2016
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EDIÇÃO 212
ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS
RENASCEU! Carnaval em BH cresceu e apareceu. Conheça os Blocos de Rua que ressuscitaram a folia na capital mineira.
CECÍLIA EMILIANA FOTOS:
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A história de Belo Horizonte com o Carnaval daria um bom roteiro de comédia romântica. Bem no estilo daqueles que têm como protagonista uma moça que, por ter amado demais no passado, começa o filme desiludida com os relacionamentos. Até que encontra um pretendente diferente ou amor antigo repaginado que desarma suas defesas, e devolve à personagem a crença no amor e na humanidade. Até 2008, o enredo estava no ponto em que BH ainda era a mocinha amarga, distante da folia com quem viveu tantos bons momentos do início do século XX ao fim da década de 1970, salpicados por corsos pela Avenida Afonso Pena, multidões fantasiadas, serpentina e lança-perfume. O carna-
val, por sua vez, embora estivesse levando um gelo, seguia tentando reconquistar a cidade. Dedicava-lhe desfiles de escola de samba na via 240, no bairro Aarão Reis, Zona Norte da Capital; saídas de blocos caricatos, entre outros galanteios. Nada disso, até então, havia se mostrado eficaz para chamar a atenção da moça e reatar o namoro, que foi esfriando até minguar. A partir de 2009, porém, aqueles que acompanham a trama assistem a uma virada no script. Naquele ano, a festa de Momo finalmente acertou no flerte. Nem desfile escola de samba; nem cortejo bloco caricato: BH gosta sim de tudo é que produzido nos barracões montados nas comunidades, mas só quando tem gente ocupando suas ruas, misturada em blocos coloridos e irreverentes. E foi assim, botando bloquinhos despretensiosos, sem parafernalha, com uma galera cheia de vontade de se divertir sem abadá, sem corda e sem compromisso que o Carnaval entrou de novo no coração da cidade. E, há 7 anos, vive com ela uma nova lua de mel.
Bloco Pena de Pavão de Krishna: ritmos e cores da cultura indiana invadem a capital mineira
Cada ano, mais cheia de paixão e firme, pelo visto. Se, durante algum tempo, Belo Horizonte era a cidade em que, dizia-se, era possível tirar um cochilo no meio da Afonso Pena durante a semana festiva de fevereiro, de tão vazia, hoje, na mesma data, quem não gosta aglomerações populares é melhor ficar longe dela. Segundo a empresa Brasileira de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) a expectativa é que 1,6 milhão de pessoas participem do evento, 42 mil vindas de outras cidades. O antropólogo Nian Pissolati, de 32 anos, segue de perto desde o início a nova fase da folia belo-horizontina, quando a algazarra era tímida, formada apenas por 3 blocos que, naquela época, ainda nem eram chamados assim: Cacete de Agulha, Approach e Peixoto, do qual é um dos fundadores. Tudo começou quando ele e a esposa participaram de algumas experiências de ocupação urbana da cidade, como o Praia da Estação, movimento que levou gente de roupa de banho, boias e tolhas para a Praça da Estação quando a prefeitura proibiu o uso do espaço pela população. “Uma característica muito legal dos blocos de BH, pelo menos daqueles que faço parte, é sua
No ano passado, o bloco Baianas Ozadas arrastou 150 mil pessoas no circuito Praça da Liberdade/Praça da Estação
Em sinal de protesto, a Praia da Estação foi a gota d’água para renascer o carnaval de BH
horizontalidade. Tudo é decidido com a participação de muita gente, hoje em dia tem vários tipos de blocos, mas os que eu faço parte, acho que são caracterizados por esses dois pontos: muito horizontais e tem um viés político forte. De reivindicar a cidade para o cidadão”, explica. “Um amor quentinho pra dividir os dias, uma bateria pronta pra tocar, a catuaba geladinha.” Eis o kit sobrevivência dos foliões belo-horizontinos que, há 7 anos, se juntam aos milhares nos bloquinhos que reascenderam a folia da Capital. A descrição precisa é do músico Rafa Braga, autor da canção Carna Belô. A música, que expressa a paixão do jovem de 20 anos pela festa de Momo, foi lançada no último sábado, no canal que o artista mantém no YouTube. O hino, que faz referência a vários blocos, foi gravado com a participação da cantora Júlia Rocha, dos músicos Di Souza (Então Brilha) e Peu Cardoso (Baianas Ozadas), Lucas Faria, Alcione Oliveira, Paulo Fróis, EgbertoBrant, Bruno Teixeira, Fabiano Nunes, Matheus Luna e Marina Meira. E o que começou com 3 grupinhos reunidos em torno de alguns músicos e instrumentos, atualmente é uma turma gigantesca dividida em mais de 200 blocos de rua coloridos e irreverentes. Conheça a história de alguns:
Azul é a cor mais quente RENAN DAMASCENO FOTOS:
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O Pena de Pavão de Krishna é o mais excêntrico e cativante bloco do carnaval de Belo Horizonte. É a integração do batuque do afoxé com a espiritualidade Hare Krishna, a perfeita mistura do profano e o sagrado, apesar de os membros desta sociedade religiosa não acreditarem nessa dicotomia. “Isso é uma criação do racionalismo ocidental. Desde 2013, os participantes do bloco Pena de Pavão de Krishna, pintados de azul, fazem o cortejo no segundo dia do Carnaval tocando canções no ritmo do afoxé. O bloco possui uma temática inspirada na cultura indiana e uma característica distinta é a entonação do mantra Om antes dos ensaios e do cortejo. Outro diferencial do bloco é o uso de violino como um dos principais instrumentos musicais. O nome surgiu em referência a parte da letra da música “Trilhos Urbanos”, de Caetano Veloso.
Domingo, 07/02 (Horário e local do cortejo serão avisados na véspera)
Purpurina de sobra
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DANIEL CAMARGOS FOTOS:
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O "Então, Brilha" surgiu de um grupo de amigos que foi para o carnaval do Rio de janeiro em 2010 com roupas brilhantes e estrela do Mário Bross na testa. No ano seguinte, eles organizaram o bloco em Belo Horizonte e desde então fazem o mesmo percurso. O lema do bloco é “Gente é para brilhar”, o hino do bloco é um dos mais conhecidos pelos foliões. No ano passado, em um misto de encantamento e alegria pelo carnaval de Belo Horizonte, o “Então, Brilha” arrastou na manhã de sábado, pela região boêmia do Centro, cerca de 20 mil pessoas – segundo a PM -, mas no coração de quem viveu a experiência parecia o mundo todo. Com o tema “Gente é para Brilhar”, todos, sem exceção, brilharam mesmo. A purpurina e as cores dourada e rosa só foram o pretexto para que a luz irradiasse.
Sábado, 06/02 – 9h Rua Guaicurus, 660 - Centro
‘Ozadia’ baiana FLÁVIA AYER FOTOS:
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O bloco das multidões do carnaval Belo Horizonte atraiu mais de 150 mil pessoas partindo da Praça da Liberdade, no ano passado. Fundado em 2012, conta com os foliões vestidos de branco e emana um poderoso axé "vintage". Este ano vai ser o quinto carnaval do bloco. Começaram com sete pessoas. E cresceu vertiginosamente nos últimos anos. Para quem não conhece, o bloco lembra as famosas baianas com suas roupas brancas e turbantes. A bateria, uma das maiores de todos os blocos que desfilam na cidade, possui 300 ritimistas, além de dois vocalistas, um guitarrista e um regente. Desde 2014, o grupo ainda conta a com a estrutura de um trio elétrico. O irreverente e ousado é que todos os instrumentistas, homens ou mulheres, desfilam usando saias.
Segunda-feira, 08/02 – 14h Praça da Liberdade
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Rock mutante DANIEL CAMARRGOS FOTOS:
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Chuta, chuta, chuta/Chuta a família mineira”. Quando os músicos da Alcova cantam o refrão do bloco - acompanhados em uníssono pelos libertinos da platéia - o carnaval da capital atinge seu grande momento. Desde 2010, quando foi criado um ateliê para artistas de diversas áreas, incluindo músicos, no Bairro Santa Tereza, o braço carnavalesco do coletivo é a catarse absoluta do carnaval belo-horizontino. O repertório tem muito rock, com clássicos e sucessos recentes repaginados pelo suingue da banda, mas não abandona a origem, pois contempla sucessos da Tropicália e Mutantes. Entre os integrantes do bloco estão músicos profissionais, com carreiras paralelas em outras bandas e discos gravados, como Thiakov e Paim, da banda Ram.
Domingo, 07/02 – 17h Avenida dos Andradas, Santa Efigênia
Jazz na folia
val da terça-feira gorda em New Orleans, nos EUA. Com uma banda formada por instru-
DANIEL CAMARGOS FOTOS:
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mentos de percussão e de sopro, os integrantes da agremiação tocam muito jazz durante as apresentações, sempre no últi-
Pode jazz no carnaval? Sim, respondem em uníssono os trombones, clarins e tubas do Bloco Magnólia, que desfilou pelas ruas do Bairro Santo André pela primeira vez no ano passado e repete a dose neste ano. São inspirados no Mardi Gras, o carna-
mo dia de folia. “Nossa ideia é recuperar esse ritmo dos anos 1930, bem dançante, característico de Nova Orleans. É totalmente inspirado no Mardi Gras, que é a terça-feira gorda do carnaval de lá”, explica Leonardo Brasilino, regente da banda.
Terça-feira,09/02 – 11h R. Magnólia, 1114 Caiçara
Na marra Documentário da diretora Dandara Andrade traz história política por trás da retomada do carnaval SHIRLEY PACELLI FOTOS: ALEXANDRE
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“O carnaval de Belo Horizonte ressurgiu. Ele nunca deixou de existir na verdade”. “Inicialmente foi uma coisa despretensiosa... Nessa coisa da ‘Praia’ de enfrentar a prefeitura de uma forma lúdica”. “O motivo foi muito político. Nessa contestação da proibição do uso do espaço público”. As falas, "anônimas", se complementam de tal maneira que formam uma única voz: a do carnaval de rua de BH. Com a delicadeza de não personificar um movimento que nasceu da coletividade, surge o documentário BH no ritmo da luta, lançado nesta semana na internet. Em 17 minutos de vídeo, a diretora Dandara Andrade, de 27 anos, explica como tudo come-
çou e que força levou à retomada da festa. “Foi um lance de ir e conhecer o significado daquele movimento com a câmera na mão”, revela Dandara. A escolha pela não identificação dos personagens gerou um grande desafio. Afinal, foi preciso escolher com cuidado os trechos dos depoimentos, de forma que a narrativa se tornasse coesa. O vídeo inteiro é coberto com cenas da folia. Foram dez blocos e ao menos doze entrevistados. O material bruto do filme atingiu 2TB. A ideia do projeto surgiu "meio de supetão" no início do ano passado, como conta Dandara. A produtora, hoje chamada de Gabiroba vídeo, queria mudar de estratégia, de nome, de área. Ela sugeriu a produção de um vídeo independente sobre o carnaval.
Aprovada a sugestão, a diretora e Mariana Fantini, produtora, tiveram apenas duas semanas para combinar tudo com os representantes dos blocos – afim de que a gravação não se tornasse algo invasivo. O foco, desde o início era retratar o lado político da festa. O doc traz desde a grandeza do desfile do Então, brilha!, que em um dia de céu azul levou milhares de pessoas à Guaicurus, até à resistência do Filhos de Tcha Tcha, que celebrou a luta pelo direito à moradia em sintonia com ocupações. Tem ainda Blocomum, do Espaço Comum Luiz Estrela, sob chuva, Tchanzinho Zona Norte, Pena de Pavão de Krishna, Mamá na Vaca, Bloco da Praia, Pula Catraca, Alcova Libertina, Tico Tico Serra Copo, Bloco do Chapolin e Juventude Bronzeada.
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