Uma
PALAVRA Inicial
D
esenvolver um projeto editorial como esse é um misto de várias coisas: empenho, muito trabalho, dedicação, desafios variados, muitas conversas e ajustes, enfim, horas a fio dedicadas às linhas que constituem essa revista que você tem em mãos. Por isso mesmo, este é um projeto empolgante! Nos faz vibrar! O tema é atualíssimo e pertinente, embora não seja uma novidade. E de fato não poderia mesmo ser uma novidade, pois novidade é efêmera, passageira, de pouca durabilidade. O assunto em tela, bem como a prática que ele representa, vem sendo observado pela Igreja nos últimos dois mil anos. É um tema que precisa sempre ser revisto e reconsiderado por todo cristão. É claro que nosso tempo tem suas características peculiares, e o assunto será abordado em face dessa nova realidade. Por isso estamos convencidos da importância e relevância dessa revista para todo cristão, que você agora tem em mãos. Externamos nossa profunda gratidão primeiro a Deus, que de maneira admirável, nos abre essa porta para a difusão da Sua incomparável Palavra e dos ensinos que ela inspira. Só Ele mesmo poderá calcular os resultados gerados por este trabalho, na vida das pessoas que serão alcançadas. Nossa gratidão também à Igreja do Evangelho Quadrangular capixaba, que recebe e acolhe este lindo projeto editorial. À Secretária de Educação da Igreja do Evangelho Quadrangular no Espírito Santo, Pastora Iara Duque, por sua confiança em nós depositada, por sua visão e incrível capacidade de ensinar até inconscientemente. Ao designer gráfico, e grande amigo pessoal, aquele de Provérbios 18.24b, pelo imenso trabalho que teve de preparar os originais e “gerar” o material que você agora tem em mãos, estimado(a) leitor(a). E claro, a você, estimado(a) leitor(a) dessa revista. Você é nada mais, na menos que a razão desse trabalho vir a lume. Minha oração e profundo desejo é que as linhas que se seguem possam enriquecer sua vida imensamente, para glória de Deus, gerando frutos duradouros para o Seu Reino. Deus seja glorificado! Em Cristo, Professor Roney Ricardo Vila Velha, Abril de 2015. Página 02
Jovens e Adultos
Desafios Atuais à Vida Cristã
Tempo de Vida Comentarista: Roney Ricardo
SUMÁRIO
Lições Bíblicas Lição 01 Que tempo é esse?__________________________02 Lição 02 A Verdadeira Vida Cristã Lição 03 Cultivando a Vida com Deus Lição 04 O caráter e as nossas escolhas Lição 05 O que é ser Cristão Lição 06 Vida Profissional e Vida Cristã: uma Conciliação Possível? Lição 07 Educação Cristã e seu papel na formação do cristão Lição 08 E a Bíblia, como fica? Lição 09 Vida Cristã e Vida a Dois, como fica? Lição 10 Evangelho, Sabemos o que é? Lição 11 A Importância de se Conhecer a Cristo numa Era Pós Moderna Lição 12 Porque o Cristianismo? Lição 13 Valores Eternos Página 03
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Lição
01
TEXTO BÍBLICO CENTRAL 1 Coríntios 6.12 “Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido”, mas eu não deixarei que nada domine.
QUE TEMPO
É ESSE?
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Romanos 12.1-5 1. Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. 2. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. 3. Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. 4. Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, 5. assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros.
INTRODUÇÃO Comentário
Pensar e repensar a vida cristã no contexto atual, do qual todos nós fazemos parte, não é apenas interessante, mas necessário! O cristão está na sociedade e como parte dela sente os impactos das relações sociais e das mudanças na cosmovisão das pessoas. Nesta revista, abordaremos Nossa oração a Deus é que este conjunto de lições possa ser fator de Página 04
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grande edificação para sua vida. Que o nosso cristianismo, a maneira como compreendemos a vida cristã, possa ser “confrontada” acima de tudo à luz das Sagradas Escrituras. Deus o(a) abençoe nessa jornada que começamos agora! Vamos ao trabalho.
I. QUE TEMPO É ESSE? Com frequência ouvimos as pessoas mais velhas dizerem: “No meu tempo não era assim...”. Essa frase tem razão de ser, porque as coisas vêm mudando muito nas últimas décadas. Aliás, é bem verdade que mudanças sempre marcaram a história humana. O mundo sempre mudou. A novidade não é tanto o fato de o mundo mudar, mas sim a velocidade com que ele vem mudando. Essas alterações ocorrem em todos os campos: na ciência, na tecnologia, na maneira como recebemos informações, na medicina, na filosofia, etc. A velocidade dessas mudanças é tão grande que não damos conta de acompanhá-las. Os estudiosos da filosofia e da sociologia (e da própria teologia) em geral usam a expressão “pósmodernidade” para se referirem ao momento histórico em que vivemos. Em outras palavras, nossa época tem sido chamada de “pósmodernidade”. É comum no âmbito da História dar nome a períodos, e desse modo falamos de “Antiguidade”, “Idade Média”, “Modernidade”, “Pós-Modernidade”, entre outros. É bem verdade que em se tratando do nosso tempo, alguns estudiosos rejeitam a expressão “pós-modernidade”. Existem outras expressões como “modernidade tardia”, “ultramodernidade”, “hiper-modernidade”, entre outras. Os especialistas no assunto reconhecem que nosso tempo possui características tão singulares que se torna até difícil nomeá-lo! Nesse sentido, os vários títulos que são dados ao “nosso tempo” talvez sejam indicadores de diversas características que o marcam. A partir de agora consideraremos algumas marcas da pós-modernidade, algumas características dessa época em que vivemos e depois buscaremos na Palavra de Deus as respostas para lidar com elas.
II. MARCAS DA PÓS-MODERNIDADE. Vejamos a seguir algumas características do nosso tempo que nos ajudarão não apenas a percebê-lo, isto é, perceber o nosso tempo, mas também compreendê-lo 1. Vejamos: Página 05
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1. Um tempo de mudanças aceleradas. Se você tem trinta anos ou mais e estiver conversando com alguém de 17, 20 anos, e mencionar coisas como “fita VHS”, Brasília e carburador, fita K7, videocassete, entre outras, provavelmente você não será plenamente compreendido. É curioso pensar que esses itens fizeram parte do nosso cotidiano e hoje, no entanto, estão praticamente extintos. No entanto, não faz muito tempo que tudo isso deu lugar a novas tecnologias que ganharam espaço em nosso cotidiano. Quando pensamos nisso, ficamos surpresos, porque de fato, “passou muito rápido”, como costumamos dizer. Mas é importante observarmos que as mudanças rápidas não estão acontecendo apenas na tecnologia que nos cerca e nos serve, mas no próprio pensamento, na maneira de viver e de encarar a vida, de se relacionar com o outro, enfim, a cosmovisão da sociedade pós-moderna é um constante “vir a ser”. Isso tem contribuído para que as pessoas não se firmem em nada, afinal, sempre há uma novidade. Como se apegar a algo ou a alguma convicção se tudo é tão passageiro nessa era? A velocidade da mudança trouxe instabilidade, de certa forma. Como diria o sociólogo Bauman, nosso tempo é marcado pela “liquefação”, isto é, tudo é líquido, nada é sólido, nada é duradouro – tudo se desfaz!2 2. Um tempo de remoção de marcos antigos. Repare que tudo hoje vem “derretendo” aos poucos (ou melhor, não tão aos poucos assim!): a família, o casamento, as relações sociais, o estado, etc. Valores morais são cada vez mais preteridos. Recentemente, a Tailândia aprovou o casamento (casamento!?) de três homens 3... Isso mesmo, três homens! Em outras palavras, estamos vendo governos apoiando a imoralidade e práticas que desagradam a Deus. Valores familiares, valores cristãos que moldaram o Ocidente, hoje são tidos como retrógrados e ultrapassados. Mais triste ainda é constatar que temos cristãos com essa mentalidade em nossas igrejas. A Palavra de Deus, a Bíblia, é supracultural e não está limitada ao tempo. Seu valor é eterno e seus preceitos imutáveis. 3. Um tempo de muitos “ismos”. Sim, isso mesmo, muitos “ismos”. A pósmodernidade é marcada por uma quantidade enorme de “ismos”, o que reflete a pluralidade que caracteriza essa época. Aqui, consideraremos apenas três: o individualismo, o hedonismo e o sincretismo (religioso). Página 06
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O individualismo é a marca registrada da sociedade pós-moderna. Convivemos com reportagem atrás de reportagem sobre cachorros e outros animais no horário nobre e questões sociais sérias são preteridas e às vezes até ignoradas. A notícia da morte truculenta de um indivíduo já não choca mais as pessoas. Estamos vendo a humanidade se desumanizar. O outro já não ocupa mais a nossa agenda. Ouvir o próximo tornou-se uma arte! O homem pós-moderno vive tão ocupado consigo mesmo que o “outro” não lhe interessa mais. A máxima do evangelho, no entanto, é “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27,28). O Mestre nos dá seu exemplo ao demonstrar empatia pelas pessoas: “Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9.36). O hedonismo é outra marca latente de nossos dias. “Nossa era é também a era do hedonismo, onde as pessoas buscam o prazer pelo prazer e o prazer a todo custo. Saltam de cama em cama, de jogo em jogo, de vícios em vícios. Não há limites estabelecidos quando a questão é satisfação. E nessa busca pelo prazer a todo custo, sentimentos, valores e importâncias alheias são pisoteadas, pois afinal o que importa é o prazer! O interessante é que as pessoas procuram legitimar sua conduta mesmo que ela seja imoral, como que tentando compensar psicologicamente a irregularidade da situação. É como se elas tentassem convencer a si mesmas de que estão agindo bem enquanto agem errado. Assim, por exemplo, para muitos, trair o cônjuge chega a ser uma necessidade e desse modo, justificável! Todavia, na prática, as coisas não são tão símplices assim. As conseqüências vêm. Consideraremos algumas delas logo adiante”4. Já o sincretismo é outra ameaça não só a sociedade, mas à própria Igreja de Cristo. O pastor e teólogo Hernandes Dias Lopes comenta com muita clareza que “Nós estamos percebendo que no mundo inteiro há uma grande tendência para o afastamento da verdade, para uma apostasia da fé. Para uma mistura da fé cristã com outras práticas estranhas a Palavra de Deus. E este resultado nós chamamos de sincretismo. Se você olhar a cultura brasileira, ela favorece muito ao sincretismo, porque o Brasil é uma miscigenação de raças: índios, negros e brancos se misturaram formando um caldeamento de raças. Também do ponto de vista religioso nós somos uma mistura. Temos a pajelança indígena, temos o catolicismo português e espanhol, temos o cardecismo francês, temos os cultos afros. E esta mistura de várias crenças e crendices gerou o que nós chamamos de Página 07 Página 04
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sincretismo. Várias crenças misturadas. Quando você bate tudo isso no liquidificador você tem um produto; e este produto não é o Evangelho. E este produto não é a verdade. Este produto é um desvio e uma negação da verdade simples e pura do Evangelho da Graça, do Evangelho de Jesus”5.
III. COMUNICANDO O EVANGELHO A UMA ERA PÓS-MODERNA. Antonio Cruz chama a nossa atenção para o fato de que “o mandamento divino de levar o evangelho a todo o mundo requer o diálogo entre a fé REFLEXÃO cristã e a cultura de cada época”6. Esse diálogo, contudo, implica na Na falta de saber qual é o caminho, condição de entender/compreender caminhar por trilhas seguras ainda a mentalidade do homem do século continua sendo a melhor forma de seguir à frente. 21 para poder conseguir se comunicar com ele. Não implica na Esdras Bentho assimilação por parte da Igreja da mentalidade pós-moderna, divorciada da verdade e oposta a Deus, no sentido de viver conforme o mundo sem Cristo. A despeito disso, estamos no mundo, vivemos na sociedade, somos também a sociedade e portanto, precisamos ter condições de nos comunicar com a sociedade. 1. Vivendo conforme a vontade de Deus. Como vimos no Texto Bíblico Central, Paulo nos dá o exemplo ao mostrar que a vida cristã, a moralidade cristã, não se resume a apenas saber o que é e o que não é permitido, mas sim em distinguir o que prejudica e o que não prejudica o seu crescimento espiritual. De fato, há coisas que são convenientes para a sociedade, mas incompatí-veis com uma vida santa, consagrada a Deus. Outras, são condenadas pela sociedade, mas largamente praticadas por ela. Exemplo? A mentira! As pessoas mentem quando “precisam”, mentem o tempo todo e mentem para todos. A Bíblia, contudo, ensina-nos: “Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas” (Cl 3.9). 2. Mantendo o padrão. Embora vivamos numa sociedade em constante Página 08
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mudança, que altera seus “valores” o tempo todo a seu bel prazer, como cristãos precisamos reconhecer que os valores da Palavra de Deus concernentes a Deus, à vida, à Igreja, ao homem, enfim, ao mundo, são eternos. Sua Palavra é imutável (Mt 24.35) e verdadeira (Jo 17.17). Portanto, necessário é nos apegarmos a ela e compreender sua mensagem para nós, hoje. Nesse sentido, reconhecemos que a Bíblia é supracultural e seu valor permanece hoje, no século 21.
CONCLUSÃO Diante do quadro assustador que apresenta diante de nós, surge uma pergunta: Ainda há esperança? A resposta mais adequada é: Sim, há! Em minha experiência pessoal, pude perceber que em nosso ambiente eclesial, fomos, muitas vezes, alimentados com uma espécie de sentimento de desesperança em relação à sociedade, sentimento esse fomentado principalmente por concepções escatológicas que a meu ver foram mal compreendidas por nós. As doutrinas da parousia de Cristo, Grande Tribulação, estabelecimento do Milênio e dos Novos Céus e Nova Terra e ainda, o Juízo Final, parece que produziram em muitos crentes (inclusive em mim) uma postura de conformidade com a ideia de que o mundo caminha, inevitavelmente, para o seu fim. Como pesquisador, professor e palestrante na área de Escatologia Bíblica, creio piamente que a Bíblia revela sim o desfecho final da história da humanidade, sendo ela e ela somente a autoridade quanto a esse assunto. Essa compreensão, todavia, não deve produzir em nós uma espécie de indiferença às demandas sociais. Como Igreja, não apenas estamos na sociedade, também somos a sociedade. Cristo deseja que influenciemos o mundo. O futuro da Igreja, conforme descortinado pela Escatologia Bíblica, deve motivarnos ao presente, ao agora, sem que isso nos entorpeça a ponto de não desejarmos e amarmos a Segunda Vinda de Jesus. Lembremo-nos de que grandes avivamentos do passado foram capazes de mudar e influenciar profundamente cidades e até nações inteiras. Ante a pós-modernidade, a Igreja deve “remar contra a maré”. Ela é depositária das verdades do Reino, de valores cristãos e bíblicos, de uma ética pautada pela Palavra de Deus. Portanto, a Igreja pode influenciar positivamente a sociedade à sua volta, atraindo vidas a Cristo. 1 Palavra grega para “vinda”. O termo acabou assumindo também uma forte conotação teológica, em decorrência de seu uso na Teologia.
Especificamente na Escatologia Pré-Milenista Dispensacionalista. Futurista quanto à interpretação do Apocalipse. 2
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