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Vivências na Natureza para Adolescentes
Registros dos alunos do Ensino Fundamental II na Trilha da Cooperação da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/SP: Ponte para Reflexões das Vivências na Natureza para Adolescentes
21 Eduardo Marcolino
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Resumo
O presente estudo tem como base a análise de três vivências realizadas na Trilha da Cooperação, alocada na área da Escola do Meio Ambiente (EMA), Botucatu/SP. A referida trilha foi realizada com alunos dos 8ºs anos das escolas de Ensino Fundamental II do município de Botucatu - SP. No final da vivência, os alunos foram motivados a escrever em um pequeno papel uma palavra que retratasse os aspectos por eles absorvidos. Os registros foram triados pelos monitores e estagiários da EMA. É relevante salientar que o propósito do presente estudo foi averiguar se as vivências realizadas, durante a Trilha da Cooperação, sensibilizaram os estudantes. Ao final das análises, concluiu-se que os adolescentes, ao participarem ativamente das atividades da Trilha da Cooperação, tornaram-se protagonistas do trabalho de Educação Ambiental, desenvolvido pela Escola do Meio Ambiente, fator relevante na metodololgia da sensibilização.
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Abstract
The current study is based on the analysis of three experiences realized on the Cooperation Trail, located in the Escola do Meio Ambiente (EMA), Botucatu / SP. This trail was applied with students of the 8th year of elementary schools in the Botucatu city - SP. At the end of the experience, the students were motivated to write on a small paper a word that portrayed the aspects absorbed by them. Records were selected by EMA monitors and interns. It is relevant to note that the purpose of the present study was to ascertain whether the experiences carried out during the Cooperation Trail made students aware. At the end of the analysis, it was concluded that the adolescents, when actively participating in the activities of the Cooperation Trail, became protagonists in the work of Environmental Education, developed by the Escola do Meio Ambiente, a relevant factor in the awareness process.
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Introdução
A Escola do Meio Ambiente (EMA), localizada no município de Botucatu, SP, possui grande privilégio ambiental, pois se situa em uma região de encontro de Floresta Estacional Semidecidual, uma porção de Cerrado e também uma área de Floresta Paludosa (in: Trilha da biodiversidade: Mosaicos com diferentes ecossistemas, 2009). À vista disso, a escola passou a ser um núcleo de referência ambiental (Decreto Nº 7.662 02/07/2008), onde os alunos do ensino municipal de Botucatu e região têm aulas de campo com atividades ecológicas voltadas para a educação ambiental, conduzidas por monitores ambientais ou por estagiários da graduação, dos cursos de Ciências Biológicas e/ou Pedagogia. Tendo como fundamento a importância de ouvir os alunos, não só para avaliação dos mesmos, mas também para análise da conduta do educador, através da percepção dos educandos (MORALES, 2006), após o desenvolvimento das vivências realizadas na Escola do Meio Ambiente, o presente estudo realizou o diagnóstico dos registros feitos pelos estudantes que percorreram a Trilha da Cooperação, interpretando os dados por eles produzidos. Entendemos que a inserção dos alunos em meio à floresta estimula a compreensão das questões ambientais (TAMAIO, 2002), visto que a relação professor-alunoconhecimento sofre influências do espaço-tempo onde ocorre o processo de aprendizagem (GAULKE, 2013). Destarte, o objetivo principal dessa trilha foi apresentar a cooperação como forma de superar obstáculos entre os seres humanos e também como ferramenta de educação ambiental. A vivência foi desenvolvida, no primeiro semestre do ano letivo de 2019, com alunos dos 8ºs anos do Ensino Fundamental II, das escolas municipais de Botucatu. No início da trilha, era proposta, aos alunos, a reflexão sobre o significado e, ao longo do percurso de aproximadamente 300m, os discentes passavam por várias vivências, das quais destacamos três, relacionadas com a abordagem do presente estudo. A primeira delas, inspirada na dinâmica “Anjo da Guarda’’, consistia na caminhada em duplas, em meio à trilha, localizada na floresta, de forma que, enquanto um aluno cobria os olhos com uma venda, o outro o conduzia. Na metade do percurso, os 24
papéis eram invertidos para que ambos tivessem a possibilidade de ter a mesma experiência. Posteriormente, o monitor explicava a importância da cooperação para o momento vivenciado. O segundo desses momentos, chamado ‘’Retalhos da Existência’’, consistia na escolha de um dos retalhos, disposto em um varal de barbante preso entre dois troncos de árvores, presentes no decorrer do percurso pela floresta. Nesse caso, a escolha da cor e/ ou estampa do retalho deveria estar relacionada ao sentimento que o aluno trazia consigo no momento, podendo compartilhá-lo ao grupo caso sentisse à vontade para fazê-lo. Dessa forma, em meio apenas aos sons da natureza, os estudantes tinham a liberdade de se expressar oralmente de forma espontânea ou permanecer em silêncio. Essa vivência foi muito relevante para o entendimento de que os conflitos dos adolescentes são muito semelhantes em histórias de vidas diferentes. Em seguida a essa pausa para a expressão oral, todos eram convidados a colocar seu pano/retalho em uma lona branca estendida no chão e, baseando-se na observação do conjunto de retalhos estendidos, o monitor fomentava uma reflexão mostrando que a fragilidade é comum aos indivíduos, priorizando a importância de se reconhecer humano e, consequentemente, parte da natureza. O terceiro momento foi o da contação da história: A árvore generosa (SILVERTEIN, 1964), cujo foco principal era a relação entre o homem e a natureza. Ao final dessa, o condutor da trilha promovia a “costura” das vivências acima citadas com a importância da cooperação entre a humanidade e a natureza e entre os próprios seres humanos para garantir a sobrevivência, não apenas da nossa espécie, mas de todos os seres vivos. Uma vez realizada a explicação acima, os monitores pediam para que os discentes registrassem, em um pequeno papel, algo a respeito da trilha. Os relatos escritos pelos alunos, ao final dos três momentos descritos acima, motivaram a realização do presente estudo. Assim, essa pesquisa, que possui um caráter qualitativo nominal (VIEIRA, 2016) – uma vez que não se tem uma ‘’ordem’’ em qual ‘’resposta é melhor ou pior’’ – foi realizada com uma amostra composta por um total de oito turmas, 182 alunos das escolas municipais de Botucatu,SP: E.M.E.F Prof Elda Moscogliato e E.M.E.F João Maria de Araújo, sendo 4 salas de cada uma, no período
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de 16/04/2019 a 22/05/2019. Ao final desse período, utilizando essa amostra de alunos, os monitores e estagiários da Escola do Meio Ambiente se reuniram para separar, analisar e refletir a respeito das respostas dadas por eles a partir do enunciado: ‘’escreva algo a respeito da trilha’’, estando, nesse momento, como já relatado anteriormente, o aluno livre para registrar o que aprendeu, sentiu, presenciou; em outras palavras, o que foi vivenciado no percurso realizado, cuja duração é, em média, uma hora e trinta minutos. As respostas foram separadas em quatro grupos com a finalidade de se obter uma melhor análise comparativa. É importante salientar que, no presente estudo, não existem respostas certas, erradas ou neutras; destarte, todos os registros assumiram um papel fundamental, auxiliando monitores e estagiários da Escola do Meio Ambiente a refletir sobre as vivências realizadas com adolescentes na Trilha da Cooperação. As tabelas abaixo apresentam os quatro grupos elencados: Sentimentos, Preservação da natureza/elementos naturais, Valores e Outros, para a distribuição dos registros dos alunos participantes. A fim de que uma resposta fizesse parte do grupo ‘’Sentimentos’’, o registro deveria estar relacionado às sensações sentidas durante o percurso da trilha. Aquelas catalogadas em ‘’Preservação da natureza/ elementos naturais’’ são as que possuíram tanto caráter ambientalista, como, por exemplo, ‘’pessoas precisam cooperar com a natureza’’, quanto as que apenas citaram organismos presentes na floresta, como ‘’árvore’’ ou ‘’capivara’’. Já aqueles cuja análise foi nomeada como ‘’Valores’’ são os registros em que o aluno escreveu alguma virtude que poderia levar para a vida, como, por exemplo, ‘’amizade’’ e ‘’conhecimento’’, ou frases, como: ‘’que a gente deve ser compreensivo’’. E, por fim, o grupo ‘’Outros’’ apresenta os termos ou frases que não puderam ser classificados em nenhum dos outros três citados anteriormente, como uma aluna que escreveu: “Eu gosto de pamonha”, embora, tenha especificado que a vivência Retalhos da Existência a fez sentir confortável para se expressar no momento em que a atividade foi realizada na floresta. A seguir, apresentam-se os quatro grupos com os registros dos alunos distribuídos em cada um deles conforme descrito acima, o número que 26
aparece entre parênteses representa a quantidade de repetição da palavra.
Tabela 1 – Palavras coletadas após as atividades da trilha
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Tabela 1 – Palavras coletadas após as atividades da trilha (continuação)
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Figura 1 – Porcentagem de palavras em cada critério avaliativo:
Observam-se que, das185 respostas, 79 (42,70%) foram alocadas no grupo Sentimentos, 49 (26,49%) para Valores e 41 (22,16%) para Preservação da natureza/elementos naturais. Já o grupo em que ficaram as palavras que não se encaixaram nesses agrupamentos, apresentam 16 (8,65%) das assertivas. Pode se dizer que os registros dos alunos dos 8ºs anos do Ensino Fundamental II das escolas municipais de Botucatu foram essenciais para aprimorar a prática das vivências com adolescentes na Trilha da Cooperação da Escola do Meio Ambiente no decorrer do ano letivo de 2019. Associados às atividades realizadas de mais relevância aos alunos, as averbações
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por eles escritas serviram como objeto de investigação e análise crítica sobre o próprio trabalho dos monitores e desenvolvimento dos monitores e estagiários que conduziram a referida trilha no período de realização desta pesquisa. Ademais interrogar-se, pode ser uma ferramenta utilizada com intuito de comparar se os objetivos alcançados foram satisfatórios em relação ao planejado. No entanto, para que esse material constituísse uma ferramenta reflexiva, foi preciso debruçar-se sobre ele, estudá-lo e colocá-lo em discussão, socializando-o com a equipe de colaboradores da Escola do Meio Ambiente, para que as mudanças necessárias fossem colocadas em prática na Trilha da Cooperação. Deve ser ressaltado que o método de avaliação, utilizado na Trilha da Cooperação, pode beneficiar, também, outras atividades relacionadas à Escola do Meio Ambiente e a outros espaços de ensino, tendo em vista que a devolutiva dos alunos torna possível analisar se o objetivo inicial da atividade foi cumprido, atuando como ponte para reflexões sobre as vivências na natureza.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à equipe da Escola do Meio Ambiente que auxiliou na realização das pesquisas. Agradeço à Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel, por sua orientação e correções pontuais no trabalho, auxiliando em sua confecção e estimulando meu próprio desenvolvimento no processo de escrita. Agradeço também aos alunos e professores que participaram das vivências por sua sinceridade em se expressar, pois, sem isso o trabalho não poderia ser alavancado.
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Referências
Decreto Nº 7.662 de 02 de Julho de 2008, Registrado na Divisão de Secretaria e Expediente – Botucatu/SP. ESCOLA DO MEIO AMBIENTE. Trilha da Biodiversidade: Mosaico com diferentes Ecossistemas. Botucatu-SP: 2009. Disponível em: https://issuu. com/emabtu/docs/trilha_da_biodiversidade. Acesso em: 10 dez. 2020. GALKE, G. A. A relação professor–aluno–conhecimento na educação infantil: princípios, práticas e reflexões sobre o protagonismo compartilhado. 144f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. MORALES, P. V. A relação professor-aluno - o que é, como se faz. São Paulo. Editorial y Distribuidora, 2001. SILVERSTEIN, Shel. The giving tree. United States of America: HarperCollins Publishers, 1964. TAMAIO, Irineu. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação ambiental. 1ª. ed. São Paulo: Annablume, 2002. 82 p. TASSONI, E. C. M. Afetividade e aprendizagem: A relação professor e aluno. Anuário 2000. GT Psicologia da educação, Anped, setembro, 2000. VIEIRA, Sonia. Introdução à Bioestatística. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 345 p.
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Vivência de acolhimento: uma forma de integração dos alunos do Ensino Fundamental I com a natureza da Escola do Meio Ambiente, Botucatu/SP
Nádia Alves de Macedo e Sílvio Henrique de Mattos
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Resumo
Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma atividade lúdica e propicia a integração entre cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram. Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o encerramento, realizou-se uma análise de todos os elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos, que foram separados em dois grupos. No primeiro grupo, denominado “natureza”, os desenhos continham elementos que podem ser encontrados durante a caminhada na floresta; no segundo grupo, que foi nomeado de “não natureza”, os desenhos continham elementos que não podem ser encontrados durante a caminhada na floresta. As cores predominantes nos desenhos das crianças do grupo “natureza” foram verde, azul e marrom, cores também encontradas no ambiente visitado. A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com a natureza do entorno da Escola do Meio Ambiente (EMA), desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta. Embora tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as mais utilizadas pelas crianças, nos desenhos, foram tonalidades predominantes no cenário em que estavam realizando a vivência. O acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, realizada com alunos do Ensino Fundamental I.
Palavras-chave: acolhimento, desenho, Escola do Meio Ambiente, natureza. 33
Abstract
According to Piaget (2003), drawing is seen as a playful activity and provides the integration between cognition, creativity, imagination, perception and sensitivity. Using a drawing experience as a welcoming tool for children, in addition to being easier to accept and engaging, offers the possibility of bringing them closer to the new environment in which they find themselves. To carry out the activity, paper and crayons of various colors were used. At the end, an analysis of all the elements found in the drawings were made and than separated into two groups. The first group, called “nature”, contained elements found while walking in the forest, the second group was named “non-nature” and contained elements not found during the forest walk. Regarding the colors used, those that appeared most frequently in the group of drawings called “nature” were considered. The welcoming experience showed that most of the participating students interacted with the nature of the surroundings of the Escola do Meio Ambiente (EMA), drawing probable elements that would be found in the walk inside the forest. Although it was offered a diversity of colors of a crayon box, the most used by children were predominant shades in the scenario where the experience was led. Welcoming was important in the construction of the principles of coexistence that contributed to the pedagogical progress of the trail, carried out with Elementary School students.
Keywords: reception, drawing, Escola do Meio Ambiente, nature. 34
Introdução
Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma forma de brincar, ou seja, constitui, para a criança, uma atividade lúdica, a qual engloba suas possibilidades e necessidades, propiciando a integração entre a cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. O autor ainda cita que a criança, quando desenha, “escreve” o mundo à sua maneira e essa “escrita” revela o conhecimento e as experiências que vivencia concretamente. Essa ferramenta permite que os pequenos consigam organizar informações, processar experiências vividas e pensadas, estimulando-os a desenvolver um estilo de representação do mundo. Portanto, vivências gráficas fazem parte do crescimento psicológico e são indispensáveis para o desenvolvimento e para a formação de indivíduos sensíveis e criativos capazes de transpor e transformar a realidade (GOLDBERG et al., 2005). Se o novo gera insegurança e ansiedade em qualquer idade, na infância, esse processo pode ser ainda mais intenso, saindo de suas rotinas/ comodidades, ou seja, a escola de origem, pois os alunos são convidados, na Escola do Meio Ambiente (EMA), a participar de atividades incomuns ao seu dia a dia: caminhar pela natureza, por meio das trilhas interpretativas. O acolhimento, na chegada dos pequenos, passa a ser o momento de transição ao qual eles vão se habituando ao novo ambiente para, posteriormente, participarem das respectivas trilhas dos 1ºs, 2ºs, 3ºs, 4ºs, 5ºs anos: Jequitibá, Tatu, Sujão, Peabiru e Agroecológica. Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram. Sabe-se que, quando regras em demasia são estabelecidas, como o que desenhar e quais cores usarem, inibe-se a expressão livre. Por isso procurou-se utilizar apenas o nome e algumas características da trilha que os alunos iriam percorrer como orientação para elaboração do desenho. Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o término, realizou-se uma análise de todos os 35
elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos. Inicialmente, os desenhos foram separados em dois grupos. O primeiro grupo denominado “natureza”, continha elementos encontrados durante a caminhada na floresta como, por exemplo: nuvem, sol, árvore, animal, água, terra, jiribana (corda), índio, fada, entre outros. O segundo grupo foi nomeado de “não natureza” e agrupava elementos não encontrados durante a caminhada na floresta, tais como: desenhos abstratos, casa, ônibus e perfume. Tendo como base o fato de que algumas trilhas apresentam pessoas caracterizadas como personagens, as pessoas sem caracterização foram triadas em “natureza”, servindo como fundamento para observação de quantos alunos foram capazes de se perceberem no espaço da Escola do Meio Ambiente. Deve ser ressaltado que, embora as pessoas desenhadas estejam incluídas no total dos elementos chamados de “natureza”, para melhor visualização do número de ilustrações com seres humanos, a contagem desses desenhos foi, também, apresentada separadamente, conforme se pode ver nos resultados mostrados abaixo. Em relação às cores utilizadas, foram consideradas as que apareceram com maior frequência no grupo de desenhos denominados de “natureza”. A vivência de acolhimento, no decorrer do ano letivo de 2017, envolveu os alunos do Ensino Fundamental I da rede pública dos municípios paulistas de Botucatu e São Manuel. Tanto as orientações da atividade como as análises dos desenhos foram realizadas de forma unificada, ou seja, foram as mesmas, independentemente do local de procedência das crianças. As orientações foram transmitidas pelos estagiários e auxiliares educacionais da EMA (estudantes do curso de Ciências Biológicas, UNESP - Botucatu/SP ou de Agronegócios da Fatec - Botucatu/SP) na Oca do Acolhimento, espaço interno da Escola do Meio Ambiente, e as análises posteriores, feitas por estagiários, auxiliares educacionais e três monitores ambientais, sendo dois servidores municipais com formação em Biologia e uma servidora formada em Biologia e Pedagogia. Os resultados obtidos foram os seguintes: 36
1º Ano (Figura 1): Trilha do Jequitibá – 235 desenhos analisados Personagem presente na trilha: Caipora Elementos natureza (206 desenhos): água, animal, céu, coração, grama, jiribana (corda), oca, pessoas, banco, planta, personagem índio, personagem saci, sol e terra. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 76 Elementos não natureza (29 desenhos): bola, casa, cruz, desenho abstrato, ônibus, perfume, personagem de desenho animado (mídia) e pneu. Cores predominantes: verde, azul e amarelo. 2º Ano (Figura 2): Trilha do Tatu – 278 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Guardião/ã das águas (Cristalino/a) Elementos natureza (264 desenhos): água, animal, céu, coração grama, jiribana (corda), oca, pessoas, planta, ponte, sol e tatu. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 55 Elementos não natureza (14 desenhos): abstrato, casa, bola e ônibus. Cores predominantes: azul, marrom e vermelho. 3º Ano (Figura 3): Trilha do Sujão – 288 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Bugiganga Elementos natureza (279 desenhos): água, animal, céu, jiribana (corda), lixo, pessoas, planta e trilha. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 92 Elementos não natureza (9 desenhos): abstrato e casa. Cores predominantes: azul, verde e marrom. 4º Ano (Figura 4): Trilha do Peabiru – 217 desenhos analisados. Personagem presente na trilha: Índio e Tropeiro Elementos natureza (209 desenhos): água, animal, banco, céu, gramado, jiribana (corda), ocas da EMA, personagem índio, pessoas, planta, terra e violão.
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Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 31 Elementos não natureza (8 desenhos): abstrato, casa, cruz e ônibus. Cores predominantes: verde, azul e marrom. 5º Ano (Figura 5): Trilha Agroecológica – 452 desenhos analisados. Elementos natureza (438 desenhos): água, animal, céu, gramado, jiribana (corda), pessoas e planta. Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 63 Elementos não natureza (14 desenhos): casa e personagem de desenho animado (mídia). Cores predominantes: verde, azul e marrom. Seguem, abaixo, alguns desenhos de participantes da vivência de acolhimento realizada na Escola do Meio Ambiente:
Figura 1- Desenho de aluno do 1º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
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Figura 2- Desenho de aluno do 2º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
Figura 3- Desenho de aluno do 3º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
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Figura 4- Desenho de aluno do 4º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
Figura 5- Desenho de aluno do 5º ano Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
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A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com o ambiente do entorno da sede da escola desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta, conforme podemos observar nas figuras de 1 a 5. Nas ilustrações apresentadas, notam-se, também, desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagens das referidas trilhas, evidenciando a percepção da criança no ambiente. Ademais, tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as que foram mais utilizadas nos desenhos onde a criança se mostra acolhida no ambiente natural foram: marrom, azul e verde; tonalidades predominantes do cenário em que estavam realizando a vivência. Deve, também, ser considerado que o momento do acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, permitindo, assim, uma aprendizagem mais agradável e sensibilizadora para as questões ambientais abordadas pela Escola do Meio Ambiente junto ao público do Ensino Fundamental I. Sugerimos, portanto, que a atividade seja empregada, sempre que possível, no momento do acolhimento da chegada das crianças que participarão de vivências junto à natureza, proporcionando uma integração harmoniosa e possibilitando investigações da relação singela que a criança estabelece com o ambiente no qual está inserida.
Agradecimentos
Agradecemos a todos os colaboradores da Escola do Meio Ambiente (EMA) pela ajuda na coleta e triagem dos dados. Também somos gratos pelas orientações e correções da diretora da EMA Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel. Agradecemos, ainda, a Monitora Ambiental Edilene Lúcia Bortolozzo Vieira pela colaboração na execução desse trabalho. Por fim, gratidão a todos os alunos que com sua simplicidade e sinceridade participaram desta pesquisa.
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Referências
GOLDBERG, L. G.; YUNES, M. A. M.; FREITAS, J. V. de. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano. Psicologia em estudo, v. 10, n. 1, p. 97-106, 2005. PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criança. Lisboa: Edições Asa, 1993.
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