Construcao industrializada aplicada a habitacao multifamiliar

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UNIFOR – UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CCT – ARQUITETURA E URBANISMO PAURB - PESQUISA EM ARQUITETURA E URBANISMO

EMILIANO CAVALCANTE TEIXEIRA LIMA

CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA APLICADA À HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR

Fortaleza 2014.2


EMILIANO CAVALCANTE TEIXEIRA LIMA

CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA APLICADA À HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR

Trabalho Final de Graduação (TFG) submetido à avaliação de banca de defesa do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Orientador: Alexandre Oliveira, Msc

Fortaleza 2014.2

G.

de


Agradeço ao entusiasmo e força de minha amiga, Andrea Dellamônica, que na função de chefe do setor onde trabalhava criou todas as condições para que fosse possível ingressar nesta universidade conciliando trabalho e estudos. Agradeço também ao apoio da minha família, sem o qual não seria possível alcançar este ponto, apoio que pode ser simbolizado na figura de minhas tias Cristina, e Marta Sélia, e o mecenato de minha tias Sônia e Irami. Agradeço ao apoio inconteste de minha mãe, Vera Lúcia Cavalcante, e a inspiração de meu pai, arquiteto Otacílio Teixeira Lima Neto, o Bisão, com quem travava intermináveis conversas sobre arquitetura. Ao engenheiro Fran Ferreira que atestou as soluções aqui apresentadas em ricas e sempre divertidas reuniões. Ao professor Alexandre Gomes pelo empenho, orientação e amizade. E por fim, a minha esposa, Ana Cecília, companheira e incentivadora de todas as horas, sem a qual nada disso seria possível.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 1.1 Problematização ................................................................................................ 5 1.2 Justificativa ........................................................................................................ 6 1.3 Objetivos ........................................................................................................... 7 1.3.1 Objetivo geral .......................................................................................... 7 1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................... 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 8 2.1 Industrialização, arquitetura e construção: um breve histórico ........................... 8 2.2 Indústria e arquitetura no século XX ................................................................ 26 2.3 Industrialização difere de pré-fabricação ......................................................... 52 2.4 Sistemas Construtivos ..................................................................................... 53 2.5 Coordenação Modular ..................................................................................... 55 2.6 Crítica ao modelo atual de construção de habitações...................................... 59 3 PROJETOS DE REFERÊNCIA .............................................................................. 60 3.1 La Canopée ..................................................................................................... 61 3.2 Ginásio Poliesportivo Arena do Morro ............................................................. 63 3.3 2º Lugar do 6º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura – Conjunto Habitacional Jardim Novo Marilda ............... 65 3.4 Residencial Corruíras de Boldarine Arquitetura ............................................... 67 4 MÉTODO DE PESQUISA ...................................................................................... 70 5 PROJETO ARQUITETÔNICO ................................................................................ 71 5.1 Terreno ........................................................................................................... 71 5.2 Legislação urbana ........................................................................................... 73 5.3 O programa de necessidades .......................................................................... 74 5.4 Partido arquitetônico........................................................................................ 75 5.5 Memorial descritivo.......................................................................................... 77 5.5.1 Conforto ambiental ................................................................................ 78 5.5.2 O sistema construtivo ............................................................................ 78 5.6 Croquis e estudos ........................................................................................... 80 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 83 7 ANEXO .................................................................................................................. 84 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 97

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"A dignidade da habitação é inseparável da dignidade do homem (...)" Petit, E. C. apud Bruna, 1976, p.84

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INTRODUÇÃO Da roupa que vestimos ao alimento e medicamento que ingerimos, de veículos

a objetos e ferramentas, praticamente tudo relacionado ao ambiente que abriga a atividade humana resulta do processo industrial e suas linhas de produção. De objetos acabados a componentes de produtos efêmeros ou duráveis a indústria está sempre presente no cotidiano da sociedade contemporânea. O presente Trabalho Final de Graduação (TFG) aborda esta questão considerando os processos de fabricação de elementos e sistemas construtivos industriais e sua aplicação no projeto arquitetônico de edificações de múltiplos pavimentos a partir de um estudo que reúne subsídios para seu emprego em uma realidade específica: a construção da habitação de interesse social.

1.1

Problematização A construção da habitação em lugares de economia mais desenvolvida se dá

em grande parte por meios industriais. Há muitas décadas, países da Europa e da América do Norte empregam uma variedade de sistemas pré-fabricados para este tipo de construção, onde o aço, madeira, concreto e polímeros são constituintes de obras limpas, secas, rápidas e componíveis, montadas como o “brinquedo Lego” por uma mão de obra reduzida e especializada. No Brasil existem exemplos similares na construção civil, embora estes se mostrem mais fortemente direcionados para erguer outras tipologias de equipamentos como galpões industriais, shoppings, supermercados, entre outros. Quando o assunto é a moradia, o processo construtivo parece permanecer congelado em formato tradicional para o qual a indústria atua somente como fornecedora de itens que comumente não são componíveis. Cada um destes elementos quando aplicados em conjunto numa obra ocasiona ajustes, resultando em significativo desperdício de material. O tempo de execução desprendido é maior e a necessidade de mão de obra especializada é premente, uma contingência do próprio modelo, antítese do que fora descrito anteriormente. 5


O problema da moradia em solo brasileiro tem suas particularidades dada a desigualdade social e um expressivo déficit habitacional descrito em milhões de unidades. Para tanto, o governo investe em programas massivos de habitação que em grande parte reproduzem o método tradicional de construir, sendo alvo de questionamentos que vão desde falhas de planejamento até a qualidade dos equipamentos construídos.

1.2

Justificativa O Brasil precisa construir com rapidez e economia de recursos um número

extraordinário de habitações, constatação que coloca a construção industrializada como potencial aliado na dissolução do problema. Isto se dá em virtude das características intrínsecas deste sistema: quantidade e factibilidade. Estas podem ser traduzidas por uma produção elevada em número, de forma racional, técnica e economicamente possível.

“Já em 1924, quando diretor da Bauhaus, Gropius enunciou com precisão o programa de trabalho a ser desenvolvido: a redução no custo da construção de habitações é de importância decisiva para o orçamento nacional. As tentativas para reduzir os custos dos métodos convencionais de trabalho manual introduzindo técnicas mais rigorosas de organização, somente produziram pequenos progressos. O problema não foi encarado pelas suas raízes. O novo objetivo, por outro lado, seria a manufatura mediante métodos de produção em massa de habitações de estoque, que não mais seriam construídas no canteiro, mas produzidas em fábricas especiais na forma de partes ou unidades componentes prontas para montagem. As vantagens deste método de produção seriam proporcionalmente maiores na medida em que fosse possível montar no canteiro estes componentes pré-fabricados das habitações, tal como se montam as máquinas.” (BRUNA, 1976, p. 61).

Portanto, o presente trabalho expõe proposta para construção de habitações a partir da integração de processos construtivos industrializados. Esta incorpora seus benefícios permitindo a construção de edificações de forma veloz, econômica, com menor impacto ambiental, e com adicional de promover a especialização da construção civil e o desenvolvimento de tecnologias para o mercado construtivo.

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1.3

Objetivos

1.3.1 Objetivo geral O presente trabalho tem como objetivo realizar um projeto arquitetônico de uma edificação multifamiliar que consiste no Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Esta tipologia foi escolhida por responder a necessidade de adensamento e por configurar-se como verificação às possibilidades do processo industrial de construção em área escolhida na cidade de Fortaleza-CE.

1.3.2 Objetivos específicos Além do objetivo geral, o trabalho também tem como objetivos específicos: • Expor um breve histórico da industrialização da construção no Brasil e no mundo; • Distinguir pré-fabricação e industrialização; • Explicar o conceito de Coordenação Modular; • Descrever os sistemas disponíveis atualmente; • Elencar exemplos para compor um cenário com algumas tipologias de habitação industrializada disponíveis; • Realizar estudos de casos de projetos de referência.

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2 2.1

REFERENCIAL TEÓRICO Industrialização, arquitetura e construção: um breve histórico

Figura 1 – Ilustração de Gustave Doré - Ludgate Hill—A Block in the Street Fonte: London and Literature in the Nineteenth Century. A Revolução Industrial caracterizou-se como um período de acentuado progresso técnico e científico, e por gerar no ocidente grandes mudanças sociais e econômicas. A primeira Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra e impôs à cidade de Londres um crescimento populacional nunca registrado na história das aglomerações humanas. Os principais agentes desta transformação foram a conversão da população agrária em força de trabalho e a redução do coeficiente de mortalidade. O êxodo se dava pela sedução que a cidade e suas oportunidades ofereciam; o número inédito de habitantes era reforçado pelas melhorias em curso na rotina do citadino que em meados do século XVIII atingiam desde a higiene pessoal a organização dos hospitais.

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"Alguns dos melhoramentos higiênicos dependem da indústria; por exemplo, a melhoria na alimentação é devida aos progressos no cultivo e no transporte, e a limpeza pessoal é favorecida pela maior quantidade de sabão e roupas íntimas de algodão a preço razoável; as moradias tornam-se mais higiênicas graças à substituição da madeira e da palha por materiais mais duráveis, e ainda mais pela separação entre a casa e a oficina; as redes de esgotos e de águas mais eficientes tornam-se possíveis pelo progresso da técnica hidráulica, etc. As causas decisivas, porém, são provavelmente os progressos da Medicina, que produzem efeitos também nos países europeus não industrializados onde, de fato, a população aumenta no mesmo período através do mesmo mecanismo" (BENÉVOLO, 1974, p. 22) A sociedade antes baseada na agricultura torna-se urbana e experimenta mudanças que darão feição ao mundo que conhecemos hoje, um mundo conformado pelo aumento da mecanização e voltado para a produção industrial a serviço de uma elevada concentração urbana de habitantes. É o princípio do mundo moderno, o início de um ciclo de supressão das necessidades de uma população em franco crescimento através da produção em grande escala dos mais variados gêneros de produtos. Esta sucessão de avanços em diversos campos do conhecimento contagia as pessoas da época e não tarda a chegar ao universo da construção que ensaiava novos usos para materiais que já eram velhos conhecidos como o vidro, o ferro e o concreto. Graças aos avanços nos processos de produção, estes materiais até então produzidos de forma rudimentar e empregados como complemento das técnicas tradicionais, paulatinamente assumiriam um novo papel no que viria a ser uma emergente indústria da construção. Neste período arquitetos e engenheiros lançam-se ao desconhecido e começam a experimentar, sobretudo o ferro fundido como elemento portante nas edificações, muito antes do conhecimento preciso sobre a resistência destes materiais aos esforços solicitantes. Segundo Addis (2009), o cientista inglês Christopher Wren empregou o ferro fundido ao erguer a balaustrada ao redor da Saint Paul’s Cathedral, em 1710, utilizando correntes de ferro forjado na cúpula, naquele que foi considerado o primeiro uso deste material na história da arquitetura. Wren também utilizou tirantes retos de ferro inclinados para dentro e engastados em paredes de alvenaria para sustentar as estantes da Biblioteca do Trinity College (1676-84). Acredita-se também que em 1692 ele tenha sido o primeiro projetista de edificações a utilizar colunas de ferro ao aumentar a capacidade da Câmara dos Comuns e utilizar em cada entrada da câmara pilares e capitéis de ferro. 9


Figura 2 - Corte da cúpula na Saint Paul’s Cathedral, em Londres, mostrando a corrente invertida. Fonte: Addis, 2009, p. 207.

Figura 3 – Trinity College Library, tesouras e cintas de ferro utilizadas nas tesouras do telhado para transferência de cargas de tração. Fonte: Addis, 2009, p. 199.

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Figura 4 – Trinity College Library, tesouras e cintas de ferro utilizadas nas tesouras do telhado para transferência de cargas de tração. Fonte: Addis, 2009, p. 200.

Figura 5 – Trinity College Library, corte mostrando como Christopher Wren usou os tirantes de ferro. Fonte: Addis, 2009, p. 202.

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Figura 6 – Câmara dos Comuns, desenho da coluna de ferro forjado e Capela do Colegiado de Saint Stephen (o plenário da Câmara dos Comuns). Fonte: Addis, 2009, p. 203.

De acordo com Addis (2009), o monastério cisterciense em Alcobaça, Portugal, apresenta o mais antigo uso do ferro fundido e forjado, nesta mesma ordem, para pilares e vigas, que dataria do ano de 1752. Estes elementos sustentam uma imensa cobertura sobre a lareira da cozinha. O autor também destaca o primeiro uso deste material em Londres com os pilares da livraria Temple of the Muses inaugurada em 1794.

Figura 7 – Monastério Cisterciense em Alcobaça, perto de Lisboa, Portugal Fonte: Addis, 2009, p. 246. 12


Figura 8 – Livraria Temple of The Muses. Fonte: Addis, 2009, p. 248. Os armazéns que recebiam a indústria da tecelagem com seu pesado maquinário estão entre os primeiros equipamentos a substituir a antiga estrutura de madeira por pilares e vigas de ferro que, mais delgados, suportavam eficientemente as cargas atuantes, eram resistentes ao fogo e aproveitavam melhor o espaço.

Figura 9 – North Mill, perto de Derby, Inglaterra, 1804-04. Seções mostrando a localização da roda d'agua e das máquinas da fábrica. Fonte: Addis, 2009, p. 277.

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Neste período as intervenções alcançam novas dimensões e complexidade. As estradas agora são maiores, os canais mais largos e profundos, surgem os programas dos edifícios públicos e mais habitações são solicitadas.

Num primeiro momento a história da arquitetura moderna confunde-se com a história da industrialização e mais precisamente com a história do progresso tecnológico. Foram as novas exigências por melhores transportes, pontes e canais, por edifícios industriais maiores e mais resistentes, por edifícios não combustíveis, por edifícios públicos, como as estações da estrada de ferro, portos e armazéns e os edifícios para as exposições universais que caracterizaram o fim do século XIX, a solicitar novos materiais como o ferro fundido e o vidro, e a dar forma a uma nova linguagem que, hoje reconhecemos, estão na origem da arquitetura moderna (BRUNA, 1976, p. 32)

Figura 10 – A estrada de ferro Londres-Birmingham, em construção em 1836. Fonte: Benévolo, 2005, p. 553. Segundo Bruna (1976), apesar do uso do ferro fundido, a técnica de construção não sofrera mudanças substanciais, havendo apenas uma simples substituição de materiais, que neste caso eram mais leves e resistentes, permitindo uma rápida montagem das peças que já chegavam prontas no canteiro. Cita como destaques os seguintes exemplos: a primeira ponte de ferro em Coaldbrookdale (33 metros, 378 toneladas, Wilkson e T.F. Pritchard, 1777); a ponte de Sunderland (70 metros, 14


Rowland Burdon, 1976) e a ponte em Buildwas (39 metros, 173 toneladas, Telford, 1976). Em Paris, cita a ponte des Arts (Cessart e Dillon, 1801 e 1803) e a ponte do Carrousel (A. R. Polonceau, 1833).

Figura 11 – Desenho da ponte sobre o Severn em Coalbrookdale. Fonte: Benévolo1974, p. 46.

Figura 12 – A ponte de Coalbrookdale. Fonte: Benévolo1974, p. 47.

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Figura 13 – A ponte sobre o Wear em Sunderland. Fonte: Benévolo1974, p. 46.

Figura 14 - Ponte des Arts em Paris. Fonte: Benévolo1974, p. 50.

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Seguindo a avalanche de progressos técnicos a produção do vidro também progredia tornando-se um processo industrial e fazendo do vidro um material mais acessível principalmente pela consequente amortização dos preços em decorrência da grande procura. Agora ele era frequentemente aplicado em lanternins, aberturas zenitais e estufas. Contudo, foram as grandes coberturas para as estradas de ferro e as exposições industriais que mostraram tanto o ferro como o vidro em todo o seu potencial. Os grandes vãos vencidos pelas estruturas metálicas, mais leves, tiravam partido da proteção e transparência do vidro que protegia das intempéries ao mesmo tempo que permitia a entrada de luz natural. Segundo Bruna (1976), dois projetos para estações a King’s Cross de Lewis Cubbit em 1850 e a Paddington Station de Brunel e M. D. Wyatt, (1852-54) apresentaram um grau de desenvolvimento que as tornou protótipos de estruturas similares espalhadas por todo o mundo.

Figura 15 - King’s Cross. Fonte: London Reconnections.

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Figura 16 - Paddington Station. Fonte: Design Museum.

Figura 17 - Paddington Station. Fonte: Design Museum. No século XIX estruturas em ferro fundido que já substituíam os materiais convencionais e venciam vãos consideráveis passaram também a ornamentar as construções. Era comum encontrar gradis, peitoris, escadas metálicas, divisões e outros elementos decorativos em jardins, praças e mercados. Tamanha oferta de elementos de mobiliário urbano a equipamentos inteiros era distribuída em catálogo por todo o mundo, transportados em navios ou até onde os trilhos da estrada de ferro 18


pudessem alcançar. As distâncias trilhadas e vencidas por estas novas máquinas explicam a sua importância para a distribuição e presença destes equipamentos e componentes pré-fabricados por toda a Europa e boa parte do mundo.

Exemplos interessantes da importância que esses progressos representaram, podem ser encontrados desde 1840, ou mesmo antes, quando faróis foram erguidos nos pátios das fundições inglesas, desmontados e embarcados para as Bermudas, Barbados ou outras possessões longínquas. Em 1843, a firma John Walker de Londres vendeu um palácio pré-fabricado para um rei africano, e, até o fim da década, passaram a ser muito frequentes as exportações de grandes armazéns e estações pré-fabricados. O Brasil também recebeu um bom número dessas estruturas metálicas pré-fabricadas que ainda hoje podem ser vistas em várias estações da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, antiga São Paulo Railway Company. Outro exemplo é a solução dada à Estação da Luz cujo detalhamento e execução rigorosa tem resistido muito bem ao tempo e à falta de manutenção. A importação era completa, pois dos porões dos navios saíam não somente as estruturas, mas também os vedos e coberturas, frequentemente também escadas, peitoris e demais peças de acabamento, e a montagem era feita conforme as instruções e desenhos que as acompanhavam. (BRUNA, 1976, p.39).

Figura 18 - Postes de iluminação em ferro fundido, catálogo Macfarlanes, 1893. Relógio e poste de iluminação no Ver-o-Peso, Belém do Pará, 1981. Fonte: Silva, 1987, p. 106.

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Figura 19 - Farol em Salinópolis, Pará. Fonte: Silva, 1987, p. 106.

Figura 20 - Arcos que suportam a cobertura da plataforma de embarque da Estação da Luz e montagem da cobertura em 1899. Fonte: Silva, 1987, p. 124.

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Algumas exposições industriais já haviam ocorrido na França e em outros países, mas a primeira exposição industrial internacional realizada na Inglaterra em maio de 1851 se tornaria um marco para a pré-fabricação como método construtivo. O curto prazo de apenas nove meses para a execução, limite difícil de transpor com as técnicas convencionais, culminaria com a recusa em concurso patrocinado pela comissão organizadora do evento, de todos os projetos apresentados, levando ao mesmo destino até mesmo a alternativa capitaneada pelo próprio comitê. Neste momento vem à tona o experiente fabricante de estufas Joseph Paxton e seu projeto publicado no Illustrated London News oferecido como variante ao projeto do comitê. Com algumas modificações e a parceria da firma Fox & Henderson a concorrência foi vencida e o equipamento executado dentro do orçamento e prazo.

Figura 21 - Palácio de Cristal, detalhe da ligação entre coluna e longarina, fixada com cunhas de ferro fundido e carvalho. Durante a construção a estrutura manteve-se estável graças a suas ligações rígidas. Fonte: Addis, 2009, p. 358. Segundo Bruna (1976), o sucesso do Palácio de Cristal se deve ao rigoroso detalhamento dos elementos da construção, do método de produção, do sistema de montagem, dos tempos de construção e rigoroso controle de custos. E ressalta que a obra de Paxton, Fox e Henderson antecipa em cem anos a problemática que arquitetos e engenheiros do pós-guerra deveriam enfrentar com a industrialização da construção, indicando claramente a caminho a seguir. Numa só obra o uso de novos materiais aliada a simples repetição da técnica construtiva abre espaço para uma nova forma de construir.

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O Palácio de Cristal não merece destaque por algumas inovações isoladas, mas por unir uma série de ideias que se adequavam perfeitamente ao projeto em questão que incluía inovações criativas além da engenharia estrutural, permitindo que a edificação fosse construída de forma muito econômica e incrivelmente rápida – o prédio que cobria 70.000 m ² do Hyde Park saiu do papel em 30 de julho de 1850, e suas obras foram concluídas em apenas 27 semanas. Addis destaca como principais características do projeto: o uso rigoroso da modulação (com base em 8 pés, ou 2,43 metros) para desenvolver plantas baixas e elevações; o uso de ligações rígidas entre colunas e vigas para garantir a estabilidade, mediante um sistema de pórticos; o uso de cunhas para ajustar longarinas e colunas, em vez de parafusos e rebites; a estabilidade natural da malha estrutural durante a construção, eliminando a necessidade de andaimes; o uso de um sistema de pórticos que podia se desenvolver em duas direções (pórticos de ferro geralmente se estendiam em apenas uma direção); o uso do transepto para dar estabilidade lateral à “nave central”; o uso altamente visível do travamento diagonal (hoje conhecido como travamento em X), para dar estabilidade extra; a subestrutura bidirecional do piso da galeria, distribuindo as cargas uniformemente; a pré-montagem e rápida execução, sem auxílio de andaimes, do transepto abobadado; o uso de travamento horizontal na porção “plana” do telhado, para criar um caminho livre para a transferência de cargas que transmitiam o empuxo provocado pelos arcos de madeira e pelas cargas de vento ao piso; a dotação de contraventamento em X horizontal, para transferir esforços de vento das fachadas envidraçadas à estrutura principal e, através do contraventamento vertical, ao solo; o uso do ferro fundido para fabricar lotes de componentes idênticos, de forma rápida e barata; o uso generalizado de produção em massa, ou, no mínimo, em lote, tirou dos trabalhadores a constante necessidade de aprender novos detalhes e métodos de construção; o uso generalizado de componentes pequenos e leves (no máximo, uma tonelada) que podiam ser facilmente movidos com o auxílio de gruas; o uso de um piso de sarrafos no nível do chão para facilitar a limpeza (embora existissem máquinas de varrer, descobriu-se que “os vestidos do público feminino desempenhavam esse ofício de modo muito satisfatório”) (ADDIS, 2009, p. 359).

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Figura 22 - Palácio de Cristal, perspectiva explodida mostrando o sistema bidirecional de vigas treliça que sustentava os pisos da galeria. Fonte: Addis, 2009, p. 360.

Figura 23 - Palácio de Cristal, Diagrama de contraventamento em X horizontal que suportava as cargas de vento das fachadas das extremidades da nave principal e do transepto (direita); contraventamento diagonal horizontal nas galerias de cada lado do transepto, transferindo os esforços laterais da abóbada e as cargas de vento (esquerda). Fonte: Addis, 2009, p. 360. O Palácio foi desmontado e reconstruído em Sydenham em 1852, onde permaneceu até ser destruído por um incêndio em 1936. As construções em ferro 23


fundido pré-fabricadas seguiram seu curso espalhando-se pelo mundo. Casas e mesmo hospitais foram enviados aos Estados Unidos e Austrália para abrigar emigrantes e mineradores.

L. Simonnin descreve em seu livro O Grande Oeste dos Estados Unidos a construção da cidade de Cheyenne que que se tornará a capital do Wyoming. Em princípio de 1867 nada existia sobre o território que seria a cidade; em menos de três meses chegaram mais de três mil casas pré-fabricadas e frequentemente viam-se casas já montadas, sendo transportadas de um lugar para o outro sobre pesados veículos. Simultaneamente, às noções de industrialização parecem estar presentes também as noções de flexibilidade e mobilidade que a arquitetura atual persegue tenazmente. (BRUNA, p. 44)

Figura 24 - Quartéis e hospitais de campanha transportável Ducker. Fonte: Bender, 1976, p. 20.

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Figura 25 - Desenho isométrico expondo o sistema baloon frame. Fonte: Histarq.

Nos EUA o sistema “Baloon Frame”, inventando por George Washington Snow, empregava técnica construtiva baseada no uso de madeira em peças padronizadas e leves, fixadas por pregos que poderiam ser facilmente montadas por qualquer um com alguma habilidade. Este método versátil superou a forma tradicional de construção em madeira com postes e vigas de grande seção, que além de pesadas necessitavam de mão de obra especializada tornando-se a forma de construir casas naquele continente. O surto produtivo de industrialização da construção que espalhara pelo mundo uma nova tipologia em ferro e vidro sofreria um arrefecimento na segunda metade do século XIX e seria retomada apenas após a Segunda Grande Guerra. Segundo Bruna (1976), após tamanha aceitação, a pré-fabricação tem um período de abandono, ocasionada provavelmente pela guerra da Criméia que força a Inglaterra, grande exportador destas estruturas, a diminuir sua produção destinada à construção civil e converter sua indústria metalúrgica em principal fornecedor do Ministério da Guerra (War Office). Especificamente em solo britânico, a fase do ferro fundido teria sucumbido ao triunfo do Neogótico e do Ecletismo quando a arquitetura apresentaria um desenvolvimento mais estilístico do que técnico. 25


2.2

Indústria e arquitetura no século XX Os anos de guerra assolaram parte da Europa. Sua reconstrução e o déficit

habitacional intacto neste período precisavam ser enfrentados. Planos de reconstrução elaborados por governos são acionados em um cenário onde escassos recursos financeiros de matéria prima e mão de obra abrem caminho para uma retomada aos sistemas industriais de construção. A experiência acumulada nas décadas anteriores poderia agora ser posta em prática na produção em série de habitações. Alguns projetistas deste período mantinham relação estreita com a indústria sendo responsáveis por uma série de produtos desde mobiliário até automóveis. Sobre esta perspectiva é possível destacar o escritório de Peter Behrens, arquiteto e designer autor daquele que é considerado o primeiro projeto de identidade corporativa na história do design, desenvolvido para a empresa alemã AEG, para quem definiu equipamentos arquitetônicos, produtos, e um rígido controle de sua imagem. Por seu escritório passaram nomes como Walter Gropius, Mies Van de Rohe, Le Corbusier e Frank Lloyde Wrigth. Não por acaso, todos desenvolveram em suas carreiras trabalhos relacionados com a produção industrial. A Packaged House, projetada por Walter Gropius e Konrad Wachsmann, consistia de um sistema de painéis conectados por uma peça de metal em forma de cunha. Ela deveria ser produzida em série pela General Panel Corporation, mas alguns entraves financeiros e técnicos impediram que se torna-se realidade.

"No ano de 1910, em colaboração com o escritório Behrens, ele havia proposto um abrigo pré-moldado para ser produzido em massa pela empresa alemã Electric. E em 1931, Gropius desenvolve a ideia de uma habitação mínima que podia crescer pela adição de novos compontentes, constituídos basicamente por painéis de madeira autoportantes, revestidos internamente com placas de fibrocimento e externamente com chapas corrugadas de cobre. Mas foi na parceria com Konrad Waschsmann que, em 1942, Gropius concebeu uma das suas maiores contribuições, talvez a mais conhecida, de arquitetura pré-fabricada, a Packaged House, projetada para ser produzida em massa e vendida no mercado dos EUA como uma casa para tempos de pósguerra". (FONYAT, p.50)

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Figura 26 - Walter Gropius, acima a direita, acompanhando a montagem de uma unidade da Packaged House. Fonte: Harvard Art Museums.

Figura 27 - Perspectiva, Packaged House. Fonte: Jewish Currents.

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Figura 28 - Packaged House, impresso mostrando conexões e as peças de metal em forma de cunha. Fonte: Harvard Art Museums.

Figura 29 - Adler, projeto de Walter Gropius. Fonte: Revista Veneza.

A moradia era uma preocupação também para Richard Buckminster Fuller, que projetou em 1928 a Dymaxion House, um volume hexagonal erguido do solo por um pilar central e cabos de aço. Sua matéria principal seria o alumínio, resultando num 28


produto mais leve que os equipamentos similares tradicionais, tornando-a mais fácil de montar e transportar. Apenas dois protótipos seriam construídos apesar da procura por unidades. Fuller projetaria uma unidade pré-fabricada de banheiro para residências, uma unidade para o exército e a Wichita House, em alumínio, que fixada em rebites como um avião pesava apenas 6.000 kg e desmontada poderia ser transportada por um único caminhão.

"Em 1928, Fuller patenteou a Dymaxion House, que continha, entre outras coisas, um sistema de cabos estruturais.Mais tarde, em 1936, projetou uma unidade pré-fabricada de banheiro para residências e, em 1940, produziu uma unidade implantável para o exército. Com o final da guerra, em meados dos anos 1940, a indústria da aviação estava tendo dificuldades, e Fuller converteu algumas fábricas de aviões em instalações para produção de habitação(..) Foi aí que, em 1944, ele criou a Wichita House, fabricada como um avião em alumínio fixada com rebites, e utilizando princípios de incentivo do fluxo de ar ao redor e através da casa." (FONYAT, p.59)

Figura 30 - Dymaxion House. Fonte: Archdaily Brasil.

Figura 31 - Banheiros Dymaxion. Fonte: Archdaily Brasil. 29


Figura 32 - Unidades para o exĂŠrcito. Fonte: Design Museum.

Figura 33 - Wichita House. Fonte: Architectural Metabolism.

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Figura 34 - Wichita House. Fonte: Southern California Architectural History.

Figura 35 - Dymaxion Car, um veículo de três rodas de Buckminster Fuller. Fonte: Power Nilut. Eugéne Beaudoin e Marcel Lods aplicaram processos de industrialização em 1930 numa série de conjuntos habitacionais. O primeiro deles, a Cité du Champ des Oiseaux, consistia de equipamentos de quatro andares em estrutura metálica com vedação em concreto e lajes compostas por vigas de seção ‘U’ pré-fabricadas. O projeto seguinte, a Cité de la Muette em Drancy, subúrbio de Paris, empregou o mesmo sistema num equipamento formado por blocos de três andares somados a 31


cinco volumes de quinze pavimentos numa das obras sociais importantes daquele período (1933-1934). O grande gabarito permitiu a existência de áreas verdes para recreação e campos esportivos. O programa era completado por três escolas, uma Igreja, um centro comercial, um grupo de lojas e um bloco de serviços.

Figura 36 - Cité du Champ des Oiseaux. Fonte: Chahuts.

Figura 37 - Cité du Champ des Oiseaux. Fonte: 10 Historias Sobre Vivienda Colectiva, 2013, p. 17. 32


Figura 38 - La cité de la Muette. Fonte: Academic.

Figura 39 - La cité de la Muette. Fonte: Academic. 33


Jean Prouvé viveu o chão de fábrica antes do canteiro de obras. Metalúrgico francês que iniciou a carreira projetando móveis é responsável, em colaboração com alguns arquitetos, por equipamentos arquitetônicos industrializados em metais leves e de montagem precisa. Restam hoje alguns exemplares como o Mercado e Casa do Povo em Clichy, subúrbio de Paris e as casas experimentais da colônia de Meudon.

“Com Prouvé, todos os elementos, desde la teja hasta la alacena, del montante hasta El talle de instalación (cocina, baño, W.C.). pueden producirse em fábrica, listos para el montaje como los elementos de fachada, y ser simultáneamente activados estructural y funcionalmente. Como resultado de uma labor desarrollada durante decênios, que llevó a la reforma completa de todos estos elementos, Prouvé emprendió la Producción de tipos de casas prefabricadas (viviendas, escuelas, oficinas, cantinas, talleres, laboratórios, colonias de veraneo) entre las cuales merecen mención aparte lãs casas de cascarones (colonia de Meudon, 1949), la casa del abe Pierre, las células de habitación isotérmica del Sahara y lãs escuelas. (HATJE, p.270)

Figura 40 - Casas experimentais em Meudon. Implantação, entrada lateral e perspectiva. Fonte: página das disciplinas de projeto 7 e 8 da Escuela Técnica Superior de Arquitectura. Universidad de Sevilla na web. 34


Figura 41 - Casa do Povo em Clichy. Fonte: Ville-Clichy.

Figura 42 - MobiliĂĄrio projetado por Jean ProuvĂŠ. Fonte: Design Gallerist. 35


Le Corbusier, pseudônimo de Charles Édouard Jeanneret, falava da “máquina de morar” e trabalhou em vários projetos explorando a produção em série e os métodos industriais da época. As casas em série “Citrohan” foram seus primeiros estudos, seguidos pelo povoado de Pessac e as casas Loucher.

“Uma grande época começa. Um espírito novo existe. A indústria exuberante como um rio que rola para seu destino, nos traz os novos instrumentos adaptados a esta época nova animada de espírito novo. A lei de economia gere imperativamente nossos atos e pensamentos. O problema da casa é um problema de época. O equilíbrio das sociedades hoje depende dele. A arquitetura tem como primeiro dever, em uma época de renovação, operar a revisão dos valores, a revisão dos elementos constitutivos da casa. A série está baseada sobre a análise e a experimentação. A grande indústria deve se ocupar da construção e estabelecer em série os elementos da casa. É preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de residir em casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série. Se arrancarmos do coração e do espírito os conceitos imóveis da casa e se encararmos a questão, de um ponto de vista crítico e objetivo, chegaremos à casa-instrumento, casa em série, sadia (e moralmente também) e bela pela estética dos instrumentos de trabalho que acompanham nossa existência. Bela também com toda animação que o sentido artista pode conferir a estes órgãos estritos e puros. (CORBUSIER, p. 159)

Figura 43 - Casas Citrohan. Fonte: Vitruvius.

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Figura 44 - Pessac. Fonte: A Few Thoughts.

Figura 45 - Casas Loucher. Fonte: Fondation Le Corbusier.

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Figura 46 - Voiture Minimum, projeto automotivo, Le Corbusier. Fonte: Fondation Le Corbusie. O Sistema Clasp (Consortium of Local Authorities Special Programme) para fabricação de edifícios escolares, criado na Inglaterra nos anos de 1957, baseava-se no uso de estrutura metálica organizada numa malha modular utilizando elementos préfabricados.

Figura 47 – O sistema CLASP passou de uma estética definida na década de 1950 e 60 para um sistema que poderia incorporar qualquer tipo de estilo arquitetônico. Fonte: página Construction Manager na web.

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Figura 48 – Vista externa da escola erguida com o sistema CLASP. Fonte: página Internet Curtains na web. A Eames House, que era conhecida anteriormente como Case Study House No. 8, foi uma das muitas casas realizadas como parte do Case Study House Program que durou de meados do ano de 1940 até o início da década de 60. O programa promovido pela revista Arts and Architecture pretendia projetar casas que expressassem a vida do homem no mundo moderno e deveriam fazer uso de materiais e técnicas derivadas de experiências da Segunda Guerra. A primeira proposta para a casa dos Eames era conhecida pelo nome de Casa da Ponte, projeto de Charles Eams e Eero Saarinen, já com a intenção de utilizar materiais pré-fabricados. A falta de aço, consequência dos tempos de guerra, impediram sua construção. O período percorrido da data de sua publicação em 1945 até o ano de 1948, fez com que o casal, apaixonado por sua localização, resolvesse partir para uma solução diferente, integrando o equipamento a paisagem existente. O resultado, que existe até hoje, foi obtido em grande parte através do uso de elementos padronizados, de catálogo.

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Figura 49 – Implantação da casa da ponte (esquerda) e da Eams House (direita). Fonte: Eames Foundation.

Figura 50 –Eams House. Fonte: ArchDaily.

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Figura 51 – Protótipos de mobiliário realizados pelo casal Eams. Fonte: Eames Office. O Archigram, grupo formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb que leva o mesmo nome da revista inspirada na junção das palavras architecture e telegram surge ignorando a tradição e apresentando um caráter inovador que seria a sua marca. Eram midiáticos, utilizavam todos os recursos disponíveis para produção e divulgação de suas propostas, algo incomum para a época. Suas ideias ganhavam o mundo que admirava-se com o universo tecnológico, científico e futurista, bem de acordo com a sociedade que experimentava os primeiros passos da era espacial. O Archigram elaborou centenas de desenhos, cidades interconectadas por articulações metálicas, elementos que se alternavam conectados a estruturas fixas, unidades de informação para toda sorte de serviços. Projetos como Plug-in-City, Living Pod Projec, O Cushicle, Drive-in Housing, Walking City, Instant City, expunham casas que se transformam, unidades habitacionais transportáveis, moradias conectáveis a automóveis particulares, cidades 41


que se deslocam com pernas influenciando muitos arquitetos de sua geração. Embora não tenham sido executadas e ficado apenas no plano das ideias, seus conceitos apresentavam possibilidades exequíveis, de grande proximidade com a indústria.

Figura 52 – Walking City, 1964. Fonte: Design Museum.

Figura 53 – Seaside Bubbles, 1966 e revista Amazing Archigram, 1964. Fonte: Design Museum. O projeto Habitat 67 começa com o jovem Moshe Safdie de 23 anos, estagiário no escritório de Louis Kahn, com o convite de seu orientador para apresentar sua tese intitulada “A Case for City Living” como projeto para a Exposição Mundial de 1967. A 42


proposta é aceita e envolvia um programa complexo com centros de compras, escola e o número de 1000 unidades, mas recebe do governo sinal verde para executar apenas 158 unidades. Uma ideia ousada composta por módulos pré-fabricados empilhados em várias configurações e conectados por cabos de aço. Existem ruas pedonais e pontes, além de três núcleos para circulação vertical com elevadores. Os módulos de 90 toneladas eram pré-fabricados no local e depois da cura transportados para uma linha de montagem para receber sistemas elétricos, isolamento, janelas, cozinhas modulares e banheiros. Por fim os módulos são içados até sua posição final.

Figura 54 – Perspectiva, planta com algumas composições dos módulos e cortes. Fonte: ArchDaily. O diminuto número de unidades construídas acabou por tornar o processo caro, mas não impediu o Habitat 67 de conseguir o reconhecimento como uma nova tipologia de habitação.

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Figura 55 – Módulo erguido pelo guindaste e sobreposição de volumes do conceito inovador de apartamentos tratados como casas compondo um arranha céu. Fonte: ArchDaily. Os Metabolistas, grupo de arquitetos japoneses sobre a orientação de Kenzo Tange, utilizavam este nome como alusão ao processo biológico que ocorre com o corpo humano expressando a forma como eles pretendiam abordar os problemas urbanos de sua época, como o crescimento de suas cidades versus a irreversível falta de território, sempre fazendo uso de tecnologias recentes de construção. Assim como Safdie, os metabolistas propuseram sistemas modulares, mas o faziam conectando-o sempre a um núcleo. Suas soluções consistiam de módulos que poderiam ser adicionados a um núcleo central conforme a necessidade natural da população existente. Uma de suas principais referências é a Nakagin Capsule Tower, do arquiteto Kisho Kurokawa.

Figura 56 – Proposta original com duas torres que poderiam crescer organicamente a medida que fosse necessário, de acordo com os princípios metabolistas. Fonte: página Architectural Moleskine na web. 44


Figura 57 – Detalhe do sistema de fixação da capsula que deveria necessitar de apenas 4 pontos para fácil substituição a cada 25 anos. Fonte: Architectural Moleskine.

Figura 58 – A distribuição dos módulos ao redor do núcleo resulta numa soma e subtração de volumes como se estivessem em transformação análoga ao processo que dá nome ao grupo. Fonte: Architectural Moleskine.

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Figura 59 – Distribuição em seus 14 andares das 144 unidades construídas em aço leve e perspectiva isométrica de uma capsula de 25m x 4m x 25m. Fonte: Architectural Moleskine. No Brasil existe uma série de empresas desenvolvendo produtos para construção pré-fabricada através de processos e matéria prima distintos. Aço, madeira, concreto e até polímeros se tornam componentes para variadas situações na construção civil ou elementos para utilidade específica em determinado equipamento. É possível também ver a combinação entre materiais como aço e concreto, comumente empregado em obras de grande porte. A empresa Sudeste, de pré-fabricados de concreto, pode exemplificar o estágio em que esta indústria se encontra hoje em nosso país. Sua cartela de produtos conta com escadas, vigas retangulares, vigas “vaso", vigas ‘I', vigas terças, vigas calhas, pilares, blocos de fundação, vigas baldrames, parede maciça, parede dupla e painéis de concreto. Tudo produzido através de um sistema automatizado. As empresas deste setor oferecem distintas soluções para obras de menor complexidade de um ou mais pisos, até as que precisam lidar com grandes esforços ou vencer grandes vãos.

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Figura 60 – A linha de produção da sudeste. Fonte: Catálogo Técnico Sudeste.

Figura 61 – Ligações do sistema de parede dupla. Fonte: Catálogo Técnico Sudeste.

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Figura 62 – Parede dupla sendo alçada, uma escola de dois pavimentos e detalhe das peças de ligação no painel. Fonte: Catálogo Técnico Sudeste. João Figueiras Lima, o Lelé, arquiteto brasileiro recordista em obras realizadas, abordava em sua arquitetura as questões relacionadas ao clima e a pré-fabricação. Ainda no início da carreira fica a seu encargo a produção de elevado número de alojamentos para os operários envolvidos na construção de Brasília, o arquiteto põe em prática a ideia de racionalização da construção, única forma naquele momento de conseguir executar a tarefa. Este envolvimento inicial marcaria a carreira de Léle, logo ele estaria viajando pela Europa para conhecer os progressos da pré-fabricação com aqueles que investiam fortemente neste tipo de tecnologia, resultado da política de construção em massa do pós guerra. O retorno ao Brasil é a largada para um série de experiências com concreto pré-moldado, argamassa armada, ferro-cimento, tornandose equipamentos institucionais, hospitais, escolas, e uma série de produtos leves como escadarias drenantes e contenções de encosta. Por suas mãos pioneiras, o Brasil experimenta a pré-fabricação.

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Figura 63 – Sistema de contenção proposto por Lelé e Lina Bo Bardi para o centro histórico de Salvador. Fonte: Revista AU. O ponto alto de sua obra pode ser a criação do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), que já veio na sequência de outros acontecimentos frutíferos como a fábrica de Abadiânia, a Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC) e um grande número de realizações.

Surge assim o Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), uma fantástica fábrica de prédios composta por diversos núcleos de produção: metalurgia pesada (estruturas), argamassa armada, marcenaria (utilizando apenas aglomerados e compensados), injeção de plástico e fibra de vidro, dentre outros. Até mesmo os equipamentos especiais de uso hospitalar, como macas e camas, são produzidos no núcleo de metalurgia leve, com desenho exclusivo de Lelé, no intuito de integrar espaço construído, equipamentos e usuários. (Ekerman, Vitrúvius, 2005)

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Figura 64 – Imagens do CTRS. Acima a esquerda mezanino separado da produção por um vidro, ao lado no sentido horário, oficina de marcenaria, oficina de prémoldado, oficina de metalurgia pesada e oficina de metalurgia leve. Fonte: Revista AU.

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Figura 65 – Calota do volume do auditório no Sara-Rio (acima). Formas onduladas e espaços técnicos no Sara-Lago Norte (abaixo). Fonte: Revista AU.

Figura 66 – Assim como outros arquitetos envolvidos com a indústria, Lelé experimentou projetar noutra escala. A esquerda, acima, a premiada cama-maca, ao lado, mobiliário urbano em concreto e abaixo o trolley, transporte para pacientes da Rede Sarah. Fonte: Revista Au.

51


2.3

Industrialização difere de pré-fabricação É comum encontrar os termos arquitetura pré-fabricada ou construção pré-

fabricada, como menção a indústria, ao descrever todo e qualquer equipamento que faça uso de solução distinta do processo tradicional aplicando, em alguma medida, a operação de montagem de componentes previamente produzidos. Preceder a feitura de elementos que deverão ser depositados em seu local definitivo caracteriza uma pré-fabricação. Isto pode ser executado em ambientes específicos ou no próprio canteiro. Para que este produto seja considerado industrial ele precisa estar inserido numa lógica de produção seriada, caso contrário ele passa apenas a ser o esboço de uma etapa do processo industrial.

“A "pré-fabricação" dos elementos de uma construção constitui uma fase de "industrialização", uma vez que não está, como esta, associada aos conceitos de organização e de produção em série. Um número qualquer de unidades projetado e executado para um fim específico será simplesmente préfabricado e não deverá ser considerado como produção industrial”. (BRUNA. p. 19) A organização e mecanização dirigidas à produção em série conferem-lhe outra característica importante, sem a qual não seria possível chegar aos níveis de qualidade e quantidade exigidos. No entanto, não estando inserido numa lógica que vise a produção serial de bens, a presença de maquinário em si não descreve uma produção industrial.

No que se refere a noção de organização, aqui entendida como planejamento da produção, noção essencial a definição adotada, é preciso distinguir várias fases de atuação passando da pesquisa sobre o produto a ser fabricado para sua industrialização, controle, comercialização e distribuição. Cada uma destas fases não é um momento isolado no processo mas estritamente vinculado aos demais, razão pela qual a solução de um problema de concretagem de um painel, aparentemente específico do setor de produção, pode efetivamente envolver uma discussão de toda a equipe empenhada no desenvolvimento do projeto, fabricação e montagem. (BRUNA. p. 27) A produção em indústria pressupõe uma série de requisitos. A fase de projeto para o produto industrial costuma ser mais cautelosa, pois cada peça e encaixe precisam estar perfeitamente detalhados e seu funcionamento verificado. Esta fase difere em relação à forma tradicional de construção onde o projeto pode ser feito mais 52


rapidamente e muitas vezes sem pormenorizações. O tempo desprendido nesta etapa se justifica no momento em que a linha de montagem entra em ação, sem surpresas, sem interrupções. E finalmente o produto precisa chegar ao mercado. Por se tratar de um ambiente competitivo onde fatias de um universo restrito estão em disputa, vários parâmetros contribuem para o controle do resultado final. Índices pré-estabelecidos e normas vigentes asseguram a qualidade de insumos, sua manipulação, resistência aos esforços solicitantes, ação do fogo e da água, durabilidade, transporte, montagem, entre outros.

2.4

Sistemas Construtivos A classificação dos sistemas construtivos se dá através da relação de

compatibilização e montagem dos componentes que o constituem. Atualmente eles podem ser divididos em três classes: • Sistemas de Ciclo Fechado; • Sistemas de Ciclo Aberto e • Sistemas de Ciclo Flexibilizado Os Sistemas de Ciclo Fechado caracterizam-se por empregar todas as fases desde o projeto, fabricação, transporte e montagem sobre a responsabilidade de uma única fábrica ou grupo de empresas. Suas seções são produzidas para uma finalidade: a construção de uma edificação específica. A compatibilidade entre seus componentes e o alto grau de repetição de um mesmo modelo a fazem assemelhar-se com outros setores da cadeia produtiva industrial, como a produção automotiva.

Figura 67 – Micro Compact Home MCH, alojamento para estudantes O2, Alemanha. Fonte: Micro Compact Home. 53


Os Sistemas de Ciclo Aberto surgiram das propostas para habitação mínima no pós-guerra e aplicam o mesmo conceito de produção em massa a elementos que podem compor edificações e não a componentes destinados a uma única tipologia. Seus produtos consistem de partes capazes de conformar um diferente número de edificações. São destinados ao mercado e não ao autoconsumo, resultando em maior liberdade plástica para os projetistas que poderão combiná-las a fim de satisfazer a variadas formas e funções.

"W. Gropius ao tratar do problema da habitação industrializada esclarecia que "é um engano supor que a arquitetura será desprestigiada devido à industrialização da construção. Pelo contrário, a estandardização dos elementos construtivos exercerá um efeito benéfico ao conferir um caráter unificado às novas habitações e bairros. Não há motivo para temer uma monotonia semelhante à dos subúrbios industriais ingleses, à condição de cumprir o requisito básico de normalizar somente os elementos construtivos, variando o aspecto exterior dos edifícios armados com eles" (...) a solução prevista por W. Gropius de um "jogo de construtor em grande escala", composto por peças normalizadas de produção industrial, não limitaria a variedade das composições específicas e dos espaços resultantes, mas sim, dependendo do talento criador do arquiteto, permitiria criar novos ritmos e expressar o caráter individual ou nacional da arquitetura. (BRUNA, 1976, p. 25) O sucesso deste sistema que permite a montagem de peças oriundas de diversos fabricantes depende de um acordo dimensional que ficou conhecido como Coordenação Modular.

Figura 68 – Cellophane House, uma das cinco propostas selecionada pelo MAM, que na ocasião convidou arquitetos para refletir sobre o futuro da arquitetura pré-fabricada, em 2008. A estrutura de alumínio funciona como uma matriz e permite que os demais elementos possam ser obtidos por uma rede de fornecedores ilimitada. Fonte: Kierantimberlake. 54


O Sistema de Ciclo Flexibilizado, segundo Fonyat (2013), surge baseado na ideia do sistema Toyota de produzir o bem a partir do momento em que ele é demandado, atribuindo-lhe originalidade, identidade, e versatilidade por utilizar componentes fabricados sobre medida, fruto de um planejamento prévio. Proposta distinta da filosofia fordista de produção em grandes quantidades com o intuito de manter um estoque.

Figura 69 – BURST 008, é um equipamento arquitetônico baseado no sistema préfabricado de habitação que utiliza ferramentas de design digital sofisticados para criar uma solução altamente personalizável, simples de montar e ambientalmente consciente. É adaptável e sensível para várias locações, climas, e programas. Fonte: Gauthier Architects.

2.5

Coordenação Modular Para que os produtos gerados pela indústria e destinados a uma produção de

ciclo aberto consigam cumprir sua finalidade, e transitar por vários mercados, era preciso garantir entre eles um diálogo, um caráter de universalidade. Segundo Bregatto (2005), a coordenação modular em arquitetura pode ser definida como um método ou abordagem de projeto no qual os elementos construtivos 55


estão dimensionados a partir de uma unidade de medida comum que estabelece uma relação de dependência entre estes elementos e o produto final, o edifício. Esta condição fundamental de adaptação seria possível somente através de uma entidade comum, traduzido num valor comum: o módulo.

Historicamente, o uso de um módulo aparece na Arquitetura em uma interpretação clássica dos gregos, sob um caráter estético; dos romanos, sob um caráter estético-funcional; e dos japoneses, sob um caráter funcional (ROOSO apud Greven, 2007, p.15). Bregatto (2005) define a organização destes elementos/módulos dentro da construção em três períodos da história. O primeiro com a modulação compositiva, o segundo com a modulação de produção e concepção, e a terceira com a coordenação modular, definidas no quadro abaixo.

Figura 70 - Quadro mostrando os modos de produção na arquitetura em seus momentos distintos. Fonte: Bregatto, 2005, p. 212. No século XX a industrialização ganha fôlego com o pós guerra e a necessidade de reconstrução europeia. Muitos profissionais reagindo as profundas mudanças que ocorriam a sua volta, como a falta de matéria prima e mão de obra, trabalharam o tema da pré-fabricação da construção, nomes como Le Corbusier, Walter Gropius, Alfred Farwell Bemis, Ernst Neufert deram sua contribuição. Bemis foi 56


o primeiro a utilizar o módulo com a finalidade de empregá-lo à indústria moderna, com o seus estudos acerca de uma técnica construtiva que denominou de método modular cúbico. Neufert, ainda durante a Segunda Guerra inicia um estudo sistemático e completo sobre o assunto.

Na época, a Alemanha estava pressionada pelos graves problemas bélicos, e Neufert, antecipando os problemas futuros de reconstrução, concebeu e articulou no seu livro Bauordnungslehre, publicado em 1943, um sistema de coordenação octamétrica (100 cm/8), baseado no módulo de 12,5 cm. Neufert preocupou-se principalmente em conceber um sistema dimensional que não alterasse substancialmente as medidas dos tijolos tradicionais alemães (BOUWCENTRUM apud Greven, 2007, p.27).

Figura 71 – Le Modulor, Le Corbusier, 1953. Fonte: Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil, 2007, p. 28. Os estudos de Neufert resultaram na primeira norma alemã de coordenação modular a DIN 4172, em 1951. Rosso (1976) destaca que até 1965, 4.400.000 habitações foram construídas na Alemanha obedecendo ao sistema octamétrico, o equivalente a mais de 50% de todas as construções realizadas nesse período no país. A América do Norte tomava como módulo base a medida de 4 polegadas (10,06cm) 57


enquanto Bergvall e Dahlberg, na Suécia, sugeriam em seus estudos o uso do módulo de 10 cm.

Figura 72 – Dimensões modulares adotadas por diversos países, com respectivo ano. Fonte: Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil, 2007, p. 31. O que se seguiu foi um acordo dimensional estabelecendo o módulo de 10 cm como base. O Brasil foi um dos primeiros países a aprovar uma norma de coordenação modular, a NBR-25R, em 1950.

A adoção de um sistema de coordenação modular como fundamento para a normalização dos elementos de construção é uma condição essencial para a industrialização da produção. O objetivo deste sistema é o de organizar as dimensões das construções, de maneira a reduzir a variedade de tamanhos nos quais todos os componentes e equipamentos devam ser produzidos, e permitir seu uso no canteiro sem modificações, cortes ou retoques, tomando como referência a dimensão de base denominada módulo. (BRUNA, 1976, p. 63) 58


A coordenação modular objetiva a padronização dimensional, redução da variedade de tipos, produção seriada dos componentes, intercambialidade e a industrialização aberta. Sua aplicação promove a construção tipificada, reduz desperdício e favorece a exportações de produtos. Este último item forçou Alemanha e Inglaterra a modificar seus sistemas de medidas a fim de participar do comércio de produtos para construção civil então estabelecido na Europa. Resumidamente, a coordenação modular é o instrumento que permite a compatibilização de medidas na construção civil e a combinação de componentes das mais variadas origens com independência e flexibilidade.

2.6

Crítica ao modelo atual de construção de habitações A resposta ao déficit habitacional brasileiro vem colecionando críticas ao longo

dos anos. Os resultados obtidos são corriqueiramente criticados. Situações diversas são citadas, como a repetição de soluções padronizadas com emprego em regiões distintas desconsiderando as condicionantes de cada local, a monotonia de volumes e funções, muitas vezes expressa na multiplicação do mesmo tema e com reduzido aproveitamento do solo, configurando soluções massificadas e privadas de identidade.

"Os problemas técnicos e sociais relacionados a esse tipo de empreendimento são insistentemente apontados por aqueles que atuam na área de habitação e planejamento urbano. Entre as críticas, destacam-se aquelas relacionadas à precária inserção urbana dos conjuntos, à monotonia e má qualidade dos projetos urbanísticos e arquitetônicos, à má qualidade da construção e aos riscos de formação de guetos, socialmente excluídos do restante das cidades. O filme “Cidade de Deus” choca ao expor a realidade encontrada em um desses conjuntos habitacionais. As cenas iniciais do filme, que retratam cenas do cotidiano do local algumas décadas atrás, foram na realidade filmadas em um conjunto recentemente inaugurado. Ou seja, conjuntos habitacionais com as mesmas características seguem sendo produzidos." (FREITAS, 2004, p.15). O envio de comunidades inteiras para zonas periféricas com pouca ou nenhuma infraestrutura é outro processo comum, mesmo sabendo que este procedimento força o Estado a investir na implantação de serviços básicos e consequentemente a favorecer a especulação imobiliária que ocupa rapidamente os terrenos distribuídos entre o centro urbano e o conjunto habitacional futuramente ocupado. Nossas cidades parecem crescer ao sabor da especulação imobiliária e 59


outros interesses privados em detrimento do planejamento urbano e suas diretrizes de longo prazo. O assunto da realocação de comunidades carentes faz surgir a seguinte pergunta: por que não utilizar áreas que já possuem infraestrutura com possibilidade de verticalização e adensamento através de construções ligeiras? Todas as grandes cidades brasileiras poderiam experimentar em maior ou menor grau este tipo de resposta ao problema da escassez de moradia. Seria uma forma de amenizar uma situação que já é grave, através da uma solução próxima do ideal, oferecendo uma chance dentro do centro de oportunidades da cidade. As iniciativas governamentais não sinalizam para este caminho. Continuamos investindo em soluções massivas, horizontais, e cada vez mais distantes dos centros urbanos. E o fazemos a passos lentos revelando um outro problema: como conseguir suprir uma necessidade crescente que há quatro anos caminhava para o número de 7 milhões de unidades? Estes são dados da pesquisa de Déficit Habitacional Municipal no Brasil 2010, da Fundação João Pinheiro, em parceria com o Ministério das Cidades. Parte do problema poderia ser equacionado enfrentando o monofuncionalismo, a ausência de identidade, as implantações distantes dos centros urbanos, assim como a vagarosidade com que são construídas e entregues as novas moradias, muitas vezes incompletas, sem acabamento de piso e paredes. Abrir caminho para soluções diferentes, capazes de responder a estas questões, poderia ser a aposta da vez, dado seu caráter de urgência.

3

PROJETOS DE REFERÊNCIA Quatro projetos podem ser destacados. O primeiro, a habitação coletiva La

Canopée de autoria de Patrick Arotcharen e Carole Magot, realizado em Bayonne, França. O segundo, o Ginásio Poliesportivo Arena do Morro de autoria de Jacques Herzog, Pierre de Meuron, Ascan Mergenthaler (sócio encarregado pelo projeto) e Markus Widmer, realizado em Natal, Brasil. O terceiro, foi 2º Lugar do 6º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura – Conjunto Habitacional Jardim Novo Marilda, autoria dos alunos Marcelo Venzon, Guilherme Bravin, Livia Baldini e Maria Fernanda Basile, orientação do professor Mario Figueroa e co-orientação do professor Marcus Vinicius Damon, instituição de ensino: Escola da Cidade. O quarto, uma intervenção do escritório Boldarini Arquitetura resulta no conjunto habitacional Corruíras, nome de um pássaro que existia em grande 60


quantidade na região que contava com um bonito córrego, o Águas Espraiadas. Hoje é uma área tomada pela urbanização e ocupação informal.

3.1

La Canopée Unidades habitacionais implantadas em terreno irregular, com acesso por

passarelas no nível do primeiro andar. Segundo o autor, os acessos são espaços semi-privados servindo apenas duas unidades habitacionais no máximo e são grandes e abertas ao cenário natural, de modo que, para todas as unidades habitacionais é dado o mesmo tratamento, reduzindo assim a densidade visual global.

Figura 73 – Planta de situação das unidades habitacionais e vista externa do equipamento. Fonte: página ArchDaily na web. Segundo o arquiteto, desde o início, o projeto foi desenvolvido com o objetivo de utilizar a maior quantidade de elementos pré-fabricados quanto possível. As varandas suspensas são todas iguais para cada tipologia de habitação; cada unidade segue os mesmos padrões de grade 1.03m (incluindo os elementos estruturais, balaustres, revestimento externo, unidades envidraçadas e as telas de proteção solar entre outros).

61


Figura 74 – Imagens da circulação vertical, espaço entre os blocos e rua interna. Fonte: página ArchDaily na web. Estas unidades habitacionais chamam atenção pela preocupação com entorno, o modo de vida de seus habitantes e o emprego de diferentes materiais em sua composição, aço, concreto, madeira e vidro. Apesar do mesmo tratamento dado a superfície de cada unidade, sua orientação, o contraste de materiais e texturas conferem ao conjunto doses de experiências sensoriais que vão desde ambientes acolhedores a visadas distintas.

Figura 75 – A escolha dos materiais, texturas, a orientação e distribuição dos volumes integram o conjunto ao entorno ao mesmo tempo que criam zonas de interesse para o observador. Fonte: página ArchDaily na web.

62


3.2

Ginásio Poliesportivo Arena do Morro Localizado na cidade de Natal no Rio Grande do Norte, no bairro Mãe Luiza,

para a comunidade que leva seu nome, o equipamento é projeto assinado pelo escritório Herzog & de Meuron com apoio do escritório local Plantae.

Figura 76 – Vistas externas do equipamento e espaços sob a coberta. Fonte: página Revista Au na web. Distantes não apenas geograficamente, o escritório suíço entrou em contato com uma realidade que não faz parte de seu cotidiano, e o enfrentou aplicando o mesmo método de trabalho que lhes rendeu reconhecimento e grandes projetos ao redor do mundo. As características que levaram a escolha deste projeto como referência estão ligadas a abordagem do escritório que procurou entender as condições locais, sociais e bioclimáticas e empregou a feitura de mock ups afim de testar suas proposições. E conseguiram, ao propor um equipamento semi-aberto, tirando partido de um 63


equipamento existente e transformando-o numa coberta com aberturas regulares que facilitam a ventilação, mesmo princípio encontrado nos elementos pré-fabricados desenvolvidos pelo próprio escritório com uma empresa local.

Figura 77 – Elemento vazado pré-fabricado desenvolvido para obra. Fonte: Revista AU.

Figura 78 – Os arquitetos tiraram partido das condições locais de iluminação e ventilação. Fonte: Revista AAU.

64


3.3

2º Lugar do 6º Prêmio Nacional de Pré-Fabricados de Concreto para Estudantes de Arquitetura – Conjunto Habitacional Jardim Novo Marilda

Figura 79 – O campo de futebol de onde partiu a distribuição das unidades habitacionais. Fonte: Concurso de Projeto. Segundo o memorial descritivo, o projeto para o conjunto habitacional Jardim Novo Marilda consiste na reestruturação de uma área localizada na zona sul de São Paulo próxima à represa Billings, Grajaú, região que abriga territórios de ocupação formal e informal. As possibilidades do concreto armado pré-fabricado foram exploradas para desenvolver uma unidade habitacional que mescla qualidade arquitetônica e baixo custo de produção. Este sistema construtivo possibilita uma execução rápida pela sua facilidade de instalação e de baixo impacto para com o seu entorno. Outro fator importante é a baixa produção de entulho e o não desperdício de materiais, contribuindo para uma obra mais limpa e sustentável.

65


Figura 80 – Prancha exibindo a escolha de distribuição dos blocos com o intuito de preservar as relações sociais. Fonte: Concurso de Projeto. A escolha deste projeto se deu pela tentativa de seus autores em preservar as características do local, como tirar partido de um espaço livre utilizado como campo de futebol já utilizado pela comunidade, implantando as unidades ao redor dele. Propõe também melhorar a relação com um córrego existente, realocando os que residiam em sua margem e transformando esta área em um parque linear. A ideia de promover a integração entre ambiente público e privado, através de um núcleo comum de convivência, uma extensa praça interna rodeada por uma soma e subtração de volumes, reforça também a identidade do local. Por fim a demonstração das possibilidades que uma arquitetura industrializada tem a oferecer, com todos os seus componentes produzidos previamente. Neste caso predominantemente em concreto pela própria natureza do concurso.

66


Figura 81 – Prancha apresentado os componentes pré-fabricados empregados na unidade de habitação. Fonte: Concurso de Projeto.

3.4

Residencial Corruíras de Boldarine Arquitetura Projeto inserido numa operação urbana consorciada, atende comunidade

carente do bairro do Jabaquara em São Paulo. Localizado em terreno com elevado desnível o escritório propõe o uso de dois níveis térreos, de forma que os apartamentos da cota mais baixa possam ser acessados por até quatro pavimentos, a partir daí se chega ao outro térreo elevado que tem acesso pela rua de cota mais alta, daí para cima são mais quatros pavimentos. Desta forma foi resolvida a necessidade de implantação de elevadores, embora também exista uma área reservada para este fim, quando isto for financeiramente possível.

67


Figura 82 – Imagens demonstrando a diferença de cota do terreno. Fonte: ArchDaily. A implantação não abrigou áreas de lazer devido as condições desfavoráveis do terreno e porque a área já faz parte do futuro Parque Linear desenhado por Paulo Bastos que comportará todos estes equipamentos. A contrapartida foi a definição de uma salão de festas e uma sala de leitura.

Figura 83 – Sala de leitura servindo a seus especiais usuários. Fonte: ArchDaily.

Figura 84 – Circulação horizontal e seus gradis metálicos. Fonte: ArchDaily. 68


O projeto do Residencial Corruíras se destaca por tirar partido de uma série de situações problema encontrando soluções interessantes, como o uso de dois pavimentos térreos, a ideia de utilizar um pátio interno que lava, com a luz do sol, toda as fachadas numa determinada hora da manhã, o uso de elementos de conexão como rampas que passam a funcionar estruturalmente para conter parte do terreno, as escadas que possuem em sua parte inferior drenagem para as águas da chuva, o uso de venezianas que correm pelo lado de fora para controlar a área das aberturas, o que economizou em um dos itens mais custosos, o aproveitamento racional de uma planta mínima, os elementos vazados de concreto protegendo as circulações e os elementos metálicos das passarelas, com gradis de chapa perfurada pintados de amarelo, que junto com as paredes na circulação vertical dão um colorido e leveza importantes para um equipamento tão volumoso.

Figura 85 – Os gradis metálicos amarelos e o vermelho da circulação vertical. Fonte: ArchDaily.

69


4

MÉTODO DE PESQUISA O presente trabalho foi elaborado a partir da execução de três etapas gerais. A

primeira consistiu na revisão da literatura acerca dos temas habitação de interesse social e construção industrializada a fim de dar suporte teórico para abordagem do tema na elaboração do projeto arquitetônico. Em seguida, na segunda etapa, estudos de caso de projetos habitacionais subsidiaram à elaboração conceitual do projeto, considerando informações acerca do programa arquitetônico, do uso e de variações formais. Finalmente, passou-se as fases do projeto arquitetônico, basicamente divididas na fase de pré-projeto, com a elaboração do programa, e nas fase de projeto, com o Estudo Preliminar e o Anteprojeto. Além dos estudo de projeto de referência, para a elaboração do programa de necessidades foi realizada uma pesquisa de campo junto aos moradores da Vila Vicentina, localizada onde situa-se a proposta do projeto do TFG, através da aplicação de um questionário e do levantamento fotográfico e dimensional das unidades. Esta etapa revelou um fator complicador: a inexistência de uma liderança comunitária. Esta desarticulação dos moradores da vila suprimiu a existência de um elemento de ligação entre o pesquisador e a comunidade. Mesmo assim foram efetuadas visitas em dias alternados durante três semanas. Apenas quatro entrevistas foram realizadas, sendo que duas delas foram remarcadas para outra data. Os moradores, embora permitissem a aproximação, apresentavam perceptível relutância, o que impossibilitou que o número de contatos fossem traduzidos em igual número de entrevistados e enterrou a ideia de registro fotográfico e dimensional das unidades. Mesmo com número reduzido de aplicações, o questionário apresentou um certo padrão nas respostas fornecendo dados importantes para a elaboração do programa. Podemos destacar o fato da vila ser voltada para uma população idosa que recebera a oportunidade de moradia através de uma taxa de aluguel em valores diminutos. O fato dos membros mais jovens herdarem de seus parentes a condição de continuar como locatários. A preponderância do número de idosos. A inatividade de uma capela que permanece fechada, sendo utilizada apenas para ocasiões fúnebres. A existência no passado de uma escola voltada para a educação de adultos, idealizada por um membro da ordem católica, irmã Maria Bandeira. E, por fim, a tipologia das unidades composta por um quarto, sala, cozinha, banheiro e lavanderia para as unidades menores, com o acréscimo de mais um quarto nas unidades maiores. Estas informações subsidiaram a elaboração do programa para o TFG e o direcionaram a uma proposta voltada para uso especialmente de pessoas idosas. 70


Em seguida foram desenvolvidas diversas propostas tanto de ocupação do terreno quanto formais, com diferentes tipologias e arranjos de espaços. Estes estudos foram também realizados com uso de maquete física e digital, ambas volumétricas. Com as análises sobre o Estudo Preliminar, evolui-se para o Anteprojeto, apresentado no final do presente trabalho, com todos os desenhos arquitetônicos elucidativos do projeto arquitetônico.

5 5.1

PROJETO ARQUITETÔNICO Terreno O antigo sítio Estância Castelo, tecido urbano hoje conhecido como Dionísio

Torres recebe este nome em referência ao farmacêutico Dionísio Torres que o adquiriu junto ao Barão de Aracati em 1904. Os 75 hectares componentes desta área, dividiam as duas regiões da cidade até então mais densamente ocupadas: os bairros da Aldeota e Messejana. O Historiador Miguel Nirez Azevedo (2014, informação verbal) confirma esta informação e ainda cita a existência de duas outras vilas, sendo uma destas nas proximidades da Rua João Cordeiro.

Figura 86 – Vista do antigo bairro da Estância. Fonte: Fortaleza em Fatos e Fotos. Em 1960, Dionísio Torres resolveu doar parte destas terras para famílias carentes oriundas do interior do Estado. O resultado fora a construção da Vila Estância Vicentina, que resiste até os dias de hoje, beneficiando famílias de baixa renda.

71


Figura 87 – Imagem da Vila Vicentina da Estância. Fonte: Flickr. A Vila Estância Vicentina ocupa terreno localizado em área de boa infraestrutura da cidade. Uma diferença de cota medida em 6m confere ao lote uma característica a ser explorada no projeto arquitetônico. Estando 35m acima do nível do mar em direção ao norte e 41m acima do nível do mar, em direção ao sul, encontra-se em ponto geograficamente elevado expondo condição favorável para captação dos ventos de sudoeste, predominantes na cidade de Fortaleza-CE. O entorno próximo, compreendido num raio de 170 metros, indica uma região formada majoritariamente por residências, serviço e comércio, fato que se repete nas quadras seguintes .

Figura 88 – Uso do solo na área de entorno à quadra. Fonte: Autor. 72


O primeiro equipamento de lazer identificado está situado num raio com cerca de 280m e o segundo com 400m. Há supermercados também a cerca de 400m. A Av. Antônio Sales e a Rua Padre Valdevino, fazem parte da rota de transporte público em direção a área central da cidade e terminais de transporte coletivo rodoviário. A implantação do lote, história, característica topográfica e o fato de ser uma área de ZEIS localizada em bairro com infraestrutura completa, dentro do centro de oportunidades da cidade, o destacam para o exercício de uma arquitetura voltada à habitação de interesse social ao mesmo tempo que atende aos anseios da crítica exercida na academia em relação ao modelo aplicado pelo governo, onde comunidades inteiras são depositadas em bairros distantes, monofuncionais, com problemas de infraestrutura básica e transporte.

5.2

Legislação urbana Os parâmetros empregados foram extraídos do Plano Diretor Participativo de

Fortaleza-CE e da Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS 7987/1996). O terreno está situado na quadra entre a Rua Nunes Valente (via local) a Oeste, Rua Dom Expedito Lopes (via local) ao Norte, Rua Tibúrcio Cavalcante (via local) a Leste e Av. Antônio Sales (via arterial I) ao Sul. Com área total de 6.763 m², está identificado no mapa 05 do Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza como Zona Especial de Interesse Social de Ocupação (ZEIS - 1). Segundo o PDP, as Zonas Especiais compreendem áreas do território que exigem tratamento especial na definição de parâmetros reguladores de usos e ocupação do solo, sobrepondo-se ao zoneamento.

Figura 89 – Destaque com a identificação do terreno no mapa número 05 das ZEIS. Fonte: PDDU, Fortaleza.

73


Para a LUOS, o terreno está compreendido em área definida como Macrozona Urbanizada, mais precisamente em uma de suas subdivisões, a microzona ZU 2 definida pelos bairros da Aldeota e Meireles. Os indicadores urbanos para esta zona são os seguintes: taxa de permeabilidade 20%; taxa de ocupação 60%; fração do lote 100 m²; índice de aproveitamento 2,5; altura máxima da edificação 72m; dimensões mínimas do lote, testada 5m, profundidade 25m, área 125m². Quanto a classificação das atividades por grupo e subgrupo, a LUOS descreve o anexo 6/tabela 6.1/subgrupo residencial, o terreno da seguinte forma: atividade conjunto habitacional de interesse social (grupo de prédios de apartamentos); classe R 9; porte – até 300 unidades; n° de vagas – 1 vaga por 3 unidades. Quanto à adequação ao sistema viário a LUOS define no anexo 8, Tabela 8.1, subgrupo residencial como: classe – R 9; uso – adequado; via arterial FT 5m; via local LT 3m, FD 3m. A norma estabelecida para este caso está no item 6/anexo 8.1 e descreve o seguinte: o acesso direto de automóvel, quando for exigida vaga interna para estacionamento, deverá estar de acordo com o projeto 2 (anexo 8.1.1) Para o Plano Diretor, trata-se de uma Zona de Ocupação Consolidada (ZOC). Seus parâmetros são: índice de aproveitamento básico 2,5; índice de aproveitamento máximo 2,5; índice de aproveitamento mínimo 0,2; taxa de permeabilidade 30%; taxa de ocupação 60%; taxa de ocupação do subsolo 60%; altura máxima da edificação 72m; área mínima do lote 125 m²; testada mínima do lote 5m; profundidade mínima do lote 25m. Para o Código de Obras e Posturas (Lei municipal n° 5530, de 17/dez/1982) no capítulo XXX/seção III residências multifamiliares/subseção II habitação de interesse social, as dimensões e áreas mínimas dos compartimentos, vãos destinados à iluminação, ventilação e insolação, obedecerão as Tabelas IV e II, quando for o caso, constantes do Anexo I da presente Lei.

5.3

O programa de necessidades O programa geral consiste em um conjunto de edificações de uso residencial,

unidades de comércio e serviço e equipamento institucional, apresentando as seguintes características: •

Tipologia 1: quarto, banheiro, sala, cozinha, e varanda;

Tipologia 2: 2 quartos, banheiro, sala, cozinha, serviço e varanda;

Tipologia 3: 3 quartos, 2 banheiros, sala, cozinha, serviço e varanda;

Tipologia 4: 3 quartos, banheiro, sala, cozinha, serviço e varanda. 74


O conjunto é organizado por blocos, com diferentes características: •

Bloco AB: apresenta por pavimento 4 unidades da tipologia 2, 2 unidades da tipologia 3, 2 unidades da tipologia 4 e elevador totalizando 32 unidades.

Bloco C (habitação + comércio e serviço): apresenta por pavimento 3 unidades da tipologia 1, 2 unidades da tipologia 2 e térreo para 8 lojas, totalizando 20 unidades habitacionais.

Bloco D (habitação + equipamento institucional): apresenta por pavimento 3 unidades da tipologia 1, 2 unidades da tipologia 2, e térreo com capela, sala multiuso, lavanderia e sala de funcionários, totalizando 20 unidades habitacionais.

Bloco EF: apresenta por pavimento 4 unidades da tipologia 2, 2 unidades da tipologia 3, 2 unidades da tipologia 4 e elevador totalizando 40 unidades.

A área do térreo possui usos diferenciados, sendo voltada especialmente para lazer/convivência, paisagismo e estacionamento de veículos, comportando:

5.4

Estacionamento com 24 vagas internas ao lote;

Praça com arquibancadas,

Playgrounds:

Equipamentos para exercícios:

Setor de mesa de jogos;

Tablado para atividades lúdicas ou dança e outras apresentações.

Partido arquitetônico O projeto proposto configura-se como um conjunto de blocos que formam

espaços livres lineares, como pátios, resultante de área da área construída, privativa. A proposta de intervenção pretende desfazer a implantação original, de ocupação periférica à quadra, visando criar aberturas maiores para a rua e acessos mais livres. Desfaz-se, assim, o encastelamento e propõe-se o convívio com a cidade através de uma área semipública. Para tanto, reorienta-se as linhas que conformavam um retângulo edificado para uma sequência de edifícios dispostos paralelamente. O edifício situado à Av. Antônio Sales encontra-se na cota mais alta e tem 4 pavimentos, já o Edifício situado à 75


Rua Dom Expedito Lopes está situado na cota mais baixa, possui 5 pavimentos e comunica-se por meio de passarelas com os dois edifícios de 4 pavimentos que estão situados ao centro do terreno. As passarelas foram usadas como artifício pra evitar o emprego de um número maior de elevadores. Essa implantação buscou garantir uma boa ventilação, aproveitando os ventos do quadrante Sudeste ao mesmo tempo que reduz o impacto da mudança de escala na relação entre o novo equipamento e a Av. Antônio Sales. Estes edifícios, erigidos por sistemas pré-fabricados, recebem tratamento de forma a diminuir o choque da adoção de uma tecnologia construtiva inovadora para o contexto no qual estão inseridos. Tal prerrogativa é o que justifica a ideia de recobrir ao máximo a estrutura de aço que comporta os blocos. Entre estas paralelas ocorrem todas as atividades de uma rua, através de espaços pedonais acessados por pórticos de entrada diametralmente opostos e localizados sob os andares superiores na exata intersecção dos blocos maiores. Estas entradas sinalizam o fluxo principal. O acesso que também se faz por todos os lados do terreno é sempre filtrado pela paginação de piso e áreas ajardinadas. O desenho dos trajetos a pé orientam o usuário aos fluxos principais ao mesmo tempo que os impulsiona para além das portas de entrada e janelas das unidades, localizadas no térreo. Este mesmo desenho, com o auxílio de forração e espécies arbustivas, cria área a não ser ultrapassada nas cercanias das unidades. Esta foi a solução escolhida em substituição ao uso de muros ou gradis. A sequência de blocos está distribuída sobre o terreno com diferença de cota de quatro metros. Para vencer este relevo, foi criado um nivelamento entre as unidades localizadas mais ao Norte e, como elemento de ligação com a cota elevada, surge uma praça acessada por uma grande escadaria, rampas e arquibancadas com assentos elevados em 40cm a partir do piso e acessíveis pelo patamar da escada. Ao longo da praça encontra-se o mobiliário urbano infantil, situado logo à frente de um dos lances de arquibancadas, que serviriam para receber os adultos enquanto as crianças usufruem do espaço destinado a elas. A outra extremidade está reservada aos equipamentos para ginástica de adultos e mesas de jogos, especialmente pensados para o predominante público idoso. O passeio tem seu trajeto protegido pela copa das árvores pré-existentes e das espécies a serem plantadas, preferencialmente locais e semidecíduas, capazes de promover uma luz equilibrada, filtrada. Os equipamentos arquitetônicos implantados sobre esta grande praça são compostos em maior número por unidades residenciais com tipologias que vão de um quitinete, passando por unidades de dois quartos, até duas variações de unidades para famílias maiores com 3 quartos, diferentes apenas no tipo de varanda que 76


apresentam. A opção por apartamentos com programas diferentes visa atender aos vários tipos de famílias existentes no local ao mesmo tempo que levam em conta os preceitos de desenho universal indispensáveis para a característica de seu públicoalvo, o que justificou o uso de dimensões acima do mínimo, normalmente utilizadas em projetos de HIS e o emprego das dimensões do banheiro adaptado em todas as unidades habitacionais, de forma a permitir que os mesmos possam ser adequados a este uso, quando necessário. Nas extremidades dos pórticos de entrada, no nível térreo, estão localizados pequenos depósitos. Existem vagas de estacionamento em número mínimo, localizadas entre o bloco Norte e os blocos menores ao centro. Neste estacionamento, o carro é convidado ao nível do pedestre e não o contrário, separados apenas pela paginação de piso diferenciado e de fradinhos. Sob os blocos menores, onde estão localizados os quitinetes, situam-se as atividades complementares ao complexo, todas voltadas para a grande praça. No primeiro bloco estão previstas áreas para comércio, com banheiros em cada uma. No segundo, encontram-se os equipamentos comunitários, uma nova capela, um espaço com sala multiuso, depósito e banheiro, uma sala para ginástica, lavanderia e um ambiente para funcionários. Os blocos maiores, unidos sobre os pórticos de acesso principal, resultam em unidades prolongadas ao longo do passeio. Para combater a monotonia da fachada, tira-se partido do uso de varandas que se alternam, num jogo de adição e subtração de blocos, quebrando qualquer ideia de ordem repetitiva, ao mesmo tempo que funcionam como elementos de proteção solar.

5.5

Memorial descritivo Estrutura Núcleo rígido em concreto construído com sistema de forma deslizante; Pilares de aço formados por dois perfis U enrijecidos de 200 mm por 100 mm; Vigas em aço W 310 x 38,7 série I, parafusados e soldados;

Vedação vertical Interna - Parede em sistema de gesso acartonado com isolamento acústico com 78 mm de espessura; Externa - Painéis arquitetônicos em concreto com espessura de 60 mm; 77


Vedação horizontal Painéis alveolares de concreto dimensão transversal de 1.20 m; sistema de laje zero.

Esquadrias janelas de alumínio de duas folhas; porta de correr com divisão central, venezianas e bandeira 4 folhas; Portas paraná de 80 cm x 210 cm com forramento e bandeira.

Praça Passeio em ladrilho hidráulico antiderrapante 20 cm x 20 cm

instalações hidráulicas Sistema flexível PEX

5.5.1 Conforto ambiental A orientação Leste-Oeste das edificações as protege expondo a incidência solar suas fachadas menores. O uso de cores claras, sobretudo o branco, complementa a estratégia de diminuição da absorção de calor no equipamento. Com o intuito de promover o isolamento térmico na laje da coberta é empregado o uso de chapa de EPS de 30 mm. A diferença de altura entre os blocos e seus pórticos de entrada e as circulações verticais vazadas são uma tentativa de aproveitar os ventos oriundos do quadrante leste. As aberturas das unidades tentam explorar a ventilação cruzada, em algumas tipologias há varandas nos dois sentidos, e o sistema de esquadrias apresenta portas com bandeirolas e venezianas. A quantidade de aberturas e suas dimensões permitem também o aproveitamento da luz natural.

5.5.2

O sistema construtivo Quando o assunto é a produção de Habitação de Interesse Social (HIS), o

sistema construtivo

industrial

é

sempre

um

candidato

a ser considerado. 78


Independentemente das nuances do caso abordado, ele sempre encontrará eco no universo das milhões de unidades do déficit habitacional. A rapidez de construção é um condicionante importante e para tanto foi considerado a junção de sistemas que permitam que a superestrutura seja conformada no menor tempo possível. Elementos portantes, fechamentos horizontais e verticais, instalações prediais, tudo precisa chegar e aguardar apenas o tempo necessário para ser transportado e depositado em seu lugar definitivo, reduzindo ao máximo a quantidade de material estacionado no canteiro e o nível de umidade na obra, relegando-o apenas a regularizações de piso e aplicações de revestimentos em áreas que não contem com sua aplicação prévia. Para esta proposta, o sistema estrutural escolhido foi o aço que tem a seu favor o fato de não gerar desperdício; ser 100% reciclável; vencer grandes vãos com elementos mais esbeltos, ocupando menor espaço; ser mais leve e permitir seu total desmonte ao final de sua vida útil, numa reutilização ou retorno a cadeia produtiva na fase de conformação em novas peças, reduzindo seu impacto na natureza. Para tanto serão utilizados na composição de pilares, perfis U enrijecidos, W 200 parafusados e soldados, e para as vigas perfis da série I W 300, também parafusados e soldados. Para o fechamento horizontal serão empregadas lajes alveolares em concreto, produto escolhido porque permite vencer grandes vãos sem a utilização de escoramento e oferece uma peça perfeitamente acabada. As escadas também são em concreto e pré-fabricadas. Para o fechamento vertical serão empregados na fachada painéis arquitetônicos de concreto, com as aberturas necessárias ajustadas ao projeto de arquitetura, flexibilidade que este produto proporciona. As varandas serão construídas em aço, fixadas a estrutura e revestidas por painéis de placa cimentícia. As passarelas que interligam alguns blocos serão construídas com tubos de aço de seção circular sem costura, com as dimensões entre 100mm e 150 mm, e o piso será conformado em seu banzo inferior por placas dobradas com concreto acima, fixados à malha tubular e à estrutura das edificações. Único elemento construtivo moldado in loco, o núcleo central é empregado para garantir resistência lateral a edificação. Este núcleo rígido será construído através do sistema de forma deslizante e conterá a circulação vertical com escadas, elevadores, e dará suporte e acesso aos reservatórios de água. Por se tratarem de sistemas construtivos distintos, o aço e o concreto préfabricado trabalham com modulações diferentes. Foi preciso pesar qual fator deveria ser seguido como módulo da estrutura. Ambos permitem ajustes, mas o aço não gera entulho e suas peças podem vir pré-dimensionadas de fábrica prontas para a montagem, ao passo que a laje alveolar permite o controle de sua dimensão 79


longitudinal na fabricação, mas ajustes transversais precisam ser feitos em forma de corte sobre a peça pronta, gerando desperdício. Tais intervenções devem ocorrer preferencialmente na indústria, para não comprometer a integridade da peça. A dimensão usual para laje alveolar é de 1,25 m, mas existem fabricantes que oferecem o produto com a dimensão de 1,20 m, medida ideal para dirimir a diferença dimensional. Para o fechamento vertical foi definido que a estrutura de aço seria recoberta, desta forma os painéis percorrem a extremidade da edificação apoiados por consoles fixados as vigas de aço dos pavimentos que eles revestem, com pelo menos quatro pontos de fixação. São necessários 10 tipos de painéis para revestir todo o complexo habitacional, sendo 5 para cada uma das duas tipologias. Estes elementos devem ser erguidos e depositados em seu local definitivo através de equipamentos de içamento vertical. Uma opção adequada para esta obra seria o uso de duas gruas sobre trilhos.

5.6

Croquis e estudos

Figura 90 – alguns dos primeiros desenhos.

80


Figura 91 – Uma solução com adição de blocos

Figura 92 – Esboços de um partido considerando a ideia de manter o pátio.

81


Figura 93 – Maquete física, estudo com o pátio.

Figura 94 – Maquete eletrônica, estudo para o partido adotado.

82


6

CONSIDERAÇÕES FINAIS O déficit habitacional não é uma questão exclusivamente brasileira e tampouco

ocorre apenas em países em desenvolvimento. Não é também um problema que possa ser analisado apenas com base na existência ou carência de unidades. Fazê-lo desta forma seria um exercício simplório. Combatê-lo apenas pelo viés numérico é insistir numa incorreção, pois trata-se de um tema com distintas variáveis que requer o trabalho conjunto de várias disciplinas. Este estudo não intenciona esgotar a equação, como também não tem a pretensão de solucionar o problema através da intervenção arquitetônica e urbanística pela adoção de determinada tecnologia ou modo de produção de construções, como ousaram os profissionais de um período não muito distante, quando realmente se acreditava na possibilidade da erradicação de uma infinidade de situações através do ato de projetar. Sabemos não ser possível contornar todas as questões do mundo através de nossas pranchetas e computadores, mas podemos sim intervir e melhorar determinados aspectos, sobretudo aqueles relacionados ao espaço de convívio, de trabalho e de moradia. O conteúdo estudado sugere que um aspecto do problema pode ser abordado e melhorado: o construtivo. É possível construir respeitando as condicionantes locais, com variedade, identidade, qualidade e a rapidez necessária. As práticas construtivas tradicionais e industriais apresentam aspectos positivos e negativos, facilidades e dificuldades, não havendo uma superioridade unilateral de uma sobre a outra. O que existem são situações a feição de um ou outro processo. A dificuldade em controlar a qualidade dos equipamentos entregues e fornecer uma resposta rápida à demanda, configura este como um problema ao feitio do processo industrial de construção. Assim, valoriza-se aqui as contribuições que o processo de construção industrializado pode trazer para a melhoria da qualidade das edificações, principalmente para habitações de interesse social no Brasil.

83


7

ANEXO

95 – Planta de locação.

84


96 – Planta de coberta.

97 – Plantas das unidades tipo. Acima unidades menores de uso misto, abaixo unidades maiores exclusivamente habitacionais. 85


98 – Planta das unidades tipo 1 e 2.

99 – Em destaque planta da unidade tipo 3.

86


100 – Em destaque plantas da unidade tipo 4, localizada sobre os pórticos de entrada.

101 – Cortes. Bloco D, unidades habitacionais sobre lojas. Bloco C, passarela e bloco EF. Corte do bloco AB.

87


102 – Corte transversal, em destaque relação bloco C, passarela e bloco EF.

103 – Cortes gerais.

88


104 – Vista bloco AB a partir da praça.

105 –Detalhe viga, laje e painel.

89


106 – Vistas do pilar em 'V' rotulado.

107 – Imagem ilustrativa. Perspectiva explodida exibindo a montagem do elementos com apoios, fechamentos horizontais e verticais.

90


108 – Componentes da superestrutura utilizados para os blocos AB e EF. Viga e pilares de aço, laje alveolar, painéis arquitetônicos e escada pré-fabricada em concreto.

109 – Componentes da superestrutura utilizados para os blocos C e D. Viga e pilares de aço, laje alveolar, painéis arquitetônicos e escada pré-fabricada em concreto.

91


110 – Maquete volumétrica, perspectiva do conjunto.

111 – Maquete volumétrica, perspectiva do conjunto. Bloco de quatro pavimentos voltado para a Av. Antonio Sales.

92


112 – Maquete volumétrica, perspectiva a partir da Rua Tibúrcio Cavalcante com bloco de 5 pavimentos voltado para a Rua Dom Expedito Lopes.

113 – Maquete volumétrica, vista a partir da Rua Tibúrcio Cavalcante.

93


114 – Maquete volumétrica, vista a partir da Rua Tibúrcio Cavalcante. Rampa, praça, arquibancadas, passarela e área de estacionamento.

115 – Maquete volumétrica, vista a partir da Rua Nunes Valente. Passarela e área de estacionamento.

94


116 – Maquete volumétrica, perspectiva da área de estacionamento. Em destaque varandas alternadas e guarda-corpos em tubos e chapa de aço expandida.

117 – Maquete volumétrica, vista a partir da circulação do bloco D.

95


118 – Maquete volumétrica, vista a partir da Rua Nunes Valente. Praça, passarela e área de estacionamento.

96


8

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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98


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