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ALUNOS DAS PRÔS FÁTIMA E FERNANDA OUVEM CAUSOS DE ROLANDO BOLDRIN E A CONVERSA SE ESPALHA FEITO UM RASTILHO DE PÓLVORA A informalidade da linguagem do interior nesse brasil de meu Deus!!!, fez parte do projeto que desmistificou o falar “caipira”, da terra, das raízes de um povo. O respeito à diversidade nos diferentes “falares”, nas inúmeras histórias, aproximaram os alunos do universo rico do “caipirês.”
Dois caboclos covardes foram no médico. Mas um foi mais esperto que o outro.
Lá na minha terra tinha um caboclo que vivia reclamando de uma dor na perna. E, coincidentemente, um compadre dele tinha também a mesma dor na perna, e também tava sempre reclamando da danada. Só que nenhum deles tinha coragem de ir ao médico. Ficavam mancando, reclamando da dor, mas não iam ao hospital de jeito nenhum. Até que um deles teve uma ideia: – Ê, compadre. Nóis véve sofrendo muito com a danada dessa dor na perna... Por que é que nóis num vamos junto no dotô? Vamos lá. A gente faz a consulta, tal, se interna no mesmo quarto... Daí fazemo o tratamento e vemo o que acontece. Se curar, tá bom demais!
O compadre gostou da ideia, tomou coragem e lá foram os dois. Quando chegaram ao hospital, o médico pediu para o primeiro deitar na cama e começou a examinar. Fez algumas perguntas e foi apertando a perna do caboclo: Doutor – Dói aqui? Caboclo 1 – Aiiiii! Doutor: Está? Caboclo 1 – Aii, aii, aii! Dói demais! E o outro só olhando. Quando chegou a vez dele, o médico foi cutucando, apertando, mas nada de ele gemer. Ficou quieto o tempo todo. Aí o médico foi embora e o compadre estranhou: Caboclo 1 – Mas cumpadi, a minha perna doeu demais da conta com os aperto do hómi... Como é que a sua não doeu nadica de nada?! Caboclo 2 – E ocê acha que eu vou dá a perna que dói pro hómi apertá?! Sugestão André Santini
Mas era, ele sim, por direito de dom e nascimento, um grande artista brasileiro. A bênção, Dito. É esse o nome: Dito. Ou melhor, Dito Preto, ou então, como ele às vezes se apresentava brincando:
– Benedicto da Silva Preto. Quando nos encontrávamos num botequim cheio de gente, ele olhava para a plateia e dizia, me abraçando: – Cai com nóis. E logo emendava, mostrando que sabia bem a gramática portuguesa: – Ou conosco, como queiras... Era só risada. Seu sobrenome verdadeiro nunca ninguém soube. O pai chamava simplesmente Vigilato; morreu com 100 anos. Dito Preto, daquela cidadezinha do interior, sua política, músicas caipiras no altofalante nos domingos, as meninas ingênuas e safadinhas, o senhor prefeito saudando na calçada, de braços com a primeira-dama. O prefeito também respeitava o Dito Preto, que era diferente na cor, mas muito maior do que ele por dentro. Eu virei artista de tevê, cinema, teatro; virei cantor, compositor e outros bichos. Ele continuou até o fim como engraxate de uma barbearia na pracinha daquela cidadezinha do interior. Mas era, ele sim, por direito de dom e nascimento, um grande artista brasileiro. A bênção, Dito. Escolhido por Davi e Gustavo
Apesar de bêbado, Gervásio era um homem esperto. O caboclo Gervásio, lá dos fundões do interior de São Paulo, é um tipo amalandrado. Trabalha duro na roça, ama a mulher, mas gosta de tomar a marvada no fim do dia. A comadre é que não gosta muito das bebedeiras do marido, mas toda vez ele vai dando um jeito de dobrar a coitada. Teve um dia que Gervásio foi saindo, pé ante pé, rumo ao bar mais perto de casa. A mulher já foi logo avisando: Mulher – Ocê vai, Gervásio, mas meia-noite eu fecho a porta. Gervásio – Pode confiar, docinho. Antes da meia-noite eu tô aqui! Ele se foi. Só que emenda conversa com um, conta um causo de pescador pra outro, o tempo foi indo. Quando viu, já era tarde demais. O sujeito vai pra casa chega perto da porta devagar e, quando vai bater, o sino da igreja toca uma vez. E dá-lhe aquele barulho imponente que só igreja do interior tem, que ecoa nas montanhas lá longe. Ele arrisca bater na porta mesmo assim. Mulher – Eu não falei que ocê não entrava depois da meia noite? Já é uma da manhã, seu bebum. Gervásio – É nada, mulher… Bateu 10 horas agorinha mesmo... Mulher – Que nada, homem! O sino bateu uma vez só, não ouviu? Gervásio – E ocê queria que ele batesse o “0” como? Podia estar bêbado, mas Gervásio era malandro que só vendo. Sugestão de Ana Beatriz e Juliana
Olha só a história que Furquim contou, envolvendo o seu querido cachorro… Vou contar mais uma do compadre Furquim, aquele mentiroso que todo mundo adorava. Dizia ele que tinha um cachorro que era o melhor do mundo pra caçar perdiz. Por isso mesmo o povo chamava ele de perdigueiro. É ou não é? Olha só a história que ele contou, envolvendo o seu querido cachorro… Furquim – Eu num apertêio do meu cachorro perdiguêro pru nada. Tanto isso é verdade que, uma certa vez, eu tendo que ir pra Sum Paulo, me agarrei com o bicho e lá fumo nóis dentro da jardinêra, eu e ele. Pois muito que bem: cheguêmo lá na capitá, um despropósito de gente, e fumo logo percurá os meu parente que morava nos caminho da tar da Lapa. E lá vamo nóis, eu e meu cachorro, rua afora, andando de a pé que é pra móde num se perdê. De repente, meu cachorro perdiguêro amarrô.
Um aparte: amarrar é quando o cachorro de caça pressente algo e fica estático em posição de ataque. E siga lá a história do compadre. Furquim – Meu cachorro amarrô ali mêmo, numa esquina cheia de muvimento de gente andando e artomóve passando. Digo inté que ele amarrô oiando firme pra onde tinha uma grande banca de revista e jorná. E ficô ali sem se mexê. Eu garrei a percurá a tar caça e nada de incontrá. Vai daqui, vai de lá, e ele ali amarrado, naquela posição de bão caçadô, sem se aluí do lugá e sem piscá. Pois foi aí que eu arreparei. Tinha um jorná aberto dipindurado, desses que é pra pessoa que passa lê as notícia. Pois num é que no cabeçaio do tar jorná tava escrivinhado assim: Bairro das Perdizes… Ah, o bicho tinha que amarrá mêmo, uai. Bão caçado faz ansim. É ou num é? Sugestão de Fellipe e Marcos
Um dia que ele estava lá, pegando uns lambarizinhos para levar pra casa, encostou um menino ao lado dele. Antes que eu tivesse programa, escrevesse livro e tudo mais, meu pai já sabia que eu gostava muito de causo. Então às vezes ele vinha me contar umas coisas que era pra depois eu contar para outras pessoas. Mesmo já velhinho, ele gostava muito de pescar. Todo dia saía com duas ou três varinhas pra beira do rio Sapucaí. Um dia que ele estava lá, pegando uns lambarizinhos para levar pra casa, encostou um menino ao lado dele. Era um molequinho espoleta, de uns sete ou oito anos, filho desses barranqueiros que moram na beira do rio. Só que o garoto chegou lá, sentou num canto e não saiu mais. Meu pai puxou a vara, pegou um lambari, colocou outra minhoca na vara. E de novo. E mais uma vez. Toda hora que ele olhava para trás, o menino continuava lá, acocoradinho, só olhando. Não abriu a boca pra falar nenhuma palavra, e também mal se mexeu. Meu pai continuou a pescaria. Só que ele contou no relógio três horas e o menino lá, do mesmo jeito. Aí se zangou e resolveu falar com ele: – Ô, menino, pega aqui uma varinha e venha pescar comigo, ara!
E o menino: – Vou nada. Tenho paciência não, moço.. Sugestão de Max e Rafael
Vou contar a história de uma madame que vivia muito solitária, no vigésimo andar de um prédio nos jardins, em São Paulo. Era uma madame muito bonita, que gostava de conforto, e por isso morava num belíssimo apartamento de ampla salas e grandes suítes. Mas, apesar de ser uma mulher muito rica e coisa e tal, a dita cuja vivia sozinha naquele espaço. Como acontece com tanta gente por aí, é ou não é?
Ah, mas eu ia contar causo de bicho e tô aqui falando de uma madame. Naturalmente vocês pensam que eu me atrapalhei ou me esqueci do fio da meada, mas não é nada disso. Acontece que o causo começa assim mesmo, pois tal madame tinha um gatinho. Lindo que só vendo. Desses que nem parecem de verdade, de tão formoso. Tudo nele era majestoso. Agora, o que impressionava a madame eram os olhos azuis e a expressão de quem entende tudo o que se passa e o que se fala. O que às vezes deve ser verdade e a gente nem se toca. Pois a tal madame se impressionava tanto com o olhar do lindo bichano que achava que só faltava mesmo ele falar. E não é que, acreditando mesmo nisso, a dita cuja deu de conversar o dia inteiro com o gatinho, achando que este método usado para fazer papagaio aprender a falar de tanto a gente repetir era o que tinha que ser feito. E elas sempre terminava as aulas com o gato na insistência: “ Fala, meu bichano, fala...”
O bichano, diante dessas insistências diárias, sempre lhe respondia com um longo...miauuuuuuu. Sempre com olhar azul fixo em sua dona, a tal madame dos Jardins. Aquela que vivia solitária com o nosso personagem por companhia. Mas – sempre tem um mas, como dizia o saudoso amigo Plínio Marcos – eis que o belo dia, logo de manhãzinha, antes que a madame pudesse recomeçar a sua aula de fazer o bicho falar, o dito cujo bicho olha para a madame e diz, bem claramente, até devagar, de um jeito categórico: “Dona, fuja que este prédio vai cair”.
Sugestão de Bruna Alves, Marina e Bruna Vitoria
PRECISA-SE
Caboclo já foi achando que conseguiu o emprego...
No centro de uma dessas cidadezinhas perdidas no meio do Brasil, tinha um armazém, desses que vendem um tantinho de tudo. Quem não vivia na roça ia ali sempre pra comprar ovo, legume, fruta, leite – essas coisas que na cidade grande chamam de “secos e molhados”. Bom, daí que um dia o dono do tal armazém não estava mais dando conta de cuidar do comércio sozinho com a família. Decidiu que ia contratar um ajudante para atender os clientes. Tratou de espalhar por todos os cantos o anúncio da vaga. Até que certo dia, lá pra umas horas da tarde, chegou um caboclo querendo o trabalho. O dono olhou bem para o capiau cheio de desconfiança. Dono do armazém – Ocê quer memo trabaiá aqui, homi? Caboclo – Se quero? Quero sim, quero muito. Faço de tudo que o sinhô mandá. Posso guardar as comida, cuidar do estoque, dos clientes, do caixa... Dono do armazém – E ocê tem experiência?
Caboclo – Tenho sim, sinhô. Aí, nessa hora, o homem do armazém já gostou mais da história. Mas foi logo dando um aviso que o trabalho era muito. Dono do armazém – Eu preciso de uma pessoa responsável. Caboclo – Oxe, então num tem erro, não. O sinhô bateu no lugar certo. Em todo lugar que eu trabaio, quando acontece arguma coisa mar feita, eles falam logo que sou eu o responsáver. Sugestão de Allan e Murilo
Zé do Farol era tão mentiroso que se enrolava todo ao contar uma história. Dentre todos os mentirosos que eu conheci, o mais engraçado era o Zé do Farol. Esse tinha um jeito especial de inventar seus causos. Esse que eu passo a contar agora, ao contrário de todo mentiroso que começa contando vantagem, ele começou contando pra gente assim: Zé Farol – Óia, gente. Esta que eu vou contar agora foi fogo, porque eu sempre tive muito medo de onça. E num é que justamente uma das grandes me apareceu um dia que eu fui caçá? Pois bem: quando eu vi a marvada, carpi os pé. Larguei espingarda, larguei tudo ali mêmo e saí desembestado mata afora. Ouvinte – E daí, Zé? Conseguiu se livrar da onça? Zé Farol – Que nada. Pois num é que a mardita garrô corrê atráis de mim feito uma doida? E lá no meio daquele mato. E a onça atráis pega num pega... tava chegando nos meu carcanhá. De repente, eu trupiquei nuns graveto e tuim, caí de boca no chão. Daí, desesperado, virei de barriga pra cima, pra móde num morrê comu covarde. A onça veio vindo... me oiando... e quando chegou pertinho de mim, ponhô a pata em riba do meu peito... abriu aquele bocão bem na minha cara e roncô bem arto ansim: GREEEEE (Zé imitando a onça).
Todos (muito interessados) – E daí, Zé? O que ocê feiz? Zé Farol – Me borrei todo, me sujei na carça. Ouvinte – Pois agora gostei de vê, Zé. Agora ocê provô que num mente. Pois, com uma onça dessa no meu peito, até eu borrava. Me sujava as carça também.
Zé Farol (calmo) – Não, gente. Eu tô falando que me borrei, mas foi agora que eu imitei o ronco arto da onça: GREEEEE... Sugestão de Paulo e Victor
“Óia. Pode subi, mas num liga praquele lá de riba, não.” Um caminhão velho, desses de carregar tranqueira, foi buscar na cidade um caixão de defunto pra ser usado por um dito-cujo que tinha falecido lá naquelas redondezas. Lá vinha o caminhão com o caixão (sem o defunto, que ainda estava na casa de moradia). Eis que, ao passar por um capiau, o motorista foi interpelado, na tenativa do referido capiau cavar com isso uma bêra, que naquelas bandas é pegar uma carona. Capiau – Ô, moço! Será que o sinhô pode me dar uma bêra até o Lageado? Motorista – Pode trepá lá em cima, coió. E óia: lá na carroceria tem um caixão de defunto, mas não se preocupe porque ele tá vazio. Capiau (trepando) – Brigado, moço.
De repente, começa a chuviscar. O tal capiau tinha tomado remédio quente e não podia levar aquele chuvisqueiro na cachola. Abriu a tampa do caixão de defunto vazio e se agasalhou lá dentro, de um jeito até que bem gostoso. Fechou o caixão com a tampa, sem medo de nada. Acontece que, conforme o caminhão passava na estrada, outros capiaus também pediam bêra, chegando a juntar uns 20 no caminhão. Achavam naturalmente que ali tinha um defunto fresco, pois o motorista ia sempre avisando: “Óia. Pode subi, mas num liga praquele lá de riba, não.” Eis que a chuva deu uma parada boa. Nessa hora, o capiau que ia dentro do tal caixão abriu num impacto a tampa e, sentando-se num gesto brusco, perguntou a todos: Capiau – Cumé, moçada? Já parô de chovê? Nem é preciso dizer o que aconteceu. Foi capiau pra tudo quanto é lado, mesmo com o caminhão em movimento. Escolhido por Clara e Fernanda
O lobisomem e o porco Numa noite, no meio do mato, enxerguei um bichão. O disgramado era bonito, grande, rosado, mas parecia um monstro. Só podia ser um porco. Uma barulhança danada tomou conta do terreiro. Fui abrindo a porta lentamente, pois era início da Quaresma, e havia boato da existência de um lobisomem. Mas aos pouco pude ver que era o compadre Justino, que morava lá pras bandas de Toledo. Compadre Justino é um grande amigo. Fomos praticamente criados juntos. Mas o destino nos separou fazia uns anos. Falamos de família e dos novos costumes do homem moderno. Ele também disse que nas bandas de Toledo, nesta época, acontece uma festa de porco no rolete, e que não gostava nada daquilo, que tinha uma pena danada do bicho. Entre todos os causos contados pelo Justino, confesso que o que mais me deixou intrigado foi a do porco no rolete. Decidi que queria comer o tal do porco. Passei dias procurando, sem encontrar um porquinho sequer. Numa noite, no meio do mato, enxerguei um bichão. O disgramado era bonito, grande, rosado, mas parecia um monstro. Só podia ser um porco. Um porquinho que tinha dias que eu tentava encontrar.
O bicho resolveu fugir. Pulei do cavalo com o chicote em punho, estalei o rabo de tatu e parti pra cima do cachaço. Mas nada de eu conseguir pegar o danado. Corremos tanto, até que chegou na direção da minha casa. O porco correu e se escondeu detrás do fogão a lenha na cozinha. Eu havia encurralado o bicho. Peguei a espingarda, confiante. Mas gritos começaram a surgir detrás do fogão. – Calma, homem! Pelo amor de Deus, não atira. Sou eu, seu compadre. E não é que era mesmo. O homem estava pelado, todo arranhado, cheio de chicotadas. O compadre Justino era o lobisomem. Por isso que ele defendia tanto os porquinhos. E mais uma vez eu fiquei sem comer o tal de porco no rolete. Sugestão de João e Vinícius
Fordinho 29 Dito Preto, um amigo meu, caminhãozinho Ford 29 para puxar cana na Fazenda. Tinha comprado à prestação, mas o Fordinho estava acabado.
Ele trabalhava com o caminhãozinho Fordeco durante a semana e no sábado colocava as varas no caminhãozinho e ia pescar. Naquele sábado, ele já tinha tomado 'umas e outras' e ia indo para o Rio Sapucaí. No meio da estrada, apareceu um guarda rodoviário. O policial fez sinal para ele parar. Dito Preto foi indo com o caminhãozinho pelo acostamento. 'Beeeeeeem' lá na frente parou. O guarda chegou e disse: - Deixa eu ver a carta... ...de motorista. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho carta porque eu não tenho. Comprei esse caminhãozinho para puxar cana na fazenda e ainda não deu pra comprar a... ...carta. - Então deixa eu ver o documento do caminhão. - Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho documento porque não tenho. Ainda não comprei não, senhor. - Não tem carta, não tem documento...
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Mas todo mundo me conhece por essas bandas, seu guarda. É só perguntar. Todo mundo sabe que o caminhãozinho é meu. Quando tiver tempo, vou comprar a carta e o documento lá com o delegado. - Então acende os faróis. - Vai desculpar, seu guarda, mas o direito não tem. E o esquerdo tá queimado. - E a buzina? - Não vou dizer pro senhor que tenho, porque não tenho. Comprei o caminhãozinho à prestação e não deu pra colocar a buzina. - E o breque? Pelo menos o breque, o senhor... ...tem? - O senhor acha que se eu tivesse breque não tinha parado lá atrás, quando o senhor mandou? - Se eu for multar o senhor, a multa vai ser tão alta que nem vendendo o caminhãozinho o senhor vai poder pagar. Então, vai pescar de uma vez. - Mas não tem bateria, seu guarda. O senhor ajuda a empurrar? E o guarda empurrou.
Escolhido por Beatriz F. e Anna Clara C.
O menino e a pesca Um dia que ele estava lá, pegando uns lambarizinhos para levar pra casa, encostou um menino ao lado dele. Antes que eu tivesse programa, escrevesse livro e tudo mais, meu pai já sabia que eu gostava muito de causo. Então às vezes ele vinha me contar umas coisas que era pra depois eu contar para outras pessoas. Mesmo já velhinho, ele gostava muito de pescar. Todo dia saía com duas ou três varinhas pra beira do rio Sapucaí. Um dia que ele estava lá, pegando uns lambarizinhos para levar pra casa, encostou um menino ao lado dele. Era um molequinho espoleta, de uns sete ou oito anos, filho desses barranqueiros que moram na beira do rio. Só que o garoto chegou lá, sentou num canto e não saiu mais. Meu pai puxou a vara, pegou um lambari, colocou outra minhoca na vara. E de novo. E mais uma vez. Toda hora que ele olhava para trás, o menino continuava lá, acocoradinho, só olhando. Não abriu a boca pra falar nenhuma palavra, e também mal se mexeu. Meu pai continuou a pescaria. Só que ele contou no relógio três horas e o menino lá, do mesmo jeito. Aí se zangou e resolveu falar com ele: – Ô, menino, pega aqui uma varinha e venha pescar comigo, ara! E o menino: – Vou nada. Tenho paciência não, moço..
Agora vou lhe contar, como tudo aconteceu, a história de um matuto que no engenho nasceu, leigo, mal sabia o nome assinar, mas tinha algo com ele que ninguém sabia explicar. Era um caçador destemido que na mata gostava de estar, caçando os bichos mais bravos que ninguém ouvia falar, pegava até de unha, que a poeira voava no ar. Na cidade, outra coisa não se ouvia falar, do matuto Zeca Bravo que vivia das bandas de lá, montando no seu cavalo, por nome de alazão, bonito como quê, valente como leão, quando passava a espora, o risco ficava no chão. Se embrenhava de mata adentro, com a espingarda nas mãos, pegando bicho no laço, eta Zeca valentão. Hoje não se vê falar no matuto Zeca Bravo, porém de cabo a rabo, o seu nome faz juz, e pra sempre será lembrado. Nunca mais ouvimos falar desse matuto arretado. Escolhido por Isabela e lais