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Universidade Metodista de São Paulo
Conselho Diretor Luis Antonio Aparício Callaú (presidente), Esther Lopes (vice-presidente), bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa (bispo-assistente), Edesio de Oliveira Rocha (secretário), André Fernandes Ribeiro Maia, Graciela Duarte Rito Rodrigues Aço, Leila Machado Pereira, Marcio Miguel de Oliveira Arbex, Nelly Azevedo Matolla, Rosilene Gomes da Silva Rodrigues Reitor Davi Ferreira Barros Vice-Reitor Acadêmico Clovis Pinto de Castro Vice-Reitor Administrativo Marcio de Moraes Diretor da Faculdade de Comunicação Multimídia Sebastião Carlos Moraes Squirra Diretor da Faculdade de Publicidade, Propaganda e Turismo Paulo Rogério Tarsitano Diretora da Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas Maria Aparecida Ferrari Conselho de Política Editorial Adolpho Carlos Françoso Queiroz; Clovis Pinto de Castro (vice-presidente); Davi Ferreira Barros (presidente); Jaci Maraschin; José Marques de Melo; José Tolentino Rosa; Marco Antonio Scanavini; Marília Claret Geraes Duran, Peri Mesquida (representante externo); Tânia Elena Bonfim e Vera Maria Barros de Oliveira Comissão de livros Edna Maria Barian Perrotti; Sebastião Carlos Moraes Squirra; Vera Maria Barros de Oliveira (presidente) e Waverli Maia Matarazzo Neuberger Editora-executiva Léia Alves de Souza
cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional universidade metodista de são paulo
anuário unesco/metodista de comunicação regional
10 edição monográfica, comemorativa dos 10 anos da cátedra unesco/metodista de comunicação
comunicação no Brasil: as idéias pioneiras de luiz Beltrão
são Bernardo do campo, são paulo, Brasil, 2006
dados internacionais de catalogação na publicação (cip) (Biblioteca central da universidade metodista de são paulo) anuário unesco / metodista de comunicação regional / cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional, universidade metodista de são paulo. Vol. 1, n. 1 (set. 1997). são Bernardo do campo : universidade metodista de são paulo, 1997anual issn 1809-435X o issn, mudou, a partir de março de 2006 1. comunicação – anuários i. cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional ii. universidade metodista de são paulo. cdd 302.2
capa: cristiano Freitas diagramação: maria Zélia Firmino de sá permuta e atendimento à bibliotecas: noeme viana timbó revisão: damiana rosa de oliveira impressão e acabamento: gráfica e editora rudcolor rua do sacramento, 230, rudge ramos 09640-000 são Bernardo do campo, sp tel.: (11) 4366-5537 - Fax: 4366-5728 e-mail: editora@metodista.br www.metodista.br/editora as informações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, posição oficial da universidade ou de sua mantenedora.
anuário unesco/metodista de comunicação regional issn 1809-435X • ano 10 • nº 10 2006 equipe editorial: José marques de melo (diretor responsável), maria cristina gobbi (editora), adolpho Queiroz, isaac epstein e sandra reimão; damiana rosa de oliveira, Bruno galhardi e talita Kubinhetz Barros itabaiana (assistentes editoriais) rua do sacramento, 230, rudge ramos • edifício capa, sala 323 09640-000 são Bernardo do campo, são paulo, Brasil Fone: (55 11) – 4366-5819 · Fax: (55 11) – 4366-5817 e-mail: catedra.unesco@metodista.br unesco – organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura diretor geral: Koichiro matsuura assistente do diretor geral para a divisão de comunicação e informação: abdul Waheed Khan diretor do escritório regional para a américa latina: gustavo lópez ospina conselheiro de comunicação: andrew radolf cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional equipe consultiva - triênio 2003/2006 – prof. dr. isaac epstein e profa. dra. sandra reimão – universidade metodista de são paulo (são paulo - sp); prof. dr. Belarmino césar guimarães da costa – universidade metodista de piracicaba (piracicaba – sp); profa. dra. sonia Virginia moreira – universidade estadual do rio de Janeiro (rio de Janeiro – rJ); profa. dra. desirée rabello –universidade Federal do espírito santo (espírito santo – es); Jornalista sérgio gomes, diretor da ong oboré comunicações e artes (são paulo – sp); editor antonio costella, diretor da editora mantiqueira (campos do Jordão – sp). equipe executiva: diretor titular: prof. dr. José marques de melo; diretora suplente – profa. dra. maria cristina gobbi, assistente acadêmica: damiana rosa de oliveira; estagiárias: Bruno césar cova galhardi e talita Kubinhetz Barros itabaiana. pesquisadores assistentes: ana paula galvão Farias, arquimedes pessoni, eliana martins marcolino, Fabiana Franco, roseane pinheiro, isildinha martins, lana cristina nascimento silva e marli dos santos.
sumário
apresentação ..................................................................................................................... 9 anuário unesco/metodista: uma década dedicada ao estudo da comunicação no Brasil maria cristina gobbi universidade metodista de são paulo / cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
introdução ...................................................................................................................................23 legado emblemático de luiz Beltrão: facetas a desvendar, trilhas a percorrer José marques de melo universidade metodista de são paulo / cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
i – teoria da comunicação a comunicação no processo de desenvolvimento (1968) .................................................................. 35 a galáxia de gutenberg e a de mcluhan (1968) ........................................................................ 59 reflexões sobre a comunicação de massa (1969) ............................................................................. 65 comunicação popular e região no Brasil (1974) ............................................................................ 73 o folclore como sistema de comunicação popular (1976).................................................................. 81 marketing, cultura e comunicação (1977) ...................................................................................... 87 processo da comunicação (1983) .................................................................................................... 99
ii – midiologia cadernos de jornalismo: narrativas de interesse para o exercício profissional (1965) ......................................................................................................105 aspectos básicos da problemática do jornal interiorano no nordeste (1966) ..................................109 Jornalismo pela televisão e pelo rádio: perspectivas (1967) .............................................................133 o caso dos contratos time-life e tV globo (1968)....................................................................151 Brasil: 50 anos de rádio (1969)...................................................................................................165 as linhas da imprensa brasileira (1969) .....................................................................................177
o livro de atualidade (1969) ......................................................................................................189 literatura de elite e literatura de massa (1970) ..........................................................................219 da folkcomunicação à folkmídia (1982) ...................................................................................229
iii – pedagogia da comunicação
aprendizagem das ciências da comunicação em pernambuco (1965) .............................................237 gênese do instituto de ciências da informação ( 1965) ................................................................241 la investigación científica de los medios de información (1965) .....................................................247 novas diretrizes ao ensino das ciências da comunicação (1967).....................................................265 a pesquisa dos meios de comunicação e a universidade (1968)......................................................279 estrutura curricular dos cursos de jornalismo (1972) ...................................................................287 os programas das escolas brasileiras de comunicação: como e onde devem preparar-se os comunicadores rurais (1972).....................................................301 responsabilidades dos jornalistas na formação profissional (1973) ...............................................311 problemática do professor de comunicação (1973) ........................................................................319 teoria e orática do ensino de jornalismo: panorama histórico (1974) .............................................325 para uma nova pedagogia da comunicação (1975) ........................................................................341 a formação do jornalista científico (1982) ....................................................................... 351 o ensino de jornalismo no nordeste (1984) .................................................................................357
iV - apêndice portal luiz Beltrão: vidas paralelas ..........................................................................................369 maria cristina gobbi e equipe universidade metodista de são paulo/0cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
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APRESENTAÇÃO ANUÁRIO UNESCO/METODISTA: UMA DÉCADA DEDICADA AO ESTUDO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Maria Cristina Gobbi*
Neste ano de 2006 a Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional comemora 10 anos de sua instalação na Universidade Metodista de São Paulo e o Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional participa dessa efeméride publicando uma edição monográfica dedicada ao pensamento de Luiz Beltrão, o pioneiro das ciências da comunicação no Brasil. Desde 1997, quando foi publicada a primeira edição deste Anuário, a Cátedra Unesco/Metodista vem mantendo parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM – para a gestão do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação. A grande receptividade que o Prêmio Luiz Beltrão vem obtendo da comunidade acadêmica da área justificou, por exemplo, o convênio que a nossa Cátedra, juntamente com a INTERCOM, estabeleceu com a Imprensa Oficial do Estado do Rio Grande do Sul e participação da Editora Sulina para o lançamento do livro “Teoria da Comunicação – Antologia de Pesquisadores Brasileiros”. Essa coletânea organizada por Antonio Hohlfeldt e Maria Cristina Gobbi pretendeu apresentar aos participantes do congresso mundial de ciências da comunicação, promovido pela International Association for Media and Communication Research - IAMCR – reunidos em Porto Alegre (2004) um panorama das idéias cultivadas pelos vencedores do Prêmio Luiz Beltrão em duas categoriais geracionais: jovens doutores e cientistas nacionalmente legitimados. *
Doutora e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. Diretora Suplente da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. Coordenadora de Documentação e Publicação e do Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano José Marques de Melo, da Cátedra Unesco. Professora do Lato Sensu em Comunicação e da Graduação na mesma instituição. Editora do JBCC - Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação, e do Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional. E-mail: mcgobbi@terra.com.br.
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Essa iniciativa ensejou uma demanda natural por parte dos estudiosos da comunicação que aprenderam a valorizar o patrimônio intelectual verdeamarelo. Eles querem conhecer também o ideário construído pelo patrono do certame anual promovido pela INTERCOM, uma vez que as poucas obras de autoria de Luiz Beltrão em circulação no mercado editorial focalizam a Folkcomunicação, sua principal contribuição à teoria da comunicação. Em função disso e considerando que o décimo aniversário da Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação ocorre justamente no Ano Luiz Beltrão, instituído pela INTERCOM, entendemos que a melhor maneira de celebrar esse acontecimento seria divulgar um panorama do ideário beltraniano não disponível para consulta nas bibliotecas. As linhas mestras do pensamento de Luiz Beltrão estão contidas nos dois conjuntos de ensaios que ele escreveu sobre teoria da comunicação e teoria do jornalismo. Contudo, essas anotações e reflexões se desenvolveram paralelamente, sem indicadores explícitos que relacionem o plano epistemológico ao território empírico. Esta é a razão pela qual decidimos buscar em sua obra dispersa, geralmente publicada sob a forma de palestras, conferências ou artigos para periódicos acadêmicos, a argamassa intelectual que permite construir uma ponte entre as duas vertentes do legado beltraniano. Para tanto, o professor José Marques de Melo, organizador da coletânea que ocupa todo o espaço desta edição do Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, decidiu revisitar a produção conjuntural ou episódica de Luiz Beltrão disponível no Acervo do Pensamento Comunicacional LatinoAmericano, selecionando aqueles textos que lhe pareceram elucidativos. Esta é a contribuição que a Cátedra Unesco/Metodista traz à comunidade acadêmica brasileira, abrindo com chave de ouro as comemorações do seu décimo aniversário. Seu lançamento se dá exatamente no dia em que se realiza , no campus Rudge Ramos, em Bernardo do Campo, o simpósio “Pensamento Comunicacional Brasileiro: o pioneirismo de Luiz Beltrão” (23 de maio de 2006). Para a consecução desta obra tivemos a participação decisiva dos estagiários Bruno César Cova Galhardi e Talita Kubinhetz Barros Itabaiana, bem como da assistente acadêmica Damiana Rosa de Oliveira, que se encarregaram das tarefas de digitalização dos textos originais, sua adaptação editorial, bem como da transcrição e revisão daqueles que foram registrados sob forma datilográfica ou mecanográfica. Registramos também o nosso agradecimento ao Escritório Regional da UNESCO para a América Latina, sobretudo ao Conselheiro Regional de
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Comunicação, Andrew Radolf, que aportou recursos financeiros para viabilizar a presente publicação. Finalmente, incluímos o nosso reconhecimento à ajuda da diretora da Editora Metodista, Léia Alves de Souza, bem como da diagramadora Maria Zélia Firmino de Sá e do ilustrador gráfico Cristiano Freitas, que ajudaram a concretizar este projeto, apesar da exigüidade de tempo. Eles encarnam o testemunho vivo de que a boa vontade remove obstáculos aparentemente intransponíveis e o espírito de cooperação cimenta o caminho que conduz ao êxito institucional. Como se trata da edição comemorativa deste Anuário, vale a pena contextualizar o veículo no quadro de desenvolvimento da Cátedra Unesco/ Metodista. Para se ter um breve panorama desse histórico, vale fazer uma restrospectiva dessas edições, ainda que de forma breve. A primeira, publicada em 1997, reúne dois tipos de exposições, como afirma o professor Marques de Melo em seu texto de apresentação: 1) Ensaios: escritos por catedráticos convidados para lecionar no campus da Universidade Metodista, no ano de 1996. São os trabalhos: El sistema español de comunicaciones: estructura, formación de los professionales e investigación; La liberalización de las telecomunicaciones en México e Comunicação e transferência de tecnologia agrícola, dos professores Manuel Pares i Maicas (Espanha), Carmen Gómez Mont (México) e Juan Díaz Bordenave, (Paraguai), respectivamente; 2) Monografias: foram elaboradas por onze profissionais e pesquisadores que freqüentaram o I Curso de Comunicação para o Desenvolvimento, atualmente Regiocom. Completando o volume estão descritas as informações sobre as atividades desenvolvidas pela Cátedra em seu primeiro ano. Os textos, dessa primeira edição, refletem o estágio inicial da Cátedra Unesco, “com a intenção de gerar um corpo sistemático de conhecimentos sobre os fenômenos da comunicação regional”, desencadeando “(...) ações intelectuais que contribuam para fomentar o desenvolvimento de projetos” na área1. O segundo volume, disponibilizado em 1998, evidencia os dois eixos de atuação da Cátedra Unesco/Metodista no período. Foram eles: diversidade cultural e mega-região. Nesse cenário de discussões, fruto de trabalhos apresentados durante o Simpósio sobre Comunicação Regional e Identidade Cultural, realizado na cidade de Glasgow, Escócia, estão as reflexões de John 1
O texto completo da apresentação pode ser consultado no Anuário Unesco/ Metodista de Comunicação Regional – 1977, editado pela Universidade Metodista de São Paulo e disponível no Acervo do Pensamento Comunicacional LatinoAmericano “José Marques de Melo”. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 9-22, jan/dez. 2006
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Sinclair (Austrália); Margarida Ledo Andión (Espanha); Thomas Tufte e Nilda Jaks (Dinamarca e Brasil), Ada Cristina Machado Silveira (Espanha/Brasil), Lucia Castellón e Carlos Araos (Chile), Florence Toussaint (México), Juçara Brittes; José Marques de Melo, Roberto Benjamin, Fátima Aragão e Célia Maria Cassiano (Brasil). Também podemos encontrar resultados de pesquisas que refletem o fortalecimento da História da Comunicação Regional, decorrência do seminário sobre História da Comunicação, realizado no Recife, dos workshops sobre Pesquisa em Comunicação; apresentados durante o Seminário Internacional de Jornais Diários, que ocorreu em Brasília e do painel sobre o Estado da Pesquisa em Comunicação no Mercosul, no campus da Universidade Metodista de São Paulo. São os trabalhos de Célia del Palácio Montiel (México), Ana Carolina Rocha Pessoa Temer, José Marques de Melo e Adolpho Queiroz (Brasil); Cristina Baccin (Argentina), Érick Torrico (Bolívia) e Aníbal Orué Pozzo (Uruguai). Fechando a publicação está a Memória da Cátedra Unesco, texto escrito por Maria Cristina Gobbi, que faz um resgate das atividades realizadas no ano de 1998. A terceira edição, do ano de 1999, como afirma José Marques de Melo em sua apresentação, é mais abrangente. Dividida em três blocos, contempla conteúdos que mostram as mutações midiáticas, mais especificamente sobre a mídia e a contemporaneidade; as relações entre comunicação, região e desenvolvimento e finalmente, trazendo um diagnóstico sobre o ensino de comunicação e o mercado de trabalho no Brasil. Essas reflexões podem ser encontradas nos trabalhos de Marialva Barbosa, Tereza Lucia Halliday, Maria Cristina Gobbi, Adriano Koeller, Mônica Manfrini, Wilson de Oliveira Gomes e Valdir Boffetti (Brasil), José Miguel Pereira (Colômbia), Ana Maria Álamo Hernandez (Paraguai), Luiz Ignácio Sierra Gutiérrez (Colômbia), Suzana Espinosa Cruz e Geraldo Novo Espinosa de los Monteros (México), Joaquim Moreno Aguilar (Equador) e Maria de Jesus Sierra Celin (Colômbia). E finalmente o resgate da memória daquele ano pode ser vislumbrado no texto de Maria Cristina Gobbi. No volume, editado em 2000, quarto da série, estão os resultados de duas pesquisas realizadas por redes internacionais de investigadores. Uma delas é o estudo mega-regional “O Mercosul na Imprensa do Mercosul”, e a outra é a pesquisa que dá continuidade à série sobre as identidades culturais brasileiras nesta conjuntura de globalização – “Imagens midiáticas do Carnaval Brasileiro”. Assim, neste volume pode ser encontrado o perfil do Mercosul a partir da Imprensa do Mercosul, que mostra os resultados da pesquisa realizada pela
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Rede Mercosul, que engloba os países Argentina (Gustavo Cimadevilla, Maria Angélica Carlosena, Liliana Guiñazú e Liliana Llobet - Universidad Nacional de Rio Cuarto), Bolívia (Erick Torrico e Carolina Herrera Miller – Universidad Simon Bolívar), Brasil (José Marques de Melo, Anamaria Fadul, Antonio de Andrade e Maria Cristina Gobbi – Universidade Metodista de são Paulo), Chile (Lúcia Castellón A. e Carlos Araos – Universidad Diego Portales), Paraguai (Anibal O. Pozzo – Universidad Autonoma de Asunción) e Uruguai (Roque Faraone – Facultad de Humanidades y Cs. de la Educación). As Imagens midiáticas do Carnaval Brasileiro na Impressa Brasileira (Samantha Castelo Branco) e Imprensa do Exterior (Joseph Luyten), ambos da Universidade Metodista de São Paulo. Além dos projetos e parcerias da Cátedra Unesco com outras instituições acadêmicas, resultando numa fonte bastante ampla de pesquisa que podem ser encontrados nos texto: A History of Communication Scholarship in Brazil, Comunicação Intercultural: 500 anos de mestiçagem luso-afro-ásio-brasileira, Folkcom: ampliando fronteiras, Prêmio Luiz Beltrão e Redescobrindo o Brasil: Cem anos de Conhecimento Midiático Brasileiro; Do ComSalud ao COMSAÚDE; Televisão na América Latina; Celacom’2000: Contribuições Brasileiras ao Pensamento Comunicacional Latino-Americano, dos pesquisadores José Marques de Melo, Isaac Epstein, Sandra Reimão, Daniel Galindo e Maria Cristina Gobbi. Na edição de número 5 do Anuário Unesco, do ano de 2001, a ênfase recaiu sobre os resultados da pesquisa “Festas populares como processos comunicacionais”. Esses trabalhos, realizados pelo mutirão intelectual denominado Rede Brasileira de Folkcomunicação – Rede FolkCom.- foram apresentados durante a IV Conferência Brasileira de Folkcomunicação Folkcom´2001 -, que ocorreu na cidade de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul. A primeira parte do volume resgata o pensamento de Luiz Beltrão, pioneiro da pesquisa científica sobre os fenômenos comunicacionais nas universidades brasileiras. São os trabalhos de Roberto Benjamin, Antonio Hohlfeldt e Cristina Schimidt. A segunda parte está dedicada ao Carnaval, em uma perspectiva intercultural, comparando suas identidades nos territórios fronteiriços entre o Brasil, o Paraguai e a Bolívia. São as pesquisas de Marlei Sigrist (Brasil), Vicente Brunetti (Paraguai) e Marcelo Guardiã Crespo (Bolívia). A terceira seção oferece um panorama monográfico. Trata-se de uma amostragem da pesquisa realizada no ano de 2001, com participação de estudiosos de várias regiões. Os trabalhos selecionados indicam a diversidade cultural brasileira,
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de norte a sul, de leste a oeste; bem como de dois países latino-americanos (Argentina e México). Nela estão as investigações de José Marques de Melo, Analaura Corradi, Osvaldo Meira Trigueiro, Daniel Galindo, Benalva da Silva Vitório e equipe, Antonio Teixeira Barros (Brasil), além de Jorge Gonzávez (México) e Mariana Speroni (Argentina). O último item da publicação mostra as parcerias realizadas entre a Cátedra Unesco/Metodista, e pesquisadores, instituições e universidades não só do Brasil, mas dos principais países da América Latina, Europa e Estados Unidos. Trata-se de um relato documento das ações desenvolvidas no período de 1996-2001, descrito no texto de Maria Cristina Gobbi e Márcia Barbosa Velasques. A edição de número 6 do Anuário Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional privilegiou o conjunto de atividades realizadas durante o ano de 2002. São frutos de reflexões apresentadas por pesquisadores de todo o Brasil. Na primeira parte do volume encontramos oito textos que resgatam algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2002. Os trabalhos de Jan Servaes (Bégica) e Cicília Peruzzo (Brasil) retratam as discussões ocorridas durante o VII Regiocom, que teve como tema Mídia Local e foi realizado em parceria com a Universidade Estadual Paulista – UNESP -, na cidade de Bauru, São Paulo, no mês de julho. Os textos de Antonio Hohlfeldt e Osvaldo Meira Trigueiro (Brasil) foram apresentados durante a V Conferência Brasileira de Folkcomunicação – Folkcom -, realizada na cidade de Santos, no mês de maio, em parceria com a Universidade Monte Serrat - UNIMONTE –, e teve como tema central a Imprensa do Povo. Os trabalhos de Elizabeth Gonçalves, Maria Cristina Gobbi e Antonio Teixeira Barros (Brasil) foram apresentados durante o VI Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação – Celacom –, ocorrido na cidade de Adamantina, São Paulo, em parceria com a Faculdades Adamantinenses Integradas – FAI –, no mês de outubro, que teve como tema central A participação da mulher nos estudos comunicacionais Latinoamericanos. Finalmente as pesquisas de Murilo C. Soares, Ivanise A. P. Milanez, Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes e Ariane Diniz Holzbach (Brasil) foram apresentandos durante a V Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde ComSaúde -, que tratou do tema Saúde Pública na agenda midiática, realizada na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de outubro. A seção Documentos está dedicada para dois dossiês da Cátedra Unesco/Metodista. Os levantamentos feitos por José Marques de Melo, Reinforcing multiculturalism: Latin American strategy to face globalization e Reflexão permanente: o papel articulador da Cátedra Unesco/Umesp, de
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Maria Cristina Gobbi traçam um panorama das atividades desenvolvidas pela Cátedra, durante os seis primeiros anos de existência, 1996-2002. Na terceira parte da publicação – Memórias - encontramos textos que fazem um resgate dos eventos realizados pela Cátedra Unesco/Metodista, com o Apoio da Universidade Metodista de São Paulo e da Faculdade de Comunicação Multimídia, em parceria com outras instituições do país. São eles: VII Regiocom destaca a mídia local, de Carla Pollake da Silva e Eliana Martins Marcolino; V Folkcom aponta caminhos e perspectivas, de Maria Isabel Amphilo Rodrigues de Souza e Marla Cristiane Araújo Medeiros; As mulheres dão o tom no VI Celacom, de Arquimedes Pessoni, V Comsaúde discute a saúde pública na agenda midiática, de Eliana Martins Marcolino e I Seminário de Marketing Político recuperou projeto de pesquisa da Umesp, de Adolpho Queiroz. Na última parte do Anuário está disponibilizado o Calendário Acadêmico do ano de 2003. A edição de número 7 do Anuário registra o conjunto das atividades desenvolvidas pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, no ano de 2003. Refletem os quatro encontros realizados anualmente, com o apoio da Unesco e da Universidade Metodista de São Paulo. Na primeira parte do volume encontramos quatro textos que resgatam algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2003. O trabalho de Joseph Luyten (Brasil) retrata a maneira e o que motivou a importância da poesia popular nos sistemas de comunicação regional. O texto de Eduardo Rebollo Iturralde (Uruguai) faz uma incursão pelo pensamento crítico uruguaio, iniciado entre os anos de 1930 e 1940, mas só consolidado a partir da década de 1960. Amalia Beatriz Dellamea (Argentina), mostra situação Argentina nos processos de formação de recursos humanos para a divulgação de temas na área de saúde, da pesquisa acadêmica e das vinculações dessas temáticas com a sociedade. A pesquisa de Jorge Pedro Souza (Portugal) desenha os contornos dos sistemas midiáticos regionais e locais, destacando as semelhanças e diferenças entre os mídias, enfatizando as realidades portuguesa e galega. José Carlos Lozano (México) traz uma análise sobre o desenvolvimento do mercado audiovisual latino-americano, avaliando alguns projetos realizados por acadêmicos europeus e norte-americanos. A seção II da publicação apresenta a homenagem prestada pela Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação -, ao seu fundador, o professor José Marques de Melo pelos 30 anos da defesa de sua tese de doutorado, na ECA/USP – Escola de Comunicação e Artes da
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Universidade de São Paulo, sob o título Fatores sócio-culturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil. Seu trabalho foi a primeira tese de doutorado em jornalismo defendida em uma universidade brasileira. Colaboraram nessa seção os professores/pesquisadores: Maria Cristina Gobbi, Sonia Virginia Moreira, Manuel Pares i Maicas, Carlos Eduardo Lins da Silva, Pedro Gilberto Gomes, Juçara Brittes, Ruth Penha Alves Vianna, Adolpho Queiroz, Cicilia M. Krohling Peruzzo e Ana Carolina Temer Pessôa A terceira etapa do Anuário revela as ações desenvolvidas pela Cátedra no ano de 2003, bem como relata a posse do novo Comitê Acadêmico, triênio 2003/2005. A seção Memória mostra as ações desenvolvidas durante o ano de 2003, na perspectivas dos pesquisadores que participaram dos eventos. Podemos encontrar os textos de Soraya Lódola de Moraes Góis, Carla Tôzo, Marília Cecília Guirado, Gabriela Mangelardo, Eliana Marcolino, Fabiana Franco e Adolpho Queiroz. O último item deste volume expõe, através do Calendário para o ano de 2004, a diversidade de atuações prevista para serem realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista durante o ano de 2004. A edição de número 8 do Anuário registra o conjunto das atividades desenvolvidas pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, no ano de 2004. Na primeira parte do volume encontramos três textos que mostram temas na área da Comunicação, Desenvolvimento e Identidades Culturais. São trabalhos: The Context of Communication for Development, 2004, Information Society: the Marrakech Declaration e La Investigación de la Comunicación y del Periodismo Preservando Identidades Culturales en el Panorama de la Globalización Mediatica, de James Deane, Orbicom e Manuel Parés i Maicas, respectivamente. A seção II resgata algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2004. São eles: Some Observations On A Contemporary ‘Denial of Access’: Knowledge, IPR and the Public Good, apresentado no Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação – Celacom’2004. A imagem da política e dos políticos na perspectiva da Folkcomunicação: uma abordagem exploratória foi o tema de abertura da Conferência Brasileira de Folkcomunicação - Folkcom’2004; no Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional – Regiocom’2004 –, o trabalho Imaginário Paulista: um olhar sobre o caipira do Estado de São Paulo, e, finalmente, a pesquisa A divulgação científica na obra de Josué de Castro, foi mostrada durante a Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde – Comsaúde’2004. São os resultados de pesquisas realizadas por Pradip Thomas (Reino Unido), Antonio Holfeldt, Valderez Helena Gil Junqueira e José Marques de Melo (Brasil),
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A seção III apresenta a homenagem prestada pela Rede Folkcom e pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional ao Pesquisador Antonio Hohlfeldt (Brasil). A intenção do idealizador do Prêmio, professor José Marques de Melo, foi o de estimular a iniciação científica. O resultado dessa iniciativa pode ser verificado através dos textos O Prêmio e o Patrono, e Incentivos à Pesquisa Folkcomunicacional. Também estão disponibilizados os trabalhos premiados. Na Categoria Nacional: Cultura Popular rompe fronteiras através das legendas de caminhões, que ganhou o primeiro lugar. Mensagens eróticas de banheiro: histórias reais da vida privada que ficou com o segundo lugar. Na Categoria Regional o primeiro lugar foi para a pesquisa AbAiXo a DiTaDuRa da MíDia!: Pichações e grafites e as tensões políticas da sociedade portoalegrense em 2004. A pesquisa Bambas da orgia e imperadores de samba: o carnaval de Porto Alegre e a Folkcomunicação ganhou o segundo lugar. A seção de Documentos mostra as ações desenvolvidas durante o ano de 2004. A parte V – Memória – faz um panorama na perspectiva dos pesquisadores que participaram dos eventos realizados pela Cátedra Unesco/ Metodista, com o apoio da Universidade Metodista de São Paulo, em parceria com outras instituições do país. São os textos do IX Regiocom, VIII Celacom, VII Comsaúde, VII Folkcom, III Politicom, II Rede Alcar, e I Unescom. O último item deste volume expõe, através do Calendário para o ano de 2005, a diversidade de atuações prevista para serem realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista. Na edição de número 9 do Anuário Unesco podem ser encontradas reflexões apresentadas por pesquisadores de todo o Brasil durante os eventos realizados pela Cátedra Unesco/Metodista, no ano de 2005. Anualmente, com o apoio da Unesco, da Universidade Metodista de São Paulo, a disposição e o empenho de pesquisadores e entidades de todo o país a Cátedra Unesco/ Metodista realiza seis encontros, além da publicação de livros, jornais, revistas etc. Na primeira parte do volume encontramos três textos que tratam da historicidade na área da Comunicação, Desenvolvimento e Identidades Culturais. São os trabalhos: La comunicación para el desarrollo en Latinoamérica: un recuento de medio siglo, de Luis Ramiro Beltrán Salmón, da Universidad Johns Hopkins, Bolivia; Desafíos enfrentados por la Comunicación para el Desarrollo en la emergente Sociedad de la Información, de José Marques de Melo, Cátedra Unesco de Comunicação, Brasil e Desarrollo, ciudadanía, democracia: aportes desde la comunicación, de Washington Uranga, da Universidad Nacional de La Plata, Argentina. A seção
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II - Convergências – Presentación de un dispositivo analizador para diagnóstico e intervención social: dimensiones de Análisis e Intervención Social, Eduardo A. Vizer, University of Buenos Aires, Argentina; Entraves para consolidação dos conceitos digitais, Walter Teixeira Lima Junior, UniFiam/Faam – São Paulo, Brasil; Convergência de Mídia: transformação e futuro, Amyris Fernandez, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil e Comunicação e Gestão do Conhecimento: um elo possível, Eliana de Souza Lima, Embrapa/Puc-Campinas/Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Em Fluxos e Contra-fluxos, III parte do volume, estão os textos Comunicação & Problemas: 40 anos da Revista Pioneira das Ciências da Comunicação no Brasil, de Rosa Maria Dalle Nava, Unimonte/Unipac, Brasil e Conhecimento Midiológico e identidades Brasileiras, Waldemar Luiz Kunsch, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Na IV parte a professora Maria Cristina Gobbi faz um resgate sobre o surgimento da Unesco, que em 2005 comemorou 60 anos de existência, mostrando a importância dos espaços das Cátedras e fazendo um resgate das atividades realizadas pela Cátedra Unesco/ Metodista, que em 2006 comemora 10 anos de existência, através do texto: A Unesco e sua contribuição para a Comunicação: o papel das Cátedras. Finalmente na parte V estão resenhas das atividades realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista no ano de 2005. São os trabalhos: X Regiocom: desafios para os próximos dez anos, Ilka Margot Goldschmidt, Unichapecó, Brasil. IX Celacom: o ideário de Mario Kaplún sobrevive nas utopias e realidades latino-americanas, de Rossana Gaia, Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas, Brasil, André Azevedo da Fonseca, Universidade de Uberaba, Brasil. Saúde do trabalhador na pauta de discussão da VIII Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde, de Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes, UFPE, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.VIII Folkcom: o contagiante envolvimento dos jovens nos estudos da tradição, Elizete de Azevedo Kreutz, Centro Universitário Univates, Brasil. IV Politicom, de Adolpho Queiroz, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Marcas originais do III Encontro da Rede Alfredo de Carvalho, de Maria Berenice da Costa Machado, Centro Universitário Feevale e Faculdades de Taquara (Faccat), Brasil. Unescom’2005: mais uma temporada de contribuições às linhas de pesquisa em comunicação da Universidade Metodista, de Bruno César Cova Galhardi, Damiana Rosa de Oliveira, Keila Baraçal e Talita Kubinhetz Barros Itabaiana, da Universidade Metodista de São Paulo, Brasil e Um mutirão pelo fortalecimento da mídia cidadã no Brasil, de Waldemar Kunsch, Universidade Metodista de São Paulo.
APRESENTAÇÃO
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Neste ano de 2006, no qual a Cátedra Unesco/Metodista completa uma década de sua sede no Brasil, mais precisamente, no Campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo, decidimos que o Anuário Unesco/ Metodista nº 10 seria uma edição monográfica, dedicada ao mestre Luiz Beltrão, fazendo uma justa homenagem ao pioneiro dos Estudos em Comunicação no Brasil. Duas efemérides são representativas, em 2006, da trajetória intelectual de Luiz Beltrão. 1) Setenta anos do início de sua carreira jornalística, na cidade do Recife, como repórter do Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal diário em circulação na América Latina e no âmbito da Lusofonia; e 2) Vinte anos do seu falecimento na capital da República Federativa Brasileira, Brasília. Assim, a edição do Anuário Unesco/Metodista nº 10, do ano de 2006, editado pela Universidade Metodista de São Paulo, traz um panorama do ideário legado pelo mestre. São diversos textos publicados por Luiz Beltrão ao longo de sua trajetória profissional e acadêmica. Muitos são trabalhos seminais, outros já apresentam resultados de anos de pesquisa e interação com a comunicação. São reflexões que contemplam mais de 30 anos de dedicação ao entendimento da comunicação e do jornalismo como campos do conhecimento humano, da participação popular, da socialização de conhecimentos e da igualdade de direitos. Esta publicação vem preencher uma lacuna para aqueles estudiosos que buscam na obra de Luiz Beltrão a referência necessária para aprofundar seus estudos e suas reflexões, tendo como identificador um alvitre pioneiro, vasto e fundamentado na práxis comunicativa. O volume está dividido em quatro partes. No texto de introdução Legado emblemático de Luiz Beltrão: facetas a desvendar, trilhas a percorrer, do professor José Marques de Melo, encontramos uma bela reflexão sobre as principais heranças comunicacionais de Luiz Beltrão e os desafios conclamados pelo professor Marques, principalmente, para as novas gerações de pesquisadores e estudiosos da comunicação, no sentido de conhecer mais sobre o autor e sua obra. Na parte I – Teoria da Comunicação, os textos mostram as várias contribuições de Luiz Beltrão para o entendimento e a fundamentação desse campo do saber. São os trabalhos: 1. A comunicação no processo de desenvolvimento, Conferência proferida na NOVACAP, ICINFORM, Brasília (1968); 2. A Galáxia de Gutenberg e a de McLuhan, artigo publicado na revista Comunicações & Problemas (1968); 3. Reflexões sobre a Comunicação de Massa, artigo publicado na Revista de Cultura Vozes (1969); 4. Comu-
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nicação popular e região no Brasil, Conferência proferida no II Congresso da UCBC, Guaratinguetá (1974), capítulo do livro “Comunicação/Incomunicação no Brasil”, São Paulo, Loyola (1976); 5. O folclore como sistema de comunicação popular, Conferência proferida no I Encontro de Folclore da Paraíba (Pombal, 1976). In: Documento NUPPO, Ano I, N. 3, João Pessoa: UFPB (1979); 6. Marketing, Cultura e Comunicação, opúsculo publicado na Série “Textos de Comunicação”, Brasília: ICINFORM (1977) e 7. Processo da Comunicação, capítulo do livro “Temas Básicos em Comunicação”. São Paulo: Paulinas (1983). Em Midiologia – segunda parte do volume – encontramos reflexões referentes ao campo do jornalismo e suas diversas facetas. São os trabalhos: 1. Cadernos de Jornalismo: narrativas de interesse para o exercício profissional, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1965); 2. Aspectos básicos da problemática do jornal interiorano no Nordeste, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1966); 3. Jornalismo pela televisão e pelo rádio: perspectivas, Artigo publicado na “Revista da Escola de Comunicações Culturais”, (1967); 4. O caso dos contratos Time-Life e TV Globo, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1968); 5. Brasil: 50 anos de rádio, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 6. As linhas da imprensa brasileira, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 7. O livro de atualidade, artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 8. Literatura de elite e literatura de massa, artigo publicado na “Revista de Cultura Vozes” (1970) e 9. Da folkcomunicação à folkmídia (1982), capítulo do livro “Pesquisa em Comunicação no Brasil” (1983). Na parte III – Pedagogia da Comunicação -, estão os textos: 1. Aprendizagem das ciências da comunicação em Pernambuco, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1965); 2. Gênese do Instituto de Ciências da Informação, Discurso na abertura do I Curso Nacional de Ciências da Comunicação. Recife; ICNFORM (1965); 3. La investigación científica de los medios de información (1965), capítulo do livro “Enseñanza de periodismo y medios de información colectiva”, Quito, CIESPAL (1965); 4. Novas diretrizes ao ensino das ciências da comunicação (1967), artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1967); 5. A pesquisa dos meios de comunicação e a universidade, capítulo da coletânea “Panorama atual da pesquisa em comunicação”. São Paulo: FJCL (1968); 6. Estrutura curricular dos cursos de Jornalismo, capítulo da coletânea “O ensino de jornalismo”. São Paulo: ECA-USP (1972); 7. Os programas das escolas
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brasileiras de comunicação: como e onde devem preparar-se os comunicadores rurais, capítulo do livro “Subsídios para uma política nacional de informação rural”. Brasília; Cobir, (1972); 8. Responsabilidades dos Jornalistas na Formação Profissional, capítulo dos “Anais da IX Conferência Nacional dos Jornalistas”. Fortaleza (1973); 9. Problemática do Professor de Comunicação, Comunicação ao I Congresso da ABEPEC. Belo Horizonte (1973); 10. Teoria e Prática do Ensino de Jornalismo: panorama histórico, capítulo da coletânea “Teoria e Prática no Ensino de Jornalismo”. São Paulo: ECA-USP (1974); 11. Para uma nova Pedagogia da Comunicação, artigo publicado na “Revista de Comunicação Social” (1975); 12. A formação do jornalista científico, capítulo do livro “Jornalismo Científico: memória”. São Paulo (1982) e 13. O Ensino de Jornalismo no Nordeste (1984), Artigo publicado nos “Cadernos de Jornalismo e Editoração” (1986). Finalmente, no Apêndice, última parte desta publicação está o texto Portal Luiz Beltrão: vidas paralelas, da professora Dra. Maria Cristina Gobbi, que evidencia a contribuição da Cátedra Unesco/Metodista para a divulgação e projeção do legado de Luiz Beltrão. Não poderíamos encerrar esta Apresentação sem agradecer o apoio constante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), na figura do Diretor do Escritório Regional para a América Latina, Gustavo López Ospina e do Conselheiro de Comunicação, Andrew Radolf. Também à Universidade Metodista, que nesses dez anos de existência da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação, tem apoiado amplamente as diversas atividades propostas por nossa Cátedra. Sem essa colaboração todas as ações empreendidas ao longo desse período não teriam logrado a amplitude que alcançaram. Nosso muito obrigado, então, ao professor Dr. Davi Ferreira Barros, Reitor da Universidade Metodista e aos Vice-Reitores Clovis Pinto de Castro (Acadêmico) e Marcio de Moraes (Administrativo), ao professor Luciano Sathler, Diretor do Centro de Educação Continuada e a Distância, aos diretores das Faculdades de Comunicação: Sebastião Squirra (Facom), Maria Aparecida Ferrari (Fajorp) e Paulo Rogério Tarsitano (Faapt), a Assessoria de Comunicação e Marketing, na figura de Ana Claudia Braun, aos diversos núcleos de pesquisa, aos professores do Pós-Graduação e da Graduação, aos alunos e aos pesquisadores, não só de nossa Instituição, mas aqueles parceiros, representados em todos os Estados Brasileiros, nosso agradecimento especial. Somente com esse trabalho conjunto tem sido possível realizar e difundir não só nacional, mas internacionalmente as
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contribuições do Brasil e em especial do Grupo de São Bernardo aos estudos em Comunicação na América Latina. Nessa década de existência no Brasil a Cátedra Unesco/Metodista não poderia deixar de prestar uma homenagem especial aos pesquisadores que, durante todos esse período, endossam novas atividades formando, assim, a equipe consultiva da Cátedra Unesco/Metodista. Fazemos isso na figura dos professores e profissionais que atualmente integram esse Comitê. São eles: Triênio 2003/2006 – professor Dr. Isaac Epstein e professora Dra. Sandra Reimão - Universidade Metodista de São Paulo (São Paulo - SP); professor Dr. Belarmino César Guimarães da Costa – Universidade Metodista de Piracicaba (Piracicaba – SP); professora Dr a . Sonia Virginia Moreira – Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro – RJ); professora Dra. Desirée Rabello – Universidade Federal do Espírito Santo (Espírito Santo – ES); Jornalista Sérgio Gomes, Diretor da ONG OBORÉ Comunicações e Artes – (São Paulo – SP); Editor Antonio Costella, Diretor da Editora Mantiqueira – (Campos do Jordão – SP). À Equipe Executiva, que está sempre pronta a somar e realizar os projetos propostos, nosso muito obrigado. São eles: Damiana Rosa de Oliveira (assistente Acadêmica); Bruno César Cova Galhardi e Talita K. Barros Itabaiana (Estagiários), sem os quais as coisas seriam muito complicadas de realizar. São Bernardo do Campo, 2 de maio de 2006
INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO LEGADO EMBLEMÁTICO DE LUIZ BELTRÃO: FACETAS A DESVENDAR, TRILHAS A PERCORRER
José Marques de Melo*
Luiz Beltrão converteu-se em ícone nacional da comunicação por seu tríplice pioneirismo: fundador do primeiro instituto universitário de pesquisa (1963), criador da primeira revista científica (1965) e autor da primeira tese de doutorado, nessa área do conhecimento, no Brasil (DUARTE, 2001, p. 127). Tal posição de vanguarda justificou a criação do “Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação”, através do qual a comunidade acadêmica reconhece anualmente o mérito de pessoas ou instituições que demonstram excelência na pesquisa (GOBBI, 2004 pp. 24-27). Ao tomar a iniciativa (1997), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM – quis, prestando uma homenagem ao nosso pioneiro, incentivar as novas gerações a ampliar a fronteira do conhecimento que ele desbravou.
PARADIGMA FOLKCOMUNICACIONAL Nascido em Olinda, Pernambuco (1918) e falecido em Brasília, Distrito Federal (1986), Luiz Beltrão destacou-se academicamente pela “teoria da folkcomunicação” (TRIGUEIRO, 2001, p. 49). Ao pesquisar o impacto da mídia no Brasil ele confirmou o que já havia sido observado em sociedades plenamente desenvolvidas: os “fluxos da comunicação massiva” não se esgotam no ato da recepção direta das mensagens pelas pessoas que constituem as audiências. No entanto, Beltrão percebeu também que a etapa da recepção possuía natureza distinta daquela descrita na “teoria do fluxo em duas etapas” (Lazarsfeld e Katz). A “tradução” das mensagens para os códigos locais não era processada individualmente, por típicos “líderes de opinião”. Sua pesquisa reuniu evidências distintas daquelas observadas nos Estados Unidos. Os conteúdos midiáticos, em zonas brasileiras distanciadas dos centros urbanos ou nas periferias metropolitanas, passavam por leituras grupais ou traduções comunitárias, efetuadas por “agentes coletivos” (BELTRÃO, 2001). *
Diretor-Titular da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.
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Essa descoberta o induziu a concluir que os fluxos pós-recepção integram o “sistema da folkcomunicação”. Responsáveis por transposições de linguagem e adaptações dos significados difundidos pelo “sistema de comunicação massiva”, os agentes populares configuram, segundo seus próprios valores, os “sentidos” efetivamente assimilados pelas audiências “marginalizadas” (BELTRÃO, 2004, pp. 73-88). A tese repercutiu na comunidade acadêmica, suscitando manifestações relevantes como a de Umberto Eco, impressionado com o desenvolvimento autônomo desse processo comunicacional. “As massas do Nordeste informamse através da literatura de cordel, das histórias em quadrinhos em xilogravuras, vendidas nas feiras e distribuídas nas farmácias. (...) Luiz Beltrão me convenceu, com argumentação irrefutável, que não é o rádio, nem a televisão que fornecem as informações. As comunicações através dos folhetos e das histórias em quadrinhos não são, por enquanto, monopólio de ninguém: elas se desenvolvem por si mesmas.” (ECO, 1966). O paradigma construído por Luiz Beltrão fundamentava-se, do ponto de vista antropológico, na concepção dialética do folclore defendida por Edison Carneiro, que o entendia como uma forma ‘“rudimentar” de “reivindicação social” ou como “fruto da resistência oferecida pelas camadas populares” (CARNEIRO, 1965, pp. 15-25). Trata-se de uma perspectiva analítica que produz desdobramentos no segundo ciclo de estudos promovido pela INTERCOM, quando a “teoria das brechas” 1 começa a ganhar densidade. Fica explícita, nesse momento, a dissonância em relação aos pesquisadores que exercitavam “dupla cegueira”. Além de enxergar a mídia com espaço exclusivo de difusão da ideologia das classes dominantes na sociedade, eles “adotam uma atitude de menosprezo em relação aos meios de comunicação das classes subalternas, considerados tão somente como manifestações reacionárias” (MARQUES DE MELO, 1980, p. 11). Não foi sem razão que Jesus Martín-Barbero identificou nos “pioneiros trabalhos de Luiz Beltrão” plena sintonia com a estratégia de pesquisa denominada contra-hegemonia comunicativa, “ao indagar a atualidade e a vigência das formas de comunicação popular na riqueza cultural de suas festas e discursos, tanto rurais como urbanos, religiosos e cívicos, dos signos messiânicos aos políticos, passando inclusive pelos grafitos eróticos e até mesmo pornográficos” (BARBERO, 1999, p. 39). Vinte anos depois da sua morte, o nosso artífice das ciências da comunicação tem sido lembrado principalmente através do aporte folkcomunicacional. 1
A explicitação dessa idéia, que aflora no ciclo da Intercom de 1979, vai ser melhor fundamentada nos ensaios escritos por Anamaria Fadul, Carlos Eduardo Lins da Silva e Luiz Fernando Santoro para o ciclo de 1980.Vide; LINS DA SILVA, Carlos Eduardo (coord.). Comunicação, Hegemonia e ContraInformação, São Paulo: Cortez, 1981, pp. 9-38
INTRODUÇÃO
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Tal ênfase transparece com nitidez em alguns dos seus perfis biográficos (TARSITANO, 1996; MARANINI, 1999) ou em estudos monográficos que resgatam seu legado teórico (CASTELO BRANCO, 1999; BARROS, 2000, p. 145). Ela reflete também a atividade da Rede Brasileira de Folkcomunicação que, desde 1998, vem retomando, revisando e atualizando essa linha investigativa. Os congressos anuais destinados a reunir os estudiosos da disciplina fundada por Luiz Beltrão não apenas avançam o conhecimento empírico, mas repensam criticamente suas matrizes teóricas (BENJAMIN, HOHLFELDT e SCHMIDT, 2002). Elas suscitam igualmente apropriações consentâneas com o novo “espírito do tempo”, como a que foi liderada por Sebastião Breguez (2004). No bojo desse mutirão intelectual foram publicadas várias obras de sua autoria. A versão integral da tese de doutorado circulou através da Editora da PUCRS (BELTRÃO, 2001), incluindo o capítulo inicial que fora retirado da edição primitiva da Editora Melhoramentos (BELTRÃO, 1971). Textos que embasam suas concepções sobre os fluxos bidirecionais entre mídia e cultura popular foram reunidos pela Editora Metodista na antologia “Teoria e Metodologia da Folkcomunicação” (BELTRÃO, 2004). VARIÁVEIS EXPLORADAS Uma das explicações plausíveis para esse tipo de reducionismo pode ser a inacessibilidade da obra escrita por Luiz Beltrão, como a de tantos outros pensadores brasileiros. Até mesmo a reedição do seu trabalho seminal “Iniciação à Filosofia do Jornalismo”, incluído na Coleção “Clássicos do Jornalismo Brasileiro”, lançado pela Editora da Universidade de São Paulo (1992), encontra-se esgotada. Ausente das prateleiras das livrarias, sua bibliografia é consultada apenas pelos estudiosos do pensamento comunicacional que transpõem os umbrais das bibliotecas especializadas. Incluem-se evidentemente nessa categoria aqueles que começam a explorar outras dimensões do seu percurso intelectual. As distintas facetas de Luiz Beltrão podem estimular sua redescoberta. Motivados pela curiosidade de saber quem foi e qual o legado do pioneiro nacional de ciências da comunicação, os jovens pesquisadores certamente vão reivindicar o acesso às fontes. Nesse sentido, vale a pena fazer um balanço do acervo bio-bibliográfico a ele referente, complementando o inventário preliminar feito no ensaio publicada em meu livro História do Pensamento Comunicacional (MARQUES DE MELO, 2003). A principal fonte biográfica é sem dúvida a coletânea organizada por Roberto Benjamin (1998), reunindo um conjunto elucidativo de depoimentos sobre o autor. Precedido do esboço da sua história de vida, esse livro oferece pistas para quem quiser prosseguir através das “picadas” que ele abriu generosamente. Mas quem desejar conhecer seu perfil sentimental, deve recorrer ao testemunho afetivo escrito pela esposa Zita de Andrade Lima (1999).
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Há um conjunto de trabalhos que exploram variáveis éticas ou estéticas. As matrizes filosóficas em que se fundamentou empiricamente para esboçar uma teoria do jornalismo foram resgatadas por Fátima Feliciano (1993). Suas estratégias metodológicas para configurar uma teoria brasileira da comunicação foram esboçadas por Jorge Duarte e Antonio Barros (2004). A faceta de escritor foi analisada por Antonio Hohlfeldt (2004), através de uma perspicaz exegese literária dos seus romances, contos e novelas. Outro bloco resgata o protagonismo institucional, focalizando aqueles espaços acadêmicos que ele criou e dinamizou. A significação do ICINFORM, primeiro instituto universitário de pesquisa comunicacional do Brasil mobilizou a atenção de Maria Luiza Nóbrega (2000) e Maria das Graças Targino (2000). A estrutura e a agenda temática da revista”Comunicações & Problemas” suscitaram o interesse de Rosa Nava (2003), que demonstrou seu pioneirismo editorial, elucidando os modelos forâneos que o inspiraram academicamente. Os confrontos e as correlações possíveis entre o legado beltraniano e as matrizes culturalistas, tanto as cultivadas pelos folcloristas nacionais quanto as preferidas pelos mediacionistas latino-americanos, estão bem tecidos por Mariana Mesquita (2000) e Cristina Schmidt (2004). Persistem, contudo, facetas a desvendar e trilhas a percorrer, com a finalidade de discernir melhor a contribuição intelectual de Luiz Beltrão para o campo da comunicação. AGENDA INVESTIGATIVA Como sujeito comunicacional, a primeira incógnita de sua trajetória reside na atuação jornalística. Pouco se conhece a respeito dessa fase inicial. Seus registros biográficos atestam que ingressou na atividade pelas páginas do Diário de Pernambuco, onde publica a primeira reportagem no dia 16 de dezembro de 1936. Ele fez o aprendizado do ofício noticioso com o legendário jornalista Aníbal Fernandes, permanecendo no “mais antigo jornal diário da América Latina” até 1942. Transferiu-se, a seguir, para a Folha da Manhã, jornal de sustentação política do então Governador Agamenon Magalhães. Ali trabalha durante vários anos, ocupando a secretaria de redação da edição vespertina, dirigida às classes populares, no período 1948-1951. A seguir, exerceu a profissão nas agências de notícias Asapress e France Presse, na Rádio Clube de Pernambuco e nas sucursais de vários jornais brasileiros. Em 1960 fez opção preferencial pela carreira acadêmica, assumindo a direção do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Que tipo de jornalismo praticou Luiz Beltrão? Quais as relações existentes entre os temas das suas reportagens e os objetos de estudo que o consagrariam como pesquisador acadêmico? Em que medida sua prática jornalística repercute no conteúdo da obra publicada? Está evidente, por exemplo, o “reducionismo
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jornalístico” da sua formulação embrionária do paradigma da folkcomunicação. Qual a correlação que se pode estabelecer entre o jornalismo que aprendeu no batente e aquele que ensinou na universidade? Como o jornalismo do seu tempo está refletido na literatura que produziu? Os únicos indicadores capazes de permitir a reconstituição dessa faceta são o livro de reportagens Itinerário da China ( 1959), enfeixando as matérias publicadas na imprensa recifense, no seu ocaso profissional, e também o livro de crônicas Memórias de Olinda (1996), em que exercitou fértil memorialismo, no seu ocaso existencial. O primeiro reflete o período em que simpatizou com o socialismo, motivado pelas viagens à chamada “cortina de ferro”. O segundo traduz a fase de reencontro com as raízes culturais, numa conjuntura marcada pelo ostracismo acadêmico a que foi condenado, em parte pela transgressão ideológica cometida naquela outra obra e em parte pela imobilidade corpórea, resultado da trombose que o retirou de circulação, estimulando o exercício do fértil saudosismo. Outra faceta a desvendar tem íntima relação com a precedente. Trata-se do seu protagonismo internacional. Luiz Beltrão lançou-se na arena mundial do jornalismo e da comunicação em 1956. Ele representou a comunidade brasileira no I Encontro Internacional de Jornalistas, promovido pela Organização Internacional dos Jornalistas - OIJ, em Helsinki, Finlândia. Participaria, nos anos seguintes, de vários congressos de jornalistas, na Europa, Ásia e nas Américas, integrando a delegação da Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, entidade em que atuou desde 1958, representando os jornalistas pernambucanos. Poucos anos antes ele fora convidado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos das América para visitar aquele país, na categoria de “grant leader”. Sua projeção culminou, em 1969, com a eleição para presidir a Unión Latinoamericana de Periodistas Católicos (ULAPC), prosseguindo nos anos seguintes com inúmeros convites para ministrar cursos e conferências em universidades européias e americanas. Apesar de Jorge Duarte (2001) haver levantado a ponta do iceberg, a incursão de Luiz Beltrão pelo campo das Relações Públicas merece aprofundamento. Comissionado em 1946, como funcionário da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco, ele desenvolveu atividades de relacionamento com a imprensa. Esse trabalho típico de Relações Públicas, que exercitara precocemente no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Pernambuco, Beltrão continuaria a desempenhar até sua aposentadoria, tendo prestado serviços à Assembléia Legislativa de Pernambuco (Recife), à Fundação Nacional do Índio (Brasília) e à Associação Comercial de Pernambuco, dentre outras instituições. A experiência acumulada nessas funções foi posteriormente sistematizada nos cursos de Relações Públicas que ele ministrou no Centro Pernambucano de Relações Públicas (1963), Centro Paraibano de Relações Públicas (1964) e no Centro de Estudos Universitários de Brasília (anos 70), resultando desta última experiência um texto-didático (inédito).
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Convém anotar, a esse respeito, a observação feita por Benjamin (1998, p. 107) sobre a vocação inata de Luiz Beltrão para atuar como artífice da imagem institucional dos projetos com que estava comprometido. Ele menciona dois exemplos que testemunhou pessoalmente: as imagens construídas do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e da revista “Comunicações & Problemas”, responsáveis pelo êxito que imediatamente granjearam. Trilha preciosa a ser percorrida é sem dúvida o seu vanguardismo investigativo. Luiz Beltrão publica em 1976 a obra que o situaria na liderança dos estudos sobre o jornalismo brasileiro. Trata-se do livro “Jornalismo Interpretativo”, lançado pela Editora Sulina de Porto Alegre, através do qual ele supera a dicotomia entre teoria e prática contida em suas obras anteriores. Ao invés de privilegiar as reflexões teóricas iniciadas na “Iniciação à Filosofia do Jornalismo” (1960) ou de resgatar a prática jornalística hegemônica, como ocorreu em “A Imprensa Informativa” (1969), Beltrão recorre à metodologia do jornalismo comparado para compreender as técnicas de interpretação jornalística assimiladas pelo Jornal da Tarde de São Paulo, a partir do modelo norte-americano de interpretative journalism. A inovação investigativa ali evidente consiste na adoção da pesquisa aplicada, um tipo de estudo que pretende retirar das observações empíricas generalizações teóricas passíveis de uso na prática profissional. Nessa instigante pesquisa, feita para subsidiar um curso sobre a nova disciplina, ministrado a convite da PUC do Rio Grande do Sul, o autor comprovou a validade do referencial metodológico que antes exercitara na Fundação Nacional do Índio – FUNAI. E o fizera com evidente intenção pragmática, comparando o noticiário de distintos jornais. Os indicadores dessa pesquisa estão divulgados no livro “O Índio, um mito brasileiro” (Rio, Vozes, 1977). Quero anotar também uma variável da sua história de vida à espera de discernimento histórico. Refiro-me ao seu apogeu intelectual. Luiz Beltrão lança em 1986 o último volume da trilogia sobre teoria da comunicação. Trata-se da obra “Subsídios para uma teoria geral da comunicação de massa” (São Paulo, Summus), que dá seqüência ao conjunto iniciado com “Fundamentos Científicos da Comunicação” (Brasília, Thesaurus, 1973) e continuado com “Teoria Geral da Comunicação” (Brasília, Thesaurus, 1977). O grande intervalo que separa a obra terminal dos volumes predecessores explica-se pela aura de consagração intelectual que vivenciou Beltrão no seu último decênio. Em 1978 ele foi alvo de homenagem prestada por seus discípulos e ex-alunos durante o VII Congresso Brasileiro de Comunicação Social (Bragança Paulista, São Paulo), que realizaram um balanço crítico de sua obra comunicacional. Nessa mesma conjuntura foi eleito para a Academia Brasiliense de Letras, o que traduzia o reconhecimento público da sua obra literária.
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Quando estava escrevendo a parte final do seu legado teórico, já afastado do trabalho docente, Beltrão foi surpreendido por um acidente vascular cerebral que o imobilizou fisicamente. Tanto assim que aquela obra somente foi concluída com a ajuda e a colaboração do discípulo e assistente Newton de Oliveira Quirino, que a assina como co-autor. Tranqüilizado pelo sentimento da missão cumprida, ele faleceu em Brasília, no dia 24/10/1986. Alguns anos depois seriam editados seus livros memorialísticos “Contos de Olanda” (1989) e “Memória de Olinda” (1996). Finalmente creio indispensável retomar uma pista que vislumbrei em 1984, quando Luiz Beltrão recebeu das mãos da Ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz o diploma de Pioneiro do Ensino de Jornalismo no Brasil. O depoimento que fez naquela solenidade continha uma pauta das suas ousadias pedagógicas e do seu tirocínio educacional (Marques de Melo, 1991). Passadas duas décadas daquele evento, os referentes ali sugeridos permanecem inexplorados. O livro que reúne suas aulas de metodologia do ensino de jornalismo (Beltrão, 1963) nunca foi traduzido para a língua portuguesa e tampouco analisado do ponto de vista didático. Da mesma forma, as estratégias pedagógicas que Beltrão engendrou em situações de penúria orçamentária ou de conflito institucional poderiam alicerçar soluções pragmáticas para muitas das deficiências que continuam a afligir docentes e discentes em nossas universidades. Bastaria alguém debruçar-se sobre as idéias que ele adotou, em momentos de crise ou em situações de normalidade escolar, identificando o que se tornou peça histórica e o que continua válido para os dias de hoje. INVENTÁRIO DE FONTES O acervo bibliográfico de Luiz Beltrão foi preliminarmente inventariado por Tereza Halliday (1998), que o subdividiu em quatro grupos, aqui atualizados para incluir os lançamentos recentes: 1) Ficção – Estreando em 1950 com o romance Os senhores do mundo, Beltrão publicaria mais dois livros do mesmo gênero – A serpente no atalho (1974) e A greve dos desempregados (1984) – além de dois volumes de contos – Quilômetro Zero (1961) e Contos de Holanda (1989). 2) Jornalismo – A produção jornalística contempla distintas vertentes: empírica – Itinerário da China (1959) e Memória de Olinda (1996) -, teórica – Iniciação à Filosofia do Jornalismo (1960, 1992), – didática – Métodos em la Enseñanza de la Técnica del Periodismo (1963), Técnica de Jornal (1964), A imprensa informativa (1969), Jornalismo Interpretativo (1976), Jornalismo Opinativo (1980) e aplicada – O índio, um mito brasileiro (1977). 3) Folkcomunicação – São basicamente dois livros: Comunicação e Folclore (1967), ampliado e reeditado com o título Folkcomunicação (2001), e Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados (1980).
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4) Teoria da comunicação – Este conjunto se divide em dois segmentos: ensaios teóricos – Sociedade de massa: comunicação e literatura (1972) - e manuais didáticos – Fundamentos Científicos da Comunicação (1973), Teoria Geral da Comunicação (1977, 1982), Teoria geral da comunicação de massa (1986). Ele deixou também um vasto acervo hemerográfico, constituído por inúmeros artigos dispersos em revistas especializadas. Integram ainda o seu legado vários ensaios, depoimentos e outros gêneros, publicados em anais, antologias, apostilas, ou textos que podem ser considerados inéditos porque reproduzidos através de tecnologias que ensejam circulação restrita (xérox ou cópia em carbono). Tendo em vista que, após a morte de Beltrão, seu patrimônio documental não foi preservado unitariamente, o acervo dos inéditos e dispersos ainda não foi devidamente inventariado. Uma parte se encontra na biblioteca pública de Brasília que foi batizada com o seu nome. O restante ficou atomizado nas instituições em que ele atuou ou foi doado pelas família a discípulos e amigos. A Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação vem tentando recuperar esse rico manancial, disponibilizando-o para consulta direta no Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano “José Marques de Melo” (APCLA) (localizado no campus Ruge Ramos, em São Bernardo do Campo) ou para leitura a distância no “Portal Luiz Beltrão”, mantido em parceria com a INTERCOM –www.metodista.br/unesco/luizbeltrao Na tentativa de ampliar a difusão da obra dispersa de Luiz Beltrão, a Cátedra UNESCO/Metodista já promoveu a publicação do livro Folkcomunicação: teoria e metodologia (São Bernardo, 2004), que tem sido muito útil, ao introduzir os novos pesquisadores nesse segmento da produção intelectual do autor. Para comemorar seus 10 anos de atividades, toma agora a iniciativa de reunir nesta edição especial do Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional o dossiê Teoria da Comunicação no Brasil: As idéias pioneiras de Luiz Beltrão. Estão enfeixados aqui alguns textos fundamentais para embasar novas incursões no legado comunicacional do pensador brasileiro. A primeira parte inclui fontes essenciais para a compreensão do seu diálogo com as diversas correntes teóricas e com os autores paradigmáticos que codificaram os processos sociais de comunicação. A segunda parte é constituída por textos que encerram suas observações e reflexões de natureza midiológica, ou seja, focalizando exclusivamente o sistema de comunicação de massa. Finalmente, na terceira parte, está reunida uma seleção das suas anotações críticas sobre a pedagogia da comunicação ou resgatando suas próprias experiências didáticas. Pretende-se, desta maneira, subsidiar o trabalho dos que decidam enveredar pela agenda investigativa antes sugerida ou procurar dimensões inovadoras do pensamento polifacético de Luiz Beltrão. Muitas das trilhas que ele abriu permanecem inexploradas. Algumas, embora desvendadas, continuam suscitando aprofundamento, complementação, contextualização.
INTRODUÇÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRADE LIMA, Zita. Luiz, companheiro de ofícios e sonhos. Brasília: Thesaurus, 1999 BARBERO, Jesus Martín-. Lo que la investigación latinoamericana de comunicación debe al Brasil, In: LOPES, Maria Immacolata V. de (org). Vinte anos de ciencias da comunicação no Brasil: avaliação e perspectivas. São Paulo: INTERCOM, 1999, pp. 31-48 BARROS, Antonio Teixeira de. Relações Públicas e Folkcomunicação: reflexões à luz da teoria da ação comunicativa, Comunicação & Sociedade, 34. São Bernardo do Campo: Metodista, 2000, pp. 145-159 BELTRÃO, Luiz. Metodologia en la Enseñanza de la Técnica del Periodismo. Quito: CIESPAL, 1963. BELTRÃO, Luiz. Comunicação e Folclore. São Paulo: Melhoramentos, 1971. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: teoria e metodologia. São Bernardo do Campo:Metodista, 2004. BENJAMIN, Roberto. Itinerário de Luiz Beltrão. Recife: UNICAP, 1998. BENJAMIN, Roberto. Expandindo a proposta da obra fundadora. IN: Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, n. 5. São Bernardo do Campo: Metodista, 2001, pp. 17-24 BREGUEZ, Sebastião. Folkcomunicação: resistência cultural na sociedade globalizada. Belo Horizonte: INTERECOM, 2004 CARNEIRO, Edison. Dinâmica do folclore.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. CASTELO BRANCO, Samantha. Luiz Beltrão: da criação do ICINFORM à teoria da folkcomunicação, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Umesp,1999, pp. 193-212. DUARTE, Jorge. Luiz Beltrão, um autodidata abrindo picadas no campo da Comunicação. In: MARQUES DE MELO, José & DUARTE, Jorge (orgs.). Memória das Ciências da Comunicação no Brasil: Os Grupos do Centro Oeste. Brasília: UniCeub, 2001, pp. 127-155 ECO, Umberto. Artigo publicado no jornal L´Expresso, Milão (10/1966) parcialmente reproduzido em ANDRADE LIMA, Zita - Luiz, companheiro de ofícios e sonhos. Brasília: Thesaurus, 1999, p. 56 FELICIANO, Fátima. Luiz Beltrão, um senhor do mundo (tese de doutorado). São Paulo: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 1993. GOBBI, Maria Cristina. Contribuições brasileiras para os estudos comunicacionais, IN: HOHLFELDT, Antonio & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Teoria da Comunicação: Antologia de Pesquisadores Brasileiros, Porto Alegre, Sulina, 2004, pp. 19-31. HOHLFELDT, Antonio. Folkcomunicação: positismo oportunista de quase meio século. IN: Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, n. 5. São Bernardo do Campo: Metodista, 2001, p.25-34. HOHLFELDT, Antonio. Luiz Beltrão: do jornalismo à literatura. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. XXVI, n. 1. São Paulo: INTERCOM, 2003, pp. 69-78 MARANINI, Nicolau. A trajetória de um pioneiro: Luiz Beltrão. IN: PCLA – Revista Científica Digital do Pensamento Comunicacional Latino-Americano, v.1., n. 1, www.metodistas.br/unesco/PCLA/ index.htm, 1999. MARQUES DE MELO, José. Comunicação e Classes Subalternas. São Paulo: Cortez, 1980, pp. 11-14. MARQUES DE MELO, José. Comunicação e Modernidade. São Paulo: Loyola, 1991, pp. 146-153. MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional. São Paulo: Paulus, 2003, pp. 329-345. MESQUITA, Mariana. Folkcomunicacação e hibridação cultural: interação de aportes para pensar as culturas populares. IN: Comunicação & Sociedade, n. 34. São Bernardo do Campo: 2000, pp. 145-160 NAVA, Rosa. Comunicações & Problemas: o primeiro periódico de estudos e pesquisas em comunicação no Brasil, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Metodista, 2002, pp. 181-192. NÓBREGA, Maria Luiza. ICINFORM, uma experiência pioneira, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Metodista. São Bernardo do Campo, 2000, pp 157-166.
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III – PEDAGOGIA DA COMUNICAÇÃO
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APRENDIZAGEM
DA
C IÊNCIAS
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APRENDIZAGEM DA CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO EM PERNAMBUCO*
Luiz Beltrão
História – o Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, que está sendo presentemente erigido em Instituto de Ciências da Informação (ICINFORM) 1, foi autorizado a funcionar em 1960 e já no ano seguinte contava com 32 alunos da turma pioneira. De acôrdo com a organização de ensino superior no Brasil, é um curso da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, embora de caráter específico, tendo a duração de três anos. Currículo – Na 1° série, lecionam-se as seguintes disciplinas: Técnica de Jornal (Prof. Luiz Beltrão); História e Legislação de Imprensa (Prof. Sanelva de Vasconcelos); Língua Portuguêsa (Prof. José Brasileiro Vilanova); Inglês (Prof. Mary Bubaun); História Antiga e Medieval (Prof. Potiguar Matos); Geografia Humana (Prof. Manuel Correia de Oliveira Andrade); História do Brasil (Prof. Gabriel Assunção); Psicologia Social e Doutrina Social da Igreja (Prof. pe. Môsca de Carvalho). 2° série Técnica de Jornal (Prof. Luiz Beltrão); Publicidade (Prof. Beraldo Lucena e Melo); Literatura Portuguêsa e Brasileira (Prof. José Brasileiro Vilanova); Administração de Jornal (Prof. Manuel Viana de Vasconcelos); História Moderna e Contemporânea (Prof. Amaro Quintos); História da Arte (Prof. Inaldo de Melo Medeiros); Cultura Religiosa (Prof. pe Barros Leal). 3° série: Técnicas de Jornal e Periódico (Prof. Luiz Beltrão); Rádiojornalismo (Prof. Humberto Pinto); Ética Geral e Profissional (Pe. Mosca de Carvalho). Sociologia (Prof. Abdias Moura); Política (Prof. Palhares Moreira Reis); Cultura Brasileira (Prof. Costa Pôrto), Relações Públicas (Prof. Manuel Viana de Vasconcelos) e Economia Política (Prof. Antônio Germano). * Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 1:1 (1965), pp. 6-8. 1 This section records the activities of ICINFORM, since it was funded in 1961, with the purpose of supplying a professional university background to those who intend to major in Journalism. Among the details presented, the number of graduates is of special interest – 13 in 1963, and 22 in 1964, totalling 35, of wich 14 (40%) are already working in newspapers, radio and television stations, publicity agencies and public relations activities.
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Ação Didática – Além das aulas e trabalhos escolares, são proporcionado aos alunos estágios nos jornais, rádio-emissoras, estações de televisão, assessorias de imprensa e de relações públicas e de agências de publicidade. Visitas de observação e estudos são realizadas a serviços públicos e instituições diversas, já tendo sido alvo dessas entidades a Universidade Rural, Movimento de Cultura Popular, Penitenciária Agrícola de Itamaracá, Colônia Penal Feminina, Gabinete de Medicina Legal, terminal petrolífero da Esso Brasileira de Petróleo, fábrica de farinha panificável e rações balanceadas do Moinho Recife, industria de óleos vegetais da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (SANBRA), Companhia de Borracha Sintética (COPERBO) e oficinas dos diários do Recife, bem como estações de rádio e televisão. Anualmente, os alunos da 2° série participam de um concurso de reportagem, que confere ao vencedor o “Prêmio Aníbal Fernandes”, instituído pelo Moinho Recife. Periòdicamente, promovem-se trabalhos de pesquisa de opinião e investigação científica do jornalismo, estando em fase de conclusão os estudos efetivados sôbre a secção policial nos jornais recifenses, durante uma semana, no ano de 1963. trimestralmente, é editado um jornal-laboratório pelos alunos e, a partir deste ano, cada quatro meses será posta em circulação esta revista. Conceito – Nos meios universitários, em seus quatro anos de funcionamento, o Curso de Jornalismo adquiriu apreciável conceito, que se manifesta pelo crescente número de alunos matriculados: em 1961, 32; em 1962, 52; em 1963, 72 e em 1964, 92. Recebido com a natural reserva nos círculos profissionais, não tardou em despertar confiança, notadamente pelas iniciativas de caráter cultural ( pesquisas de opinião, elaboração de reportagens e métodos de aprendizagem desenvolvidos). A atuação dos estágios e a admissão de bacharéis de jornalismo nas redações dos jornais e departamentos de rádio e telejornalismo, assim como em agências de publicidade e serviços de relações publicas comprovam a crescente integração de jornalistas de formação universitária no exercício profissional. Colaboração de firmas comerciais e industriais, estabelecendo prêmios para os melhores alunos e bolsas de estudo trouxeram para o CJ do Recife a assistência incentivadora da comunidade. Entre as firmas que cooperaram nêsse sentido figuram: Moinho Recife S.A., Esso Brasileira de Petróleo, Sanbra S.A., Cia. Produtos Pilar, Pernambuco Tramways, Banco Nacional do Norte, Casas José Araújo, Queiroz Campos & Cia., Cia. Tecidos Paulistas, José Lobo Comércio e Indústria, Cotonifício da Torre. Finalmente, temos a registrar a projeção internacional que obtivemos, mediante o convite do CIESPAL para que o prof° Luiz Beltrão ministrasse ali uma das classes do IV Curso Internacional de Aperfeiçoamento de Jornalistas, realizado em Quito, em 1963, curso ao qual concorreu, como bolsista da Ford Fundation, o prof. Senelva de Vasconcelos; e, em 1964, no Curso, como bolsista, da UNESCO, o bacharel em jornalismo Maria José (Zita) de Andrade Lima, ingressa do Curso em sua turma pioneira.
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Atualmente, dois alunos do CP Recife são candidatos a bolsas pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para um ano de especialização em universidades norte-americanas. Além disso, mantém o ICINFORM contacto permanente, por correspondência, com diversas escolas de jornalismo estrangeiras notadamente com as das Universidades de Concepción (Chile), Católica do Peru (Lima), e Vera Cruz (México) e de Guayaquil (Equador). Diplomados – Receberam diploma de bacharel de jornalismo pela UCP, 13 concluintes em 1963, e 22, em 1964, perfazendo um total de 35 jornalistas de formação universitária, dos quais 14 (40%) já se encontram em exercício profissional, a saber da Turma de 1963 – Francisco César Leal, redator do “Diário de Pernambuco” e diretor do seu suplemento literário; José Pires Neto ( Frei Urbano de Sertânia), diretor da revista mensal “Dom Vital”; Luiz de Alencar Bezerra, redator do Departamento de Notícias do Canal 6 (TV e Rádio Clube Pernambuco) ; Manuel Luiz Ramalho, repórter do Departamento de Notícias da Rádio Capibaribe; Maria José de Andrade Lima (Zita de Andrade Lima), produtora de programas informativos da Radio Universidade do Recife; Roberto Emerson Benjamin produtor de programas informativos da TV e Rádio Clube de Pernambuco; e Vantuil Barroso Filho, redator da Assessoria de Imprensa do Palácio do Govêrno e produtor de informativos da Rádio Universitária do Recife. Turma de 64: Arnóbio Fernandes da Silva, redator da Assessoria de Relações Públicas da Prefeitura do Recife e repórter do “Diário da Noite”; Enildo de Oliveira, redator do Serviço de Divulgação da ANCARPE; Eulália da Costa Lopes, repórter da sucursal de “O Globo”, Inalda de Morais Pinho, repórter do “Diário de Pernambuco”; Isabel Walkiria de Freitas, repórter do “Jornal do Comércio”; José Marques de Melo, redator do Serviço de Divulgação da SUDENE; e Ronildo Maia Leite, redator da Abaeté Propaganda. Diversos – O Curso de Jornalismo da Universidade Católica funciona à rua do Príncipe, 526, no Recife, Brasil, sendo o seu coordenador o Prof° Luiz Beltrão, diretor do Instituto de Ciência da Informação (ICINFORM). – É de sua iniciativa e responsabilidade o I Curso Nacional de Ciências da Informação, que a partir deste ano funcionará como curso de extensão universitária nos meses de férias (janeiro a março), com o objetivo de ministrar melhores conhecimentos sôbre os modernos processos e técnicas da comunicação coletiva, pesquisa social e investigação científica do jornalismo, bem como a conjuntura sócio-econômica e cultural da região nordestina do Brasil. – Consta no programa anual de atividades do ICINFORM uma excursão coletiva dos seus alunos, no mês de julho (férias universitárias) a uma região previamente escolhida no Brasil ( ou do estrangeiro) para colher material informativo destinado aos trabalhos e pesquisas escolares. Para 1965, foi escolhida a região amazônica. Através de visitas de alunos e professores, vem sendo mantido proveitoso intercambio com diversas instituições de ensino superior do país, como a Escola de
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Jornalismo Casper Líbero, a Fundação José Augusto (Natal, RGN), Reitoria da Universidade de Juiz de Fora (MG), Curso de Jornalismo da PUC do Rio de Janeiro ( GB), Reitoria da Universidade de Minas Gerais, Curso de Jornalismo do Instituto Nossa Senhora de Lourdes ( João Pessoa, PB) e outras, esperando maiores contactos doravante. Duas publicações foram editadas, em 1964, pelo ICINFORM e se encontram à venda na instituição: “Técnica de Jornal” ( Apostilas para a 1° série do Curso de Jornalismo), 98 págs. com ilustrações – Cr$1.200 – e um projeto “ A Opinião Editorial pela Imagem”, ilustrado, em uma só folha – Cr$200 ( Atendemse a pedidos pelo reembolso postal). A Opinião pela Imagem – A propósito dessa publicação do ICINFORM, o “Diário de Pernambuco” inseriu o seguinte editorial: “Como o fizera por ocasião da greve dos gráficos, que, durante vários dias, impediu a circulação dos nossos jornais, a cadeia de Técnica de Jornal do Instituto de Ciências da Informação (é o nome atual do Curso de Jornalismo da Universidade Católica) realiza agora nôvo trabalho prático com os seus alunos. Chama-o.”A opinião editorial pela imagem” e trata de pesquisar êsse tipo de opinião através das fotografias publicadas em nossos diários, durante a recente greve operária aqui ocorrida. Reproduzidas tôdas em projeto, para facilidade nos confrontos, verifica-se que, enquanto algumas são inexpressivas, outras ganham extraordinária eloqüência opinativa pela colaboração muito bem aproveitada de certos pormenores de ambiente. Mas aí entra uma agente que a pesquisa omitiu em suas referencias: a arte fotográfica em si mesma. Sem ela não há imprensa que possa “falar” através de suas gravuras. As gravuras consistem elementos relativamente nôvos na história e na fatura de nossos jornais. Possuem voz muito cheia de alternativas, que não podem alcançar os melhores tons sem o auxílio dos fotógrafos. O fato não é uma cara solitária de gente, que se fotografa de frente ou de lado, grave ou alegre, e quase sempre dá certo. Os fatos, sobretudo os políticos, apresentam imensa mobilidade na eclosão e no desenvolvimento, multiplicam-se nas faces e as faces nos rictos que solicitam os flagrantes. Têm numerosos processos de exteriorização e objetividade. Daí êste dever na imprensa moderna: o de proteger os fotógrafos contra as economias prejudicais. Eles devem devem ser instruídos de bater de cada coisa as chapas que fôr possível fazer. Pouco importa, no caso que, após a revelação, vinte ou trinta sejam arquivadas, sem valia pelo menos imediata. Salvando-se uma, do ponto de vista artístico e correspondência com o ângulo do acontecimento que se pretende focalizar no momento, todo o esforço foi salvo e compreendido. Só assim o jornal tem o direito de escolha e poderá fazer coincidir a imagem com a sua opinião. Orientando pela primeira vez uma pesquisa dessa espécie no Recife, o jornalista Luiz Beltrão, da cadeira de Técnica de Jornal, identifica os estudantes com “mais um importante aspecto da vida no jornal”.
GÊNESE DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO*
Luiz Beltrão
O Instituto de Ciências da Informação nasceu do desejo expresso pela primeira turma de bacharéis em jornalismo saída desta Universidade, há pouco mais de um ano, de não perder o contacto com este centro de ensino, pesquisa e formação, único em nosso Estado a efetivar um trabalho sistemático de análise dos fenômenos da informação. Conscientes da importância fundamental da Comunicação Coletiva, em cujos órgãos e veículos iriam desenvolver as suas atividades, numa sociedade de massas e numa época caracterizada pelas mais agudas crises e pelas mais bruscas transições – aquêles jovens egressos de um curso de jornalismo novo e ainda naturalmente deficiente sentiam que, mergulhados no exercício profissional, muitas e muitas vêzes iriam ficar perplexos diante das facetas, contradições e obstáculos que lhes surgiriam, requerendo equacionamento, meditação, estudo, apreciação crítica – tudo quanto lhes estaria vedado ou lhes seria difícil em outro ambiente que não o universitário. O Instituto, como unidade viva e atuante de um centro de cultura superior, seria o laboratório ao qual trariam as suas experiências, colhidas na prática do ofício, para ser submetida aos testes e reações da ciência, proporcionando-lhes – e aos seus futuros colegas, os estudantes – novos elementos e orientação para o aperfeiçoamento das tarefas a seu cargo na vida da comunidade: a transmissão de fatos, idéias, manifestações da cultura humana e normas de comportamento social. Êste I Curso Nacional de Ciências da Informação é a resposta dos que aqui ficamos ao idealismo dos bacharéis em jornalismo da turma pioneira de 1963. Para muita gente é esquisito falar em “ciências da informação”. E a despeito da apresentação de dados estatísticos, demonstrando que em todo o mundo se ensina, pesquisa-se, estudam-se os processos e as técnicas dessa função biológica e social – há espíritos apegados como ostras à teoria da geração espontânea de * Discurso na abertura do I Curso Nacional de Ciências da Comunicação. Recife; ICNFORM, 1965. Edição lançada durante a realização do I Curso Nacional de Ciências da Informação, promovido pelo ICINFORM, com a participação da SUDENE e de outros públicos do Nordeste
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jornalistas, de publicitários, de homens de relações públicas, de especialistas em audio-visuais, de pesquisadores sociais, de diretores e produtores de rádio, televisão, teatro e cinema, de agentes de turismo, de realizadores de inquéritos e levantamento de opinião e atitude. São espíritos que permanecem retardados no tempo- o tempo do empirismo e da improvisação, que o comunicador era um vocacionista e um intuitivo, e não o profissional reclamado pela revolução tecnológica dos nossos dias, num mercado de trabalho que se amplia a cada momento, criando ou desenvolvendo uma maior necessidade de preparo e competência. Em página de maior penetração e oportunidade, David K. Berlo acentua que muitos comentaristas sociais chamam a esta a idade da manipulação dos símbolos. “Nos dias dos nossos avós – acrescenta – a maior parte das pessoas ganhava a vida manipulando coisas, não manipulando símbolos. Progredia o homem capaz de forjar uma ferradura melhor, de colher o melhor produto agrícola, de construir a melhor ratoeira. A comunicação era importante também naquele tempo, é claro, mas era menos relevante para a carreira do homem. Os tempos mudaram e continuam mudando, Na indústria, a revolução tecnológica e o autodesenvolvimento da fôrça operária levaram à maior confiança nos símbolos e menor nas coisas. Por exemplo, a indústria tornou-se socialmente consciente em si. O público encara hoje a indústria como instituição social – com responsabilidade social. Os trabalhadores organizaram-se e apontam as fraquezas e deficiências da administração. Isto obrigou a criação de departamentos industrias de relações e informações públicas; departamentos de relações trabalhistas e de relações entre empregados. Os departamentos patronais têm contrapartida entre os trabalhadores. Todos podem ser chamados de comunicação. Sua principal tarefa é o preparo de divulgação de mensagens destinadas a “contar” histórias seja da administração, seja da mão-de-obra... Com a difusão das habilidades técnicas, o produto de uma companhia tornou-se tão similar ao produto de companhias concorrentes que muitas vezes não há como distinguí-los. Assim, as emprêsas precisam criar diferenças de nomes e marcas para produtos equivalentes. O resultado é a crescente importância da “imagem da marca” como técnica de venda, exigindo a elaboração e emissão de mensagens que dêem valor psicológico ao produto. Sabão é sabão – mas Zest é muito diferente de Dial... A própria produção industrial passou a orientar-se mais pelos símbolos... Há 50 ou 70 anos, o gerente de uma organização industrial conhecia tôdas as operações executadas em sua oficina. Era capaz de explicar cada técnica, de executar êle próprio a maioria das tarefas. Com o desenvolvimento da automação e da produção em massa, vimos o aparecimento do gerente profissional, o homem que chega ao topo da escada não pelo que é capaz de fazer com as coisas mas pelo que pode fazer com as pessoas – por meio da comunicação... A maior parte do trabalho se gasta “falando”, dando informação aos subordinados, recebendo informações da alta direção e transmitindo-as, reunindose com colegas para discutir programas, entrevistando-se empregados para evitar
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GÊNESE
DO I NSTITUTO DE
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queixas e aumentar a eficiência, lendo e escrevendo memorandos, a fim de coordenar os vários departamentos em uma única unidade de trabalho. À medida que se desenvolve a automação, até o operador de máquina está passando a gastar mais tempo manipulando símbolos e menos tempo manipulando máquinas. Eis porque – senhoras e senhores – êste Curso surgiu, reunindo como alunos não sòmente profissionais de qualquer setor do campo da comunicação, mas também interessados em atualizar os seus conhecimentos nos últimos progressos das técnicas de informação. Funcionários do govêrno que, não faz muito, estruturou um serviço nacional de informações, objetivando dinamizar a colheita, interpretação e divulgação de notícias para o público e de recolhimento de dados essenciais ao desenvolvimento de sua ação administrativa e política; profissionais liberais, trabalhadores do comércio e da industria, líderes sindicais, eclesiásticos, educadores e estudantes. A nossa região nordestina, que tem em Pernambuco o seu Estado-líder, é uma vítima da falta de informações. Quem vive no sul do país – e muitos de nós que aqui nascemos e permanecemos – têm sôbre o Nordeste uma idéia geralmente equivocada. O estereótipo nordestino é o da sêca, do pau-de-arara, do homem doente, esfarrapado e sem qualquer habilitação para o trabalho, que estende a mão à caridade pública no asfalto selvagem do Rio e de São Paulo. A imagem do nordestino que aqui ficou, que recusou imigrar, é a do cangaceiro chapéu-de-couro, cheio de medalhas, de trabuco e cartucheira, de faca peixeira à cintura, assaltando usinas e engenhos, incendiando canaviais, tornando impossível a implantação de indústrias, a criação de riquezas, a justa recompensa dos investimentos. Eis o retrato: a terra é ária, madrasta, desolada – terra sem Deus; o homem é selvagem, ignorante, preguiçoso – homem sem futuro. Um escritor estudioso de economia, diante de uma crise na produção do seu rico estado natal, não hesitou em apontá-lo como “um novo nordeste”. A fábrica nacional da álcalis foi instalada no estado do Rio, deixando-se sem aproveitamento as jazidas de sal gema de Sergipe, as reservas do sub-solo nordestino – do Rio Grande do Norte, do Ceará, de Pernambuco ou não são exploradas ou, com aquela tenacidade que fez Euclides da Cunha classificá-lo de “antes de tudo um forte”, o nosso sertanejo as vai arrancando do solo com os mesmos precários instrumentos que os seus antepassados usavam nos distantes tempos coloniais. Embora iniciativas pioneiras, como a da Cinzano- em relação à uva, a da Pilar – em relação ao trigo; a da Zabelê, com o sisal; a de Garanhuns e municípios vizinhos, com cafés finos – ou a de todos os sertanejos ribeirinhos de São Francisco, com a cebola – provem que também aqui “ em se plantando tudo dá” – continue-se a considerar perda de tempo e dinheiro empreender obras de irrigação e açudagem, construir silos e armazéns, dinamizar a eletrificação rural, implantar indústrias e abrir ou pavimentar rodovias completandose a ligação interna entre o nordeste e o extremo-sul. E nem os oásis nordestinos
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de Alagoas e Maranhão, mesopotâmicos e tremendamente férteis, escapa à configuração caricaturesca e depreciativa: - num só dá sururu e pistoleiro; na outra, poeta e babaçu. O algodão e o sisal da Paraíba, riquezas vegetais que poderiam mitigar a nossa sêde de divisas, exigem periódicas viagens do governador e dos produtores – dias e dias de Brasília para o Rio, de Pilatos para Herodes – nas desesperadas tentativas de manutenção, através de preços compensadores, dos esforços desprendidos. E o mesmo se dá com o açúcar e o álcool de Pernambuco, com o gado do Piauí e da Bahia, com o sal potiguar, com a fabulosa produção de cereais dos vales cearenses. O descrédito do Nordeste provocado pela ausência de informações é reconhecido pelo atual Superintendente da SUDENE, que enceta, agora, uma ampla campanha de esclarecimento no sul do país sôbre as nossas verdadeiras condições e as possibilidades e perspectivas econômicas da região. Ninguém sabe – nem lá nem aqui – exatamente o que fez a SUDENE nestes cinco anos de atividades; e nem mesmos se sabe bem, nem mesmo se compreendeu com segurança o papel que êsse organismo de coordenação e planejamento econômico desempenha no quadro administrativo do país. Deu-se ênfase demasiada aos aspectos políticos de atividade da SUDENE; seus dirigentes e ela própria foram rotulados e, como resultado dessa publicidade negativa, o art, 34 do Plano Diretor, por exemplo, que seria um caudal imenso de capitais para aplicação rentável na região, foi como êsses nossos pobres ricos temporários, que somem terra a dentro nas grandes estiagem – Moxotó, Pajeú e Brígida, que Agamenon Magalhães – o estadista do Nordeste- tentou um dia perenizar, traçando um plano que, um decênio depois de sua morte, ainda continua em estudos... E ao falar em Agamenon Magalhães, numa região em que se fala do Nordeste, ao tempo em que redemos uma homenagem à sua memória, recordamos as palavras que, certo dia proferiu, de confiança no homem nordestino e de pesar ao constatar o desapreço em que a nossa região era tida nos círculos dirigentes e nos meios econômicos fortes do país – “O Nordeste tem de coser com as suas próprias linhas”. Isso vimos fazendo, senhoras e senhores, e por isso continuamos sobrevivendo. De teimosos. Mas o Brasil é que não poderá por muito mais tempo recusar compreender a problemática da nossa conjuntura social e econômica. No deserto em que se vai transformando o setentrião brasileiro, o Nordeste é a esfinge a lançar à unidade nacional o seu desafio: - decifra-me ou te devoro. Não se trata, aqui, de fôrça de expressão ou de denúncia de algum movimento separatista ou subversivo; apenas, jornalistas e estudiosos dos problemas econômicos, sociais e políticos da atualidade, vemos na situação do Nordeste o esboço de um quadro que foi e está sendo pintado, em côres berrantes e sombrias, na Coréia, no Vietnan e no Congo.
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Esta a razão porque o nosso Instituto estendeu às universidades, escolas de jornalismo, de ciências sociais, aos sindicatos de profissionais de imprensa, rádio, propaganda e associações de relações públicas de todo o país e às empresas jornalísticas, o convite para que viessem ao Recife, nestes 45 dias. Vivendo o quotidiano das nossas vidas, sentindo as nossas dores e as nossas alegrias, escutando as nossas queixas e as nossas esperanças, debatendo conosco os nossos problemas, em seminários orientados pelas entidades de maior responsabilidade e conceito da região e do Estado – a SUDENE, a CHESF, o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, a Comissão de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco, a Prefeitura do Recife, o grupo executivo de Açúcar, as Universidades, indo ver in loco o que realizamos e o que temos – as nossas indústrias, a nossa agricultura, o nosso artesanato, o nosso folclore, a nossa atividade cultural e social – êsses nossos visitantes terão todos os elementos para dizer, através dos seus veículos de divulgação, que o Nordeste, como a Igreja nas quatro semanas que precedem o Natal, está na fase do Advento. Época de sacrifícios, de penitência, de renúncia, de oração. Mas época de fé, de confiança, de expectativa – pois, como uma imposição da conjuntura internacional, estamos no limiar daquêle “padrão social e político completamente novo”, de que nos fala o imortal Pontífice João XXIII em sua encíclica “Pacem in Terris”. O fenômeno da ascensão das comunidades políticas em fase de desenvolvimento econômico; e fenômeno do despertar das classes trabalhadoras urbanas e rurais para a conquista de bens culturais e morais como de seu lugar na super-estrutura política; o fenômeno do ingresso da mulher na vida pública, reivindicando direitos e deveres consentâneos com a sua dignidade de pessoa, tanto na família como na sociedade; o fenômeno do repúdio a qualquer tipo de discriminação à base de diferenças raciais, sociais ou econômicas são características da contemporancidade. Por mais que fechem os olhos a essa realidade, como avestruzes mergulhando a cabeça no chão como perus, mantendo-se isolados em círculos de giz, as elites dirigentes empedernistas, despreparadas ou atrabilitárias não poderão conter a evolução da sociedade humana nos nossos dias, em que as relações de convivência as coloca – como o advertiu João XXIII- em termos de direito e dever; no titular de direitos, o dever de reclamar êsses direitos, como expressão da sua dignidade; nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos. Assim, “os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, quais os da verdade, da justiça, da caridade e da liberdade, tornando-se cônscios de pertencerem àquele mundo”. Consideramos, senhores e senhoras, que tempo de realizarmos um trabalho orientado no sentido de serem desfeitos os equívocos em que nos achamos enredados e que constituem, sem dúvida, o principal obstáculo a um programa desenvolvimentista de ritmo acelerado como o que está a reclamar o nosso país. Aos pesquisadores e cientistas, compete a observação e o estudo; aos técnicos, o
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planejamento; aos homens do gôverno, a execução. Mas a ação desses elementos fundamentais da sociedade restará inútil se as massas ignorarem os seus estudos e pesquisas, os seus planos e a sua decisão de promover o bem comum. Aqui, a divulgação é o nosso trabalho – o trabalho do homem de informação. Que fazer com o acêrvo de conhecimento que os seminários sôbre a conjuntura nordestina e a problemática da atualidade pernambucana proporcionarão aos alunos dêste Curso? Como utilizar esse material – ou qualquer outro elemento colhido nas fontes da ciência, da técnica, da indústria, do comércio, da iniciativa liberal, no seio das classes trabalhadoras ou nas repartições governamentais, nos círculos artísticos e no mundo da criação literária e poética – como acumular, interpretar e divulgar informações para êsse público de quase 80 milhões de indivíduos dispersos no imenso território de 8 milhões de quilômetros quadrados, com vistas ao desenvolvimento nacional? Quais os processos da comunicação de massa, quais os seus canais e veículos e instrumentos, quais os efeitos das suas mensagens, como evitar o desperdício, como melhorar a eficiência da comunicação para o desenvolvimento? Estes, os temas palpitantes das conferências e dos debates do seminário sôbre Comunicações e Desenvolvimento Nacional, com que encerraremos êste Curso. Quase cem alunos inscritos, duas dezenas deles vindos de outros Estados, demonstram felizmente o acerto da iniciativa do Instituto de Ciências da Informação a oportunidade e a aceitação de seus propósitos aqui expostos. Desejamos que as autoridades, os líderes da nossa comunidade nordestina, os estudiosos e quantos contribuem para a construção de um Estado Nacional coeso e vigoroso pelo equilíbrio econômico e social harmônico das suas regiões geográficas, dentro das linhas democráticas da nossa tradição histórica e dos anseios das pessoas humanas plenamente conscientes do seu destino e do seu futuro – desejamos que compreendam o nosso objetivo e o aceitem como uma contribuição efetiva à tarefa comum, árdua mas básica, da manutenção e projeção para o amanhã de uma pátria livre e próspera, a cumprir no concêrto das nações a missão cristã do amor, da paz e do entendimento entre todos os homens e todos os povos.
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Prof. Luiz Beltrão
Para comenzar la exposición del punto que nos cabe tratar, citaremos a dos de los más autorizados estudiosos de los fenómenos de la comunicación colectiva y su repercusión en la opinión pública: Bernard Berelson y Bruce L. Smith, ambos norteamericanos. Berelson escribió certa vez: Si tenemos que inculcar en la mente de los hombres la necesitad de la defensa de la paz y la prosperidad, para no mencionar otras condiciones políticas ventajosas, resulta evidente la posición crítica de la comunicación colectiva y de la opinión pública con referencia a esta defensa. Pero no es tan exacta esa evidencia porque los sociólogos han prestado poca atención sistemática a los problemas de la formación de la opinión pública, en especial en lo referente al papel de los medios de comunicación colectiva en esta materia... En todo caso, hoy se desenvuelve en el campo del interés y es razonablemente claro el motivo de tal desenvolvimiento. La preocupación del sociólogo por los partidos políticos se generalizó hasta hacerse extensiva a las funciones que desempeñan los grupos que ejercen presión en la vida política. El interés por los grupos de presión llevó directamente la preocupación por la opinión pública y por los efectos que sobre ella tenía la propaganda. Por esta época, los técnicos comenzaron a crear instrumentos científicos para medir la opinión pública; vigorosamente entró en escena un nuevo medio de comunicación colectiva con grandes posibilidades de influencia popular; en una serie de elecciones presidenciales, el pueblo votó abrumadoramente por un candidato, mientras que los periódicos votaron activamente por su opositor. Y una guerra mundial ha hecho más clara y más urgente la batalla para conquistar la mente de los hombres. Así, el escenario del interés académico estaba listo, precisamente * Capítulo do livro “Enseñanza de periodismo y medios de información colectiva”, Quito, Ciespal, 1965, pp. 339-358.
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cuando ciertos acontecimientos dramáticos revelaron la urgencia del problema, y cuando los avances técnicos proporcionaron los medios para llegar siquiera a una pocas soluciones. Como resultado de eso, el interés en la comunicación colectiva y en la opinión pública llegó al punto más alto de todos los tiempos 1.
Smith con su experiencia como miembro del Instituto de Servicio Extranjero de los Estados Unidos de América y ahora miembro del cuerpo docente de la Escuela de Ciencias Políticas de Michigan State College, en un ensayo sobre las investigaciones de la comunicación en los países no industrializados, llama la atención hacia el hecho de que “los norteamericanos como relativamente nuevos en la adquisición de grandes responsabilidades internacionales”, necesitan fomentar las investigaciones sobre los procesos de la comunicación colectiva entre los países que tienen grados variables de industrialización pues “muchos de nosotros nos hallamos más desconcertados de lo que deberíamos estar por los pequeños efectos producidos por nuestras informaciones oficiales sobre el comunismo en la China, la neutralización de la India, la intransigencia del Irán o de Egipto, y sobre los núcleos del comunismo y del fascismo en América Latina” 2. Así, en consecuencia de su situación interna causada por el impacto de aquellos factores enumerados por Berelson y de su posición en el liderazgo internacional, enfrentando una batalla de propaganda y persuasión por la conquista de áreas de influencia y lealtad en tes continentes, conforme Smith, los Estados Unidos ampliaron considerablemente sus trabajos en el campo de la investigación de la comunicación, trabajos a los que hoy se dedican estudiosos especialistas de las Ciencias de la Información y del Comportamiento en institutos, universidades y organismos privados. EL FENÓMENO DEL BRASIL Muchos de estos acontecimientos – la guerra mundial, el advenimiento de la televisión, el conflicto de las ideologías políticas, las aspiraciones de paz y prosperidad y hasta el fenómeno producido en las elecciones presidenciales, en que el pueblo votó por el candidato contrario al apoyado por la mayoría de los órganos de divulgación – fueron acontecimientos que incidieron fundamentalmente en el Brasil. Por otro lado, en su calidad de líder, no sólo por su extensión territorial, sino, principalmente, por su desenvolvimiento industrial, necesita urgente y decisivamente hacerse comprender para que sea posible aquella integración ideal del bloque de naciones 1
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BERELSON, Bernard. La Comunicación Colectiva y la Opinión Pública. En: Proceso y efectos de la Comunicación Colectiva. Quito: CIESPAL, 1964. SMITH, Bruce L. Investigaciones de la Comunicación en los Países No Industriales. En: Proceso y Efectos de la Comunicación Colectiva. Quito: CIESPAL, 1964
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latinas en América, única forma de constituirse en fuerza poderosa para el equilibrio mundial, con el objeto de luchar por la paz y conquistar la prosperidad. Ni con tan poderosos motivos y contundentes razones, nuestros sociólogos, sicólogos e investigadores se han detenido hasta hoy, con seriedad y disposición, a investigar el proceso y los efectos de la comunicación colectiva. No me equivoco al afirmar que ésta el la primera vez, en nuestro país, que, de una manera sistemática, reunidas en seminario, personas de responsabilidad en la utilización de vehículos de la información, se disponen a abordar temas y problemas básicos en este importantísimo campo de la actividad social. Seguramente este hecho se debe, en gran parte, a nuestra tendencia a la improvisación, al desamor tropical que tenemos por la investigación, a la filosofía del conformismo (deja- como –está – para – ver – como – queda), y hasta un cierto grado de suficiencia de lo que poseemos: si ya sabemos que la prensa es el cuarto poder, porque la propaganda es el quinto, ¿para qué perder tiempo y dinero (que no es escaso, convengamos) con investigaciones sobre opinión y actitudes? Este Seminario puede ser el punto de partida para una acción conjunta entre los estudiosos de las ciencias del comportamiento y de la información, los dirigentes de diarios, radiodifusoras y estaciones de televisión, los elementos representativos de las entidades profesionales, los periodistas e profesores de periodismo, para llevar a la práctica una política de mejoramiento y mayor rendimiento de los medios de comunicación colectiva en el Brasil y en América Latina en cuyas naciones las características del problema son prácticamente las mismas. COMPLEJIDAD DE LA COMUNICACIÓN Por comunicación colectiva entendemos la forma de transmisión de ideas, informaciones o actitudes, por instituciones o personas institucionalizadas e especializadas, utilizando diferentes instrumentos y técnicas para alcanzar públicos grandes heterogéneos y dispersos. Un fenómeno con tales características y funciones, con una diversificación cada día mayor de medios y canales, con una multiplicidad sorprendente de manifestaciones, cuyo sistema genérico, condiciones socio-culturales, sicológicas y mecánicas y cuyos efectos para ser evaluados reclaman no solamente la clasificación y medición del público receptor, sino la contradicción y la estimación valorativa respecto de otros fenómenos y situaciones de orden general que dirigen, en el momento analizado, el comportamiento colectivo, la personalidad de los grupos organizados, la situación socio-económica y cultural de la comunidad como un todo y hasta el cuadro sicológico de la actualidad universal – este complejo fenómeno de la comunicación colectiva exige, en el mundo contemporáneo, sin duda alguna una constante y efectiva investigación. LAS INVERSIONES PARA LA INVESTIGACIÓN “¿Qué hace la comunicación en la sociedad” – indaga Schramm y él mismo
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responde: “mantiene activas las relaciones entre individuos, grupos y naciones. Orienta los cambios y conserva la tensión a un nivel tolerable.” Por eso siempre que hay posibilidad que hay posibilidad de algún cambio o penetración en la sociedad se observa también un gran volumen de comunicaciones, por ejemplo “cuando un grupo comprende que uno de sus miembros se aparta, le insta a que retorne a su medio con frecuentes y copiosas comunicaciones o se revele como un caso perdido. Cuando un país resuelve industrializarse, aumenta sus comunicaciones para informar a pueblo y motivarlo”. Decíamos que uno de los motivos que nos llevaron a estar al margen del movimiento mundial en torno de la investigación científica de la comunicación colectiva era el económico: ni el Gobierno ni los particulares se disponen a invertir en investigaciones sus limitados capitales. En verdad, esa perspectiva de apreciación del problema es por demás simplecita, propia de la mentalidad subdesarrollada y con falta de madurez. “La investigación de la comunicación nos aclara Schramm, trata de la manera de emplearla eficientemente, de ser clara y de ser comprendida; de los métodos para usar los medios colectivos; de la posibilidad de que las naciones se entiendan; del uso que dé la sociedad a los medios colectivos para que se torne feliz: y, de una manera general, de cómo funciona el proceso básico de la comunicación” 3. Ahora todo esto vale dinero; la inversión será así, económicamente rentable. Recientemente el Brasil se vio de pronto ante una situación que hubiera sido fácil de superar y hubiera ofrecido mejor y más rápido rendimiento, si hubiéramos estado científicamente preparados para enfrentarla: necesitamos explicar a las naciones libres y democráticas los motivos de la Revolución de Marzo, de la deposición de un gobierno constitucional y la implantación de otro, mediante un acto institucional. La tarea se presentó tan compleja porque los organismos políticos y administrativos del país se encontraban desprovistos para ejecutarla y uno de los primeros actos del Gobierno fue la creación del Servicio Nacional de Informaciones, seguida más tarde, de otra medida que, personalmente, la considero una de las más relevantes que se adoptaron este año, en el campo específico de las comunicaciones: establecimiento de un curso de Información en la Escuela Superior de Guerra. No pocas han sido las voces autorizadas que, a través de la prensa nacional y extranjera, señalaron como el principal motivo, la poca receptividad popular a las directrices políticas y económicas gubernamentales y la falta de un eficiente sistema de divulgación nacional e internacional. Es de toda evidencia que no será partiendo de supuestos, de estereotipos y premisas construídas por nuestro empirismo autosuficiente, que consigamos poner en funcionamiento una estructura de comunicación, capaz de estar seguros 3
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de su eficiencia en los momentos de nuestra historia política y social, en que necesitemos movilizar a la opinión pública o transmitir, con resultados positivos, nuestro mensaje a los demás pueblos, naciones y gobiernos. Tenemos que investigar nuestras ideas matrices sobre cualquiera de los elementos y factores del proceso de la comunicación, bajo pena de cometer errores y no conseguir alcanzar a nuestro público. LA INVESTIGACIÓN DESTRUYENDO TABAS Nos permitimos aquí ilustrar esa afirmación con una experiencia personal. En los medios periodísticos de Recife, siempre juzgamos que el público prefería la radio a los periódicos y que las secciones de policía y deportes eran las que más atraían a los lectores. Una huelga de 20 días de los trabajadores gráficos de Pernambuco, privóa la ciudad de periódicos, desde el 21 de marzo hasta el 9 de abril de 1963. Con nuestros alumnos del Curso de Periodismo de la Universidad Católica de Pernambuco realizamos una investigación de la opinión, preguntando a personas de diferentes clases sociales, profesiones, grados de instrucción, edad y sexo: 1) ¿usted está sintiendo la falta del periódico diario? 2) ¿Cuáles las secciones periodísticas que más falta le hacen? 3) ¿Las radios y la televisión substituyen perfectamente al periódico? ¿Por qué? Los resultados nos revelaron un saldo de los más afirmativos a favor de los diarios, sobre todo porque – como muy bien dijo uno de los entrevistados – “la TV y la radio, además de proporcionarnos noticias reducidas e incompletas, nos esclavizan a horarios de los que absolutamente no disponemos”. La otra constatación, nos sorprendió todavía más: las noticias sobre política local e internacional superaban, en la preferencia popular, a las secciones de policía y deportes en las que depositábamos tanta fe. Una segunda investigación, del 1º a 7 de septiembre de 1964, fue realizada con bases más seguras y con método científico, a través del estudio sistemático de la morfología y contenido de las noticias policiales, investigación de la estructura y orientación de los sectores de reportaje policial, de las preferencias del lector y la repercusión de los hechos policiales y su influencia en la circulación y tiraje de los matutinos de Recife: esta investigación, además de proporcionarnos valiosas informaciones sobre las diversas preguntas, confirmó la mayor aceptación de las secciones periodísticas relativas a la política y a los hechos internacionales. Así, nuestros editores saben realmente – y no de oída - lo que deben ofrecer preferentemente a su público y cómo deben hacerlo en lo que atañe a la sección policial. Se dirá, seguramente, que nuestra experiencia, por su limitación no tiene valor y no podría servir de argumento definitivo para destruir los “tabus” de las más arraigadas convicciones que tenemos nosotros, los responsables más directos del proceso de la comunicación colectiva, con respecto a la importancia de los elementos y factores de éxito para la transmisión de nuestros mensajes.
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Veamos, entonces, lo que condujo a los Estados Unidos para convertirse en líder del mudo en el campo de la investigación científica y las sorpresas que los especialistas y estudiosos norteamericanos tuvieron en el transcurso de su trabajo. HISTORIA DE LA INVESTIGACIÓN CIENTÍFICA Según Paul S. Lazarsfeld4 y Elih Katz5, la investigación sistemática de los medios de la comunicación colectiva se inició empíricamente, en la década del 20, provocada por tres acontecimientos: 1) la incorporación del cine y la radio a los medios periodísticos que entonces existían; 2) la gran expansión y sistematización de la propaganda comercial; 3) el aparente éxito de las dictaduras totalitarias con el empleo de la comunicación colectiva para realizar dramáticos cambios de actitud de su población y hasta de poblaciones extranjeras. A priori, se consideraba que el poder de los medios de la comunicación residía en su carácter “colectivo” esto es, en su capacidad de alcanzar simultáneamente a millares de personas e influenciarlas en sus decisiones y actitudes. Investigaciones posteriores revelaron que esa noción del efecto directo y simple de las comunicaciones colectivas era una exagerada simpllificación. Sus efectos dependen de la compleja trama de influencias especializadas, personales y sociales. En 1940, Lazarsfeld, Berelson y Gaudet estudiaron la decisión tomada en la campaña presidencial norteamericana de ese año. Empleando la técnica de someter al mismo grupo a sucesivas entrevistas los autores procuraron examinar el sistema real de una determinada manera de votar. Verificaron que el efecto de los medios de la comunicación colectiva – conferencias radiofónicas, artículos de prensa, etc. – era bastante menos de lo que pensaban. Pocas personas cambiaron sus tendencias electorales durante la campaña. Y éstas lo hicieron gracias, principalmente, a amigos, familiares o compañeros de trabajo. Ante esta constatación, los autores localizaron y entrevistaron a personas que les llamaban de influencia o “líderes de la opinión”, es decir las que habían influenciado en el voto de alguien y las comparaban con las otras. El resultado de esto fue que los influyentes se asemejaban a los no influyentes, en nivel social, educación, edad, sexo, etc. Diferían, sin embargo, en cuanto ao comportamiento en relación a las comunicaciones: los líderes de la opinión eran más sujetos a los medios de comunicación colectiva. Concluyeron entonces en una hipótesis que interesa particularmente al Brasil en su actual desenvolvimiento social : la hipótesis del flujo de la comunicación en dos períodos, según el cual la corriente de influencia pasa de los medios de comunicación a los líderes de la opinión y de éstos para sus compañeros más íntimos. 4
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LAZARSFELD, Paul. Mass Media and Personal Influence. Forum Editor, Voice of America – s.f. Washington, U.S.A. KATZ, Elih. The Diffusion of New Ideas and Practices. Forum editor, Voice of America – s.f. Washington, U.S.A.
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Otra constatación registrada fue la de que la influencia personal frecuentemente se ejerce en forma inesperada, como un paréntesis o por alguna observación al margen de una conversación casual. Tiene, por tanto, mayor probabilidad de “penetrar” en los indecisos o contrarios, que los mensajes de la comunicación colectiva que normalmente enfrentan un conjunto de prevenciones mentales. El contacto directo es también más flexible, pues permite la respuesta inmediata a las reacciones instantáneas: las personas al contrario de los medios colectivos pueden emitir ideas y argumentos de inmediata relevancia personal para el interlocutor. Y, finalmente, cuando alguien se somete a la influencia de otra persona para tomar una decisión, recibe, inmediata y personalmente, la aprobación. Varios investigadores, utilizando las conclusiones de estas encuestas estudiaron a los “líderes de la opinión”, localizando fuentes de influencia, no sólo en las de carácter político, sino en las decisiones más diversas. En estas investigaciones fue experimentada la técnica de la “bola de nieve”: siempre que el entrevistado mencionaba a alguien, éste era también entrevistado con el objeto de obtener un visión de los dos participantes del intercambio de influencia y captar algo sobre la situación y la dinámica de este cambio. Los estudios realizados por el Departamento de Investigación Social Aplicada de la Universidad de Columbia apoyaron la idea de que la comunicación interpersonal sirve de intermedio entre los medios de comunicación colectiva y sus objetivos individuales. De una manera general, los estudios realizados llegaron a las siguientes conclusiones: 1) la influencia de otras personas en decisiones específicas, tiende a ser más frecuente y más afectiva que la de los medios de la comunicación colectiva; 2) influenciantes e influenciados mantienen relaciones íntimas y, consecuentemente, comparten de las mismas características de la situación social; es muy raro que personas de alta situación social influyan a otras de baja condición y viceversa; 3) individuos íntimamente relacionados están inclinadas a tener opiniones y actitudes comunes y se resisten a abandonar la manera de pensar del grupo, aunque los argumentos de los medios de comunicación colectiva les parezca atrayentes; 4) aunque la influencia pase de los más de los menos interesados, estos últimos deber tener suficiente interés para ser influenciados, pues no hay líderes sin partidarios y el partidarismo exige interés; 5) los líderes de la opinión personifican intereses específicos, por ejemplo, jóvenes solteras se volvieron líderes de la moda por la importancia que su grupo atribuía al modo de vestirse; 6) los líderes de la opinión ocupan posiciones consideradas como de alta competencia en su ramo, por ejemplo, señaran de edad, con grandes familias, son consideradas las mejores consejeras de compras, por su mayor experiencia; 7) los líderes de la opinión son individuos accesibles y extravertidos, con muchas relaciones; 8) los líderes de la opinión tienen acceso a las informaciones importantes provenientes de fuera de su círculo inmediato; de ahí su tendencia a captar los medios de comunicación colectiva, particularmente aquellos más importantes para su esfera de influencia, por ejemplo, líderes de la Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 247-264, jan/dez. 2006
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moda leían más revistas de moda, líderes de asuntos sobre cine leían más publicaciones sobre cine, etc. Ocho años después investigaciones realizadas por el mismo equipo de investigadores de la campaña presidencial de 1948, recogieron nuevas observaciones de la mayor importancia. Se comprobó que los líderes de la opinión eran los mayores defensores de las actitudes de sus artidos de en todas las cuestiones posibles; pertenecían a un mayor número de organizaciones y, principalmente, tenían mayor tendencia a buscar consejos e informaciones con otras personas. Esto hizo que se modifique la hipótesis original: no se trata solamente de un flujo en dos fases (de los medios de comunicación colectiva a través de los líderes de opinión, para el público en general), sino de un flujo de comunicaciones en muchas fases (de los medios de comunicación colectiva, a través de varios líderes de opinión que se comunican entre sí, para otros seguidores). Así, quedó comprobado que bajo ciertos aspectos, la influencia de los líderes de la opinión se asemeja a la de los propios medios de comunicación colectiva, pues las personas tienden a cruzar ideas, principalmente con quien comparte sus opiniones. DESENVOVIMIENTO DE LAS INVESTIGACIONES Establecido el cuadro general de la influencia personal en el proceso de la comunicación, las investigaciones se orientaron hacia las comunicaciones que se realizan en pequeños específicos. “Hace diez años, dice Katz, la idea de que esos dos métodos de investigación social ( comunicación de masa y comunicación en pequeños grupos) pudiesen ofrecer cualquier contribución recíproca hubiera merecido completo rechazo. Pero el descubrimiento del importante papel de la influencia individual en el proceso de la comunicación colectiva, sugirió la idea de que el estudio de la dinámica de esos pequeños grupos bien podrían favorecer el estudio de la comunicación”. Las hipótesis sobre las características del líder de opinión (o gatekeeper – controlador – de Kurth Lewin) y su importancia como intermediario de los medios de comunicación colectiva, encontraron confirmación en los campos más diversos. Estudios realizados por médicos, por ejemplo, establecieron que éstos se manifestaban muy dependientes de la opinión de colegas locales más prestigiosos, cuando se trataba de aceptar sugestiones transmitidas por publicaciones profesionales o por medios de propaganda”. Los colegas locales a quienes más recurrían tenían aquellas características del líder de opinión ya señalada: 1) posición de competencia o sea, eran especialistas, autoridades reconocidas; 2) leían mucho y mantenían numerosos contactos profesionales en otras ciudades y en el exterior; 3) eran accesibles sociables y participaban de la comunidad médica local y estaban identificados con ella. Otro estudio particularmente interesante para nosotros fue el realizado en una aldea de Líbano, que estaban en período evolutivo hacia la industrialización.
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Se observó ahí que los ancianos, que eran los mentores de la comunidad por tradición perdieron mucho de su prestigio cuando surgieron individuos cuya posición les permitía servir de elementos de enlace con el mundo exterior, a pesar de que no se apartaron de su medio. Eran jóvenes de alguna cultura (posición de competencia), que alcanzaban la posición de líderes cuando se mantenían en contacto con sus famílias y vecinos analfabetos (manteniéndose por tanto, accesibles y sociables) a los cuales transmitían opiniones (recogidas en razón de su movilidad) como resultado de su contacto con informaciones del exterior. En la proporción en que se ampliaba el campo de la investigación científica de los medios de comunicación se registraba una evolución metodológica notable. El sistema de demostración era y es apropiado en cuanto al estudio de las relaciones entre comunicación y opinión pública (desde que la sociedad investigada era compuesta de individuos alistados, separados en el espacio distanciados entre sí). En una investigación de influencia personal, en que los individuos son, por así decir, aproximados, íntimos, serán utilizadas otras técnicas como la citada “bola de nieve”. Otros descubrimientos fueron introducidos en la investigación científica en los últimos años, considerando los enlaces de la comunicación con medios formales, como el elemento tiempo, el canal usado, o la personalidad del receptor, y aun, de los grupos sociales a que pertenezcan los destinatarios de los mensajes. El modelo inicial de las investigaciones, hechas siempre bajo la motivación de “campañas” y de tentativas en corto plazo de cambio de opiniones, actitudes o acciones, se amplió admitiendo el estudio de la “difusión” definida pro Katz como “el sistema de propagación de una práctica o idea nueva a través del tiempo, por canales determinados dentro de una estructura social”. El punto de partida de esas ampliaciones de la investigación científica fue la experiencia del lanzamiento de hojas volantes por avión, anunciando un próximo acontecimiento. En seguida se realizaron entrevistas buscando saber cómo las personajes habían tomado conocimiento del hecho, procurando determinar la influencia precisa de los factores como densidad demográfica, hora, número de personas que recibieron inicialmente el mensaje, etc., en la difusión de comunicados simples en una comunidad. Otra clases de estudios investigó los afectos de los medios de comunicación colectiva en diferentes tipos de receptores, demostrando que el conocimiento previo de una audiencia altera la manera cómo una información es corregida y reformulada. Pues, como bien dice J.A.C. Brown6, “el problema fundamental de los vehículos de divulgación de las democracias occidentales reside en otra dirección, distinta por la generalmente aceptada: no se trata de que ellos sean un medio por el cual los ideales y creencias extraños de una pequeña élite estén siendo impuestos a las masas, puesto que así, como ahora, antes existió un círculo 6
BROWN, J.A.C. Técnicas de Persuasão. Rio: Zahar Editores, 1965 Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 247-264, jan/dez. 2006
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vicioso, gracias al cual – por medio de una especie de sistemas de realimentación – las masas recibían meramente un reflejo de sus propias necesidades y exigencias que habían sido clamadas. En el campo de las opiniones y actitudes, las élites no son las controladoras del pueblo, sino sus víctimas. Tal es el significado de las investigaciones de la opinión, escrutinios de Gallup, investigación motivada y todos los otros métodos tendientes a descubrir lo que realmente piensan las masas. Destínanse a descubrir lo que las personas quieren a fin de que las élites y los productos de éstas sean modelados a su imagen y semejanza”. David K. Berlo 7 tuvo razón al definir el proceso como un fenómeno eminentemente dinámico, en el cual los acontecimientos y las relaciones están en evolución, siempre cambiante: “cuando hablamos del proceso, nos referimos a algo que no tiene un comienzo, un fin, una secuencia fija de eventos, que no es una cosa estática, parada, sino que está en movimiento. Los elementos del proceso actúan unos sobre otros: cada uno afecta a todos los demás”. Y no menos razones tuvo Paulo Lazarsfeld al estudiar los medios de comunicación colectiva y la influencia personal, para concluir; “las relaciones personales y los medios de comunicación colectiva se influenciaran de varias maneras, ya reforzándose, ya modificándose mutuamente. Son operaciones complicadas en las cuales hay todavía mucho que aprender. Mientras tanto, no hay duda en cuanto a su importancia práctica y a su significado personal8. EL PROBLEMA DEL SIGLO En la Escuela de Ciencias de la Información de Recife, nosotros comprendemos que el problema básico de nuestra civilización es el del entendimiento entre los hombres y los pueblos. Que el avance de la técnica sobrepasó las fronteras: la palabra y ahora la imagen se tornaron universales e instantáneos. Que como enanos frente a un gigante, algunos pseudo conductores de los pueblos todavía intentan poner barreras a esa universalidad e instantaneidad, silencian las voces de los medios de la comunicación imponiéndoles ideas como si los vehículos fuesen cerebros electrónicos y los comunicadotes meros robots e interferir en las ondas hertzianas para perturbar el milagro del transporte invisible de los sonidos y de las imágenes. Comprendemos que la batalla ideológica y política que se traba en el mundo contemporáneo desplaza a las tradicionales armas bélicas, que, muchas veces por su inmenso poder de destrucción, por la imposibilidad de controlarlas por quien quiera que las use, quedan eliminadas aun entre los más encarnizados adversarios. Restan como decisivas las armas de la construcción: la palabra, la escritura y la imagen. Fue con ellas que Platón y Aristóteles, Praxísteles y Fidias, Homero y 7 8
BERLO, David K. O Processo de Comunicação. Rio: Fundo de Cultura, 1963 LAZARSFELD, Paul – obra citada
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Hesiodo encumbraron para siempre a la Patria eterna de la filosofía, de la ciencia y del arte: Grecia”. Y con ellas, Cicerón, Virgilio y Justiniano establecieron en la península itálica el imperio de la oratoria, de la poesía y de la justicia para todos los siglos, no obstante ser tan despreciados por los emperadores y pre-cónsules. Cuando el Verbo se hizo Carne y habitó entre nosotros no se revistió de armaduras de los guerreros ni empuño la espada de hierro. Contando con legiones de ángeles que pudieran establecer por la fuerza el dominio de la Verdad, prefirió la Palabra, y con ella venciendo a la muerte, legó la vida a todos los hombres. Los mártires, los apóstoles y los confesores no emplearon otros medios para la conquista del mundo, en nombre de Cristo y siempre que alguien intentó adoptar otros medios y técnicas, la destrucción y la derrota les demostró su error y su crimen. El hombre de nuestros días sabe que son frágiles y pobres las obras de sus manos. Los imperios que los Alejandros, los Césares, los Atilas y los Napoleones soñaron y construyeron a base de fuego e sangre, quedaron cubiertos por el polvo de los siglos. Pero los monumentos levantados a Dante, a Galileo, a Tomás de Aquino, a Kant, a Freud, a Marx – por todos los hombres y mujeres que se resistieron a utilizar otros recursos que no sean los de la razón y el cerebro – continúan de pie, desafiando a la inteligencia e inspirando los sentimientos humanos en su marcha hacia el progreso. Hoy, después de la terrible experiencia de la Segunda Guerra Mundial, el tema militar en todos los países no es ya la mayor o menor eficiencia de determinados ingenios mecánicos. De Gaulle ya no se preocupa de tanques de guerra y ni siquiera de la importancia de las armas nucleares. Antes bien, realizó una gira por el extranjero, él siendo guerrero que no se desalentó en la hora más dramática, hablando a todos los pueblos nuevos y ardorosos de la América de la necesidad urgente, improrrogable, imprescindible de una mayor comprensión de una colaboración pacífica para garantizar el futuro. El gran tema militar de nuestros días se llama guerra sicológica. En otros términos, guerra de convencimiento, de persuasión, de propaganda. Guerra de ideas que se confrontan con el ansia de obtener adeptos, de efectuar cambios. Vencerá, no aquél que posee la verdad, sino aquél que sepa decir que posee la verdad, el que sepa transmitir a los otros con más precisión el mensaje de la Verdad. Aprendimos de nuestro Rector Aloísio Mosca de Carvalho que uno de los mayores poderes del mundo contemporáneo es el de informar. Mas ese “poder tan grande no cristalizó todavía su forma institucionalizada. Vive aún a servicio de intereses mercantilistas o ideologías sospechosas. Por eso, la tarea urgente de una sociedad democrática (esto es una sociedad accesible, una sociedad dialogante, en la que la información sea libre) es trabajar para que ese poder inmenso no quede a merced de fuerzas irresponsables... La información libre, con todo, no es fruto espontáneo o necesario de una civilización en marcha. Es una educación, es una
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tarea, es una conquista, un equilibrio capaz de romperse cualquier instante. Por eso, es urgente el incremento de la ciencia de la información para asegurar la tradición de la libertad dialogante de las sociedades libres”9. Es por eso que no nos limitamos a la formación técnica del periodista. Procuramos evolucionar para un instituto de ciencias de la información, estructurado en departamento de enseñanza, de documentación técnico profesional, de relaciones públicas y de investigaciones científicas. Que coordine, sistematice y divulgue conocimientos relativos a las ciencias de la comunicación y del comportamiento colectivo colectivo. Que prepare informantes aptos para transmitir con eficiencia sus mensajes por cualesquiera de los medios a su disposición y en cualquier sector de la actividad humana. LA ESCUELA DE RECIFE Para dar nuestro pequeño aporte a la formación de ese espíritu, fue que realizamos, de enero a marzo del presenta año el I Curso Nacional de Ciencias de la Información, convocando periodistas estudiantes de periodismo, ciencias sociales y políticas, económicas, publicitarios, especialistas en relaciones públicas, en recursos audiovisuales y otros interesados, con nivel de educación superior o media, para proporcionarles, a través de conferencias, seminarios y trabajos de campo, mejores conocimientos sobre la teoría y la práctica de la investigación social y comunicación colectiva, actualidad e importancia de los vehículos periodísticos en el Brasil, la situación y los problemas del desenvolvimiento del Nordeste y aspectos de la actualidad internacional, relacionados con la región y el país. De lo que fue este Curso, de su oportunidad y sus resultados, habla mejor el Informe del Seminario, realizando al término del Curso por sus participantes, sobre el papel desempeñado por las comunicaciones colectivas en el desenvolvimiento nacional. En seguida, editamos la revista del ICINFORM – “Comunicações & Problemas”, primera publicación brasileña dedicada al estudio de los medios y vehículos de la comunicación colectiva: periodismo, propaganda, relaciones públicas, educación, con incursiones en el campo de la antropología cultural, de la sociología y de la política de la estadística y de la sicología social. En ella se habla de periódicos y periodistas, de locutores de la radio y de la televisión, del cine, de los servicios de divulgación de la industria, del comercio, de las profesiones liberales, de las iglesias. En ella se presentan problemas de la región y del país. Son confrontados con las ideas corrientes, expuestas para el debate. A través de ella, se pretende hacer luz acerca de partes oscuras de las ciencias de la comunicación,
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MOSCA DE CARVALHO, Aloísio. Propósito em Comunicações & Problemas, Vol I, Nº 1, Recife: ICINFORM, 1965
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ensayar un mejor entendimiento para un uso más adecuado de esas grandes armas del mundo moderno: armas para construir el futuro. Insertamos, en nuestro programa, y venimos realizando, conforme a nuestras posibilidades, investigaciones de opinión y actitudes, proyectos gráficos para evaluación del tratamiento periodístico de acontecimientos de repercusión como “La Opinión Editorial por la Imagen” en torno de una crisis entre las clases productoras y el Gobierno del Estado de Pernambuco; una investigación morfológica, de contenido y de repercusión social en el noticiario de los hechos policiales, durante una semana en la prensa de Recife, cuyos resultados deseamos ofreceros en este seminario, de la edición del nº 2 del “Comunicações & Problemas”. Tenemos en ejecución un trabajo de levantamiento del mercado ocupacional para comunicadores en Recife, realizado exclusivamente por los alumnos del primer año del Curso de Periodismo. Como dijimos en las conferencias pronunciadas en CIESPAL, QUITO, 196410 nuestra experiencia didáctica y nuestra capacitación como periodistas profesionales ( que somos desde 1937), nos llevan a considerar que la enseñanza de periodismo no puede ser limitada a una mera ejercitación de sistemas y normas para recoger noticias, preparación de originales periodísticos y acompañamiento y orientación de las operaciones mecánicas para la edición de un periódico. Creemos que es imposible dar al alumno una capacitación profesional, sin integrarlo desde los bancos escolares a la actualidad cotidiana de la comunidad. Todos los esfuerzos del maestro deben ser para canalizar el pensamiento del alumno hacia el trabajo de aprendizaje y conseguir que, abandonando su instintiva pasividad, acompañe y colabore en la acción didáctica, teniendo en cuenta el objetivo, el valor y los resultados concretos que esta actividad le reportará en la vida. Periodismo – mejor dicho comunicación – no es materia desinteresada, especulativa. Nadie puede dominarla situándose en una torre de marfil como nadie puede enseñar apartándose de la realidad, permaneciendo como un ermitaño. Al contrario de las materias teóricas que reclaman para su asimilación un aislamiento casi total de lo que ocurre fuera de la sala de clase o del gabinete de estudio, comunicación es el arte aplicado. Su estudio, como su práctica, exige una participación social y directa del individuo, no solamente en los trabajos didácticos sino también en los sentimientos y actividades de su época (momento histórico) y de su gente (comunidad). Hay que emplear métodos actualizados, mediante los cuales el estudiante vaya paulatinamente estructurando sus ideales, actitudes e intereses mentalmente, por emoción y por participación en una especie de totalitarismo educacional.
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BELTRÃO, Luiz. Métodos en la Enseñanza de la Técnica del Periodismo. Quito: Ciespal, Quito, 1964
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Por eso es nuestro empeño en que el estudiante conozca, penetre, viva los problemas de la comunidad. Clases, períodos de especialización en los medios periodísticos y en servicios públicos e instituciones diversas, debates y seminarios sobre los temas de actualidad con autoridades en diversos sectores (artesanado en 1962; industrialización, 1963; folklore, en 1964, cooperativismo, en este año) de todas estas actividades nos valemos en nuestro programa de formación de informantes. Nuestro periódico-laboratorio “El Aprendiz de Periodismo”, editado ahora, es el reflejo del rendimiento del aprendizaje durante cada semestre teórico y de las tareas prácticas. No podemos y no debemos limitarnos a nuestra ciudad y a nuestro Estado. Por eso, con el apoyo de las autoridades y la asistencia de organismos privados, estructuramos el programa de excursiones: “conozca bien el Brasil”, a iniciarse en octubre próximo con la participación de 30 alumnos, divididos en grupos de trabajo (reportaje, fotografía y cinematografía, grabación de sonidos, estudio de documentos de archivo y piezas de museo). Iremos hasta Fortaleza por vía aérea y de allí, por tierra, retornaremos a Recife recorriendo el “hinterland” nordestito, teniendo como objetivos principales observaciones “en el lugar” de los problemas de las represas en Orós la fertilidad del valle de Jaguaribe, en Crato, las fiestas en memoria del padre Cícero, en Joazeiro, el fenómeno del colonialismo y del desenvolvimiento en la región árida, en Salgueiro, implantación de la energía hidroeléctrica de la CHESF, construcción y conservación de la red ferroviaria a estaciones experimentales de la SUDENE. Otro proyecto que dependerá de acuerdos finales con el Ministerio de Aeronáutica, SPEVIA y Gobiernos del Amazonas y del estado de Pará, con la misma organización y objetivos idénticos, llevará a los estudiantes a la escuela de Recife a un conocimiento más preciso de la realidad de la región amazónica. Sabemos que nuestra contribución ha sido pequeña en estos cuatro años y medio de trabajo frente a la inmensa tarea que nos cumple realizar. Con todo, nos sentimos orgullosos porque estamos en la Universidad Católica de Pernambuco, trabajando con fe y con amor en un campo vital para la seguridad de nuestra patria, por el mantenimiento de nuestros ideales democráticos y nuestra aspiración de una vida más próspera y más feliz para nuestra gente. OBSTÁCULOS PARA LAS INVESTIGACIONES Durante esta exposición delineamos algunos obstáculos que creemos puedan ser superados o siquiera reducidos, en cuanto a un programa de fomento de las investigaciones científicas, desde que sean aprobados por este Seminario, presentados y defendidos por CIESPAL y por la ABI, ante aquellos organismos que estén en condiciones de darles solución. Tales objetivos puedes ser agrupados en tres categorías: I – Sicológicos, a saber: 1) desinterés por la investigación científica de los medios de la comunicación
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colectiva por nuestra tendencia espiritual a la improvisación y a recurrir a preconceptos y estereotipo, profundamente arraigados en la mente de las élites; 2) desprestigio público en torno de las conclusiones sobre investigación de la opinión y actitud, especialmente aquellas promovidas por organismos oficiales o comerciales, siempre señalados como unilaterales e interesados. Tal desprestigio – conviene señalar – felizmente no alcanza a las investigaciones realizadas por las universidades e instituciones puramente culturales. Prueba de eso es la aceptación de las investigaciones del ICINFORM y del Instituto “Joaquim Nabuco” – consideradas siempre como servicios a la comunidad pernambucana Juzgamos que ese cambio de criterio en torno del trabajo de las instituciones culturales es el fruto de la concepción general en el sentido de que tales organismos trabajan académicamente, esto es, sin otro interés que el científico: “Arte por el Arte”. 3) Ineficacia de los resulytados de las investigaciones en el comportamiento subsecuente de sus patrocinadores o de los sectores para cuyo mejor rendimiento de acción tales resultados ofrecen directrices. Se insiste en continuar la acción en un mismo ritmo, con la misma orientación, esperándose que tal insistencia motive el cambio del público. “Que se corrijan, ellos, son los equivocados” 4) Extrema susceptibilidad en cuanto los resultados de las investigaciones señalen fallas, deficiencias, ineptitudes, errores o prejuicios en el sistema. Queremos ganar siempre y nos irritamos y rechazamos cualquier constatación contraria a nuestro comportamiento. II-Legales: 1) falta completa de organismos, aun de departamentos, de investigación científica en la estructura universitaria brasileña, en las que hasta el simple aprendizaje de periodismo está aferradamente ligado a las Facultades de Filosofía, como un mero curso, a despecho de las finalidades tan distintas; 2) inexistencia, en el plan mínimo del curso, de cátedra específica de investigaciones; 3) ausencia de normas legales para la preparación y registro de técnicos en investigación, investigadores sociales, agentes de relaciones públicas y otros especialistas requeridos en el campo de las comunicaciones. III. ECONÓMICAS En consecuencia de los obstáculos enumerados, el problema económico para la investigación científica se presenta como uno de los más agudos. No hay clientes para las instituciones de investigación, salvo en el Gobierno ( para las oficiales) y algunas empresas industriales y comerciales interesadas solamente en la “comprobación de su supremacía” para efecto de la competencia, y que se valen de instituciones comerciales. En consecuencia, como cualquier investigación seria y estructurada científicamente requiere subvenciones ( cuantiosas por lo general), resulta que aquellas instituciones culturales a que nos referimos no disponen de recursos financieros para dedicarlos a esta finalidad. Por otro lado, Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 247-264, jan/dez. 2006
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las escuelas de periodismo, de modo especial las que no están ligadas a las universidades o servicios públicos dificilmente pueden reservar recursos para la contratación de profesores, en el país o en el extranjero, capacitados para dictar cursos y preparar equipos de especialistas o investigadores. Podemos afirmar que, salvo los cursos anuales de CIESPAL, que han favorecido al magisterio del periodismo brasileño con algunas becas de estudio, nuestros profesores de periodismo no tienen ninguna oportunidad de especializarse en investigaciones de morfología, contenido, proceso y efectos de la comunicación colectiva, evaluación de la opinión pública y otros fenómenos a serem investigados. No tenemos libros traducidos a nuestra lengua sobre teoría y métodos de investigación, ni siquiera la UNESCO, CIESPAL u otros organismos dedicados a actividades en este campo cultural, cuentan con eficientes librerías distribuidoras de sus publicaciones, aún en idiomas extranjeros. Esta es la realidad en el Brasil, en lo que se refiere a la investigación científica en los medios de información y que, salvo en cuanto a la investigación histórica, pacientemente realizada por algunos dedicados, incomprendidos estudiosos, nada o casi nada está hecho en favor de su progreso. Por eso es que, al iniciar esta exposición, manifestamos la esperanza de que este Seminario sea el punto de partida para una acción conjunta, tendiendo integrar al Brasil en el campo internacional de la investigación científica. Indicaciones Por lo expuesto, sugerimos que esta Comisión aprecie el siguiente proyecto de recomendaciones. I –A los medios de comunicación colectiva: a) que desarrollen un trabajo promocional de amplias instrucciones sobre las finalidades y ventajas de la investigación científica para evaluar el proceso y los efectos de la información en todos sus instrumentos y técnicas, cuyo conocimiento es imprescindible para atender no solamente a las necesidades culturales sino también el desenvolvimiento social de las comunidades, habilitándolas a participar, activa y conscientemente, en la tarea de defensa de la paz y entendimiento entre los pueblos, tendiendo a alcanzar la prosperidad general; b) que promuevan directamente, financien, auxilien y divulguen investigaciones sobre métodos y técnicas de elaboración de sus mensajes morfología y contenido de la información, eficiencia de los canales, alcance y efeitos de las comunicaciones en sus publicos receptores, utilizando sus resultados para atender a los reclamos de la comunidad, cada día más instruída, más crítica y más exigente. c) que contribuyan inclusive financieramente, para la realización de trabajos de amplia investigación de los medios de información colectiva en América Latina (impresos y audiovisuales) a cargo de CIESPAL, comunicándole los resultados de
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sus propias investigaciones para la planificación y centralización de los estudios efectuados en todos los países de nuestro continente. II. A los cursos de periodismo: a) que obtengan las medidas legales para su transformación en escuelas, facultades o institutos de ciencias de la información, posibilitando la formación profesional universitario no solamente de periodistas sino de especialistas en todos los medios y técnicas de la información, inclusive de investigadores. b) Que promuevan y desenvuelvan investigaciones y análisis sobre los medios de comunicación colectiva, basados en los modernos métodos de investigación y con el empleo de instrumental adecuado, tendiendo no solamente a mejorar los niveles técnicos de los vehículos de información, sino también su mayor repercusión en la opinión pública; c) Que mantengan a la comunidad informada de su trabajo, organizando una agencia universitaria de informaciones y relaciones públicas; distribuyendo materias periodísticas a los órganos de comunicación colectiva: editando periódicoslaboratorios, revistas y boletines; realizando visitas y períodos de aprendizaje en organismos públicos y privados de alcance social; integrándose , en fin, en los problemas fundamentales de su región del país y de la sociedad internacional. III. A la UNESCO, CIESPAL, FORD FOUNDATION y ABI: que patrocinen un programa de investigación permanente de los medios de información colectiva en América Latina, favoreciendo a las instituciones culturales y a los medios de comunicación con: 1) planificación y orientación de las investigaciones parciales; 2) coordinación y evaluación de los trabajos de orden general; 3) intercambio de profesores y técnicos en investigación científica; 4) promoción de cursos en diversas universidades, tendientes a preparar equipos de investigadores; 5) aumento del número de becas de estudio para periodistas, profesores de periodismo y egresados de las escuelas, no solamente en los cursos internacionales de CIESPAL, sino para cursos de perfeccionamiento en otras Instituciones, principalmente en las que funcionan en los Estados Unidos y en Estrasburgo. 6) Edición de libros, originales o traducidos para el portugués, sobre la teoría y métodos de la comunicación y de investigación científica; 7) Envío directo de sus publicaciones a las bibliotecas especializadas de las escuelas de periodismo y creación de librerías propias para una mejor distribución de las mismas; y 8) Concesión de recursos financieros a los Departamentos de Investigación de las Escuelas de Periodismo y Medios de Información Colectiva para proseguir en el trabajo iniciado en este Seminario, buscando dirimir los conflictos
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registrados en el comportamiento de elementos que participan de la función periodística contemporánea – medios de información, escuelas de periodismo y entidades profesionales.
NOVAS DIRETRIZES AO ENSINO DAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO*
Luiz Beltrão
A reformulação do currículo mínimo do MEC para os cursos de jornalismo, as experiências e os estudos que efetivamos no ano passado, sugestões de professores e alunos da FACUNB e de outros centros de ensino do país e do exterior, levaram-nos a uma nova estruturação do ensino das Ciências da Comunicação, que submetemos, em dezembro último, ao conhecimento e aprovação do nosso corpo docente e das autoridades universitárias da UNB. Através do currículo adotado, das normas de ensino e do texto da exposição, que aqui reproduzimos – ficará o leitor capacitado da orientação ora impressa dos estudos superiores de comunicação coletiva em Brasília. DISCIPLINAS BÁSICAS (Desdobradas do currículo mínimo do MEC) FORMAÇÃO I – DISCIPLINAS GERAIS OU DE CULTURA GERAL + a) – Cultura Brasileira (CB) ............................................................................................................ 64h + b) – História do Brasil (HGB) ....................................................................................................... 64h + c) – Geografia do Brasil (GHB) .................................................................................................... 64h + d) – Civilização Contemporânea (CC) ......................................................................................... 64h e) – Estudos Sociais e Econômicos I – Sociologia Geral (SG) .................................................................................................................... 64h II – Introdução à Economia (IE) ...................................................................................................... 64h + f) – História da Cultura Artística e Literária (HCAL) . .......................................................... 64h 448h
* Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”,3:7 (1967): p. 3-17. NEW POLICIES FOR THE TEACHING OF COMMUNICATION SCIENCES
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II – DISCIPLINAS ESPECIAIS OU INSTRUMENTAIS + a) – Português e Literatura da Língua Portuguêsa (LLGP) ................................................... .64h + b) – Língua Estrangeira Moderna (IEM-I-II). ......................................................................... 128h c) – Ética e Legislação de Imprensa I – Ética Geral e Profissional (EGP) ................................................................................................ 64h II – Legislação Geral das Comunicações (LGC) ............................................................................ 64h III – Legislação Especial das Comunicações (LEC) ..................................................................... 64h (Pré-requisito – LGC) d) – História da Imprensa (HCGA) .................................................................................................. .64h 448h III – DISCIPLINAS TÉCNICAS OU DE ESPECIALIZAÇÃO a) – Técnicas de Jornal e Periódico I – Técnica e Prática de Artes Gráficas (TPAG) ........................................................................... 64h II – Técnica e Prática de Fotografia (TPF) ou Desenho Jornalístico e Publicitário (DJP) ................................................................................................................................. 64h III – Biblioteca e Arquivos Jornalísticos (BAJ) .............................................................................. 64h IV – Técnica Jornalística Geral (TJG) ............................................................................................... 64h (Pré-requisitos – ICC-II, FRJ, TPAG) V – Técnica do Jornalismo Interpretativo (TJI) ............................................................................. 64h VI – Técnica de Edição Jornalística (TEJ) . .................................................................................... 64h 384h b) – Técnica de Rádio e Telejornal I – Técnica Jornalística Aplicada ao Rádio (TJAR) ....................................................................... 64h (Pré-requisito – TJG) II – Técnica Jornalística Aplicada à Televisão (TJATv) ............................................................... 64h III – Técnica Jornalística Aplicada à Televisão (TJATv-II) ........................................................ 64h (Pré-requisito – TJATv-I) 192h c) – Teoria da Informação + I – Introdução à Comunicação Coletiva (ICC-I). ...................................................................... 64h + II – Introdução à Comunicação Coletiva (ICC-II) ................................................................... 64h (Pré-requisito – ICC-I) III – Psicologia Social (PS) . ................................................................................................................ 64h 192h d) – Jornalismo Comparado – Investigação Científica da Comunicação (INVC-I) ................................................................... 64h – Investigação Científica da Comunicação (INVC-II) .................................................................. 64h (Pré-requisito – INVC –I) 128h e) – Redação de Jornalismo – Fundamentos da Redação Jornalística ........................................................................................... 64h (Pré-requisito – LLGP) ........................................................................................................................ 64h f) – Administração de Jornal e Publicidade I – Administração de Empresas Jornalísticas (AEJ) ......................................................................64h (Pré-requisito – TJG)
NOVAS
DIRETRIZES AO ENSINO DAS
CIÊNCIAS
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II – AEJ – Fundação de Relações Públicas (FRP) ........................................................................ 64h (Pré-requisito –AEJ) III – Publicidade e Propaganda (PP) ............................................................................................... 64h (Pré-requisito – TJG) IV – Informação Governamental (IG) .............................................................................................. 64h (Pré-requisito – FRP, PP) .................................................................................................................. 256h g) – Prática do Exercício Profissional (PEP) ........................................................................... 76h 76h IV – DISCIPLINAS DE COMPLEMENTAÇÃO (Currículo especial da FACUNB) Comunicações gráficas I – Técnica do Jornalismo Especializado (TJE) ............................................................................. 64h (Pré-requisito – TEJ) II – Técnica de Revista (TR) ............................................................................................................... 64h (Pré-requisito - TEJ) III – Informação Econômica e Científica (IEC) ............................................................................ 64h (Pré-requisitos – TE – EJE e uma ciência biológica ou física) Comunicações Audiovisuais I – Princípios de Música e Sonoplastia (PMS) ................................................................................ 64h II – Técnica e Prática de Cinema (TPC) ..........................................................................................64h III – Técnica e Prática de Teatro (TPT) .......................................................................................... 64h IV – Produção Radiofônica (PR) ........................................................................................................ 64h (Pré-requisitos – TJAR, PMS) V – Produção de Televisão (PTv) . .................................................................................................... 64h (Pré-requisitos – TJATv, PMS, TPC) VI – Jornalismo Cinematográfico e Documental (JCD) .............................................................. 64h Pré-requisitos – TJG, PMS, TPC) Publicidade e Propaganda I – Criação e Pesquisa Publicitária (CPP) ........................................................................................64h (Pré-requisito – PP) II – Propaganda Política e Ideológica (PPI) .................................................................................... 64h (Pré-requisitos – PP, POL, PS) III – Informação Governamental no Exterior (IGE) ................................................................... 64h (Pré-requisitos – IG, IEM-II, POL, PS)
OBS: Aos alunos ingressados em 1966, (regime de 2.025 horas) não serão exigidos os créditos: IEM-II, BAJ, PS, INV-II, FRP e IG. Assim, deverão perfazer um total compulsório de 1.728 horas, cabendo-lhes escolher 4 (quatro) disciplinas de integração e complementar as horas exigidas com 48 horas de prática do exercício profissional nos órgãos da FACUNB ou em estágio supervisionado em veículo de Brasília. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 265-278, jan/dez. 2006
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– Os alunos ingressados em 1967 cumprirão o currículo compulsório constante dos grupos I-III e, do grupo IV, o aluno elegerá 3 (três) disciplinas para completar sua formação especializada, perfazendo, assim, 2.304, horasaulas. Com estágio de 76 horas para prática do exercício profissional, nos órgãos da FACUNB ou veículos de comunicação de Brasília, e com a eleição de 5 (cinco) outras disciplinas, em qualquer das escolas e cursos da UNB, constantes ou não do grupo V, o aluno obterá os créditos e horas-de-aula (2.700) exigidas para a sua diplomação. – Tendo em vista a integralização máxima anual de 772 horas-aula, o aluno só poderá matricular-se em o máximo de 6 (seis) disciplinas por semestre. – Durante os meses de junho e novembro, os alunos deverão procurar os seus orientadores para fixar as disciplinas que mais lhes sejam convenientes freqüentar no semestre seguinte, especialmente as do grupo IV, que somente serão oferecidas de acordo com a demanda. – O alunos ingressados em 1963, 1964 e 1965, não sujeitos ao regime de carga horária, deverão procurar o coordenador, no mês de novembro, para uma adaptação dos seus créditos ao currículo vigente. – A partir de 1967, funcionarão na FACUNB, para prática do exercício profissional, os seguintes órgãos: - JORNAL LABORATÓRIO, AGÊNCIA DE INFORMAÇÕES, AGÊNCIA DE PUBLICIDADE, LABORATÓRIO DE PESQUISA DA COMUNICAÇÃO E AGÊNCIA DE RÁDIO E TELEVISÃO. – De acordo com as sugestões dos alunos e resolução do Conselho de Professores, vigorarão as seguintes normais gerais: a) O programa de cada disciplina será publicada antes do início de cada semestre letivo, inserindo uma bibliografia básica; b) A aula-maior será dedicada à colocação dos temas e as aulas-menores para o seu desdobramento, preferencialmente a cargo de assistentes e instrutores; c) As classes terão um máximo de 30 (trinta) alunos; d) Recomenda-se aos professores preponderância de trabalhos práticos para fim de menção, nos sub-períodos; e) A coordenação e a chefia de cada departamento procurarão adotar o regime de elaboração de trabalhos, que sejam comuns a duas ou mais disciplinas, com o objetivo de elevar o nível de produção do aluno em cada subperíodo; f) A FACUNB promoverá, anualmente, pelo menos, uma pesquisa de que participe a maioria dos seus alunos, e um seminário sobre o tema ou matéria de comunicação eletiva. – Até o mês de junho de 1987, deverá ser encaminhada ao MEC Conselho Federal de Educação, a proposta de um currículo-mínimo para as Faculdades de Comunicação. EXPOSIÇÃO AOS PROFESSORES Nesta última reunião do nosso corpo docente, cumpre-nos, antes de mais
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nada, agradecer a colaboração recebida nas realizações deste primeiro e laborioso ano didático. Desejamos especialmente destacar o I Seminário Universitário, que constitui, sem dúvida, o marco de integração dos alunos entre si, com os professores e a Coordenação. Agora, derrubadas todas as barreiras que restavam para a compreensão adequada dos novos campos de atividade profissional, abertos aos estudantes das Faculdades de Comunicação Coletiva – já estamos recebendo dêstes próprios valiosas sugestões para o aperfeiçoamento dos currículos, do regime escolar e dos órgãos que deverão funcionar, juntamente com os departamentos, destinados à obtenção de melhor rendimento em nosso trabalho. Neste sentido, as conclusões e recomendações do seminário e as idéias de Alan, Jorge e Arrochela sobre a reformulação do curriculo-mínimo são contribuições as mais positivas. CURSO BÁSICO – Pretende, a Reitoria, a partir do próximo ano, fazer cumprir os dispositivos estatuários que reclamam o funcionamento, pelo menos nos dois semestres iniciais de qualquer curso, de um curso básico, comum às unidades de determinada área de ensino, a fim de que o estudante novo se capacite, ao seu término, à escolha da aprendizagem que melhor lhe pareça ou convenha. O curso básico seria ministrado pelos Institutos Centrais e a Faculdade de Comunicação estaria enquadrada na área de CIÊNCIAS SOCIAIS. As disciplinas assinaladas (+) no projeto anexo e constantes do currículo mínimo do MEC nos grupos I (a-f) e II (a-b) poderiam, sem qualquer prejuízo, passar à responsabilidade exclusiva dos Institutos respectivos. Entretanto, reivindicaríamos a inclusão no currículo mínimo do aludido curso básico das duas primeiras disciplinas do grupo III (c – III) – Teoria da Informação. Essa inclusão, além de fazer presente ao curso básico uma disciplina fundamental ao estudo das CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, de interesse significativo para os demais cursos da área, nos permitiria desenvolver sem tardança, nos seguintes semestres, os nossos estudos específicos. Sôbre êstes, de modo especial, esta coordenação, tendo em vista as decisões aprovadas na nossa reunião anterior, entre as quais a que torna compulsória a apresentação dos programas até 1º de março, para competente homologação e adoção, deseja dar a conhecer o seu pensamento sobre a orientação geral do ensino nesta unidade. 1º) JORNALISMO – Não devemos esquecer que uma Faculdade como a nossa, que se propõe a preparar agentes culturais da comunicação coletiva – jornalistas polivalentes, produtores de rádio ou televisão, cineastas, assessores de imprensa e de relações pública, publicitários e técnicos em propaganda e divulgação governamental, pesquisadores de opinião e de atitudes – tem os seus alicerces na aprendizagem do processo e das técnicas do jornalismo. Jornalismo
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compreendido como a atividade humana e social, mediante a qual os fatos, idéias e situações atuais, de interêsse e importância para a coletividade, são expostos em forma de notícia, divulgados e interpretados sob diferentes modalidades, pública e periodicamente, através de veículos impressos, sonoros e audiovisuais de comunicação coletiva. A primeira grande batalha que os pioneiros do ensino superior de comunicação sustentaram foi a admissão do jornalismo entre as atividades humanas e sociais que requeriam formação prévia cultural e especializada, em nível universitário. E agora, quando são ultrapassados os limites dos cursos de jornalismo, não se julgue de somenos importância êsse estudo e preparo básico – como os psiquiatras não podem julgar desprezíveis as noções fundamentais de anatomia, nem os arquitetos os princípios matemáticos. Na verdade, se um qualquer não é capaz de distinguir entre os fatos do momento aqueles que são passíveis de prender a atenção e o interesse público; se não é capaz de captá-lo, estruturá-lo como notícia, interpretá-lo e transmiti-lo à comunidade, se não tem sensibilidade para fazer-se arauto dos anseios e reivindicações do povo e desconhece a retórica e os recursos técnicos próprios da expressão de ocorrências de caráter e conteúdo jornalístico – então jamais poderá serem eficiente e produtivo agente cultural da comunicação, seja em que campo vá atuar. Daí constituir-se o estudo e ensino da história, da ética, da legislação e da técnica jornalística – na nossa primeira preocupação. Os programas das disciplinas, denominadas pelo currículo mínimo do MEC como instrumentais (grupo II – c e d) que classificamos sob as siglas EGP, LGC e HCGA, deverão conduzir os alunos a um conhecimento satisfatório da origem, evolução e atualidade do jornal e demais meios de difusão de informações; do desenvolvimento tecnológico que permite o constante aperfeiçoamento dos processos mecânicos de comunicação de fatos e idéias; das funções relevantes exercidas pelos meios na sociedade contemporânea; e, consequência dos sistemas políticojurídicos que disciplinam a atividade comunicativa, e das normas éticas, que devem informar a consciência do agente-comunicador, a fim de capacitá-lo a exercer livremente, mas com absoluto senso de responsabilidade, o seu mister. Juntamente com o aprendizado básico dos elementos, do processo e dos efeitos previstos da comunicação coletiva, através das disciplinas ICC e PS (grupo IIIe), essas noções teóricas e práticas irão despertar no estudioso o seu interesse pela investigação científica da opinião pública, da influência e das mudanças que a comunicação provoca no organismo social – objeto das disciplinas INVC (I-II) constantes do grupo III, d do currículo em apreciação. Resta-nos, sôbre êste primeiro grupo de disciplinas especiais e instrumentais, chamar a atenção para a metodologia do ensino, que há de afastar-se quanto possível do academicismo, da retórica professoral da cátedra antiga. Conduzida num sentido eminentemente prático, por exemplo as normas de ética não
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parecerão dissertações caquéticas ou preleções de escola dominical, como só acontece quando se confunde moral com religião, mas representarão para o futuro agente da comunicação valioso adjutório ao seu comportamento profissional e social. Ainda no campo puramente jornalístico – temos as disciplinas constantes do grupo III (a e e). Comecemos por esta última, que figura no nosso currículo sob sigla FRJ. Compreendemo-la como uma extensão do estudo da língua e da literatura portuguêsa (LLGP) em que o aluno recorda os seus conhecimentos gramaticais e, na leitura e análise de textos dos grandes vultos da literatura do nosso idioma, adquire conhecimentos e bom-gôsto literário. No semestre dedicado aos fundamentos da redação jornalística, então, o estudante se fixa sôbre a estilística desse gênero de mensagem, as suas peculiaridades, as suas técnicas específicas. Os instrumentos da descrição, narração e da dissertação são postos nas mãos do aprendiz para que possa manejá-los com segurança e graça. Paralelamente, o programa deve conter exercícios práticos, da arte de escrever de forma correta e enxuta, e atividades de pesquisa no campo da linguagem jornalística para qualquer dos veículos de comunicação. Assim como aprende a usar os instrumentos da linguagem, o futuro agente da comunicação precisa conhecer os instrumentos da arte gráfica, fotografia, desenho, técnicas de selecionamento e arquivamento de dados e informações, que lhe serão úteis e imprescindíveis no exercício profissional. Daí a inclusão no currículo das disciplinas TPAG, TPF, DJP e BAJ (grupo III). Não é nosso propósito – e nem objetivo de uma Faculdade de Comunicação – preparar gráficos, fotógrafos, desenhistas, arquivistas ou bibliotecários. Não se irá exigir do aluno que saiba manejar o componedor, compor em linotipo ou revelar fotografia; o que se requer é que ele conheça as máquinas gráficas, distinga os tipos, acompanhe o processo de feitura de um impresso, saiba preparar os originais, classificá-los, emendá-los, colocá-los no lugar adequado através das operações de diagramação. No campo da fotografia e do desenho, o que se deseja é que o aluno seja capaz de reconhecer o valor informativo e opinativo de um instantâneo colhido na hora da ocorrência, fixando os seus aspectos mais expressivos; que saiba escolher entre a tecnicamente boa fotografia e aquela que, por suas falhas, pela má distribuição de luz e sombra, não será um recurso utilizável para a ilustração; que saiba o suficiente para determinar ampliações e cortes de modo a salientar, na mensagem fotográfica, aquêles detalhes que melhor irão atingir o leitor; que se habilite a julgar um desenho, uma “charge”, uma vinheta, uma história em quadrinhos para seu emprego no veículo de acôrdo com os fins perseguidos. Em ambos esses campos de conhecimento de instrumentos e recursos utilizados no jornalismo – pode o estudante ser despertado para uma especialização. Recebendo noções de fotografia e desenho, dando os primeiros passos para o domínio de qualquer dessas artes e, simultânea e sucessivamente,
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penetrando mais e mais da mecânica da comunicação – estará em condições de tornar-se um repórter-fotográfico, um cinegrafista de atualidades, um desenhista da informação. Se tal acontecer à nossa Faculdade e à UnB pelas suas demais unidades oferecem ao interessado possibilidades de completa formação técnica e aperfeiçoamento das duas naturais tendências. O mesmo se poderá registrar quanto aos conhecimentos dos métodos de arquivologia e biblioteconomia, aplicados à comunicação. Todo agente cultural do jornalismo, da propaganda, da pesquisa ou do espetáculo cinematográfico, radiofônico ou televisado necessita familiarizar-se com os sistemas de arquivamento e biblioteca, com as normas de colheita de dados e informações, com o manuseio e consulta de ficheiros e catálogos, com a organização de bibliografias e resenhas para utilização adequada e oportuna na elaboração de suas mensagens. Esses objetivos poderão ser alcançados e até ultrapassados pelo estudante interessante, competindo ao professor e orientador oferecer-lhe oportunidade para uma formação mais completa, na eleição de disciplinas complementares próprias da Faculdade de Biblioteconomia. Alcançado pelo estudante o embasamento cultural e instrumental mínimo poderá obter, daí para diante, rendimento desejável nas três disciplinas de formação técnica do jornalista, constantes do grupo III a) IV, V, e VI. Dentro do esquema que traçamos, na elaboração do currículo da FACUNB, oferecemos, em um primeiro semestre, a disciplina TJG que, partindo de uma visão global do que seja um jornal, com todos os seus departamentos redacionais, gêneros e seções, se fixará na captação dos fatos noticiáveis e na sua redação. A notícia pura e simples, o chamado jornalismo informativo, sem fantasia, em que o autor permanece anônimo pela sua absoluta fidelidade ao fato e objetividade na sua exposição, deverá constituir o centro de todas as atividades de ensino e aprendizagem. Aqui, o professor terá como oficina a agência de notícias da FACUNB, que distribuirá periòdicamente aos jornais e demais veículos de divulgação de Brasília e do país, informações de tudo quanto ocorrer nas diferentes unidades e setores da Universidade. Numa Segunda etapa, e em outro semestre, o estudante irá receber, através da disciplina – TJI, orientações sôbre o desdobramento da notícia. O jornalismo impresso – diário ou periódico – está atravessando uma fase de completa transformação, diante do impacto dos veículos audiovisuais: o rádio, tornando a notícia instantânea, em tôda a sua nudez e simplicidade, através do “flash”; a televisão, oferecendo a imagem da ocorrência, em todo o seu realismo e poder de convencimento. Subtraído na sua exclusividade de canal noticioso, deixando de ser “o primeiro a dar as últimas”, o órgão jornalístico impresso se mantém em um campo, dentro do qual é insuperável e insubstituível – o campo da interpretação dos acontecimentos atuais. Ao radiouvinte que captou a “ementa” do fato (o QUE) e ao telespectador, que “viu” a imagem da ocorrência (o COMO), o jornal e a revista, cada um dentro de sua periodicidade e de sua técnica redacional e gráfica, vão oferecer as
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causas, as origens, as prováveis consequências, as situações criadas pelo fato – em uma palavra – o PORQUÊ do acontecimento noticiário. Vão fazê-lo, utilizando os recursos do arquivo, das entrevistas externas e das pesquisas redacionais, da opinião dos seus “experts”. A notícia do jornal e da revista não é o simples “flash” radiofônico, nem a imutável imagem televisada – é a exposição circunstanciada, rica em detalhes e aspectos os mais diversos, sujeita à reflexão e enriquecida pelos conceitos dos observadores sempre atentos, do que ocorreu e das conseqüências que advieram para a comunidade pela nova situação criada. É a notícia enriquecida pela cultura, inteligência e sensibilidade do jornalista – a notícia em profundidade, a notícia em terceira dimensão. É a entrevista e a reportagem, a história de interesse humano, a revivência do passado e a previsão do porvir. Por isso, ao programa de ensino dessa disciplina – que nos afigura a de mais responsabilidade no currículo de jornalismo gráfico – há de imprimir-se uma orientação dinâmica, habituando-se o estudante a trabalhar na interpretação da notícia sob aquela mesma “pressão do tempo” que dêle se exige na captação das letras e no seu lançamento, em primeira mão, ao conhecimento público, através do rádio e da TV. Para treinamento do pessoal neste gênero jornalístico, contamos com o JORNAL LABORATÓRIO, de periodicidade quinzenal, que aparecerá regularmente, de abril a novembro, a partir do próximo ano, como um órgão da comunidade universitária brasiliense. Nele também se exercitarão os alunos de TEJ – última das disciplinas do jornalismo impresso compulsórias no currículo. Aqui, o estudante aprenderá a analisar a notícia, a opinar sobre as ocorrências, a editar seções e suplementos, a dirigir os trabalhos redacionais, a orientar a política do periódico, a desenvolver a redação de roteiros, de noticiosos e reportagens, a desenvolver campanhas, transmitir idéias e sugestões a todos os companheiros dos setores a seu cargo. O programa dessa disciplina, deve, pois, enfatizar as tarefas editoriais e, sobretudo, revestir-se de um caráter prático, cobrando-se do estudante o manejo correto de todos os conhecimentos, recursos e normas que lhes foram fornecidos no decorrer de sua aprendizagem. (Como disciplina de complementação para aquêles alunos com maiores tendências para o campo do jornalismo gráfico, o nosso currículo especial prevê, conforme a demanda, um semestre para TJE, abrangendo a especialização em edição de esportes, educação e cultura, sociedade, religião, assuntos femininos, literatura e artes; um semestre para TR em que o estudante aprenderá e praticará os princípios normativos da confecção e edição da revista de interêsse geral ou especializada; e um semestre para IEC, durante o qual lhe serão expostas as técnicas de edição das publicações econômicas (industriais, agrícolas, comerciais, financeiras, e sindicais) e de divulgação científica (tecnologia, ciências físicas, biológicas, exatas), oferecendo-se-lhes oportunidade de treinamento e estágio em publicações e divulgação de trabalhos do gênero e no próprio campus universitário).
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2º) RÁDIO E TELEJORNALISMO – A partir do semestre seguinte àquele em que recebeu as noções de TJG, o estudante estará em condições de aprender e utilizar, como veículo de suas mensagens jornalísticas, o RÁDIO que se constitui, em nossos dias, no principal meio de divulgação de notícias, tanto pelo número de emissoras em funcionamento como pelos milhões de receptores, inclusive transistorizados, em uso no país e no mundo. Seria desejável que, a exemplo do que ocorre com o jornalismo gráfico, o estudante recebesse noções de música, sonoplastia, dicção e oratória, instrumentos e recursos utilizados especificamente pelo rádio. Entretanto, as contingências do currículo mínimo nos levam a reclamar do professor um programa em que essas noções assim como as referentes à aparelhagem mecânica, sistemas de gravação e emissão de programas e outros detalhes técnicos de estúdio sejam fornecidas num mínimo de horas, reservando-se, pelo menos, dois têrços das aulas à redação de roteiros, de noticiosos e reportagens radiofônicas. A linguagem específica da mensagem pelo rádio, o emprêgo de recursos sonoros e musicais, a escolha de características e dos fundos musicais e a exercitação das transmissões externas, em que o jornalista é, ao mesmo tempo, produtor e locutor devem constituir tópicos preferenciais do programa de TJAR, de modo a capacitar os alunos ao domínio do veículo, através do qual irão expedir suas mensagens. A prática do exercício profissional será feita, através de programas semanais (a partir do 2º sub-período, em cada semestre), de caráter jornalístico, em emissora da capital federal, enquanto a UnB não instalar sua própria estação emissora. (O aluno que desejar dedicar-se ao rádio poderá freqüentar um outro semestre de PR – produção radiofônica, depois de obter crédito no Instituto Central de Artes, em noções de música e sonoplastia (PMS), bem como de teatro e encenação (TPT). Essas disciplinas oferecerão os conhecimentos básicos para a produção de programas musicais, teatrais, de variedades e especializados, que constituirão o conteúdo do programa de TR, a ser oferecido oportunamente, de acordo com a demanda e o desenvolvimento do Departamento de Comunicações Audiovisuais da FACUNB). Para o ensino e aprendizagem do telejornalismo, foram reservados dois semestres, atendendo à maior complexidade das técnicas e recursos a serem conhecidos pelos alunos antes de se lançarem à produção de noticiosos e reportagens televisadas. As conclusões do Seminário Universitário reclamam especial atenção nossa, quanto à TV e, especìficamente, quanto ao jornalismo televisado. Acentua-se, ali, a falta de emprêgo pelo meio dos elementos plásticos próprios na elaboração dos programas noticiosos, quando se diz que a TV Brasileira está fazendo quase que apenas rádio televisado. Isso significa que a leitura de textos jornalísticos por locutores nada tem a ver com telejornalismo. Ainda mais do que no periódico impresso, o jornal televisado conduz o seu produtor e apresentador ao anonimato; como no cinema, o que vale é a imagem,
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reproduzida em filme, colhida e oferecida diariamente, ao vivo, ou em gravações por fita ou com ilustrações fotográficas e desenhadas. O estrelismo do jornalista não se coaduna com o veículo audiovisual: salvo em entrevistas e mesas redondas realizadas no próprio estúdio, o jornalista e apresentador do noticioso televisado jamais deverá aparecer ao público, como se estivesse ministrando aula de leitura. Somente a pobreza e a desorganização – quando não seja o desconhecimento da técnica de TV – explicam essa contrafação do jornalismo audiovisual no Brasil. O público não tardará em repelir essa espécie adulterada de jornalismo, do mesmo modo que ninguém toleraria que os noticiosos cinematográficos fossem uma leitura sensalorona de textos, em lugar da apresentação das imagens de ocorrência. Função da Universidade e, no caso em tela, da disciplina TJATv, é preparar equipes adestradas no uso da imagem e do som, os grandes recursos da TV, de modo a que possamos influir na evolução do jornalismo audiovisual no nosso país. Aqui, também nos encontramos frente à circunstancial limitação de tempo e há de requerer-se do professor que, valendo-se dos conhecimentos adquiridos pelos alunos nos créditos anteriores que os capacitaram já ao exercício do jornalismo impresso e radiofônico e lhe ensinaram a utilização de recursos sonoros, musicais, fotográficos e desenhados, ponha ênfase, durante o primeiro semestre, na técnica da fotografia em movimento (cinema), da imagem direta (especificamente, televisão), maquinaria dos estúdios, nos princípios mecânicos do veículo e, do modo substancial, na linguagem própria do jornalismo televisado. Como acontece com o estudo de TPAG, não se trata de preparar técnicos na mecânica de TV, diretores de cena ou realizadores de espetáculos televisados; o nosso propósito deve ser o de não atirar à vida prática, ao exercício profissional elementos jejunos nos aspectos tecnológicos essenciais ao emprêgo dos recursos que o meio oferece para o telejornalista que, este sim, nos compete formar. Simultâneamente com essa preparação do estudante, iremos organizando o nosso Centro de Rádio e Televisão, onde serão desenvolvidas as atividades práticas, especialmente no que tange ao planejamento de programas, preparação e selecionamento de cartazes, “slides”, fotos, gravações, filmes e outros recursos audiovisuais para utilização futura, sendo desejável (e nesta fase de implantação do CRT, mesmo impositivo) que incluamos nessas atividades o levantamento dos mesmos recursos existentes em outros setores da UnB, assim como nas emissoras locais de TV. Com este acervo, na segunda etapa, irão os estudantes ser treinados na redação do roteiro tanto para noticiosos como para reportagens, devendo chegar mesmo, em convênio com emissora local, à apresentação, a partir de agosto, pelo menos de um programa mensal padrão de reportagem televisada. (Ao estudante que desejar dedicar-se ao campo da TV, como produtor e realizador, igualmente a FACUNB oferecerá um semestre posterior de PTV, que o habilitará no conhecimento das técnicas do espetáculo televisado, dos programas
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teatrais e de variedades. Contudo, em razão de não contarmos, ainda, com estúdios e emissora própria, e de exigir-se, como pré-requisito, outras disciplinas, tais como, Técnica e Prática de Teatro, Princípios de Música e Sonoplastia, Técnica e Prática Cinematográfica, Jornalismo Cinematográfico e Documental, e Folclore, essa extensão do ensino de comunicação audiovisual sòmente poderá ser adotada quando o permitirem as condições aqui argüidas e houver demanda, já que na Universidade não se pode nem se deve permitir improvisação). 3º) PUBLICIDADE, PROPAGANDA E DIVULGAÇÃO – Até hoje, nos cursos de jornalismo, a formação do pessoal da publicidade e da propaganda tem sido relegada à posição secundária, surgindo o estudo dos métodos e técnicas da persuasão da massa como mero subsídio à formação geral do jornalista. A nossa idéia – repetimos – é outra: - se nos propomos a preparar agentes culturais de comunicação, os nossos cuidados devem voltar-se de modo decisivo para o campo da divulgação, com propósito persuasivo. Em consequência, no currículo que apresentamos, com caráter compulsório para o estudante, dá-se ênfase aos quatros principais aspectos do que, genericamente, costumamos chamar PROPAGANDA: 1º) as técnicas promocionais de conquista, manutenção ou aumento dos consumidores de bens, utilidades e serviços industriais e comerciais (PUBLICIDADE); 2º) as técnicas promocionais de catequese e proselitismo ideológico (PROPAGANDA); 3º) as técnicas promocionais de familiarização e simpatia coletiva para com instituições públicas ou privadas nos seus programas de ação social (RELAÇÕES PÚBLICAS); e 4º) as técnicas promocionais de reconhecimento e apoio à ação administrativa do poder público, em favor do desenvolvimento do país (DIVULGAÇÃO GOVERNAMENTAL). Iniciando-se pelas noções de organização e administração das emprêsas especialmente as jornalísticas e de propaganda, a disciplina AEJ, sucessivamente, abrangerá o estudo teórico e prático da função de relações públicas (AEJ-II-FRP) incluindo a técnica do jornalismo industrial (jornal de emprêsa); dos métodos e técnicas de publicidade e propaganda (PP) e da divulgação administrativa (IG), com o objetivo de habilitar agentes culturais para as atividades de promoção, que ocupam, em nossos dias, lugar de absoluto destaque na estrutura social. Também nesse campo, serão proporcionadas condições de exercitação prática na nossa Faculdade , através das agências de publicidade e de notícias, a serem implantadas como oficinas de aplicação. Desse modo, será possível que, nos próximos semestres, já haja possibilidade e demanda para o funcionamento dos cursos de especialização, através das disciplinas de extensão – CPP, PPI e IGE, cada uma, naturalmente, reclamando
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pré-requisitos, nos campos das ciências políticas e econômicas, cujo ensino é proporcionado em outros institutos e unidades desta Universidade. Atenção especial nos vai merecer a preparação de pesquisadores na área de propaganda e da divulgação, e que será efetivado com a cooperação do Centro de Pesquisa da Comunicação, de cujo programa e tarefa nos ocuparemos a seguir. 4º) INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA – os efeitos da comunicação em massa, os problemas ligados à escolha dos veículos, à elaboração das mensagens e sua emissão, ao alcance e disseminação dos meios, à avaliação da opinião pública e das mudanças sociais em conseqüência do emprêgo das técnicas de informação e persuasão – constituem, hoje, uma área de absoluto relevo no planejamento e execução da ação social. Como os meios de comunicação coletiva são, por sua própria natureza, indiretos – não permitindo a constatação positiva e imediata do “feedback” – solicita-se da investigação científica a resposta para as indagações e problemas que envolvem a atividade comunicativa. Largas perspectivas estão abertas àqueles profissionais habilitados nos métodos e técnicas da pesquisa, seja morfológica, seja de conteúdo, nos meios de comunicação, bem como do que se refere à recepção, fixação e consequências das mensagens no comportamento coletivo. Neste sentido, o I Seminário Universitário da FACUNB, reconhecendo a importância do campo, recomendou especial desenvolvimento e tarefas urgentes ao CPC, instalado êste ano mas ainda não em funcionamento à falta de condições mínimas que, esperamos, nos sejam propiciadas em 1967. De qualquer maneira, do ponto de vista didático, poderemos oferecer aos estudantes que alcançaram crédito em ICC e HCGA, as primeiras noções de INVC, num programa que abrangerá definições e conceitos, exposição de métodos, exercitação de técnicas – notadamente, no primeiro semestre, do Jornalismo Comparado, que abrange a avaliação desapaixonada e objetiva do alcance e do valor comunicativo dos veículos impressos, orais e audiovisuais. Num segundo semestre de especialização e aperfeiçoamento, os alunos poderão aprofundar-se nos métodos de investigação científica, empreendendo trabalhos de campo e, ao contacto com a massa receptora de mensagens, tornarem-se sensíveis às mudanças sociais e oferecerem assim uma apreciável contribuição à tarefa do desenvolvimento cultural em que tôda a nação se acha empenhada. É evidente que a formação de investigadores de comunicação reclama o domínio de certas disciplinas do campo das ciências sociais, especialmente a sociologia, a antropologia cultural, a economia política, o desenvolvimento econômico e uma devoção especial ao paciente labor do colecionamento, da estatística e da comparação de dados, o que será proporcionado ao estudante nos trabalhos do CPC.
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FASE DE CONSOLIDAÇÃO – Expostas, assim, as idéias e diretrizes da coordenação sobre o currículo a ser posto em vigor na fase de transição por que passa esta Faculdade – de um centro superior de ensino de jornalismo para um núcleo universitário de formação de agentes culturais da comunicação – esperamos a vossa franca e objetiva crítica, que constituirá subsídio valioso à fixação definitiva da política didática e administrativa a ser seguida no próximo ano letivo, que será, de resto, o período de consolidação da FACUNB. Para tanto, já incluímos nossa programação orçamentária a construção de edifício próprio, com localização adequada para o funcionamento das classes do jornallaboratório e dos diversos centros e agências, bem como do museu e hemeroteca da comunicação. Está igualmente prevista a continuação das “demarches” para a obtenção de frequência para uma rádio-emissora e de um canal de TV, que enriquecerão o patrimônio desta Universidade e serão as nossas oficinas de aplicação na área das comunicações audiovisuais. Como também estruturado o Curso de Mestrado, que se incumbirá da formação de novas equipes de professores, recrutados em diversos centros universitários e profissionais do país. Como o prosseguimento da série de cursos de conferências e extensão, a cargo de professores brasileiros e estrangeiros entre os quais podemos citar os nomes de Pedro Bloch para a linguagem do rádio e do teatro; do espanhol Juan Beneyto, para a filosofia e sociologia da opinião pública; do equatoriano Ramiro Samaniego para as técnicas de investigação científica, e do italiano Umberto Eco para a problemática da comunicação de massa – além da repetição, com um planejamento mais adequado que a experiência nos ensinou, do Seminário Universitário – haveremos de progredir significativamente no caminho que nós traçamos ao implantar esta Faculdade pioneira na América Latina e das primeiras de tal amplitude no mundo. Desejamos, ainda, fazer referência ao nosso programa editorial, que inclui não sòmente a publicação quadrimestral da revista C&P como o enriquecimento da coleção “Comunicação Coletiva”, através de volumes dedicados à história, técnica do jornalismo, linguagem, organização e administração, sociologia, psicologia e geografia da comunicação, cujos originais já se encontram prontos ou em fase final de elaboração por autoridades de reconhecida competência. Não é nosso costume traçar planos e fazer promessas de realização impossível ou cumprimento improvável. E nem sequer poderíamos pensar nestes termos tão largos e auspiciosos se não estivéssemos seguros da vossa colaboração ativa e lúcida, de que, nesta oportunidade, ofereceremos o nosso mais alto testemunho.
A PESQUISA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A UNIVERSIDADE*
Luiz Beltrão
Falava-nos, outro dia, o prof. José Marques de Melo da introdução, na Universidade, ao lado da teoria e da prática, da investigação científica, como elemento fundamental à aprendizagem. Compreende-se fàcilmente a pesquisa como essencial nas ciências positivas e exatas, no mundo da física, da química, da tecnologia. Mas há sempre restrições ou uma tendência a considerar-se até esnobismo a utilização da pesquisa como meio de formar, - quando se trata das ciências do homem e da sociedade. Surge então a pergunta, a que nos propusemos responder: por que investigar no estudo das ciências da comunicação? 1) A MUDANÇA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Há qualquer coisa de espantoso na rapidez com que se processa a mudança nos meios de comunicação na época em que vivemos. Fixemo-nos em apenas quatro exemplos do que ocorre presentemente nos campos tecnológicos da comunicação gráfica. 1º) cientistas soviéticos descobriram e industrializaram um novo - processo de impressão fotográfica em papel não sensibilizado - denominado “Record” e já em uso para telecomunicações na URSS; 2º) os japoneses imprimem o seu diário “Asahi” simultaneamente em cinco diferentes cidades, enviando a Tokio o “fac-simile” das páginas pelo sistema de telefoto; 3º) os norte-americanos lançaram os seus satélites de comunicações, que permitem a recepção de fotografias, imagens de TV, “fac-similes”, enfim, de mensagens gráficas de qualquer natureza de um lado a outro do mundo em questão de segundos; 4º) as máquinas de traduzir de um idioma para outro são uma realidade e aperfeiçoam-se a cada passo.
* Capítulo da coletânea “Panorama atual da pesquisa em comunicação”. São Paulo: FJCL, 1968, pp. 19-28
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Quais as consequências que advirão desses inventos? Podemos antecipá-las com o que ocorre em Brasília, onde o “Correio Brasiliense”, único diário da capital federal, oferece edições de 6.000 exemplares, enquanto jornais do Rio e São Paulo vendem quase o duplo – “Ultima Hora” (4.000); “O Globo” (2.5003.000); “Jornal do Brasil” (700-1100); “O Estado de São Paulo” (600); “Jornal da Tarde” (500); “Correio da Manhã” (300-400). Porque mais informativos, mais bem representados, com mais tradição e correspondendo melhor ao gôsto do leitor, pelas técnicas de redação mais modernas e, - sobretudo, pela interpretação que sempre oferecem às notícias divulgadas – os jornais de fóra gosam de mais popularidade e conceito do que o “Correio Brasiliense”, a despeito de algumas vantagens que êste apresenta, como por exemplo: o noticiário local atualizado. A preferência do público, naturalmente, recai sôbre o melhor produto, norma, de resto, eminentemente comercial. Êste fato sugere que, em tempo não muito remoto, o leitor do Brasil, munido de um “Record” ou similar, poderá receber ao acordar, em sua cabeceira, o “New York Times” ou “Pravda” - e já traduzido para o português. Pode suceder com a imprensa brasileira em geral o mesmo que aconteceu com o “Correio Brasiliense” em relação aos diários do Rio e São Paulo. Nada disso é imaginação, porque o mesmo fenômeno de universalização com imediaticidade quando de divulgação de mensagens, sejam gráficas ou audiovisuais, está efetivado no campo das telecomunicações. Do contrário não assistiriam os norteamericanos e europeus as incursões cosmonautas ao espaço e não receberiam sinas e fotografias emitidas pelos engenhos postos na superfície lunar. Essas constatações é que estão levando os povos mais avisados a formarem, em nível superior e altamente especializado, as suas equipes de comunicadores. Para manterem a liderança, para assegurarem a sua presença com voz e voto nos destinos da humanidade é que as grandes nações dos nossos dias, à frente os rivais em ideologia política e interêsses econômicos – USA e URSS – investem milhões de dólares e rublos nos seus programas de comunicações, seja no que tange aos avanços tecnológicos, seja na propaganda e divulgação, seja na formação de experts em todos os campos da “mass comunication”. Os países líderes do mundo atual transpuzeram para o terreno coletivo aquêle conceito de RUESCH e BATESON, um psiquiatra e um antropólogo, relativo ao indivíduo: “ o que mais determina a superioridade de uma pessôa dentro do seu grupo é a destreza com que maneja os seus meios de comunicação, o receber informação e dar aquela de que os outros necessitam, o possuir um conceito operacional dos fatos e atuar de acôrdo com êles”. Se possuímos mas não sabemos utilizar os instrumentos e veículos de que dispomos para nos fazermos ouvir no mundo de hoje, fatalmente continuaremos desconhecidos, sem possibilidade de qualquer interferência nos negócios internacionais. Iremos sempre a reboque ou seremos uma voz perdida no deserto, desde que não aprendemos a falar a
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linguagem universal, permanecendo como as crianças deante de seus brinquedos mecânicos: dão-lhes corda mas não conseguem alterar-lhes os movimentos. É preciso que as escolas de comunicações investiguem os meios, a fim de prepararem as futuras equipes de elementos capacitados não sòmente a manejar os meios mecanicamente como de imprimir às mensagens o conteúdo nacional, de modo a que sejam recebidas, decodificadas e identificadas como brasileiras pelos receptores de qualquer nacionalidade. 2) A MUDANÇA NA SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS Defrontamo-nos, presentemente, com um mundo em transição. Para compreendermos a mudança social e nela nos integrarmos; para acompanharmos o processo de desenvolvimento, necessitamos da comunicação que constitui a base de tôda a evolução humana e o cimento das relações sociais. Mas, êsse conhecimento da importância da comunicação não é suficiente: “devemos saber em que forma é importante. Entender o processo, isto é, saber que partes o constituem, como se relacionam as partes entre si, como funciona a configuração dinâmica dos elementos para afetar a conduta humana- tôdo êsse conhecimento dá ao homem um controle eficiente sôbre o acontecimento e lhe permite, de acôrdo com os seus valôres, dominar o meio ambiente em vez de estar-lhe submetido” (Juan Diaz Bordenave). Esta é a tarefa da investigação científica. Se esta necessidade de investigar é sentida e exigida nas nações desenvolvidas, muito mais o será em países como o nosso, cujos capitais são escassos e nos quais precisamos de dados e informações seguras para basearmos as nossas decisões, de modo a reduzir ao mínimo os riscos do investimento e aumentar as possibilidades de obter resultados efetivos. OBSTÁCULOS À PESQUISA Ocorre que, entre nós, alguns obstáculos que opõem à pesquisa em comunicação: 1º) Em geral não acreditamos em mudança social a curto prazo, a despeito do fenômeno ocorrer em ritmo impressionante no mundo contemporâneo: as revoluções que se faziam por séculos faziam-se agora por décadas. Os exemplos a´estão; Alemanha, Japão, Itália e França no pós-guerra; China, Israel, os países africanos em nossas dias. 2º) Apêgo aos métodos empíricos tradicionais - ainda estamos convencidos de que a circulação de um diário significa que é o melhor. Sem dúvida, a circulação é um fato sociológico, mas não significa qualificação. Se juntamos a êsse fato, através de uma investigação científica, outros elementos valorativos, então descobriremos com a aptidão a atitude de qualquer dos meios de informação frente ao fenômeno social. Por isso, numa época em que nosso País precisa de informação e orientação com vistas ao desenvolvimento cultural e
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econômico, damos ao nosso público páginas inteiras de crimes e catástrofes, de política rasteira e de sensacionalismo pseudo-científico. Para exemplificar, rara é a emprêsa que se decide a iniciar um programa de relações públicas submetendose à pesquisa de opinião que lhe dará uma imagem verdadeira; os seus executivos preferem quase sempre lançar-se à campanha de RP de acôrdo com o que êles pensam que o público pensa a seu respeito. 3º) Falta de aptidão para a pesquisa. Somos um povo de inteligência aguda, facilidade de absorção e adequação, mas preferimos improvisar a investigar ou seja criar em bases científicas. Como há pouco, em Lima, ouvíamos de Jorge Fernandez, diretor do CIESPAL: “preocupam-nos mais os valôres retóricos que os valôres humanos”. Defendemos, por exemplo, a liberdade de expressão mas não sabemos o que fazer dessa liberdade. Nem sequer compreendemos que a liberdade não é um direito nosso, mas é um direito conquistado pelo povo, um direito social, que nos foi transferido pelo povo e que constitui para nós um dever. E não indagamos para quê queremos a liberdade, como deveremos usá-la, cumprindo o mandato do povo. Aqui é oportuno lembrarmos a lição de Fulton Sheen: se queremos deixar de sofrer de reumatismo é para andar. Continuamos bacharéis e não antropólogos, sociólogos, psicólogos. Continuamos individualistas, livre-atiradores, refugiados em nossas torres de marfim, e nos distanciamos – o 4º PODER – das equipes, dos grupos, do homem como tal, da sociedade em transformação em que vivemos. 4º) A manutenção do “status” privilegiado – como investigar cientificamente é efetuar “um processo disciplinado por meio do qual chegamos a entender as condições gerais em que ocorrem os acontecimentos”, tomemos a pesquisa, que nos irá indicar a mudança social operada ou em andamento. Mudança que inapelavelmente cancelará os nossos privilégios, la dolce vida que desfrutamos em relação à maioria dos membros da nossa sociedade, ainda mergulhada naquela “cultura da pobreza”, de que nos fala com tanta autoridade Oscar Lewis. 5º) O Jornalista Polivalente – o problema da América Latina, como dos jovens países africanos e asiáticos e até mesmo da autoridade norte-americana, agitada pelos sangrentos conflitos raciais – é um problema da cultura. Ao jornalista polivalente ( que se improvisava homem de rádio e TV, relacionista e publicitário) a investigação científica da comunicação vai mostrar que não se encontra mais atualizado nem capacitado às exigências da mudança social. Terá de ser agora um agente cultural especializado que se esforçará para transformar os meios de informação, tanto morfològicamente como em linguagem e conteúdo. A cultura popularizou-se ( e o ritmo dessa popularização vai em animador crescimento graças ao rádio e à TV); o dogmatismo do editorialista ou a superficialidade do noticiarista de eventos não mais são aceitos como válidas ou suficientes; à cultura escrita (do jornal “noticioso e independente” e o livro encadernado e bem posto nas bibliotecas) – a essa cultura livresca, retórica, distante e superficial, jungida à mera
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amostra descritiva de fenômenos sociais e a observações – e mesmo instituições – pessoais se antepõe como fator principal da mudança a cultura audiovisual. Enquanto os teóricos e intelectuais de gabinete se entregam a elocubrações em torno das vantagens ou dos prejuízos causados pelo rádio e pela TV – a massa se eleva gradativamente no campo do conhecimento e anseia por elementos de juízo, que só o jornalismo interpretativo lhe pode fornecer. Não mais opiniões baseadas em escalas de valôres e princípios ideológicos arquitetados pelo cérebro privilegiado de algum jornalista, filósofo ou moralista iluminado; mas dados estatísticos, entrevistas, experimentações de campo e de laboratório – fatos interpretados em sua origem e na evolução até a apresentação fundamentada das suas conseqüências à base de pesquisa e observação participante do agente cultural da comunicação, porta-voz e condutor de massa, com ela misturado e não isolado e sobranceiro. Só a investigação levará o jornalista a êsse câmbio, sem que se sinta frustrado pela perda da sua onisciência. 6º) Falta de pesquisadores competentes – Esse obstáculo Serpa reduzido exatamente pela criação de centros de pesquisa e cursos de formação de investigadores da comunicação nas Universidades. FINALIDADES DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA Com efeito , as finalidades de um centro de investigação científica nas escolas de comunicação visam: 1º) preparar comunicadores atualizados e pesquisadores de opinião e atitude, em relação aos meios de comunicação; 2º) adiantar-se sôbre o conteúdo da filosofia e as técnicas dos meios de comunicação. 1) O recente seminário de diretores de escolas de jornalismo católicas em Lima recomendou que as unidades universitárias destinadas à formação de comunicadores promovam o espírito de investigação científica entre professores e alunos, incluindo como disciplinas básicas em seu currículo: Teoria da Comunicação Coletiva, Psicologia Social e estudo da teoria e metodologia de pesquisa social aplicada à comunicação. Estas constituem realmente disciplinas fundamentais: se não temos uma visão completa do processo de comunicação, dos seus elementos e da sua dinâmica; se ignoramos a diferença de comportamento e das reações do indivíduo isolado e nas suas relações com o grupo;se não nos interessamos pelo estudo das práticas de pesquisa de efeitos já comprovados nas investigações levadas a cabo em ciências sociais – e se não nos convencemos de que sòmente o emprêgo de métodos científicos nos possibilitará a obtenção de informações fidedignas e imparciais e soluções aplicáveis à fenomenologia e problemática sôbre a qual formulamos hipóteses - então jamais conseguiremos a formação de quadros capacitados a alcançarmos as novas dimensões da comunicação, a que nos referimos antes.
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Essa convicção é que nos levou, anos atrás, no Recife, a empreender uma mudança de mentalidade dos nossos alunos da Universidade Católica. Aproveitando a ocorrência fortuita de uma greve de vinte dias dos gráficos que deixou a população sem os diários locais, intentamos uma pesquisa que nos ofereceu pelo menos duas constatações surpreendentes: - os recifenses preferiam o jornal ao rádio e à TV, que os escravizava a horários de que não dispunham para a sua informação; 2º) as matérias políticas eram as que tinham mais leitores, suplantando as informações desportivas e policiais. Uma outra pesquisa de opinião buscou indagar o que a população do Recife esperava do novo arcebispo, dom Helder Câmara – e deve ter-lhe servido de subsídio valioso à sua missão pastoral em Pernambuco. Com essas iniciativas, procurávamos despertar o interêsse dos estudantes para a pesquisa. Procurando estender a outras escolas do País êsse interêsse – pelo menos – do ponto de vista teórico, chamando a sua atenção para a mudança de programas que se impunham e para a ampliação dos cursos de jornalismo para abranger todo campo de comunicação – organizamos o I Curso Nacional de Ciências da Informação, estruturamos o ICINFORM e lançamos, em 1965, a revista “Comunicações & Problemas”. Sentíamos, contudo, que êsse trabalho era deficiente e buscamos meios de constituir uma equipe de orientadores e, depois, de professôres na teoria e na metodologia de pesquisa em comunicação. E isso dói o que nos levou a desenvolver as nossas relações com o CIESPAL, começando a enviar os egressados e professôres da UCP e, depois de Brasília, aos cursos internacionais que anualmente se realizam em Quito e nos quais os mais renomados mestres em comunicação coletiva e investigação científica das Américas e da Europa ministram preciosos ensinamentos. Fruto dêsse trabalho é a atuação de alguns enviados ao CIESPAL em diversos setores dos novos estudos jornalísticos – a começar pelo Prof. José Marques de Melo, que continuou atuando no Recife em pesquisa de jornalismo comparado e de morfologia e conteúdo e que trouxe para esta Escola a sua experiência e o seu elevado interêsse científico; a minha ex-aluna Zita de Andrade Lima, professôra de radiojornalismo na Universidade de Brasília , a cujos estudos e pesquisas estamos prontos a dever uma renovação dos métodos de ensino da sua especialidade com vistas à formação de especialistas na comunicação radiofônica, frente ao impacto da televisão; Tereza Lúcia Halliday, que ora comanda no ICINFORM o Departamento de Documentação e Pesquisa e cuja tarefa é prosseguir no programa de estudos teóricos do processo da comunicação e da investigação do campo dos seus efeitos; de Eleonora Rennó, Aluísio Valle e Roberto Emerson Benjamin, ora a caminho do CIESPAL para receberem ensinamentos valiosos quanto à psicologia e sociologia da comunicação. Encarregado de estruturar a Faculdade de Comunicação da UNB, nossa primeira precaução, em fins de 1965, foi inserir no currículo as disciplinas –
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Introdução à Comunicação Coletiva e Investigação Científica e criar a oficina de aplicação – Laboratório de Pesquisa da Comunicação - através da qual realizamos um levantamento dos meios de comunicação no Distrito Federal, um Atlas Brasileiro da Comunicação Coletiva (que está sendo terminado) e duas pesquisas de campo – uma sôbre o uso dos meios de comunicação pelos universitários locais e outra, sob a direção do eminente prof. Ramiro Samaniego, auxiliado pelo prof. Seixas Patriani, principalmente, e com a colaboração dos alunos, em que se constatou e mediu a influência dos meios de informação na fixação da população na nova capital e no sentimento de comunidade dos seus habitantes. Além do curso regular das disciplinas introdutórias, os alunos de Brasília tiveram a oportunidade êste ano de receber dois cursos especiais ministrados pelo prof. Juan Beneyto ( da Universidade de Madrid), sôbre Teoria da Opinião Pública, e do já aludido prof. Ramiro Samaniego, responsável pela primeira investigação ampla de opinião e atitude realizada na capital da República. Estão assim lançadas as bases, em Brasília, do plano de formação de pesquisadores – que atuarão não só no campo de investigação dos meios e efeitos da mensagem como nos mais amplos setores da fenomenologia da comunicação, em seus aspectos psicolingüísticos, semeóticos e histórico-sociológicos, com vistas a uma adequação de forma e conteúdo dos meios à realidade e atualidade do Brasil. Nêste sentido é que intentamos o estudo dos meios não convencionais de informação e expressão de idéias, através do que denominamos folkcomunicação , objeto da nossa tese de doutoramento e de que pretendemos oportunamente constituir grupos de pesquisadores para em diferentes regiões do Brasil e da América Latina realizarem a identificação e relacionamento dos agentes e dos veículos jornalísticos populares (excluindo jornais e radioemissoras) e que possam servir à difusão de inovações nas áreas rurais ou em populações urbanas marginalizadas. 2) Mas a pesquisa na Universidade tem outra importantíssima finalidade: a de promover a atualização constante do ensino e da aprendizagem. Não tem sentido mais que, por exemplo, continuemos a ensinar publicidade nos mesmos moldes que vimos ensinando nos últimos dez anos. Há que medir a influência da mensagem de persuasão; a sua receptividade através dos diferentes canais pela audiência; a aplicação de novas técnicas na elaboração dos textos e sua ilustração. E isso só pode ser verificado com segurança pela investigação de problemas colocados em seminários e mesas redondas ou resultantes da observação dos próprios anunciantes. Ainda recentemente causou alarme a redução da porcentagem de contratos de publicidade para a televisão. Que se passou? Por que o desprestígio do anúncio da televisão? Não será porque se repetem as mensagens indefinidamente e a TV, como o cinema, não permite a repetição além de certos limites? Com que freqüência e sob que forma física deve o anúncio ser apresentado ao público? Os professôres de publicidade – como os de Técnica
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Jornalística, de Relações Públicas, de Rádio ou telejornalismo – não podem continuar a realizar sòzinhos a sua atualização de métodos de ensino ou a manterem-se obstinados nos seus programinhas que serviram aos educandos ora em atividades nos diversos setores da comunicação coletiva. Estamos preparando agentes culturais de difusão para as três últimas décadas do século e não para hoje e ainda menos para ontem. Sòmente coma implantação dos centros de pesquisa e pela seriedade de execução de uma política exploratória de investigação científica na Universidade brasileira será possível reformularmos as linhas do ensino no País, respondendo assim aos desejos dos nossos estudantes e aos reclamos de um Brasil necessitado, mais do que nunca, de coesão e unidade.
ESTRUTURA CURRICULAR DOS CURSOS DE JORNALISMO NO BRASIL*
Luiz Beltrão
I – INTRODUÇÃO Não iremos, aqui, expor e debater controvérsias históricas sobre “os tempos heróicos” do ensino de jornalismo no Brasil, em nível universitário. Fixaremos, apenas, alguns dados e fatos que possam refletir uma evolução e orientação didática, revelada nos currículos adotados, a partir da instalação da Faculdade de Jornalismo CÁSPER LÍBERO, no ano de 1947, e do primeiro Curso de Jornalismo, anexo à Faculdade Nacional de Filosofia, na hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1948. Ambas, como ainda hoje a maioria das escolas de formação de jornalistas, se inspiram nas correntes pedagógicas norteamericanas de Pulitzer e Elliot – o que vale dizer que adotaram uma orientação humanístico-técnico-profissional. Mais humanística do que técnico-profissional, e isso não somente pela falta de equipamento nas escolas como pela própria inexperiência dos professores, a maioria dos quais sabia fazer jornalismo mas não sabia ensinar teoricamente a fazê-lo. Conhecemos até o caso de um hábil profissional de rádio – produtor, locutor, ator de mérito indiscutível, com formação universitária em Direito, que, convidado a ocupar uma cátedra, em uma semana expôs tudo o que sabia e ficou impossibilitado de continuar orientando a classe. Como era de um caráter honesto, demitiu-se – o que nem sempre ocorre com professores, que sem tarimba no magistério e sem qualquer curiosidade para com os métodos pedagógicos, continuam ditando classes, como se estivessem em uma tribuna parlamentar no exercício de uma ação procrastinadora. Quando não realizam uma fatigante e inóqua leitura de livros, reproduzindo conceitos e exemplos como aquele do homem que o cão e vira notícia (...). O fato é que a orientação predominante humanística continuou (e ainda se mantém em várias escolas, de modo especial nas que permanecem integrando faculdades de letras ou filosofia) – e influiu nos currículos mínimos oficiais, até
* Capítulo da coletânea “O ensino de jornalismo”. São Paulo: ECA-USP, 1972, pp. 109-121.
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a reforma de 1969 (Ou terá sido o contrário – os currículos oficiais é que mantiveram essa orientação, somente dela saindo, embora timidamente , após haver o CIESPAL realizado um Seminário sobre Ensino de Jornalismo, na ABI, ao tempo da gestão Celso Kelly, que, membro do Conselho Federal de Educação, era ali o relator permanente de quanto se referisse à formação de jornalistas na Universidade). A conseqüência dessa orientação trouxe dois prejuízos aos egressos dos Cursos – adquiriram, nas empresas que os acolheram o qualificativo de literatos, com sentido pejorativo. Diziam-nos capazes de escrever um romance ou perpretar urna poesia - mas não lhes falassem em captar, elaborar, redigir uma notícia ou reportagem. Por outra parte, inexperientes e alheios à atividade profissional, ao campo da informação, da interpretação e da opinião jornalística, tendo as portas das redações cerradas à sua entrada, valiam-se do diploma para o ingresso em outros campos da comunicação, que demandavam pessoal pelo menos com conhecimentos além dos ministrados nos cursos médios. Entre esses campos figuraram, na primeira linha, a divuIgação governamental, onde começavam a surgir os redatores do serviço-público, e, em seguida, as agências de publicidade e os serviços de relações públicas de empresas privadas. Foram essas circunstâncias que levaram o CFE a criar a figura de jornalista polivalente, o título universitário conferindo ao seu portador qualificação para ser jornalista, relacionista, redator de serviço público, publicitário, pesquisador em comunicação, tudo quanto não estivesse enquadrado em qualquer profissão regulamentada. De tal modo essa polivalência se impôs aos orientadores da formação profissional de jornalista que se chegou a elevar a carga horária do curso para 2700 horas em um mínimo do quatro anos para harmonizá-lo com a lei que favorece, no serviço público, ao portador do diploma universitário. E, não obstante transformarem-se os cursos de jornalismo em cursos de comunicação, funcionando como departamentos, Faculdades ou Escolas independentes, e preparando – ou podendo preparar – pelo menos quatro grupos de especialistas – permaneceu o homem-de-sete-instrumentos, pois a lei permite que, em um mesmo período de tempo e com a mesma carga horária, ainda agora se confira o esdrúxulo título de comunicador polivalente. II. PROBLEMÁTICA DA COMUNICAÇÃO Contudo, a problemática brasileira no campo das comunicações não permite mais essa polivalência. Entramos na fase da especialização, que se caracteriza por uma série de realidades que parecem haver sido minimizadas pelo CFE. Vejamô-las: 1) Regulamentação de profissões da Comunicação - Pela Lei n° 4680, de 18 de junho de 1965; o governo regulamentava a profissão de Publicitário; pela Lei n° 5377, de 11 de dezembro de 1967, profissionalizava-se o agente das Relações Públicas, e a profissão de Jornalista sofria mais uma regulamentação pelo Decreto
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n.972 de 17 de outubro de 1969. Exigia-se nível universitário dos profissionais em certas atividades culturais desses campos. Estabelecia-se normas para admissão de pessoal, que asseguravam direitos aos egressos da Universidade – O CFE em consequência desses instrumentos legais, cedeu a antigas aspirações de professores, diretores e profissionais da comunicação, autorizando o funcionamento de escolas independentes. O currículo-mínimo oficial estabelecido, relacionou, no ciclo introdutório, disciplinas cujo conhecimento considerou comuns e fundamentais a todas as áreas da comunicação. Uma segunda parte da carga horária (2200 horas) foi reservada a formar profissionais para áreas especificadas, definidas em seis: Jornalismo; Relações Públicas; Publicidade e Propaganda; Editoração; Documentação e Divulgação Oficiais; e Pesquisa em Comunicação. Para as quatro primeiras o currículo oficial estipulou o aprofundamento de suas técnicas e mais quatro disciplinas dentre as mencionadas na Portaria, que resultou do Parecer 631/69. Observe-se, de logo, que toda a preocupação do CFE continuou centralizada na formação de jornalistas, as novas atividades regulamentadas ou a regulamentar-lhe foram como que impostas. Não houve – ao nosso ver – um “aprofundamento” dos estudos sobre a realidade dessas atividades e do que o mercado de trabalho exigia dos relacionistas e publicitários. Em consequência, apesar daquela preocupação do CFE com os profissionais da informação, estes resultaram prejudicados em sua formação específica, pela introdução de técnicas inteiramente diversas daquelas que teria de utilizar no exercício do jornalismo. Não atendeu, ainda, o Conselho à necessidade de definir os elementos essenciais (disciplinas ou matérias, métodos e técnicas, oficinas de aplicação, etc.) para o pessoal que iria atuar no campo da documentação e divulgação oficiais nem no da pesquisa em comunicação. Mas quando já não se esperava; entre as áreas diversificadas (ou especializadas) surge – e em primeiro lugar (art. 4°, letra a) a habilitação polivalente, ou seja – o comunicador capacitado oficialmente a atuar em todos os campos da comunicação e que, repetimos, se habilita no mesmo prazo de formação que os demais. Parece-nos, portanto, que a orientação oficial não considerou, na medida e na profundidade necessárias, a realidade nascida da regulamentação profissional emanada do Poder Público, permitindo que se continuasse a atuar em áreas específicas sem uma efetiva habilitação. 2) Surgimento expansão das agências de propaganda e das empresas de pesquisa em comunicação - O empirismo e a improvisação terminaram, em dois campos específicos da comunicação - o da propaganda e o da pesquisa. Nem as empresas desenvolvem essas atividades nem os seus clientes, dados os investimentos financeiros que realizam, estão dispostos a aventurar-se com elemento humano despreparado, sem uma boa cultura geral, e jejuno em métodos e técnicas de persuasão e pesquisa. Impõe-se, assim, naturalmente, na época em que o País atravessa fase de expansionismo e desenvolvimento, uma formação
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eficiente de agentes culturais para atividades profissionais consideradas importantes alavancas no processo de produção e consumo de bens e serviços, e de conscientização do povo quanto a evolução sócio-política nacional. 3) Evolução do grafo-jornalismo sob a ocorrência e popularização do jornalismo radiofônico, televisado e cinematográfico – O rádio e a televisão secundaram e desenvolveram a ação do cinema no exercício do jornalismo. Como o rádio, a infomação de atualidade para as massas se tornou instantânea: a notícia é ouvida no exato momento em que ocorre o fato que a gera. A televisão enriquece a informação com a imediata imagem do acontecimento noticiado. São canais sobretudo informativos. O cinema - sob o impacto desses novos e poderosos veículos - lança-se ao campo do documento. Ao jornalismo impresso resta evoluir para a interpretação, não apenas nas revistas ou no livro-deatualidade (as edições-flashes), mas na folha diária. Desenvolvem-se os departamentos de pesquisa e a antiga morgue, que quase se reservava para fotos e clichês, que era um simples setor auxiliar, cresce de importância, tornando-se como que o centro de gravitação de toda a obra jornalística em nossos dias. Esta obra é realmente enciclopédica, e abrange não apenas a parte redacional, o conteúdo diário como também se impõe à sua morfologia, fazendo surgir no jornal, na revista, em qualquer publicação, os elementos especializados em diagramação, os fotógrafos, os ilustradores, o homem que aprendeu a expressarse plasticamente. Saber escrever corretamente o idioma ou conhecer um pouco de filosofia, literatura e política já não são predicados suficientes ao exercício desse grafo-jornalismo absorvente e total. 4) Concentração de empresas jornalísticas e ampliação do mercado de trabalho – A falta de pessoal qualificada para o jornalismo interpretativo; a estagnação e o progressivo enfraquecimento econômico das empresas que não acompanharam a evolução tecnológica e de conteúdo - a revolução imposta nos seus veículos de divulgação pelos fatores apontados e a necessidade de ampliar o campo de ação direta de cada um desses veículos para atender aos reclamos das vastas e dispersas audiências dos nossos dias, foram alguns dos fatores do fenômeno de concentração das empresas jornalísticas e de sua paradoxal consequência - um também mais largo mercado de trabalho. Como no grafojorna-lismo agora há lugar para mais repórteres, mais comentaristas, mais fotógrafos, mais ilustradores, mais pesquisadores, mais orientadores, as secções ou colunas virando departamentos e criando-se sempre novos suplementos, cadernos, edições especiais – também o jornalismo radiofônico, televisado, e cinematográfico empreendeu a busca de gente capacitada, em suas técnicas. As agências de informações gerais e especializadas, as sucursais, as organizações jornalísticas de fotos, quadrinhos, curiosidades e passatempo igualmente expandiram os seus serviços, reclamando pessoal. Isso sem falar nos serviços
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públicos de imprensa, nos setores de divulgação das grandes empresas comerciais e industriais, nas publicações especializadas, no chamado jornalismo industrial áreas que se interpenetram com as Relações Públicas e a Propaganda. 5) A transferência da Capital Federal para o Planalto Central – No caso brasileiro, a necessidade urgente de formar pessoal em nível universitário para as lides jornalísticas se acentuou com a conquista de novos centros políticos e culturais e de territórios imensos até pouco marginalizados, fora do impacto e do alcance da informação de atualidade. A transferência da Capital Federal para o Planalto Central criou, em Brasília, um centro de irradiação e recepção de informações e exigiu a implantação, em toda a região planaltina e do centro-oeste, de uma rede de jornais, sucursais, correspondentes, rádio e tele-emissoras, casas de espetáculos cinematográficos. O mesmo irá acontecer, com maior ou menor intensidade, na região amazônica, com o programa de integração aberto pela construção da rede rodoviária da selva. Tudo isso representa mercado de trabalho e tem carência de pessoal capacitado. III) A DEMANDA DE JORNALISTAS As condições de organização, permanência e desenvolvimento das empresas jornalísticas na fase de transição de uma indústria rotineira para uma indústria dinâmica e em constante mutação, criaram também condições especia-líssimas para o recrutamento de profissionais. Como não há mais tempo nem lugar para uma aprendizagem direta, como há vinte anos atrás, a indústria jornalística exige: a) habilitação real, e não improvisação do profissional. Este deve ser capaz de conhecer em profundidade os meios, as técnicas, os métodos de produção da informação; b) para tanto, há de aprimorar a sua cultura na Universidade, não limitando os seus conhecimentos a uma linha histórico-literária, mas adquirindo um acervo de conhecimentos sobretudo na área das ciências sociais e daquelas que se apliquem aos fenômenos gerados pelos novos meios de comunicação, sua linguagem específica, seus efeitos na psicologia e no comportamento da audiência sua influência no desenvolvimento cultural, econômico e social do País; c) esse acervo cultural e o conhecimento e manejo das técnicas e métodos de captação, elaboração e transmissão das informações deve desenvolver no jornalista realmente habilitado um espírito aberto às inovações, desde que o processo da comunicação está sempre sujeito a mutações, provocadas tanto pela transformação dos meios como pelas extensões do sistema geral das comunicações. Como, por exemplo, continuar a fazer jornalismo impresso meramente informativo em um lugar ou região já suficientemente coberta ou até saturada pelo rádio e pelo telejornalismo? Como continuar produzindo para todo o País jornais cinematográficos com fontes de aldeia ou com acontecimentos que,
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embora de maior repercussão, já foram amplamente difundidos pelos meios eletrônicos? Nesse campo, aliás, estão lamentavelmente atrasados os jornais cinematográficos semanais e obrigatoriamente exibidos no País, e o que é pior, com a classificação da censura federal, como de boa qualidade. Em retribuição a esses exigências, a indústria jornalística moderna oferece a possibilidade de há muito perseguida pelos autênticos profissionais da informação: salários compensadores para uma dedicação integral. Não mais o jornalismo será um gancho, um recurso de que se vale um intelectual para complementar a renda obtida de uma atividade lucrativa principal, função pública, emprego em atividades privadas, representações, magistério, profissão liberal. Diante desses fatores e condições, dessa problemática do campo do jornalismo, é que à Universidade compete estruturar os currículos atendendo a todos os reclamos e aspectos da situação, sem descuidar da projeção para o futuro. Mas, a Universidade brasileira tem a sua autonomia regulada pelo Conselho Federal de Educação e seus currículos de formação técnico-profissional e cultural estão sujeitos a uma orientação, fixada no currículo-mínimo elaborado pelo aludido Conselho. Assim, para que objetivamente possamos apreciar a estrutura curricular dos cursos de jornalismo no Brasil, teremos, primeiramente, de tentar uma apreciação crítica da orientação do CFE e do seu currículo-mínimo. IV) O CURRÍCULO-MÍNIMO OFICIAL O preparo, em nível universitário, de profissionais para as atividades do jornalismo está integrado no grupo de formação social e não mais no de filosofia e letras, como tradicionalmente. Essa integração – que se constituiu em significativa mudança de orientação por parte das autoridades educacionais do País permite uma abertura de perspectivas mais amplas à habilitação de profissionais e pesquisadores no campo fundamental da comunicação humana. De acordo com o Parecer nº 631 do CFE, adotado por Portaria Ministerial, o currículo-mínimo do Curso de Jornalismo tem a seguinte estrutura: I – Parte comum a todas as modalidades de habilitação de comunicadores (Jornalismo, Relações Públicas, Propaganda, Editoração, etc.), a ser ministrada (art. 7º) na metade da duração mínima prevista para o curso, que é de 2200 horas (art, 8º), abrangendo, portanto, logicamente – desde que são matérias básicas, denominação utilizada no art 3º e que, por isso, devem ser consideradas prérequisitos – as primeiras 1100 horas de integração do aluno na Escola. Transcrevemos o texto: “Art. 3º. A parte comum constituída de matérias básicas, abrangerá as seguintes, além da Sociologia, integrante dos currículos do grupo de formação social. 1. Fundamentos Científicos da Comunicação;
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2. Ética e Legislação dos Meios de Comunicação; 3. Pesquisa de Opinião e Mercadologia; 4. Introdução às técnicas de Comunicação, compreendendo Prática de: a) Jornalismo impresso, radiofônico, televisionado e cinematográfico; b) Teleradiodifusão, cinema, teatro; c) Relações Públicas; d) Publicidade e Propaganda; e) Editoração. 5. Jornalismo comparado; 6. História da Cultura e, especialmente, dos meios de comunicações; 7. Problemas sociais e econômicos Contemporâneos; 8. Cultura Brasileira.”
São ainda ministradas, pelo menos, duas disciplinas de livre escolha, dentre 13 indicadas no §1º. Ora, como as matérias praticadas, constantes no nº4 antes citado se elevam a cinco, então teríamos 16 matérias a serem proporcionadas nas 1100 horas taxativamente estipuladas pela lei. Ocorre que algumas dessas matérias práticas não podem ser oferecidas em bloco, tal como aparecem na lei, tanto por se referirem a técnicas específicas como pelas dificuldades de um mesmo professor ser especializado em diferentes técnicas. Terão de ser desdobradas. Assim teremos na realidade: 1. Introdução às técnicas do jornalismo impresso; 2. Introdução às técnicas do jornalismo radiofônico; 3. Introdução as técnicas do jornalismo televisado; 4. Introdução às técnicas do jornalismo cinematográfico; 5. Introdução às técnicas de teleradiodifusão; 6. Introdução às técnicas do cinema; 7. Introdução às técnicas do teatro; 8. Introdução às técnicas das Relações Públicas; 9. Introdução às técnicas de Propaganda; 10. Introdução às técnicas de Editoração. Com essa nova discriminação de matérias (continuamos usando a designação da Portaria), elevar-se-á a 21 o número das que deverão ser proporcionadas obrigatoriamente nas 1100 horas/aula do básico, cabendo, numa divisão eqüitativa, o máximo de 52,3 horas/aula para cada uma. A nenhum analista do currículo-mínimo do CFE escapará que, entre as técnicas de comunicação – como as técnicas realmente básicas e que, na Portaria Ministerial, figuram somente no art.5º - hão de incluir-se pelo menos três, sem cujo domínio nenhuma mensagem válida pode ser cientificamente codificada pelo comunicador. São as técnicas de expressão oral, escrita e plástica, nas quais se fundamentam as demais técnicas comunicativas (1 a 10 acima enumeradas). Em
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consequência, na parte comum, teremos mais três matérias, elevando-se o seu número a 24 e reduzindo-se para 45,8 o máximo de horas/aula – tempo absolutamente insuficiente para a ministração sequer de noções gerais sobre cada uma das matérias consideradas básicas no currículo-mínimo. V) APRECIAÇÃO CRÍTICA Esses simples dados numéricos e matemáticos levam-nos à constatação de que quanto à carga horária, a parte comum do currículo-mínimo em vigor é impraticável. E, a verdade, a distribuição dessas matérias não está sendo feita pelas escolas conforme tão taxativa determinação. Na Escola de Comunicação e Artes de são Paulo, por exemplo, as matérias Ética e Legislação dos Meios de Comunicação, Cultura Brasileira e Jornalismo Comparado estão sendo ministradas este ano no 7º e 8º semestre (V. Currículo de Adaptação/1972), enquanto (decerto num esforço para cumprir o disposto na Portaria do MEC), no crrículo agora em vigor (Estrutura Curricular/1972) juntam-se, no 3º semestre, matérias tão diferentes como 2) Introdução ao Jornalismo e Editoração e 3) Introdução à Teleradiodifusão, Cinema e Teatro. Assim mesmo, essas matérias, pelo seu enunciado, são teóricas – o que é lógico, pois não se compreenderia a prática do jornalismo, por exemplo, para o candidato a relacionista ou de RRPP, para jornalistas... Acontece que a leite determina Introdução às Técnicas, com Prática... Já no 4º semestre, figuram – 7) Pesquisa da Opinião e Mercadologia; 3 – Jornalismo Comparado; 5 – Introdução às Relações Públicas e à Propaganda e Publicidade. Mas essas matérias já estão fora do prazo (carga horária) de 1100 horas estabelecidas pela Portaria Ministerial , a não ser que a ECA ofereça apenas 275 horas/aula por semestre, ou seja, 3,05 horas/aula por dia letivo (90 dias). Como a escola oferece 7 matérias por semestre, além de Palestras e Seminários, o máximo de horas/aula por matéria, em média, seria de 39,2. Repetimos: a carga horária estipulada pela Portaria Ministerial – na parte comum, mesmo com a exclusão de matérias realmente básicas, a que já nos referemos, é IMPRATICÁVEL e ANTI-DIDÁTICA. Se examinarmos, agora, o conteúdo das matérias que foram consideradas básicas pelo CFE, e destinadas ao ciclo comum, chegaremos à mesma conclusão: não há uma orientação segura na eleição de tais matérias. Afora Sociologia, Fundamentos Científicos da Comunicação, História da Cultura, Problemas Sociais e Econômicos Contemporâneos e Cultura Brasileira, e algumas das complementares que figuram no §1º do Art. 3º, como Direito Usual, Documentação, Economia, Estatística, Idiomas Estrangeiros, Filosofia (que leva o incrível apêndice – “incluindo lógica”), Política e Administração e Psicologia Social – as demais são disciplinas, métodos ou técnicas específicas de determinado campo da comunicação. Exemplos – Jornalismo Comparado é um método de Investigação Científica da Comunicação e não pode ser ministrado sem uma série de pré-
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requisitos como Introdução à Investigação Científica e Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, pelo menos; o mesmo se pode dizer de Pesquisa de Opinião e Mercadologia, que são matérias (para usar a expressão consignada pelo Parecer) diversas entre si. Também fundamentalmente diversas são as Técnicas de Comunicação, arbitrariamente reunidas em blocos exóticos, entre os quais o mais clamoroso é, sem dúvida, Teleradiodifusão, Cinema e Teatro. Não se pode, igualmente, dar a conhecer a iniciantes e fazê-los aptos a aplicar princípios de Ética e Legislação dos Meios de Comunicação, pois são pessoas que não tem ainda noção exata de conteúdo, das funções e disfunções, do real alcance da comunicação e dos meios na sociedade. Essa é evidentemente uma disciplina a ser situada no final de cada curso específico (Ética e Legislação de Imprensa; Ética e Legislação de Radiodifusão; Ética e Legislação das Relações Públicas, etc.). A maior dificuldade, porém para a conformação dos currículos das Escolas ao currículo-mínimo do MEC, em sua parte comum, está nas matérias discriminadas no art. 3º, nº 4, como Introdução às Técnicas de Comunicação compreendendo Prática. Não somente por constituírem blocos heterogêneos de técnicas, como, sobretudo, por forçarem o estudante a aprender e praticar técnicas específicas de determinada habilitação, para a qual não se encontra motivado. Assim, o estudante que deseja habilitar-se em jornalismo terá de conhecer e manejar, no ciclo comum, as técnicas de Relações Públicas, de Publicidade e Propaganda, de Teatro e de Editoração, cujo domínio exigirá uma série de prérequisitos, que somente os cursos específicos lhe poderão proporcionar. Já vimos como a estrutura Curricular da ECA busca “resolver” tão esdrúxula orientação: não oferece ao estudante uma introdução às técnicas mas uma introdução a cada área específica, ou seja, a cada atividade da comunicação, a partir do 3º semestre - 2) Introdução ao Jornalismo e à Editoração; 3) Introdução à Teleradiodifusão, Cinema, Teatro, etc. Trata-se logicamente, de dar ao estudante uma idéia de contanto de cada área, a fim de ajudá-lo a eleger aquela em que se irá habilitar. Essa solução, além de falha já apresentada de reunir conteúdos tão diversos em um mesmo programa, sob a pressão da carga horária do ciclo comum, é adotada ao arrepio da lei, pois não é o mesmo ensi-nar técnicas e analisar conteúdos. Talvez as únicas técnicas admissíveis na parte comum sejam exatamente aquelas que não surgem taxativamente incluídas na parte comum, isto é as técnicas de expressão (oral, escrita e plástica). Essas é que são realmente úteis e imprescindíveis a qualquer comunicador, seja em que área atue. Aliás vamos encontrá-las na estrutura curricular da ECA (1° e 2º semestres) como comunicação linguística - I e II, que compreendemos como Expressão Oral e Escrita, havendo algo que significa Expressão Plástica, nos estudos de Fotografia e Diagramação, mas já no ciclo específico de jornalismo. No currículo vigente do CEUB, essas técnicas básicas - talvez pelo mesmo
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motivo - a pressão da carga horária na parte comum - vão surgir nos três últimos semestres: Expressão Verbal em Língua Portuguesa e em Inglês, e Expressão Plástica (Fotografia, Ilustração, Audiovisual, Desenho). A solução do CEUB constitui um autêntico carro adiante dos bois... Mas, sem dúvida, está de acordo com a exótica filosofia do parecer do CFE : primeiro as técnicas das áreas e dos meios de comunicação; e depois, as técnicas da comunicaçâo cultural: a fala, a escrita, a imagem... A apreciação crítica que realizamos da estrutura da parte comum do currículo-mínimo oficial permite-nos concluir que, também quanto ao conteúdo e indicação das matérias obrigatórias, as Escolas estão travadas em seu desenvolvimento natural por um elenco tumultuado, no qual disciplinas, métodos, técnicas, processos teóricos e práticos de ensino, atividades escolares básicas, que se constituem em pré-requisitos, e atividades conseqüentes estão confundidos nas valas comuns dos arts. 3º e 5º e seus parágrafos. Todas as tentativas de ordenamento e sistematização encontram barreiras que seriam insuperáveis, não fossem as vistas grossas que a fiscalização do MEC faz diante da impraticabilidade dos dispositivos regulares. VI) HABILITAÇÃO EM JORNALISMO Quanto às áreas diversificarias, o currículo oficial é mais liberal para com as escolas, permitindo-lhes o desdobramento de matérias e o acréscimo de disciplinas complementares que a Escola julgue necessárias (art. 6º). Pois para o CFE, a habilitação de profissionais especializados consta, apenas, de: 1. Aprofundamento das técnicas discriminadas no art. 3º e suas letras. 2. Mais quatro disciplinas do elenco do §1° do mesmo artigo. 3. Aulas práticas e atividades profissìonais (estágios), conforme o art. 5º e seus parágrafos. Quanto a esta parte do currículo-mínimo ocorre-nos chamar a atenção para duas impropriedades na redação da lei: – No art . 7° - § único, não cabe falar em “a outra metade da duração mínima do curso”, pois isso limitaria o curso, em definitivo, a 2200 horas. E o art. 8° oferece a possibilidade de maior número de horas, distribuídas da três a seis anos letivos. O que a lei pretende, na verdade, é que o restante do curso, ou seja, a partir de 1100 horas, o trabalho de aprendizagem vise à especialização ou à referida polivalência. – No art. 5 - § 1° - 4-, ao nosso ver não se trata de um Escritório de Pesquisa de Opinião e de Mercado, pois que nada tem o comunicador com o Mercado - mas de um Centro de Pesquisa em Comunicação, que seria a oficina de aplicação, não somente para os estudantes de jornalismo como para os demais estudantes de áreas especializadas.
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Como as escolas que participam desta semana de Estudos organizaram seus currículos de Jornalismo, quais as experiências, nesta área e como se processaria, de uma maneira ideal, o desdobramenlo das disciplinas para o aprofundamento das técnicas discriminadas no art. 3º, letra b, bem como quais as disciplinas mencionadas no §1° do mesmo artigo que mais conviria ministrar aos alunos serão objeto de estudo por parte dos relatores dos sub-temas, que, com seu tirocínio e capacidade trarão à discussão aspectos da maior oportunidade, serem fixados no relatório final. Antes, porém, de encerrar esta parte da nossa exposição, julgamos dever transmitir-lhes que, ao nosso ver, as deficiências, incongruências retas e excentricidades do currículo-mínimo do CFE se originam e refletem uma posição contraditória com a realidade e as necessidades do País no campo da comunicação em nossos dias: a manutenção de uma habilitação polivalente, quando em todos os campos profissionais se buscam os especialistas, como uma decorrência mesma da divisão do trabalho, característica da organização, da administração e da economia contemporânea. VII) ATIVIDADE PROFISSIONAL E UNIVERSIDADE A formação do jornalista na Universidade estaria incompleta se não incluísse o treinamento e a experimentação da atividade profissional. O currículo-mínimo oficial exige que a Escola tenha, para o aprendiz de jornalismo, duas oficinas de aplicação: o jornal- laboratório e o estúdio-laboratório. E acrescenta (art. 5º, §2º) que, “não dispondo dos órgãos acima... o curso manterá convênios com entidades públicas e privadas que possibilitem a prática das técnicas curriculares”. A nossa realidade, no tocante à existência dessas oficinas, de aplicação, é a de que, salvo em pouquíssimas escolas, professores e alunos não dispõem sequer de uma sala de redação, aparelhada convenientemente, com número suficientes de máquinas datilográficas, arquivos, teletipos, mesa de diagramação e revisão, biblioteca, etc. Poucas, pouquíssimas, contam com oficinas gráficas, laboratórios fotográficos, um mínimo de instalações e equipamentos para a produção de um periódico. Estes, quando editado por curso ou escola de jornalismo são praticamente iguais às folhas colegiais, em pouco diferem portanto dos jornaizinhos editados nos estabelecimentos de ensino médio. Não há possibilidade de edição de um diário, um semanário ou uma revista de atualidade. Não há portanto, qualquer efetivo e proveitoso treinamento profissional nas publicações editadas em nossas escolas que, no máximo, são dirigidas a um público restrito – o pessoal da Universidade. Ora, o jornalista vai dirigir-se às massas, dificilmente emprestará, de início, a sua colaboração a um periódico especializado, dirigido a um número limitado de leitores. Ainda não amadureceu, no espírito de responsáveis pela formação universitária do jornalista, que o jornal-laboratório, faltando-lhes aquelas condições
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de curta periodicidade e de distribuição a públicos vastos, heterogêneos e dispersos, deve ter caráter experimental, ou seja, deve ser veículo de experiências (sejam morfológicas ou de conteúdo) que não podem – por questões econômicas, sobretudo, mas também pela repercussão da nova imagem do periódico na opinião pública – ser realizadas nas empresas. Ao contrário, o que vemos é a publicação editada pela Escola, no máximo, acompanhar as inovações gráficas e redacionais da imprensa industrial. Quando acontece esse caso, com muito orgulho os professores apresentam o seu periódico como modelo... Modelo de imitação e não modelo de invenção, como deveria sê-lo. Para suprir, pelo menos no que tange à captação, sua elaboração, seu tratamento jornalístico, enfim, a falta de meios para a edição de uma publicação – algumas escolas dispõem de oficina de aplicação diferente: agências de informações e reportagens, de fotos e ilustrações. Em nossa opinião desde que a agência laboratório obtenha clientes (de preferência compradores das matérias produzidas) que as divulguem nos seus periódicos ou rádio e tele-emissoras – esta espécie de treinamento é muito mais eficaz do que a edição dos jornaizinhos e revistinhas antes aludidos. Quanto aos estágios em empresas jornalísticas se, por um lado, apresentam a vantagem de familiarizar o estudante com o exercício diário e dinâmico da profissão, por outro o retiram da orientação do professor, desaparecendo, nessas condições, um dos esteios, uma das motivações mais imperiosas da aprendizagem na Universidade. Ademais, os estágios somente beneficiam aqueles estudantes que se encontram nos últimos semestres, que já devem dominar, de certo modo, as técnicas da comunicação jornalística. Os demais estarão sujeitos ao vexame de exibir perante profissionais tarimbados a sua ignorância e despreparo. Então permanecem na escola enchendo a cabeça com teorias e normas, do como se deve fazer, e não de como se faz jornalismo Tudo quanto dissemos acima a respeito do jornal-laboratório é aplicado aos estúdios-laboratórios de rádio ou televisão. Transmitindo programas para públicos reduzidos, sem perceber a crítica da audiência massiva, como poderão, os estudantes, avaliar o próprio trabalho e desenvolver as suas aptidões? Por isso, pela ineficácia dos atuais métodos de treinamento profissional dos futuros jornalistas é que o estudante estagiário goza de tão pouco conceito junto às empresas. Por isso também é que se impõe, como fundamental para a modificação dessa opinião a atitude e para a manutenção e desenvolvimento da colaboração Empresa/Escola, a criação de um centro de pesquisa em jornalismo, voltado para a investigação e análise de toda a problemática da atividade sócio-econômica e técnico-profissional, em nível universitário. Esse centro de pesquisa em jornalismo implantado em Brasília, São Paulo e Rio, centros universitários que apresentam as melhores condições físicas no País: tornaria possível, pela sua institucionalização e pelos recursos econômicos e de pessoal
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que carrearia, um intercâmbio efetivo de educadores, profissionais e empresários do jornalismo, autoridades públicas do setor das comunicações e técnicas diferentes de áreas - situação a que não chegaram as numerosas iniciativas de associação já tentadas no país, a começar pelo Instituto de Ciências da Informação, que fundamos no Recife em 1963, e que sequer pode continuar editando a sua revista, até a última associação, criada, batizada, e nati-morta no Encontro de Salvador, há dois anos, sem uma base sólida jurídico-econômica e sem a base física autônoma (edifício próprio, com todas as instalações de que necessita e com pessoal permanente, dedicado, em tempo integral, aos seus objetivos) - também essa instituição que indicamos e que consideramos essencial aos objetivos que nos reúnem, hoje, nesta Cidade e nesta Universidade, também essa instituição não passaria de mais um e inócuo organismo pretensamente educacional e científico. Considerem, os companheiros presentes a este encontro, especialmente os mais velhos com a sua vivência, a inutilidade quase total dos Congressos, conferências, encontros, semanas de estudo e até mesmo cursos esporádicos de que participamos. Sem um executivo permanente, que reúna, estude, equacione e procure por em andamento as resoluções de tais conclaves - tudo se reduz, como dizem os mais moços, a blá-blá-blá. Com esse executivo, de que participariam todas as escolas, que seria a casa de cultura de professores, estudantes e profissionais de informação, seria possível modificarmos a situação atual e avançarmos mais, especialmente com referência aos nossos irmãos latinoamerica-nos, que nos procuram buscando orientação - no caminho de uma formação jornalística de acordo com as angustiantes necessidades do nosso povo, do povo de uma América Latina que desperta, com toda a sua potencialidade e pujança, para a sua própria Era.
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OS PROGRAMAS DAS ESCOLAS BRASILEIRAS DE COMUNICAÇÃO. COMO E ONDE DEVEM PREPARAR-SE OS COMUNICADORES RURAIS*
Luiz Beltrão
Embora desde 1943 a formação de profissionais do jornalismo houvesse sido incluída na estrutura universitária brasileira, somente quatro anos depois, em maio de 1947, era instalado o Curso de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo. Seguiram-se outros, dependentes das Faculdades de Filosofia e Letras, que, entretanto, lutavam pela autonomia - luta que não encontrava ressonância nos meios dirigentes e orientadores da política educacional do Pais. Até 1966, apenas dois centros de formação se tornaram autônomos: o de São Paulo, integrado, como Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, na Universidade Católica de São Paulo, e um mantido pela Fundação José Augusto, em Natal - a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza. Em fins de 1965, duas Universidades, reconhecendo a importância da formação, não apenas de jornalistas, mas de profissionais aptos ao manejo de todos os veículos de comunicação de massa, e as gritantes necessidades de pessoal habilitado a responder, em tal campo de atividades, à fase da evolução brasileira - elaboraram planos de funcionamento de unidades autônomas para a formação de comunicadores: a Universidade de Brasília e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Assim, em 1966, na primeira, os departamentos de jornalismo e cinema então existentes foram extintos, surgindo a Faculdade de Comunicação, com um currículo de transição, que pretendia a formação de pessoal para as Comunicações gráficas e audiovisuais, propaganda e relações públicas; quanto à última, punha em funcionamento a sua Faculdade dos Meios de Comunicação Social (FAMECOS), com os cursos de jornalismo, cinema, rádio e televisão, publicidade e relações públicas. No ano seguinte, mais duas escolas se estruturavam: a Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo e a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, subsistindo os cursos de jornalismo em diferentes centros universitários do País. * Exposição do subtema. Capítulo do livro “Subsídios para uma política nacional de informação rural”. Brasília; Cobir, 1972, pp. 215-226
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A ORIENTAÇÃO DO CFE As iniciativas pioneiras esbarravam sempre na posição do Conselho Federal de Educação, aferrado à orientação de proporcionar aos estudantes antes uma cultura humanística do que técnica, e de formar jornalistas polivalentes, e não profissionais especializados nos diversos campos da atividade co-municativa. Um único fato ilustra essa intransigência ideológica: a árdua luta sustentada durante anos pela Universidade Católica de Pelotas para criar uma unidade autônoma, a sua Faculdade de Jornalismo, finalmente reconhecida pelo CFE este ano, mas como um mero curso... Em 1965, realizava-se no Rio um dos quatro seminários latino-americanos de ensino de jornalismo e necessidades dos meios de comunicação, promovido pelo Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para a América Latina (CIESPAL). Alguns membros do CFE tomaram conhecimento das atividades daquele Centro e da amplitude do campo aberto ao preparo e à atuação de comunicadores. Como resultado desse Seminário e da realidade da existência de duas escolas em funcionamento, cujo currículo enfatizava matérias como Teoria da Comunicação, Sociologia e Psicologia Social, para oferecer ao estudante uma base mais sólida à utilização dos poderosos meios de divulgação da atualidade, o CFE deliberou elevar para 2.700 horas o limite de tempo de aula e incluir novas disciplinas, numa reforma do currículo mínimo, que, entretanto, insistia no caráter polivalente da formação de jornalistas. A despeito de, mesmo no estrito campo do jornalismo, o profissional estar deixando de ser polivalente para fazer-se especializado – situação refletida na organização das empresas, com os seus departamentos, em lugar do bloco unificado sob a batuta do Secretário da Redação, a orientação do CFE perdurou. Até mesmo o Parecer nº 631, de 2 de setembro de 1969; que, transformado em Resolução Ministerial, hoje rege as escolas de comunicação; enquanto timidamente admite a formação específica de pessoal para profissões regulamentares (jornalismo - escrito, radiofônico, televisado e cinematográfico; publicidade e relações públicas) acrescentando apenas editoração; divulgação oficial e pesquisa da Comunicação, deixa à margem outras que exigem igualmente preparo em nível universitário, como produção de rádio e televisão, cinema, teatro, informação rural, turismo, etc. Ocorreu, nesta última reforma, aspecto mais grave: foi reduzido o prazo de formação para estas profissões para 2.200 horas, o que seria justificável, mas se permitiu que, no mesmo prazo, se formem os aludidos comunicadores polivalentes. Isto, não obstante a inclusão de novas disciplinas e exigências de práticas e estágios. Escapou aos ilustres técnicos em educação do CFE a primeira e mais grave conseqüência da sua Resolução: o esvaziamento das escolas de especialização. Se um estudante pode, em 2.200 horas-aula, obter um diploma polivalente, é
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evidente que não irá especializar-se. Uma Escola ou Faculdade particular, que cobre anuidades, deixará de ser especializada, pois não terá alunos se oferecer ao estudante apenas cursos de especialização que habilitam a um determinado campo de atividades. Restarão, unicamente, como escolas especializadas, as mantidas pelo poder público, que cobram taxas reduzidas ou onde o ensino é gratuito. Como a da Universidade de São Paulo, cuja estrutura foi mantida, inclusive quanto ao número de horas-aula ou, pelo menos, de semestres letivos. ESPECIALIZAÇÃO E POLIVALÊNCIA Não somos contrários à formação de profissionais polivalentes, de comunicadores antes que de jornalistas, publicitários ou relacionistas. Pensamos, porém, que, ao contrário de outras atividades, em que se forma o profissional polivalente e depois o especializa (como em medicina, por exemplo), a formação de comunicadores deve obedecer a três etapas: 1º) Um curso básico (mínimo de dois semestres), comum aos alunos de qualquer dos campos da comunicação, e no qual seriam proporcionados os conhecimentos gerais de disciplinas fundamentais como Sociologia, Psicologia, Teoria da Comunicação, Economia, Direito, Ética e Estética. 2°) Um curso de especialização (mínimo de quatro semestres) em determinado campo: grafo-jornalismo e editoração (produção de jornais, revistas e outros periódicos – edição e distribuição de livros); comunicações audiovisuais (rádio e te-levisão, cinema, teatro) e técnicas de persuasão (relações públi-cas, propaganda, informação governamental, informação rural, turismo, pesquisa em comunicação). 3º) Um curso de complementação (mínimo de dois semestres), em que, partindo de sua especialidade, o estudante aprofundaria seus estudos e práticas nos demais campos da atividade profissional comunicativa. É evidente que o curso de complementação seria exigido tão-somente para os que desejassem obter o diploma de comunicador polivalente. Seria uma espécie de pós-graduação e ofereceria ao especializado maiores oportunidades e mais amplo campo de atuação. COMUNICADORES RURAIS Cremos que um currículo assim estruturado permitiria a formação, nas escolas de comunicação, de especialistas em informação agrícola, reivindicação do pessoal que trabalha neste setor, desde aquele I Encontro de Técnicos em Informação Agrícola, realizado em outubro de 1965, em Matão, SP, que considerava e recomendava: A ausência de profissionais especializados no campo da comunicação jornalística destinada ao meio rural vem ocasionando um entrave para o desenvolvimento racional e profícuo de programas de informação agrícola.
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Desta forma recomendam a inclusão, no currículo dos Cursos do Jornalismo das Faculdades de Filosofia, do ensino relativo aos métodos de comunicação - de alcance massal - visando a este específico setor.
Em outra recomendação, insistiam: A deficiência verificada nos técnicos que trabalham com o ensino, pesquisa e extensão rurais, quanto a comunicação, vem reduzindo a produtividade dos trabalhos que vêm sendo executados, visando ao desenvolvimento sócioeconómico da família rural. Isto se compreende porque a deficiência no ensino se reflete na formação do profissional; na pesquisa, pela dificuldade na divulgação dos resultados experimentais; e na extensão, pelo deficiente uso dos métodos de comunicação.
Desta forma, recomendam: (...) que as instituições de ensino superior, especializadas na formação de técnicos que trabalharão para e com o meio rural, incluam a matéria Comunicação em seus currículos.
Não teriam sido mais felizes nesta sugestão os participantes do Encontro de Matão, pois, um ano depois, reunidos em Viçosa, no II Encontro, aprovavam uma resolução no sentido de se criarem “cursos optativos de informação para os estudantes, nas universidades rurais ou nas escolas que habitualmente as integram, como primeiro passo para introdução de uma disciplina regular e obrigatória de Comunicação, com o objetivo de proporcionar melhor preparo para o exercício profissional no meio rural”. Essa recomendação surgira da proposição do reitor da Universidade Rural de Minas Gerais, prof. Edson Potsch Magalhães, cujo discurso foi toda uma análise da importância dos estudos e das atividades da comunicação no programa de desenvolvimento social e económico do nosso País. Em sintéticas mas expressivas linhas, o eminente mestre apreciou o problema da comunicação no ensino, na pesquisa, na extensão, na administração e na sociedade, reivindicando para a universidade “a grande tarefa de preparar o profissional de comunicação, que não pode deixar de ser um técnico de formação plenamente universitária”. Esse homem que, no setor rural, sobretudo, “tem de traduzir a linguagem técnico-científica em linguagem inteligível ao homem comum”, sob pena de não ser entendido – não poderá mais ser improvisado: tem de preparar-se teoricamente e saber aplicar, pela observação e pela pesquisa - esse conhecimento à elaboração de suas mensagens. Onde se deve formar o comunicador rural? A esta pergunta, responderemos que, preferencialmente, numa escola de comunicação. A idéia não nos é nova.
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Em dezembro de 1967, embora já isentos de qualquer responsabilidade pela orientação didática da Faculdade de Comunicação da UnB, dirigimos um ofício ao Reitor, propondo-lhe a adoção de novo currículo, pelo qual no curso de Técnicas de Persuasão seria ministrada uma disciplina - Noções de Extensão e Promoção de Vendas, primeiro passo para a adoção futura de programa que capacitasse comunicadores rurais. No decorrer do ano de 1968, quando se voltava a falar na possibilidade de alteração do currículo mínimo do MEC para Comunicações, elaborávamos um trabalho, divulgado na revista Cadernos de Jornalismo e Comunicação do JB - N9 17, dezembro de 1968, propondo um currículo em que havia uma seção destinada à formação de “extensionistas agrícolas”. Cremos que, apesar das deficiências e do conservadorismo que o informa, o atual currículo mínimo oferece possibili-dades para a formação de pessoal habilitado na área da comunicação rural. O parágrafo 1º do art. 5º exige “aulas práticas e atividades profissionais” e reclama que a Escola disponha de laboratório próprio para tal fim ou, caso não o possua, mantenha “convênio com entidades públicas ou privadas que possibilitem a prática de técnicas curriculares” (§ 2º). Desde que as Escolas igualmente podem desdobrar disciplinas e acrescentar outras complementares (art. 69), um convênio entre escolas de agronomia e veterinária e de comunicação ou entre estas e serviços de informações agrícolas ou associações de crédito e assistência rural poderá oferecer oportunidade de especialização e aperfeiçoamento àqueles estudantes que tiverem vocação para as lides comunicativas junto ao homem do campo. Nesse sentido, tivemos, pelos idos de 1963, uma boa experiência do Recife. Coordenávamos, então, o Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e a ANCARPE nos solicitou alguns estudantes para um teste: aquele que fosse aprovado seria empregado pela instituição, com possibilidades de prosseguir nos estudos em nível de pós-graduação. Um dos nossos concluintes foi selecionado, e conforme mais tarde fomos informados, fazia o curso de mestrado nos Estados Unidos. Perdemos o contato com esse jovem, mas cremos que a sua experiência demonstra não ser a nossa idéia um sonho irrealizável, TRABALHOS DE CAMPO A formação de comunicadores, tal como a de médicos ou a de agrônomos, não pode ficar limitada às salas de aula e sequer à elaboração de órgão de imprensa universitários (os jornais-laboratórios, tão do gosto de estudantes e professores de grafo-jornalismo) ou de programa de rádio e TV nas emissoras universitárias de pouca audiência e circuito fechado. A prática profissional (que esses órgãos e laboratórios poderiam dar) não tem produzido os resultados esperados: todas as pesquisas de opinião realizadas junto aos meios são unânimes em acusar as escolas de comunicação de deficiência na prática.
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É que temos de substituir essas práticas - insuficientes - pela vivência profissional. Não vamos preparar jornalistas para publicações universitárias ou classistas: vamos prepará-los para os grandes diários, para as agências nacionais e internacionais de notícias. Também não vamos preparar comunicadores rurais cujo contato se limite a professores e alunos das escolas de agronomia e veterinária e associações rurais. Vamos prepará-los para falar ao homem do campo brasileiro, aquele indivíduo que, no bem fixado retrato de Luiz Fonseca, “ainda é analfabeto”, mas (...) já não é o mesmo analfabeto de antes. Agora ele vive em um ambiente saturado de estímulos de toda natureza: auditivos, visuais, educacionais, econômicos, políticos e ideológicos. Ele faz parte de um sistema em que as mudanças introduzidas pelo progresso em algumas partes afetam necessariamente as demais (...). Ele mudou por pressões externas que vieram sacudir a vida quase vegetativa em que vivia antes.
Que podemos, contudo, fazer se vivemos apegados a um esteótipo, que aprendemos nos livros, e que nos mostra uma audiência apática, ignorante, apegada a preconceitos e tradições? O comunicador rural precisa de conhecer a teoria na Escola de Comunicação e precisa viver a prática na Escola de Agronomia, na Associação de Crédito e Assistência Rural, na Extensão Agrícola, nos serviços de informações rurais. Estes são os “campi” avançados essenciais para a formação do comunicador rural. “Campi” em que aprenderão a pesquisar e conhecer o conteúdo da mensagem que, pelos meios e téc-nicas que dominaram na Faculdade de Comunicação, irão difundir para uma audiência especial. “Campi” em que também investigarão e conhecerão essa audiência, a fim de adequarem a sua mensagem ao seu nível de entendimento e interesse. A Universidade brasileira começa a sair dos estreitos limites do seu “campus”. Se, em 1964, chamava-nos a atenção o dinamismo da Universidade Federal do Ceará, cujo Reitor, esse verdadeiramente magnífico Professor Antônio Martins Filho, projetava por todo o Estado, e em todas as áreas, as suas equipes de professores e alunos; se o Projeto Rondon entusiasma a juventude, levando-a ao contato intensivo com as populações marginalizadas e carentes de qualquer assistência – do oeste e do norte do País – por que continuam as Escolas de Comunicação e Agronomia - que reconhecem a importância vital do comunicador como agente da mudança social – agarradas como ostras a um ramerrão de programas rígidos, horas-aula obrigatórias com chamadas e jubilações, pesquisas livrescas e práticas inócuas? Uma universidade que não se adapta às exigências da cultura e do desenvolvimento não passa de um semi-internato de freiras contemplativas. É mesmo incrível a existência de tal instituição, quando até a Igreja - por seus críticos, olhada como instituição típica do alheamento às coisas do
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mundo – mergulhou de chofre na sociedade humana, buscando exatamente atingir aquelas áreas mais necessitadas e mais apartadas e surdas à margem evangélica. A VIVÊNCIA PROFISSIONAL Cremos que o semestre final do ciclo de especialização do currículo de Comunicação deve ser todo dedicado à vivência profissional - ou seja, a uma prática efetiva em escolas, empresas e serviços específicos profissionais. Nada de prele-ções e aulas clássicas, de provas e testes. O período de estágio deve ser orientado, sem dúvida, mas esse dirigismo necessário não terá em vista a aprovação ou a reprovação escolar, mas a adaptação do novo profissional às atividades para as quais se sente atraído e que serão as suas no futuro próximo. Como os antigos secretários de redação dos jornais faziam com os “focas”, não atuando como mestres, mas como amestradores, ensinando-lhes as habilidades e truques da profissão. Pela sua idade, pelos seus estudos e experiências anteriores, o estagiário não será como aquelas noivas de antanho, que iam para a câmara nupcial sem conhecer os companheiros por decisão dos pais, enredadas nos interesses familiares. A juventude atual sabe o que quer e para onde ir: o de que precisa é de compreensão e de ajuda dos mais experientes e vividos no campo escolhido. Um pouco de humildade dos educadores, cremos, restauraria o princípio de autoridade do mestre, nos nossos dias desacreditado e abalado. Dissemos que, nesse período de vivência profissional, não deveriam ser ministradas aos estagiários as clássicas aulas maiores ou menores. Mas, na verdade, um profissional consciente é um constante estudioso e pesquisador. Assim, caberia ao centro profissional onde se realiza o estágio, juntamente com o orientador, a promoção de cursos de conferências, seminários e entrevistas, em que teorias, métodos, técnicas, avaliações e programas fossem expostos, debatidos, planejados e executados. No caso de comunicadores rurais essas atividades extra-curriculares abordariam, sobretudo, princípios e aplicações de sociologia rural e psicologia social, economia e desenvolvimento, difusão de inovações, lingüística, análise de resultados de pesquisas e dados estatísticos, além de uma sistemática exposição da importância e da problemática das atividades agrícolas no Brasil, na América Latina e no mundo. CONCLUSÃO Quando defendemos as Escolas de Comunicação como centros ideais e naturais de formação de comunicadores agrícolas, fazê-mo-lo não por questão sentimental – o fato de havermos sido sempre batalhadores em prol dessas Escolas. É que a comunicação é uma arte, que se vale de ciências e ofícios, de técnicas e instrumentos, que lhe são proporcionados em diferentes áreas e setores.
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Essas áreas e setores, isoladamente, não têm capacidade para proporcionar uma formação panorâmica e completa ao comunicador, seja pela sua especificidade seja pela falta de pessoal docente na generalidade da comunicação - cujas ciências somente agora se estruturam. Ora, como para ser um cronista esportivo não é necessá-rio que se seja campeão, nem para ser redator científico se precisa conhecer a fundo a ciência sobre a qual se divulga, também o informador rural prescinde dos conhecimentos especializados de agronomia ou veterinária. A Escola de Comunicação lhe oferece as bases gerais e teóricas da arte de comunicar; deve ensinar-lhe o manejo dos meios e as normas gerais de elaboração de mensagens; adestra-o nos métodos e técnicas de pesquisa. Se todo esse acervo é completado como o sugerimos, pela vivência profissional, fornecida nas universidades rurais e nos centros e serviços de extensão e informação agrícola, então, estamos certos, teremos alcançado êxito na missão a que nos propomos: o Brasil poderá contar com pessoal realmente habilitado para a promoção do seu desenvolvimento, mediante a difusão de inovações e práticas, capazes de interessar e levar à participação o homem do campo. CURRÍCULO MÍNIMO DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO O Conselho Federal de Educação, em sessão realizada a 2 do setembro de 1969, aprovou resolução versando sobre os currículos de cursos de comunicação social. É o seguinte o teor da referida resolução: “O Conselho Federal de Educação, na forma do que dispõe o artigo 26 da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, e lendo em vista as condições do Parecer n° 631/69, que a este se incorpora homologado pelo Sr. Ministro da Educação e Cultura.
Resolve Art. 1° A formação de profissionais para as atividades de jornalismo, escrito, radiofônico, televisado e cinematográfico; de rotações públicas: de publicidade e propaganda de documentação o divulgação oficiais: e de pesquisa da Comunicação será feita no curso de graduação em Comunicação Social do que resultará o grau de bacharel, de habilitação polivalente, ou com menção apenas das habilitações específicas. Art. 2º O currículo mínimo do curso de Comunicações compreenderá uma parte comum a todas as modalidades de habilitação e outra diversifi-cada em função de habilitação específica. Art. 3° A parte comum, constituída de matérias básicas, abrangerá as seguintes, além de Sociologia, integrante dos currículos do grupo de formação social:
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1.Fundamentos Científicos da Comunicação; 2. Ética e Legislação dos Meios de Comunicação; 3. Pesquisa do Opinião e Mercadologia; 4. Introdução às Técnicas de Comunicação, compreendendo Prática de: a) Jornalismo impresso. radiofônico, televisionado e cinematográfico; b) Telerradiodifusão, cinema o teatro; c) Relações Públicas; d) Publicidade e Propaganda; e) Editoração. 5. Jornalismo Comparado; 6. História da Cultura e especialmente dos meios de comunicação; 7. Problemas Sociais e Econômicos Contemporâneos; 8. Cultura Brasileira. § 19 Completarão o currículo pelo menos duas disciplinas de livre escolha. dentre as seguintes; 1) Biblioteconomia e Bibliografia; 2) Cibernética; 3) Direito Usual 4) Documentação; 5) Economia; 6) Estatística; 7) Idiomas Estrangeiros; 8) Filosofia, incluindo lógica; 9) Paginação e Revisão; 10) Polí-tica e Administração; 11) Produção e Emissão; 12) Psicologia Social: 13) Redação e Edição. § 2º Os diplomados em curso de nível superior poderão ser dispensados das disciplinas de complementação (art. 3º § 1º). Art. 4º A formação profissional de áreas diversificadas, compreenderá: a) para habilitação polivalente - o aprofundamento das Técnicas de Comunicação, cujo ensino tem seu começo na introdução (art. 3º n° 4), e mais duas disciplinas das enumeradas no art. 3º. § 1º, não estudadas anteriormente; b) para habilitação específica em jornalismo (impresso, radiofónico, televisionado e cinematográfico) - o aprofundamento nas técnicas de letras a e b, art. 3º nº 4 e mais quatro disciplinas mencionadas no § 1º do art. 3º; c) para habilitação específica em relações públicas - o aprofundamento nas técnicas da letra c (art. 31 n9 4) e mais as quatro disciplinas mencionadas no § 1º do art. 3º; d) para habilitação específica em publicidade e propaganda - o aprofundamento nas técnicas da letra a (do art. 39 n° 4) e mais quatro disciplinas mencionadas no § 1º do art. 3º; e) para habilitação específica em editoração - o aprofundamento na técnica da letra e (art. 3º nº 4) e mais quatro disciplinas mencionadas no § 1º do art. 3º. Art. 5º No ensino de Técnicas de Comunicação serão obrigatórias a exercitadas a redação verbal (na língua nacional e numa estrangeira) e a expressão plástica (organização, fotografia e ilustração), com base na Comunicação Visual, Oral e Escrita. § 1º A essas disciplinas corresponderão aulas práticas e atividades profissionais, devendo o curso, para esse fim, dispor de: 1) Jornal-laboratório; 2)
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Estúdio-laboratório (para rádio, tevê e cinema); 3) Atelier de publicidade; 4) Escritório de Pesquisa de Opinião e de Mercado. § 2º Não dispondo dos órgãos acima em qualquer área universitária, o curso manterá convênios com entidades públicas e privadas que possibilitem a prática de técnicas curriculares. Art. 6º A organização do currículo pleno atribuirá as áreas didáticas de cada disciplina, admitindo o desdobramento das matérias do curriculo mínimo, bem como o acréscimo de disciplinas complementares que a escola julgar necessária. Art. 7º A parte comum do curso deverá ser ministrada na metade da duração mínima prevista no art. 8º desta Resolução. Parágrafo único A parte diversificada, a que se reserva a outra metade da duração mínima do curso, é destinada à modalidade a ou qualquer outra das previstas no mesmo artigo 4". Art. 80 O curso de Comunicação terá a duração mínima de 2.200 horasaulas, no mínimo de três e no máximo de 6 anos letivos. Celso Kelly, Relator Alberto Deodato Edson Franco
RESPONSABILIDADES DOS JORNALISTAS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL*
Luiz Beltrão
Aos que avançam no tempo e se vêem diante de um auditório de amigos apraz recordar: em tais momentos, vem-lhes aos olhos um brilho fugaz de juventude, a voz se lhes retoma o antigo vigor, o sangue parece que lhes circula livremente nas veias. É que a imaginação reconstrui paisagens, ambientes e pessoas, dá-lhes cores e fulgor, empresta-lhes qualidades, tons e detalhes que talvez não houvessem possuído então ou talvez tivessem passado despercebidos no momento da ação evocada. Permiti, pois, confrades e amigos, que desta jovem Fortaleza de 1973, desta noite fresca da beira destes verdes mares bravios, este velho jornalista se transporte numa corrida de norte a sul, como as que levavam Macunaíma às suas malazartes em continentais andanças – se transporte e vos transportes à risonha Curitiba de vinte anos atrás, numa noite fria de setembro, quase início da primavera. Não é nosso propósito aqui fazer história mas oferecer um testemunho pessoal do que representou e representa para a classe jornalística a formação profissional a nível universitário. E, por isso, nos reportamos àquela primavera de Curitiba em 1953 e àquele auditório em que se encontrava reunido o V Congresso Nacional de Jornalistas A audiência, agasalhada e ainda assim ansiando pelos grossos cobertores e o aconchego dos lençóis do hotel, vai sendo embalada pela voz cantada do relator nordestino. Há uma luta entre as pálpebras que se cerram o os ouvidos que, de quando em vez, registram como abruptos toques de sino na noite – palavras como liberdade, censura, atestado de ideologia, baixos salários, profissão, bico responsabilidade, tradições, progresso... A cada uma dessas palavras-senhas os olhos se abrem, o ouvinte acompanha a frase e logo o rítmico discurso do baiano volta a produzir a sua função de berceuse. No seu canto, o aprendiz de marinheiro de congressos jornalísticos que, depois, iria, por força da profissão e de mandatos, singrar os caminhos dos sete mares, está desalentado: preparou com cuidado a sua tese, recolheu dados
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Capitulo dos “Anais da IX Conferência Nacional dos Jornalistas”. Fortaleza, 1973, pp. 46-57
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estatísticos, mergulhou em considerações filosóficas, observou e analisou o trabalho da imprensa e do rádio em seu Estado, comparando-o com o praticado no Brasil e em diferentes nações - como se diria hoje desenvolvidas, subdesenvolvidas e/ou em via de desenvolvimento. Impressionara-o o despreparo em que nos encontrávamos diante das transformações que se operavam no exercício da profissão, de um lado impostas pala revolução tecnológica que fizera do rádio o meio primário, universal e instantâneo da informação e começava a ameaçar outra escalada com a televisão, ainda incipiente mas que não tardaria a trazer para dentro de cada lar a própria imagem da ocorrência - e, de outra parte, pela revolução ideológica que dava mostras inequívocas de imprimir conteúdo e significado novo e diverso a conceitos até o momento universalmente acatados como os de liberdade e responsabilidade de interesse público e bem-estar social, da missão informativa e orientadora do jornalismo e das funções executiva e disciplinadora do Estado. Politicamente, parecia-lhe que a seriedade humana saída da II Guerra Mundial se reestruturava em bases filosóficas e pragmáticas inteiramente diversas daquelas em que todos os remanescentes nos formáramos, pelas quais milhões de indivíduos de todas as regas e nações tinham ido ao campo da luso sacrificando suas vidas, seus bens, sua, saúde seus interesses privados. A sua visão de repórter, de comentarista, de escritor público uma visão que o convívio universitário bacharel em ciências jurídicas e sociais, que o era - ampliara pelos conhecimentos de principies e leis filosóficas, psicológicas e econômicas, de que decorriam ou deveriam decorrer, as Instituições do Direito - à sua visão de jornalista obrigado a debruçar-se sobre os fatos do presente e, como os áugures, interpretá-los para antecipar o porvir, à sua visão o Poder surgia como um gigante da técnica armado de mil braços que o serviam e executavam as suas ordens, cada um deles murado de uma arma específica, inclusive uma espécie de super-fonte de informações. O Poder Político se lhe apresentava como um polvo pós-histórico: a técnica rodeada e apoiada na burocracia; o zero; a massa, o infinito. O jornalista, que deveria ocupar o centro do diálogo entre o homem e o Poder, o homem e a massa, não teria lugar na nova composição, salvo como uma peça da máquina burocrática. Ou – a alternativa - se estivesse preparado para distinguir os fins da liberdade e soubesse exercê-la com o estrito senso da responsabilidade social reclamada pelos novos tempos e pelas novas gerações. A cultura do jornalista não poderia continuar ao improviso; não bastava o apelo vocacional para configurar o novo agente da informação e da orientação pública; à possível bagagem de conhecimentos humanísticos que um curso médio lhe teria proporcionado, e ao domínio dos meios materiais de execução técnica do seu ofício, que uma prática mais ou menos longa lhe daria, o jornalista deveria juntar a vivência universitária, os estudos específicos da natureza, do processo, das condições e dos efeitos da comunicação dos fatos e idéias correntes, interpretados
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à da sociologia, da psicologia, da economia, da antropologia, da ética do direito, da semiologia e da lingüística, Ademais, era preciso que, para o jornalista, a universidade fosse, o campo de experimentação dos mass media, de sua linguagem específica, de sua forma que tentas vezes se confunde ou imprime significado especial ao próprio contendo da mensagem. Nada disso se poderia continuar a tentar na redação dos jornais, nos departamentos de rádio e telejornalismo. Os novos meios de comunicação estavam imprimindo e haveriam de imprimir um ritmo muito mais acelerado à difusão da informação de interesse público, e o nosso jornalista não acompanharia – no máximo daria ao exercício profissional aquele “jeito” peculiar do brasileiro – essa evolução, se tornaria mais incapaz de defender a liberdade de informar ou, melhor dizendo, o direito que o povo, os leitores, os cidadãos, a audiência tem à informação, direito unanimemente reconhecido e consagrado na Carta das Nações Unidas. Esse direito coletivo à informação, que na Alemanha nazista havia sido negado e que na Rússia soviética se limitava ao interesse do governo e do partido, esse direito que todas as nações civilizadas tinham conquistado e que, nos nossos dias, veio a ser reafirmado magnificamente no episódio da divulgação de documentos secretos do Pentágono pelo New York Times e pelo Washington Post esse direito que, entretanto, se autolimitava pelas normas éticas que deveriam regular o exercício responsável da profissão - jamais seria entendido pelo Poder se praticado aleatoriamente por prático da profissão, desconhecedor dos princípios básicos que regem a convivência social e de terminam a harmonia de atividade muitas vezes contrastantes das forças e dos grupos dirigentes das nações. Em tudo isso melancolicamente pensava o jornalista, delegado ao V Congresso Nacional, naquela noite fria de Curitiba. A sua tese - considerava consigo mesmo - passaria despercebida e se iria mais uma oportunidade de despertar a classe para um problema que dizia respeito, em última instância, à sua sobrevivência e à manutenção dos seus mais essenciais postulados. Mal sabia, nos momentos que precederam à tempestade, que o assunto – formação profissional em nível universitário, como já se fazia em diferentes países europeus e nos Estados Unidos, era tão explosivo quanto o biquíni, que acabava de ser lançado nas praias brasileiras. Mal o relator concluiu o seu parecer e os protestos e aplausos acordaram os que começavam a ceder ao friozinho gostoso daquele fim de estação e a canção de ninar do falar nordestino. Uns apontavam o autor como “traidor da classe”; outros pretendiam ergue-lhe uma estátua na praça cívica de Curitiba. Havia gente assoviando, e gente dedurando um pequeno grupo de observadores - um professor e dois ou três alunos, gatos pingados da pioneira Escola de Jornalismo Cásper Libero. A confusão era machadianamente geral: discutia-se apaixonadamente o parecer do relator e sobre se havia ou não liberdade além da cortina
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de Ferro. O episódio marcaria o V Congresso como a figura de Frei Caneca marcara o episódio IV, no episódio Recife, com nada menos de vinte e três discursos sobre o carmelita rebelde – não fosse haver o Autor, afinal, reclamado o direito de encaminhar a votação esclarecendo que a proposição não visava a substituir os velhos jornalistas por proposição bacharéis mas oferecer aos; futuros profissionais da informação os elementos culturais, a nível universitário, que lhes permitissem defender com segurança e, sobretudo, com responsabilidade, o direito de informar, interpretar e opinar sobre os fatos e idéias, sobre as vigências sociais que ocupam e preocupam a opinião pública. Nem poderia, então e ainda, o bisonho delegado ao Congresso de Curitiba antever o convite que, vinte anos mais tarde, lhe chegaria para dirigir se aos velhos e novos oficiais do seu mesmo ofício, reunidos nesta Conferência Nacional de Fortaleza para abordar o mesmo tema. E, por isso, consideramos esta a oportunidade de um exame de consciência e de um balanço sobre as nossas atividades no campo do ensino da Comunicação e sobre se os cursos e escolas estão respondendo àquela imperiosa necessidade que apontávamos em 1953. Antes, a nossa reafirmação de princípios: o jornalismo brasileiro que, como ocorre nos demais setores da vida nacional, está em franco desenvolvimento, tanto na frente gráfica como nas frentes audiovisuais não pode dispensar o concurso de gente de cultura superior, tal a complexidade da vida moderno e a época de crise sócio-econômico-política que as nações atravessam. Por isso, a profissão vai aceleradamente deixando de ser aquele bico de antes, o salário baixo representando uma complementação da economia de cada um, e o título apenas uma contribuição para a melhoria do status social e econômica no desempenho de sua atividade rentável principal. Hoje, o jornalista é levado a ser única e exclusivamente jornalista e os salários correspondem aos diversos níveis de qualquer carreira profissional. Dessa realidade emanam novas responsabilidades e obrigações para a classe. Responsabilidades obrigações que ainda talvez passem despercebidas e que, aqui, pretendemos trazer à consideração da nossa classe, inclusive dos editores. Examinando a problemática do jornalismo brasileiro, verificamos de saída, que vai perdendo aquele caráter de alienação quanto ao seu papel e posição no conjunto de atividades desenvolvidas através dos meios de difusão de informações, opiniões e recursos educativodiversionais contemporâneos. Embora em grande parte ainda apegado a modelos e objetivos superados, destinado a uma elite econômica e cultural conservadora e, por isso, praticamente insensível ás alterações formais e de conteúdo impostos à nova imprensa pela disseminação das mensagens radiofônicas e televisadas, começa-se a observar uma salutar atualização das técnicas gráficas, das normas de legibilidade e estética, dos sistemas de diagramação com o emprego da fotografia, do desenho dinâmico e de diferentes artifícios postos em uso para sustentar a concorrência ao grafojornalismo pelos meios audiovisuais. Por outro lado, ao alguns diários do
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País e em revistas semanais de atualidades, o noticiário puro e simples vai dando lugar à informação em profundidade, pela análise dos fatos e situações do presente, pela interpretação das ocorrências e aula projeção no futuro, É que, transformada em grande empresa por força do irreversível processo de industrialização, a imprensa prensa exige mão-de-obra altamente especializada, não apenas em suas secções técnicas mas, predominantemarte, no setor cultural. O ritmo lento da produção jornalística, característico da fase anterior às décadas de 40 e 50 quando o rádio e a televisão se impuseram, foi substituído pela pressão do tempo e do volume de informações. Quem entrava para o periódico como aprendiz e recebia as lições pacientes e prolongadas de veteranos experimentados já não encontra uma banca vazia ou o mestre voluntário e disponível de então. E por vezes, diferentemente do que ainda acontecia há dez anos, encontra quem recomende ao candidato que procure antes uma escola de jornalismo, as quais com todas as suas deficiências, constituem agora o centro indicado para a formação cultural e profissional dos agentes da informação. Esses agentes são reclamados não apenas pelos jornais e revistas mas pelo rádio, pela televisão e pelo cinema, onde se continua a improvisar jornalistas, transformando-se muitas vezes atores e cantores de nomeada em repórteres e entrevistadores, ou fazendo-se de um camera-men ou um artista da fotografia o registrador de um acontecimento, muitas e muitas vezes captado sob ângulo estético mas não significativo pala dar à audiência a idéia exata do seu conteúdo social. Ainda não se efetivou ao que saibamos, uma pesquisa do mercado nacional no que tange à demanda de jornalistas. Impressionados com os fenômenos universais de concentração de empresas jornalísticas e redução do número de jornais, muitas vezes mesmos nós esquecemos de que outras frentes se estão abrindo para o jornalista, em agências de informações, nas rádios, e tele-emissoras, nas grandes organizações públicas e privadas, nas editoras de livros de atualidade no cinema. A concentração de empresas se, por um lado, responde a exigências econômicas tais como a localização dos departamentos em um mesmo edifício, a unificação contábil, o aproveitamento da maquinaria ocioso até, por outra parte, exige uma política de triagem, pela qual não só se despedem elementos” pouco capacitados, preenchendo as vagas com profissionais experimentados e dinâmicos, com horário integral, mas também se ampliam os departamentos, entre os quais vêm assumindo excepcional importância o da pesquisa e o da fotografia. Em São Paulo, por exemplo, uma empresa das mais tradicionais fez editor um vespertino, dentro de uma linha moderna e ágil, a fim de atender a um público jovem e transmitir-lhe as suas mensagens, que não o atingiam nas vestes austeras da edição matutina. Esse novo periódico, segundo o depoimento que ouvimos dos seus redatores “é uma experiência diária, de que participam todos os elementos da redação porque, sem que o jornalista se debruce sobre a complexidade do acontecimento em mutação e sem uma vivência profissional
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autêntica, não mais é possível estabelecer a corrente da comunicação”, Em Porto Alegre, o principal órgão da imprensa regional foi mais além: como já possuía dois vespertinos, lançou um tablóide matutino a cores pretendendo tendendo concorrer não com a sua nau capitânia que tem um público seguro e fiel, mas com os demais na conquista das novas gerações de leitores. No Rio, a necessidade de atualizar os conhecimentos da sua equipe e contribuir para uma melhor formação profissional das escalas, o Jornal do Brasil estabeleceu um regime de aprendizagem e aperfeiçoamento, oferecendo cursos aos novos redatores e editando uma revista especializada, que se constitui em valioso subsidio ao ensino nos cursos de jornalismo das Escolas de Comunicação. Salientemos, antes, que também o nosso jornalismo atravessa uma fase difícil de transformação: contra ele erguem-se forças ponderáveis e poderosas, apoiadas na cultura na incultura e na contracultura tanto de caráter econômico como político e social. Sem que o jornalista aprimore os seus conhecimentos e as técnicas, sem que afirme suas convicções na realidade e não em idealismos românticos, sem que saiba efetivamente o que quer e como atingir a sua meta - restará oferecendo um produto incolor, inodoro e insípido sem qualquer influência valida do processo do desenvolvimento nacional. O que se constituirá em uma posição melancólica para uma atividade social a qual o Brasil deve algumas das suas mais valiosas conquistas, através de campanhas históricas, como as da aviação civil, da estatização do petróleo, da habitação popular, do impulso à industrialização do norte e nordeste, do repúdio à acusação estrangeira de genocídio contra os silvícolas, para apenas lembrar algumas conquistas mais recentes. Não precisamos insistir em que a dinâmica da profissão não mais permite uma formação adequada do jornalista nas redações. Não escandaliza a ninguém, entre os confrades reunidos, como ocorreu em 1953 em Curitiba, que se faça a apologia dessa formação em nível universitário. Escandalizará, talvez, o dizer-se que se as escolas não estão correspondendo, se os jovens delas caem sem a bagagem cultural e técnica desejável, a culpa agora é nossa. Uma das nossas responsabilidades como profissionais, além da de estamos perfeitamente informados das possibilidades e perspectivas do mercado de trabalho é exatamente esta: a de denunciar as escolas que estão conferindo títulos graciosos a gente despreparada, que não têm laboratório, que improvisam professores, que não pesquisam, que burocratizam o ensino, que inundam a praça de bacharéis de anel e canudo, incapazes sequer de redigir uma noticia, realizar uma cobertura ou entender o verdadeiro significado de sua missão. Entretanto, a vigilância e a ação dos sindicatos, da Federação e das associações de imprensa e de cada jornalista ou editor em particular, não devem visar ao fechamento das escolas ou à negação da formação profissional na Universidade, mas ao seu aperfeiçoamento através de facilidades de estágio, de campanhas em prol de melhor equipamento para os cursos, de colaboração com
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os departamentos de ensino para a seleção dos melhores estudantes, com o estabelecimento de prêmios, incentivo e bolsas. Alguns dos que estão aqui presentes sabem que a primeira escola de jornalismo a funcionar no País foi criada por Cásper Libero e é mantida por uma fundação que ale deixou organizada para tal fim. E outros talvez sejam daqueles jornalistas gaúchos que, embora já tarimbados na profissão, foram os primeiros a ingressar no recémcriado curso universitário, nos idos de 40. Ainda outros - cearenses e pernambucanos, especialmente, podem ajuntar o seu testemunho de que os centros de formação que florescem em Fortaleza e no Recife, foram iniciativa de seus sindicatos e associações de imprensa, através de seminários e cursos livres e de extensão que promoveram, despertando afinal, a consciência universitária para a nova e hoje consagrada área de ensino e aprendizagem. Devemos compreender que, pela sua juventude, os cursos de jornalismo não podem ser comparados aos de ciências médicas, por exemplo, que contam com clínicas nos hospitais, para os estágios profissionais, quando não têm seus próprios laboratórios. E também não podemos esquecer em jornalismo, ou seja, o homem que, em sua vivência escolar recebeu muito mais noções teóricas do que exercitação prática - e que esta mesmo jamais poderá ser completa, o que irá conseguir com a vivência profissional, no estágio previsto em lei. Decorre, ainda, da atual legislação regulamentadora da profissão, uma outra responsabilidade do jornalista lista quanto à formação das futuras equipes dos órgãos de difusão coletivos: - a de apreciar, opinar e sugerir ao Conselho Federal de Educação modificações no currículo mínimo das disciplinas exigidos para o melhor exercício profissional. Observa-se, por exemplo, que não há entre as matérias obrigatórias o estudo da Opinião Pública. No entanto, poucas disciplinas serão mais úteis ao jornalista que, por dever de ofício, tem de ser um porta-voz dessa opinião e, muitas vezes, verberá-la e adverti-la. Como, porém fazê-lo se, ainda exemplificando, muito pouco se exige, no currículo oficial, de ética e Política - a primeira ali surgindo como um apêndice de Legislação e a última em estranha simbiose com princípios de Administração? O jornalismo contemporâneo não é mais o simples registro dos fatos, como não é, também, a opinião candente e apaixonada, que se tenta impor, numa violentação à liberdade de juízo do receptor. Por isso, especialmente nos jornais e revistas, onde se vai procurar a informação mais completa de uma situação de interesse público, cujos contornos já foram delineados pelo rádio e pela televisão - os principios de seleção e interpretação das ocorrências e idéias, sob amplas perspectivas e diferentes ângulos e matizes, vigoram sobre as limitações das pirâmides e dos livros de estilo bem como sobre a inflexibilidade da linha político-ideológica traçada pelo editor. Se, como calculava Ortega Y Casset, a cada quinze anos a humanidade se transforma com a sucessão das gerações, como pensar-se em tomar o jornalismo, que se alimenta sobretudo do efêmero, em um
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bloco inteiriço a desafiar o tempo, os homens, as instituições e doutrinas, como a Esfinge plantada à margem do deserto desafia, em sua imobilidade e imutabilidade as areias que o simum contra ela atira em violentar tempestades? O jornalismo contemporâneo é, por isso, eminentemente plástico, para ele também se reclama um “agionarmento” E como o mundo parece viver, a era da juventude, nestes aprendizes do ofício que estão agora na Universidade é que podemos encontrar os agentes dessa atualização, competindo-nos dar-lhes com a nossa experiência e as nossas necessidades, as nossas insatisfações e os nossos anseios, as coordenadas para que possam sempre ajustar à realidade presente os instrumentos maravilhosos que a tecnologia avançada vem legando à humanidade para que confraternize e construa, e jamais se separe e destrua como neste atribulado século tantas vezes ocorreu. A formação profissional do jornalista na Universidade não é mais, e somente, uma exigência da lei que por sinal, vem sendo burlada para que continuem a invadir a nossa seara elementos inidôneos; ela é, e deve ser, um reclamo, uma obrigação, uma responsabilidade da nossa classe. Valorizar os cursos de formação universitários, ajudar as escolas, fiscalizar e advertir as falhas, sugerir áreas especificas de ensino e pesquisa são tarefas nossas que evitarão, no futuro, situações embaraçosas como as que vêem ocorrendo com os cursos jurídicos em relação à Ordem dos Advogados. O postulante à atividade profissional acatado com os instrumentos de uma educação superior, estará capacitado a exercer o jornalismo com segurança e dignidade. Do mesmo modo que não se admitem curandeiros no campo da medicina nem rábulas no ministério público, está na hora pormos um paradeiro ao ingresso fácil na profissão para dignifica-la e torná-la credora do respeito e da confiança que lhe devem o Poder e a massa, como fiel da balança em que se pesam os labores as aspirações os direitos e as conquistas dos homens e das nações civilizadas.
PROBLEMÁTICA DO PROFESSOR DE COMUNICAÇÃO*
Luiz Beltrão
É evidente que se exigem para o exercício do magistério superior certo títulos indicativos de que o professor domina a disciplina que leciona. E também são válidas as atividades profissionais do mestre na área para a qual se preparam os estudantes nos diversos cursos oferecidos pela Universidade. Parece-nos, porém, que esses predicados são insuficientes no que tange ao ensino da Comunicação. Como um dos pioneiros da formação profissional de jornalistas e comunicadores no Nordeste, havendo lecionado nos primeiros cursos implantados em João Pessoa, Recife e Natal, pudemos testemunhar a evolução dos currículos, a instalação de equipamento didático, o crescente interesse da juventude pelas novas profissões em áreas que se multiplicam, atendendo aos reclames da sociedade brasileira em desenvolvimento. Aí estão, ainda carentes de gente preparada, de nível universitário, as grandes empresas comerciais e industriais (Relações Públicas e Publicidade). Os diversos serviços públicos (Divulgação Governamental), os partidos e o poder político (Propaganda), as agências de informações do governo e particulares (Pesquisa de Opinião), o rádio, a televisão, o cinema, as editoras, o planejamento e execução do turismo, as bibliotecas e museus, a extensão agrícola, a educação massiva, os programas de integração nacional e até mesmo o grafojornalismo que, ao impacto dos novos media, está obrigado a uma renovação total de suas técnicas e do seu pessoal. A nossa experiência alcançou Brasília e diferentes cidades brasileiras, onde os cursos de comunicação vão surgindo, às vezes um tanto atabalhoadamente, beneficiados pelas leis de regulamentação das profissões mais destacadas no campo – Jornalismo e Relações Públicas – que exigem nível superior de aprendizagem. Igualmente, tivemos oportunidade de realizar uma exaustiva pesquisa para a Federação Católica de Escolas de Jornalismo e Comunicação da América Latina, percorrendo quase todos os países do continente e entrevistando diretores, professores, alunos e representantes dos meios de comunicação, das agências de publicidade e relações públicas e da hierarquia eclesiástica. * Comunicação do I Congresso da ABEPEC. Belo Horizonte, 1973
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Por toda parte, o problema que se nos afigurou mais agudo foi o do professor. Na aludida pesquisa, 47% dos diretores entrevistados acentuaram, entre as dificuldades que encontraram para dar melhor desenvolvimento às atividades das suas escolas a falta de professores capacitados e para solucionar o problema 16%querem efetivar cursos de pós-graduação. Para 11% dos estudantes, os professores são desatualizados e / ou desinteressados, ministrando aulas abstratas, teóricas, desligadas da realidade profissional. O ensino é “calcado em moldes estrangeiros” (6%), havendo despreocupação em “criar novos padrões de jornalismo “ (3%) e registrando-se “falta de integração docente-discente” (2%). Para os empresários ouvidos, há deficiência didática dos professores que ensinam matérias técnicas (9%) e as Escolas são desatualizadas, não acompanhando o rítimo de desenvolvimento dos Meios de Comunicação Social (5%). Embora, como é natural, a maioria dos professores ouvidos considere boa/ ótima a estrutura didática e louvem os métodos de ensino, o interesse, a dedicação de seus colegas (e, conseqüentemente, deles próprios), encontramos 6% que atribuem a professores desatualizados/despreparados as falhas na formação dos alunos nas disciplinas técnicas e 17% que chama a atenção para as deficiências didáticas dos mestres na estrutura cultural humanística, sobretudo pela falta de cooperação interdisciplinar (5%). Recebendo salários baixos, em média US$3,46 por aula ministrada, obrigados a exercer outras atividades para complementar o seu orçamento, algumas alheias ao magistério e outras em diversos estabelecimentos de ensino, às vezes encarregando-se de disciplinas diferentes das que leciona no curso de comunicação, os professores latinos-americanos, especialmente os das escolas privadas, somente em um terço se dedicam ao ensino por razões profissionais, isto é, em busca de retribuição financeira. A maioria leciona por motivos altruísticos: desejo de transmitir para às novas gerações a sua experiência profissional e contribuir para o desenvolvimento dos MCS no seu país; enquanto uma minoria alega razões sentimentais: são ex-alunos da Escola ou se dedicam à profissão há muitos anos. Dos entrevistados, 24% têm livros ou trabalhos publicados sobre aspectos de Comunicação Social e 38% sôbre os outros assuntos; apenas 4% tem curso de pós-graduação; um, em cada dez, tem somente instrução média ou secundária, e dois, em cada dez fala uma língua estrangeira. Uma análise mais pormenorizada da pesquisa revela que, não obstante aquelas respostas otimistas e auto-afirmativas, os professores sentem a própria deficiência, freqüentando congressos e seminários sobre o seu campo de especialização (dois terços) e recebendo com manifestações de aplausos e apoio a idéia da promoção de cursos de atualização em diversas áreas básicas como Sociologia e Psicologia da Comunicação, Investigação Científica, Teoria da Opinião Pública, Comunicação e Desenvolvimento e Pedagogia do Jornalismo. Há uma quase generalizada
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reclamação de equipamento adequado às matérias técnicas, e 9% pleiteiam o tempo integral como medida saneadora das falhas da sua atuação didática. Essa constatação tácita, recolhida da pesquisa da FCLAEP, coincide com a nossa observação pessoal em quase 15 anos de vivência nos meios universitários de Jornalismo e Comunicação. Evoluíram as escolas, em suas instalações; os currículos em sua extensão as novas áreas culturais e profissionais; evoluiu a bibliografia, interessando-se, hoje, as editoras por todo trabalho teórico e especulativo e pelas pesquisas de caráter científico no campo da comunicação. Os professores, porém, – e aqui discutimos outras razões senão as de ordem didática – continuam “catedráticos”, prelecionando como seus velhos mestres, sob o silêncio, a indiferença o alheiamento e até mesmo a indisfarçável hostilidade do novo estudante, que quer participar e investigar, que não é mais passivo receptor de redundância, incompatíveis com um mundo que se renova a cada instante em todos os setores e atividades, e sobretudo na área da Comunicação. Em uma sessão de dinâmica de grupo, de que participamos em Brasília, um professor concluiu, doutoramente, que todos nós deveríamos iniciar uma vigorosa campanha contra a cola, e ficou surpreso quando lhe dissemos que não concebíamos tal prática no curso superior, a não se que o professor primeiro rezasse o mea culpa, ele próprio sendo um inveterado colador ao levar consigo notas, esquemas e livros para desenvolver a própria exposição. Que isso de decorar, repetir textualmente as palavras do mestre, não debater os temas tratados , não apreciar criticamente conceitos e problemas – já era. E que afinal; exigir e receber trabalho de aluno reproduzindo textos impressos era restaurar quase meio milênio depois de Gutemberg, a arte dos copistas medievais e renascentistas. Ocorre, porém, que a maioria dos professores deseja –e o faz – transmitir a sua experiência profissional ou patrimônio adquirido dos seus antecessores, aos quais devota respeito e veneração, considerando sacrilégio submeter idéias tão sublimes ao crivo da crítica, da constatação do relacionismo com as correntes de pensamento vigentes neste fim de século. Insistem tais mestres em ficar parados no tempo, ensinando o jornalismo tal como o praticavam na década de 30, reeditando os princípios da propaganda que vigorava nos tempos heróico de Claude Hopkings e do nosso saudoso Cícero Leurenroth; votando fidelidade inabalável do pai das RRPP, Ivy Lee, que fez o milagre de transformar o velho Rockfeller em Fundação; chorando os bons velhos tempos de Einstein e Chaplin, que jamais pensariam em degradar-se na Televisão; ou insistindo que o rádio deverá manter a linguagem floreada e romântica dos idos de 40 – a sua época áurea – com seus “scripts” elegantes e rítmicos, bebeceanos, falando para o Brasil e para o mundo, e não improvisando no dialeto coloquial de sua audiência interessada do pequeno mundo do município de Riacho do Navio ou da meia dúzia de agro-vilas na rota da Transamazônica. Para tais professores, a estréia em quadrinhos não vale dez reis de mel coado; a canção popular não expressa senão baboseiras em ritmos estridentes e
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alucinógenos, os programas de música sertaneja são uma chaga na Cultura com C maiúsculo; as novelas de televisão deseducam; os desfiles de escolas de samba ou clubes de frevo são a negação da nobre arte do Royal Ballet; a literatura de cordel e os almanaques não passam de veículos da sub-cultura dos pés raspados, nada somado ao processo de desenvolvimento industrial e de interação e valorização do homem novo que a sociedade de massa mandou para a era de ouro do terceiro milênio. Não pensam assim, porém, os empresários nem os profissionais da comunicação e, por isso vêem as escolas como incapazes de acompanhar a evolução dos MCS. E como na Universidade não se renovam os métodos de ensino e aprendizagem, não se pesquisa e não se fazem experimentos, eles próprios tomam a iniciativa de atualização de técnicas informativas e persuasivas, como vem ocorrendo nos grandes centros em empresariais em todo o país. Porque, por exemplo, o Jornal do Brasil passou a editar os “Cadernos de Jornalismo e Comunicação”, a desenvolver o seu próprio departamento de Pesquisa, a reformar toda a sua política editorial, oferecendo-nos, hoje, um produto industrializado tanto morfologicamente como no conteúdo eminentemente interpretativo de suas matérias? E o tradicional “Correio do Povo”, de Porto Alegre, porque lançou um matutino a cores, como se fosse um concorrente, senão para conquistar o público jovem que não afinava com a seriedade e o fraque do sempre autorizado e venerado órgão? De um dos redatores do “Jornal da Tarde”, o vespertino lançado pela imprensa editôra de “O Estado de S. Paulo” ouvimos que se reunia diariamente com os colegas, em conselho para a promoção de autocrítica, seleção dos fatos e temas mais relevantes e sua apreciação em profundidade, fazendo um jornal para o público que, já informado pelo rádio e pela TV, queria saber mais – os como e os porquês, as possíveis conseqüências, a dinâmica, enfim, do acontecimento ou da situação em que evidencia no momento. Nas áreas da Propaganda e das Ralações Públicas, não mais subsistem aos franco atiradores que sozinhos, bolavam campanhas, dirigiam textos e até davam conta da arte final de suas mensagens. Ou aqueles sorridentes e otimistas intermediários da administração de empresas sempre bem postos em seus ternos “dernier cri”, que amainavam os temporais com cafézinhos e palmadinhas no ombro do cliente insatisfeito, quando não com presentes de uísque escocês e perfume da França, de que eram profundos conhecedores. O relacionamento entre produtor e consumidor, administrador e usuário, govêrno e cidadão, a cada dia que passa e ante a multinacionalidade das fontes informais e formativas de opinião e atitudes, reclama autênticos criadores de imagens para cérebros pensantes e não sentimentalmente embotados por atenções amabilidades e brindes – o açúcar que dourava a pílula amarga dos/ desacertos no mundo dos negócios privados e públicos.
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Diante dessa realidade, não bastam ao professor a sua bagagem cultural e humorística, os seus títulos e a transmissão de sua experiência. O novo professor tem em tudo isto apenas o lastro de sua atuação de orientador e formador de profissionais e especialistas; essa atuação somente será proveitosa se fundamentada na observação da experiência e das necessidades do aluno e na Investigação constante do ambiente sócio-cultural em que vive e das expectativas que se entremostram do futuro da humanidade. A sua função não é in-cultural mas contra-cultural, no sentido de analisar e criticar com o estudante os alicerces que se estão montando hoje para a convivência de amanhã. O professor atualizando e atualmente é o que se recusa a repetir e ouvir repetições de já bolorentos conceitos e textos. É o que baixa da cátedra para as discussões do seminário, a análise e dados de pesquisa ou recolhidos dos manaciais dos media no mesmo instante da classe. É o homem ao qual repugna a auto-conferência – as xaroposas chamadas aulas maiores, ministradas para um auditório desatento e passivo que reúne mais de uma centena de estudantes de duas a tres turmas diversas. É o inimigo das provas objetivas em que X, muitas vezes marcado ao azar, classifica um aluno, como se este não passasse de um computador e as provas significassem apenas um frio processamento de dados. É finalmente um ser eminentemente crítico e, por isso, não se considera dono e guarda da verdade mas um semeador de idéias que devem germinar no campo aberto do debate, da pesquisa e da experimentação e não na estufa cerrada e artificial de uma dominação cultural dogmática, infensa à crítica e segura da infalibilidade de seus caminhos e opiniões. Este, ao nosso ver, o professor que está faltando aos cursos de comunicação do Brasil e da América Latina e cuja problemática esta sendo discutida neste Congresso. Só esperamos – veteranos de congressos e simpósios que se perdem em estéreis discussões e recomendações à entidades governamentais e privadas que jamais as escutam, que não repitam tais erros e, como assegura o coronel Odorico Paraguaçu, professores e pesquisadores deixem de lado os considerados e não obstantes e vão logo aos finalmentes...
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TEORIA E PRÁTICA DO ENSINO DE JORNALISMO. PANORAMA HISTÓRICO*
Luiz Beltrão
1. O JORNALISTA NA HISTÓRIA BRASILEIRA a) No princípio, o verbo estava com mensageiros e arautos, com pitons e sacerdotes, com filósofos e oradores com interpretes, com escribas e escrivãos. Também no Brasil pré-cambriano, entre as tribos indígenas, encarnados em pajés, caraíbas e andejos portadores de notícias entre grupos separados pelas imensidões da selva, fazia-se a comunicação oral de acontecimentos e situações de interesse e importância para as coletividades espalhadas pela maravilhosa Pindorama1. E quando as naus lusitanas aproaram rumo à terra firme na baía do Porto Seguro, foi Pero Vaz de Caminha o primeiro civilzado a exercer, como escrivão da Armada, oficio jornalistíco: captar o fato, anotar os seus elementos, interpretá-lo e redigir para Sua Magestade Dom Manuel, o Venturosoroso, a reportagem da Descoberta. O rei de Portugal pode ser considerado, em seguida, o primeiro editor da nossa história quando, recebendo a matéria de Caminha, fê-la copiar em pergaminho e enviá-la ao, Papa, aos soberanos navegadores do mundo europeu, enquanto seus arautos a proclamavam aos súditos da metrópole e de além-mar, formaradores do império que a audácia lusa ameaçava a construir nos velhos continentes africano e asiático e que estaria destinado a ser o último bastião: a política colonialista inaugurada pela Revolução Cormercial, nos XV e XVI. Durante trezentos anos, os agentes do jornalismo luso-brasílico o foram ex-ofício: fazia parte dos seus deveres para com o Estado, para com a Igreja e a Ordem , para com a sua Corporação coletar dados, apreciá-los e difundi-los oralmente ou por escrito, a destinatários específicos que, com Dom Manuel, faziam de editores, utilizando-os e transmitindoos, em em cópias manuscritas ou impressas, a círculos cada vez mais amplos de receptores. Graças a esta ação dupla e ordenada - do jornalista/cronista e do editor/propagador - é que podemos conhecer quase o dia-a-dia da colonização, do
* Capítulo da coletânea “Teoria e Prática no Ensino de Jornalismo”. São Paulo: ECA-USP, 1974, pp. 181-201 1 BELTRÃO, Luís - Comunicação e Folclore - São Pau-lo, Cia. Melhoramentos, 1971
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desbravamento, da resistência ao invasor, do roteiro das minas, do brotar do nacionalismo, dos conflitos, lutas e repressões, de heroísmos, conquistas e traições, da formação, enfim, do milagre da unidade nacional – três milhões apenas de indivíduos disseminados numa área de dimensões continentais e, contudo, ligados espiritualmente pelo ideal da liberdade. b) Com a introdução da tipografia, já no século XIX, num atraso cujas causas mais decisivas e até bem pouco subestimadas foram exaustivamente pesquisadas e analizadas pelo eminente Prof. Marques de Melo em sua tese de doutoramento nesta Universidade 2, em contato direto com a magia dos tipos móveis e do rudimentar prelo da Impressão Régia, jornalista e editor confundem suas personalidades, harmonizam suas funções, miscegenam seus papéis, fazem-se xilófagos. Essa simbiose, que dá origem à figura do editor-jornalista, irá resistir por mais de um século e, como o mostraremos, continua sobrevivendo, como um zumbi, em nossos centros de formação profissional, mesmo depois da estruturação dos Cursos de Comunicação, que a rompeu, instituindo áreas específicas para Jornalismo e Editoração. Aliás, só muito recentemente, com as alterações indicadas pela introdução nas empresas da organização departamental (de origem norteamericana) e da diagramação (de inspiração francesa) é que o jornalista tem oportunidade de libertar-se da obrigação de conhecer técnicas alheias às suas estritas fun-ções. Até a primeira metade do século, o tipo representativo do jornalista completo era o secretário da redação, que não apenas traçava a pauta da reportagem, revia todos os originais e os policiava como fazia o “espelho” e descia às oficinas para presidir à arquitetura ao menos da primeira e da última página de cada caderno. Ademais, a ele, jornalista-editor por excelência, é que competia dar a ordem para “rodar” a edição, tirar um segundo “clichê” e elevar a tiragem, quando algum acontecimento de sensação fazia prever maior procura do periódico. c) Ao longo desses primeiros cem anos de grafojornalismo, o recrutamento dos homens da informação era feito entre estudantes, bacharéis em Direito, professores primários, gente que tinha jeito e vocação para escrever. E a formação, então dita profissional, ou seja, o conhecimento das técnicas gráficas e do funcionamento do jornal, era alcançado exclusivamente no exercício da atividade jornalístico-editorial. Os nossos grandes jornalistas da consolidação da independência, da abolição – da escravatura, da República e das campanhas de emancipação econômica, que culminaram com o movimento revolucionário de 1930, foram todos tribunos, literatos, eruditos. Quase todos os vultos relevantes da imprensa brasileira anterior à industrialização e à profissionalização efetiva do jornalismo eram portadores de diploma, haviam alisado os bancos de alguma 2
MARQUES DE MELO. José - Sociologia da Imprensa Brasileira - Petrópolis, Vozes, 1973
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Faculdade ou de uma Escola Normal. Como o exercício do jornalismo era considerado um sacerdócio ou um degrau para outros ofícios, notadamente para a atividade política, de tal modo mal pago, não passando de um “bico” que acrescia a renda do funcionário público, do mestre-escola ou do bacharel, o vocacionismo era a característica de quem o professava. Tinha-se vocação para escrever e ver o texto em letra de forma como se tinha vocação para abandonar o mundo e abraçar o estado clerical. Enquanto as condições do mercado brasileiro da comunicação não se modificaram, o vocaciotonista imperou no jornalismo gráfico e, mais tarde, no radiofônico, não se admitindo que houvesse qualquer possibilidade de aprendizagem fora das redações e em contato íntimo com as oficinas, sentindo naquelas o forte impacto das primeiras notícias e do testemunhar dos fatos que as provocavam e, nas últimas, o cheiro da tinta e do chumbo derretido e a audição do matraquear dos linotipos e do surdo rolar das impressora. Não se deve porém, pensar que o vocacionista fosse um antiprofissinal ao contrário, o verdadeiro profissional, aquele que não quis fazer do jornalismo uma complementação salarial nem tinha vocação franciscana, nasceu de sua imposição como tipo distinto do intelectual e do bacharel. Reunindo-se em associações de imprensa, promovendo congressos da classe, lutando pela sindiscalização - e, por isso mesmo olhando com desconfiança os que, entre eles, sugeriam que o futuro jornalista deveria titular-se em nível superior - o vocacionista se constituiu, realmente, no alicerce sobre o qual se tornou possível a construção de uma legítima e autônoma categoria de trabalho. 2. O ENSINO DE JORNALISMO NA UNIVERSIDADE A idéia de preparar jornalistas na Universidade, que vinha tomando corpo e sendo propugnada desde o I Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em 1918, no Rio, e sob a inspiração do funcionamento das escolas de jornalismo nos Estados Unidos, alcança, em 1935, a primeira iniciativa prática. Anísio Teixeira inclui um curso de jornalismo entre os que seriam ministrados na Universidade do Distrito Federal fundada pelo governador Pedro Ernesto, conforme se constata do Decreto Municipal n° 5.613, de 04 de abril daquele ano. O curso vai, entretanto, reduzir-se a uma cadeira - Jornalismo - redigida pelo jornalista Costa Rego, limitando-se à transmissão “de conhecimentos em nível teórico sobre essa atividade intelectual, então muito próxima da literatura” 3, e, ao que parece, visando sobretudo a fazer do escritor público um escritor puro. Cabe ao governe Getúlio Vargas, pelo Decreto-Lei n° 5.480, de maio de 1943, instituir o Curso de Jornalismo na Faculdade Nacional de Filosofia, curso este que somente irá funcionar na Universidade do Brasil passado um lustro. Essa 3
MARQUES DE MELO, José - A reforma do ensino de jornalismo - Porto Alegre, Cadernos de Temas de Comunicação Social - PUC, 1969 Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 325-339, jan/dez. 2006
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demora refletida certa oposição à formação de jornalistas em nível universitário, tanto nos círculos empresariais como entre os profissionais vocacionais, de larga tarimba. Os primeiros temiam a valorização do trabalho de agentes qualificados com título superior; os últimos pressentiam uma concorrência que lhes seria desfavorável, se os cursos se estruturassem no sentido de uma verdadeira formação profissional, não se cingindo ao bacharelismo ou à literatice em que degeneravam os cursos de Direito e Filosofia, produzindo diplomados caracterizados pelo “estado fagueiro de semi-ignorância empavezada e protegida, palavrosa e fútil”, satirizado Carlos Rizzini 4. Tanto essa situação de descrença e temor se fazia sentir que, no mesmo ano da criação oficial do Curso de Jornalismo, um mestre de Direito, em São Paulo, Vitorino Prata Castello Branco, também jornalista, tomava seu cargo organizar um curso livre de jornalismo, que funcionou na sede da Associação dos Profissionais da imprensa de São Paulo, no último andar do prédio Martinelli.Aos alunos - narra uma testemunha - eram entregues apostilas impressas, as quais depois reunidas formaram uma obra de grande tomo, nunca mais publicada, de modo de que se tornou rara, não sendo encontrada senão em alfarrabistas e bibliotecas públicas (...). Obra encadernada, com dezenas de gravuras, algumas coloridas, tratava de história do jornalismo no mundo e no Brasil, da técnica jornalistica em diversos campos, da prática com modelos de notícias, de crônicas, de reportagens, de entrevistas, etc., seguindo-se uma série de exercícios que deveriam ser feitos pelos alunos. Sendo a primeira obra no gênero, se por sua vez o primeiro marco bibliográfi-co do ensino do jornalismo no Brasil.”5 Como foi recebido esse curso, num tempo em que ninguém admitia ser possível aprendizagem acadêmica de jornalismo ? Escreve a citada testemunha : “ Consi-derada a ousadia imperdoável, sofreu ele terrível campanha com o apoio da maioria dos órgãos de imprensa de São Paulo. O tempo, porém demonstrou que a sua iniciativa era válida; logo depois surgiu a “Casper Líbero”...”6 Havia exceções, entre jornalistas como entre empresários: gente que percebia o grau complexidade; que o jornalismo ia assumindo a partir da década de 30, com a introdução do rádio e as perspectivas que se abriam à universalização da comunicação de massa. E entre os que viam mais longe, 4 5
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RIZZINI, Carlos - O ensino de jornalismo - Rio, Imprensa Nacional, 1953 RIZZINI, Carlos - O ensino de jornalismo - Rio, Imprensa Nacional, 1953. (5) A obra figura na Bibliografia sobre Ensino de Jornalismo, levantada por José Marques de Melo. V. O Ensino de Jornalismo, São Paulo, Editora Comu-nicações e Artes, USP, 1972, à pág. 206. n. 17 - CASTELO BRANCO, Vitorino Prata Curso de Jornalismo, São Paulo, Tipografia Cultural, 1945 Depoimento de José Carlos do Amaral, de São Paulo, em correspondência para o A., publicado no boletim ICINFORM/COMUNICAÇÃO, n. 1/70 - pág. 3
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destacou-se a figura de Cásper Libero, diretor de “A GAZETA”, então situada entre os mais prestigiosos órgãos da imprensa paulistana. Fazer funcionar uma escola de jornalismo era o seu sonho e, receando não realizá-lo em vida, “expressamente o recomendaria, em testamento, à Fundação que instituiu para preservar e continuar a sua obra”. Em maio de 1947, entrava em funcionamento a Escola de Jornalismo Casper Líbero, Integrada na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, da Universidade Católica de São Paulo. Somente no ano seguinte, em abril de 1948, instalava-se, afinal, o Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil. Reconhecida pelo Govêrno Federal, em três anos a Casper Libero diplomava 49 alunos, tendo sobre o curso oficial do Rio duas vantagens, assinaladas por RIZZINI: treino técnico-profissional e conferências e cursos complementares e de extensão. “O ensino prático, tão difícil e custoso para as organizações oficiais, era fácil para uma escola brotada de “A GAZETA”, onde o bom profissionalismo se requinta na excelência da apresentação gráfica” - prossegue. E faz o elogio do mensário laboratório da Escola que então dirigia e que, em um só número, publicava “mais de vinte escritos entre reportagens, entrevistas e comentários”. 7 Nas duas décadas seguintes, os cursos de jornalismo se expandem: Porto Alegre, Juiz de Fora, Salvador, Curitiba, João Pessoa, Recife, Natal, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza. b) A integração forçada pela lei dos cursos de jornalismo às Faculdades de Filosofia Imprimiu à formação dos futuros militares da imprensa e do rádio uma orientação sobretudo teórica e humanista. Preparavam-se antes homens de letras, eruditos e estilistas da pena do que homens de imprensa. Ao mesmo tempo, como concessão gratuita aos profissionais, dispensavam-se os vestibulares aos jornalistas então em exercício há mais de cinco anos. No currículo, por isso, incluíam-se disciplinas como História do Brasil e Geografia, enfatizando-se os estudos de Língua e Literatura da Língua Portuguesa. Currículo mínimo e professores porfiavam em despertar vocações literárias, encaminhando os estudantes a atividades intelectuais de ordem histórica ou estética. O jornalista, que certa vez já definimos como um acorrentado à atualidade como um Prometeu ao seu rochedo, seria um criador de mitos, como o ficcionasta, ou um analista de situações passadas como um historiador. Os conhecimentos científicos básicos da antropologia, da sociologia, da política e da economia, quando ministrados, não passavam de vagas noções de objetos de discussões acadêmicas, que jamais poderiam influenciar os espíritos voltados para a forra de apresentação estilisticanente pura dos textos a serem difundidos nos periódicos. Sim, porque a única preocupação dos nossos primeiros cursos de jornalismo se centrava em preparar pessoal para o grafoperiodismo: ao rádio, bastavam os locutores, gente 7
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que soubesse ler o que os jornalistas e cronistas, os literatos enfim, escreviam. Para que não tivessem problemas com a lei e os costumes, e como à estrutura curricular das Faculdades de Filosofia não faltavam disciplinas e Mestres e de lógica, metafísica e ética, inseria-se na aprendizagem a fundamentação filosófica do exercício profissinal. Nos cursos de orientação católica, dava-se Ética e Legislação de Imprensa; nos oficiais, ministrava-se Legislação e Ética de Imprensa; nos católicos, invariavelmente incluia-se um ano de Religião e Doutrina Social da Igreja; nos leigos, História da Filosofia e noções de Direito. c) Entretanto, o currículo mínimo organizado Pelo Conselho Federal de Educação e exigido pelo MEC para o reconhecimento dos cursos profissionais determinava o ensino de certas disciplinas, ditas práticas -Técnica de Jornal, Radiojornalismo, Publicidade e Propaganda e Administração de Jornal. Convocavam-se, então, profissionais da imprensa portadores de título superior, fosse mesmo de odontologia, química ou engenharia, para “catedráticos” ou “titulares”. Ora, a inexistência de oficinas gráficas, de laboratórios fotográficos, de estúdios de rádio e mesmo de simples salas de redação se constituía no primeiro obstáculo a que os professores transmitissem aos alunos a sua experiência profissional de jornalistas. Sequer bibliografia, em língua portuguesa havia ao alcance dos aprendizes: utilizavam-se apostilas, em sua maior parte, baseadas em manuais norteamericanos ou franceses, que os improvisados mestres adquiriam com grande dificuldade. Mais tarde, alguns poucos desses manuais eram editados no Brasil, sem qualquer cuidado de adaptação: basta lembrar um deles que traduziu “feature sindicate”, ou seja agências que oferecem matéria jornalística para secções, bem como reportagens especiais e serviços de ilustração, inclusive “quadrinhos”, por “sindicato”, e a palavra “lead”, isto é, a cabeça, o primeiro parágrafo da notícia, foi oficializada em sua grafia e pronúncia saxônica, nesse aspecto suplantando uma mais tarde introduzida e hoje de uso corriqueiro para indicar os meios de comunicação em sua globalidade - media, plural do vocábulo latino, que, curiosamente, vem sofrendo entre nós um esdrúxulo processo de macaqueação linguística: ortograficamente se “aportuguesou” e prosodicamente se manteve saxônico - mídia. Ademais, esses primeiros livros de texto traduzidos e logo adotados pelos professores não se adequavam ao nosso jornalismo e eram uma espécie de miscelânea, em que se tratava de tudo: economia das empresas, direitos e deveres dos jornalistas, interesses do leitor, jornalismo no rádio e na televisão, publicidade e relações públicas, arquivo e biblioteca de referência, jornalismo semanal e ilustrado. Tudo isso em uso, e até mesmo já em desuso, nos Estados Unidos. Coube ainda a São Paulo, à Escola de Jornalismo Casper Líbero o início da reação contra tal literatura didática: em pequenos volumes impressos em papel jornal, Carlos Rizzini, Galvão de Sousa, Henrique de Brito Viana e outros fazem editar as suas “notas de aula”. O “Diário de Notícias”, do Rio, em 1959, limita o
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seu tradicional “Prêmio Orlando Dantas” a obras sobre Jornalismo, e dentre os originais concorrentes, saem os primeiros livros de professores brasileiros - o nosso “Iniciação à filosofia do Jornalismo”; o de Juarez Bahia, de Santos, “Jornal-História e Técnica” e o de Anis José Leão, de Belo Horizonte - “Limites da Liberdade de Impren-sa. No Recife, o Instituto de Ciências da Informação, que fundaremos juntamente com a primeira turma de bacharéis em jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, lança um volume de nossas aulas sobre “Técnicas de Jornal” e edita a primeira revista especializada a circular no País sobre o ensino e o exercício profissional – “Comunicações & Problemas”, logo seguida pelos “Cadernos de Jornalismo”, do Jornal do Brasil”. Todas essas publicações refletem a consciência que animava aqueles mestres pioneiros do ensino de jornalismo em nível univer-sitário: sem desprezo à experiência alienígena, buscavam os seus próprios caminhos, na realidade do nosso jornalismo. Esse esforço para conseguir abrasileirar princípios, problemas vivenciais e técnicas do exercício profissional, contudo, esbarrava numa dificuldade: não estava, os cursos de então, aparelhados com oficinas gráficas, laboratórios fotográficos, estúdios de som, nem sequer com salas de redação, onde os futuros profissionais se exercitassem em seus mistéres. Em regra, o estudante estagiava em redações e departamentos jornalísticos, mediante convênios (geralmente “firmados” de boca e por amizade) com empresas da localidade em que funcionavam os cursos. Salvo, talvez, uma ou duas exceções, entre as quais desejados destacar as empresas; de Porto Alegre, onde os principais jornalistas foram alunos e depois professores dos cursos com amplo apoio de suas organizações, esses estágios eram mal recebidos pelos profissionais vocacionistas: quando não se ridicularizavam os estagiários, quando estes não se impunham, e mesmo porque os estágios não eram supervisionados por professores, os estudantes adquiriam vícios profissionais e até chegavam a perder o interesse pela base teórica que qualquer atividade social requer de seus agentes. Também a prática nas escolas que dispunham de oficinas e laboratórios deixavam muito a desejar. Os jornais dos cursos, escolas ou departamentos de jornalismo eram, e continuam sendo, já o dissemos e repetimos, praticamente iguais às folhas colegiais dos periódicos (sem periodicidade certa) editados nos estabelecimentos de ensino médio. Não havendo possibilidade de edição de um diário, um semanário ou uma revista de atualidade, o aproveitamento, com vistas ao exercício profissional, é mínimo, a começar pelos leitores, já que as publicações são dirigidas especificamente e no máximo ao pessoal da universidade, público reduzido, benevolente, ser a minina condição de comparar-se à massa - àquele público vasto, heterogêneo, disperso e inorganizado - àquele leitor despersonalizado e misterioso cara o qual exercitará, sob vigorosas pressões do tempo, da moda e do ritmo alucinante da vida contemporânea, o seu oficio de informar e orientar o comportamento individual e coletivo na hora que vivemos, sem perder de vista a lição do passado e a perspectiva futuro.
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Do mesmo modo, e ainda com maior raridade, treinavam os futuros radiojornalistas (e depois telejornalistas). Como poderiam avaliar a repercussão dos seus informativos, de suas crônicas do dia-a-dia, de suas reportagens auditivas e visuais, se tinham um público reduzido, e não uma audiência maciça? Este, que era e continua sendo o grande problema da aprendizagem do jornalismo na universidade, foi um dos mais fortes motivos da rejeição e da hostilidade com que as empresas e os profissionais em atividade receberam os bacharéis em jornalismo, mais ostensivamente nos primeiros vinte anos de funcionamento efetivo dos cursos em nível superior. 3) A DEMANDA DE PROFISSIONAIS NO CAMPO DO JORNALISMO a) Assis Chateaubriand foi, talvez sem jamais haver tornado consciência de tal, a figura do empresário das comunicações brasileiras que ofereceu ao ensino de jornalismo na universidade a primeira e básica contribuição. Empreendendo a surpreendente carreira de simples repórter provinciano a um magnata da imprensa, mediante a criação e expansão a todo o País de sua cadeia - Diários e Emissoras Associadas, a que se incorporaram revistas, agências de notícias e televisões, imprimiu ritmo inovador e dinâmico à incipiente indústria da comunicação jornalística, que emergia dos salvados de empastelamentos e incêndios da Revolução de 1930. Ampliava-se o mercado jornalístico: à ilha industrial Rio - São Paulo substituía um arquipélago, que se estenderia do Sul ao Nordeste, ao Norte e ao Oeste - por terra, linotipos, marinonis, sucursais e correspondentes; pelo ar, as ondas hertzianas conquistadas levando a informação do Brasil a todos os quadrantes do Pais e ao mais longínquo estrangeiro. E a busca de improvisados jornalistas, técnicos, administradores, publicitários, pessoal para um mercado ainda pobre mas cujas possibilidades seriam, mesmo para o seu criador, imprevisíveis. Um mercado que, a certo ponto de sua evolução, iria reclamar formação e não mais improvisação. Como em qualquer indústria, à maquinária e às técnicas mais aprimoradas de veria corresponder pessoal especializado, capaz de criatividade e produtividade crescentes. No campo da cinematografia, as leis de incentivo ao filme nacional, introduzindo a obrigatoriedade de apresentação de uma curta-metragem brasileira em cada programa, proporcionava a organização de algumas empresas, que se sustentariam principalmente da filmagem dos fatos sociais, econômicos, desportivos e mesmo pitorescos da semana. Os cinegrafistas armadores se profissionalizavam e se iam especializando na produção dos chamados “jornais” e de reportagens, que começavam a mostrar o Brasil aos estrangeiros. Esse jornalismo fílmico iria, mais tarde, servir à televisão e, à sua base, se desenvolveria o telejornalismo, depois utilizando o instrumental adequado do vídeotape. Entre outros nomes de inovadores do jornalismo brasileiro que, pela sua ação; influenciaram na profissionalização e, conseqüentemente, na demanda de
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pessoal capacitado e de nível cultural superior, aqui lembraremos Samuel Wainer que, após haver, durante a guerra, realizado uma experiência de jornal de combate com o semanário “Diretrizes”, em 1951 lança o vespertino “Última Hora”, “folha vibrante, geograficamente modelar, revolucionária em seus métodos de informar e até de opinar”.8 O jornal impôs uma autêntica renovação de forma e conteúdo aos concorrentes, dos quais retirara alguns excelentes repórteres e redatores, oferecendo-lhes melhores salários e oportunidade de fazer carreira, isto é, de não mais considerarem o exercício do jornalismo como um “bico” mas como uma autêntica profissão. Na mesma época, sob a direção de Danton Jobim, com Pompeu de Sousa na chefia da redação e Luís Paulistano na chefia da reportagem, processava-se revolução semelhante no “Diário Carioca”, que chegou a alcançar uma vendagem record para a época: 45.000 exemplares nos dias úteis e 70.000 aos domingos. O segredo do jornal estava, conforme Nelson Werneck Sodré, na maneira de apresentar as notícias, pois “ao lead norte-americano, Luís Paulistano acrescentou ao brasileiríssimo sub-lead,” imprimindo maior interesse humano às descarnadas informações dos textos ianquísados. Um pouco mais tarde, o “Jornal do Brasil”, com Odilo Costa Filho e outros, empreendia a sua reforma: os classificados que tomavam toda a primeira página eram quase totalmente substituídos por manchetes e títulos, introduziram-se novas secções e novo estilo redacional. Sucedem-se as inovações e, sob o impacto da televisão, que, juntamente com o rádio e beneficiando a audiência com a visão direta do acontecimento, se tornara o canal informativo “primeiro a dar as últimas”, os jornais de vanguarda, que havia substituído a suspeitas campanhas moralizastes dos concorrentes, buscam a fórmula de manutenção e prestigio para o grafojornalismo. Encontram-na, em primeiro plano, duas grandes empresas: o já renovado “Jornal do Brasil” e a velha – sólida organização dos Mesquita, de São Paulo, ao lançar o “Jornal da Tarde”. A fórmula: o jornalismo interpretativo, a revistização do diário, a vivificação da reportagem, a valorização da fotografia e dos claros, a montagem artística das páginas, a seleção das matérias e seu enriquecimento pelo Departamento de Pesquisa – a velha morgue rejuvenescida e operante, constituindo cada edição uma passarela cuidadosamente ornamentada e iluminada para o desfile das “dez mais”. b) As dez, vinte, duas dúzias de notícias mais importantes das 24 horas entre uma e outra edição, com a exaustiva apresentação dos fatos em todas as suas medidas e detalhes, com seus significados evidentes e latentes, com a sua repercussão imediata e possíveis/prováveis consequências – eis o novo jornalismo gráfico. Cada edição e a passarela da atualidade vivida pelo homem, na terra e no 8
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espaço, na cidade ou no campo, nos continentes ou nos mares. Uma passarela em que desfilam as ocorrências finalistas do derradeiro dia/noite: em uma página, nos seus trajos convencionais; em outra, vestidas a rigor; numa terceira, em indumentárias típicas; além, em maiô e até mesmo em “streaking”. Nada de frias e secas informações para o que merece tratamento especial, para a informação que tem possibilidade de manter-se sob os refletores despertando aplausos e aplausos da platéia às vezes por dias a fio. O simples registro destina-se ao fato que não acrescenta nem reduz, que foi desclassificado pelos critérios de julgamento do jornalista competentes e seguro porque senhor de uma cultura acima da média e de uma mente treinada para o ofício de árbitro público, nas classes e nas oficinas de aplicação da universidade. Não mais a opinião, porém as opiniões. Nada mais de segredos ou ficções: tudo às claras, tudo como foi visto, testemunhado e apurado não por um único profissional mas por uma equipe, munida de instrumentos especiais em sua reconstituição e análise, instrumentos que vão desde os próprios sentidos até as suas habilidades como escritor, fotógrafo, operador de gravadores, entrevistador, consulente dos serviços de referência, pesquisador das fontes estáticas dos arquivos, bibliotecas e museus e observador atento das fontes dinâmicas dos aparelhos receptores de rádio e televisão, dos teletipos, dos periódicos concorrentes, das respostas à programação que oferece o computador. c) O novo jornalismo, em qualquer das suas modalidades, não quer nem pode mais admitir como profissional a quem não esteja habilitado realmente ao desempenho de suas funções específicas, ou seja: captar o fato, que é parte de uma situação; interpretá-lo à luz de crenças, ideologias, opiniões, circunstâncias espe-ciais do momento histórico que passa, e avaliar as diversas trajetórias do seu desenrolar; e, afinal, utilizando todos e cada um dos dados recolhidos e analisados, preparar e oferecer – por escrito, oralmente, pela imagem, conforme a sua especialização – a matéria/mensagem que será consumida pelo receptor e servirá de fermento ao comportamento individual e coletivo. As empresas jornalísticas são indústrias, que não dependem apenas de máquinas, de uma tecnologia cada dia mais rápida e perfeita. Dependem, sobretudo, de pessoal, de fornecedores da matéria prima - a informação, a interpretação, a essência da mensagem -, de gente que realmente saiba manipular com perícia, consciência e sabedoria os ingredientes que despertarão a atenção, prenderão o interesse e darão ao consumidor do produto jornalístico os elementos de que necessita para decidir a própria conduta, como agente ativo, participante, alvo ou mero observador cia situação fluente que o jornalista selecionou como marco da história contemporânea da comunidade ou da humanidade. Assim, de uma rejeição e hostilidade ao graduado pelos cursos de jornalismo, as empresas de comu-nicação passaram a encontrá-los como centros legítimos de
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recrutamento de profissionais especializados. Daí a regulamentação profissional exigindo o diploma e o estágio dos bacharéis em jornalismo para que ingressem nas empresas alcancem o pleno direito ao exercício de sua missão social. 4) O ENSINO DE JORNALISMO NA ÁREA DAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO a) Simultaneamente com a evolução do jornalismo, processava-se o surgimento e/ou a consolidação de outras atividades da Comunicação, reclamando também a formação em nível universitário e a especialização. In-troduziam-se as Relações Públicas a Publicidade desenvolvia-se com o estabelecimento ou ampliação de agências, criavam-se os primeiros organismo de pesquisa de opinião, o Estado coordenava serviços, setores ou assessorias de divulgação governamental. Algumas escolas foram fundadas, na década de 60, sem subordinação às Faculdades de Filosofia, ou seja, nasciam autônomas, como a Escola de Jornalismo Eloy de Souza, de Natal. Outras, embora não reconhecidas, promoviam cursos livres de Relações Públicas e Propaganda. A campanha pela “autonomia” dos cursos de jornalismo, pela sua transformação em escolas ou faculdades com o mesmo status das demais unidades básicas universitárias, vinha empolgando professores e alunos, sendo objeto de proposições e conclusões em diferentes congressos jornalísticos e de estudantes. A Universidade de Brasília cria os seus cursos de jornalismo e cinema. Cabe a Pompeu de Sousa, a cuja experiência inovadora do jornalismo já nos referimos, coordená-los e apresentar o plano de estruturação da Faculdade, que denominou de Comunicação de Massas, dedicada “ao estudo e ensino das ciências, artes e técnicas concernentes a todos os veículos e instrumentos que, transmitindo informação, opinião, sugestão, recreação e arte, em escala industrial, intrarelacionem e inter-relacionem as massas humanas, recebendo e exercendo influências geradoras ou condicionadoras de estados-de-espírito coletivos das mesas”. A Faculdade estaria composta de três Escolas distintas, “embora interligadas pela identidade dos veículos e instrumentos utilizados em comum’’: - a Escola de Jornalismo, a Escola de TV-Rádio-Cinema e Escola de Publicidade e Propaganda. O método de estudo e ensino seria preponderantemente “o tutoria”, isto é, o que dá proeminências ao estudo dirigido sobre o das aulas convencionais de natureza discursiva” Para tanto, contaria com laboratórios implantados em, organismo universitário, o Centro de Teledifusão Educativa, que além de proporcionar os meios necessários ao moderno ensino da Educação criaria “um jornal, uma revista, uma agência noticiosa, uma agência de publicidade e propaganda, uma estação de rádio e televisão e um centro de produção cinematográfica”.9 O curso de jornalismo começou a funcionar em 1964 e o de 9
SOUSA, Pompeu - Faculdade de Comunicação de Mas-sas - in: “Cadernos de Jornalismo” - Rio, Jornal do Brasil, Ano I, n. 2, julho/agosto, 1965 Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 325-339, jan/dez. 2006
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cinema no ano seguinte. Como sucessor de Pompeu de Sousa, fizemos ali, em 1966, algumas adequações necessárias, inclusive oriundas de sucessivas alterações na orientação do Conselho Federal de Educação quanto ao currículo mínimo. Contudo, em sua essência, a Faculdade do Comunicação da UNB (hoje Departamento de Comunicação, em consequência da implantação da nova estrutura universitária) continuou, até 1967, ao deixarmos a sua coordenação, com a mesma orientação didática e os mesmos propósitos, que então considerávamos válidos10. A 15 de julho de 1966, a Universidade de São Paulo criava a Escola de Comunicações Culturais, que entrou a funcionar em 1967. Com a sua larga experiência profissional em Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, o homem que a idealizou e dirigiu os seus primeiros passos, o Prof. Julio Garcia Morejón, anunciava que a escola integraria “os setores mais conceituados e definidos das comunicações até o presente: jornalismo, rádio e televisão, cinema, teatro, biblioteconomia, documentação, relações públicas, tradutores e intérpretes e, dentro em pouco, publicidade e propaganda”. Depois de relacionar as áreas de ensino e aprendizagem e disciplinas e práticas necessárias à formação de profissionais capacitados, afirmava: “Esses conhecimentos deverão ser ministrados nas próprias escolas ou faculdades de Comunicação, porque só serão eficientes se enquadrados no contexto teórico e prático da comunicação coletiva. Jamais poderão outras Faculdades de Letras. Sociologia, Política, Economia, etc.., fornecer as bases necessárias para a compreensão dos fenômenos de cultura pe-culiares ao homem das comunicações... As Faculdades de Comunicação devem encarar elas mesmas, de uma maneira integral, as suas responsabilidades docentes.”11 A orientação para as especializações, que respondia às necessidades da indústria da comunicação brasileira, continuou a ser seguida nas diversas reestruturações porque passou a unidade da USP, hoje Escola de Comunicações e Artes, sendo de inteira justiça salientar aqui o timoneiro seguro que sucedeu ao diretor fundador, o Prof. Guimarães Ferri, sob cuja gestão foram instituídas estas Semanas de Estudos Jornalísticos. A fase da “autonomia” fora atingida. Com ela, porém, emergira o problema da especialização. E se em Brasília, em São Paulo, na Faculdade de Meios de Comunicação Social da PUC do Rio Grande do Sul, já se tratava de preparar especialistas em cada atividade correlacionada, mas distinta, no campo da comunicação, nos cursos de outros Estados se insistia em uma formação polivalente: o jornalista graduado poderia exercer as profissões de relacionista ou publicitário, ainda não regulamentadas, embora não houvesse nos aludidos cursos 10
11
V. “Comunicações & Problemas” - Recife-Brasília, ICINFORM, Vol. II n. 1 Março/1966 Conforme discurso publicado na “Revista da Escola de Comunicações Culturais” - São Paulo, USP, vol. 1, n. 1, 1968
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as oficinas de aplicação requeridas (agências de RRPP e Publicidade), e muitas vezes sequer salas de redação, laboratórios, estúdios, arquivos e agências de informações para as práticas das atividades jornalísticas. b) Mais estranho ainda foi o fato dessa polivalência continuar em vigor, quando a situação de fato da existência de Escolas com cursos e departamentos de especialização e a reforma universitária, inserindo-os na área das Ciências Humanas e Sociais, transformou-os em Cursos de Comunicação Social, estabelecendo um currículo mínimo integrado por uma parte comum a todos os alunos e outra para especializações em Jornalismo, Relações Públicas, Propaganda e Editoração. As implicações que o currículo em vigor trouxe à estruturação, à didática e à aprendizagem teórica e, sobretudo, prática dessas especializações, ao que parece ainda não foram suficientemente discutidas e avaliadas pelas coordenações, congregações, conselhos departamentais e outros órgãos responsáveis pelo funcionamento dos cursos e pela eficácia da formação profissional de comunicadores. Basta que consideremos a indefinição do campo de ensino da Editoração e a inadequação do repertório de disciplinas, dos métodos didáticos e das práticas desenvolvidas em oficinas de aplicação (quando existem), montadas para a fase da completa autonomia (ou da polivalência) e que já não respondem à realidade legal e ás exigências para o exercício efetivo da especialidade em que o es-tudante deseja graduar-se. c) O panorama atual do Ensino Teórico e Prático do Jornalismo é, por isso, extremamente desarticulado. Expliquemo-nos: com a criação do curso de especialista, em Editoração, entendida a atividade como a produção e distribuição da mensagem cultural (gráfica, em gravação sonora, em emissão tel ou radiodifundida ou em reprodução audiovisual em celulóide ou fita magnética), não se compreende que continuem os estudantes, em seu periodo de especialização, a diagramar e editar jornais-laboratório, a “redigir” noticiosos para o rádio ou a fotografar, filmar ou televisar as limitadas, as parcas ocorrências do seu mundo escolar, a fim de apresentar a matéria/mensagem jornalística no ambiente estreito da Universidade. As oficinas gráficas, os estúdios à prova de som para a emissão de programas ou gravação, os laboratórios de revelação de filmes, toda a maquinária de TV - que constituem parte dos laboratórios para a prática da Editoração - servem tanto ao aprendiz de jornalismo como lhe servem as mesmas dependências das empresas jornalísticas e de teledifusão da comunidade. A grande, a imprescindível oficina de aplicação do curso ou departamento de jornalismo como especialidade da Comunicação é a agência de notícias. Mas uma agência que diária e ininterruptamente, funcione em todos os seus setorescaptação e elaboração de matéria jornalística para os periódicos impressos ou para o livro de atualidade; captação e gravação em fita magnética do mesmo material
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para as rádio-emissoras; captação, filmagem e/ou gravação em videotape do mesmo material para o cinema e a televisão; captação e fixação em signos icônicos, pela fotografia e pelo desenho, de temas e ocorrências que estão atuando na consciência coletiva e que serão difundidos por qualquer dos canais da comunicação visual. Essa agência será em tudo e por tudo idêntica àqueles já referidos “feature syndicates”, assim definidos por John Hohenberg “organizações de negócio, servidas por artistas, escritores e fotógrafos (acrescentaríamos camera-men, cinegrafistas e locutores) que, sob contrato, produzem grande número de artigos (ou seja, de matéria jornalística) que serão vendidos a centenas e, não raro, milhares de jornais (diríamos melhor, a empresas jornalísticas de todo tino).” Depois de salientar a característica de tais agências de possuírem um grande número de vendedores, encarregados de visitar as redações para colocar o material (trabalho a cargo da área de Editoração), acentua: “Os sindicatos (sic) oferecer tudo o que o secretário pode imaginar e que pode ser transformado em mercadoria jornalística popular... são uma espécie de amálgama dos mundos da arte, literatura leve e jornalismo.” 12 A exemplo dessas agências, a oficina de aplicação agora reclamada para o treinamento efetivo dos estudantes da área de Jornalismo fará a cobertura de setores-chaves, fontes permanentes de fatos de interesse público, e produzirá reportagens, crônicas, entrevistas, secções especializadas (programas, na linguagem dos me-ios audiovisuais), além de matérias compreendidas nas expressões miscelânea e entretenimento, que constituem a dose diária de evasão que a massa busca nos meios de comunicação contemporâneos. Com uma oficina de apli-cação bem planificada, instalada e operada, o aprendiz de jornalismo, sob a orientação do professor, terá real mente aquele laboratório-realidade, preconisado por Pompeu de Sousa, ficando dispensado dos estágios mediante convênio com organizações alheias à universidade, com os inconvenientes já apontados. Alguns estranharão a ausência, nessa oficina de aplicação, de máquinas de composição e Impressão, do equipamento exigido para a emissão radiofônica e televisada, da aparelhagem necessária à edição de películas cinematográficas de que até pouco tempo de vangloriavam umas poucas escolas de jornalismo. Mas, será função jornalistica lidar com esse material de captação, interpretação e tratamento dos fatos e situações para a sua transformação na notícia, no comentário, na opinião, enfim, na mensagem em sua essência? Se o fosse, não have-ria razão de existirem editores nem de se haver incluído, entre as especialidades da Comunicação, a Editoração. Observe-se que o conhecimento básico das técnicas de Editoração, como, de resto, das técnicas de todas as demais áreas, é proporcionado na parte com introdutória do currículo. Insistir em sobrecarregar o estudante com artes gráficas, 12
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diagramação, economia e administração das empresas e outras disciplinas específicas de atividades profissionais diversas da que ele elegeu é desperdiçar, com temas, técnicas e matérias menos essenciais, o período de aprendizagem com que conta para a sua formação. Não haja, porém, ilusões quanto às dificuldades com que se enfrentará o Departamento de Jornalismo ou o conselho administrativo de uma prática profissional. Dificuldades que começarão com a resistência dos professores daquelas disciplinas e técnicas excluídas do currículo especializado; que se prolongarão pelos estudantes que amam “fazer o próprio jornal” muito mais do que fazer jornalismo. É evidente que tais aposições resultam do “uso do cachimbo’”, da nostalgia da “polivaléncia”, de tendências reprimidas as quais, entretanto, encontram solução no funcionamento paralelo das ofici-nas de aplicação da área editorial. Mas sérios obstáculos se encontrarão na implantação da agência, no seu equipamento, na sua orqanização. Compreende-se que não será apenas com algumas má quinas datilográficas, birós, o teletipo, uns poucos livros, dicionários e enciclopédias, meia dúzia de gravadores, filmadoras e copiadoras e pequenos laboratórios de revelação e estúdios de som que se pode realizá-la. O centro de produção do jornalismo interpretativo - que é pesquisa, em todas as suas modalidades - esse centro não constitui um papel carbono das salas de redação, copiadas dos jornais e departamentos de rádio e telejornalismo existentes em algumas escolas. Seria, antes, o padrão de um Departamento de Pesquisa, equipado, a exemplo dos laboratórios de física e química, com todos os mecanismos e instrumentos necessários - permitam-nos mais uma analogia - à lavratura, adubação, semeadura, colheita, tratamento e beneficiamento dos fatos/ notícias da matéria prima jornalística que, então, passaria ao editor em condições apropriadas à industrialização, distribuição e comercialização do produto a ser consumido pela nassa, em sua embalagem gráfica, sonora ou audiovisual. Senhores, ao narrar a evolução dos processos do ensino teórico e prático do jornalismo em nosso País, não tivemos em mira fazer história, que esta não é a nossa especialidade - e nos desculpamos, de logo, perante os pesquisadores e estudiosos da ciência mestra da vida. A nossa visão, como nos indicou o tema determinado Pelos destacados organizadores e coordenadores desta Semana de Estudos, foi panorâmica e nos conduziu à conclusão de que, dentro da estrutura atual da formação universitária do jornalista como área específica das Ciências Técnicas da Comunicação, ainda não estamos atualizados e necessitamos rever currículos e métodos, elencos e estratégias tanto da Teoria como da Prática, a fim de que o estudante receba uma formação realmente concorde com as exigências da demanda de profissionais adequadamente capacitados para as atividades jornalísticas das próximas décadas. Deitamos na mesa as nossas cartas. Vamos abrir o jogo?
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PARA UMA NOVA PEDAGOGIA DA COMUNICAÇÃO*
Luiz Beltrão
Função vital do ser humano, a comunicação o acompanha desde o estado fetal quando, “flutuando, mais ou menos, no líquido amniótico, recebe, continuamente, os impactos rítmicos do pulsar do coração materno incidindo na pele de todo o corpo e ampliados pelo fluído... Assim, mesmo antes de nascer, adapta-se a um meio ritmicamente pulsativo. Ao nascer, experimenta contrações e pressões que por vezes são intensas; e depois fica subitamente exposto às pressões atmosféricas e a uma temperatura alterada, que provoca a atividade respiratória e, presumivelmente, um certo número de reações táteis... A criança é aconchegada e acariciada ritmicamente; coloca os seus lábios em contato com o corpo da mãe, mais especificamente o mamilo e percorre, cada vez mais, o corpo materno com os dedos. Por esses meios, provoca na mãe a estimulação de que ele “necessita”: calor, conforto, leite etc.... mantém ou recupera seu equilíbrio, quando perturbado pelo medo, dor, fome, frio, através da estimulação tátil rítmica, como as palmadinhas, o acalanto, as carícias.” A partir do tatilismo fundamental, introduz-se o homem no efetivo exercício dos demais sentidos, a começar pela audição da voz e da fala tranquilizante e cariciosa, da gustação e do olfato e, em seguida, prosseguindo em manipulações que “envolvem atividades motoras em grau crescente e hábeis coordenações neuro-musculares, substituídas por pistas visuais.”1 Essa comunicação biopsicológica - idêntica em seu processo, em seus signos, linguagens, sintaxe, funções e efeitos à dos outros animais - evolui, à proporção que o ser humano adquire o equilíbrio na posição vertical, domina seus órgãos locomotores e desenvolve a percepção. O cérebro recolhe e processa os dados essenciais à transformação daqueles signos, linguagem e sintaxe: o homem - ente dotado de abstração, imaginação criadora e reflexão - passa a substituir a
* Artigo publicada no “Revista de Comunicação Social”, 5: 1-2 (1975), p. 3-13 1 FRANK, Lawrence E. Comunicação tátil. In: Revolução na comunicação. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
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comunicação puramente animal pelo intercâmbio não apenas de informações e sensações, mas de idéias. Nasce, para ele, a cultura, orientadora de suas relações sociais, transformadora do ambiente natural, reguladora de suas atividades e conduta. De agora por diante, ele se comunica culturalmente, utilizando signos naturais ou por si próprio criados, aos quais dá significado arbitrário, num polissemismo que escapa, até onde che-gam os nossos conhecimentos atuais, a qualquer outro espécimen animal. Desde o momento em que simbolizou, estilizando gestos e movi-mentos do corpo traçando, com a mão libertada, os primeiros riscos significativos, adquirindo o domínio da voz articulada e inventando instrumentos, como extensões do próprio corpo, e objetos trabalhados com elementos inorganizados da natureza, ou construindo monumentos para perenizar a história e documentar a civilização - o homem teve, na comunicação cultural, o mecanismo inerente à sua existência e evolução, do qual somente o afastarão circunstâncias ou estados de degenerescência ou patológicos, sobre os quais se debruçam em estudo, pesquisa e terapia, gerontologistas e psiquiatras. Não interessa o estado civilizatório da sociedade: a comunicação humana é essencialmente cultural, reflete o pensamento e os sentimentos do grupo, seus objetivos e as tentativas que empreende para alcançá-los e superá-los. Quando esses denodados defensores do seu território - os waimiri-atroari - deixam nas proximidades das barracas dos acampamentos dos empreiteiros que abrem a rodovia Manaus-Caracaraí as suas flechas cruzadas praticam um ato cultural, enviam uma mensagem, dão um ultimato em tudo e por tudo idêntico àquele que as nações mais avançadas do mundo utilizam em seus conflitos, trocando notas diplomáticas. E, em sua essência, a atividade comunicacional do cantador do Nordeste, em uma peleja, é rigorosamente idêntica aos duelos oratórios do parlamento, desde o libelo de Cícero (Quosque tandem, Catilina...) até os desabafos injuriosos que vez por outra ocorrem nas assembléias democráticas. Quem duvidar, escute o eco da cantoria imortal, como a do orador romano perfeito, do cego Aderaldo, definindo Zé Pretinho, seu contendor, no desafio para o qual, não faz muito em São Paulo, me chamava a atenção esse outro cearense típico da inteligência, da cordialidade e da cultura da sua gente, que é o prof. Francisco More: “Negro, és monturo, / Molambo rasgado Cachimbo apagado /Recanto de muro / Negro sem futuro, Perna de lição Boca de porão / Beiço de gamela Venta de moela / Moleque ladrão.” Como, ainda, equivalente à atividade jornalística que desenvolvemos em nosso sistema de comunicação social está a ação informativa, interpretativa e
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orientadora das ocorrências atuais mais importantes para a sua comunidade, dos poetas-repórteres da literatura de cordel, que narram e comentam para seu público os resultados das eleições em Pernambuco ou a emenda divorcista do senador Nélson Carneiro: “Dia 15 de novembro o eleitor acordou cedo botou o título no bolso sem ter truque nem segredo penetrou numa cabine votou sem ódio e sem medo. Quem votou em Marcos Freire agora está exultante dizendo que no Senado tem um senador vibrante pra defender Pernambuco de uma maneira optante”.
(José Soares, poeta-repórter - “A vitória de Marcos Freire”, Recife, 1974). “No Brasil, Nélson Carneiro Deputado Federal Há muito que vem lutando Para tornar-se legal O Divórcio, que hoje em dia Tornou-se a Filosofia. Da Ciência Conjugal. Uns combatem o divórcio Achando ser imoral Pois o homem e a mulher Deixam de ser, conjugal Com certeza não alcança Uma família integral. Ao contrário: - O Divorcista Deseja a Legalidade, Pois o Divórcio termina Com tanta infelicidade De uma uma mulher que é honesta Mas para o mundo não presta Perante a sociedade.
(Rodolfo Coelho Cavalcante, da Bahia - “A verdade sobre o Divórcio” Folheto Literatura de Cordel, nº 1 372) (1975). Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 341-350, jan/dez. 2006
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Ah! esse quase esquecido e desprezado manancial de comunicação que é o folheto de cordel, com suas mensagens educativas, filosóficas, morais, políticas, científicas, publicitárias. E o filão inesgotável dos letreiros de paredes na via pública ou nos, sanitários, das legendas e desenhos dos caminhões e de toda a arte utilitária e expressiva da opinião dos ex-votos, das esculturas de barro cozido de Caruaru, da Bahia, de Taubaté, de São José, pertinho de Florianópolis; e o trabalho ingênuo mas comunicativo das rendeiras cearenses ou das margens das lagoas de Maceió; e a riquíssima música popular brasileira: o calor e a violência do frevo, o vigor e a malemolência do samba, a tenacidade e o destemor do xaxado, a dolência e a queixa do baião – música e letras conjugados na transmissão de idéias, sentimentos e aspirações, advertência e protestos, em ritmos que, cientificamente analisados, revelarão toda a ambigüidade peculiar às manifestações da cultura das populações marginalizadas social, econômica, intelectual ou politicamente. Tarefa para a universidade, para os cursos de Comunicação, a nível quer de graduação quer de pós-graduação, será a de pesquisar, recolher e interpretar as mensagens desse outro sistema - a folkcomunicação, mediante as quais se entendem e atuam os grupos sociais que não têm acesso aos mass-media que nós outros utilizamos. Tarefa tão importante e urgente que vem preocupando a UNESCO, levando o organismo mundial de cultura a promover simpósios de especialistas, objetivando descobrir os mais eficientes processos de liquidar com os quistos de incomunicação que persistem nas sociedades contemporâneas, e que são sem dúvida a causa primeira de crises e conflitos. COMUNICAÇÃO COMO CIÊNCIA “O nascimento de uma ciência nova vem condicionado às neces-sidades que a vida mesmo impõe e, em especial, ao momento... A evolução e o progresso dessa ciência estará também determinado pelos resultados que se desprendam de pesquisa, em concordância com a prática. Assim, teoria e prática trabalham juntas no caminho da ciência nova. Na medida em que teoria e prática se vão adequando mediante seus resultados, a ciência alcançará um mais alto nível e obterá um maior reconhecimento.” É evidente que toda ciência nova deve ter objeto próprio que será ou “o não investigado até então” ou o antes observado mas “de outros pontos , de vista que lhe permitem atuar de modo original .. A busca e estudo de um objeto científico diferente para a nova ciência nos levam a criação e utilização de um método próprio. Dele extrairemos conhecimentos, resultados novos, particulares, que devemos ordenar segundo os princípios próprios da estrutura da nova ciência e sistematizá-los. Se examinarmos os antecedentes dessa explosão de interesse pelo conhecimento mais profundo e específico do processo da comunicação humana, a ponto de tornar-se carreira acadêmica, detectaremos todas as condições citadas: a segunda guerra mundial despertou as consciências para a importância primordial, e não
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secundária ou intermediária, da comunicação. Pois não fora a ciência aplicada do Dr. Goebbels responsável, decisiva mesmo, pelo êxito fulminante da blitzkrieg? Quando as divisões de tanques chegavam ao território inimigo, o moral das tropas, mas, sobretudo das populações civis e dos grupos políticos, já se encontrava profundamente abalado pela propaganda radiofônica, gráfica e cinematográfica do nazismo. A guerra psicológica assumia o comando geral da operação militar: a comunicação Informava, afetava intencionalmente, persuadia. Encontrava-se o mundo diante de uma nova realidade: a comunicação. O seu objeto próprio emergia das ciências humanas e sociais, tal como ocorrera com a psicologia, a sociologia, a antropologia, a lingüística, que se haviam desprendido da filosofia. É preciso não esquecer que a Arte Retórica, de Aristóteles, havia apontado esse objeto, quando identificara os elementos básicos do processo: o comunicador, a mensagem, o receptor. Por outro lado, desde Gutenberg, os canais naturais paulatinamente vinham sendo substituídos pelos mecânicos, pelos elétricos e, afinal, em nosso século, pelos eletrônicos. A tecnologia fornecia instrumentos cada vez mais aperfeiçoados e se impunha a pesquisa universitária, a descoberta e aplicação de métodos científicos que averiguassem e extraíssem conclusões sobre as funções, condições, efeitos e perspectivas que esse media oferecem e terão na vida e desenvolvimento da sociedade. Naturalmente, as primeiras tentativas de cientificação especifica medraram na área do jornalismo que, desde o século passado, era estudado a nível universitário nos Estados Unidos e em diversos países europeus. É na Alemanha que, apoiado por seu mestre Max Weber, Otto Groth escreve e publica entre 1928 e 1930 os quatro tomos de sua primeira obra Pie Zeitung, uma espécie de enciclopédia do jornalismo. Essa sistematização irá dar origem a um tratado de ciência jornalística, que denominou Periodik, cuja publicação inicia em 1960 e cujo sétimo volume deixou incompleto com sua morte, em 1965. Por essa época, já no mundo universitário alemão se admitia que a ciência jornalística, considerada do ponto de vista metodológico, não era mais do que uma parte da Publicística Geral, cujos fundamentos haviam sido lançados por Walter Hagemann, em 1947. A nova ciência, segundo ele, tem por objeto tanto o problema da Opinião Pública como o método e os meios pelos quais se pode influir naquela; abrange instrumentos, técnica e modalidades pelos quais um certo conteúdo pode ou deve ser difundido para se tornar eficaz. Laaswell, Hovland, Raimond Nixon e Lazarsfeld, entre outros, contribuem, nos Estados Unidos, com hipóteses, enunciados e pesquisas para a cientificação do fenômeno da mass communication e, embora franceses, italianos e espanhóis continuem fiéis à tradicional designação de Ciências da Informação - que viria a sofrer um choque com a Teoria Matemática da Informação de Shannon e Weawer, na verdade, no último decênio, as fronteiras da nova ciência se alargaram, determinando áreas de estudo que abrangem especialidades desde o jornalismo, as relações públicas e a propaganda
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até a editoração, a bibliologia e a informática, a pesquisa em Comunicação, a divulgação governamental e, mais recentemente, a semiótica, a cultura de massa, a comunicação diversional, a folkcomunicação. Também entre nós o nascimento e evolução da Ciência da Comunicação se desenvolve a partir do jornalismo. Na década de 50, escandalizavam-se os profissionais com o surgimento dos chamados jornalistas liberais saídos das escolas de jornalismo; na década de 60, já empresas e homens de Imprensa, rádio e propaganda se engajavam na luta pela ampliação do numero de escolas e pela diversificação de áreas de formação universitária. Em 1960, lançávamos pela Livraria Agir Editora, como resultado de um concurso nacional promovido pelo Diário de Notícias no ano anterior, o nosso Iniciação a filosofia do jornalismo, que fugia aos padrões histórico-memorialistas ou simplesmente técnicos das obras nacionais e traduzidas, poucas aliás, à disposição no comércio livreiro. Tentávamos definir o objeto, atributos, canais, agentes e exercício do jornalismo, como, área específica, que exigia a formação de pessoal altamente qualificado, uma vez que a conduta individual e coletiva dependia da boa informação, da adequada interpretação dos fatos, idéias e situações atuais/atuantes na sociedade, da orientação que, periodicamente, através dos jornais, das emissões de rádio, das películas cinematográficas de atualidade e dos noticiosos que a TV começava a difundir, o público vasto, anônimo, disperso e inorganizado – que é a massa – deveria e tinha direito a receber, sob a égide da liberdade responsável do jornalista. Presos às faculdades de filosofia e letras, os cursos de jornalismo tendiam a uma literaturalização, de que a imprensa, ela própria, procurava libertar-se mediante a valorização da notícia, a economia do texto, a feição gráfica, a introdução de recursos ilustrativos – a imagem enriquecendo a matéría. Para tanto às redações estavam sendo convocados especialistas e até mesmo o estilo verboso se torna enxuto, mais até do que enxuto, padronizado em sua secura, como, antes, fora padronizado na gordura do “nariz de cera” e dos editoriais pomposos e evasivos, de que ainda se valem uns poucos diários remanescentes das primeiras décadas do século. Já em 1903, com a criação do Instituto de Ciências da Informação, promovíamos, no Recife, o I Curso Nacional de Ciências da Informação e nos encarregávamos de ministrar aos participantes, entre os quais havia estudantes de outros Estados, a disciplina – “Princípios de Comunicação Coletiva”. Também ali, no ano se-guinte, quase simultaneamente com o Jornal do Brasil, lançávamos a revista Comunicações & Problemas que, juntamente com os Cadernos de Jornalismo daquele diário carioca, constituiriam fontes de consultas para os que sentiam que a ciência era a Comunicação, na qual se definiam áreas diversas. É que, também nos meios radiofônicos, cinematográficos, de propaganda e relações públicas, e entre os editores brasileiros, a influência explosiva do mais recente medium – a Televisão – exigia uma revisão na linguagem, na morfologia, na engenharia, no
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conteúdo, na função social mesma que cada área desempenhava. Daí os fenômenos da regionalização do rádio, o movimento do cinema novo, a introdução do livro-de-bolso, o surgimento real da indústria cultural, das grandes organizações técnico-burocráticas que são as empresas de comunicação, seja qual o campo ou a atividade a que se dediquem. OS FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS Foi a complexidade e interligação das mais diversas ciências necessárias ao exercício profissional do comunicador que conduziu o Conselho Federal de Educação, na reforma universitária, a introduzir um ciclo básico, comum aos estudantes de todas as áreas específicas da Comunicação. E ali, entre os princípios gerais e aplicados de Sociologia, Política, Economia, Lingüística, Ética e Direito, figura uma disciplina Fundamentos Científicos da Comunicação, que substituiu a Teoria da Informação, incluída no currículo mínimo anterior. Não é hora de discutirmos qual a melhor designação para FCC: propomo-nos, isto sim, a refletir sobre o seu conteúdo. 2 O professor e jornalista Alberto Dines observa que “os anos 70 representam ou tendem para uma inversão na metodologia do saber. Estamos, ao que parece, em plena era da multidisclplina, em que o conhecimento se liberta dos limites da especialização e cacoetes dela decorrentes. Agora, filosofia e ciência se juntam, arte e ciência se entrosam, ciências antagônicas (física-química) se aglutinam e se completam. É de se supor, por conseguinte, uma revanche do humanismo. Para o jornalista e para o comunicador, profissionalmente, isso vai representar um novo momento de grandeza. Pois a estruturação “empresarial” dos anos 60 deixou-o isolado nas mãos de economistas, administradores, engenheiros. A abertura que se preconiza, a justaposição de vários conhecimentos, permitirá outra vez ao jornalista e comunicador assumir a preponderância perdida dentro dos próprios veículos na fase da exagerada especialização. Deverá ser agora que a universalidade intrínseca ao jornalista poderá mostrar a sua validade e sua força num momento de transição como este... Esta abertura externa da nossa ciência coincide com uma abertura interna ética, moral e emocional.” 3 Esta abertura, na área pedagógica dos Fundamentos Científicos da Comunicação, está no confronto de seu objeto e de sua problemática, do seu processo e das suas técnicas, das suas funções e dos seus efeitos, de sua atualidade e do seu futuro com os mesmos elementos e fatores das demais ciências. Desde a física, a química, a biologia, as matemáticas, a cibernética e a filosofia, em todos os seus ramos, até, e principalmente, as ciências humanas e sociais, a etnologia, a antropologia, a sociologia, a psicologia, a geografia, o Direito, as Artes. Como 2 FAUS, BELAU, Angel. La Ciencia periodistica de Otto Groth. Pamplona: Universidade de Navarra, 1988. 3 DINES, Alberto. O Papel do jornal. Rio de Janeiro: Artinova, 1974. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 341-350, jan/dez. 2006
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ocorre nos estudos jurídicos, FCC constitui uma introdução à ciência da comunicação, a partir dos fenômenos biológicos da informação e da expressão, observados e comprovados em todos os seres vegetais e animais; prosseguindo nas manifestações mais rudimentares do psiquismo que, juntamente com outras condições físicas e locomotoras, propiciam o intercâmbio de informações e sentimentos no reino animal; e, finalmente, o mergulho nas origens do homem, que culturalizou o processo biopsicológico desse comércio, ao longo do seu caminhar da caverna ao arranha-céu, dos mares e da terra às estrelas e ao cosmos, nos deuses que criou ao Deus incriado. Não se poderia jamais compreender o fenômeno humano, esse evoluir da lama primitiva ao cérebro eletrônico, sem um conhecimento global das idéias, realizações e conquistas do ser inteligente e social que se ergueu e andou, como Lázaro, saindo da cova comum da espécie animal para se tornar faber, utilizando os elementos inorganizados que a natureza lhe oferecia; e loquens, inventando seu principal e exclusivo instrumento comunicacional; e sapiens, alcançando a extensão dos próprios sentidos, do próprio aparelho fonador e da própria imagem, quase, diríamos, a onipresença divina. Sem uma atualização permanente, pela observação e pela pesquisa, e uma visão panorâmica do estágio da ciência e suas perspectivas, jamais o comunicador poderá desempenhar eficazmente a sua tarefa, que é a de proporcionar ao homo cultus de agora os reatores que dinamizam e renovam o patrimônio filosófico, científico e artístico de que dispomos, preparando-o para superar a crise do presente e chegar a um futuro que seria a sonhada idade do ouro. Pois os meios de comunicação, que deram ao nosso mundo a fisionomia de uma aldeia global, poderão ainda imprimir-lhe, no porvir, a fisionomia e a vivência de outra Atenas de Péricles sem o problema moral dos escravos - as robôs substituindo os ilotas. PARA UMA NOVA PEDAGOGIA Entendida a disciplina FCC como básica entre as básicas, e dada a complexidade e extensão de conhecimentos que exige do professor titular, julgamos que não deve ser ministrada expositivamente, mas desenvolvida através de seminários, mesas-redondas, e pesquisas de que participariam, como orientadores e/ou moderadores, titulares e adjuntos das disciplinas afins, evidentemente mais atualizados e sensíveis à interligação de temas que se estabelece a cada unidade do programa e que, assim, poderão ser apreciados sob diferentes ângulos. Sob tal pedagogia, o estudante e, simultaneamente, o estudioso, serão levados àquela universalização de conhecimentos e princípios que se objetiva na formação superior dos agentes da comunicação. Até o momento, não obstante a organização departamental adotada na universidade brasileira, continuamos presos a um sistema tradicionalista, de cátedra, cada disciplina constituindo uma área estanque, onde doutrina o magister com toda a sua autoridade de especialista. Vejamos o que ocorre na reunião do Departamento
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de Comunicação destinada a traçar o programa do período letivo. Em regra, por uma espécie de lei do menor esforço, bem como pela autonomia de que goza cada titular, os programas são sucintamente examinados, verificando-se, apenas, as coincidências de temas e estabelecendo-se um “acordo de cavalheiros”, mediante o qual o professor de FCC só de leve, superficial e genericamente, poderá penetrar na área específica do outro. Acertado esse ponto, pensa-se haver sido evitado o confronto ideológico; e cada professor está livre para expor os temas, do ponto de vista próprio ou da corrente científica a que se filia. Ora, não há disciplina mais conflitiva do que a nossa: a cada tese é inevitável a antítese; a cada passo, buscando a síntese, somos levados a penetrar no território proibido do nosso colega, titular de Filosofia, Biologia, Antropologia, Psicologia, Matemática ou Sociologia. E, freqüentemente, incoincidem os ângulos de apreciação crítica, o que ocasiona exatamente aquilo que se tentou evitar na reunião departamental – o confronto ideológico. Permitam-nos citar dois exemplos de nossa experiência didática. Utilizamos o termo consciência para exprimir o psiquismo animal, de acordo com o filósofo argentino H. Fernandez Mariño. Toda vez que o fazemos, em classe, temos de explicar que não se trata da consciência moral, da capacidade humana de distinguir o bem e o mal, porém do termo que designa a capacidade animal de in-tendere, uma das pré-condições da comunicação biopsicológica. Enquanto a consciência é comum ao homem e ao animal, servindo ao intercâmbio de informações e sentimentos, somente o primeiro, por ter de intercambiar idéias, é dotado de inteligência, ou seja, da capacidade de intus-legere – ler dentro de si mesmo, refletir, abstrair, simbolizar. Essa terminologia, contudo, é contestada por Leoncio Basbaum4, para o qual “só o homem, entre todos os animais, possui consciência”, pois esta “é um produto da inteligência... quando atinge a um determinado nível no seu processo evolutivo filogenético, relacionado com o desenvolvimento anatômico, estrutural, do cérebro”. Facilmente constatamos a falta que fazem, em nossa classe, o concurso, na exposição e no debate do tema, dos nossos colegas de Filosofia e de Psicologia. A outra experiência nos ocorreu na UnB, em 1966, quando realizamos, com os alunos, um estudo da comunicação animal e o submetemos a dois titulares: um deles, eminente mestre de Ciências Biológicas, foi pródigo em elogios e até forneceu elementos novos ao trabalho da equipe; o outro, renomeado psicólogo, behaviorista, praticamente invalidou tudo quanto havíamos pesquisado e reunido: em gíria jornalística – atirou a matéria à cesta. Em nossos estudos posteriores, encontramos que ambos tinham sido radicais, enclausurados na sua ciência e pouco receptivos ao convite que lhes fazíamos a uma adequação de seus conhecimentos e suas teorias particulares e idôneas ao objeto que vislumbrávamos naquela primeira e débil configuração do processo da comunicação animal. 4 BASBAUM, Leoncio. História e consciência social. Rio de Janeiro: Fulgor, 1967. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 341-350, jan/dez. 2006
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Quem chegou a ler o nosso manual de FCC, ali haverá de ter observado o reflexo dessa dificuldade de interligação disciplinária para quem não é enciclopédico: a cada pista que se nos apresentou em território alheio tivemos de valer-nos da orientação do espe-cialista. Que poderíamos fazer, porém, quando a visão particular deste contrariava o que concluíramos da observação do objeto sob outro ângulo, o ângulo da comunicação como processo específico? Esta, a razão dos interrogantes que fazemos aos mestres sobre conceitos e proposições: a sua crítica sempre bem aceita desde que nela haja de sua parte um comportamento empático, condicionante da eficácia da comunicação. A prática de seminários e pesquisas tem proporcionado resultados alentadores em nosso curso, que é ministrado em dois semestres, de cinco créditos cada. No primeiro semestre, em que tratamos da informação, da comunicação biopsicológica e da comunicação cultural interpessoal especialmente, os seminários realizados já nos irão permitir a edição de um estudo sobre os sentidos e a comunicação. No segundo semestre, concentramos nosso trabalho na apreciação do processo industrializado da comunicação de massa e, através de pesquisa, realizamos um levantamento da infra-estrutura da comunicação em Brasília, relacionando e coletando todos os dados sobre as fontes estáticas (a produção e consumo de energia elétrica, rede de transportes, casas de espetáculos, bibliotecas etc.) e dinâmicas (edição de jornais, emissões de rádio e TV, produção própria cinematográfica, comunicados de centros de informações governamentais e empresariais etc.) fontes nas quais se abeberam os agentes culturais da comunicação em sua atividade profissional. Uma outra pesquisa - a sobrevivência da folkcomunicação na sociedade de massa - está em andamento. Desse trabalho que, infelizmente, ainda não é fruto de uma conduta pedagógica interdisciplinar, já surgiram diversas alterações em nosso manual, que esperamos introduzir na 3ª edição. Por outro lado, cremos que, no próximo ano, nos será possível o lançamento do segundo volume da obra, destinado a orientar os estudos do processo, funções, efeitos e atividades da Comunicação de Massa. Sentimo-nos felizes em haver trazido, em primeira mão, a esta Universidade e aos colegas profissionais da comunicação de Fortaleza, as reflexões que vamos concluir. Felizes não apenas pelos laços afetivos, sentimentais, que nos ligam ao Ceará e aos cearenses, como nordestino e participante da criação do curso de jornalismo, ora inserido no Departamento de Comunicação. Felizes sobretudo porque acreditamos que a escola do Ceará, que nos ofereceu um trabalho de equipe sobre os Fundamentos Científicos da Comunicação, está credenciada a realizar, nesta área de formação, a renovação pioneira da Interligação disciplinária, que está sendo exigida para que nós, professores, melhor nos desempenhemos da missão que nos cabe. Muito obrigado. (Trabalho apresentado ao I Seminário de Estudos de Comunicação Social - Fortaleza, maio de 1975).
A FORMAÇÃO DO JORNALISTA CIENTÍFICO*
Luiz Beltrão
Quando interrogado sobre qual deva ser a formação específica de um jornalista, invariavelmente me ocorre a resposta que, certa vez, no já distante ano de 1953, sacudia, em Curitiba, uma sonolenta assembléia noturna do V Congresso Nacional de Jornalistas, ao ser lido o parecer de um colega à tese que eu trouxera das terras mamelucas, mulatas, áridas e quentes do Nordeste àquela já risonha mas branca, agringada, úbere e fria capital paranaense: o profissional da Imprensa deve ser portador de uma formação universitária, ou seja, de nível superior. Hoje, quando grande número de elementos saídos dos cursos e escolas de Comunicação já preenche uma parte significativa do espaço do ofício, tanto nos meios impressos como nos eletrônicos, a resposta passaria desapercebida, seria, como parece ser, insuficiente, pouco esclarecedora, talvez até uma negaça de capoeirista a um golpe técnico e preciso de um campeão boxeador. Naquele tempo, porém, com a quase totalidade de jornalistas constituída de vocacionistas, formados na velha escola do batente e que faziam da profissão um “gancho”, a assertiva escandalizava ainda mais partida de quem, como eles, vinha fazendo carreira desde a revisão e a reportagem local, sem lenço e sem documento, isto é, sem curso especial e sem diploma. Tínhamos, todos, o medo da concorrência daqueles que trouxessem um anel no dedo, que portassem o chuveiro de doutor até mesmo no anular, como os bacharéis em Direito da vetusta Faculdade do Recife e de sua irmã gêmea do Largo de São Francisco. Evidentemente o medo era injustificado. O nosso jornalismo, como ainda hoje, se ressentia de profissionais. Ao contrário do que muito se pensava e dizia, então como agora, o mercado de trabalho não se estava reduzindo, mas ampliavase, tudo indicando que, com o rádio, a televisão, o cinema, a expansão da indústria gráfica, a organização profissional, o crescimento populacional, a reconquista do Oeste, os novos conglomerados urbanos, a multiplicação das empresas, a extensão * Capítulo do livro “Jornalismo Cientifico: memória”. São Paulo: ABJC, 1982, pp. 435-441.
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das telecomunicações e, enfim, com as sucessivas vitórias do homem sobre o tempo e o espaço, cada vez mais se reclamaria a presença e a ação do jornalista no centro do diálogo, como informante e intérprete, entre poder e povo, dirigentes e dirigidos, produtores e consumidores, cientistas e leigos. É fora de dúvida que foi a formação universitária , do jornalista que possibilitou a reunião em congressos, simpósios, jornadas ou ciclos de estudo de diversas especializações que se foram impondo à polivalência inicial do exercício profissional. Não se discute mais a necessidade da freqüência à Universidade como pré-requisito para o desempenho satisfatório das atividades do comunicador: procura-se, isto sim, indagar como a escola pode fornecer ao candidato ao Jornalismo elementos de maior valia para exercitá-lo em determinadas áreas, notadamente naquelas que surgem como de maior complexidade, exigindo conhecimentos mais aprofundados e sistemáticos, como seria o caso da Ciência. Julgo que ninguém pleitearia, aqui, a criação, na Universidade, de escolas ou departamentos específicos de Jornalismo Científico, como não se pede ao médico que, para especializar-se, freqüente uma Faculdade de Pediatria ou Cardiologia. Até mesmo uma disciplina específica, inscrida no currículo, seria tão excrescente como a de Jornalismo Econômico ou Desportivo. Na verdade, além da exigência de uma formação humanística básica para que se permita ao estudante o ingresso na Universidade, e ainda que o currículo-mínimo em vigor nos cursos de Comunicação não inclua em seu elenco matéria que nomeadamente trate da filosofia da Ciência, esta se encontra intrinsecamente ligada ao estudo da Teoria da Comunicação que, por sua vez, reclama um domínio antecipado da Metodologia Científica. A partir daí, o que se procura é fornecer ao estudante as ferramentas teóricas e práticas para a produção de mensagens jornalísticas, conscientizando-o e exercitando-o, mediante pressupostos históricos, filosóficos, econômicos, sócio-políticos e artísticos, que devem ser submetidos à livre crítica e não impostos como se os mestres, a instituição mantenedora ou o Estado fossem o dono da verdade. Ao par desse espírito de indagação constante e pesquisa continuada – eu diria, desse espírito científico – o estudante se vai assenhoreando das técnicas de acesso às fontes de informações, captação domínio do conteúdo dessas informações, sua submissão a critérios valorativos como notícia e, afinal, sua codificação em linguagem adequada ao canal que utiliza e à audiência a que se dirige. Teoricamente, o bacharel em Comunicação e, em particular, o que se habilitou ao exercício profissional do Jornalismo, esta equipado para produzir matéria de divulgação em qualquer campo da atividade humana, pois para sua atuação não há limites, senão os ditados pela ética e pelos costumes sociais reconhecidos pela lei. É evidente que, ao sair da Universidade, como o profissional de qualquer outra área, carece da prática que só o exercício continuado de suas funções lhe conferirá. E, entre as carências que carrega consigo, está, sem dúvida, a não familiarização com o setor específico que lhe
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caberá cobrir, com as peculiaridades da fonte, a psicologia das pessoas detentoras das informações, seus receios e preconceitos sobre a boa utilização dos dados fornecidos, as barreiras regulamentares, enfim os diversos obstáculos que terá de vencer para prestar à comunidade os serviços que dele reclama. Passo decisivo para o preenchimento dos claros entre a sua formação básica universitária e o exercício profissional em qualquer campo de atividade social em que desenvolva sua atuação – desportivo, religioso, econômico ou científico – será o esforço pessoal para identificar-se com a fonte, conhecê-la em toda a sua integridade, mediante a freqüência a cursos, seminários, simpósios, leituras, consultas às bibliotecas e arquivos, tanto do órgão de divulgação que o emprega como da ou das instituições .junto às quais se acha credenciado. No tocante a tal complementação, este Congresso poderia recomendar às universidades, às organizações sindicais de jornalistas e editores, aos departamentos governamentais destinados a promover o aperfeiçoamento de profissionais em diferentes níveis, às associações que congregam cientistas e pesquisadores e às fundações ou grandes empresas interessadas no campo da difusão do conhecimento científico que promovessem cursos ou conferissem bolsas de estudos a nível de pós-graduação, ciclos de palestras, mesas redondas e visitas a laboratórios de pesquisa, durante as quais jornalistas e cientistas trocariam informações, num trabalho de desobstrução das barreiras que a desconfiança entre ambos tem criado. Embora os esforços honestos e persistentes de alguns especialistas em comunicação já venham quebrando o encanto dos mitológicos personagens da Ciência, no Brasil como em todo o mundo, a maioria dos laboratórios permanece vedada ao jornalista, apenas um ou outro ultrapassando o páteo dos gentios desses templos jerusalêmicos, como meros acólitos, e nem sequer levitas, do sumo-sacerdote que neles pontifica. Referimo-nos, de modo particular, aos poucos homens de informação que redigem e distribuem press release de certas instituições científicas entre nós. Ora, como o avanço da Ciência resulta da contribuição do povo, através de impostos e investimentos, impõe-se, em contrapartida, que os anônimos e valorosos mantenedores da atividade científica tenham conhecimento do que se passa no interior desses guetos da elite intelectual, dessas “Cidades proibidas” que, como aquele palácio real da velha China, se erguem majestosos, e majestosamente se resguardam das vistas do vulgo. No momento em que o cientista compreender que o agente cultural intermediário entre o seu alto saber, e a supina ignorância da massa é, por formação e de direito, o jornalista, e se resolver a dialogar com ele, constatará o quanto depende, para obter a participação pública, daquele abelhudo ex-ofício que ousou penetrar em seu santuário. Se o segmento social coberto pelo jornalista (no caso, a comunidade científica) e o próprio agente da informação conseguem um modus vivendi baseado no respeito
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à identidade e à função específica, de cada um no corpo sociaI, estará superado o maior empecilho ao desempenho jornalístico, ou seja, a não familiarização com a fonte. Abrir-se-á, desse modo, pelo estudo, pela observação e pelo diálogo, o caminho da necessária atualização do profissional na área. Atualização, aliás, é o desafio maior que se apresenta ao jornalista, se considerarmos que o atual, a atualidade constitui a própria essência da profissão. Com efeito, ao Jornalismo só interessa o fato, a idéia ou a situação nova (novidade, notícia), seja pelo seu ineditismo, seja pela influência que está exercendo no momento sobre a consciência coletiva, seja pelas conseqüências sociais que acarretarão a curto, médio ou longo prazo. Em suma, o que é, o que está ocorrendo, o que está atuando hoje, ainda que haja acontecido há séculos e milênios, o que vai ocorrer e provocará impacto sobre o espírito e a conduta da sociedade. O compromisso do Jornalista é com a sociedade aqui e agora, e para ele, nenhum dos seus segmentos é mitificado, seja o poder que detenha, a importância que se atribua, o seu aparente distanciamento das demais parcelas sociais, a sua apregoada auto-suficiência, a sua pretensa alienação quanto às atividades desenvolvidas pelos restantes grupos profissionais que compõem o complexo da comunidade, ao qual dirige a sua mensagem. Todas essas considerações, como observamos, se aplicam ao jornalista que deve desenvolver sua ação na área da Ciência. Suas tarefas diferem substancialmente das que o cientista cumpre: a este, compete produzir o conhecimento, fazer Ciência; ao jornalista, divulgar esse conhecimento, difundir leis, descobertas e experimentos da Ciência, tomar compreensíveis aos leigos as teorias científicas, desde que estejam influindo ou possam inferir no processo social. É exatamente neste juízo de valor do fato científico para a comunidade que reside a especificidade do ofício de jornalista: só ele, entre todos os profissionais que trabalham com o mesmo fato, está habilitado a interpretá-lo sob o ângulo do interesse público no momento histórico que passa. É essa capacidade interpretativa única que o torna insubstituível, diferente tanto do cientista como do professor. Admitir que o cientista seja ele próprio o divulgador público de suas teorias, inventos ou experiências seria exigir de um homem dedicado a uma pesquisa específica, que tem linguagem, codificação, métodos e técnicas próprias, que se envolvesse com os mesmos pressupostos em um universo de discurso inteiramente diverso, cujo resultado seria uma mensagem ou ininteligível para o leigo ou deslustrante para a comunidade científica, como geralmente ocorre. Ainda que haja cientistas produtores de boas mensagens informativas, o seu número, evidentemente, não é significativo, diante da demanda do mercado jornalístico. Isso não significa que o cientista seja impedido de difundir, ele próprio, o andamento ou os resultados do seu trabalho. Aí estão as revistas especializadas, os relatórios, os textos, os filmes, as gravações magnéticas, as emissões de radiodifusão de tudo quanto hoje se faz nos laboratórios de pesquisa, nos encontros e conferências dos diferentes ramos da Ciência. Aliás, para ordenar e facilitar a difusão e o intercâmbio de idéias e experimentos de maior interesse
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FORMAÇÃO DO JORNALISTA CIENTÍFICO
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para os membros da própria comunidade científica, a Comunicação oferece outros agentes especializados da área universitária da Documentação, por alguns preferentemente designada como informação científica. Mais próximos da atividade jornalística propriamente dita, os cientistas estão também presentes na Imprensa diária e em programas jornalísticos de rádio e televisão, em documentários cinematográficos e em transmissões especiais, mediante entrevistas e declarações, além de artigos e colaborações especiais, notadamente em publicações de divulgação dos progressos da Ciência, de sua própria iniciativa ou de iniciativa do jornalista com seu assessoramento. Quanto à função educativa do Jornalista Científico, embora admita lato sensu, dela não sou fanático. Não creio que ela seja primordial, mesmo nos países subdesenvolvidos. A missão do jornalista é informar e orientar: transmitindo a mensagem científica, ele apenas adverte a sociedade de algo que lhe importa conhecer e discutir, de algo que é necessário vir a público para obter (ou não), sua adesão, porquanto está interferindo na vida e nas relações sociais. Educar compete ao mestre, ao professor, aos líderes da comunidade que, de posse daquela informação, a encaminham ao intercâmbio de opiniões, visando a formação de um pensamento e à execução de uma política científica realmente capaz de atender as suas necessidades vitais. Não devemos esquecer contudo que a Educação, tal como a concebemos hoje, difere muito da antiga concepção do magister dixit e que as matérias jornalísticas são um dos mais utilizados recursos de que se valem os educadores para o ensino e os educandos para a sua aprendizagem. Essa circunstância apenas aumenta a responsabilidade do Jornalista Científico, afastando-o de certas deformações freqüentes no exercício profissional, entre as quais avulta o sensacionalismo com que se tratam determinados fatos passíveis de despertar maior curiosidade pública. A tendência ao sensacionalismo é, quiçá, o maior perigo a ameaçar o Jornalista Científico em nosso dias. É que a Ciência, no século XX, não apenas explodiu, mas implodiu; não somente provocou uma evolução acelerada na vida humana e social mas, como considera o eminente professor e filósofo austríaco Paul Feyerbend, dos quadros da Universidade da Califórnia, desencadeou uma revolução permanente, de modo especial no último quartel, sacudido por uma crise em todos os segmentos sociais e de amplitude universal. Nos períodos normais, assinala ele, o progresso científico é monístico, no sentido de que, através de uma teoria única ou umas poucas teorias que se complementam reciprocamente, se explicam os fatos e se predizem fatos novos; já nas épocas de crise, quando surgem problemas que parecem indicar a necessidade de alterações drásticas, sucedem-se as teorias, a maioria das quais é abandonada depois de breve e intenso período de debate. Implanta-se o pluralismo teorético, divindo-se a comunidade científica entre os adeptos de procedimentos revolucionários e aqueles que, em maior número, consideram bem vindo qualquer esforço para reduzir o impacto das dificuldades surgidas, até mesmo sabotando a atividade Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 351-356, jan/dez. 2006
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subversiva do grupo inovador, seja não lhes publicando as obras, seja não as considerando em termos sérios. Na verdade, ambas as correntes consideram a crise como um estágio do processo que conduz ao aperfeiçoamento e a um período normal. É a revolução permanente da Ciência, em que vivemos hoje mergulhados, com o dinamismo característico dos conflitos de idéias, que permite o avanço do conhecimento e produz a revitalização do seu corpus, que se deve o empenho do Jornalista Científico em pleitear mais espaço e mais relevo para o seu trabalho, a exemplo do que fazem seus colegas da área política diante de golpes de Estado ou soluções de força para câmbios radicais em qualquer país ou continente. É a essa fase revolucionária da Ciência, também, que se credita a abertura dos editores ao fato científico, que se vai tornando matéria de primeira página, seja para o Jornalismo praticado nas sociedades capitalistas, para o qual se cunhou a expressão jornalismo ideológico-mercantil e cujo maior interesse reside no lucro econômico, seja para o praticado nas sociedades socialistas, onde a sua difusão responde a critérios antes de tudo propagandísticos. CONCLUSÃO Diante do quadro que o momento histórico nos apresenta, jornalistas e cientistas têm muito mais de identidade do que de antagonismo. Ambos vivem um período de crise, que me arriscaria a classificar de crise de adolescência. Ambos agora estão sacudindo as peias do protecionismo que limitava sua ação aos interesses particulares da instituição a que se acham ligados e que, por sua vez, é parte integrante do sistema político ideológico dominante. O cientista, que buscava refúgio no seu laboratório, encontra-o, agora, com janelas e portas gradeadas como uma prisão; o jornalista, envolvido no turbilhão dos acontecimentos, vislumbra no cientista o criador e portador de instrumentos capazes de dar-lhe recursos para o melhor desempenho de sua missão de informante e orientador da sociedade. Ainda não falam a mesma linguagem, posto que não usam o mesmo código. Receiam-se reciprocamente. Mas, sob a pressão da crise, em sua ânsia de servir à comunidade e de afirmar-se como fatores da paz, do progresso e do bem-estar social, vão descobrindo os pontos em comum de sua caminhada. Quando as portas e janelas gradeadas da Ciência forem penetradas pelo jornalista, a dupla de agentes culturais terá possibilidade de, num esforço conjunto, colocando-se em pé de igualdade, intercambiar suas experiências e complementar sua formação. Pois, também o cientista, como me parece haver deixado claro nesta exposição, necessita compreender e respeitar o Jornalismo e o jornalista, encetando com ele o diálogo que gerará a mensagem da Ciência ao nosso mundo convulsionado neste expectante limiar do terceiro milênio.
O ENSINO DE JORNALISMO NO NORDESTE*
Luiz Beltrão
Quando eu crescer, vou ser “padre” – dizia eu, menino, nascido em Olinda e batizado na Igreja Católica Apostólica Romana, no ritual em latim “Ego te baptiso”, água caindo sobre a cabeça, boca salgada, os santos óleos aplicados no corpo de modo a proteger todos os sentidos das tentativas de entrada de Satanás. Tudo contribuía para que, na primeira década da minha existência, se vigorasse em mim aquela aspiração, que era grande aspiração da minha avó, da minha mãe, das minhas tias. Eu fazia altares, colecionava santinhos, freqüentava o catecismo, cheguei até a decorar as respostas para manter com o celebrante da missa o diálogo canônico então vigente. E, assim, foi natural que, em dezembro de 1920, sendo meu pai um homem prevenido pela deserção de dois dos seus irmãos da carreira sacerdotal ao aproximar-se a data da sua ordenação, eu me submetesse a dois exames de admissão ao segundo grau: um no histórico e rigoroso Ginásio Pernambucano, que me daria direito ao ingresso no curso oficial de humanidades, outro no Colégio Marista para habilitar-me ao Seminário de Olinda, cuja fundação em 1800 pelo bispo mineiro de Goitacazes, Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, marcou uma época de renovação na instrução pública, constituindo-se, conforme o cronista, “na mais completa e perfeita escola de educação secundária que houve até então no Brasil. (Vasconcellos Galvão). O pré adolescente, que entrava para o Seminário naquele ano de 1930 de crise e reformas, não era, já, contudo, a criança que brincava de padre. De certo modo, depois da escola primária, os seus olhos começavam a abrir-se para o mundo, sobretudo o mundo do povo, que desfilava e encontrava-se com ele no modesto consultório de dentista do seu pai, na cozinha presidida por sua mãe, nas festas de São João de mocambo da negra Massu, onde se dançava o coco, nas estórias que lhe contavam os pescadores do Rio Doce, nas viagens de bonde ao Recife, o elétrico amarelo varando a estrada ladeada de mangues cede vivia a mais negra miséria disputando com os caranguejos os pequenos espaços sólidos no vasto lençol alagado. Esse tênue conhecimento do mundo e a visão dominadora * Artigo publicado nos “Cadernos de Jornalismo e Editoração”, 18 (1986), pp. 27-38
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que dele tinha, no comando do bonde, aquele homem de farda azul que manejava suas marchas e freios, abriam ao arbusto que crescia uma alternativa: “Se não me tomar padre, serei motorneiro”. Fora-se o tempo em que o Seminário de Azeredo Coutinho era uma escola aberta a todas as vocações, de onde saíram políticos e heróis de quantas mudanças e guerras se travaram na minha agitada Província. Agora, o Seminário era uma Trapa, ali não penetrava o mundo; os jovens viviam como os anacoretas, mais beneditinos que os monges de São Bento, mais desprendidos da vida de lá fora do que es pobrezinhos de São Francisco, mais isolados e protegidos dos perigos dos fatos existenciais do que os hebreus entre suas colunas de pó e fogo na travessia do deserto. Notícias não penetravam ali se não como fatos consumados; todas as ações eram ditadas pela campainha e até chegava-se a pensar na construção de outra casa no interior para onde os seminaristas seriam transladados nos devastadores períodos de férias. Só o pensamento, só a imaginação, transpunha aquelas grossas paredes: e toda a vida exterior, que era tenra e verde para o adolescente, se enchia de aspectos e episódios construídos à base da ficção do espírito. Aqui e ali, a palavra da escritora, seu alimento diário, recebia uma interpretação pessoal, e creio que foi por uma exegese desse tipo que o texto “Ide e pregai” me forneceu o estímulo para, três anos passados, sair do Seminário com uma terceira opção vocacional: a do pregoeiro, do que anuncia o novo, do que ensina, do escritor público, do professor, afinal. O reencontro com o mundo não me foi conflitante, porém os anos de Seminário me tinham dado uma certa base de conhecimento, especialmente no que tange ao exercício da língua, ao uso da palavra, à disciplina da elaboração do pen-samento para sua transmissão ao outro. O mínimo exigido do que me faltava para seguir, agora, a minha vocação, me foi dado pelo curso secundário no Ginásio Pernambucano, pelo curso jurídico na Faculdade de Direito do Recife, pelo exercício profissional do jornalismo, iniciado em 15 de dezembro de 1936 no Diário de Pernambuco, onde ingressei pela mão de Aníbal Fernandes, redator-chefe, e onde recebi orientação de outros dois grandes vultos dos “Diários Associados” e da imprensa brasileira – Gomes Maranhão, secretário, e Odorico Tavares, sub-secretário, que depois se transferiria para a Bahia onde faleceu tão baiano quanto Jorge Amado e Dorival Caimmy. Fui um profissional vocacionista que aprendeu no batente, desde a revisão e o arquivo até a reportagem, a secretaria, a editoria, a diagramação e a paginação. Mas foi ainda no Diário e pelo mesmo Aníbal Fernandes, um dos mais combativos jornalistas entre quantos convivi, que me informei de que a nossa profissão não se aprendia somente nas redações. Certa noite, o mestre Aníbal, que dominava o francês tão bem quanto um parisiense da Academia de Letras da França, chegou ao Diário sobraçando um volume de capa cinzenta, em que o autor – de quem ainda hoje ignoro o nome – não só transmitia conhecimentos
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sobre o exercício profissional em diferentes campos como teorizava sobre o jornalismo como atividade humana, essencial ao funcionamento do organismo social. Até então, para mim, o jornalista já nascia feito; a arte de anunciar era um dom, como a poesia ou a composição musical. Aquele livro cinzento me abria os olhos para a verdade da assertiva de Pulitzer: só o idiota nasce feito. Comecei a colecionar livros sobre jornalismo, o que era difícil de obter nas livrarias do país. Aproveitando viagens ao exterior e contatos com colegas da profissão nos Estados e em diversos países, ia aos poucos me convencendo de que não bastava ao jornalista uma formação humanística. Os mais destacados homens da imprensa nacional portavam, quase todos, uma formação universitária. A Faculdade de Direito, mesmo vivendo-a nos anos da ditadura estadonovista, era uma célula da prática democrática: ali, quer no corpo docente, quer entre alunos, se refletiam todas as tendências, se discutiam e se confrontavam ideologias, se travavam, na congregação e no diretório, campanhas, manobras e pugnas eleitorais. Não havia tabus nas conversas dos grupos de estudantes no pátio da Casa de Tobias. Uma das raras aulas do eminente professor Samuel Mac Dowell, catedrático de Direito Constitucional, foi uma demolidora crítica à Constituição outorgada de 1937. Além do seu mais profundo saber jurídico, das suas arraigadas convicções democráticas, o professor Mac Dowell era um entusiasta cultor da literatura inglesa e, na época de nosso convívio professoraluno, traduziu, em ritmo e linguagem camoneana os sonetos de Shakespeare, reunidos num volume precioso – Pequena seqüência shakespeariana. Das preocupações com o desenvolvimento da política nacional num país já em guerra ao lado das Nações Unidas e que, paradoxalmente, se mantinha fascista na frente interna, passávamos a debater o teatro não só como arte mas como instrumento, como arma de renovação social. Convenceu-me, a vivência universitária, entre 1939 e 1943, que sem ela não se poderia, salvo exceções geniais, exercer em sua plenitude a profissão de pregoeiro de fatos, idéias e situações capazes de informar e formar a opinião pública, que era a nessa missão. Enquanto, por um lado, na prática redacional eu aprendia a cozinha do jornal, mantendo-me, como repórter sobretudo, em permanente contato com os diversos segmentos da sociedade, a partir dos meus próximos mais próximos - os acionistas da empresa e os gráficas e distribuidores dos periódicos -, de outro, na Associação da Imprensa de Pernambuco e no dela saído Sindicato dos Jornalistas Profissionais, muitas vezes enfrentando preconceitos e contestações, iniciava a luta pela implantação no meu Estado e na sua universidade, de um curso destinado à formação específica de jornalistas. Simultaneamente, estudava os ensaios teóricos e os manuais que conseguia obter sobre as atividades da Comunicação, de modo especial o Jornalismo e seu suporte econômico, a Propaganda, incursionando também pelo campo do Direito, na busca dos princípios éticos e das normas jurídicas que constituem os
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fundamentos da liberdade de que deveria gozar e da responsabilidade que a nossa profissão deveria assumir. Na apreciação das sucessivas crises por que passava a imprensa brasileira e, tendo por laboratório, o vigoroso jornalismo desenvolvido no Recife, cada vez me convencia de que somente aqueles povos que haviam aberto aos jornalistas as penas da formação ou do aperfeiçoamento a nível universitário poderiam um dia contar com defensores conscientes dos Direitos do Homem, entre os quais o de informar-se amplamente e o de expressar-se livremente, cuja declaração fora conseguida a duras penas na Revolução Francesa e, após a Segunda Guerra Mundial, referendada na Assembléia Geral das Nações Unidas, em São Francisco. Esta foi a tese que defendi, em setembro de 1953, como delegado pernambucano ao V Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em Curitiba. O documento, intitulado Liberdade de imprensa e formação profissional, ia encontrar na legislação e na prática do jornalismo tanto dos Estados Unidos e do bloco ocidental como da União Soviética e do bloco socialista o mesmo cuidado com a preparação intelectual e filosofia dos agentes sociais da comunicação, capacitando-os à defesa de pontos de vista contrastantes que, no entanto, deveriam corresponder aos anseios e ideais da comunidade a que serviam. Essa defesa não estaria, como ocorria freqüentemente em nações menos avisadas, no jogo de palavras, que poderia parecer antes uma acomodação do que uma convicção firme; mas se revelaria no exercício tenaz e seguro de uma função eminentemente crítica - o que não é sinônimo de destrutiva - das idéias e dos sucessos que atingiam a consciência coletiva no momento em curso. Concluía por pedir o franco apoio da classe, até então alheia ao problema, para a luta em que se empenhavam os bacharéis em jornalismo saídos da pioneira Escola de Jornalismo Cásper Líbero e dos poucos cursos mantidos por faculdades de Fi-losofia, dentro do sistema de ensino superior do país. Recordo que, na pacata Curitiba de 1953, na noite fria com a maior parte dos seus moradores sob os cobertores, e numa sessão que se vinha desenrolando sonolenta, o parecer do relator, um colega da Bahia, militante da esquerda, ecoou com o estampido de uma bomba: na União Soviética, os jornalistas defendiam a liberdade de imprensa e a praticavam, freqüentando cursos em diferentes universidades e estando aptos a defender seus pontos de vista ante os desarrazoados ataques da imprensa controlada pelo capital nos Estados Unidos, etc. etc. etc. Os romanos, acordados pelos gansos do Capitólio, vão aos muros da cidadela ocidental defendê-la com vigor: o despotismo soviético é a negação da liberdade, a missão do jornalista ocidental é defender a civilização contra a escravização do homem ao Estado e, particularmente, do jornalista que está no centro do diálogo, etc, etc, etc. Foi um pugna quase tão memorável quanto a do III Congresso, realizado no Recife, em que nada menos de 36 discursos foram proferidos na sessão de encerramento exaltando a memória de Frei Caneca... para
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evitar um pronunciamento inconveniente! Afinal, depois que esclareci na tribuna que a tese tratava, unicamente, da formação profissional a nível universitário já praticada nos países líderes de ambos os hemisférios, obtive aprovação geral, sob aplausos especiais da pequena e oprimida delegação de estudantes da Cásper Libero (Foi esta tese a pedra fundamental do ensaio Iniciação à filosofia do jornalismo que em 1959, recebia o “Prêmio Orlando Dantas”, instituído pelo Diário de Notícias, do Rio, e editado pela Livraria Agir, em 1960). O ano de 1959 é particularmente marcante na história do ensino de jornalismo no Nordeste. Nele, as irmãs da Congregação de Nossa Senhora de Lourdes, lideradas pela superiora Madre Maria Mercedes, que mantinham a Faculdade de Filosofia das Lourdinas, em João Pessoa, conseguem autorização para o funcionamento do Curso de Jornalismo na capital paraibana. Ali, por indicação do jornalista, professor e escritor Nilo Pereira, potiguar de nascimento, mas com formação universitária e profissional no Recife, onde se torna um dos líderes da Ação Católica e que conhecia, pois trabalhávamos juntos por longos anos no diário Folha da Manhã, e acompanhara os meus estudos teóricos sobre a nossa profissão, ali, nas Lourdinas, iniciei, com entusiasmo, minha carreira de professor. À falta de orientadores dos estudos das disciplinas técnicas, fui levado a ministrar os cursos de Técnica de Jornal, Publicidade, Radiojornalismo e Ética, História e Legislação de Imprensa. Por três anos, semanalmente, dirigia-me do Recife a João Pessoa, onde pernoitava, lecionando em aulas noturnas e diurnas. Tive a satisfação de ver receberem o grau de bacharéis, em 1961, os primeiros jornalis-tas profissionais nordestinos a portarem título universitário, entre os quais se destacaram Willis Leal e Arael Menezes, que, prosseguindo nos estudos, o primeiro dedicando-se em especial ao cinema e o último freqüentando o curso de aperfeiçoamento no CIESPAL, vieram a tornar-se professores de comunicação nas Lourdinas e, depois, na Universidade Federal da Paraíba. A fundação do curso de jornalismo da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Pernambuco, sonho acalentado e resultado de uma doutrinação de anos a fio e de uma campanha tenaz a que aderira e dera impulso decisivo o jesuíta Padre Aloísio Mosca de Carvalho, então reitor, data de 1961. As nossas tentativas vinham de longe mas esbarravam sempre em obstáculos e incompreensões as mais flagrantes, paradoxalmente, da parte das empresas jornalísticas ou dos seus proprietários e editores principais. Para ilustrar esse temor ao profissional habilitado nas universidades, contolhes o encontro que tive, no Rio, com o sr. Simões Filho, então ministro da Educação do governo Getúlio Vargas. Proprietário e diretor do diário A Tarde, na Bahia, o velho e combativo Simões tinha especial ogeriza pelas faculdades de filosofia, conforme expressara em discurso longo ao empossar-se: bem-sucedido empresário, talvez fosse um adepto extremado do provérbio latino, por ele alterado em sua parte final: Primo vívere, Nunquam philosofare... Levado à
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presença daquele monstro sagrado pelo meu amigo e confrade Ranulfo de Oliveira, presidente da Associação Baiana de Imprensa e redator de A Tarde, depois de ouvir-me desfilar razões que, ao meu ver, impunham a adoção de cursos específicos para a formação de jornalistas, o ministro contra-atacou: “Eu nunca precisei de profissionais formados em A Tarde:’ Apontei-lhe Ranulfo que, felizmente, no momento se afastava: “Mas seus redatores principais têm todos títulos universitários”. “Tenho também gente que não leva anel de doutor no dedo” - contestou. “Talvez seja, por isso, excelência, que o seu jornal ainda hoje chama água de linfa – disse-lhe eu, exibindo-lhe um recorte de A Tarde com noticia encimada pelo título: “Faltou a linfa nas torneiras”. Simões era teimoso, tanto quanto o seu interlocutor: “Isso não tem importância. A Tarde é o jornal de maior circulação e de maior prestígio na Bahia”. Eu já estava por conta, e o Ranulfo continuava no outro extremo do salão, entretido em uma conversa com auxiliares diretos do ministro. “Concordo com a primeira afirmativa: seu jornal é certamente o de maior circulação. Todo baiano que se preza compra A Tarde, dobraa e, chegando em casa, coloca-a sem lê-la como mais uma peça de sua coleção”. “Como tem a coragem de dizer isso?” Não era coragem: era desespero. Levanteime e indaguei-lhe, a título de despedida: “Como se explica, então, que o homem mais atacado por seu jornal, chamado de estrangeiro e holandês por ser cearense, seja a personalidade de maior prestígio político da Bahia?” Referia-me ao sr. Juracy, Magalhães seu tradicional adversário político e cearense de nascimento. E evidente que o diálogo não podia continuar. A década dos 60 se caracterizaria, no Nordeste, pela implantação de três escolas superiores de formação de jornalistas, além de uma de Relações Públicas, esta no Recife. Em 1961, afinal, instalava-se o curso de jornalismo na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Pernambuco. Designado seu coordenador pelo reitor Padre Mosca de Carvalho, desde o início procurei juntar ao ensino e aprendizagem das disciplinas técnicas, o interesse pela pesquisa em comunicação, que seria exigida tanto pelo exercício do jornalismo como de todas as atividades do campo profissional. Tudo, então, faltava ao funcionamento de um curso superior de jornalismo: professores, tradição, manuais, laboratórios. O preconceito ainda dominava a classe. O curso não foi tão bem recebido entre os jornalistas recifenses como o fora em Porto Alegre, onde, conforme o depoimento do nosso confrade e atual companheiro no corpo docente do CEUB, Aldo Vinholes de Magalhães, todos os professores de matérias técnicas eram jornalistas de profissão e nada menos de sete alunos da primeira turma já exerciam o ofício nas redações dos jornais locais. Contudo, entre os nossos professores do Recife, contamos com a colaboração de Sanelva de Vasconcelos, jornalista veterano e autor de um livro sobre a história da imprensa de Pernambuco; e, entre os alunos, figurava o jornalista César Leal, já então renomado poeta e crítico literário, e que, depois,
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conquistaria uma cátedra na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal, com o título bacharel em jornalismo pela Católica. Os professores, com exceção dos que ministravam as aulas de disciplinas comuns a outras áreas - como História, Geografia, Sociologia, Economia, etc.,não tinham prática de magistério: improvisavam métodos e técnicas didáticas, às quais faltava o indispensável suporte bibliográfico. Os livros especializados, então, se resumiam a alguns estudos históricos ou a recente tradução de um manual norteamericano de Fraser Bond. Na verdade, somente depois de 1960, quando a Editora Agir publicou o meu Iniciação à filosofia do jornalismo é que vão surgir ensaios e manuais, ora voltados para aspectos teóricos, ora para a prática redacional em uso nos jornais e rádio emissoras do país. Por outro lado, o professor tinha de improvisar, de fazer funcionar a imaginação, de criar métodos próprios para levar o estudante a deslanchar para a prática dos rudimentos da profissão. Desta improvisação, é que, com os alunos pioneiros, consegui estruturar a técnica de trabalhar, reescrevendo o jornal cobaia, através do qual conseguíamos parar o tempo em determinada data e, utilizando como pauta as informações do jornal do dia, exercitarmos o noticiário, a reportagem, a crônica e os editoriais. Este método-muleta, já que não tínhamos as pernas que seriam as oficinas de aplicação, permitiu-nos atravessar a fase crítica de implantação do curso do Recife que, em 1963 e 1964, começava a abastecer o mercado pernambucano de profissionais titulados e prometia transformar alguns deles, cujos nomes aqui cito com orgulho, em mestres, doutores e/ou pesquisadores da ciência da comunicação como José Marques de Melo, Tereza Lúcia Halliday, Roberto Emerson Benjamim, Francisco Torquato do Rego, Zita de Andrade Lima, Newton Diniz de Andrade, Jeovah Franklin de Queiroz. É também nessa década que a bibliografia brasileira de jornalismo e comunicação começa a ampliar-se: nomes como os de Juarez Bahia, Natalício Norberto, Luiz Amaral, Joaquim Douglas, Celso Keely, Raul Lima, Danton Jobim e Jeovah, entre outros, se vem unir aos cadernos de anotações de aulas dos professores da Cásper Líbero e ao opúsculo Técnica de Jornal, editado pelo Instituto de Ciências da Informação (ICINFORM), que havíamos criado no Recife tendo por núcleo os professores e os primeiros bacharéis em jornalismo saído da UCP. Este instituto, ao par dessa atividade editorial, publicou entre 1965 e 1971 treze números da revista especializada Comunicações & Problemas, que se constituiu em um órgão de consulta para quantos, no país, buscavam atualizarse no ensino-aprendizagem das atividades comunicacionais. Simultaneamente com o curso do Recife, entrava em funcionamento, em Natal, a Escola de Jornalismo Eloy de Souza, implantada e mantida pela Fundação José Augusto. A convite da sua direção, durante dois anos, semanalmente, viajava eu para a capital potiguar, sempre lecionando as matérias técnicas. Também dessa escola saíram bons profissionais da imprensa e
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professores, que hoje integram o corpo docente dos cursos de comunicação nordestinos. No Ceará, numa iniciativa da professora de Filosofia e líder sindical dos jornalistas, Adísia Sá, com o apoio da Associação Cearense de Imprensa, realizavam-se dois cursos livres de jornalismo, do último dos quais participei. A batalha pela implantação do curso junto à Faculdade de Filosofia, não obstante o apoio do então reitor Antônio Martins Filho, só terminaria em janeiro de 1967, quando, a convite do mesmo, estive em Fortaleza para, juntamente com os professores Luiz Sucupira e Adísia Sá, estruturar o currículo do curso, já encaminhando-o a uma futura escola de formação de agentes culturais da comunicação, a exemplo das de Brasília, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Com efeito, desde 1963, os estudos jornalísticos em nível superior no Brasil deviam muito de sua dinâmica à influência do Centro de Estudios Superiores de Periodismo para a América Latina (CIESPAL), órgão da UNESCO, sediado em Quito. A realização anual de um curso para profissionais da imprensa e recémformados nas escolas com tendência para o magistério e a investigação científica, ministrado por estudiosos e especialistas do maior renome, constituiu instrumento eficaz da valorização dos esforços dispendidos no país e conferiu aos cursos um status que lhe era geralmente negado na estrutura universitária. É de justiça salientar que, sob a direção de Jorge Fernandez e, depois, de Gonzalo Córdoba, dois eminentes homens públicos do Equador, o CIESPAL se tornou o ponto de convergência de quantos jornalistas, estudiosos da comunicação e cientistas sociais aspiravam proporcionar aos profissionais da área uma adequada, mais ampla e sólida formação. Editando em espanhol e a preços acessíveis as aulas ministradas em seus cursos e as pesquisas em comunicação realizadas em convênio com as escolas, o CIESPAL inspirou e assistiu à abertura de novos cursos e imprimiu dinamismo e espírito de investigação à comunidade universitária que se preparava para enfrentar a era de prodígios técnicos que já alvorecia com os avanços da eletrônica e da automação. Foi sob a inspiração do CIESPAL, no qual ministrara eu, em 1963, um curso sobre Métodos de Ensino da Técnica de Jornal, e dos contatos que mantinha com as universidades e escolas do país e da América Latina que, de janeiro a março de 1965, o ICINFORM promovia, no Recife, o I Curso de Ciências da Informação, com a freqüência de 78 alunos, dos quais 12 oriundos de Minas Gerais, São Paulo, Rio e Natal. Além das conferências, proferidas por professores universitários, estudiosos das ciências sociais e profissionais de reconhecida competência, e trabalhos de campo em excursões a lugares históricos, foram realizados seminários, dois dos quais abrangendo os temas Conjuntura Sócio-Econômica do Nordeste, orientado pela SUDENE e Problemas da Atualidade Pernambucana, com a participação do Grupo Executivo do Açúcar e de secretários de Estado e técnicos governamentais. Um terceiro seminário, a
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cargo dos próprios alunos, sob a rubrica Comunicações e Desenvolvimento Nacional, teve por coordenador-geral o então bacharel em jornalismo pela UCP José Marques de Melo e como relatora geral, Edonora Fernandes Rennó, aluna de jornalismo da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais, e realizou uma avaliação crítica dos trabalhos do curso, apontando seus pontos positivos e suas deficiências e sugerindo medidas para a inclusão de novos ternas para exposição e debates num segundo curso. Foi, sem dúvida, a abrangência dessa iniciativa que me forneceu elementos e subsídios para, ao final de 1965, atendendo ao chamamento do Governo Federal e da Universidade de Brasília, transferir-me para a capital e tentar salvar da devastação total o projeto inovador da Faculdade de Comunicação de Massa que Pompeu de Sousa implantara e que marcava um passo decisivo na evolução do ensino das ciências da comunicação no país, através de uma estrutura com a qual eu concordava e à qual apenas procurei introduzir uma oficina de pesquisa. Essa tentativa, num centro de ensino superior sujeito a pressões do Poder que não lhe permitiam autonomia e determinação, e sob uma direção sem a necessária altivez para frear investidas sem cabimento, foi anulada com a minha saída da coordenação, quando pessoas despreparadas, arvoradas em um “Conselho Departamental” espúrio, cancelaram disciplinas, modificando pré-requisitos, extinguindo o centro de pesquisas e dispensando professores e instrutores que preparavam suas dissertações de mestrado, conforme os dispositivos estatutários da UNB (tanto a proposta de estruturação da Faculdade de Comunicação quanto o depoimento sobre a demolição da escola pelo aludido “Conselho Departamental” estão documentados nos n.°s 4, março de 1966, e 8/9, novembro de 1968 da revista Comunicações & Problemas). Para concluir este depoimento, pergunto-me se a parcela de atuação que me coube desenvolver em favor da formação universitária dos jornalistas e demais agentes culturais da comunicação no país valeu a pena. E respondo positivamente: não me arrependo de haver abandonado o exercício profissional do jornalismo, minha paixão, para dedicar-me ao estudo, ao ensino e à pesquisa da comunicação. Quando vejo nas cátedras a nova geração de professores; quando recebo a notícia da conquista de títulos de mestre e doutor oriundos dos cursos e escolas do Nordeste e do Brasil inteiro; quando leio os ensaios e manuais por eles escritos; quando, como telespectador, registro a presença e o trabalho de uma plêiade de jovens profissionais que desenvolveram suas aptidões primeiro nas oficinas de aplicação das universidades; quando leio as colunas ou ouço as vozes amigas de ex-alunos nos jornais e nas radioemissoras, sinto-me plenamente compensado de transtornos e dissabores, das pequenas vitórias e dos muitos fracasses que marcam a vida dos sexagenários. Mas, sobretudo, me é particularmente grato este momento, em que assisto à aliança harmoniosa entre escola e empresa, esta dando a mão àquela, não por julgá-
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la mais fraca mas por crer que muitas das tarefas até agora a seu cargo, de modo especial no que tange às reformas na estruturação, na morfologia e no conteúdo dos veículos de comunicação de massa, terão de ser transferidas para o grande laboratório da universidade, onde professores pesquisadores e alunos têm espaço e tempo para imprimir à comunicação os seus novos e revigorantes caminhos. Creio que as escolas de comunicação estão a ponto de ingressar num patamar que, juntamente com o ensino e a pesquisa, forma a tríade da ação universitária – a extensão. Dotadas como estão de condições técnicas e de cursos de pós-graduação, com a mesma tenacidade e o mesmo espírito de investigação científica que alimentam, por exemplo, os cursos médico e agrícola, que tão relevantes serviços prestam, hoje, aos programas de assistência sanitária e de ampliação e melhoria da lavoura e da agro-indústria nacional, tenho a firme convicção de que em um futuro não muito distante a sociedade brasileira receberá idêntica contribuição dos centros universitários de ensino profissional de comunicação, a partir do jornalismo e da propaganda, atividade sem as quais as nações definham e se isolam do concerto universal. É este novo passo que espero viver para ver imprimido às escolas de comunicação cuja infância e evolução tive o privilégio de testemunhar e a cuja pujança agora se juntam, em um exemplar diálogo construtivo, estas empresas e seus profissionais, com o empenho e a visão com que praticam um jornalismo responsável e vibrante, de que dou fé.
IV – APÊNDICE
PORTAL LUIZ BELTRÃO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO: VIDAS PARALELAS
Maria Cristina Gobbi*
Depoimento de Dona Zita, esposa de Luiz Beltrão, dado durante o I Folkcom, realizado na Universidade Metodista de São Paulo, pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação, quando da realização do I Folkcom, no ano de 1978.
O legado de uma vasta obra, em diversos segmentos, quer em termos quantitativos, quer de forma qualitativa, foi a grande contribuição de Luiz Beltrão para o campo comunicacional. Construiu toda uma teoria de Folkcomunicação, “comprovando, então, a mediação dos agentes da cultura popular na decodificação e conseqüente interpretação dos modos de pensar, sentir e agir que a mídia transmite no cotidiano da população1”. * Doutora e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. Diretora Suplente da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. Coordenadora de Documentação e Publicação e do Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano José Marques de Melo, da Cátedra Unesco. Professora do Lato Sensu em Comunicação e da Graduação na mesma instituição. Editora do JBCC - Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação, e do Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional. Professora do Programa de PósGraduação Stricto Sensu da Unipac/MG. E.-mail: mcgobbi@terra.com.br. 1 Maria das Graças TARGINO. A contribuição do instituto de Ciências da Informação (Icinform) na gênese do pensamento comunicacional brasileiro. IN: Gênese do pensamento comunicacional Latino-Americano. O protagonismo das instituições pioneira - Ciespal, Icinform, Ininco. São Bernardo do Campo: Umesp, 2000.
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Embora lembrado por suas teorias Folkcomunicacionais, consideradas por muitos estudiosos como as primeiras teorias genuinamente brasileiras, seu legado transcende esse universo. Foi o jornalismo sua grande paixão. Através de seus estudos foi possível conhecer um “fazer jornalismo” de forma coerente com a realidade nacional, tendo a coragem como meta no descobrimento de novos caminhos.
Luiz Beltrão
Luiz Beltrão e Dona Zita (sua esposa)
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Não há como negar a importância do mestre Luiz Beltrão para os estudos do jornalismo e da comunicação. Em toda sua grande produção, é visível a força e o espírito empreendedor, e nisso encontramos o reforço e o estímulo para o desenvolvimento do “Portal Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação”. COLABORAÇÃO DA CÁTEDRA UNESCO PARA A FUNDAMENTAÇÃO DOS ESTUDOS FOLKCOMUNICACIONAIS O espaço acadêmico da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, localizado na Universidade Metodista de São Paulo desde 1996, foi constituído com o propósito de estimular o intercâmbio entre o mundo acadêmico e os setores empresarial e profissional. Potencializadas pela utilização das modernas tecnologias de difusão nos processos de desenvolvimento, as atividades realizadas na Cátedra Unesco/ Metodista de Comunicação têm contribuindo para a preservação das identidades culturais nacionais/regionais. Uma das ações empreendidas anualmente pela Cátedra Unesco/Metodista é a Conferência Brasileira de Folkcomunicação - Folkcom, que, caminhando entre os conceitos de cultura popular e erudita, tem permitindo entender e estender as opiniões dos processos da cultura brasileira, tendo como cerne os estudos do professor Luiz Beltrão. Dentre os principais objetivos das Conferências, podemos citar: a) Permitir o conhecimento e a reflexão sobre o legado brasileiro na área de teorias da comunicação, contidos nos estudos do Pioneiro Luiz Beltrão; b) Possibilitar a análise e a interação entre as culturas regionais e a cultura global, a partir da mediação exercida pela indústria cultural; c) Estimular a reflexão e a pesquisa dos fenômenos singulares do calendário folclórico brasileiro, como por exemplo, o Natal, as festas populares e religiosas, o carnaval etc e d) Implementar a Rede Folkcom de pesquisadores na área, entre outras. Neste sentido, os resultados obtidos nestes anos de trocas e interações mostram que a cultura nacional tem um caráter singular e não homogêneo. Decorrência de um processo de múltiplas interações no tempo, no espaço e na sociedade. Nossa cultura é resultado de um Brasil de fusões e intercâmbios, de culturas antigas, como as indígenas, as africanas, as migrantes (japonesa, italiana, alemã, etc) e da própria imigração de norte a sul, de leste a oeste desse país de dimensões continentais. Esse enriquecimento de signos e significações permeado pelos meios de comunicação de massa é tradução de uma história específica, um ritmo próprio, com peculiaridades mostradas nos tempos históricos e subjetivos. A complexidade de ritmos, formas, cores, valores e manifestações configuram o patrimônio de uma sociedade, que recheado de importância peculiar garante a preservação do passado e permite a construção do futuro. E através das diversas
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manifestações regionais de um povo torna-se possível mostrar sua composição global, participativa e interativa. Os processos de globalização pelos quais o mundo atravessa, consolidam a priorização do regional em uma constante investigação de mecanismos que transcendem as questões nacionais. Neste cenário descortinam-se manifestações locais que permeiam as diferenças regionais e eclodem com implicações sociais, econômicas, políticas e culturais, surgindo assim as manifestações de cultura nacional como um produto derivado das diferenças histórico-geográficas-culturais. A busca de respostas para questões que abrigam as diferenças entre as localidades e os constantes desafios de se constituir um espaço mais ou menos homogêneo, eleva a possibilidade de ações conjuntas e complementares não só nas áreas econômica e política, mas cultural, tanto locais quanto regionais. O desafio desta transformação tem permitido ultrapassar as próprias fronteiras e visualizar um conjunto global de atividades, predominando o sentimento de cooperação e de integração regional. É neste sentido que as ações desenvolvidas pela Cátedra Unesco/Metodista têm buscado consolidar o campo de pesquisa da Folkcomunicação2. Mostrando que na realidade brasileira os “comunicadores folclóricos” traduzem os conteúdos complexos dos meios de comunicação de massa e os interpretam segundo valores tradicionais das pequenas comunidades. Também realizam as ações contrárias, ou seja, resgatam, estudam e interpretam a apropriação de bens da cultura popular pela indústria cultural3. Desde a primeira Conferência, realizada em 1998, várias foram as temáticas debatidas e as contribuições recebidas de diversos pesquisadores, não só do Brasil, mais internacionalmente.
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Situado entre o Folclore (resgate e interpretação da cultura popular) e a Comunicação de Massa (difusão de símbolos através dos veículos mecânicos ou eletrônicos destinados a audiências anônimas, heterogêneas e dispersas). Se o Folclore compreende formas interpessoais ou grupais de manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de meios artesanais de difusão simbólica para expressar em linguagem popular mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural. Esta era a compreensão original de Luiz Beltrão, que a situava como processo de intermediação entre a cultura das elites (erudita ou massiva) e a cultura das classes trabalhadoras (rurais e suburbanas) ou dos marginalizados (grupos mantidos econômica, social e culturalmente à margem das instituições hegemônicas) (MARQUES DE MELO, José (org.). Agenda da Folkcomunicação na passagem do século. São Bernardo do Campo: Umesp, 1998). José, MARQUES DE MELO (org.). Agenda da Folkcomunicação na passagem do século. São Bernardo do Campo: Umesp, 1998.
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Para se ter uma idéia dessas contribuições, disponibilizamos abaixo um breve panorama das nove Conferências já realizadas. Ano
Temática
1998 – I Folkcom – Folkcomunicação: disciplina científica 1999 – II Folkcom – Folkcomunicação e cultura brasileira 2000 – III Folkcom – Meios de comunicação, folclore e turismo 2001– IV Folkcom – As festas populares como processos comunicacionais 2002 – VI Folkcom – A imprensa do povo 2003 – VII Folkcom – Folkmídia: difusão do Folclore pelas indústrias midiáticas 2004 – VIII Folkcom – Folkcomunicação Política: a comunicação na cultura dos excluídos 2005 – IX Folkcom – A comunicação dos pagadores de promessas. Do ex voto à indústria dos milagres
FOKCOM’1998: A primeira Conferência Brasileira de Folkcomunicação – I FolkCom -, foi realizada na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de agosto de 1998, entre os dias 12 a 14. Homenageou a memória de Luiz Beltrão – que se ele estivesse vivo estaria comemorando 80 anos, na época. O Encontro discutiu a relação dos meios de comunicação de massa com a cultura popular e foi muito frutífero, recebendo comunicações de todo Brasil. Contou também com a presença de Dona Zita de Andrade Lima, esposa do professor Luiz Beltrão e uma comitiva de 23 paraguaios, professores e estudantes da Universidad Nacional de Asunción. FOLKCOM’1999: II FolkCom aconteceu no período de 11 a 15 de agosto, na cidade mineira de São João Del Rei. Realizada pela Fundação de Ensino Superior de São João Del Rei – Funrei -, homenageou o centenário de nascimento do folclorista Luiz da Câmara Cascudo pela inestimável contribuição que seu legado proporcionou à definição da identidade da cultura popular brasileira. FOLKCOM’2000: O III FolkCom foi realizada na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de João Pessoa, na Paraíba, entre os dias 26 a 29 de junho. O evento contou com a participação de pesquisadores da área de Folkcomunicação vindos de diversas regiões do país. Dentre os principais objetivos do encontro destacamos o estudo das obras de três grandes pesquisadores da Cultura Popular Brasileira, que têm origem no Nordeste: Altimar Pimentel, Gilberto Freire e Mário Souto Maior. Todos eles, em suas pesquisas, analisaram temas ligados à questão da mídia e da cultura popular. FOLKCOM’2001: A IV Conferência Brasileira de Folkcomunicação ocorreu na cidade de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul,
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entre os dias 26-29 de junho de 2001. O objetivo desta Folkcom foi o de estudar a natureza das festas populares vigentes no limiar do século XXI, identificando os processos comunicacionais. Contou com a presença de cerca de 700 pesquisadores, estudantes, professores que puderam verificar, apresentar e discutir os trabalhos oriundos de diversas partes do país. FOLKCOM’2002: A V Folkcom foi realizada pela Universidade Monte Serrat, na cidade de Santos, São Paulo. Teve como objetivo principal estudar os processos folkcomunicacionais, cuja difusão era feita pela mídia impressa. Analisar, reconhecer e interpretar os meios impressos de que se valiam os agentes populares da cultura tradicional: folhetos, almanaques, opúsculos, volantes, panfletos, santinhos e outros. Estudar e compreender as mensagens folkcomunicacionais (notícias, anúncios, imagens) publicados na mídia impressa (jornais, revistas, livros)4. FOLKCOM’2003: A VI Conferência Brasileira de Folkcomunicação aconteceu no SESC Mineiro de Grussaí, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, entre os dias 3 e 6 de abril. O evento foi realizado pela Faculdade de Filosofia de Campos, Curso de Comunicação Social, Campos dos Goytacazes – RJ. O objetivo do encontro de 2003 foi o de delinear o perfil da folkcomunicação na mídia a partir da localização dos seres humanos, da festa, da culinária, do artesanato, da música, da religião, da arquitetura, do trabalho e etc. Além de realizar estudos documentais descrevendo-os e analisando-os enquanto processos e fenômenos folkmidiáticos, localizando seus agentes codificadores, seus canais de expressão, o tipo de mensagem, o público que se destina. Demonstrando como a mídia se apropria e globaliza os conteúdos do folclore, através de um levantamento do material veiculado em jornais, revistas, Tvs, Internet, rádio, cinema, histórias em quadrinhos, etc. Intercambiando subsídios com outros pesquisadores ligados à Rede Folkcom-Unesco e novos pesquisadores, inclusive de iniciação científica. FOLKCOM’2004: A VII Folkcom foi realizada no Centro Universitário Univates, na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul, entre os dias 13 a 16 de maio de 2004. Recebemos aproximadamente 200 pesquisadores, entre professores, estudantes e estudiosos da área da Folkcomunicação, de 35 instituições diferentes, representando 15 Estados da Federação, além de pesquisa-dores de Portugal e da França. O evento foi realizado pelo Curso de Comunicação Social da UNIVATES. Os objetivos do encontro de 2004 foram o de “inventariar, 4
Texto retirado do folder da V Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada entre os dias 1 a 4 de maio de 2002, na cidade de Santos, São Paulo.
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registrar, debater, generalizar e formular novas hipóteses sobre os fenômenos políticos que permeiam o tecido das manifestações folkcomunicacionais. Porém, não apenas analisar o conteúdo político das mensagens produzidas e difundidas pelos agentes da folkcomunicação, mas também as apropriações feitas pelos agentes políticos em relação às expressões culturais das classes subalternas e dos segmentos culturalmente excluídos da sociedade brasileira5”. FOLKCOM’2005: A VIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação foi realizada na cidade de Teresinha, no Piauí. Realizada no período de 9 a 12 de junho de 2005, foi sediada pelo Centro de Ensino Unificado de Teresina (CEUT). O evento contou com aproximadamente 348 participantes, representando quinze estados brasileiros. Para muitos pesquisadores, o evento consolidou os trabalhos iniciados em 1998, por ocasião da I Conferência Brasileira de Folkcomunicação, pois, além de ter sido realizada na capital do sertão do Nordeste, resgatou a cultura popular através dos ex-votos, o que significou retomar os estudos iniciais de Luiz Beltrão, fundador da disciplina da folkcomunicação. FOLKCOM’2006: A IX Conferência Brasileira de Folkcomunicação, será realizada no período de 9 a 11 de outubro de 2006, em São Bernardo do Campo (SP), e está inserida no evento de comemoração dos dez anos da Cátedra Unesco/ Metodista de Comunicação. Através do tema “A folkcomunicação e cibercultura: a voz e a vez dos excluídos na arena digital” buscará compreender como essas formas tradicionais de comunicação estão sobrevivendo na área global. Por essa síntese é possível perceber a diversidade dos estudos folkcomunicacionais da área da comunicação, tendo como foco central as contribuições do professor Luiz Beltrão.
A idéia nasceu, inicialmente, da grande demanda nacional e internacional recebida, quase que diariamente, na Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação na busca de informações sobre as obras e as teorias do mestre Luiz Beltrão. O professor José Marques de Melo lançou então, no ano de 2004, o desafio para a equipe da Cátedra Unesco/Metodista para o desenvolvimento de um espaço
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Objetivos do evento, disponível nos folders do evento de 2004. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 357-366, jan/dez. 2006
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capaz de atender essa procura. Além disso, outro fator motivador foi o fato da Cátedra estar à frente do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 6, promovido anualmente pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e que neste ano de 2006 terá a sua nona edição.
Informações sobre o Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação podem ser obtidos nos sites: www.intercom.org.br ou www.metodista.br/unesco
Então, uma equipe entusiasmada de jovens estudantes de graduação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Metodista de São Paulo, coordenados pela professora Dra. Maria Cristina Gobbi aceitou a provocação do professor José Marques de Melo e desenvolveu o “Portal Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação”. O layout inicial ficou a cargo da então estudante de Publicidade e Propaganda, Larissa Didone, ainda no ano de 2004. Em 2005 novas modificações foram incorporadas pelo aluno de Jornalismo, Marcel Chanquini Salim. Essa nova versão, disponível no endereço web: www.metodista.br/unesco, é a primeira versão do projeto disponibilizada para o público, e está sob a responsabilidade de Bruno Galhardi e Talita Itabaiana (Estagiários da Equipe da Cátedra Unesco/ Metodista de Comunicação) e os estudantes Daniel Augusto Ribeiro Pereira, 6
O Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação destina-se a reconhecer a qualidade do trabalho acadêmico realizado nas universidades ou nos centros/institutos de pesquisa, valorizando a atuação individual, grupal ou coletiva. Sua finalidade é identificar anualmente quais as pessoas, equipes ou instituições que apresentaram contribuições relevantes para o campo das ciências da comunicação, de modo a construir/consolidar a identidade da nossa comunidade acadêmica.
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Guilherme Enrico Salviati, Natália de Oliveira Ballotin, Marcel Chanquini Salim, Marcel Rangoni Guerra e Raquel Zippert Saito (Estagiários Voluntários), todos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. Além da colaboração, sempre entusiasmada, de Damiana Rosa de Oliveira, assistente administrativa da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação. Também não poderíamos deixar de mencionar a colaboração de Keila Braçal, estagiária da Cátedra Unesco/Metodista no ano de 2004 e 2005. A equipe optou por disponibilizar o material na Internet por julgar ser um espaço de grande acesso aos pesquisadores, professores e estudantes da comunicação, tanto no Brasil como no exterior. Além disso, outra motivação foi a de que não haveria limitações de espaço no que referia aos conteúdos, à quantidade de fotos e outros documentos. Nem, tão pouco, dificuldades de difusão do trabalho, como acontece normalmente em outras mídias. Outro detalhe que julgamos fundamental de ser mencionado é que graças ao apoio constante recebido da Universidade Metodista de São Paulo para as ações realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista, o acesso ao portal é livre e sem custos para a comunidade acadêmica. Disponível no site www.metodista.br e no endereço www.intercom.org.br, o projeto ambiciona ser um espaço de pesquisa, principalmente para as novas gerações de estudantes da área da comunicação. O Portal está dividido em duas partes. A primeira, Biografia, traz textos escritos por diversos pesquisadores, dentre eles: José Marques de Melo, Roberto Benjamin, Paulo Rogério Tarsitano, Jorge Duarte, José Carvalho Marangoni, entre outros. A seção de Bibliografia mostra as principais referências deixadas por Luiz Beltrão, além de outras obras de estudiosos do tema Folkcomunicação. Hemerografia disponibiliza as contribuições nas mais diversas mídias sobre o legado do mestre. Iconografia contribui com um acervo fotográfico das várias etapas da vida de Luiz Beltrão. Em Depoimentos estão registradas as impressões de investigadores da área da comunicação sobre as teorias de Luiz Beltrão e finalmente, em Documentos há registros dos mais variados trabalhos realizados, tendo a obra do mestre como escopo principal. Na segunda parte do site, nas várias seções disponibilizadas, é possível fazer um acompanhamento das nove edições do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, que é concedido anualmente pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), mostrando o perfil dos premiados nas quatro categorias premiadas7, além de informações sobre o júri, os promo7
O prêmio está dividido em dois grupos: Personalidades e Instituições. Será concedido em 4 distintas categorias, sendo duas premiações para cada grupo. PERSONALIDADES. 1) Liderança emergente: Destinado ao jovem doutor que Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 357-366, jan/dez. 2006
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tores, os patrocinadores e os parceiros das várias edições do evento, e mais uma parte de vídeos depoimentos. Não se trata de um projeto concluído, mas de uma primeira imersão no grande legado do mestre Luiz Beltrão. Para que esse espaço de pesquisa fique cada vez mais completo aceitamos indicações, contribuições de textos, fotos e outros materiais, além de sugestões e críticas. Todo o material pode ser enviado para os e-mails: mcgobbi.unesco@metodista.br ou mcgobbi@terra.com.br ou luizbeltrao@metodista.br. Ou ainda para o endereço: Universidade Metodista de São Paulo, Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação, Portal Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, aos cuidados da professora Dra. Maria Cristina Gobbi, Rua do Sacramento, 230 – Edifício Capa, sala 323, Rudge Ramos, CEP: 09046000 - São Bernardo do Campo, São Paulo, Brasil.
esteja adquirindo projeção local ou regional pela seriedade e produtividade do trabalho desenvolvido, pela capacidade de liderar projetos/equipes e pela busca de conexões nacionais/internacionais. A seleção deve ser feita pelos indicadores da trajetória percorrida num período mínimo de 5 anos e máximo de 10 anos após o doutoramento do candidato. 2) Maturidade acadêmica: Destinado ao pesquisador-senior, autor de estudos significativos e produtor de conhecimento comunicacional que tenha obtido reconhecimento nacional e/ou internacional. A escolha se fará a partir do conjunto da obra. INSTITUIÇÕES. 3 Grupo inovador: Destinado aos núcleos de pesquisa que venham se destacando pela capacidade de inovar nos planos teórico, metodológico, tecnológico ou pragmático, construindo idéias, gerando produtos ou modelos comunicacionais. A seleção se fará pelos indicadores da trajetória do grupo nos últimos 5 anos. 4 - Instituição paradigmática: Destinado aos cursos, departamentos, escolas, institutos, empresas, sindicatos, associações, igrejas, ONGs ou órgãos públicos que tenham se notabilizado pela criação/manutenção/fortalecimento de programas de pesquisa sistemática dos fenômenos comunicacionais. A seleção se fará pelos indicadores da produção institucional dos últimos 5 anos.