Escola do Meio Ambiente: Pé de Histórias

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Escola do Meio Ambiente

Pé de Histórias

Botucatu/SP 2015


“Tranquilidade e Leveza” Caio Henrique de Carvalho Franco Arte-educador da Escola do Meio Ambiente Concurso de fotografias em comemoração aos 10 anos da escola. 2


O Núcleo de Desenvolvimento Humano auxilia a Diretoria Executiva no planejamento e execução das atividades educativas da Unimed. Seu foco é organizar e monitorar as ações de integração entre a Unimed de Botucatu e seus vários públicos: colaboradores, cooperados, prestadores de serviço, clientes e comunidade em geral. Em Botucatu as primeiras atividades do Núcleo de Desenvolvimento Humano voltam-se para a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável e por isso foi desenvolvida a parceria com a Escola do Meio Ambiente – EMA - da Secretaria Municipal de Educação. A Unimed de Botucatu já é certificada com o Selo de Responsabilidade Social desenvolvido pelo Sistema Unimed e também apoia a Fundação Abrinq. Além disso possui 5 programas sociais de grande alcance local, desenvolvidos pela AMUB – Associação da Mulher Unimed de Botucatu. São eles: SOMMAR para o público interno da cooperativa; INTER@ÇÃO, para inclusão digital; VIDA ILUMINADA para deficientes visuais; AMMA, para coleta de leite materno e ACREDITAR, apoio a projetos comunitários desenvolvidos para integração social através do esporte ou da cultura. A AMUB ainda realiza várias ações para atender as necessidades da sociedade botucatuense. No âmbito do Meio Ambiente busca a experiência da EMA para implementar ações que farão a diferença na qualidade de vida de toda a comunidade. Afinal, Saúde e Qualidade de Vida são valores cultivados pela Unimed de Botucatu. 3


Pé de histórias da Escola do Meio Ambiente Paz e Bem! Quem frequenta a Escola do Meio Ambiente sabe que em cada uma de suas trilhas conta-se uma história que pode ser encantada ou lendária. A história contada para cada público visitante está pendurada nos galhos de uma árvore, daí Pé de Histórias. No ano em que a escola completa 10 anos, muitas pessoas nos pedem essas histórias para repeti-las em outras ocasiões com os alunos ou com algum grupo da comunidade. Na Escola do Meio Ambiente para se contar uma história tem-se um ritual: tapete mágico, quem senta no tapete conta a história e a pedra do silêncio, capaz de impor a sua quietude a todos que estão dispostos a ouvi-la. Esta publicação traz todas as histórias contadas na trilhas do Ensino Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Além delas, apresentamos os trechos de canções cantadas nas danças circulares realizadas com os alunos do Ensino Infantil ao Ensino Médio. Acredito que Pé de Histórias seja um dos mimos da Escola do Meio Ambiente, pois transmite a nossos leitores um pouco do que é cada caminho ecopedagógico deste lugar. Abraço fraterno, Eliana Gabriel Diretora da Escola do Meio Ambiente

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Trilha Encantada

Fada, Fada, venha a minha festa! (Recontada pela Escola do Meio Ambiente) - Fada, fada, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim se você convidar a Borboleta Azul. - Borboleta Azul, Borboleta Azul, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim, se você convidar a Coruja. - Coruja, Coruja, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim, se você convidar o Índio. - Índio, Índio, por favor, venha a minha festa. - Obrigado, irei sim, se você convidar a dona árvore. - Dona árvore, dona árvore, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim, se você convidar a Cobra. - Cobra, Cobra, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim, se você convidar o Sapo. - Sapo, Sapo, por favor, venha a minha festa. - Obrigado, irei sim, se você convidar o Lobo. - Lobo, Lobo, por favor, venha a minha festa. - Obrigado, irei sim, se você convidar o Tucano. - Tucano, Tucano, por favor, venha a minha festa. - Obrigado, irei sim, se você convidar a EMA. - EMA, EMA, por favor, venha a minha festa. - Obrigada, irei sim, se você convidar a Professora e as Crianças da escola visitante. - Professora, Professora, Crianças, Crianças, por favor, venham a minha festa. - Obrigada, iremos sim, se você convidar o Espantalho. - Espantalho, Espantalho, por favor, venha a minha festa. - Obrigado, irei sim, se você convidar a Fada!

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Pipoca Poc - Poc (Kitty Driemeyer) O poc-poc da pipoca pipocando O poc-poc da pipoca pipocando É som curtinho que vai logo acabando É som curtinho que vai logo acabando POC! POC! Agora espalhando essa pipoca!

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Trilha Indígena

Os segredos da Natureza (Recontada pela Escola do Meio Ambiente)

Quando eu era um curumim, como vocês, morávamos na oca do meu pai, um homem muito corajoso, minha mãe, uma mulher linda como uma flor, e a minha irmã Potira. Lá na tribo todo dia tinha festa, com muita música, dança e o tambor tocando a noite inteira. Mas teve uma semana que isso não aconteceu. Nessa semana a única coisa que aconteceu foi a chuva. Chovia de noite, chovia de dia... E a noite chovia mais ainda. Meu pai começou a ficar preocupado, pois com tanta chuva ele não podia sair para caçar e a nossa comida estava acabando. Foi quando meu pai teve a ideia de pedir a Tupã para que a chuva parasse... E deu certo... No outro dia o sol apareceu mais brilhante do que nunca. Meu pai disse: - Família vou sair para caçar, acendam a fogueira que a noite terá festa. Minha mãe tratou de arrumar os enfeites e acender a fogueira, Potira e eu queríamos ajudar, mas nossa mãe disse: - Curumins não podem brincar com fogo. Propôs uma nova brincadeira: - Curumins vão para a floresta e tentem descobrir quais são os segredos da natureza! Eu olhei para a Potira, Potira olhou pra mim e eu disse: - Nem sabia 7


que a natureza tinha segredo! E partimos para a mata, procuramos por todos os lados, em cima da árvore, em baixo, do lado, do outro e nada! Já estava escurecendo, quando escutamos um barulho vindo do alto de uma árvore... Era a dona Coruja... Com seus grandes olhos ela sim deveria saber aonde estavam os segredos. Ela disse: Curumins o que vocês procuram? - Nós procuramos os segredos da natureza! - Ah! Os segredos da natureza são quatro coisas que ninguém vive sem. Eu olhei para Potira e disse: - Eu não vivo sem respirar o ar puro e também preciso de água limpa todos os dias. Potira disse: - Nós precisamos da terra para plantar e do calor do sol. - Seriam esses dona Coruja: a água, o ar, a terra e o sol, os quatro segredos da natureza? - Sim curumins vocês acertaram! E ela voltou para o alto da árvore fazendo o seu barulho. Nós voltamos correndo para a tribo e contamos a todos o que descobrimos. A festa que seria para comemorar a volta do sol, foi também para comemorar a descoberta dos segredos da natureza.

Mora na Oca (CD Cantar o Mundo) Mora na oca, tambor ele toca. E usa colares, pulseiras, cocares. O rosto ele pinta, urucum é sua tinta! E sai para a pesca, com arco e flecha. Faz mira no “zuuuuuum”! Fisga mais um!

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Trilha do Jequitibá

O indiozinho Tahiti (Recontada pela Escola do Meio Ambiente) Na entrada da oca na floresta, estava o indiozinho Tahiti sentado no chão. Lá dentro seus irmãos dormiam. Era noite alta. Olhando o céu, contemplava a imensidão de estrelas e o brilho claro da lua. Tudo era luar. Ao longe a onça-pintada rugia fortemente. Os curumins temiam o feroz animal. Tahiti pensava na armadilha que seu irmão mais velho havia deixado na areia, às margens do rio. Haverá amanhã com certeza alguma caça presa. Com as fibras do caruá, que é uma planta, seu irmão fazia laços para pegar pacas. Quero um laço também, pediu-lhe Tahiti. Para que? Laço só serve para caçar e você é criança demais para isso, disse seu irmão mais velho. Tahiti tinha um encantamento: em casa era criança, fora virava homem e gostava de dar longos passeios. De ir até a cachoeira e ver a subida dos peixes para a desova. As bananeiras e o milharal arcando sob o peso de cachos e espigas enormes deliciavam a vista do indiozinho. Quando saia para acompanhar outros meninos maiores, passavam dias embrenhados na mata. Comiam o pernil de algum porco do mato ou de alguma cotia que se atrevesse cruzar o caminho onde eles estivessem. Do alto da montanha a vista era maravilhosa. O rio serpenteando na planície e as cabanas com fumaças de suas chaminés. Ao longe cordilheiras de montanhas de um azul dourado pelo sol. Algumas árvores mais altas a sobressair no meio da mata. O garoto era feliz, porém seu espírito valoroso e destemido ansiava por encontrar ou descobrir coisas desconhecidas. Certo dia aventurou-se em uma canoa. O sol já ia alto no céu, mas o indiozinho distraído pescava e as horas se passavam. Os primeiros pássaros voltavam aos ninhos. Os primeiros sapos coaxavam no brejo. Anoitecia. O sol lentamente parecia afundar-se nas águas do rio. Remou até a margem e aquela noite dormiu pela primeira vez ao relento ouvindo o canto do uirapuru. Era uma noite maravilhosa. De sua rede contemplava o céu cheio de estrelas e seu coração sonhador vibrava mais uma vez com a harmonia da natureza. 9


Sonhou nesta noite com Tupã, que lhe dizia: - Tahiti, meu filho siga o seu coração, seja humilde e corajoso. Ajude os seus irmãos a serem melhores. As aves, as plantas e os animais esperam o seu carinho. Seja bom para todos. Nisto acordou e o sol já estava queimando na mata. Sentiu-se satisfeito e feliz. Estava radiante, pôs-se a cantarolar. Voltou para casa naquele dia, andando distraído por uma trilha de sua tribo. Eis que se deparou com uma árvore pequena. A árvore sofria com a seca. Correu até o lago, trazendo uma cabaça de água, achando que poderia dedicar amor àquela plantinha, tratou-a com carinho. E qual foi a sua surpresa quando depois de algum tempo, a plantinha transformou-se numa frondosa árvore, sobre a qual os pássaros vieram fazer os seus ninhos. Floriu e das flores, vieram os frutos e as sementes. E das sementes daqueles frutos encheu-se a mata, basta que a gente as procure pela floresta do Tahiti! Foi Tupã (CD Cantar o Mundo) Foi tupã, foi Tupã, foi Tupã Sou Tabajara, sou Tabajara lá na terra de Tupã Tem papagaio, arara maracanã Todas aves do céu Quem nos deu foi Tupã Foi tupã, foi Tupã, foi Tupã.

Peraltices do Saci (CD Cantar o Mundo) Olha ali, olha o que, eu vi um saci Olha ali, olha o que, eu vi o pererê Vem da floresta fazendo festa Vem de pulinho num roda moinho Vai lá pro sítio fazer peraltice Peraltice de Saci Sumiu, apareceu Me viu e se escondeu Sumiu, apareceu Me viu e se escondeu. 10


Trilha do Tatu

A lenda da vitória-régia (Lenda indígena) Existe uma lenda muito curiosa para explicar a origem desta bela flor chamada vitória-régia, que recebeu este nome em homenagem à rainha Vitória da Inglaterra. Diz a lenda que numa tribo indígena da Amazônia, há muitos anos, vivia uma bela índia chamada Naiá. Ela acreditava que a lua escolhia as moças mais bonitas e as transformava em estrelas que brilhariam para sempre no firmamento. A índia Naiá também desejava ser escolhida pela lua para se transformar em estrela. Todas as noites ela saia de sua oca a fim de ser vista pela lua, mas para a sua tristeza a lua não a chamava para junto de si. Naiá já não dormia mais, passava as noites andando na beira do lago tentando despertar a atenção da lua. Em uma noite, a índia viu nas águas límpidas de um lago a figura da lua. A pobre moça imaginando que a lua havia chegado para buscá-la, se atirou nas águas profundas do lago. A lua comovida diante do sacrifício da bela jovem resolveu transformá-la em uma estrela, mas uma estrela diferente daquelas que brilham no céu; transformou-a em uma delicada flor: a Vitória-Régia. Curiosamente, as flores desta planta só abrem durante a noite. É uma flor de perfume ativo e suas pétalas, ao desabrocharem, são brancas, mas vão se transformando em rosadas quando recebem os primeiros raios do sol. (Fonte: COELHO, M. C. P. As Narrações da Cultura Indígena da Amazônia: Lendas e Histórias. Doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003).

Sai Piaba (Cantiga popular) Sai, sai, sai ô Piaba. Saia da logoa. Sai, sai, sai ô Piaba. Saia da logoa. Põe uma mão na cabeça, a outra na cintura. Dá um remelexo no corpo e um abraço no outro. 11


Trilha do Sujão

O Roubo do fogo (Mito Guarani)

Em tempos antigos, os Guaranis não sabiam acender fogo. Na verdade eles apenas sabiam que exista o fogo, mas comiam alimentos crus, pois o fogo estava no poder dos urubus. O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro, os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito cuidado e zelo. Era por isso que somente estas aves comiam seu alimento assado ou cozido e nenhum outro da floresta tinha esse privilégio. É claro que todos os urubus tomavam conta das brasas como se fossem um tesouro precioso e não permitiam que ninguém delas se aproximasse. Os homens e os outros animais viviam irritados com isso. Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los. Um dia, o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu nome era Nhanderequeí, guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o fogo dos urubus. Reuniu todos os animais, aves, homens da floresta e contou o plano que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno cururu, que fora convidado, compareceu dizendo que também tinha muito interesse no fogo. Todos já reunidos, Nhanderequeí expôs seu plano: - Todos vocês sabem que urubus usam fogo para cozinhar. Eles não sabem comer alimento cru. Por isso vou me fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma, poderemos pegar o fogo para nós. Todos concordaram e procuraram um lugar para se esconder. Não sabiam por quanto tempo iriam esperar. Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro. Os urubus, lá do alto, observaram com desconfiança. Será que aquele homem estava morto mesmo ou estava apenas querendo enganálos? Por via das dúvidas preferiram aguardar mais um pouco. 12


O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Se quer respirava direito para não criar desconfianças nos urubus que continuavam rodeando o seu corpo. Foi no fim do terceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não era possível uma pessoa fingirse de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando entre si: - Olhem, meus parentes urubus (dizia o chefe urubu), nenhum homem pode fingir-se de morto assim. Já decidi: Vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazermos a fogueira. Um grande alarido se ouviu. Os urubus aprovaram a decisão de seu chefe, e por isso imediatamente partiram para buscar as brasas. Trouxeram e acenderam uma fogueira bonita e vistosa. O chefe dos urubus ordenou, então, que trouxessem a comida para ser assada. Um verdadeiro batalhão foi até a presa e a trouxe em seus bicos e garras. Eles acharam o corpo do herói um pouco pesado, mas isso consideraram bom, assim daria para todos os urubus. Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que ele passou pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das brasas dando um grande susto nos urubus, que atônitos, voaram todos. Nhanderequeí aproveitou-se da surpresa e gritou a todos os amigos que estavam escondidos para que atacassem os urubus e salvassem uma daquelas brasas ardentes. Os urubus, vendo que se tratava de uma armadilha, se esforçaram ao máximo para poderem apagar as brasas, engoli-las e não permitir que aqueles seres tomassem posse dela. Acontece, no entanto, que na pressa de salvar o fogo, quase todas as brasas se apagaram por terem sido pisoteadas. Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas tinham conseguido. Uns olhavam para os outros na tentativa de saber quem havia salvo alguma brasinha, mas qual foi a tristeza ao se depararem com a realidade: Ninguém havia salvado uma pedrinha sequer. - Só temos carvão e cinza, disse alguém no meio da multidão. - E para que nos há de servir isso, falou Nhanderequeí. - Nossa batalha contra os urubus de nada valeu. Acontece que, por traz de todos saiu o pequeno cururu dizendo: Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei-a na boca. Espero que ainda esteja acesa! Mas pode ser que... - Depressa. Pare de falar, meu caro cururu. Não podemos perder tempo. Dê-me esta brasa imediatamente – disse Nhanderequeí, tomando 13


a brasa em suas mãos e assoprando levemente. Todos os animais ficaram atentos às ações do herói que tratava com cuidado aquele pequeno luzeiro. Pegou-o na mão, colocou um pouquinho de palha, e assoprou novamente. Com isso ele conseguiu um pequeno riozinho de fumaça. Isso foi o bastante para incomodar os animais que logo disseram: - Se o fogo sempre faz fumaça, não será bom para nós. Nós não suportamos fumaça. Dizendo isso, os bichos foram embora, deixando o fogo com os homens e com as aves. Nhanderequeí soprou de novo. Ele fazia com todo cuidado, com todo jeito, logo em seguida à fumaça, aconteceu um cheiro de queimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem: - Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo, isso não é bom para as aves. Fiquem vocês com esse fogo. Dizendo isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo aceso para sempre. Percebendo que tudo estava sob controle, o herói ordenou que seus parentes encontrassem canelinha, criciúma, cacho de coqueiro, cipó de sapo e os usassem toda vez que quisessem acender e conservar o fogo. Além disso, o corajoso herói ensinou os Apopocúvas a fazer um pilãozinho para guardar as brasas e assim conservar o fogo para sempre. Dizem os velhos desse povo que até os dias de hoje os Apopocúvas guardam o pilãozinho e aquelas madeiras. (Fonte: MUNDURUKU, D. Contos Indígenas Brasileiros/ Daniel Munduruku; ilustrações Rogério Borges. 2 ed. São Paulo: Global, 2005).

Ele mora na tribo (CD Cantar o Mundo) Ele mora numa tribo, contente e feliz. Caçando, pescando e comendo raiz. O sol é Guaraci, a lua é Jaci E a língua que ele fala é o Tupi-Guarani. É o Tupi-Guarani, é o Tupi-Guarani. 14


Trilha do Peabiru

A lenda do Uirapuru (Lenda indígena) Conta a lenda que o Uirapuru, pássaro que vive nas matas da Amazônia, foi originado de uma triste história de amor. Em uma tribo indígena que habitava o sul do Brasil duas índias se apaixonaram pelo chefe da tribo. Para ser justo na escolha de sua esposa o cacique resolveu que se casaria com aquela que tivesse a melhor pontaria e, dando a cada uma delas um arco e flecha, mandou que atirassem em determinado alvo. Somente uma delas conseguiu acertar no alvo tornando-se, portanto, a esposa do cacique. A outra índia que errou o alvo e se chamava Oribici, ficou muito triste, chorou muito, inconformada por perder o seu amor. Pediu a Tupã que a transformassem em um pequeno pássaro para que pudesse visitar o seu amado sem ser percebida. Tupã, penalizado pelo sofrimento da jovem, resolveu fazer a sua vontade e a transformou em um passarinho verde musgo e calda amarelada, para facilitar sua camuflagem na mata, e assim poder Oribici, visitar o seu amor, mas quando foi visitá-lo ela percebeu o quanto o índio amava sua esposa. Oribici então, para se livrar de seu sofrimento, resolveu abandonar a sua tribo e voou para as matas do norte do Brasil. Vive hoje na floresta Amazônica e Tupã para consolá-la deu a ela um canto melodioso. Quando o Uirapuru começa a cantar todos os outros pássaros se calam para ouvir o seu maravilhoso canto. (Fonte: COELHO, M. C. P. As Narrações da Cultura Indígena da Amazônia: Lendas e Histórias. Doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003).

Cidade

(Rita Rameh) De uma casa branca na beira do rio, fez-se uma cidade que nunca saiu. Duas outras casas vieram pra cá, para ter vizinhos para conversar. Três casinhas finas, todas bem grudadas, formam uma vila ali na baixada. Quatro casas altas e muito bacanas cercam a Igreja de Santana. 15


Trilha Agroecológica

A lenda do Açaí (Lenda indígena) Conta a Lenda que há muito tempo atrás, quando ainda não existia a cidade de Belém, vivia neste local uma tribo indígena muito grande. Como os alimentos eram insuficientes, tornava-se muito difícil conseguir comida para todos os índios da tribo. Então o cacique Itaki tomou uma decisão muito cruel. Resolveu que a partir daquele dia todas as crianças que nascessem seriam sacrificadas para evitar o aumento populacional de sua tribo. Porém, pouco tempo depois, a filha do cacique, chamada Iaçã, deu à luz uma bonita menina, que também teve de ser sacrificada. Iaçã ficou desesperada, chorava todas as noites de saudades de sua filhinha. Ficou por vários dias enclausurada em sua tenda e pediu à Tupã que mostrasse ao seu pai outra maneira de ajudar seu povo, sem o sacrifício das crianças. Certa noite de lua Iaçã ouviu um choro de criança. Aproximou-se da porta de sua oca e viu sua linda filhinha sorridente, ao pé de uma palmeira. Inicialmente ficou parada, mas logo depois, lançou-se em direção à filha, abraçando-a. Porém, misteriosamente, sua filha desapareceu. Iaçã, inconsolável, chorou muito até desfalecer. No dia seguinte seu corpo foi encontrado abraçado ao tronco da palmeira, porém no rosto trazia ainda um sorriso de felicidade e seus olhos negros fitavam o alto da palmeira, que estava carregada de frutinhos escuros. Itaki então mandou que apanhassem os frutos, deles foi obtido um suco avermelhado que batizou de AÇAÍ, em homenagem a sua filha (Iaçã invertido). Alimentou seu povo e, a partir deste dia, suspendeu sua ordem de sacrificar as crianças. (Fonte: COELHO, M. C. P. As Narrações da Cultura Indígena da Amazônia: Lendas e Histórias. Doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003).

Oreru Nhamandú Tupã Oreru (Nossos pais são o sol e o trovão) (Disco Ñonde Reko Arandu “Memória Viva Guarani”) Oreru Nhamandú Tupã Oreru Oreru Nhamandú Tupã Oreru Nhamandú Tupã Oreru 16


Trilha da Água

A lenda do Tambá-Taja (Lenda indígena) Na tribo macuxi havia um índio forte e muito inteligente. Um dia ele se apaixonou por uma bela índia de sua aldeia. Casaram-se logo depois e viveram muito felizes, até que um dia a índia ficou gravemente doente ficando, então, paralítica. O índio macuxi, para não se separar de sua amada teceu uma tipóia e amarrou a índia em suas costas, levando-a, para todos os lugares em que andava. Certo dia, porém, o índio sentiu que sua carga estava mais pesada que o normal e, qual não foi sua tristeza quando desamarrou a tipóia e constatou que sua esposa tão querida estava morta. O índio foi à floresta e cavou um buraco à beira de um igarapé. Enterrou-se juntamente com a índia, pois para ele não havia mais razão para continuar vivendo. Algumas luas se passaram, chegou a lua cheia e naquele mesmo local começou a brotar na terra uma graciosa planta, espécie totalmente diferente e desconhecida de todos os índios macuxis. Era a TAMBÁ-TAJA, planta de folhas triangulares, de cor verde escura, trazendo em seu verso uma outra folha de tamanho reduzido. A união das duas folhas simboliza o grande amor existente entre o casal da tribo macuxi. (Fonte: COELHO, M. C. P. As Narrações da Cultura Indígena da Amazônia: Lendas e Histórias. Doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003).

Sons da Floresta (Rita Rameh) Quando a chuva cai leve e devagar, é gostoso de ouvir bom pra relaxar Mas se a chuva vem forte como tempestade, é sinal que vamos ter barulho de verdade Ziu ziu bziu plic chuá, cri cri UAH Ziu ziu bziu plic chuá, cri cri UAHHHHHHHHH 17


Trilha da Biodiversidade

Coacyaba – O primeiro Beija-Flor (Lenda indígena) Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se em borboletas. É por esse motivo que elas voam de flor em flor, alimentando-se e fortalecendo-se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu. Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para sua filhinha Guanamby. Todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Dessa forma pretendia aliviar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer. Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para assim permanecer ao seu lado. Enquanto isso, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas, como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu, então, a Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. Tupã atendeu seu pedido, transformando-a num beija-flor, podendo, assim, realizar seu desejo. Desde então, quando morre uma criança índia órfã de mãe, sua alma permanece guardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para juntas voarem para o céu, onde estarão eternamente.

(Fonte: COELHO, M. C. P. As Narrações da Cultura Indígena da Amazônia: Lendas e Histórias. Doutorado em linguística aplicada e estudos da linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2003).

A Fauna e a Flora

(Rubinho do Vale) Tatu-bola, lobo-guará, onça-pintada, tamanduá-bandeira Umbu, pitomba, pequi e o cerrado não podem cair na fogueira A fauna à flora implora: - Não podem mais derrubar madeira Paca, tatu, cutia sim, no meio da mata sem fim (2x) A vida inventa e tenta deixar esse mundo “verdim” Meu curupira proteja essa mata inteira pra mim. 18


Trilha da Cooperação

Francisco e o Lobo (Maria Teresa Gonzalez)

Certo dia, Francisco compreendeu que a população de uma cidadezinha chamada Gubbio andava muito zangada e preocupada por causa de um lobo que por lá aparecia frequentemente para atacar galinhas e outros animais domésticos. A certa altura, as pessoas de Gubbio, já desesperadas com a situação, decidiram que um grupo de homens iria procurar o lobo pelas matas para o matar. Ao saber disso, Francisco resolveu falar ao povo de Gubbio: — Deixai-me, primeiro, ir ter com o lobo — pediu-lhes. — Em breve, regressarei e direi o que haveis de fazer. Conforme prometera, Francisco foi à procura do tal lobo feroz e, finalmente, encontrou-o. Viu, então, que ele estava magro e faminto e percebeu imediatamente a razão que o levara a atacar os animais domésticos e até alguns habitantes de Gubbio. Então, aproximou-se suavemente do lobo, acariciou-lhe o lombo e falou com ele, como conversava com outros animais, plantas e até com o Sol e a Lua, dos quais cada vez gostava mais. É que Francisco sabia que todos eram criaturas de Deus e, portanto, havia que tratá-los com respeito e carinho. Depois de ter falado ao lobo, regressou a Gubbio, tal como havia combinado. Os habitantes já o esperavam ansiosamente e quase não o deixavam falar, fazendo-lhe muitas perguntas. Por fim, Francisco disse19


lhes: — Vi o lobo. Falei-lhe e posso garantir-vos que não voltará a atacar, desde que vocês preservem as matas e campos à entrada de Gubbio. Se assim fizerem, não será necessário matá-lo nem continuar a temê-lo, pois tendo refúgio e alimento dentro da floresta não voltará a fazer-vos mal algum. Muito impressionados com as palavras de Francisco, os homens e mulheres que o ouviram foram guardar os paus e armas que já tinham preparado para a caça ao lobo e regressaram a suas casas muito mais tranquilos. Na verdade, conheciam bem Francisco e, embora achassem estranho que ele conseguisse falar com os animais, sabiam que ele era um homem bom e que cumpria a sua palavra. A partir daquele dia, reinou a paz entre o lobo e a população de Gubbio, que não desmatou mais, preservando a “casa” e os alimentos do lobo. Por esta e muitas outras razões, Francisco veio a ser considerado um homem santo e é também o padroeiro dos ecologistas e de todos aqueles que se dedicam a proteger a Natureza. (Fonte: GONZALEZ, M. T. Histórias do Céu. São João do Estoril: Lucerna, 2005).

Mantra da alegria (Paulo Coração) Meus irmãos e irmãs da Terra (2x) Eu canto e sou feliz, eu canto e sou feliz. Eu canto, e sou, e estou feliz (2x) Meus irmãos e irmãs da Terra (2x) Afirmo que sou feliz, afirmo que sou feliz. Afirmo que sou e estou feliz (2x) Meus irmãos e irmãs da Terra (2x) Decreto que sou feliz, decreto que sou feliz. Decreto que sou e estou feliz (2x) 20


Trilha do Reconhecimento

Como nasceram as estrelas (Clarice Lispector)

Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas piscapisca. Mas é um erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro – e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas. Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem, todos, o que comer. Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espiguinhas murchas e sem graça. - Vamos voltar e trazer conosco uns curumins (assim chamavam os índios as crianças). Curumim dá sorte. E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta – eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga. Mas 21


os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas, e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles. Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes. Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, “sempre” não acaba nunca. (Fonte: LISPECTOR, C. Como nasceram as estrelas: doze lendas brasileiras. Brasil: Rocco, 2000).

Mãe Terra

(Música indígena norte americana) Terra meu corpo. Água meu sangue. Ar meu sopro. Fogo meu espírito. Mãe Terra eu te sinto sob os meus pés... Mãe Terra eu escuto seu coração.

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Trilha do InterSer

UBUNTU - ‘Sou quem sou porque somos todos nós’ Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo africana e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e colocou debaixo de uma árvore. Aí chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “já!”, instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes. O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”. Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo? Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós!” Atente para o detalhe: porque SOMOS, não porque temos... UBUNTU. Existe uma palavra na língua portuguesa difícil de ser traduzida para outras línguas: SAUDADE. Em vários países africanos, tem também uma bem maior em significado do que qualquer tradução: UBUNTU. (Fonte: <wiki.ubuntu-br.org/Filosofia>)

Força da Paz

(Novo Quilombo) Força da Paz, cresça sempre, sempre mais. Que reine a Paz e acabem as fronteiras. Nós Somos Um. 23



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