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da cena à cenograa urbana

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Em 1979 Aldo Rossi projetou o Teatro do Mundo para a Bienal de Veneza (Figura 5). O teatro possui uma qualidade única de se deslocar, não pertencendo a nenhum lugar, ao mesmo tempo em que pode se implantar temporariamente em qualquer lugar, recriando novos cenários (Figura 6).

Figura 5: Teatro Mundo.

Figura 6: Teatro se mistura com o entorno.

Rossi se inspirou nas formas simples de influência clássica (Figura 7 e Figura 8), se atentando ao tecido urbano e a história da cidade, combinando os dois conceitos da arquitetura como fato urbano e a da construção da analógica, surgindo o famoso ensaio L’Architettura dela Città (A arquitetura da cidade). O teatro foi construído com uma estrutura de aço tubular, revestido em madeira. O corpo principal é formado por um quadrado paralelepípedo. No topo dispara um tambor octogonal, cujo telhado é de zinco (Figura 9).

Figura 7: Simetria do teatro, influência clássica.

Figura 8: Relação entre planta e corte, influência clássica.

Figura 9: Geometria do teatro.

Figura 10: Configuração do teatro.

O espetáculo foi colocado no centro (vinho), o público está localizado nas laterais das duas arquibancadas e nas galerias localizados nos pisos superiores (amarelo), acessados por escadas laterais do paralelepípedo (vermelho). Ele pode acomodar 400 pessoas, das quais 250 podem sentar em volta do palco (Figura 10).

Figura 11: Teatro Mundo reconstruído em Gênova.

Após as apresentações da Bienal, em 1980, o teatro atravessou o mar Adriático e estabeleceu em Dubrovnik para o festival. E em 1981 o teatro foi demolido. Sendo reconstruído em 2004 como marco histórico em Gênova (Figura 11).

A atriz e diretora Bia Lessa introduziu o arquiteto Paulo Mendes da Rocha no mundo na cenografia em 1990, juntos projetaram quatro cenários. No qual um deles é a montagem de Grande Sertão: Veredas em 2017, que foi apresentado em São Paulo, no Sesc Consolação e Rio de Janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (Figura 12).

Figura 12: Cenário de Grande Sertão: Veredas.

O cenário do Sertão foi construído por uma estrutura metálica estéril, uma espécie de andaime (Figura 13) e o piso é um tablado preto, como parte da peça é espelhado por todo ambiente bonecos de feltro. Para assistir ao espetáculo há uma tênue separação entre palco e plateia, o público está dentro do espaço cênico, separado apenas por uma segunda gaiola, que incentiva a interação das pessoas com o espetáculo,

Figura 13: Módulos metálicos estruturam o cenário. precisando algumas vezes abaixar para desviar das travessas e assistir o que acontece (Figura 14). O interessante é que o espetáculo nunca será igual para ninguém, cada pessoa terá ângulos e interações diferentes e única com a peça. A proposta é a destruição de fronteiras, a eliminação dos limites entre começo e fim do espetáculo. Além de integrar as artes cênicas e plásticas, entre espaços cenográficos e os espaços público.

Figura 14: O cenário é formado por um sistema de grelhas.

Árbol del aire é um objeto de intervenção no espaço público urbano, com o intuito de reativar locais e proporcional espaço de qualidade para uso coletivo, projetado como parte do pavilhão de Madrid na Expo Shangai (2010), pelo escritório Ecossistema Urbano ( Figura 15) .

Figura 15: Árbol del aire.

O objeto é uma releitura do projeto Eco Boulevard em Vallecas (Figura 16), com o objetivo de reciclagem urbano, instaladas nas cidades como próteses temporárias de sistema de adaptação climático e atividades escolhidas pelos usuários relacionados a natureza social.

Figura 16: Eco Boulevard.

Figura 17: Estrutura em módulos metálicos. Sua estrutura são módulos metálicos (Figura 17), que possibilitam diversas configurações e fechamentos do objeto. Outro ponta a destacar, é sua elevação do chão, facilitando sua implantação em variados locais (Figura 18). Além de contar com sistemas de climatizações do ambiente, com ventiladores e controles de radiações solar.

Figura 18: O objeto é elevado do chão.

Desenvolvido pelo artista Anish Kapoor e o arquiteto Arata Isozaki, em 2013 no Japão, Ark Nova é um projeto itinerante destinado para apresentações de música, dança e arte em geral (Figura 19) . Seu nome “arca nova”, é uma referência a arca de Noé usada durante o Dilúvio para salvar sua família e os animais, ou seja, a Ark Nova veio para salvar a arte do terrível tsunami ocorrido em 2011, levando esperança as famílias que ainda sofriam as consequências do desastre natural.

Figura 19: Ark nova.

Figura20: Montagem da Ark nova. O projeto é feito de uma membrana de plástico altamente elástico, sua estrutura inflável permite a rápida montagem e desmontagem, duas horas para inflar o objeto (Figura 20 e Figura 21), transportada por um caminhão. Ela comportando cerca de 500 a 700 pessoas. Para preservar a memória do local devastado, foram usados os destroços das árvores do Templo Zuiganji para construir os assentos.

Figura 21: Montagem da Ark nova.

O grupo teatral La Fura dels Baus, fundado em Barcelona (1979), é um grupo de teatro urbano com técnicas incomuns e quebram as barreiras entre palco e plateia (Figura 22). Eles atuam no teatro digital, teatro de rua, performance de teatro contemporâneo, ópera e até eventos corporativos.

Figura 22: La Fura dels Baus com apresentação itinerante em barco, levando a teatralidade as pessoas.

O conceito do grupo é combinar o uso dos diversos recursos de palco, a fim de se aproximar do público e encorajá-lo a fazer parte, tornando ativas todas áreas tradicionalmente não acessíveis. Cada espetáculo é único, aproveitando-se da arquitetura encontrada nos espaços (Figura 23).

Figura 23: La fura dels Baus incentiva a interação com o público.

O Teatro da Vertigem é uma companhia de teatro brasileira, fundada em 1991. Produziram quatro montagens: Paraíso Perdido (1992), O Livro de Jó (1995), Apocalipse 1,11 (2000) e BR-3 (2005/2006). O que difere a companhia de teatro, é o fato de se apresentarem em espaços alternativos, buscando locais que dialogam com o eixo conceitual da proposta a ser apresentado.

A escrita cênica não é apenas um adjunto, um ponto de apoio, não se limita a um dado visual, é verbo, é conceito. (Rodrigues, 2008)

O grupo não se baseia em criar e recriar espaços para suas apresentações, mas em aproveitar os espaços já existentes, mantendo a essência do local ao mesmo tempo em que o transforma. A relação entre peça e o espaço, amplia e estabelece a relação entre espetáculo e espectador, tornando o público em um elemento ativo e presente. Na Trilogia Bíblica, os espaços cênicos utilizados para apresentações foram escolhidos como extensão da peça. Na montagem do Paraíso Perdido, o local é o templo. A história conta sobre Deus, a queda e a perda do paraíso, apontando para a própria redenção homem, e o templo sendo o que ele e toda a sua carga, expande e configura uma cena híbrida, que envolve o público, provocando múltiplas recepções e interpretações únicas. A narrativa entre peça e espaço cênico é forte, quebrando a barreira entre espetáculo e espetador, tornando-o um espaço a ser adentrado e experimentado (Figura 24).

Na peça O Livro de Jó, se passa em um hospital. A peça conta sobre a história de vida de Jó, homem temente a Deus, mas em certo momento começa a passar por tribulações, encontrando-se na mais pura miséria, buscando por explicações e nunca deixando sua fé de lado. Uma linha tênue a dor e a fé, o sagrado e o profano, entre o efêmero e o eterno. A consciência de entender o que a peça está dizendo e o acontecimento que se passam no hospital, local de esperança e findar dela, o espectador é levado a extrema experimentação (Figura 25).

Figura 24: Peça Paraíso Perdido no templo; Público, cenário e artista tornamse uma unidade.

E por fim, na peça Apocalipse 1,11, passada em um presidio, relata sobre os fins dos tempos, o grupo não traz uma interpretação do divino, mas traz o que há de mais real, sobre as consequências, as punições, a reflexão sobre o mal abrigado nos presídios e bons fora (?). O local escolhido, permite o deslocamento da peça e do público, experimentando as mais diversas sensações pelos labirintos frios e concretos do presidio (Figura 26).

Figura 25: Livro de Jó no hospital.

Figura 26: Apocalipse 1,11, o público participa ativamente do espetáculo e o cenário proporciona maior experimentação da cena.

A cenógrafa Es Devlin cria cenários sugestivos para shows, óperas, peças de teatro e desfiles de moda. No documentário Abstract: Art of Design (2017), ela fala sobre o processo da produção de cenário, e nesse trabalho uns dos objetivos é a criação de novos cenários nas cidades, ocupando os vazios com a teatralidade. Es Deylin explica quais são os cincos passos para esse processo, o primeiro é o espaço, assim que se tem a moldura a primeira coisa a se fazer é quebrar as suas barreiras. Explorando os limites da arquitetura, tornando o vazio do espaço ocupado e sugestivo para o uso das pessoas. O segundo passo é a iluminação, nesses espaços é possível encontrar ou barrar a luz, moldar os objetos permitindo que a luz entre e encontrando truques para controlar a luz, por exemplo um espelho, com ele é possível trazer luz, criar cenários com perspectivas, profundidade e ilusões de ótica. O terceiro passo é a escuridão, quando as luzes se apagam no começo de uma apresentação é um momento espacial, à ausência de cor/luz nos deixa mais atento a todo resto, nos enxergamos mais, é o ponto de entrada para uma experiencia. O quarto passo é a proporção, nos dias atuais as apresentações não se limitam apenas a quem está presente no espetáculo, há os celulares que estão gravando de todos os ângulos, provocando compreensões diferentes de uma mesma teatralidade. Que traz a reflexão sobre de como assistir a um evento, criando um vínculo entre o espectador e o espetáculo, guiando o olhar do público para novas experiências. O quinto e último passo é o tempo, o objeto só cumprirá a sua função com o tempo, ou seja, o que será projeto é o tempo. O tempo observado pelo público, que refletirá as luzes de

Figura 27: Cenário para opera Don Giovanni, por Es Deylin. maneiras diferentes, com efeitos sonoros diferentes, com diferentes pessoas dentro delas recitando palavras, por quanto tempo elas vão viver tal experiencia. Esse tempo não coincide com o tempo medido pelos relógios, também os sentimentos não tem tempo e são repetidos no palco todas as noites com uma pontualidade impressionante. Es Devlin projetou o cenário para ópera Don Giovanni (Figura 27), é possível ver a presença dos cincos passos citados acima. O espetáculo fala sobre pessoas que ficam presas em corredores escuros, o cenário precisava oferecer portas parar o decorrer da história, Es Deylin, projeta uma caixa giratória do tipo labirinto, com portas que corriam, deixando a caixa totalmente fechada ou aberta, criando arquitetura totalmente mutável.

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