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introdução

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As cidades vêm passando por profundas transformações e muito se deve à globalização e à tecnologia. Essas mudanças se iniciaram na revolução industrial, quando máquinas surgiram para agilizar os trabalhos dos homens. Mas o maior impacto foi a capacidade de deslocamento, por meio de motores colocados em trens. Com horários agendados para viagens, o tempo ganhou mais importância, à tecnologia então intensificou a sensação de urgência (Gwercman , 2016).

“Uma coisa acelera a outra e nos vemos num círculo vicioso aparentemente inquebrável: a tecnologia gera demanda por velocidade, que empurra o desenvolvimento de novas tecnologias que precisam ser mais rápidas” (Gleick, 2000).

Os dias atuais são marcados pela a velocidade: informações em segundos, serviços de delivery em minutos, viagens em poucas horas. Gerando sensações de tenções e falta de tempo constante. E com toda a correria do dia-a-dia o lazer vai sendo deixado de lado. Esse trabalho pretende apresentar uma alternativa que se adeque ao mundo contemporâneo, mostrando as relações entre pessoas, cidades, arquitetura e teatralidade; em como tudo pode estar ligado e mesmo involuntariamente se influenciam. O teatro existe desde os tempos primitivos do homem 1, mas foi na Grécia que ele se consagrou até os dias atuais. Formou-se como um estilo de entretenimento para pessoas de classe superior alta, marcada pelas arquiteturas

1 Não existe relato da data de origem do teatro, mas sabe-se que surgiu em rituais primitivo do cotiado e da necessidade de dominação do ser humano. Algumas teorias situam datados de VI a.C. No Brasil o teatro começou no séc. XVI.

exuberantes e luxuosas. Derivado do teatro, temos o circo que possui a mesma essência, espectadores vão até a ele para assistir ao espetáculo, mas sua “arquitetura” é modesta e funcional, afinal ele está sempre se locomovendo. Há, também, os artistas autônomos que são aqueles que levam suas expressões às ruas e um novo meio de assistir um espetáculo surge. Não há mais separação entre espetáculo e espectador. Teatro ou cidade. Todos se tornam um só. Segundo os autores Sabaté, Frenchman e Schuster (2004), o termo ‘lugares de eventos’, nomeia os espaços públicos nos quais as características culturais da cidade se encontram.2 Essa relação, entre eventos e lugares, tem a ação de transformar a cidade, a chamada intervenção. E nesse trabalho a intervenção vem por meio do espetáculo, com intenção de preencher lugares e criar novos meios de se perceber o redor. É a arquitetura dentro da cidade, que permite a relação com as pessoas. E um novo meio de se aproveitar o lugar de espetáculos surge na cidade contemporânea.

“A cidade, portanto, não só deixa de ser cenário quando é praticada, mas, mais do que isso, ela ganha corpo, e tornando-se “outro” corpo. Dessa relação entre o corpo do cidadão e esse “outro corpo urbano” pode surgir uma outra forma de apreensão urbana, e, consequentemente, de reflexão e de intervenção na cidade contemporânea.” (Britto & Jacques, 2008)

No livro Walkscapes: O caminhar como prática estética por Francesco Careri (2002) diz que caminhar já é uma forma de intervenção urbana. Está presente desde os primeiros dias de vida e com o passar do tempo vai se tornando

2 As características da cidade de acordo com os autores são: identidade, cultura, história.

natural e automático. Quando se caminha pela cidade com olhos atentos, o que chamaríamos de percurso experimental, possibilidades se abrem. Descobrindo novos lugares, percebendo sons, sentindo cheiros, interagindo com pessoas, enfim, elas são muitas. Mas, há também aqueles desatentos, que chamaremos de percurso utilitário, que caminham de forma rítmica, transmitindo sensações de hostilidade, individualismo e com relações superficiais ao se redor, focando apenas no destino final. E como uma ação temporária pode contribuir para essa relação (cidade/pessoa)? A Dra. Adriana Sansão Fontes autora da tese Intervenções Temporárias, Marcas Permanentes (2011) defende que ações temporárias proporcionam amabilidade e marcas permanentes.

Em seu sentido genérico, amabilidade quer dizer ação ou qualidade de amável, o ato ou estado de comportamento que pressupõe a generosidade, o afeto ou a cortesia com o outro, evocando, portanto, a “proximidade” entre indivíduos. Traduzindo essa definição para o campo do urbanismo, a amabilidade pode ser considerada um atributo do espaço, manifestada através de conexões, encontros, intercâmbios, cumplicidades e interações entre pessoas e espaço, reagindo ao individualismo, que muitas vezes caracteriza as formas de convívio coletivo contemporâneas. (Fontes, 2011)

Funcionam como incentivador das relações de aproximação e intimidade, ou seja, o círculo do espaço pessoal de uma pessoa, enquanto cotidiano, é maior. Mas quando uma ação temporária acontece, esse círculo diminui e a interação entre as pessoas acontece, as relações já não são mais individualistas ou superficiais. E quando essa ação deixa o seu local temporário, são deixadas marcas permanentes, mesmo que não fisicamente.

A ação temporária aqui tratada é o espetáculo. Se a maneira de viver mudou, decorrente da vida contemporânea e os benefícios da ação temporária pode deixar marcas permanentes na vida das pessoas, por que não mudar a maneira de se entreter? Se antes íamos até o teatro e sentávamos em nossos lugares para assistir ao espetáculo, não seria este o momento de o teatro se tornar itinerante, recriando novos cenários na cidade, com novas possibilidades de assistir ao espetáculo? Na pesquisa teórica, fundamentar em estudos que tratam a relação das pessoas com a arquitetura e a cidade. Em como o corpo é fundamental para entender a cidade, como as pessoas percorrem por ela, quais os impactos de uma intervenção urbana e sobre a arquitetura itinerante. Estudando a fundo o conceito de alguns escritores: Fabiana Dultra Britto e Paola Berenstein Jacques que tratam sobre a corpografia; Adriana Sansão Fontes defendendo que ação temporária proporciona amabilidade entre as pessoas; Francesco Careri que incentiva a pratica do caminhar, que por si só já é uma intervenção urbana; Milton Santos explicando sobre a geografia dos espaços; Daniel Paz tratando sobre arquitetura efêmera e transitória; Ileana Diéguez mostrando que a teatrealidade é um campo expandido; Cristiano Cezarino Rodrigues contando sobre o Teatro de vertigem e mostrando a flexibilidade do espaço, que ora cumpre a função para qual foi projetada e ora se torna cenário de uma peça; Paulo Mendes da Rocha e Bia Lessa mostrando alternativas de se assistir um espetáculo, sem a tradicional separação entre palco e plateia; João Carlos Machado que apresenta alguns paradigmas para a cenografia contemporânea.

O objetivo central desse trabalho é mostrar como ação temporária pode contribuir para a sociedade, a partir de um objeto arquitetônico itinerante para espetáculos. Os objetivos específicos são: Investigar como a teatralidade ajuda na formação de pessoas; compreender seus aspectos funcionais; desenvolver métodos de montagem, desmontagem que permitam fácil locomoção pela a cidade e seja adaptável aos diferentes tipos de solos e climas; solucionar de maneira simplificada a iluminação e sonoplastia, aproveitando ao máximo da tecnologia disponível; repensar a separação entre palco e plateia, permitindo a integração entre pessoas, espetáculo, arquitetura e cidade. Ocupar os vazios urbanos da cidade, no qual Lygia Clark e Hélio chama de “vazios plenos”, plenos de descobertas e de possibilidades, espaços vagabundos que se fazem e desfazem. Com a implantação do objeto nesses espaços, resultará na criação de novoscenários nas cidades, que proporcionaram novas experencias e a chamada amabilidade entre as pessoas. Diante do contexto apresentado sobre a aceleração da vida contemporânea, influência das pessoas na arquitetura e urbanismo, e ação temporária como catalisador de transformação da cidade, esse trabalho levanta algumas discussões. A primeira delas é a relação entre arte e arquitetura. Segundo o artigo “Um teatro sem teatro: a teatralidade como campo expandido” em certo período, artistas deixaram quadros e pinturas que não eram mais suficientes para se expressarem. Os objetos tomaram espaços e produziam uma presença cênica, que demandava atenção, na qual à experiência do espectador era fundamental. Expande-se, assim, o campo da arte para arquitetura, design e ciência. Potencializam-se, assim as expressões dos

artistas a partir de projetos maiores, explorando o mundo e se comunicando com as pessoas. Outro debate é a inclusão das pessoas na teatralidade.13 Uma pesquisa feita em 2014 pelo SESC (G1, 2014), aponta que 6 em cada 10 brasileiros, nunca assistiram uma peça de teatro, espetáculo de dança ou concerto musical. No ano de 2015 o instituto de conteúdo audiovisual brasileiro (ICAB, 2016) realizou uma pesquisa nacional sobre Hábitos Culturais, os resultados para pessoas que frequentavam o teatro foram de 6%. Em 2016 anunciaram um aumento dessa prática para 17%. Apesar do número crescente de pessoas que praticam hábitos culturais, mais da metade dos brasileiros ainda não tiveram acesso a esse tipo de lazer. O que leva questionar quais os motivos levaram a esse resultado. Seria a falta de divulgação? A mobilidade para pessoas chagarem até o local? O direcionamento dessas artes apenas para uma classe social? Os motivos são variados. E como a arquitetura pode contribuir para potencializar as práticas desses hábitos? Os avanços tecnológicos possibilitaram a abrangência na arquitetura efêmera, o objeto aqui proposto não é efêmero em sua materialidade, mas na sua localização. Ou melhor dizendo, é um objeto arquitetônico itinerante. Essa arquitetura em movimento vem sendo explorada cada vez mais pelos arquitetos. Sua flexibilidade em se transformar e adaptar aos diversos usos, sendo montada, desmontada e montada novamente, explorando todos os limites da arquitetura. Tal arquitetura não se cumpre enquanto não for desmontada e montada novamente. (Paz, 2008) A criação de novos cenários urbanos nas cidades justifica o desenvolvimento deste objeto

1 3 Aquilo que tem caráter de grande espetáculo.

arquitetônico itinerante, trazendo a reflexão sobre: os vazios urbanos; as comunidades que não possui infraestruturas sanitárias básicas, muito menos equipamentos de lazer; as pequenas cidades do interior que não possuem equipamentos nessa escala. Enfim, tentar alcançar todas as pessoas em todos os lugares. Conectando a arte na arquitetura, que conecta a cidade, que conecta as pessoas. Através da arquitetura itinerante gerando simultaneidade, temporalidade e diversidade.

a r u tetiuqraFigura 1: Croqui esquemático representando a conexão entre arte, arquitetura, cidade e pessoas.

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