O menino que nรฃo sabia abraรงar
Era uma vez um menino que
abraçar. Ele morava com os numa cidade muito grande.
não sabia
pais Nessa cidade as pessoas usavam os
braços
e as mãos para fazer um monte de coisas Para escrever, dirigir, limpar a casa, fazer comida, digitar textos, carregar as coisas... Essas pessoas sempre estavam com muita pressa e ocupavam tanto os braços e as mãos que não sobrava tempo para
abraçar.
Em dia de festa de aniversário, eles cantavam parabéns e batiam palmas. Depois as crianças iam brincar e os pais corriam para arrumar as coisas e não encontravam tempo para carinhos.
notas
boas
escola, os professores sempre o elogiavam, mas as mãos e os braços estavam ocupados, carregando livros ou escrevendo na lousa.
Quando o menino tirava
na
O tempo foi passando e ele acabou aprendendo que
os braços e as mãos serviam para muitas coisas. Mas sentia uma falta não sei de quê. Uma dorzinha no coração, uma saudade de algo que não conhecia. Quando
ficava
triste
agitando os
de
verdade,
braços
chegava em seu
dançava
músicas
e um pouco de alegria
coração.
mudar de cidade. A escola e os amigos eram diferentes. Ele conheceu uma menina que vivia abraçando os outros e não entendia bem aquilo. Ela era tão pequenininha, mas tinha braços do tamanho do
Um dia, a família do menino precisou
mundo.
Abraçava até gente grande.
enrolar aqueles braços sentiu algo esquisito. Não ficou quietinho, sem jeito.
Certa vez, quando ela tentou
nele,
o menino
conseguia se mover e
Ela achava que aquele menino era
tímido demais
e nem adivinhou que ele nunca tinha
abraçado
alguém. O menino passou a olhar com curiosidade para ela, que chegava todo dia sorrindo e já ia
enrolando os braços
nas pessoas. Primeiro na mãe, depois no porteiro da escola, na professora, na faxineira, nos amigos e nele.
Começou a ter com
medo.
Contou tudo para
preocupados com o que estava ocorrendo na escola.
os pais, que ficaram
As outras crianças não se importavam com a mania daquela menininha. Aliás, aquilo parecia
contagioso. Todos começaram a imitá-la. De uma hora para a outra,
outros
enrolaram os braços uns nos que havia mais sorrisos pelo caminho.
e parecia Talvez fosse uma doença estranha. Entretanto, seus pais estavam sempre muito ocupados para conhecer a
menina.
pai do menino saiu sofreu um acidente no
Um dia, o
trabalho e
correndo do trânsito. No
hospital, os médicos estavam cuidando de tudo.
tristeza
O menino sentiu a maior do mundo dentro dele. Os dias passaram e seu pai ainda
continuava no hospital. Sempre com os braços ocupados, pensava. Agora com gesso e ataduras. Ele
sentava-se ao seu lado e sentia que aquela dorzinha tinha se transformado numa dorzona dentro do
coração. Ficava com os braços caídos ao lado do corpo e não sabia direito o que fazer com eles.
escola. Chegando cantinho da sala, e
A mãe resolveu mandá-lo de volta à lá, ficou sozinho, num começou a
chorar
bem baixinho aquela dorzinha que
dorzona
foi crescendo e crescendo e virando . Sentiu alguém chegando perto e quando percebeu, aqueles
bracinhos se enrolaram e abraçaram. E pela primeira vez na vida, o menino ergueu os braços e os enrolou na menina. E chorou toda dor que sentia. Todo medo de ficar sem o pai. Ela ficou quietinha, só ouvindo aquela dor indo embora junto com as lágrimas que não paravam de cair.
De repente, seus olhos se encontraram. Ele entendeu para que
serviam os braços.
Serviam para ajudar o outro a nĂŁo sentir solidĂŁo, para consolar, acalmar, aliviar e compartilhar a dor e tambĂŠm a
amizade.
E os dois saíram
abraçados pela escola.
Os professores olhavam espantados para o menino que
não sabia abraçar.
Lá no portão, a mãe o estava esperando no carro e, quando olhou no banco do passageiro, viu o pai.
sorriso e jogou-se nos braços assustando-o. Percebeu, pela primeira
Abriu um
dele, vez,
que havia
um braço livre que não estava com gesso e com nenhuma outra coisa ‘importante’. Sentiu uma vontade estranha subindo pelo coração, explodindo em choro e sorrisos. A mãe se juntou a eles e a menina também.
E a partir desse dia, todos
muitas utilidades para nossos braços e mãos, mas principal delas é para sentir entenderam que há
a que, mesmo estando em duas ou três pessoas,
podemos ser
apenas um.
ESEB Artes Plásticas e Multimédia Ilustração Elisa Albano 2ºano 2010