Revista Conte Sustentabilidade - Junho 2015

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CONTE SUSTENTABILIDADE Junho 2015

GESTÃO AMBIENTAL

VANTAGEM COMPETITIVA IMPULSIONA EMPRESAS PELA BUSCA DA CERTIFICAÇÃO


CONTE SUSTENTABILIDADE

EXPEDIENTE Redatores: Diosiane Fernandes Franciele Gonçalves Michelle Benício Pesquisa de Campo: Diosiane Fernandes Michelle Benício Editoração: Michelle Benício Professora orientadora: Marlise Loura

EDITORIAL presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo de implantação da norma de O certificação ambiental ISO 14001, de forma a retratar a preocupação das empresas em se manterem com vantagem competitiva minimizando o processo degenerativo do meio ambiente através da sustentabilidade. Atualmente isto é considerado um critério fundamental para organizações que almejam ampliação de seu mercado. Com o propósito de obter maior entendimento da complexidade das relações descreve-se o processo de implantação bem como benefícios e dificuldades desta implantação. Foram analisadas as formas de retorno tanto para as organizações quanto para o meio ambiente. Tomou-se por objeto de pesquisa a empresa MIP Engenharia e Arcelor Mittal. A técnica de coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas a dois profissionais de diferentes organizações que desempenham funções estratégicas. Os resultados obtidos demonstram que as organizações tem um retorno financeiro significativo integrando os processos produtivos de modo que a aplicação das regras sirva de ações corretivas com o intuito de diminuir os danos ambientais. Palavras – chave: ISO 14001; Sustentabilidade; Processo de implantação; Gestão ambiental.


1 INTRODUÇÃO _______________________________________________________________________4

2 REFERENCIAL TEÓRICO_____________________________________________________________6 2.1 Desenvolvimento, progresso e desenvolvimento sustentável________________________6 2.2 Implantação do sistema de gestão ambiental (SGA)________________________________8 2.3 Certificação Ambiental e seus impactos para o meio ambiente e as organizações____9

3 METODOLOGIA____________________________________________________________________10 3.1 Descrição dos objetos de pesquisa______________________________________________10 3.2 Tipo de pesquisa________________________________________________________________10 3.3 Método de pesquisa_____________________________________________________________11 3.4 Técnica de coleta de dados______________________________________________________11

4 ANÁLISE DE DADOS________________________________________________________________12

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS___________________________________________________________15

SUMÁRIO

REFERÊNCIAS ______________________________________________________________________16


1 INTRODUÇÃO Atualmente a sociedade baseada no modelo industrial vem sofrendo, de modo criticamente explicito, as consequências de seu crescimento desenfreado e impensado. As alterações no meio ambiente desencadearam uma preocupação global com a necessidade de conservá-lo, destacando a responsabilidade de cada setor sobre essa relação ainda predatória entre homem e natureza. Essa percepção foi o ponto de partida para que alguns setores da sociedade começassem a repensar a sua forma de desenvolvimento, essencialmente focada na questão da degradação ambiental, resultando no surgimento de uma abordagem de desenvolvimento sob uma nova ótica, comum a preservação ambiental. Assim, surge o conceito de desenvolvimento sustentável. Vários setores econômicos, sociais, educacionais e governamentais foram influenciados de diferentes modos. Os governos assumiram uma postura mais atenta quanto à legislação ambiental, alguns consumidores passaram a considerar a 4

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variável “qualidade ambiental” na decisão de comprar um produto, a sociedade em geral está mais atenta a responsabilidade social e ambiental das empresas. Estes fatores acabaram por influenciar também os setores produtivos, que começaram a considerar a questão ambiental no âmbito de suas atividades. Para tal fim, as organizações têm investido nos chamados Sistemas de Gestão Ambiental (SGAs). Para que o SGA de uma empresa seja certificado e reconhecido em todo o mundo, ele deve atender aos requisitos da norma ISO 14001 que estabelece diretrizes para o desenvolvimento de sistemas de gestão relacionados à questão ambiental no interior das empresas. É a norma mais conhecida da série 14000. Em função da importância da questão ambiental hoje, justifica-se contribuir com a aplicação do conhecimento acerca do processo de implantação da certificação ambiental na empresa. É considerável também um maior entendimento da complexidade das relações existentes nesse processo, entre a proteção ambiental e as necessidades socioeconômicas.


Sendo assim, os problemas de pesquisa a serem apresentados são: Como as organizações se adequam a um sistema de gestão ambiental certificado? Quais os retornos trazidos à empresa pesquisada e ao meio ambiente relacionado às suas atividades?

Fique por dentro!

Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar o processo de implantação da certificação ambiental ISO 14001 de uma empresa, tendo em vista a sustentabilidade e a gestão ambiental, bem como os impactos no negócio. Como desenvolvimento e ações decorrentes do objetivo geral, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: 1 Descrever o processo de implantação do SGA. 2 Identificar os benefícios e dificuldades da implantação. 3 Analisar as formas de retorno tanto para as organizações quanto ao meio ambiente por meio da gestão ambiental certificada. Este projeto interdisciplinar foi elaborado em cinco capítulos. A Introdução apresenta uma contextualização do tema, a justificativa do tema e foram traçados o problema de pesquisa e os objetivos. No segundo capítulo, apresentase o referencial teórico, com a visão dos principais autores sobre os assuntos abordados, como Desenvolvimento, progresso e desenvolvimento sustentável, implantação do sistema de gestão ambiental (SGA) e certificação ambiental e seus impactos para o meio ambiente e as organizações. No próximo capítulo, foi detalhada a metodologia utilizada para a pesquisa, em que são discutidos os tipos e métodos de pesquisa adotados neste trabalho, bem como a caracterização das empresas pesquisadas. No quarto capítulo passa-se à análise dos dados. Por último, as considerações finais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Desenvolvimento, progresso e desenvolvimento sustentável

O

conceito de desenvolvimento, de acordo com Veiga (2005), pode ser entendido de três formas. A primeira delas relaciona o significado de desenvolvimento com crescimento econômico. Para Almeida (1995) esse conceito, que resultou na melhoria da cadeia de produção e acúmulo de riquezas, ganhou força no século 20, defendido por grupos neoliberais e socialistas, alimentando os ideais de modernização da sociedade. A segunda teoria, na visão de Veiga (2005), trata o desenvolvimento simplesmente como um mito, sendo um objetivo inalcançável. E a terceira, segundo o autor, une os termos “desenvolvimento” e “desenvolvimento sustentável”, incorporando à ideia de desenvolvimento um sentido de liberdade, que só seria possível se houver uma garantia dos direitos individuais das pessoas. A ideia de progresso, na concepção de Heidemann (2009), surgiu no período da Renascença e significava uma noção de que os acontecimentos poderiam ocorrer no sentido mais desejável, realizando um aperfeiçoamento contínuo. Nesse sentido, o autor considera que a palavra assumia não só o significado de um 6

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balanço do passado, mas também de profecias para o futuro. Veiga (2005) considera que, até meados dos anos 60, não se percebia a necessidade de distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico, já que até então, os países desenvolvidos eram os mesmos que haviam se tornado ricos através do processo de industrialização. Nesse contexto, para o autor, os países que apareciam como subdesenvolvidos eram aqueles onde esse processo ainda era pequeno ou nem havia começado. Posteriormente, na visão de Veiga (2005), foram surgindo indícios de que o crescimento econômico em países semi-industrializados nem sempre significava acesso para a população mais pobre a bens materiais. A essa altura, como cita Almeida (1995), já era percebido que a ideia de progresso até então relacionada a visões de crescimento e evolução já não poderia ser aplicada a todas as sociedades. Percebia-se ainda, de acordo com a autora, a existência de conflitos entre diferentes civilizações, em que o domínio era mais forte que a solidariedade, e que essa relação poderia alimentar a opressão e a miséria.


O modelo de desenvolvimento industrial encontrado atualmente, segundo Neves, Kleinmayer e Tocach (2010) ainda está baseado em uma produção de bens de consumo, que atende a uma pequena fatia da sociedade e agrava a degradação do meio ambiente nos países considerados hoje emergentes. Na medida em que esse modelo é propagado de forma global, países desenvolvidos demonstram que já estão em fase avançada de esgotamento dos recursos naturais. Torna – se mais necessário ainda à utilização das reservas de riquezas naturais que esses países ainda possuem, bem como das reservas de países que ainda tem recursos a explorar, como o Brasil. Essa degradação progressiva e constante do meio ambiente, na visão de Neves, Kleinmayer e Tocach (2010), têm levado governos e instituições a alertar as sobre o possível estado atual de esgotamento da natureza. Este declínio pode ser irreversível, caso não haja um desenvolvimento sustentável que busque equilíbrio entre exploração e preservação. De acordo com Almeida (2002), até meados da década de 70 não existia no Brasil a chamada Gestão Ambiental, no sentido de orientar as pessoas quanto às práticas sustentáveis, que moldassem o relacionamento entre o homem e a natureza. Nos anos 80, já se percebia a necessidade da conciliação da atividade econômica e o meio ambiente. De acordo com Almeida (2002), apesar do entendimento de que os dois poderiam ser combinados, ninguém sabia ao certo como fazer isso. O conhecimento científico crescia e chamava a atenção para problemas ambientais, como o aquecimento global, destruição da camada de ozônio dentre outros. Almeida (2002) destaca a Comissão Brundtland, que se propunha a estudar

e estabelecer uma agenda para que a humanidade enfrentasse seus problemas ambientais. O autor cita que essa comissão disseminou o conceito de desenvolvimento sustentável, que é “aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades.” (ALMEIDA, pág 25, 2002). De acordo com a visão de Claro, Claro e Amâncio (2008), as empresas têm dificuldades para relacionar as práticas gerenciais com os discursos de sustentabilidade. Na visão dos autores, o termo pode assumir vários significados, atendendo a diferentes interesses, mas todas as definições denotam que o conceito de desenvolvimento sustentável possui três dimensões: econômica, social e ambiental. Essa ideia corrobora a opinião de Hart e Milstein (2003, pág. 2), que afirmam que: Uma empresa sustentável, por conseguinte, é aquela que contribui para o desenvolvimento s u s t e n t á v e l a o g e r a r, simultaneamente, benefícios econômicos, sociais e ambientais – conhecidos como os três pilares do desenvolvimento sustentável.

Na citação acima, os autores demonstram que o dilema é crescer causando os menores danos possíveis, de forma a evitar a degradação dos recursos naturais.

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2.2 Implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) O Sistema de Gestão Ambiental é um artificio voltado a prover, minimizar e/ou prevenir os problemas de caráter ambiental, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. Define-se Sistema de Gestão Ambiental (SGA), segundo a NBR ISO 14001, como a parte do sistema de gestão que compreende a estrutura organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e recursos para aplicar, elaborar, revisar e manter a política ambiental da empresa. (ABNT, 2014) Aspirando a prevenção dos danos ambientais decorrentes dos processos produtivos, as organizações buscam a aquisição dos certificados ambientais, através de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A Norma ISO 14001, de acordo com Silva et al (2011) detalha condições relacionadas ao SGA, admitindo que a organização desenvolva sua política ambiental e elabore seus objetivos e metas, levando em deferência os princípios legais e as informações referentes aos seus impactos ambientais. Para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, conforme Nicolella (2004) o primeiro passo é a formalização perante a corporação, enfatizando a importância e os benefícios da implantação. De acordo com Nicolella (2004) as etapas de implantação de um SGA deve seguir um plano de 5 princípios, sendo eles: Princípio 1: Política Ambiental Fundamento para a ação e definição dos objetivos e metas ambientais da organização, evidenciando suas finalidades e princípios em relação ao seu desempenho ambiental global. Princípio 2: Planejamento A norma ISO 14001 sugere que seja elaborado um plano para efetivar sua Política Ambiental.

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Princípio 3: Implantação e Operação A efetivação dos objetivos e metas previstos na política da organização é primordial para que haja uma concreta implantação da norma ISO 14001. Princípio 4: Verificação e Ação Corretiva Averiguação, de acordo com as condições criadas pelas normas da organização, se as ações estão de acordo com o projeto de gestão ambiental previamente definido. Princípio 5. Análise Crítica Nesta fase, a gerência, avalia as possíveis alterações na Política Ambiental estabelecida ou nos seus objetivos e metas, tendo como parâmetro, os relatórios resultantes da auditoria. O processo de gestão ambiental é revisado e executa-se o processo de melhoria contínua. Oliveira e Serra (2010) consideram que as principais dificuldades são a resistência dos funcionários durante os processos de auditoria, aumento de custos para a empresa durante a implantação do sistema, e dificuldade no cumprimento de alguns objetivos, devido às mudanças na legislação. São dificuldades também, segundo Lima e Lira (2007), para a certificação ambiental, a falta de recursos econômicos para a aquisição de tecnologias para adequar os processos para minimizar os impactos causados durante o processo produtivo, dificuldades de implementação de procedimentos de avaliação periódica e de adequação a constantes variações na legislação ambiental aplicável, dificuldade de encontrar pessoas com a qualificação e experiências necessárias para implantação do SGA de maneira correta e eficaz.


2.3 Certificação Ambiental e seus impactos para o meio ambiente e as organizações. É de conhecimento geral que o principal objetivo das empresas é o lucro, mas Oliveira e Serra (2010) citam que os consumidores têm se preocupado cada vez mais quanto à forma como os produtos e serviços são produzidos e descartados. Isso fez com que as empresas voltassem seus olhares a questões relacionadas ao meio ambiente e consequentemente mudanças na forma de gestão, a fim de se adequarem às normas ambientais e ainda assim se manterem competitivas. De acordo com Maciel e Mousquer (2013), há um ganho significativo para o meio ambiente com o interesse das organizações em relação à certificação ambiental. A principal preocupação dos ambientalistas e da sociedade é a destruição e o consumo desenfreado dos recursos naturais que, com o estabelecimento da NBR ISO 14001, podem ser minimizados. Em toda a sua extensão, a certificação ambiental só traz benefícios ao meio ambiente e, por conseguinte, à sociedade de forma geral. Dentre eles, destacam-se a conservação da natureza, mantendo o equilíbrio do planeta, diminuindo e prevenindo catástrofes naturais. Sobre os recursos ambientais, Fiorillo (2009, p. 27-28) refere que: Constata-se que os recursos ambientais não são inesgotáveis, tornando-se inadmissível que as atividades econômicas desenvolvam-se alheias a esse fato. Busca-se com isso a coexistência harmônica entre economia e meio ambiente. Permite-se o desenvolvimento, mas de forma sustentável, planejada, para que os recursos hoje existentes não se esgotem ou tornem-se inócuos.

Para as empresas, na visão de Oliveira e Serra (2010) os principais benefícios são: a redução de custos com seguros, a empresa se torna mais atrativa aos olhos dos investidores ao passo que, com a certificação suas ações ambientais são preventivas e evitam riscos de contaminações ao

meio ambiente, afastando a possibilidade de passivos ambientais que atrapalhem seus resultados financeiros, redução no consumo de energia elétrica, maior facilidade de acesso a empréstimos, melhoria da imagem da empresa, bem como ações ambientais preventivas e estratégicas, redução do consumo de água, gás e óleo combustível, maior confiabilidade na marca da empresa etc. Verifica-se, portanto, que empresas atentas aos aspectos sociais e ambientais de seu negócio têm ganho econômico e redução do risco dos investidores. Um ponto importante a se ressaltar de acordo com Oliveira e Serra (2010), é que toda a cadeia produtiva, desde o produtor da matéria prima até o usuário final, pode ser beneficiada pela ideia do consumo verde. Segundo Calixto e Quelhas (2005), as principais vantagens na implantação do SGA são a remoção de barreiras para o comércio internacional; o aumento da credibilidade do comprometimento de uma organização com a responsabilidade ambiental; o comprometimento de uma empresa com o seu regulamento ambiental. Ainda sobre as vantagens em ser certificada, há resultados práticos reconhecidos pelo índice Dow Jones de Sustentabilidade, indicador de desempenho financeiro das empresas lideres em sustentabilidade a nível global, refletindo a lucratividade das ações das 312 empresas com melhor desempenho sócio ambiental, dentre as cerca de três mil que compõem o índice Dow Jones Geral, principal índice bolsista do mundo. Hoje, a principal ferramenta de escolha de ações de empresas com responsabilidade social e ambiental é o Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI, em inglês Dow Jones Sustainability Group Index). O índice é formado por 312 ações de empresas de 26 países e quatro brasileiras integram a lista: Itaú Unibanco, Embraer e Cemig. Conte Sustentabilidade

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3 METODOLOGIA 3.1 Descrição dos objetos de pesquisa A primeira pesquisa foi realizada na empresa Mip Engenharia sediada na Rua Senhora do Porto, nº 2842, Bairro Palmeiras, BH/MG. A entrevista efetivou-se na própria sede da empresa, tendo como entrevistado o senhor Ricardo Souza, formado em Geografia que foi entrevistado no dia 30 de Abril de 2015. A segunda pesquisa foi realizada na empresa Arcelor Mittal sediada na Avenida Carandaí nº 1115, Bairro Funcionários. A entrevista efetivou-se no escritório da Gerência Ambiental da empresa, instalada no 18° andar da sede. A senhora Luciana Corrêa Magalhães formada em engenharia metalúrgica foi entrevistada no dia 06 de Maio de 2015. As entrevistas foram realizadas com foco de analisar o processo de certificação ambiental, segundo a norma NBR ISO 14001,as vantagens e as dificuldades da implantação dos selos nas organizações, bem como os impactos no meio ambiente e a importância deste certificado. 3.2 Tipo de Pesquisa A pesquisa qualitativa trata-se de uma reunião de técnicas diferentes de interpretação que pretende descrever um fato específico. Tem caráter exploratório, uma vez que estimula o entrevistado a pensar e a se expressar livremente sobre o assunto em questão. Os dados são

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retratados por meio de relatórios, levando-se em conta aspectos tidos como relevantes, como as opiniões e comentários do público entrevistado. Na concepção de Gil (1999), a pesquisa descritiva tem como finalidade apresentar características de determinadas população ou fenômeno ou estipular relações entre as variáveis. Têm por objetivo estudar características de um grupo com a finalidade de identificar a natureza da relação entre as variáveis, por meio de estudo, análise, registro e a interpretação dos fatos. Esse molde de pesquisa pode ser entendido como um estudo de caso onde, após a coleta de dados, é realizada uma análise para uma posterior determinação dos efeitos resultantes em uma empresa, sistema de produção ou produto. A pesquisa de campo observa fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos mesmos e, finalmente, a análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado. Michel (2005) considera que a pesquisa de campo precisa de certos recursos que permitam coletar dados verdadeiros e reais, para analisar e constatar a teoria estudada com a realidade avaliada.


Fique por dentro! 3.3 Método de Pesquisa A análise deste projeto ocorreu por meio do método comparativo. Marconi e Lakatos (pág 163, 2003) consideram que: “tanto os métodos quantos as técnicas devem estar adequados ao problema estudado, às hipóteses levantadas que se queira confirmar”. 3.4 Técnica de Coleta de Dados A coleta de dados é a procura de determinados fatos da realidade. Composta pela combinação de observar, escutar, examinar e perceber os aspectos questionados a fim de analisar, no caso deste projeto, o processo de certificação ambiental, segundo a norma ISO 14001. Para a coleta de dados recorreu-se a duas entrevistas com roteiros previamente elaborados. Gil (1999) define entrevista como técnica em o investigador apresenta frente ao investigado expondo questionamentos com o objetivo de obtenção de dados que sejam relevantes à investigação. O autor ainda destaca que a entrevista é bastante adequada para conquista de informações a respeito de que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam bem como as suas explanações ou motivos a respeito das coisas precedentes.

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4 ANÁLISE DE DADOS Para a realização dessa pesquisa foram entrevistadas duas pessoas. O geógrafo Ricardo Souza identificado nessa etapa como entrevistado 1, que atua como analista de SGI no setor de Garantia da Qualidade da empresa Mip Engenharia, e a senhora Luciana Corrêa Magalhães identificada na pesquisa como entrevistada 2, formada em Engenharia Metalurgica e trabalha como analista sênior de meio ambiente da empresa Arcelor Mittal. Em relação ao ramo de atividade das empresas pesquisadas, em linhas gerais a Mip Engenharia aqui tratada como empresa 1, trabalha com montagem eletromecânica. A empresa conta com aproximadamente 130 funcionários em sua sede administrativa e outros 2.000 nas obras ativas. Já a Arcelor Mittal, que será identificada doravante como empresa 2, de acordo com a entrevistada, é o maior fabricante de aço do mundo e produtor global de minério de ferro e conta com mais de 230 mil funcionários em vários países. A respeito dos motivos da decisão em se implantar o SGA, as empresas estudadas confirmaram a ideia de Silva et al. (2011) implantando o sistema em busca de uma prevenção aos danos ambientais gerados no decorrer dos processos produtivos,

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desenvolvendo sua política ambiental e elaborando seus objetivos de acordo com os princípios legais referentes aos impactos ambientais. No caso da empresa 1, percebeu-se a preocupação da alta administração em se obter o certificado para atender às demandas de mercado, corroborando a teoria de Oliveira e Serra (2010) de que as empresas têm voltado os olhares para questões ambientais, preocupando-se com a adequação às normas e conseguindo manter a competitividade. A empresa 2 confirma também o conceito de desenvolvimento sustentável citado por Almeida (2002), tendo entre seus princípios fundamentais uma forma de atuação que garanta uma qualidade de vida para as futuras gerações. Quando questionados a respeito do processo de implantação, os entrevistados apontaram um processo realizado de forma individual em cada unidade da empresa, respeitando um cronograma prévio de implantação, e com algumas etapas básicas como: Diagnóstico, treinamentos, desenvolvimento do SGA, elaboração do manual do SGA, implantação do sistema, auditorias internas, ajustes do sistema de acordo com o retorno da auditoria, sendo que o acompanhamento da pré-auditoria é feito pelo Órgão Certificador, e a cada auditoria é feita adequação dos erros identificados. Através da descrição das etapas pelos entrevistados, podese perceber que cada uma delas atende aos princípios definidos por Nicolella (2004) de política ambiental, planejamento, implantação e operação, verificação e ação corretiva, e por último a análise crítica. Entre todas as etapas, citadas por Nicolella (2004) os entrevistados indicaram o planejamento como uma das etapas mais importantes, onde é criada uma espécie de check list, que pode servir para nortear as atividades que devem ser


icumpridas pela equipe, evitando assim problemas no decorrer da implantação. Em relação à importância do planejamento, a entrevistada 2 considera que: Muitas vezes o cronograma inicial de implantação é muito ousado nos prazos, negligenciando algumas etapas que são muito importantes como o tempo gasto no desenvolvimento e implantação do Sistema de Gestão Ambiental. (ENTREVISTADA 2, 2015)

Nessa etapa, também de acordo com os entrevistados, foi definido onde seriam alocados os recursos financeiros. No caso das empresas pesquisadas, além da destinação direta ao Sistema de Gestão Ambiental citada por Nicolella (2004) receberam investimentos também para a contratação de consultoria especializada, usando a identificação dos requisitos legais, as auditorias necessárias à identificação de arestas, a destinação de resíduos e a qualificação profissional. No que diz respeito às dificuldades na implantação, a principal dificuldade encontrada pelas empresas foi resistência dos funcionários. Vi s t o q u e a s m a i o r i a s d e l e s n ã o e s t ã o

acostumadas com tais ações no dia-a-dia fora da empresa, fato confirma a teoria de Oliveira e Serra (2010). A empresa 2 apontou ainda a questão da integração entre o SGA e o Sistema de Gestão de Segurança e Saúde, que devem estar em sintonia para não gerar ações conflituosas. Em relação à maneira como as empresas trataram a mudança com os colaboradores, as empresas pesquisadas estabeleceram diversas formas de comunicação com a força de trabalho, como panfletos, faixas, cartazes, palestras, cursos e treinamentos, confirmando assim a ideia de Nicolella (2004) e Oliveira e Serra (2010) de que a conscientização e o treinamento dos funcionários, em conformidade com as políticas ambientais, revela a importância do pensamento sistêmico em busca de benefícios não apenas para a empresa, mas principalmente para o meio ambiente. Sobre as modificações ocorridas no processo produtivo, foi percebido que, assim como afirma Nicolella (2004), desde a parte de controle de documentos que mantém organizado e atualizado os regulamentos, leis e compromissos ambientais assumidos pela empresa até o controle operacional, todos os processos da empresa podem ser adequados Conte Sustentabilidade 13


para facilitar o processo de certificação. Sobre essa adequação, o entrevistado 1 afirmou que: To d o s o s p r o c e s s o s produtivos da empresa são avaliados em diversos aspectos, inclusive o ambiental. Com a incorporação da gestão ambiental, toda atividade realizada pela empresa são avaliados os aspectos ambientais. Todo processo que cause impactos negativos são revistos, a fim de reduzir, eliminar ou mitigar os possíveis impactos ambientais. (ENTREVISTADO 1, 2015)

A respeito dos benefícios e retornos gerados para a empresa em decorrência da implantação da ISO 14001, além dos benefícios citados por Oliveira e Serra (2010) como redução nos acidentes de trabalho, organização e limpeza das frentes de serviço e maior aderência dos aspectos legais, foi apontado pelos entrevistados a questão da redução de resíduos, que é parte importante da

teoria defendida por Maciel e Mousquer (2013) de que o meio ambiente tem um ganho significativo com o interesse das empresas em obter a certificação ambiental. Outro fator importante relacionado aos retornos obtidos pela empresa é a questão da credibilidade e vantagem competitiva conquistada com a certificação ambiental, reafirmando a ideia de Calixto e Quelhas (2005) e Oliveira e Serra (2010) que citam que a certificação ambiental influencia positivamente a imagem da empresa, conferindo credibilidade e demonstrando o comprometimento da mesma com as questões ambientais, podendo com isso romper as barreiras para o comércio internacional, como acontece em uma das empresas pesquisadas. A questão dessa vantagem foi amplamente defendida pelos entrevistados, sendo apontadas várias vezes como um dos maiores benefícios em termos de retorno financeiro.

“A alta administração da empresa percebeu a demanda do mercado e voltou as atenções para as questões ambientais, mantendo a competitividade.” (ENTREVISTADO 1, 2015) Fonte: CNI

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O assunto abordado neste projeto interdisciplinar diz respeito à sustentabilidade, o processo de certificação ambiental e seus impactos nas empresas e na sociedade. De acordo com a prática, observa-se que muitos conceitos foram confirmados, contribuindo com o conhecimento acerca do tema. A respeito do objetivo geral percebeu-se que o processo de implantação é realizado por meio de um cronograma estabelecido por um órgão certificador que acompanha as várias etapas que vão desde o diagnóstico até a implantação do Sistema de Gestão Ambiental e a adequação dos erros identificados. Porém, há muitos processos a serem adequados uma vez que, sendo negligenciados para que seja cumprido o cronograma pré-estabelecido, existem grandes chances de desencadear erros futuros. Em relação às dificuldades enfrentadas, uma questão interessante é a resistência que os funcionários no processo de adequação, devido à falta do hábito de se manter atitudes sustentáveis em seu dia a dia. Esse dado mostra que o interesse das empresas pela sustentabilidade precisa ultrapassar as fronteiras da mesma e alcançar as casas da força trabalhadora, para que a ideia efetivamente se converta em impactos benéficos para o meio ambiente. No caso dessa pesquisa, pode-se perceber que algumas empresas procuram identificar o mais cedo possível essa deficiência, e investem em palestras, treinamentos e divulgação da importância do cuidado com o meio ambiente. Com o desenvolvimento desse trabalho, foi possível verificar ainda que além de estarem contribuindo de forma positiva ao meio ambiente,

as empresas agregam vantagem competitiva e credibilidade atendendo as exigências de mercado sem comprometer a produtividade, sendo esse o principal benefício identificado em termos de retorno financeiro para as empresas. Isso demonstra que os clientes estão cada vez mais atentos às empresas que se mostram preocupadas em reverter suas ações predatórias de em ações que consigam aliar produção satisfatória e conservação do meio ambiente. No que diz respeito ao modo como as empresas se adaptam ao sistema de gestão póscertificação, ficou claro que a melhor maneira encontrada pelas empresas para manter as questões relacionadas à certificação em dia, é integrar todos os processos produtivos, de forma que as regras ambientais sejam a base para ações corretivas que diminuam o máximo possível os danos ao meio ambiente. Em relação aos retornos ao meio ambiente, percebe-se que a busca contínua pela conscientização dentro da empresa, traz ganhos significativos para o meio ambiente, como a redução de resíduos, a redução de emissão de poluentes tanto como a economia de recursos com o reuso e a gestão dos mesmos, já que muitas vezes a força de trabalho passa a manter ações sustentáveis no âmbito familiar, podendo esse aspecto ser até mais importante do que os retornos gerados pela empresa em si. Este trabalho limitou-se à análise geral da certificação. Por não ter esgotado o tema, recomenda-se a continuidade das investigações acerca da sustentabilidade na visão e na vida diária dos trabalhadores das empresas pesquisadas.

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REFERÊNCIAS ALMEIDA, Fernando A. O bom negócio da sustentabilidade.1°ed.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 191p.

nvolvimento.pdf>Acesso em 20 de abril de 2015

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