regime de controle a todo o processo no qual se vêem implicados produtores, transformadores, embaladores, transportadores e importadores.

Isto significa que , mediante os Certificados de Controle pretendem-se garantir os produtos que se encontram rotulados como “Agricultura Biológica Sistema de Controle CE”, sejam efectivamente produtos cujo incremento de preço está justamente estabelecido, protegido e assegurado. Recentemente o VI Programa de Acção da CE em matéria de meio ambiente, intitulado “Meio Ambiente 2010: O futuro está nas nossas mãos”, mostra-nos que cada dia se avança mais na aplicação da legislação ambiental nos Estados membros. Este crescente interesse deve-se aos recursos do planeta, em especial o solo, a água e o ar suportam uma forte pressão da sociedade humana. É por isso que desde a Europa se propuseram umas estratégias directas, das quais três delas têm implicações directas com as melhorias na forma de produção agrária. Melhorar a aplicação da legislação já existente em matéria de meio ambiente, com acções judiciais mais enérgicas e com um apoio às melhores práticas, com uma política de informação da população para colocar nome e apelidos tanto a cumpridores como a infractores. Proteger a natureza e a biodiversidade, em especial, restaurando o funcionamento dos sistemas naturais

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e preservando os solos contra a erosão e a contaminação. Conseguir um nível adequado de qualidade ambiental tal, que as concentrações de contaminadores de origem humana, não tenham riscos significativos sobre a saúde humana. Em relação à agricultura biológica/biológica, existe uma crescente demanda para a aquisição de produtos biológicos, isto é, daqueles produtos que na sua produção não se utilizaram elementos químicos de síntese. Deste modo, o método de produção biológica implica importantes restrições na utilização de fertilizantes e/ou pesticidas, que têm efeitos desfavoráveis para o meio natural e deixam resíduos nos mesmos produtos agrários. A agricultura biológica implica práticas de cultura variadas e com um fornecimento limitado de adubos e de correctores não químicos e pouco solúveis. Este método de produção proposto na agricultura e na pecuária biológica pode desempenhar um encargo importante na futura reorientação da Política Agrária Comum a partir de 2006, fazendo com que se contribua para a criação e a manutenção de um equilíbrio entre a oferta e a demanda dos produtos agro-alimentares, protegendo o meio natural e incrementando o desenvolvimento rural dos territórios Proteger a agricultura, isto é, torná-la biologicamente sustentável com o meio, mediante normativas de produção, rotulagem e controle, faz com que não exista uma concorrência desleal tão desmesurada entre os produtores quantitativos e os produtores qualitativos, evitando o anonimato nos mercados e assegurando um bom trabalho quotidiano de ambos os tipos de produtores. As normas de produção aceitadas e aceitáveis, a rotulagem estabelecida como garantia da qualidade do produto e as medidas de controle fixadas pelo Regulamento europeu 91/2092/CEE e a sua indicação nos produtos agrários e alimentícios na matéria, descrevem-se de seguida de forma mais precisa e detalhada, até à data de hoje, com a última modificação realizada através do Regulamento CE/1162/2002 de 28 de Junho. A normativa básica sobre agricultura biológica está definida pelo Regulamento CEE/2092/91 do Conselho, sobre a produção biológica e a sua indicação nos produtos agrários e alimentícios, assim como nas suas disposições adicionais, que são bastantes, nas quais modificam os anexos do citado Regulamento. A normativa europeia sobre a produção de produtos ecológicos faz referência aos seguintes produtos, quando se virem as indicações referentes ao método de produção ecológico: -

Os produtos agrícolas vegetais não transformados, produtos animais e produtos animais não transformados, na medida em que cumpram os requisitos da produção.

-

Produtos agrícolas vegetais transformados e produtos animais transformados destinados à alimentação humana, preparados basicamente a partir de um ou mais ingredientes de origem vegetal ou animal.

-

Alimentos para animais, pensos compostoos e matérias-primas para a alimentação animal elaborados segundo os princípios de produção agrária.

Assim, considera-se que um produto leva indicações referentes ao método de produção ecológico quando, na rotulagem, na publicidade ou nos documentos comerciais, o produto, os seus ingredientes ou as matérias primas para a alimentação animal tenham sido obtidas de acordo com as normas de produção biológicas. Os produtos autorizados motivadamente para o sistema de produção biológica deverão cumprir os seguintes requisitos: Ser essenciais para o controle de um organismo ou de uma doença particular em relação à qual não disponha de outras alternativas biológicas, físicas, de cultura ou de selecção. Que as condições para o seu uso excluam todo o contacto directo com as sementes, os vegetais, os produtos vegetais ou animais e os seus produtos. No entanto, no caso de vegetais perenes poderá ter um contacto directo, mas apenas fora do período de crescimento das partes comestíveis, isto é, os frutos, sempre que a dita aplicação não tenha como consequência indirecta a presença de resíduos do produto nas partes comestíveis.

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Que a sua utilização não produza efeitos inaceitáveis sobre o meio ambiente nem contribua para a sua contaminação. Em relação aos minerais e oligoelementos utilizados na alimentação animal, podem ser aceites fontes complementares para estes produtos, sempre que sejam de origem natural ou à falta deles, de síntese, nas mesmas formas que os produtos naturais. Em geral, em relação às normas de produção animal, os Estados Membros podem aplicar normas mais rigorosas à pecuária e à produção animal produzidas no seu território, sempre que as ditas normas observem a normativa comunitária e não proíbam nem restrinjam a comercialização de outros animais e produtos animais que cumpram os requisitos adequados.

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