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Universidade Metodista de São Paulo
Conselho Diretor Luis Antonio Aparício Callaú (presidente), Esther Lopes (vice-presidente), bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa (bispo-assistente), Edesio de Oliveira Rocha (secretário), André Fernandes Ribeiro Maia, Graciela Duarte Rito Rodrigues Aço, Leila Machado Pereira, Marcio Miguel de Oliveira Arbex, Nelly Azevedo Matolla, Rosilene Gomes da Silva Rodrigues Reitor Davi Ferreira Barros Vice-Reitor Acadêmico Clovis Pinto de Castro Vice-Reitor Administrativo Marcio de Moraes Diretor da Faculdade de Comunicação Multimídia Sebastião Carlos Moraes Squirra Diretor da Faculdade de Publicidade, Propaganda e Turismo Paulo Rogério Tarsitano Diretora da Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas Maria Aparecida Ferrari Conselho de Política Editorial Adolpho Carlos Françoso Queiroz; Clovis Pinto de Castro (vice-presidente); Davi Ferreira Barros (presidente); Jaci Maraschin; José Marques de Melo; José Tolentino Rosa; Marco Antonio Scanavini; Marília Claret Geraes Duran, Peri Mesquida (representante externo); Tânia Elena Bonfim e Vera Maria Barros de Oliveira Comissão de livros Edna Maria Barian Perrotti; Sebastião Carlos Moraes Squirra; Vera Maria Barros de Oliveira (presidente) e Waverli Maia Matarazzo Neuberger Editora-executiva Léia Alves de Souza
cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional universidade metodista de são paulo
anuário unesco/metodista de comunicação regional
10 edição monográfica, comemorativa dos 10 anos da cátedra unesco/metodista de comunicação
comunicação no Brasil: as idéias pioneiras de luiz Beltrão
são Bernardo do campo, são paulo, Brasil, 2006
dados internacionais de catalogação na publicação (cip) (Biblioteca central da universidade metodista de são paulo) anuário unesco / metodista de comunicação regional / cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional, universidade metodista de são paulo. Vol. 1, n. 1 (set. 1997). são Bernardo do campo : universidade metodista de são paulo, 1997anual issn 1809-435X o issn, mudou, a partir de março de 2006 1. comunicação – anuários i. cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional ii. universidade metodista de são paulo. cdd 302.2
capa: cristiano Freitas diagramação: maria Zélia Firmino de sá permuta e atendimento à bibliotecas: noeme viana timbó revisão: damiana rosa de oliveira impressão e acabamento: gráfica e editora rudcolor rua do sacramento, 230, rudge ramos 09640-000 são Bernardo do campo, sp tel.: (11) 4366-5537 - Fax: 4366-5728 e-mail: editora@metodista.br www.metodista.br/editora as informações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, posição oficial da universidade ou de sua mantenedora.
anuário unesco/metodista de comunicação regional issn 1809-435X • ano 10 • nº 10 2006 equipe editorial: José marques de melo (diretor responsável), maria cristina gobbi (editora), adolpho Queiroz, isaac epstein e sandra reimão; damiana rosa de oliveira, Bruno galhardi e talita Kubinhetz Barros itabaiana (assistentes editoriais) rua do sacramento, 230, rudge ramos • edifício capa, sala 323 09640-000 são Bernardo do campo, são paulo, Brasil Fone: (55 11) – 4366-5819 · Fax: (55 11) – 4366-5817 e-mail: catedra.unesco@metodista.br unesco – organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura diretor geral: Koichiro matsuura assistente do diretor geral para a divisão de comunicação e informação: abdul Waheed Khan diretor do escritório regional para a américa latina: gustavo lópez ospina conselheiro de comunicação: andrew radolf cátedra unesco de comunicação para o desenvolvimento regional equipe consultiva - triênio 2003/2006 – prof. dr. isaac epstein e profa. dra. sandra reimão – universidade metodista de são paulo (são paulo - sp); prof. dr. Belarmino césar guimarães da costa – universidade metodista de piracicaba (piracicaba – sp); profa. dra. sonia Virginia moreira – universidade estadual do rio de Janeiro (rio de Janeiro – rJ); profa. dra. desirée rabello –universidade Federal do espírito santo (espírito santo – es); Jornalista sérgio gomes, diretor da ong oboré comunicações e artes (são paulo – sp); editor antonio costella, diretor da editora mantiqueira (campos do Jordão – sp). equipe executiva: diretor titular: prof. dr. José marques de melo; diretora suplente – profa. dra. maria cristina gobbi, assistente acadêmica: damiana rosa de oliveira; estagiárias: Bruno césar cova galhardi e talita Kubinhetz Barros itabaiana. pesquisadores assistentes: ana paula galvão Farias, arquimedes pessoni, eliana martins marcolino, Fabiana Franco, roseane pinheiro, isildinha martins, lana cristina nascimento silva e marli dos santos.
sumário
apresentação ..................................................................................................................... 9 anuário unesco/metodista: uma década dedicada ao estudo da comunicação no Brasil maria cristina gobbi universidade metodista de são paulo / cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
introdução ...................................................................................................................................23 legado emblemático de luiz Beltrão: facetas a desvendar, trilhas a percorrer José marques de melo universidade metodista de são paulo / cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
i – teoria da comunicação a comunicação no processo de desenvolvimento (1968) .................................................................. 35 a galáxia de gutenberg e a de mcluhan (1968) ........................................................................ 59 reflexões sobre a comunicação de massa (1969) ............................................................................. 65 comunicação popular e região no Brasil (1974) ............................................................................ 73 o folclore como sistema de comunicação popular (1976).................................................................. 81 marketing, cultura e comunicação (1977) ...................................................................................... 87 processo da comunicação (1983) .................................................................................................... 99
ii – midiologia cadernos de jornalismo: narrativas de interesse para o exercício profissional (1965) ......................................................................................................105 aspectos básicos da problemática do jornal interiorano no nordeste (1966) ..................................109 Jornalismo pela televisão e pelo rádio: perspectivas (1967) .............................................................133 o caso dos contratos time-life e tV globo (1968)....................................................................151 Brasil: 50 anos de rádio (1969)...................................................................................................165 as linhas da imprensa brasileira (1969) .....................................................................................177
o livro de atualidade (1969) ......................................................................................................189 literatura de elite e literatura de massa (1970) ..........................................................................219 da folkcomunicação à folkmídia (1982) ...................................................................................229
iii – pedagogia da comunicação
aprendizagem das ciências da comunicação em pernambuco (1965) .............................................237 gênese do instituto de ciências da informação ( 1965) ................................................................241 la investigación científica de los medios de información (1965) .....................................................247 novas diretrizes ao ensino das ciências da comunicação (1967).....................................................265 a pesquisa dos meios de comunicação e a universidade (1968)......................................................279 estrutura curricular dos cursos de jornalismo (1972) ...................................................................287 os programas das escolas brasileiras de comunicação: como e onde devem preparar-se os comunicadores rurais (1972).....................................................301 responsabilidades dos jornalistas na formação profissional (1973) ...............................................311 problemática do professor de comunicação (1973) ........................................................................319 teoria e orática do ensino de jornalismo: panorama histórico (1974) .............................................325 para uma nova pedagogia da comunicação (1975) ........................................................................341 a formação do jornalista científico (1982) ....................................................................... 351 o ensino de jornalismo no nordeste (1984) .................................................................................357
iV - apêndice portal luiz Beltrão: vidas paralelas ..........................................................................................369 maria cristina gobbi e equipe universidade metodista de são paulo/0cátedra unesco/metodista de comunicação, Brasil
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APRESENTAÇÃO ANUÁRIO UNESCO/METODISTA: UMA DÉCADA DEDICADA AO ESTUDO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Maria Cristina Gobbi*
Neste ano de 2006 a Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional comemora 10 anos de sua instalação na Universidade Metodista de São Paulo e o Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional participa dessa efeméride publicando uma edição monográfica dedicada ao pensamento de Luiz Beltrão, o pioneiro das ciências da comunicação no Brasil. Desde 1997, quando foi publicada a primeira edição deste Anuário, a Cátedra Unesco/Metodista vem mantendo parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM – para a gestão do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação. A grande receptividade que o Prêmio Luiz Beltrão vem obtendo da comunidade acadêmica da área justificou, por exemplo, o convênio que a nossa Cátedra, juntamente com a INTERCOM, estabeleceu com a Imprensa Oficial do Estado do Rio Grande do Sul e participação da Editora Sulina para o lançamento do livro “Teoria da Comunicação – Antologia de Pesquisadores Brasileiros”. Essa coletânea organizada por Antonio Hohlfeldt e Maria Cristina Gobbi pretendeu apresentar aos participantes do congresso mundial de ciências da comunicação, promovido pela International Association for Media and Communication Research - IAMCR – reunidos em Porto Alegre (2004) um panorama das idéias cultivadas pelos vencedores do Prêmio Luiz Beltrão em duas categoriais geracionais: jovens doutores e cientistas nacionalmente legitimados. *
Doutora e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo. Diretora Suplente da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. Coordenadora de Documentação e Publicação e do Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano José Marques de Melo, da Cátedra Unesco. Professora do Lato Sensu em Comunicação e da Graduação na mesma instituição. Editora do JBCC - Jornal Brasileiro de Ciências da Comunicação, e do Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional. E-mail: mcgobbi@terra.com.br.
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Essa iniciativa ensejou uma demanda natural por parte dos estudiosos da comunicação que aprenderam a valorizar o patrimônio intelectual verdeamarelo. Eles querem conhecer também o ideário construído pelo patrono do certame anual promovido pela INTERCOM, uma vez que as poucas obras de autoria de Luiz Beltrão em circulação no mercado editorial focalizam a Folkcomunicação, sua principal contribuição à teoria da comunicação. Em função disso e considerando que o décimo aniversário da Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação ocorre justamente no Ano Luiz Beltrão, instituído pela INTERCOM, entendemos que a melhor maneira de celebrar esse acontecimento seria divulgar um panorama do ideário beltraniano não disponível para consulta nas bibliotecas. As linhas mestras do pensamento de Luiz Beltrão estão contidas nos dois conjuntos de ensaios que ele escreveu sobre teoria da comunicação e teoria do jornalismo. Contudo, essas anotações e reflexões se desenvolveram paralelamente, sem indicadores explícitos que relacionem o plano epistemológico ao território empírico. Esta é a razão pela qual decidimos buscar em sua obra dispersa, geralmente publicada sob a forma de palestras, conferências ou artigos para periódicos acadêmicos, a argamassa intelectual que permite construir uma ponte entre as duas vertentes do legado beltraniano. Para tanto, o professor José Marques de Melo, organizador da coletânea que ocupa todo o espaço desta edição do Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, decidiu revisitar a produção conjuntural ou episódica de Luiz Beltrão disponível no Acervo do Pensamento Comunicacional LatinoAmericano, selecionando aqueles textos que lhe pareceram elucidativos. Esta é a contribuição que a Cátedra Unesco/Metodista traz à comunidade acadêmica brasileira, abrindo com chave de ouro as comemorações do seu décimo aniversário. Seu lançamento se dá exatamente no dia em que se realiza , no campus Rudge Ramos, em Bernardo do Campo, o simpósio “Pensamento Comunicacional Brasileiro: o pioneirismo de Luiz Beltrão” (23 de maio de 2006). Para a consecução desta obra tivemos a participação decisiva dos estagiários Bruno César Cova Galhardi e Talita Kubinhetz Barros Itabaiana, bem como da assistente acadêmica Damiana Rosa de Oliveira, que se encarregaram das tarefas de digitalização dos textos originais, sua adaptação editorial, bem como da transcrição e revisão daqueles que foram registrados sob forma datilográfica ou mecanográfica. Registramos também o nosso agradecimento ao Escritório Regional da UNESCO para a América Latina, sobretudo ao Conselheiro Regional de
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Comunicação, Andrew Radolf, que aportou recursos financeiros para viabilizar a presente publicação. Finalmente, incluímos o nosso reconhecimento à ajuda da diretora da Editora Metodista, Léia Alves de Souza, bem como da diagramadora Maria Zélia Firmino de Sá e do ilustrador gráfico Cristiano Freitas, que ajudaram a concretizar este projeto, apesar da exigüidade de tempo. Eles encarnam o testemunho vivo de que a boa vontade remove obstáculos aparentemente intransponíveis e o espírito de cooperação cimenta o caminho que conduz ao êxito institucional. Como se trata da edição comemorativa deste Anuário, vale a pena contextualizar o veículo no quadro de desenvolvimento da Cátedra Unesco/ Metodista. Para se ter um breve panorama desse histórico, vale fazer uma restrospectiva dessas edições, ainda que de forma breve. A primeira, publicada em 1997, reúne dois tipos de exposições, como afirma o professor Marques de Melo em seu texto de apresentação: 1) Ensaios: escritos por catedráticos convidados para lecionar no campus da Universidade Metodista, no ano de 1996. São os trabalhos: El sistema español de comunicaciones: estructura, formación de los professionales e investigación; La liberalización de las telecomunicaciones en México e Comunicação e transferência de tecnologia agrícola, dos professores Manuel Pares i Maicas (Espanha), Carmen Gómez Mont (México) e Juan Díaz Bordenave, (Paraguai), respectivamente; 2) Monografias: foram elaboradas por onze profissionais e pesquisadores que freqüentaram o I Curso de Comunicação para o Desenvolvimento, atualmente Regiocom. Completando o volume estão descritas as informações sobre as atividades desenvolvidas pela Cátedra em seu primeiro ano. Os textos, dessa primeira edição, refletem o estágio inicial da Cátedra Unesco, “com a intenção de gerar um corpo sistemático de conhecimentos sobre os fenômenos da comunicação regional”, desencadeando “(...) ações intelectuais que contribuam para fomentar o desenvolvimento de projetos” na área1. O segundo volume, disponibilizado em 1998, evidencia os dois eixos de atuação da Cátedra Unesco/Metodista no período. Foram eles: diversidade cultural e mega-região. Nesse cenário de discussões, fruto de trabalhos apresentados durante o Simpósio sobre Comunicação Regional e Identidade Cultural, realizado na cidade de Glasgow, Escócia, estão as reflexões de John 1
O texto completo da apresentação pode ser consultado no Anuário Unesco/ Metodista de Comunicação Regional – 1977, editado pela Universidade Metodista de São Paulo e disponível no Acervo do Pensamento Comunicacional LatinoAmericano “José Marques de Melo”. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 9-22, jan/dez. 2006
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Sinclair (Austrália); Margarida Ledo Andión (Espanha); Thomas Tufte e Nilda Jaks (Dinamarca e Brasil), Ada Cristina Machado Silveira (Espanha/Brasil), Lucia Castellón e Carlos Araos (Chile), Florence Toussaint (México), Juçara Brittes; José Marques de Melo, Roberto Benjamin, Fátima Aragão e Célia Maria Cassiano (Brasil). Também podemos encontrar resultados de pesquisas que refletem o fortalecimento da História da Comunicação Regional, decorrência do seminário sobre História da Comunicação, realizado no Recife, dos workshops sobre Pesquisa em Comunicação; apresentados durante o Seminário Internacional de Jornais Diários, que ocorreu em Brasília e do painel sobre o Estado da Pesquisa em Comunicação no Mercosul, no campus da Universidade Metodista de São Paulo. São os trabalhos de Célia del Palácio Montiel (México), Ana Carolina Rocha Pessoa Temer, José Marques de Melo e Adolpho Queiroz (Brasil); Cristina Baccin (Argentina), Érick Torrico (Bolívia) e Aníbal Orué Pozzo (Uruguai). Fechando a publicação está a Memória da Cátedra Unesco, texto escrito por Maria Cristina Gobbi, que faz um resgate das atividades realizadas no ano de 1998. A terceira edição, do ano de 1999, como afirma José Marques de Melo em sua apresentação, é mais abrangente. Dividida em três blocos, contempla conteúdos que mostram as mutações midiáticas, mais especificamente sobre a mídia e a contemporaneidade; as relações entre comunicação, região e desenvolvimento e finalmente, trazendo um diagnóstico sobre o ensino de comunicação e o mercado de trabalho no Brasil. Essas reflexões podem ser encontradas nos trabalhos de Marialva Barbosa, Tereza Lucia Halliday, Maria Cristina Gobbi, Adriano Koeller, Mônica Manfrini, Wilson de Oliveira Gomes e Valdir Boffetti (Brasil), José Miguel Pereira (Colômbia), Ana Maria Álamo Hernandez (Paraguai), Luiz Ignácio Sierra Gutiérrez (Colômbia), Suzana Espinosa Cruz e Geraldo Novo Espinosa de los Monteros (México), Joaquim Moreno Aguilar (Equador) e Maria de Jesus Sierra Celin (Colômbia). E finalmente o resgate da memória daquele ano pode ser vislumbrado no texto de Maria Cristina Gobbi. No volume, editado em 2000, quarto da série, estão os resultados de duas pesquisas realizadas por redes internacionais de investigadores. Uma delas é o estudo mega-regional “O Mercosul na Imprensa do Mercosul”, e a outra é a pesquisa que dá continuidade à série sobre as identidades culturais brasileiras nesta conjuntura de globalização – “Imagens midiáticas do Carnaval Brasileiro”. Assim, neste volume pode ser encontrado o perfil do Mercosul a partir da Imprensa do Mercosul, que mostra os resultados da pesquisa realizada pela
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Rede Mercosul, que engloba os países Argentina (Gustavo Cimadevilla, Maria Angélica Carlosena, Liliana Guiñazú e Liliana Llobet - Universidad Nacional de Rio Cuarto), Bolívia (Erick Torrico e Carolina Herrera Miller – Universidad Simon Bolívar), Brasil (José Marques de Melo, Anamaria Fadul, Antonio de Andrade e Maria Cristina Gobbi – Universidade Metodista de são Paulo), Chile (Lúcia Castellón A. e Carlos Araos – Universidad Diego Portales), Paraguai (Anibal O. Pozzo – Universidad Autonoma de Asunción) e Uruguai (Roque Faraone – Facultad de Humanidades y Cs. de la Educación). As Imagens midiáticas do Carnaval Brasileiro na Impressa Brasileira (Samantha Castelo Branco) e Imprensa do Exterior (Joseph Luyten), ambos da Universidade Metodista de São Paulo. Além dos projetos e parcerias da Cátedra Unesco com outras instituições acadêmicas, resultando numa fonte bastante ampla de pesquisa que podem ser encontrados nos texto: A History of Communication Scholarship in Brazil, Comunicação Intercultural: 500 anos de mestiçagem luso-afro-ásio-brasileira, Folkcom: ampliando fronteiras, Prêmio Luiz Beltrão e Redescobrindo o Brasil: Cem anos de Conhecimento Midiático Brasileiro; Do ComSalud ao COMSAÚDE; Televisão na América Latina; Celacom’2000: Contribuições Brasileiras ao Pensamento Comunicacional Latino-Americano, dos pesquisadores José Marques de Melo, Isaac Epstein, Sandra Reimão, Daniel Galindo e Maria Cristina Gobbi. Na edição de número 5 do Anuário Unesco, do ano de 2001, a ênfase recaiu sobre os resultados da pesquisa “Festas populares como processos comunicacionais”. Esses trabalhos, realizados pelo mutirão intelectual denominado Rede Brasileira de Folkcomunicação – Rede FolkCom.- foram apresentados durante a IV Conferência Brasileira de Folkcomunicação Folkcom´2001 -, que ocorreu na cidade de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul. A primeira parte do volume resgata o pensamento de Luiz Beltrão, pioneiro da pesquisa científica sobre os fenômenos comunicacionais nas universidades brasileiras. São os trabalhos de Roberto Benjamin, Antonio Hohlfeldt e Cristina Schimidt. A segunda parte está dedicada ao Carnaval, em uma perspectiva intercultural, comparando suas identidades nos territórios fronteiriços entre o Brasil, o Paraguai e a Bolívia. São as pesquisas de Marlei Sigrist (Brasil), Vicente Brunetti (Paraguai) e Marcelo Guardiã Crespo (Bolívia). A terceira seção oferece um panorama monográfico. Trata-se de uma amostragem da pesquisa realizada no ano de 2001, com participação de estudiosos de várias regiões. Os trabalhos selecionados indicam a diversidade cultural brasileira,
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de norte a sul, de leste a oeste; bem como de dois países latino-americanos (Argentina e México). Nela estão as investigações de José Marques de Melo, Analaura Corradi, Osvaldo Meira Trigueiro, Daniel Galindo, Benalva da Silva Vitório e equipe, Antonio Teixeira Barros (Brasil), além de Jorge Gonzávez (México) e Mariana Speroni (Argentina). O último item da publicação mostra as parcerias realizadas entre a Cátedra Unesco/Metodista, e pesquisadores, instituições e universidades não só do Brasil, mas dos principais países da América Latina, Europa e Estados Unidos. Trata-se de um relato documento das ações desenvolvidas no período de 1996-2001, descrito no texto de Maria Cristina Gobbi e Márcia Barbosa Velasques. A edição de número 6 do Anuário Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional privilegiou o conjunto de atividades realizadas durante o ano de 2002. São frutos de reflexões apresentadas por pesquisadores de todo o Brasil. Na primeira parte do volume encontramos oito textos que resgatam algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2002. Os trabalhos de Jan Servaes (Bégica) e Cicília Peruzzo (Brasil) retratam as discussões ocorridas durante o VII Regiocom, que teve como tema Mídia Local e foi realizado em parceria com a Universidade Estadual Paulista – UNESP -, na cidade de Bauru, São Paulo, no mês de julho. Os textos de Antonio Hohlfeldt e Osvaldo Meira Trigueiro (Brasil) foram apresentados durante a V Conferência Brasileira de Folkcomunicação – Folkcom -, realizada na cidade de Santos, no mês de maio, em parceria com a Universidade Monte Serrat - UNIMONTE –, e teve como tema central a Imprensa do Povo. Os trabalhos de Elizabeth Gonçalves, Maria Cristina Gobbi e Antonio Teixeira Barros (Brasil) foram apresentados durante o VI Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação – Celacom –, ocorrido na cidade de Adamantina, São Paulo, em parceria com a Faculdades Adamantinenses Integradas – FAI –, no mês de outubro, que teve como tema central A participação da mulher nos estudos comunicacionais Latinoamericanos. Finalmente as pesquisas de Murilo C. Soares, Ivanise A. P. Milanez, Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes e Ariane Diniz Holzbach (Brasil) foram apresentandos durante a V Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde ComSaúde -, que tratou do tema Saúde Pública na agenda midiática, realizada na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de outubro. A seção Documentos está dedicada para dois dossiês da Cátedra Unesco/Metodista. Os levantamentos feitos por José Marques de Melo, Reinforcing multiculturalism: Latin American strategy to face globalization e Reflexão permanente: o papel articulador da Cátedra Unesco/Umesp, de
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Maria Cristina Gobbi traçam um panorama das atividades desenvolvidas pela Cátedra, durante os seis primeiros anos de existência, 1996-2002. Na terceira parte da publicação – Memórias - encontramos textos que fazem um resgate dos eventos realizados pela Cátedra Unesco/Metodista, com o Apoio da Universidade Metodista de São Paulo e da Faculdade de Comunicação Multimídia, em parceria com outras instituições do país. São eles: VII Regiocom destaca a mídia local, de Carla Pollake da Silva e Eliana Martins Marcolino; V Folkcom aponta caminhos e perspectivas, de Maria Isabel Amphilo Rodrigues de Souza e Marla Cristiane Araújo Medeiros; As mulheres dão o tom no VI Celacom, de Arquimedes Pessoni, V Comsaúde discute a saúde pública na agenda midiática, de Eliana Martins Marcolino e I Seminário de Marketing Político recuperou projeto de pesquisa da Umesp, de Adolpho Queiroz. Na última parte do Anuário está disponibilizado o Calendário Acadêmico do ano de 2003. A edição de número 7 do Anuário registra o conjunto das atividades desenvolvidas pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, no ano de 2003. Refletem os quatro encontros realizados anualmente, com o apoio da Unesco e da Universidade Metodista de São Paulo. Na primeira parte do volume encontramos quatro textos que resgatam algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2003. O trabalho de Joseph Luyten (Brasil) retrata a maneira e o que motivou a importância da poesia popular nos sistemas de comunicação regional. O texto de Eduardo Rebollo Iturralde (Uruguai) faz uma incursão pelo pensamento crítico uruguaio, iniciado entre os anos de 1930 e 1940, mas só consolidado a partir da década de 1960. Amalia Beatriz Dellamea (Argentina), mostra situação Argentina nos processos de formação de recursos humanos para a divulgação de temas na área de saúde, da pesquisa acadêmica e das vinculações dessas temáticas com a sociedade. A pesquisa de Jorge Pedro Souza (Portugal) desenha os contornos dos sistemas midiáticos regionais e locais, destacando as semelhanças e diferenças entre os mídias, enfatizando as realidades portuguesa e galega. José Carlos Lozano (México) traz uma análise sobre o desenvolvimento do mercado audiovisual latino-americano, avaliando alguns projetos realizados por acadêmicos europeus e norte-americanos. A seção II da publicação apresenta a homenagem prestada pela Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação -, ao seu fundador, o professor José Marques de Melo pelos 30 anos da defesa de sua tese de doutorado, na ECA/USP – Escola de Comunicação e Artes da
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Universidade de São Paulo, sob o título Fatores sócio-culturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil. Seu trabalho foi a primeira tese de doutorado em jornalismo defendida em uma universidade brasileira. Colaboraram nessa seção os professores/pesquisadores: Maria Cristina Gobbi, Sonia Virginia Moreira, Manuel Pares i Maicas, Carlos Eduardo Lins da Silva, Pedro Gilberto Gomes, Juçara Brittes, Ruth Penha Alves Vianna, Adolpho Queiroz, Cicilia M. Krohling Peruzzo e Ana Carolina Temer Pessôa A terceira etapa do Anuário revela as ações desenvolvidas pela Cátedra no ano de 2003, bem como relata a posse do novo Comitê Acadêmico, triênio 2003/2005. A seção Memória mostra as ações desenvolvidas durante o ano de 2003, na perspectivas dos pesquisadores que participaram dos eventos. Podemos encontrar os textos de Soraya Lódola de Moraes Góis, Carla Tôzo, Marília Cecília Guirado, Gabriela Mangelardo, Eliana Marcolino, Fabiana Franco e Adolpho Queiroz. O último item deste volume expõe, através do Calendário para o ano de 2004, a diversidade de atuações prevista para serem realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista durante o ano de 2004. A edição de número 8 do Anuário registra o conjunto das atividades desenvolvidas pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, no ano de 2004. Na primeira parte do volume encontramos três textos que mostram temas na área da Comunicação, Desenvolvimento e Identidades Culturais. São trabalhos: The Context of Communication for Development, 2004, Information Society: the Marrakech Declaration e La Investigación de la Comunicación y del Periodismo Preservando Identidades Culturales en el Panorama de la Globalización Mediatica, de James Deane, Orbicom e Manuel Parés i Maicas, respectivamente. A seção II resgata algumas das discussões que permearam os eventos realizados em 2004. São eles: Some Observations On A Contemporary ‘Denial of Access’: Knowledge, IPR and the Public Good, apresentado no Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação – Celacom’2004. A imagem da política e dos políticos na perspectiva da Folkcomunicação: uma abordagem exploratória foi o tema de abertura da Conferência Brasileira de Folkcomunicação - Folkcom’2004; no Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional – Regiocom’2004 –, o trabalho Imaginário Paulista: um olhar sobre o caipira do Estado de São Paulo, e, finalmente, a pesquisa A divulgação científica na obra de Josué de Castro, foi mostrada durante a Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde – Comsaúde’2004. São os resultados de pesquisas realizadas por Pradip Thomas (Reino Unido), Antonio Holfeldt, Valderez Helena Gil Junqueira e José Marques de Melo (Brasil),
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A seção III apresenta a homenagem prestada pela Rede Folkcom e pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional ao Pesquisador Antonio Hohlfeldt (Brasil). A intenção do idealizador do Prêmio, professor José Marques de Melo, foi o de estimular a iniciação científica. O resultado dessa iniciativa pode ser verificado através dos textos O Prêmio e o Patrono, e Incentivos à Pesquisa Folkcomunicacional. Também estão disponibilizados os trabalhos premiados. Na Categoria Nacional: Cultura Popular rompe fronteiras através das legendas de caminhões, que ganhou o primeiro lugar. Mensagens eróticas de banheiro: histórias reais da vida privada que ficou com o segundo lugar. Na Categoria Regional o primeiro lugar foi para a pesquisa AbAiXo a DiTaDuRa da MíDia!: Pichações e grafites e as tensões políticas da sociedade portoalegrense em 2004. A pesquisa Bambas da orgia e imperadores de samba: o carnaval de Porto Alegre e a Folkcomunicação ganhou o segundo lugar. A seção de Documentos mostra as ações desenvolvidas durante o ano de 2004. A parte V – Memória – faz um panorama na perspectiva dos pesquisadores que participaram dos eventos realizados pela Cátedra Unesco/ Metodista, com o apoio da Universidade Metodista de São Paulo, em parceria com outras instituições do país. São os textos do IX Regiocom, VIII Celacom, VII Comsaúde, VII Folkcom, III Politicom, II Rede Alcar, e I Unescom. O último item deste volume expõe, através do Calendário para o ano de 2005, a diversidade de atuações prevista para serem realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista. Na edição de número 9 do Anuário Unesco podem ser encontradas reflexões apresentadas por pesquisadores de todo o Brasil durante os eventos realizados pela Cátedra Unesco/Metodista, no ano de 2005. Anualmente, com o apoio da Unesco, da Universidade Metodista de São Paulo, a disposição e o empenho de pesquisadores e entidades de todo o país a Cátedra Unesco/ Metodista realiza seis encontros, além da publicação de livros, jornais, revistas etc. Na primeira parte do volume encontramos três textos que tratam da historicidade na área da Comunicação, Desenvolvimento e Identidades Culturais. São os trabalhos: La comunicación para el desarrollo en Latinoamérica: un recuento de medio siglo, de Luis Ramiro Beltrán Salmón, da Universidad Johns Hopkins, Bolivia; Desafíos enfrentados por la Comunicación para el Desarrollo en la emergente Sociedad de la Información, de José Marques de Melo, Cátedra Unesco de Comunicação, Brasil e Desarrollo, ciudadanía, democracia: aportes desde la comunicación, de Washington Uranga, da Universidad Nacional de La Plata, Argentina. A seção
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II - Convergências – Presentación de un dispositivo analizador para diagnóstico e intervención social: dimensiones de Análisis e Intervención Social, Eduardo A. Vizer, University of Buenos Aires, Argentina; Entraves para consolidação dos conceitos digitais, Walter Teixeira Lima Junior, UniFiam/Faam – São Paulo, Brasil; Convergência de Mídia: transformação e futuro, Amyris Fernandez, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil e Comunicação e Gestão do Conhecimento: um elo possível, Eliana de Souza Lima, Embrapa/Puc-Campinas/Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Em Fluxos e Contra-fluxos, III parte do volume, estão os textos Comunicação & Problemas: 40 anos da Revista Pioneira das Ciências da Comunicação no Brasil, de Rosa Maria Dalle Nava, Unimonte/Unipac, Brasil e Conhecimento Midiológico e identidades Brasileiras, Waldemar Luiz Kunsch, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Na IV parte a professora Maria Cristina Gobbi faz um resgate sobre o surgimento da Unesco, que em 2005 comemorou 60 anos de existência, mostrando a importância dos espaços das Cátedras e fazendo um resgate das atividades realizadas pela Cátedra Unesco/ Metodista, que em 2006 comemora 10 anos de existência, através do texto: A Unesco e sua contribuição para a Comunicação: o papel das Cátedras. Finalmente na parte V estão resenhas das atividades realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista no ano de 2005. São os trabalhos: X Regiocom: desafios para os próximos dez anos, Ilka Margot Goldschmidt, Unichapecó, Brasil. IX Celacom: o ideário de Mario Kaplún sobrevive nas utopias e realidades latino-americanas, de Rossana Gaia, Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas, Brasil, André Azevedo da Fonseca, Universidade de Uberaba, Brasil. Saúde do trabalhador na pauta de discussão da VIII Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde, de Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes, UFPE, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.VIII Folkcom: o contagiante envolvimento dos jovens nos estudos da tradição, Elizete de Azevedo Kreutz, Centro Universitário Univates, Brasil. IV Politicom, de Adolpho Queiroz, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil. Marcas originais do III Encontro da Rede Alfredo de Carvalho, de Maria Berenice da Costa Machado, Centro Universitário Feevale e Faculdades de Taquara (Faccat), Brasil. Unescom’2005: mais uma temporada de contribuições às linhas de pesquisa em comunicação da Universidade Metodista, de Bruno César Cova Galhardi, Damiana Rosa de Oliveira, Keila Baraçal e Talita Kubinhetz Barros Itabaiana, da Universidade Metodista de São Paulo, Brasil e Um mutirão pelo fortalecimento da mídia cidadã no Brasil, de Waldemar Kunsch, Universidade Metodista de São Paulo.
APRESENTAÇÃO
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Neste ano de 2006, no qual a Cátedra Unesco/Metodista completa uma década de sua sede no Brasil, mais precisamente, no Campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo, decidimos que o Anuário Unesco/ Metodista nº 10 seria uma edição monográfica, dedicada ao mestre Luiz Beltrão, fazendo uma justa homenagem ao pioneiro dos Estudos em Comunicação no Brasil. Duas efemérides são representativas, em 2006, da trajetória intelectual de Luiz Beltrão. 1) Setenta anos do início de sua carreira jornalística, na cidade do Recife, como repórter do Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal diário em circulação na América Latina e no âmbito da Lusofonia; e 2) Vinte anos do seu falecimento na capital da República Federativa Brasileira, Brasília. Assim, a edição do Anuário Unesco/Metodista nº 10, do ano de 2006, editado pela Universidade Metodista de São Paulo, traz um panorama do ideário legado pelo mestre. São diversos textos publicados por Luiz Beltrão ao longo de sua trajetória profissional e acadêmica. Muitos são trabalhos seminais, outros já apresentam resultados de anos de pesquisa e interação com a comunicação. São reflexões que contemplam mais de 30 anos de dedicação ao entendimento da comunicação e do jornalismo como campos do conhecimento humano, da participação popular, da socialização de conhecimentos e da igualdade de direitos. Esta publicação vem preencher uma lacuna para aqueles estudiosos que buscam na obra de Luiz Beltrão a referência necessária para aprofundar seus estudos e suas reflexões, tendo como identificador um alvitre pioneiro, vasto e fundamentado na práxis comunicativa. O volume está dividido em quatro partes. No texto de introdução Legado emblemático de Luiz Beltrão: facetas a desvendar, trilhas a percorrer, do professor José Marques de Melo, encontramos uma bela reflexão sobre as principais heranças comunicacionais de Luiz Beltrão e os desafios conclamados pelo professor Marques, principalmente, para as novas gerações de pesquisadores e estudiosos da comunicação, no sentido de conhecer mais sobre o autor e sua obra. Na parte I – Teoria da Comunicação, os textos mostram as várias contribuições de Luiz Beltrão para o entendimento e a fundamentação desse campo do saber. São os trabalhos: 1. A comunicação no processo de desenvolvimento, Conferência proferida na NOVACAP, ICINFORM, Brasília (1968); 2. A Galáxia de Gutenberg e a de McLuhan, artigo publicado na revista Comunicações & Problemas (1968); 3. Reflexões sobre a Comunicação de Massa, artigo publicado na Revista de Cultura Vozes (1969); 4. Comu-
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nicação popular e região no Brasil, Conferência proferida no II Congresso da UCBC, Guaratinguetá (1974), capítulo do livro “Comunicação/Incomunicação no Brasil”, São Paulo, Loyola (1976); 5. O folclore como sistema de comunicação popular, Conferência proferida no I Encontro de Folclore da Paraíba (Pombal, 1976). In: Documento NUPPO, Ano I, N. 3, João Pessoa: UFPB (1979); 6. Marketing, Cultura e Comunicação, opúsculo publicado na Série “Textos de Comunicação”, Brasília: ICINFORM (1977) e 7. Processo da Comunicação, capítulo do livro “Temas Básicos em Comunicação”. São Paulo: Paulinas (1983). Em Midiologia – segunda parte do volume – encontramos reflexões referentes ao campo do jornalismo e suas diversas facetas. São os trabalhos: 1. Cadernos de Jornalismo: narrativas de interesse para o exercício profissional, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1965); 2. Aspectos básicos da problemática do jornal interiorano no Nordeste, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1966); 3. Jornalismo pela televisão e pelo rádio: perspectivas, Artigo publicado na “Revista da Escola de Comunicações Culturais”, (1967); 4. O caso dos contratos Time-Life e TV Globo, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1968); 5. Brasil: 50 anos de rádio, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 6. As linhas da imprensa brasileira, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 7. O livro de atualidade, artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1969); 8. Literatura de elite e literatura de massa, artigo publicado na “Revista de Cultura Vozes” (1970) e 9. Da folkcomunicação à folkmídia (1982), capítulo do livro “Pesquisa em Comunicação no Brasil” (1983). Na parte III – Pedagogia da Comunicação -, estão os textos: 1. Aprendizagem das ciências da comunicação em Pernambuco, Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1965); 2. Gênese do Instituto de Ciências da Informação, Discurso na abertura do I Curso Nacional de Ciências da Comunicação. Recife; ICNFORM (1965); 3. La investigación científica de los medios de información (1965), capítulo do livro “Enseñanza de periodismo y medios de información colectiva”, Quito, CIESPAL (1965); 4. Novas diretrizes ao ensino das ciências da comunicação (1967), artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas” (1967); 5. A pesquisa dos meios de comunicação e a universidade, capítulo da coletânea “Panorama atual da pesquisa em comunicação”. São Paulo: FJCL (1968); 6. Estrutura curricular dos cursos de Jornalismo, capítulo da coletânea “O ensino de jornalismo”. São Paulo: ECA-USP (1972); 7. Os programas das escolas
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brasileiras de comunicação: como e onde devem preparar-se os comunicadores rurais, capítulo do livro “Subsídios para uma política nacional de informação rural”. Brasília; Cobir, (1972); 8. Responsabilidades dos Jornalistas na Formação Profissional, capítulo dos “Anais da IX Conferência Nacional dos Jornalistas”. Fortaleza (1973); 9. Problemática do Professor de Comunicação, Comunicação ao I Congresso da ABEPEC. Belo Horizonte (1973); 10. Teoria e Prática do Ensino de Jornalismo: panorama histórico, capítulo da coletânea “Teoria e Prática no Ensino de Jornalismo”. São Paulo: ECA-USP (1974); 11. Para uma nova Pedagogia da Comunicação, artigo publicado na “Revista de Comunicação Social” (1975); 12. A formação do jornalista científico, capítulo do livro “Jornalismo Científico: memória”. São Paulo (1982) e 13. O Ensino de Jornalismo no Nordeste (1984), Artigo publicado nos “Cadernos de Jornalismo e Editoração” (1986). Finalmente, no Apêndice, última parte desta publicação está o texto Portal Luiz Beltrão: vidas paralelas, da professora Dra. Maria Cristina Gobbi, que evidencia a contribuição da Cátedra Unesco/Metodista para a divulgação e projeção do legado de Luiz Beltrão. Não poderíamos encerrar esta Apresentação sem agradecer o apoio constante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), na figura do Diretor do Escritório Regional para a América Latina, Gustavo López Ospina e do Conselheiro de Comunicação, Andrew Radolf. Também à Universidade Metodista, que nesses dez anos de existência da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação, tem apoiado amplamente as diversas atividades propostas por nossa Cátedra. Sem essa colaboração todas as ações empreendidas ao longo desse período não teriam logrado a amplitude que alcançaram. Nosso muito obrigado, então, ao professor Dr. Davi Ferreira Barros, Reitor da Universidade Metodista e aos Vice-Reitores Clovis Pinto de Castro (Acadêmico) e Marcio de Moraes (Administrativo), ao professor Luciano Sathler, Diretor do Centro de Educação Continuada e a Distância, aos diretores das Faculdades de Comunicação: Sebastião Squirra (Facom), Maria Aparecida Ferrari (Fajorp) e Paulo Rogério Tarsitano (Faapt), a Assessoria de Comunicação e Marketing, na figura de Ana Claudia Braun, aos diversos núcleos de pesquisa, aos professores do Pós-Graduação e da Graduação, aos alunos e aos pesquisadores, não só de nossa Instituição, mas aqueles parceiros, representados em todos os Estados Brasileiros, nosso agradecimento especial. Somente com esse trabalho conjunto tem sido possível realizar e difundir não só nacional, mas internacionalmente as
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contribuições do Brasil e em especial do Grupo de São Bernardo aos estudos em Comunicação na América Latina. Nessa década de existência no Brasil a Cátedra Unesco/Metodista não poderia deixar de prestar uma homenagem especial aos pesquisadores que, durante todos esse período, endossam novas atividades formando, assim, a equipe consultiva da Cátedra Unesco/Metodista. Fazemos isso na figura dos professores e profissionais que atualmente integram esse Comitê. São eles: Triênio 2003/2006 – professor Dr. Isaac Epstein e professora Dra. Sandra Reimão - Universidade Metodista de São Paulo (São Paulo - SP); professor Dr. Belarmino César Guimarães da Costa – Universidade Metodista de Piracicaba (Piracicaba – SP); professora Dr a . Sonia Virginia Moreira – Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro – RJ); professora Dra. Desirée Rabello – Universidade Federal do Espírito Santo (Espírito Santo – ES); Jornalista Sérgio Gomes, Diretor da ONG OBORÉ Comunicações e Artes – (São Paulo – SP); Editor Antonio Costella, Diretor da Editora Mantiqueira – (Campos do Jordão – SP). À Equipe Executiva, que está sempre pronta a somar e realizar os projetos propostos, nosso muito obrigado. São eles: Damiana Rosa de Oliveira (assistente Acadêmica); Bruno César Cova Galhardi e Talita K. Barros Itabaiana (Estagiários), sem os quais as coisas seriam muito complicadas de realizar. São Bernardo do Campo, 2 de maio de 2006
INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO LEGADO EMBLEMÁTICO DE LUIZ BELTRÃO: FACETAS A DESVENDAR, TRILHAS A PERCORRER
José Marques de Melo*
Luiz Beltrão converteu-se em ícone nacional da comunicação por seu tríplice pioneirismo: fundador do primeiro instituto universitário de pesquisa (1963), criador da primeira revista científica (1965) e autor da primeira tese de doutorado, nessa área do conhecimento, no Brasil (DUARTE, 2001, p. 127). Tal posição de vanguarda justificou a criação do “Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação”, através do qual a comunidade acadêmica reconhece anualmente o mérito de pessoas ou instituições que demonstram excelência na pesquisa (GOBBI, 2004 pp. 24-27). Ao tomar a iniciativa (1997), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM – quis, prestando uma homenagem ao nosso pioneiro, incentivar as novas gerações a ampliar a fronteira do conhecimento que ele desbravou.
PARADIGMA FOLKCOMUNICACIONAL Nascido em Olinda, Pernambuco (1918) e falecido em Brasília, Distrito Federal (1986), Luiz Beltrão destacou-se academicamente pela “teoria da folkcomunicação” (TRIGUEIRO, 2001, p. 49). Ao pesquisar o impacto da mídia no Brasil ele confirmou o que já havia sido observado em sociedades plenamente desenvolvidas: os “fluxos da comunicação massiva” não se esgotam no ato da recepção direta das mensagens pelas pessoas que constituem as audiências. No entanto, Beltrão percebeu também que a etapa da recepção possuía natureza distinta daquela descrita na “teoria do fluxo em duas etapas” (Lazarsfeld e Katz). A “tradução” das mensagens para os códigos locais não era processada individualmente, por típicos “líderes de opinião”. Sua pesquisa reuniu evidências distintas daquelas observadas nos Estados Unidos. Os conteúdos midiáticos, em zonas brasileiras distanciadas dos centros urbanos ou nas periferias metropolitanas, passavam por leituras grupais ou traduções comunitárias, efetuadas por “agentes coletivos” (BELTRÃO, 2001). *
Diretor-Titular da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.
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Essa descoberta o induziu a concluir que os fluxos pós-recepção integram o “sistema da folkcomunicação”. Responsáveis por transposições de linguagem e adaptações dos significados difundidos pelo “sistema de comunicação massiva”, os agentes populares configuram, segundo seus próprios valores, os “sentidos” efetivamente assimilados pelas audiências “marginalizadas” (BELTRÃO, 2004, pp. 73-88). A tese repercutiu na comunidade acadêmica, suscitando manifestações relevantes como a de Umberto Eco, impressionado com o desenvolvimento autônomo desse processo comunicacional. “As massas do Nordeste informamse através da literatura de cordel, das histórias em quadrinhos em xilogravuras, vendidas nas feiras e distribuídas nas farmácias. (...) Luiz Beltrão me convenceu, com argumentação irrefutável, que não é o rádio, nem a televisão que fornecem as informações. As comunicações através dos folhetos e das histórias em quadrinhos não são, por enquanto, monopólio de ninguém: elas se desenvolvem por si mesmas.” (ECO, 1966). O paradigma construído por Luiz Beltrão fundamentava-se, do ponto de vista antropológico, na concepção dialética do folclore defendida por Edison Carneiro, que o entendia como uma forma ‘“rudimentar” de “reivindicação social” ou como “fruto da resistência oferecida pelas camadas populares” (CARNEIRO, 1965, pp. 15-25). Trata-se de uma perspectiva analítica que produz desdobramentos no segundo ciclo de estudos promovido pela INTERCOM, quando a “teoria das brechas” 1 começa a ganhar densidade. Fica explícita, nesse momento, a dissonância em relação aos pesquisadores que exercitavam “dupla cegueira”. Além de enxergar a mídia com espaço exclusivo de difusão da ideologia das classes dominantes na sociedade, eles “adotam uma atitude de menosprezo em relação aos meios de comunicação das classes subalternas, considerados tão somente como manifestações reacionárias” (MARQUES DE MELO, 1980, p. 11). Não foi sem razão que Jesus Martín-Barbero identificou nos “pioneiros trabalhos de Luiz Beltrão” plena sintonia com a estratégia de pesquisa denominada contra-hegemonia comunicativa, “ao indagar a atualidade e a vigência das formas de comunicação popular na riqueza cultural de suas festas e discursos, tanto rurais como urbanos, religiosos e cívicos, dos signos messiânicos aos políticos, passando inclusive pelos grafitos eróticos e até mesmo pornográficos” (BARBERO, 1999, p. 39). Vinte anos depois da sua morte, o nosso artífice das ciências da comunicação tem sido lembrado principalmente através do aporte folkcomunicacional. 1
A explicitação dessa idéia, que aflora no ciclo da Intercom de 1979, vai ser melhor fundamentada nos ensaios escritos por Anamaria Fadul, Carlos Eduardo Lins da Silva e Luiz Fernando Santoro para o ciclo de 1980.Vide; LINS DA SILVA, Carlos Eduardo (coord.). Comunicação, Hegemonia e ContraInformação, São Paulo: Cortez, 1981, pp. 9-38
INTRODUÇÃO
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Tal ênfase transparece com nitidez em alguns dos seus perfis biográficos (TARSITANO, 1996; MARANINI, 1999) ou em estudos monográficos que resgatam seu legado teórico (CASTELO BRANCO, 1999; BARROS, 2000, p. 145). Ela reflete também a atividade da Rede Brasileira de Folkcomunicação que, desde 1998, vem retomando, revisando e atualizando essa linha investigativa. Os congressos anuais destinados a reunir os estudiosos da disciplina fundada por Luiz Beltrão não apenas avançam o conhecimento empírico, mas repensam criticamente suas matrizes teóricas (BENJAMIN, HOHLFELDT e SCHMIDT, 2002). Elas suscitam igualmente apropriações consentâneas com o novo “espírito do tempo”, como a que foi liderada por Sebastião Breguez (2004). No bojo desse mutirão intelectual foram publicadas várias obras de sua autoria. A versão integral da tese de doutorado circulou através da Editora da PUCRS (BELTRÃO, 2001), incluindo o capítulo inicial que fora retirado da edição primitiva da Editora Melhoramentos (BELTRÃO, 1971). Textos que embasam suas concepções sobre os fluxos bidirecionais entre mídia e cultura popular foram reunidos pela Editora Metodista na antologia “Teoria e Metodologia da Folkcomunicação” (BELTRÃO, 2004). VARIÁVEIS EXPLORADAS Uma das explicações plausíveis para esse tipo de reducionismo pode ser a inacessibilidade da obra escrita por Luiz Beltrão, como a de tantos outros pensadores brasileiros. Até mesmo a reedição do seu trabalho seminal “Iniciação à Filosofia do Jornalismo”, incluído na Coleção “Clássicos do Jornalismo Brasileiro”, lançado pela Editora da Universidade de São Paulo (1992), encontra-se esgotada. Ausente das prateleiras das livrarias, sua bibliografia é consultada apenas pelos estudiosos do pensamento comunicacional que transpõem os umbrais das bibliotecas especializadas. Incluem-se evidentemente nessa categoria aqueles que começam a explorar outras dimensões do seu percurso intelectual. As distintas facetas de Luiz Beltrão podem estimular sua redescoberta. Motivados pela curiosidade de saber quem foi e qual o legado do pioneiro nacional de ciências da comunicação, os jovens pesquisadores certamente vão reivindicar o acesso às fontes. Nesse sentido, vale a pena fazer um balanço do acervo bio-bibliográfico a ele referente, complementando o inventário preliminar feito no ensaio publicada em meu livro História do Pensamento Comunicacional (MARQUES DE MELO, 2003). A principal fonte biográfica é sem dúvida a coletânea organizada por Roberto Benjamin (1998), reunindo um conjunto elucidativo de depoimentos sobre o autor. Precedido do esboço da sua história de vida, esse livro oferece pistas para quem quiser prosseguir através das “picadas” que ele abriu generosamente. Mas quem desejar conhecer seu perfil sentimental, deve recorrer ao testemunho afetivo escrito pela esposa Zita de Andrade Lima (1999).
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Há um conjunto de trabalhos que exploram variáveis éticas ou estéticas. As matrizes filosóficas em que se fundamentou empiricamente para esboçar uma teoria do jornalismo foram resgatadas por Fátima Feliciano (1993). Suas estratégias metodológicas para configurar uma teoria brasileira da comunicação foram esboçadas por Jorge Duarte e Antonio Barros (2004). A faceta de escritor foi analisada por Antonio Hohlfeldt (2004), através de uma perspicaz exegese literária dos seus romances, contos e novelas. Outro bloco resgata o protagonismo institucional, focalizando aqueles espaços acadêmicos que ele criou e dinamizou. A significação do ICINFORM, primeiro instituto universitário de pesquisa comunicacional do Brasil mobilizou a atenção de Maria Luiza Nóbrega (2000) e Maria das Graças Targino (2000). A estrutura e a agenda temática da revista”Comunicações & Problemas” suscitaram o interesse de Rosa Nava (2003), que demonstrou seu pioneirismo editorial, elucidando os modelos forâneos que o inspiraram academicamente. Os confrontos e as correlações possíveis entre o legado beltraniano e as matrizes culturalistas, tanto as cultivadas pelos folcloristas nacionais quanto as preferidas pelos mediacionistas latino-americanos, estão bem tecidos por Mariana Mesquita (2000) e Cristina Schmidt (2004). Persistem, contudo, facetas a desvendar e trilhas a percorrer, com a finalidade de discernir melhor a contribuição intelectual de Luiz Beltrão para o campo da comunicação. AGENDA INVESTIGATIVA Como sujeito comunicacional, a primeira incógnita de sua trajetória reside na atuação jornalística. Pouco se conhece a respeito dessa fase inicial. Seus registros biográficos atestam que ingressou na atividade pelas páginas do Diário de Pernambuco, onde publica a primeira reportagem no dia 16 de dezembro de 1936. Ele fez o aprendizado do ofício noticioso com o legendário jornalista Aníbal Fernandes, permanecendo no “mais antigo jornal diário da América Latina” até 1942. Transferiu-se, a seguir, para a Folha da Manhã, jornal de sustentação política do então Governador Agamenon Magalhães. Ali trabalha durante vários anos, ocupando a secretaria de redação da edição vespertina, dirigida às classes populares, no período 1948-1951. A seguir, exerceu a profissão nas agências de notícias Asapress e France Presse, na Rádio Clube de Pernambuco e nas sucursais de vários jornais brasileiros. Em 1960 fez opção preferencial pela carreira acadêmica, assumindo a direção do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Que tipo de jornalismo praticou Luiz Beltrão? Quais as relações existentes entre os temas das suas reportagens e os objetos de estudo que o consagrariam como pesquisador acadêmico? Em que medida sua prática jornalística repercute no conteúdo da obra publicada? Está evidente, por exemplo, o “reducionismo
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jornalístico” da sua formulação embrionária do paradigma da folkcomunicação. Qual a correlação que se pode estabelecer entre o jornalismo que aprendeu no batente e aquele que ensinou na universidade? Como o jornalismo do seu tempo está refletido na literatura que produziu? Os únicos indicadores capazes de permitir a reconstituição dessa faceta são o livro de reportagens Itinerário da China ( 1959), enfeixando as matérias publicadas na imprensa recifense, no seu ocaso profissional, e também o livro de crônicas Memórias de Olinda (1996), em que exercitou fértil memorialismo, no seu ocaso existencial. O primeiro reflete o período em que simpatizou com o socialismo, motivado pelas viagens à chamada “cortina de ferro”. O segundo traduz a fase de reencontro com as raízes culturais, numa conjuntura marcada pelo ostracismo acadêmico a que foi condenado, em parte pela transgressão ideológica cometida naquela outra obra e em parte pela imobilidade corpórea, resultado da trombose que o retirou de circulação, estimulando o exercício do fértil saudosismo. Outra faceta a desvendar tem íntima relação com a precedente. Trata-se do seu protagonismo internacional. Luiz Beltrão lançou-se na arena mundial do jornalismo e da comunicação em 1956. Ele representou a comunidade brasileira no I Encontro Internacional de Jornalistas, promovido pela Organização Internacional dos Jornalistas - OIJ, em Helsinki, Finlândia. Participaria, nos anos seguintes, de vários congressos de jornalistas, na Europa, Ásia e nas Américas, integrando a delegação da Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, entidade em que atuou desde 1958, representando os jornalistas pernambucanos. Poucos anos antes ele fora convidado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos das América para visitar aquele país, na categoria de “grant leader”. Sua projeção culminou, em 1969, com a eleição para presidir a Unión Latinoamericana de Periodistas Católicos (ULAPC), prosseguindo nos anos seguintes com inúmeros convites para ministrar cursos e conferências em universidades européias e americanas. Apesar de Jorge Duarte (2001) haver levantado a ponta do iceberg, a incursão de Luiz Beltrão pelo campo das Relações Públicas merece aprofundamento. Comissionado em 1946, como funcionário da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco, ele desenvolveu atividades de relacionamento com a imprensa. Esse trabalho típico de Relações Públicas, que exercitara precocemente no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Pernambuco, Beltrão continuaria a desempenhar até sua aposentadoria, tendo prestado serviços à Assembléia Legislativa de Pernambuco (Recife), à Fundação Nacional do Índio (Brasília) e à Associação Comercial de Pernambuco, dentre outras instituições. A experiência acumulada nessas funções foi posteriormente sistematizada nos cursos de Relações Públicas que ele ministrou no Centro Pernambucano de Relações Públicas (1963), Centro Paraibano de Relações Públicas (1964) e no Centro de Estudos Universitários de Brasília (anos 70), resultando desta última experiência um texto-didático (inédito).
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Convém anotar, a esse respeito, a observação feita por Benjamin (1998, p. 107) sobre a vocação inata de Luiz Beltrão para atuar como artífice da imagem institucional dos projetos com que estava comprometido. Ele menciona dois exemplos que testemunhou pessoalmente: as imagens construídas do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco e da revista “Comunicações & Problemas”, responsáveis pelo êxito que imediatamente granjearam. Trilha preciosa a ser percorrida é sem dúvida o seu vanguardismo investigativo. Luiz Beltrão publica em 1976 a obra que o situaria na liderança dos estudos sobre o jornalismo brasileiro. Trata-se do livro “Jornalismo Interpretativo”, lançado pela Editora Sulina de Porto Alegre, através do qual ele supera a dicotomia entre teoria e prática contida em suas obras anteriores. Ao invés de privilegiar as reflexões teóricas iniciadas na “Iniciação à Filosofia do Jornalismo” (1960) ou de resgatar a prática jornalística hegemônica, como ocorreu em “A Imprensa Informativa” (1969), Beltrão recorre à metodologia do jornalismo comparado para compreender as técnicas de interpretação jornalística assimiladas pelo Jornal da Tarde de São Paulo, a partir do modelo norte-americano de interpretative journalism. A inovação investigativa ali evidente consiste na adoção da pesquisa aplicada, um tipo de estudo que pretende retirar das observações empíricas generalizações teóricas passíveis de uso na prática profissional. Nessa instigante pesquisa, feita para subsidiar um curso sobre a nova disciplina, ministrado a convite da PUC do Rio Grande do Sul, o autor comprovou a validade do referencial metodológico que antes exercitara na Fundação Nacional do Índio – FUNAI. E o fizera com evidente intenção pragmática, comparando o noticiário de distintos jornais. Os indicadores dessa pesquisa estão divulgados no livro “O Índio, um mito brasileiro” (Rio, Vozes, 1977). Quero anotar também uma variável da sua história de vida à espera de discernimento histórico. Refiro-me ao seu apogeu intelectual. Luiz Beltrão lança em 1986 o último volume da trilogia sobre teoria da comunicação. Trata-se da obra “Subsídios para uma teoria geral da comunicação de massa” (São Paulo, Summus), que dá seqüência ao conjunto iniciado com “Fundamentos Científicos da Comunicação” (Brasília, Thesaurus, 1973) e continuado com “Teoria Geral da Comunicação” (Brasília, Thesaurus, 1977). O grande intervalo que separa a obra terminal dos volumes predecessores explica-se pela aura de consagração intelectual que vivenciou Beltrão no seu último decênio. Em 1978 ele foi alvo de homenagem prestada por seus discípulos e ex-alunos durante o VII Congresso Brasileiro de Comunicação Social (Bragança Paulista, São Paulo), que realizaram um balanço crítico de sua obra comunicacional. Nessa mesma conjuntura foi eleito para a Academia Brasiliense de Letras, o que traduzia o reconhecimento público da sua obra literária.
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Quando estava escrevendo a parte final do seu legado teórico, já afastado do trabalho docente, Beltrão foi surpreendido por um acidente vascular cerebral que o imobilizou fisicamente. Tanto assim que aquela obra somente foi concluída com a ajuda e a colaboração do discípulo e assistente Newton de Oliveira Quirino, que a assina como co-autor. Tranqüilizado pelo sentimento da missão cumprida, ele faleceu em Brasília, no dia 24/10/1986. Alguns anos depois seriam editados seus livros memorialísticos “Contos de Olanda” (1989) e “Memória de Olinda” (1996). Finalmente creio indispensável retomar uma pista que vislumbrei em 1984, quando Luiz Beltrão recebeu das mãos da Ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz o diploma de Pioneiro do Ensino de Jornalismo no Brasil. O depoimento que fez naquela solenidade continha uma pauta das suas ousadias pedagógicas e do seu tirocínio educacional (Marques de Melo, 1991). Passadas duas décadas daquele evento, os referentes ali sugeridos permanecem inexplorados. O livro que reúne suas aulas de metodologia do ensino de jornalismo (Beltrão, 1963) nunca foi traduzido para a língua portuguesa e tampouco analisado do ponto de vista didático. Da mesma forma, as estratégias pedagógicas que Beltrão engendrou em situações de penúria orçamentária ou de conflito institucional poderiam alicerçar soluções pragmáticas para muitas das deficiências que continuam a afligir docentes e discentes em nossas universidades. Bastaria alguém debruçar-se sobre as idéias que ele adotou, em momentos de crise ou em situações de normalidade escolar, identificando o que se tornou peça histórica e o que continua válido para os dias de hoje. INVENTÁRIO DE FONTES O acervo bibliográfico de Luiz Beltrão foi preliminarmente inventariado por Tereza Halliday (1998), que o subdividiu em quatro grupos, aqui atualizados para incluir os lançamentos recentes: 1) Ficção – Estreando em 1950 com o romance Os senhores do mundo, Beltrão publicaria mais dois livros do mesmo gênero – A serpente no atalho (1974) e A greve dos desempregados (1984) – além de dois volumes de contos – Quilômetro Zero (1961) e Contos de Holanda (1989). 2) Jornalismo – A produção jornalística contempla distintas vertentes: empírica – Itinerário da China (1959) e Memória de Olinda (1996) -, teórica – Iniciação à Filosofia do Jornalismo (1960, 1992), – didática – Métodos em la Enseñanza de la Técnica del Periodismo (1963), Técnica de Jornal (1964), A imprensa informativa (1969), Jornalismo Interpretativo (1976), Jornalismo Opinativo (1980) e aplicada – O índio, um mito brasileiro (1977). 3) Folkcomunicação – São basicamente dois livros: Comunicação e Folclore (1967), ampliado e reeditado com o título Folkcomunicação (2001), e Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados (1980).
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4) Teoria da comunicação – Este conjunto se divide em dois segmentos: ensaios teóricos – Sociedade de massa: comunicação e literatura (1972) - e manuais didáticos – Fundamentos Científicos da Comunicação (1973), Teoria Geral da Comunicação (1977, 1982), Teoria geral da comunicação de massa (1986). Ele deixou também um vasto acervo hemerográfico, constituído por inúmeros artigos dispersos em revistas especializadas. Integram ainda o seu legado vários ensaios, depoimentos e outros gêneros, publicados em anais, antologias, apostilas, ou textos que podem ser considerados inéditos porque reproduzidos através de tecnologias que ensejam circulação restrita (xérox ou cópia em carbono). Tendo em vista que, após a morte de Beltrão, seu patrimônio documental não foi preservado unitariamente, o acervo dos inéditos e dispersos ainda não foi devidamente inventariado. Uma parte se encontra na biblioteca pública de Brasília que foi batizada com o seu nome. O restante ficou atomizado nas instituições em que ele atuou ou foi doado pelas família a discípulos e amigos. A Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação vem tentando recuperar esse rico manancial, disponibilizando-o para consulta direta no Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano “José Marques de Melo” (APCLA) (localizado no campus Ruge Ramos, em São Bernardo do Campo) ou para leitura a distância no “Portal Luiz Beltrão”, mantido em parceria com a INTERCOM –www.metodista.br/unesco/luizbeltrao Na tentativa de ampliar a difusão da obra dispersa de Luiz Beltrão, a Cátedra UNESCO/Metodista já promoveu a publicação do livro Folkcomunicação: teoria e metodologia (São Bernardo, 2004), que tem sido muito útil, ao introduzir os novos pesquisadores nesse segmento da produção intelectual do autor. Para comemorar seus 10 anos de atividades, toma agora a iniciativa de reunir nesta edição especial do Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional o dossiê Teoria da Comunicação no Brasil: As idéias pioneiras de Luiz Beltrão. Estão enfeixados aqui alguns textos fundamentais para embasar novas incursões no legado comunicacional do pensador brasileiro. A primeira parte inclui fontes essenciais para a compreensão do seu diálogo com as diversas correntes teóricas e com os autores paradigmáticos que codificaram os processos sociais de comunicação. A segunda parte é constituída por textos que encerram suas observações e reflexões de natureza midiológica, ou seja, focalizando exclusivamente o sistema de comunicação de massa. Finalmente, na terceira parte, está reunida uma seleção das suas anotações críticas sobre a pedagogia da comunicação ou resgatando suas próprias experiências didáticas. Pretende-se, desta maneira, subsidiar o trabalho dos que decidam enveredar pela agenda investigativa antes sugerida ou procurar dimensões inovadoras do pensamento polifacético de Luiz Beltrão. Muitas das trilhas que ele abriu permanecem inexploradas. Algumas, embora desvendadas, continuam suscitando aprofundamento, complementação, contextualização.
INTRODUÇÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRADE LIMA, Zita. Luiz, companheiro de ofícios e sonhos. Brasília: Thesaurus, 1999 BARBERO, Jesus Martín-. Lo que la investigación latinoamericana de comunicación debe al Brasil, In: LOPES, Maria Immacolata V. de (org). Vinte anos de ciencias da comunicação no Brasil: avaliação e perspectivas. São Paulo: INTERCOM, 1999, pp. 31-48 BARROS, Antonio Teixeira de. Relações Públicas e Folkcomunicação: reflexões à luz da teoria da ação comunicativa, Comunicação & Sociedade, 34. São Bernardo do Campo: Metodista, 2000, pp. 145-159 BELTRÃO, Luiz. Metodologia en la Enseñanza de la Técnica del Periodismo. Quito: CIESPAL, 1963. BELTRÃO, Luiz. Comunicação e Folclore. São Paulo: Melhoramentos, 1971. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: teoria e metodologia. São Bernardo do Campo:Metodista, 2004. BENJAMIN, Roberto. Itinerário de Luiz Beltrão. Recife: UNICAP, 1998. BENJAMIN, Roberto. Expandindo a proposta da obra fundadora. IN: Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, n. 5. São Bernardo do Campo: Metodista, 2001, pp. 17-24 BREGUEZ, Sebastião. Folkcomunicação: resistência cultural na sociedade globalizada. Belo Horizonte: INTERECOM, 2004 CARNEIRO, Edison. Dinâmica do folclore.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. CASTELO BRANCO, Samantha. Luiz Beltrão: da criação do ICINFORM à teoria da folkcomunicação, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Umesp,1999, pp. 193-212. DUARTE, Jorge. Luiz Beltrão, um autodidata abrindo picadas no campo da Comunicação. In: MARQUES DE MELO, José & DUARTE, Jorge (orgs.). Memória das Ciências da Comunicação no Brasil: Os Grupos do Centro Oeste. Brasília: UniCeub, 2001, pp. 127-155 ECO, Umberto. Artigo publicado no jornal L´Expresso, Milão (10/1966) parcialmente reproduzido em ANDRADE LIMA, Zita - Luiz, companheiro de ofícios e sonhos. Brasília: Thesaurus, 1999, p. 56 FELICIANO, Fátima. Luiz Beltrão, um senhor do mundo (tese de doutorado). São Paulo: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 1993. GOBBI, Maria Cristina. Contribuições brasileiras para os estudos comunicacionais, IN: HOHLFELDT, Antonio & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Teoria da Comunicação: Antologia de Pesquisadores Brasileiros, Porto Alegre, Sulina, 2004, pp. 19-31. HOHLFELDT, Antonio. Folkcomunicação: positismo oportunista de quase meio século. IN: Anuário Unesco/Umesp de Comunicação Regional, n. 5. São Bernardo do Campo: Metodista, 2001, p.25-34. HOHLFELDT, Antonio. Luiz Beltrão: do jornalismo à literatura. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. XXVI, n. 1. São Paulo: INTERCOM, 2003, pp. 69-78 MARANINI, Nicolau. A trajetória de um pioneiro: Luiz Beltrão. IN: PCLA – Revista Científica Digital do Pensamento Comunicacional Latino-Americano, v.1., n. 1, www.metodistas.br/unesco/PCLA/ index.htm, 1999. MARQUES DE MELO, José. Comunicação e Classes Subalternas. São Paulo: Cortez, 1980, pp. 11-14. MARQUES DE MELO, José. Comunicação e Modernidade. São Paulo: Loyola, 1991, pp. 146-153. MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional. São Paulo: Paulus, 2003, pp. 329-345. MESQUITA, Mariana. Folkcomunicacação e hibridação cultural: interação de aportes para pensar as culturas populares. IN: Comunicação & Sociedade, n. 34. São Bernardo do Campo: 2000, pp. 145-160 NAVA, Rosa. Comunicações & Problemas: o primeiro periódico de estudos e pesquisas em comunicação no Brasil, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Metodista, 2002, pp. 181-192. NÓBREGA, Maria Luiza. ICINFORM, uma experiência pioneira, In: MARQUES DE MELO, José & GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-Americano. São Bernardo do Campo: UNESCO/Metodista. São Bernardo do Campo, 2000, pp 157-166.
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II. MIDIOLOGIA
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Luiz Beltrão
Em página de apresentação, Alberto Dines dá conta dos propósitos da publicação de “modestamente iniciar o processo do aprimoramento técnico dos jornalistas. “Estão longe – escreve – os dias do jornalismo empírico e subjetivo. Hoje fazer jornal é uma ciência, como as demais, como todo o complexo mecanismo de comprovações, experiências, leis e princípios. Fazer o lead respondendo às clássicas perguntas há muito deixou de ser o principal segredo do jornalista... Hoje há noções de arte, psicologia e mesmo de ótica que o jornalista deve manusear para, sôbre êles, aplicar o talento que tem como profissional da notícia. Comunicação de massa é como nos EUA se denomina a ciência que estuda o comportamento dos grupos coletivos e a transmissão de idéias. Engenharia de Massas é o nome que na URSS se dá à mesma matéria. No Brasil, até agora, esta ciência vem-se chamando de bossa – o que já é tempo de mudar, cremos. O jornalista hoje talvez seja a peça mais importante da comunidade. O homem moderno é hoje sensibilizado e motivado por problemas cada vez mais complexos. O jornalista é o saciador de sêde de saber dêste... Como cumprir com a função educativa e de difusão cultural se ao próprio jornalista não forem fornecidas oportunidades para o seu aprimoramento? Esta é a motivação n. 1 desta publicação... para uso interno, mas que está aberta a todos os interessados, especialmente os estudantes. “A arte de redigir para jornal” – Tradução de um resumo de uma exposição feita por Clarence Dean, repórter do “New York Times” no American Press Institute, oferecendo normas psicológicas e estilísticas para bem escrever para um jornal. “O jornalista e o espaço em branco”, de Heráclio Sales, analisando o problema do preenchimento pelo jornalista do espaço branco que lhe é destinado * Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 1:3 (1965): 220-222. “CADERNOS DE JORNALISMO” – Edições do “Jornal do Brasil” – Ano I – Nº I – Maio, 1965 – 45 págs. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 105-108, jan/dez. 2006
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no jornal, distinguindo como o jornalista eficiente aquele que “traz para o jornal matéria digna de publicar e capaz, portanto, de responder a uma presumível necessidade do leito”. Valendo-se de sua experiência, expõe diferentes aspectos do trabalho jornalístico, “acompanhando o desenvolvimento dos fatos, rastreando a trajetória dos partidos, auscultando a opinião de líderes e personalidades, estabelecendo, em suma, entre o leitor e as fontes da informação, a tanto quanto possível livre e clara via de acesso em que se deve constituir o jornal”. Há dias, entretanto, em que “tôdas as fontes reagem negativamente ao trabalho de consulta, pesquisa e provocação” do jornalista, mas, enquanto “o repórter novato cai em pânico, repetindo a pergunta: “que fazer”? o profissional experimentado não se surpreende, muito menos se aflige. Não raro, êsse é por ele desejado, como oportunidade para completar o trabalho que vinha sendo feito na simples transposição do factual... êle vai pôr em funcionamento um dispositivo pessoal por meio do que selecionou cuidadosamente certos aspectos dêsses mesmo fatos para uma posterior iluminação do quadro político, de cujos contôrnos gerais o leitor não pode fazer idéia precisa com a simples absorção dos elementos fragmentários fornecidos na reportagem... os dias aparentemente áridos são ainda propícios à exposição de ângulos obscuros de determinados acontecimentos que vinham sendo postos à margem pela procedência do principal sôbre o subsidiário... Nos dias ditos vazios, o profissional da reportagem e da crônica política funciona como um totalizador, podendo dar a soma de parcelas que vinha oferecendo isoladamente ao leitor do jornal... Para o levantamento dêsse quadro êle nada inventa: limita-se a reunir, selecionar e coordenar dados que parceladamente já foram divulgados mas que, no conjunto por vêzes surpreendem e chocam os próprios interessados, como a mais frêsca das novidades”. “A comunicação na sociedade industrial” – Estudo de Bernard Voyene, extraído do livro – “La Press dans la societé contemporaine”, em que aprecia fundamentos e aspectos da comunicação social, direta e indireta; a revolução da imprensa; a comunicação na sociedade de massa; e as novas técnicas de difusão (“imprensas áudio-visuais”), bem como os problemas da competição e da convergência dos diversos veículos de comunicação coletiva. “Além de Kipiling” – Artigo no qual Carlos Lemos, em instrução interna visando o aprimoramento na redação do “lead”, expõe a necessidade de encontrar para o jornal escrito (e particularmente para o “Jornal do Brasil”, cujo “texto está muito igual”) “uma linguagem que, além da informação direta, objetiva e concisa, dê ao leitor algo mais... mais impacto, mais ternura, mais humanidade, mais violência, mais bossa. O importante é que não se chegue, nem sequer se arranhe, o pieguismo, o ridículo, o sentimentalóide ou o sensacionalístico. O bom gosto de cada um é que dará a medida exata da linguagem jornalística”.
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“O intelectual e a comunicação com a massa” – Tradução de estudo de Leo Rosten, conselheiro editorial da revista “Look” e técnico em comunicação, em tôrno da incompreensão, por parte dos intelectuais, da “natureza essencial dos meios de comunicação com a massa” e analisando o grau de justeza das suas afirmativas de que tais meios: 1) não têm originalidade; 2) não usam os talentos mais vigorosos; 3) não transmitem o melhor material que lhes é submetido; 4) não comportam o luxo de pisar no calo alheio; 5) não dão ao público informações bastante ou adequada sôbre os graves problemas do nosso tempo; 6) têm baixo nível estético e conceptual; 7) corrompem e adulteram o gosto do público; 8) são o que são sòmente por serem manejados como emprêsas fazedoras de dinheiro; 9) são dominados – ou demasiadamente influenciados – pelos anunciantes; e 10) não fornecem o fôro adequado para os pontos-de-vista das minorias – os dissidentes heterodoxos. “Inovação na paginação de jornais americanos” – Jack S. Sissors ocupase do movimento “suave, mas sempre crescente, por parte dos editores norteamericanos em modernizar a paginação dos seus jornais”, o que, embora não represente “um rompimento com o tradicional” significa melhoramento funcional, maior atração e facilidade de leitura. Enuncia a seguir algumas das alterações ocorridas: substituição do corpo de tipo por outro, com maior espaço branco dentro das letras; substituição dos tipos Cheltenham ou góticos extra-estreitos para títulos por tipos de aparência mais moderna, como o negrito estreito Bodoni e Century, e alguns tipos sem serifo como o Erbar, Vogue, Spartan ou Futura; adoção do estilo conhecido como “jorro de esquerda” para títulos; extinção de múltiplos subtítulos dos títulos, na maioria dos casos conservando apenas um; composição do “lead” em tipos um ponto maior do que os usados habitualmente no côrpo da matéria; eliminação das notícias em quadro e supressão dos “bigodes” por espaços em branco; aumento do uso da disposição horizontal, na qual as matérias continuam de uma para as colunas adjacentes à direita; mais atenção ao final da página a fim de aumentar o interêsse e alcançarem o equilíbrio na paginação; abandono dos fios das colunas, pelo menos nas páginas editoriais e femininas. O autor chama a atenção para o estímulo de paginação revolucionário de “New York Herald Tribune”, que difere de todos os jornais dos EUA; a primeira página em lugar da “salada mista de várias notícias e histórias” insere apenas as mais importantes, em número reduzido (um exemplar dominical recente do “Tribune” continha só duas notícias de primeira página); em alguns casos, arrumação da matéria sob forma retangular; eliminação dos fios das colunas; fuga à disposição vertical e à colocação da notícia mais importante no alto, à direita da página; colocação injustificada do tipo à direita, em estilo semelhante ao de uma máquina de escrever e tratamento os títulos idênticos ao adotado nas revistas – generosa quantidade de espaço em branco, tornando a leitura mais fácil e colocando
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o título distante do contexto, o que dá relevância à notícia. Outro jornal, o “Sentinel”, de Orlando, Flórida, igualmente revolucionou a paginação e apresentação gráfica das suas edições: reduziu de oito para seis colunas, na primeira página, acabando com os fios e substituindo-os por uma quantidade extra de espaço em branco; a matriz do nome “Sentinel” sofreu uma redução em sua largura total para um tamanho de 5 colunas, concedendo espaço extra para a notícia, que pode ser iniciada no alto da página; utiliza ilustrações redondas; e a caricatura habitual na primeira página é impressa em 4 cores. As inovações surgidas nos jornais norteamericanos visariam: 1º) competir em condições mais favoráveis com outros meios de divulgação (especialmente a TV), tornando-os mais atraentes e agradáveis à vista; 2º) tornar a face do jornal mais moderna, refletindo um espírito de atualização constante. Entretanto, segundo Gyorgy Keepes, um brilhante e conhecido paginador, “as leis da percepção visual estão condicionadas aos hábitos visuais do tempo. A comunicação visual é eficaz quando se adapta , ela própria, à nova paisagem e à psicologia do homem contemporâneo. A paginação dos livros e também a dos jornais têm que apresentar uma adaptação substancial ao cenário moderno.” Além das matérias citadas, “Cadernos de Jornalismo” oferece pequenas narrativas de experiências de seus repórteres na cobertura de ocorrências e outros textos de interêsse para o exercício profissional. Consideramos esta iniciativa editorial do “Jornal do Brasil” como das mais significativas no campo do ensino teórico do jornalismo, complementando a prática de que a sua redação e oficinas constituem excelente laboratório. E saudamos em “Cadernos de Jornalismo” o surgimento de uma publicação irmã de COMUNICAÇÕES & PROBLEMAS na exposição e apreciação dos temas atualíssimos e ainda inexplorados da comunicação coletiva no Brasil.
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ASPECTOS BÁSICOS DA PROBLEMÁTICA DO JORNAL INTERIORANO NO NORDESTE* 1
Luiz Beltrão
1 – O jornal interiorano é um órgão a serviço de uma comunidade restrita. Deve, portanto, refletir, antes de mais nada, o pensamento, a opinião dominante, os anseios e reivindicações dessa comunidade e a ela dirigir-se, sem preocupações de “doutrinar” a respeito de problemas de outras áreas, que não afetem direita ou essencialmente à sua zona de circulação e interêsse. Não há presunção maior do que a daquele semanário de uma das nossas comunas que atribuiu a derrota de Hitler ao fato do ditador nazista não ter ouvido as suas advertências... 2 – A limitação no conteúdo do jornal interiorano obedece a três ordens de condições: gráficas, econômicas e profissionais. A uma emprêsa jornalística e editôra a que faltam ou são insuficientes as modernas máquinas de composição mecânica (linótipos e tituleiras); as impressoras rotativas e por vêzes até rotoplanas; que dispõem de reduzida variedade de tipos; que não possuem atelier de fotogravura e laboratórios para o preparo de cópias fotográficas – a essa emprêsa * Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 2:1 (1966): 5-5-22. 1 BASIC APECTS OF THE NORTHEASTERN NEWSPAPERS, OF SMALL TOWNS, by LUIZ BELTRÃO, is a reprint of a lecture on questions related to the foundation, operation and development of small newspaper of the interior. The author explains in detail the basic graphic, economic and professional conditions necessary to the editorial activities in towns and villages of the country´s interior, and attaches na article on the same subject, as well as the resolutions taken at the session of the I Seminar of Journalists of the Interior of Pernambuco , held under the auspices of the Press Assocation of Pernambuco, in the city of Caruaru, April, 29, through May, 1, 1962. Texto de uma conferência proferida proferida pelo prof. Luiz Beltrão, atual coordenador da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, em curso para jornalistas e estudantes de nível superior na cidade de Caruaru, em Pernambuco. Em anexo, exposição de sua autoria e resolução aprovadas no I Seminário de Jornalistas do Interior, realizado na mesma cidade em 1962.
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não é lícito querer substituir o veículo de mais amplas possibilidades (o jornal regional ou o diário metropolitano) naquele campo que é próprio dêste por mero espírito de imitação, deixando à margem o seu próprio campo, onde é insubstituível. Não julgue o editôr interiorano que é inferior ao editôr metropolitano pelo fato de não manter contrato com uma poderosa agência internacional de informações (como a UPI ou a AFP). Será inferior – isto sim – se não fizer a cobertura eficiente da sua área de circulação e interêsse, isto é, dos distritos, vilas, fazendas e cidades vizinhas à sede, nas quais vivem e produzem os seus leitores, homens e mulheres dedicados a labores essenciais ao desenvolvimento e à civilização dos seus pagos. 3 – As instalações e possibilidades gráficas do jornal interiorano ditam o espaço útil de que irá dispor o seu editôr. No caso de Caruaru, temos dois jornais, editados semanalmente, com uma média de 8 páginas no formato 40,5 x 29,5 – “Vanguarda” e 42,0 x 29,5 – “A Defesa”. Dispomos em média, portanto, de 1.189 centímetros quadrados por página, estas divididas em 6 colunas. Em um jornal metropolitano (qualquer dos publicados no Recife), temos – 53,0 x 39,0 – um espaço útil de 2.067 centímetros por página, divididas em 8 colunas e com u´a média de 16 páginas, em edições diárias. Há, portanto, que procedermos a uma rigorosa triagem na matéria redacional; economizarmos nos títulos; reduzirmos aos seus justos e imprescindíveis limites as secções permanentes; realizarmos uma condensação rigorosa dos textos mais longos. Ilustração: Vejamos como proceder com matéria do nosso jornal-cobaia para utilização racional do espaço. Examinemos uma matéria independente e uma secção permanente. A matéria independente será aquela sob o título “Com vistas ai diretor do Serviço D´água”. 1ª pergunta (TRIAGEM): É matéria de valor jornalístico para a nossa comunidade? Resposta afirmativa, tendo em vista não sòmente o interêsse público ligado ao problema do teor de cloro na água como em relação a outras matérias inseridas na edição: o aniversário do bispo, a inspeção ao comércio pelo delegado da Ordem Econômica, a mensagem do prefeito sôbre o 13º mês, a entrevista do sr. José de Pontes etc. 2ª pergunta (TÍTULOS): Quantas linhas? Quantas colunas? Aqui, observamos as normas de composição do título e nos decidimos: uma linha de 4 colunas com 38 letras: POVO APELA : REDUÇÃO DA DOSAGEM DE CLORO OU POVO RECLAMA : EXCESSO DE CLORO NA ÁGUA!
ASPECTOS
BÁSICOS DA PROBLEMÁTICA DO JORNAL INTERIORANO NO
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3ª pergunta: (CONDENSAÇÃO) – Estará, a matéria, redigida com absoluta PRECISÃO (qualidade do estilo jornalístico que diz respeito ao emprêgo exato do número de palavras necessárias para a expressão do pensamento), de modo a ocupar o mínimo de espaço que nos é tão precioso? Esta, nos jornais metropolitanos, é a função do chamado “copidesque” ou revisor de originais; nos interioranos estará a cargo do redator-secretário. Vamos ao exame do texto, fazendo os cortes e alterações indispensáveis para enquadrá-lo nos limites que nos são impostos. Inúmeros são os apelos que (diàriamente) nos têm sido dirigidos (através de cartões, telefonemas e pessoalmente) no sentido de (que interfiramos junto) encaminharmos ao (senhor) Diretor do Serviço de Abastecimento D’água desta cidade (solicitando-lhe a) um apêlo para a redução da dosagem do cloro (que vem sendo) adicionada àquele líquido. Em verdade, a água que estamos usando atualmente está causando náuseas, tal a excessiva quantidade daquêle desinfetante (que está sendo acrescentada), a ponto de supor-se que a dosagem está sendo feita por leigo. Não desejamos negar a utilidade da aplicação do cloro à água. Entretanto (é preciso não esquecer que os excessos são, invariàvelmente, condenáveis) e o organismo da população (principalmente de uma grande parte), dos consumidores não tolera o seu sabor cáustico e o seu cheiro ativo. Assim, (transferimos o apêlo ao senhor Diretor do Serviço de Abastecimento, a quem cabe providenciar sôbre o assunto) confiamos nas providências daquela autoridade. Numa seção permanente, como é o caso de “Caruaru Social”, atendendo ainda à questão de economia de espaço, poderíamos adotar, ao invés de uma notícia específica para cada ocorrência, o grupamento de várias informações idênticas sob um único elemento 1Q (ação), como por exemplo: Fazem anos, hoje: – a sra. Oliva Porto, genitora do nosso colaborador Waldemar Porto. Amanhã: – o jovem Rui Vasconcelos, residente no Recife; – o menino Alexandre, filho do jornalista Wandregesilo Neves e de sua esposa, d. Maria da Conceição Bezerra Neves. (...) E assim por diante. No final, atendendo ao estilo adotado nos noticiários da espécie pelo jornal, poderá haver um parágrafo transmitindo os cumprimentos do jornal. A parte referente às festas comemorativas não cabe numa seção de registros mas na secção vizinha – “Sociedade”, firmada por Françoise. Aliás, também aí é necessário promover cuidadosa triagem e condensação para que não se repitam notícias ou nela não figurem fatos relativos a pessoas sem o gabarito social das que são “notícias” em tais secções. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 109-131, jan/dez. 2006
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4 – Dado que devemos aproveitar racionalmente o nosso espaço útil, o editôr interiorano terá de estabelecer um critério de prioridade para notícias, seções e comentários e nas edições normais inserir o que for essencial ao conhecimento e apreciação da comunidade. Não poderão faltar, conseqüentemente, NOTICIÁRIO (ou seja, informação pura e simples, sem comentários) sôbre: ADMINISTRAÇÃO (atividades do Executivo Municipal, das repartições e departamentos estaduais sediadas no município, idem federais). Aqui, é preciso evitar perder tempo e espaço com atos rotineiros, tais como nomeações de funcionários subalternos, concessão de licenças para execução de serviços privados, visitas habituais de inspeção a obras públicas, etc... No jornal-cobaia, podemos anotar: sim, para a mensagem relativa ao 13º mês; não, para a visita do secretário do Interior à cadeia e ao Abrigo de Menores, especialmente porque nada se diz sôbre o que êle pretende fazer em Caruaru, mas se vai noticiar, estranhamente, o que êle fará em Garanhuns, cidade que fica inteiramente fora da zona de circulação e interêsse do nosso jornal. Na verdade, o assunto é para um jornal-metropolitano. POLÍTICA (atividades do Deliberativo – Câmara dos Vereadores; dos partidos políticos, através dos seus diretórios municipais; dos representantes do município na Assembléia Legislativa, Câmara de Deputados e órgãos políticos diversos). Nota-se, no jornal-cobaia, a quase total ausência dêsse noticiário, que interessa sobremodo aos leitores, em nosso Estado, como o demonstrou a pesquisa realizada recentemente pelo Curso de Jornalismo da UCP. Uma secção política poderia ser moldada, aliás, na única notícia divulgada nesta edição e que consideramos perfeita: a da candidatura Azael Leitão, na 1ª página. Nela, o jornalista não opinou, mas transmitiu as informações colhidas sôbre o lançamento do nome daquele cidadão e a repercussão que a iniciativa vinha obtendo. ECONOMIA (atividades da Associação Comercial, de entidades da indústria e da agricultura, dos bancos, cooperativas e sindicatos de trabalhadores). Cuidado especial deve merecer aquele ramo de atividade de que se sustenta o município: aspectos da produção, dos transportes, das vendas, da aquisição de matéria-prima, de maquinaria, formação de novas sociedades produtoras, aumento de capital, operações de financiamento, problemas de mão-de-obra, tudo deve ser minuciosamente tratado pelo jornal, desde que o desenvolvimento da comuna dependa sobretudo de tal setor. ESPORTES cobertura das atividades desportivas, notadamente do futebol, que é o esporte mais popular no nosso País. Noticiários dos clubes locais, suas
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iniciativas para a construção de estádios de piscinas, de quadras e ginásios, eleição das suas diretorias, planos, empreendimentos; esportes estudantis, femininos, amadoristas. Destaque de nomes de atletas, das suas vitórias, das suas marcas. Relêvo às promoções de entidades diversas, firmas comerciais e industriais no campo dos esportes. EDUCAÇÃO E CULTURA: Informações detalhadas das atividades escolares, desde as campanhas de alfabetização, ensino primário e secundário, até a formação de professôras e profissionais do ensino médio e de pessoal de nível superior. Galeria de professores e dirigentes de instituições culturais: museus, bibliotecas, centros de estudo e institutos diversos. Atividades dos estudantes, dos seus diretórios, dos seus grêmios. Divulgação de bôlsas de estudo, de cursos especiais, de pesquisas e trabalhos práticos, de congressos e seminários. POLÍTICA E JUSTIÇA: noticiário de ocorrências que envolvem a violação das leis penais ou de contravenções, sua prevenção , repressão e punição, e nos quais intervêm a polícia, a assistência médica oficial (de urgência), os bombeiros e os tribunais. (Nesse sentido é modelar a notícia – infortunadamente a única – inserida na 1ª página do jornal-cobaia sob o título “Voltarão a nôvo júri, etc.” da qual sòmente discordamos do título...) RELIGIÃO – Informativo de tôdas as práticas religiosas da comunidade, com destaque para obras de assistência social, para os pastores e dirigentes de organismos religiosos e assistenciais, especialmente católicos, evangélicos e espiritistas, que são as denominações de maior número de adeptos. A fim de evitar polêmicas ou má repercussão, o noticiário religioso deve vir sob epígrafes especiais, que não levem confusão ao espírito do leitor. Se o jornal, como é o caso de A DEFESA, tem uma posição religiosa definida, não deverá inserir noticiário de outras crenças e poderá ampliar a sua secção especializada com o horário das missas, dos atos litúrgicos, com trechos do Evangelho do Domingo, informações sôbre as atividades da Cúria Diocesana, das irmandades e confrarias, etc. Embora dê todo o relêvo aos fatos de caráter religioso, não lhe é lícito esquecer ou menosprezar as demais secções de interêsse da comunidade. Muitos jornais confessionais têm deixado de circular ou influir na opinião pública porque se fizeram meros boletins de propaganda religiosa, sem valor como veículo de comunicação das massas a não ser para um público limitado. A variedade informativa – se bem que orientada nos princípios confessionais – deve ser adotada, mesmo por uma questão de sobrevivência do jornal. FEMININA SOCIAL E DIVERSIONAL – que incluem o registro dos fatos de interêsse para a mulher, seja mãe de família ou de atividade fora do lar;
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das ocorrências da vida social, não se limitando apenas as festas em clubes mas, de modo especial, focalizando atividades assistenciais, da vida familiar, casamentos, bôdas, nascimentos, reuniões e promoções de entidades filantrópicas leigas (Rotary, Lions, Câmara Juniors, bandeirantes e escoteiros, etc.) além de fatos relativos ao turismo e à prática de artes plásticas ou de teatro por pessoas ou conjuntos locais; e, finalmente, o informativo do calendário, programação, horários e outros detalhes dos centros de entretenimento e diversão da cidade, como sejam: cinemas, teatros, espetáculos circenses, festas populares (Comércio, São João, Carnaval, Natal e Ano Bom, pastoris, fandangos, mamulengos etc.), audições de rádio, etc. 5 – Quanto ao comentário (editorial) e aos artigos e seções de colaboração, consideramo-las imprescindíveis a um jornal interiorano. Há que ressaltar, entretanto, a necessidade de um planejamento para a divulgação de tais materiais. O jornal deve ter sempre o seu comentário principal, o seu artigo de fundo – que é a epxressão do pensamento do editôr, isto é, do grupo que mantém o periódico. Êsse artigo terá localização certa (de preferência ficará situado abaixo do Expediente) e nele deve ser comentado o assunto de maior repercussão da semana na comunidade, que tanto pode ser a incursão da Delegacia de Ordem Econômica no comércio local como a mensagem do prefeito sôbre o 13º. O que não se justifica é o silêncio do porta-voz da comunidade quando todo mundo fala de um determinado tema. Acontece que o noticiário, sòmente, não satisfaz ao leitor e que a opinião de João ou de Manoel, expressa num artigo assinado, continua sendo opinião de João ou de Manoel, ao passo que editorial é a palavra do JORNAL, que, por sua própria natureza, transmite a opinião de um expressivo grupo da opinião coletiva. Quanto às secções, a cargo de colaboradores, ou a artigos avulsos, é mister escolher, selecionar, a fim de não enchermos um espaço precioso com matéria desvaliosa, com conceitos batidos, acacianos ou anti-jornalísticos (isto é, sem ligação com os fatos atuais). Muitos artigos, que são excelentes para revistas especializadas, para jornais literários ou para publicações confessionais não fazem mais do que tomar, num semanário de informação e opinião da comunidade, lugar que seria ocupado melhor com outras matérias. Sobretudo, o editôr deve estar atento ao abuso das polêmicas ou dos ditirambos entre os colaboradores, na maioria dos casos sôbre temas que interessam apenas a duas, três ou meia dúzia de pessoas. Melhor do que artigos e comentários será a inclusão de reportagens assinadas, abordando problemas e figuras da comunidade e, nas quais, além de trazer ao conhecimento público matéria de relevante interêsse, o seu autor poderá opinar, exprimir o seu pensamento e demonstrar, mesmo, as suas qualidades de escritor e homem de idéias. A reportagem – pela sua própria apresentação gráfica, permitindo sub-títulos, fotografias, desenhos etc. – tem muito mais eficácia como expressão de opinião, repercute muito melhor e mais vivamente no espírito do leitor do que um mero artigo ou comentário.
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6 – Se bem que secções de entretenimento e variedades, destinadas a divertir e ilustrar o leitor sejam uma constante nos jornais metropolitanos, ocupando largo espaço (há diários que publicam uma página inteira de históriasem-quadrinhos), não são elas essenciais ao semanário interiorano. Se, porém, desejarmos manter uma secção desse gênero, deveremos fazê-lo utilizando os recursos locais. Há, nas nossas comunas, muitos charadistas de primeira água, há gente capaz de organizar um torneio de palavras cruzadas, propor problemas de damas e xadrez, compor pequenas notas sôbre efemérides locais e nacionais, registros de curiosidades científicas, literárias e artísticas, enfim, um mundo de coisas com que se compraz o espírito humano nas suas horas de lazer. Concursos de palavras cruzadas e charadas, com prêmios em assinaturas do semanário ou livros doados por editôras e livrarias diversas contribuem para a maior popularização do jornal. 7 – Passemos, agora, a outra ordem de limitação a que está sujeito o jornal interiorano: a econômica. Surgem, logo, três problemas à consideração de quem quer que se responsabilize por um jornal (admitindo-se que já estêja instalado, dotado de maquinária, mobiliário, material permanente e de consumo para um período determinado): 1) organização; 2) manutenção; 3) ampliação ORGANIZAÇÃO: Uma emprêsa editôra de jornais não pode funcionar sem uma estrutura mínima, que estabeleça as normas diretivas e imprima ritmo de normalidade e produtividade ao trabalho proposto. Há que pensar num organograma que reuna e dê funções a um quadro indispensável de pessoal. Longe está o tempo em que o diretor do jornal era, ao mesmo tempo, o seu gerente, o seu único redator e até o seu tipógrafo e impressor. Se é verdade que existem jornais, editados por uns raros homens-orquestras, um miraculoso faztudo, também é verdade que a êsses jornais faltam inteiramente algumas daquelas características essenciais à imprensa: a variedade, por exemplo, por não sermos, infelizmente, dotados do dom da ubiqüidade, e a interpretação, também, desde que, por mais cultos e diligentes que sejamos, faltam-nos conhecimentos enciclopédicos. Um jornal de um homem só, nos nossos dias, é como um diário íntimo ou um ensaio filosófico; exigiria um público especial, sensível, capaz de discutir consigo mesmo, à falta de apresentação de argumentos contrários e ponderáveis nos temas expostos, não teria, portanto, aquela capacidade de penetração (a característica da popularidade) das idéias e problemas expostos sob vários ângulos como ocorre nos modernos órgãos de opiniões e informação. Êste homem só transformou-se em líder de um grupo, intérprete de uma parcela expressiva da comunidade: é o editôr, o diretor, o guia, o orientador de tôda a emprêsa. Muitas vezes, a sua capacidade de trabalho, a sua tendência instintiva é para o setor comercial e industrial: verá o jornal como um instrumento de
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realização econômica. Preocupar-se-á com a publicidade, ou seja, com a obtenção de contratos para a divulgação de anúncios, editais e materiais de interêsse de firmas, pessoas e grupos sociais, empenhados em obter mercado para os produtos com que negociam, proclamar os fatos que lhe irão proporcionar lucros, expor idéias, programas e doutrinas visando a conquistar adeptos para a satisfação de objetivos políticos, que lhes darão o contrôle e o poder sôbre a comunidade. Para obter mais publicidade, para transformar o jornal em veículo apreciável do anúncio alheio, tem o editôr de tomar medidas para aumentar-lhe a circulação. Precisará de desenvolver as vendas avulsas, estabelecendo pontos certos em que o leitor encontrará à sua disposição os exemplares da edição (estação rodoviária e ferroviária, pontos de jornais, revistas e cigarros nas principais ruas e praças da comunidade-sede e dos distritos, distribução, por gazeteiros, à porta dos cinemas, dos templos, de ginásios e escolas superiores ou na feira e em festas populares, praças de esportes, onde quer que se reunam multidões) e as vendas por assinatura, providenciando a ampliação do quadro de assinantes, a distribuição eficiente por portador, pelo correio ou por transportes diversos e seguros àqueles que, antecipadamente, abrindo um crédito de confiança, adquiriram o periódico. Jornal que não é lido, que não tem público jamais poderá servir para veículo de publicidade comercial ou de propaganda política, pois ninguém vai fazer investimento de capital sem que êste capital tenha oportunidade de lhe voltar com juros. E já passou o tempo em que a publicidade era favor; hoje é negócio do bom, em que ganham todos: o anunciante, o agente de publicidade (aquêle que angaria o anúncio, e que tem em geral 20 por cento do total da soma cobrada pelo editôr do cliente), o editôr que equilibra com essa receita as vultosas despesas de manutenção do jornal e, finalmente, o público, que tem o jornal por um preço acessível, graças exatamente à publicidade. Mas não é sòmente com a circulação que o editôr há de se preocupar: precisa também de ser um provedor de tudo quanto o jornal precise para ir a rua. Papel, tinta, conservação das máquinas, pagamento do pessoal, contratos, relações com o fisco, com as entidades de previdência social, cobranças. Quando o Diretor ou Editôr exerce plenamente estas funções está sendo na verdade o GERENTE, figura que vem logo abaixo da sua no organograma da emprêsa. O gerente é, pois, o homem que se encarrega das funções de Publicidade, Circulação e Chefia do Escritório Comercial do jornal. Pela sua amplitude, mesmo em um semanário, não poderá exercê-las sòzinho. Tomará, então, alguns poucos auxiliares e, de acôrdo com as tendências de cada um e o tempo que cada um dispuser, distribuirá com êles as suas funções. Acreditamos que com uma orientação realística, que inclua elaboração cuidadosa da tabela de publicidade, campanha de angariação de anúncios, aumento do quadro de assinantes e distribuição racional dos pontos de venda avulsa e, finalmente, funcionamento normalizado e previdente das funções de escritório, o jornal interiorano deixará de ser uma
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aventura, um dispendioso e cansativo serviço desinteressado à comunidade, uma missão sòmente de sacrifício para se tornar uma atividade normal de um grupo de cidadãos organizados para um fim honesto e rendoso. Lembremo-nos que aqui perto, em Campina Grande, o “Diário da Borborema” não é uma aventura, como aventura não o são os jornais do “hinterland” baiano, de Minas, do Rio ou de São Paulo. Se queremos realmente ter e manter um jornal, devemos trabalhar organizadamente e não apenas com o idealismo, com êsse espírito de sacrifício que tem inapelavelmente liquidado emprêsas gráficas montadas no interior, que foram à falência pelo simples fato de se terem metido a editar jornais. 8 – Vamos supor, agora, que o editôr não tem vocação para negócio: é mais um escritor público, um jornalista nato. Aqui, terá êle de conseguir um gerente e, depois, lançar-se ao trabalho intelectual. Já vimos que, sòzinho, não poderá produzir tudo o que um jornal exige para obter popularidade, atender ao reclamo do público, fazer-se eficiente veículo de notícias e anúncios, de informação e opinião. Vimos, também, quais as secções essenciais de um semanário interiorano. O editôr, agora revestido das funções de redator-chefe ou redator-secretário terá de providenciar um corpo de auxiliares, que serão os seus repórteres e redatores. Não somos nós, jornalista profissional, que aconselhemos ao editôr o não pagamento dêsse pessoal pelo seu trabalho. Mas, compreendendo como se faz jornalismo no interior, e acostumados às nossas lutas por salários condignos nas emprêsas metropolitanas, sabemos o quanto é difícil manter semanários como os desta cidade mediante pagamento de salário regular. O redator-secretário (como preferimos chamá-lo) é o produtor nº 1 da parte jornalística da emprêsa. Êle coordena a atividade dos repórteres, como um chefe-de-reportagem; êle titula, emenda, reescreve e classifica a matéria, como um diagramador; êle faz a revisão das provas tipográficas, como um revisor; êle escreve os editôriais, como um editorialista; êle escolhe, seleciona as colaborações e secções como um “copidesque”. Por isso, entrosado com o meio intelectual da sua comuna, com os estudantes, os livreiros, os professôres, os sacerdotes e pastores evangélicos, os profissionais liberais – poderá obter entre êsses os seus auxiliares, aos quais investirá, depois de instruí-los devidamente, em funções jornalísticas, preparandoos – como tradicionalmente o têm feito os jornais interioranos – para se fazerem praticantes e profissionais do nosso ofício. 9 – Por vezes, não há parte do editôr dons especiais para a gerência ou para a chefia redacional. Prefere a parte gráfica: é um entendido da arte tipográfica e da impressão. Sabe tudo sôbre composição manual ou mecânica, lida com as máquinas com a mesma facilidade com que os outros lidam com as letras. Tem bom gôsto, apraz-lhe envergar um macacão, sujar-se de tinta e óleo, apertar parafusos, azeitar junções, distribuir os tipos nas caixas, emendar linhas erradas,
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fazer a retranca. Foi levado a editar um jornal porque queria ver o seu trabalho gráfico divulgado por tôda a comunidade e não apenas particularmente entregue a cada cliente. Virou editôr, gerente e jornalista mas é sobretudo um chefe de oficina, o homem que fabrica o jornal. E aí está a derradeira importante figura do jornal, tão imprescindível como as anteriores. Não posso, como jornalista, meter-me na oficina a compor ou imprimir o que escrevo; nem tampouco o pode fazer o meu companheiro da publicidade ou do escritório, que entendem de cifras e cifrões. Como, porém, o trabalho de jornal é trabalho de equipe, se queremos ter no interior um verdadeiro órgão de imprensa a serviço da comunidade, deveremos cuidar das oficinas com o mesmo cuidado e dar-lhe a mesma valorização dos demais setores. O chefe da oficina significa o homem que provê tipógrafos, impressores, mecânicos, que distribui o serviço, que se responsabiliza pela boa apresentação do jornal, pela sua fisionomia agradável, pelo corpo do periódico, como um cirurgião plástico ou como um massagista no cuidado de seus clientes. 10 – MANUTENÇÃO: Compete à Gerência fazer o levantamento das despesas: quanto custa cada edição, cada página impressa, tomando em consideração o capital investido na aquisição de matéria-prima, conservação de maquinária, pagamento de salários. Realizado êste cálculo, passará o gerente à fixação do preço do centímetro de coluna para a publicidade, obedecendo aí às diversas características que ditam o tabelamento dos anúncios: sua natureza (um anúncio fúnebre, ou um anúncio permanente de cinema, por exemplo, não custa o mesmo que um espaço reservado à propaganda comercial ou política), localização (diferenciações por páginas mais ou menos valorizadas), época, estilo (se com texto redigido pelo departamento comercial do jornal, se com fotografias, sem em forma de reportagem ou se em “clichê” publicitário), prazo (um contrato por seis meses não é feito na mesma base de uma publicação esporádica). O mesmo cuidado terá com os preços de assinaturas e vendas avulsas, sabendo, de antemão, que esta receita não dá – sem a publicidade – para cobrir sequer a despesa, quanto mais oferecer lucro. Finalmente, promoverá – juntamente com o diretor e demais companheiros credenciados – os entendimentos necessários com as autoridades públicas (prefeito, juiz de direito e departamentos estaduais sediados na área de circulação do jornal) para a divulgação de editais, notas oficiais, publicidade oficial, enfim. Não se trata, aqui, convém frisar, de favores das autoridades, que impliquem em compromisso político, pois é um dever do Estado o amparo à cultura (art. 174 da Const. Federal) e a legislação ordinária prevê a obrigatoriedade em muitos casos da divulgação impressa de atos, decretos, leis e editais do govêrno sob pena de tais instrumentos não provocarem efeitos. Manter o periódico da comunidade não é apenas uma obrigação dos seus editôres e amigos, mas da autoridade governamental.
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11 – Desde que o jornal – como é o caso dos dois semanários caruarenses, que já comemoraram os seus 30 anos de circulação – está firmado na opinião pública e tem possibilidades de manter-se, adotando medidas rigorosamente enquadradas na ciência e na arte da administração das emprêsas, o que se deve evitar é o excesso de confiança, que se revela pelo descuido com que é feito o jornal, especialmente quanto à sua redação. Como os salários são pequenos, quando existem, o jornalista relega a plano secundário aquela atividade. Não realiza as suas tarefas com consciência e regularidade: por vêzes chega mesmo à redação na última hora para “enrolar” de qualquer modo o seu trabalho, contanto que não fiquem “buracos” na página. O conceito de um jornal é mais sujeito às variações da boa fama do que o das mulheres... Se os salários são pequenos ou se exercemos o nosso ofício por amor à arte, devemos empenhar todos os esforços para efetivar a terceira meta econômica da emprêsa: a sua AMPLIAÇÃO. Quanto mais prestígio gozar o jornal na comunidade, quanto mais se fizer êle intérprete das aspirações e da vida das populações da sua área de circulação, mais possibilidades de melhoria das condições econômicas. Haverá maior receita em publicidade, em vendagem e, consequentemente a elevação dos salários e recursos para a melhoria das instalações, da maquinária, e, afinal, o grande passo, que será a transformação do semanário em diário, como ocorreu em diversas comunidades do interior do nosso País e até mesmo do nosso Estado, onde Garanhuns já teve o seu diário. 12 – Chegamos, agora, à derradeira ordem de limitação a que está sujeito o jornal interiorano: a profissional. Mais do que as demais condições, que o conhecido idealismo do homem do nosso “hinterland” é capaz de superar, a falta de pessoal habilitado se constitui em barreira ao desenvolvimento de uma imprensa (e um rádio) vigorosos. A formação técnica para o exercício profissional é uma exigência natural das comunidades que progridem material e intelectualmente. As populações (como a de Caruaru), que contam com diversas escolas secundárias e de ensino médio e já com algumas faculdades de ensino superior, têm um nível cultural ponderável e não suportam seja o seu jornal feito por pessoas jejunas no ofício, constituindo-se por isso mesmo ao invés de um espelho de sua civilização e cultura, numa péssima amostra dêsse mesmo estágio intelectual. Como ainda não se aperceberam em tôda a sua profundidade da importância vital de um jornal de comunidade, seguem o caminho que lhes parece mais fácil; desprezam-no ou menosprezam-no. O periódico vai se arrastando, sem expressão, vivendo de favores de uns poucos, sem cumprir sua missão na comunidade. Pode desaparecer, suspender por algum tempo a sua circulação e poucas pessoas comentarão o fato. Há, portanto, que cuidar da formação de jornalistas para o exercício profissional no interior. Bom seria que frequentassem os cursos universitários especializados, tornando-se bacharéis em jornalismo; e ideal seria que êsses cursos funcionassem
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numa escola de filosofia regional, onde, ao lado das matérias técnicas (reportagem e redação de notícias e comentários, rádio-jornalismo, publicidade, ética profissional, legislação de imprensa, etc.) fossem incluídas disciplinas específicas, como geografia humana da região, economia política regional, psicologia da comunidade etc. Campanha benéfica para a elite intelectual desta cidade seria a da fundação dêste Curso, a exemplo dos que funcionam em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e Juiz de Fora, em Minas Gerais. (O interêsse despertado por êste nosso Curso, que temos certeza, produziu alguns resultados – está a indicar existirem condições para o funcionamento regular de um curso universitário de jornalismo). Na impossibilidade de realização imediata de tal desideratum, as emprêsas jornalísticas, o poder público, as instituições culturais e profissionais do comércio, da indústria e da agricultura, liderados pela Associação de Imprensa local poderiam empenhar-se para a coleta de recursos destinados a manter – sugerimos – cursos práticos de férias, com a participação de uma equipe de professores e jornalistas de fora e da localidade, com um programa de estudos e trabalhos de campos ardentemente preparado, que fôsse capaz de habilitar um grupo pioneiro de jornalistas, gráficos e pessoal administrativo (gerentes, agentes de publicidade, locutores etc.) que se incumbiria de continuar a obra iniciada para a preparação de novas equipes. Outro sistema de despertar o interêsse e o entusiasmo pela prática do jornalismo seria a promoção periódica de concursos de reportagens, escolhendo-se temas específicos e de importância para a localidade; artesanato, industrialização, problema agrário, cooperativismo, erradicação de analfabetismo, defesa da maternidade e da infância, mecanização da lavoura, combate às endemias, etc. A criação de uma posta-restante e consultório sôbre assuntos sociais e econômicos em que o leitor se interessasse para fazer suas indagações, reclamações ou comunicações e, talvez, um curso de jornalismo para o público (ensinando o leitor a escrever para o jornal) constituíram igualmente fatores de fomento ao jornalismo interiorano. I SEMINÁRIO DE JORNALISMO DO INTERIOR* CARARU, Pe – Abril, 1962 – Exposição sôbre o item II do temário: O JORNALISMO INTERIORANO A SERVIÇO DAS COMUNIDADES INTRODUÇÃO A imprensa interiorana é a voz jornalística da “nossa cidade”. Reflete a vida do povo que nunca está ocupado demais para cumprimentar o conhecido ou o * Relator: LUIZ BELTRÃO (da Delegação da AIP). (Roteiro baseado em “The Metropolitan Press”, cap. V do ensaio “Exploring Journalism”, de Wolseley & Campbell, adaptado à realidade brasileira e nordestina e de acôrdo com resoluções de congressos e conferências regionais e nacionais de jornalistas).
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forasteiro ou sofisticado demais para preferir sempre trabalhar, divertir-se, fazer compras ou até ir à missa nos grandes centros próximos. Das pessoas que vêem a vida em primeira mão: que sabem – e estão interessadas – quando nasceu o filho do “coronel” ou quando aquêle rapaz da esquina foi convocado para o Batalhão do Suez; que sabem – e estão interessadas – quando chegará para a praça da Matriz o maior circo do mundo ou se há sujeira na Prefeitura. Pessoas simples, que gostam de olhar o campo florescer quando chegam as chuvas, que se enternecem com o drama de Bastião cuja filha fugiu com o cabo do destacamento e com a morte da cabra que dava leite pro filho fraco de peito de “seu” Cazuza do sítio “Primavera”. Através do rádio, do cinema, da televisão e da grande imprensa metropolitana, podem informar-se sôbre o que vai pelo mundo afora; mas para o que realmente se passa na sua região, consultam os diários e semanários locais. POPULAÇÃO DOS CAMPOS E SUA IMPRENSA Os brasileiros vivem em pequenas cidades e povoações. Reside no interior a maioria da nossa população e basta atentarmos para as informações estatísticas para constatarmos que 44 milhões de habitantes, dos 82 milhões que totalizam a população do País, concentram-se nas zonas interioranas (Estimativa atualizada – 1965). No nosso Estado, dois terços da população habitam fora da capital e cidades satélites do Recife; apenas uma dúzia de cidades ultrapassa a casa dos 100.000 habitantes. Engenhos de açúcar, fazendas de criação, vilas e pequenas comunidades entre 200 e 1000 pessoas se localizam nas zonas da mata e do agrêste, enquanto, no sertão, há vastas extensões territoriais em que o índice de concentração de habitantes é ainda menor, chegando mesmo a atingir, como na zona do São Francisco, a uma densidade média de 7 habitantes por km2. Naturalmente, o povo que vive em comunidades com população de menos de 100.000 habitantes está interessado nos seus problemas tanto quanto nas ocorrências nacionais e mundiais. Por isso, precisa de um meio de comunicação que reflita os seus ideais e atitudes, seus costumes e convenções, seu nível de vida e sua atitude intelectual. Assim, o diário ou semanário regional presta um serviço que não pode ser prestado por nenhum outro instrumento da informação e da opinião pública. Ao contrário do que aconteceu nos EUA onde, segundo W & C até o fim da guerra da Secessão (1865) os jornais interioranos punham mais ênfase nas notícias externas do que nos fatos locais, no Brasil sempre se constituíram em veículos de idéias, reivindicações. Os jornais interioranos sempre foram, no Brasil, veículos de idéias, reivindicações e cultura das populações regionais. Um ou outro caso isolado – como o dos jornais filosóficos ou puramente literários, que floresceram até a segunda década do século atual – não contraria a norma. As modificações
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econômico-sociais ocorridas após a I Guerra Mundial e acentuadas com a Revolução de 1930 – com a disseminação das escolas, abertura de estradas, funcionamento mais eficiente dos serviços postais-telegráficos, dos meios de transporte e comunicações, trazendo com mais regularidade às comunas os jornais metropolitanos e quebrando o isolacionismo, tanto intelectual como físico, favoreceram os jornais regionais, ao mesmo tempo que lhes conferiam maiores responsabilidades para com a vida comunal. Municípios houve que tiveram lugar de destaque na história da imprensa periódica pernambucana e do País. Como Palmares, no qual até 1908 foram editados 29 jornais; como Escada, com 14; Goiana, com 18; Nazaré e Olinda, com 13, e, batendo todos os “records”, Vitória de Santo Antão, com 41. (Conf. “Anais da Imprensa Periódica Pernambucana” – Alfredo de Carvalho). Na sua maioria, êstes periódicos foram todos “políticos, literários e noticiosos”, serviam ao interêsse econômico das localidades em que surgiam proclamando-se “comerciais”, e enchiam as suas páginas com a colaboração espontânea e sempre bem vinda dos intelectuais da terra; ao contrário dos jornais metropolitanos que faziam praça da sua “independência” e, no expediente, advertiam que só aceitavam “colaborações solicitadas”. Os jornais pernambucanos, desde o seu nascedouro, sentiam-se “dependentes” – dos seus leitores, antes de tudo, e do idealismo dos seus sacrificados editores, como veremos adiante. IMPRENSA INTERIORANA DA ATUALIDADE Há, no Brasil, segundo estatística do IBGE (1962), servindo às comunidades rurais, 834 órgãos impressos, assim distribuídos quanto à sua periodicidade: diários 112; não diários, 722. Estimando-se a tiragem média de 5000 exemplares para os diários, teremos uma circulação de aproximadamente 560.000 exemplares, que são lidos por mais de um milhão de pessoas. Quanto aos demais periódicos, a sua tiragem média é de um milheiro por edição – o que apresenta um índice de sete e meio milhões de leitores, sabido que o rurícola dá preferência ao “seu” jornal, conforme salientou Wagner Tavares de Góis, em tese apresentada ao VII Congresso Nacional de Jornalistas e inserida nos “Anais” daquele conclave: “O leitor confere mais receptividade, dá mais crédito e confiança aos órgãos da imprensa local” (Vol. II, págs 780 e segs.). Entre nós ocorre, ainda, uma situação que está favorecendo a imprensa interiorana: os jornais metropolitanos de Pernambuco, nos últimos anos, decresceram em número sem uma correspondente elevação das tiragens – como se verifica em centros nacionais e estrangeiros mais adiantados, em que se registra o fenômeno da concentração de jornais. Dos seis diários que circulavam há cinco anos, estamos reduzidos a três e dos três semanários a um; também o número de páginas e cadernos foi reduzido. Circulando nas capitais nordestinas regularmente, a sua distribuição é, contudo, deficiente no interior da região, o que faz com que
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mesmo grandes núcleos populacionais fiquem privados do jornal diário. Os exemplares que chegam ao interior são vendidos a preços acima das tabelas, vício que já em 1953, quando da realização do VIII Congresso de Jornalistas do Interior, em Pesqueira, era denunciado pelo jornalista Júlio Cesar de Carvalho Neto, da apresentação de Tacaiambó (v. “Anais” – pág. 43). Êstes fatôres – se bem que lamentáveis porque indicam uma grave crise na imprensa do nosso Estado – devem pesar na consciência dos jornalistas interioranos, levando-os a redobrar seus esforços no sentido de preencher o vazio de informação, orientação e serviço de interêsse coletivo que se registra nas localidades do “hinterland”. ESTRUTURA DO JORNAL INTERIORANO Embora a organização de um jornal do interior seja bàsicamente idêntica à de um jornal metropolitano, é evidente que, no primeiro caso, o “staff” exigido é mais simples. Algumas vêzes um ou dois homens editam um hebdomadário. O editôr solitário é, ao mesmo tempo, repórter, redator, encarregado da publicidade, tipógrafo, impressor, chefe da circulação e, às vezes, até distribuidor, fazendo tôdas as coisas como Deus é servido. Cedo ou tarde, à proporção que o jornal cresce no conceito da comunidade, sente êle a necessidade de auxiliares. Alguns semanários possuem um “staff” de meia dúzia de pessoas; usualmente, porém, têm um redator e um ou dois assistentes. Os diários possuem, em regra, um redator-chefe, um gerente e o encarregado da circulação, cada um com vários assistentes, como sejam: repórteres, noticiaristas, agentes de publicidade, gráficos e distribuidores. Esta simplicidade estrutural é responsável pelo fato de que o jornal interiorano se torna uma escola de jornalismo, pois nele o aspirante à profissão tem oportunidade de experimentar a sua habilidade em diferentes funções, o que é uma vantagem entre nós, tanto pela ausência de suficientes cursos de jornalismo como pela constante demanda dos “faz tudo” nos periódicos dos grandes centros. O EDITÔR INTERIORANO Já assinalamos a confiança e o conceito – e também a preferência – de que goza o jornal regional nas comunidades em que é sediado e circula. Tais sentimentos decorrem do fato de que todo mundo ali conhece o editôr do jornal, pois êle vive “entre nós” e a gente sabe mais sôbre o que há por trás nas notícias do “nosso” jornal do que meia dúzia de investigadores abelhudos. O editôr de um grande jornal citadino – algumas vêzes um milionário – pode ser acusado de tomar partido ao lado dos grandes negócios; mas ninguém acusa o seu “primo pobre” do interior de ser testa de ferro de interêsses escusos. (Por isso mesmo, enquanto se têm registrado atentados, depredações, e empastelamentos de jornais metropolitanos pelo povo enfurecido, os jornais do interior são como que protegidos pelo povo, embora não êstejam isentos de ataques da mesma ordem de iniciativa particular – autoridades arbitrárias, sobas regionais, indivíduos
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prejudicados pela denúncia corajosa aos seus atos ilícitos e danosos à comunidade). Comumente, o editôr de um jornal do campo é um homem e não a peça de máquina. Sim, êle é um conceituado cidadão, membro de uma igreja, do Rotary Clube, da Loja Maçônica, da Associação Comercial. Mora numa casa alugada como nós outros e tem como nós outros interêsse vital nos problemas da comunidade. Serve nos conselhos municipais e em comissões para fomento dos negócios regionais, abertura e manutenção de escolas, hospitais, asilos. Quase nunca freqüentou Universidade, está sempre muito ocupado para ler muitos livros ou revistas, mas é bem informado e possui regular bagagem intêlectual. Por todos êstes motivos, não raro é um dos mais influentes membros da comunidade. A respeito do editôr interiorano no Brasil, podemos dizer com Bruce Crawford que “toma a sério as suas responsabilidades”. E com E. A Little, que “pode plantar a semente... pode cultivar o solo e encorajar o desenvolvimento do conjunto das iniciativas cívicas”. Ou, ainda com Charles Moreau Harger, que está “a plantar flôres onde antes cresciam as ervas daninhas”. Graças a êle – quando conscio de sua posição e dos seus deveres – é que podemos concluir, com John H. Cassey, que o jornal interiorano “fornece o mais saudável tipo de jornalismo que o país pode produzir”. ESPÍRITO E CONTEÚDO DO JORNAL INTERIORANO Editado para um público relativamente homogêneo, o jornal interiorano só deve oferecer à comunidade notícias e comentários bem sêlecionados. Em primeiro lugar, segundo Malcolm M. Willey, a matéria publicada “deve ter larga e benéfica influência no processo social”. Por outro lado, como sugere Charles E. Rogers, precisa “pôr em relevo os interêsses econômicos da população”. Ademais, o jornal regional é mais admirado quando valoriza o familiar, o normal, o fato comum do que quando explora o bizarro ou o sensacional. Muitos dêstes jornais seguem a política advogada por um “expert” dessa imprensa: não publicam nada que uma boa mãe hesite em ler em voz alta para os seus filhos e filhas. Assim procedendo, nenhum editôr ou jornalista será acusado de alienar o público que compra o jornal e que, no dizer de Walter Lippmann, constitui a sua “única e indispensável base”. Quais as matérias, então, a ser publicadas? O jornal interiorano dá atenção moderada, quando diário, às informações telegráficas; como semanário, raramente concede qualquer espaço a notícias que não sejam locais ou tenham repercussão na área de circulação. Assim, preencherá suas colunas com informações sôbre nascimentos e mortes, casamentos e aniversários, viagens e entretenimentos, enfermidades e acidentes, comícios e campanhas políticas, vida religiosa, atividades escolares, fatos e problemas agrícolas, pecuários, industriais, comerciais e artesanais da região, que constituem substancioso filão de
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ocorrências importantes para a comunidade. Planos e realizações governamentais nos setores de viação e obras públicas: estradas, eletrificação, abastecimento d’água, ferrovias, correios, postos de saúde e centros de erradicação de endemias rurais; ação de iniciativa privada: rêde bancária, centros de entretenimento, estabelecimentos comerciais e industriais, rêde de abastecimento, promoções no campo das artes, da educação e da cultura – são outros tantos alvos a ser atingidos pela sua “cobertura”. Em nossa região, muita atenção por parte dos jornais interioranos devem merecer as notícias metereológicas: previsões de uma boa ou má estação invernosa, de uma estiagem prolongada. Qualquer ocorrência desta espécie pode trazer consequências econômicas e sociais de vulto ao nível de vida e às etapas de progresso da comunidade. Qual o conteúdo específico dos jornais de localidades agrícolas? Naturalmente, os fatos e problemas do campo. Para tal, há repórteres e redatores especializados na colheita de informações sôbre granjas, fazendas, engenhos e usinas, cooperativas, planos de financiamento aos agricultores, silos, armazéns, mecanização da lavoura, modernos processos de plantio e criação, preparo de técnicos (agrônomos, veterinários, geólogos, etc.), açudagem, irrigação, estabelecimento de colônias agrícolas, postos de monta, estações experimentais, fábricas para industrialização de produtos regionais, sindicalização do trabalhador rural, assistência ao homem do campo – uma infinidade de aspectos sôbre temas sempre presentes ao interêsse da coletividade. E nas comunidades em que predominam as atividades comerciais e industriais? O jornal focalizará, naturalmente, em primeiro plano, a implantação de fábricas, seu reequipamento e modernização, formação de pessoal, aproveitamento de matérias primas regionais, eletrificação; programas e execução de investimentos, constituição de emprêsas, facilidades de crédito; estudo do mercado, feiras e exposições, condições do escoamento da produção e da sua colocação nas praças abastecedoras da região e do País, prêços, etc. Dará ênfase às atividades sindicais e associativas tanto de empregados como de empregadores e visará, mesmo na crítica mais severa, a valorizar a produção regional e os seus líderes. OPORTUNIDADE PARA O JORNALISTA Abrimos, aqui, um parentesis na coordenação da exposição dêste item do temário para advertir aos colegas de um equívoco a respeito do valor jornalístico de tais assuntos. Diz-se freqüentemente que os temas antes discriminados “estão muito batidos” e nêles não se pode fazer nada. Fatos comprovam o contrário: o “Prêmio Esso de Reportagem” – o maior prêmio nacional para atividades jornalísticas, que vem sendo conferido desde 1955 – foi atribuído em proporções significativas a repórteres que abordaram problemas interioranos ou feriram aspectos de nossa economia rural. Eis alguns dos trabalhos premiados 1955- “Uma tragédia brasileira: os paus de arara”, de Ubiratan de Lemos e Mário Morais; 1965
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– “Garimpo – Canaã de Ilusões”, de P. Charquetti; 1958 – “Diário de um flagelado das sêcas”, de Rubens Rodrigues dos Santos e “Sêca, irrigação, açudagem e piscicultura no Nordêste”, de Alencar Araripe; 1959 – “Reportagens sôbre o Nordêste”, de Antônio Calado (problema das Ligas Camponesas); 1961 – “Ouro e fome: binômio do Tapajós”, de Roberto Gueudeville. Os membros da Comissão Julgadora do mesmo prêmio, no ano passado, conferiram menção honrosa a nada menos de quatro reportagens – e tôdas sôbre assuntos nordestinos: “Deus esqueceu o Nordêste”, de Fernando Pinto; “Nordêste, Revolução do Desespero”, de Mauritônio Meira; “Revolução Agrária de Pernambuco”, de Tácito Lopes Costa, e “Nordêste, ano zero”, de Domingos de Lucca Jr. Pelo exposto, até mesmo para satisfazer a nossa vaidade profissional e nos oferecer compensação material, os temas interioranos e regionais são uma oportunidade valiosa. FUNÇÃO SOCIAL DA IMPRENSA INTERIORANA De tudo quanto foi dito, constata-se o importante e decisivo papel que está reservado à imprensa do interior na atual fase do desenvolvimento nacional, uma vez que “salta aos olhos que ela conduz em campos doutrinários e ideológicos diferentes de cêrca de dois terços da opinião pública brasileira” e que se unida, poderia constituir-se “na força mais preponderante dêste País, derrubando e impondo Govêrnos até a consolidação plena da democracia” (conf. Wagner Tavares de Gois, cit.). Esta união, ao nosso ver, não significa conformação a uma mesma e rígida linha editorial mas a princípios gerais reclamados pela dinâmica da atualidade brasileira, pois, como o proclama padre Adolfo Serra (“Anais do VII Congresso Nac. de Jornalistas” – II Vol. – pág. 466 e segs.) “as idéias e os costumes da sociedade moderna são o produto do papel”. Posta o serviço da comunidade, a imprensa exerce relevante função social uma vez que, como lucidamente o expõe José Amado Nascimento (“Anais” cit. – págs. 475 e segs.): 1º) é instrumento de comunicação social e meio de liderança social, através do jornalista que se faz um líder autêntico como “aquêle indivíduo que, por suas qualidades de iniciativa e conformidade social filtrou os anseios e necessidades do grupo e soube, melhor do que outros, resolvê-los e orientá-los” (Artur Ramos); 2º) torna mais efetivo o contrôle social dos comportamentos humanos, ao ajudar poderosamente a elaboração da opinião pública e analisar os atos humanos praticados pelos responsáveis pela direção da comunidade, aplaudindo-os ou condenando-os, premiando-os ou denunciando-os; 3º) dinamiza a vida social pela participação ativa nos conflitos sociais, isto é, nos atritos de indivíduos e grupos à procura de soluções para os problemas engedrados pela evolução no comportamento da comunidade; 4º) fomenta a acomodação social, que é a inevitável solução dos conflitos, quando enceta campanhas de esclarecimentos dos fatos e doutrinas políticas, de
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divulgação cultural, de idéias e soluções racionais de problemas econômicos e de estímulo aos sentimentos morais e religiosos da comunidade; 5º) orienta a mobilidade social, na sua luta constante pela abolição dos desnivelamentos injustos, pela ascensão democrática das elites de todos os grupos sociais aos postos de direção da sociedade ao invés do predomínio permanente de certas classes e pela tenaz denúncia dos estôrvos à realização do ideal superior da democracia social; e 6º) tem o dever de defender, intransigentemente, os valores sociais, fundados na verdade, na liberdade e no bem comum. Para tanto, exerce quatro funções básicas: I) POLÍTICA – manifestada por uma crítica responsável e construtiva de programas e realizações partidárias e governamentais e sugestões para a solução de problemas políticos; II) CULTURAL – manifestada pela divulgação, debate, fomento e defesa das realizações científicas, movimentos artísticos, promoções literárias e educacionais da comunidade; III) ECONÔMICA – manifestada pela agitação de idéias e busca de soluções para problemas estruturais do nosso desenvolvimento, como sejam: fixação do homem ao seu “habitat” pela criação de condições compatíveis com as suas legítimas aspirações ao bem estar, através de uma reforma agrária justa e equilibrada, aumento da produção e da produtividade, nacionalização e implantação das indústrias básicas, exploração sistemática dos recursos e riquezas regionais, atendimento às necessidades reais das populações interioranas para as quais ainda não chegaram ou chegam muito lentamente as conquistas da civilização moderna; e IV) MORAL – manifestada pelo estímulo ao sentimento religioso popular, às campanhas assistenciais, de benemerência e caridade, e a todos os movimentos tendentes ao aperfeiçoamento espiritual da comunidade.
OS AGENTES DO JORNALISMO INTERIORANO Estas grandes tarefas que as populações interioranas reclamam dos seus jornais são levadas a cabo, principalmente, pelos agentes seguintes: a) o editôr, se disposto a renunciar ao individualismo e aos preconceitos que infortunadamente ainda comandam muitas gazetas rurais do Nordêste e do Brasil e a imprimir ao seu jornal uma orientação que exclua tanto aquêle excesso como aquela escassez de elogios e descomposturas, a que se referia Aloísio Falcão no Congresso de Pesqueira (“Anais” cit. – pág. 74 e segs.); que se afaste “dos liames da demagogia política, considerando a sua influência no determinismo municipal” e que se plasme “coerente no criticar, honesta no analisar os acontecimentos, evidenciando-se altruística no orientar”, como o proclamava na mesma ocasião
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(“Anais” cit. – págs. 78 e segs.) um jornalista e editôr interiorano dos mais autorizados – Eugênio Chacon; b) pelo repórter, decidido a fixar-se nos temas e problemas da sua região, fugindo ao servilismo da imitação dos seus confrades citadinos, à tentação de equiparar-se aos “mestres”, adotando-lhes as técnicas, os métodos e até a linguagem, num papel-carbonismo que em nada contribui para o seu êxito pois, entre os seus conterrâneos, não será entendido por escrever num estilo que não lhes é familiar e entre os eventuais leitores de fora da metrópole, jamais passará de um pedante, alvo de zombarias em irônicas louvaminhas; e, finalmente, e) – pelo comentarista, de quem se espera a palavra esclarecedora e segura, de conhecedor de causa sôbre os assuntos e questões de vital interêsse local e regional e que, tantas vêzes, desperdiça o espaço que lhe cabe e “envereda a dissecar extemporânea e vagamente as causas remotas e os efeitos imediatos da guerra da Coréia, ou passa a colunizar os resultados das eleições na Itália, na França, no Caixa Prego, como se algum proveito prático pudesse advir às populações sertanejas desses pretensos e irrisórios “furos jornalísticos” e fazendoo, justamente, para gente que necessita de quem as “oriente e ajude a vencer as adversidades do seu meio, ensinando-lhes um processo para a própria subsistência, em que já não crêem” (Aloísio Falcão, cit.). PRODUÇÃO DO JORNAL INTERIORANO Os princípios fundamentais da reportagem, redação, paginação e técnica do jornal interiorano são os mesmos do jornal da capital. Há – e devem ser mantidas – certas características peculiares ao grau de desenvolvimento cultural de cada comuna ou região em que circula o periódico; do contrário, jamais o público se familiarizará com o jornal que se julga arauto dêste mesmo público. Entre certas populações, por exemplo, não se admitirá que um bacharel em direito, mesmo o promotor público, não seja nomeado como “dr. Fulano”; nem o “coronel” – chefe político local – seja tratado como um igual à gente, sem a “patente” que lhe foi conferida sem qualquer processo burocrático; nem que se negue ao bispo o “exmo. e revdmo.”; que o juiz não seja sempre qualificado de “íntegro” nem o vigário de “virtuoso”. Tratar uma senhora por “dama” pode ser ofensa e deixar de chamar de “gentil” a uma moça da sociedade talvez seja “gaffe”. Um jornal que use vermelho pode parecer “comunista” e um que ponha títulos em verde, suspeito de saudosista do fascismo caboclo. O estilo redacional do jornal interiorano é mais generoso e florido do que o jornal metropolitano; o seu “make-up”, em contrapartida, está mais perto do antigo “Jornal do Comércio” do que o nôvo “Diário da Noite”. Há ainda questões ligadas à maquinária, ao papel utilizado, aos tipos empregados, às fotografias e “clichês” usados. Cada um dêstes aspectos precisa de ser considerado, em oportunidades como esta e num sentido prático e realista, a fim de que a produção do jornal interiorano atenda plenamente à finalidade máxima de sua existência: pôr-se a serviço da
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comunidade. E também para que desta receba a contraprestação a que faz juz, com os meios econômicos para a sua manutenção, difusão e sobrevivência. RESOLUÇÕES DO SEMINÁRIO O I Seminário de Jornalistas do Interior de Pernambuco, reunido na cidade de Caruaru nos dias 29 e 30 de abril e 1º de Maio de 1962 sob os auspícios da Associação da Imprensa de Pernambuco e tendo como patrono o jornalista Paulo de Oliveira, compreende que a grave crise por que atravessam os jornais e emissoras do Interior decorre, fundamentalmente, do estado de subdesenvolvimento e pauperismo do Nordêste, aplaudindo, dêsse modo, tôdas as medidas que visam a erradicar esses fatores de atraso econômico e social da região. As soluções a que chegou o Seminário representam medidas de emergência para os problemas da imprensa e do jornalismo interiorano. RESOLUÇÕES SÔBRE A IMPRENSA E RÁDIO NO INTERIOR, PROBLEMA DE SUA DIFUSÃO E SÔBREVIVÊNCIA. I – RECOMENDAR que jornais e emissoras localizados na mesma cidade ou região se entendam para evitar: a) concorrência na base de preços; b) retirada de profissionais de órgãos concorrentes, sem prévio atendimento com a emissora. II – RECOMENDAR que a concorrência tenha como estímulo: a) a prestação de melhores serviços aos leitores e ouvintes; b) o pagamento de melhores salários aos que prestam serviços, procurando evitar o êxodo para centros mais adiantados; c) o treinamento de novos elementos, oferecendo-se-lhes, posteriormente, contrato de trabalho ou indicação aos congêneres; d) a articulação e colaboração para campanhas gerais de interêsse da comunidade ou debate dos problemas regionais. III – SUGERIR: a) que o Departamento de Interior de AIP se entenda como chefe do DCT (regional) visando providências para melhor circulação dos jornais do interior; b) que a diretoria da AIP procure estimular a organização de uma emprêsa, no Recife, que faça a representação dos jornais e emissoras do interior, angariando publicidade e promovendo a distribuição. IV – INDICAR à Comissão Executiva do Seminário que envide esforços no sentido de:
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a) encaminhar apêlo à direção do Banco do Brasil para que êstenda às emprêsas jornalísticas do interior o regime de empréstimos bancários, na Carteira Industrial, com as garantias que a lei exigir; b) dirigir correspondência de apoio ao plano de bonificação de 30% no preço de papel de imprensa. RESOLUÇÕES SÔBRE O JORNALISMO INTERIORANO A SERVIÇO DAS COMUNIDADES I – RECOMENDAR aos jornalistas do interior: a) que se dediquem preferencialmente, à exposição e debate de temas e problemas regionais, destacando os fatos, motivos e valores dos grupos populacionais aos quais servem, suscitando a permanência das tradições e fixando os motivos peculiares a cada região e, também, evitando que essa permanência corra o perigo da vulgarização, do enfado e da repulsa, que divorciam os veículos jornalísticos do público, provocando a sua extinção; b) que as emprêsas excluam, na medida do possível, o uso de pseudônimo, quando se tratar de matéria crítica, e que, nestas oportunidades, os jornalistas procurem manter discrição, prudência e espírito de comunidade no comentário e de rigorosa imparcialidade na exposição de fatos, pois desta conduta muito depende a valorização da cultura e da produção regional e dos seus líderes; c) que a “cobertura” jornalística seja extensiva aos distritos e área rural dos municípios, através de correspondentes locais, estimulando vocações a atividades jornalísticas, despertando interêsse pelo jornal ou pelo rádio, em tôda área de circulação ou audiência; d) que as emprêsas, através de seus jornalistas selecionem as colaborações, no sentido tanto cultural como de conteúdo, uma vez que, para muitos, o jornal e o rádio são os únicos veículos de idéias. Para tanto uma medida sugerida é a elaboração de “livros de estilo”, respeitando a linguagem peculiar da região, mas visando ao aprimoramento intelectual da comunidade. RESOLUÇÕES SÔBRE ASSISTÊNCIA, FORMAÇÃO TÉCNICA, ENQUADRAMENTO SINDICAL E AMPARO AO JORNALISTA INTERIORANO. I – SUGERIR À AIP: 1º) a criação de sócios cooperadores nas cidades do interior, para que os jornalistas possam ter assistência médico-dentária e jurídica; 2º) a apreciação da necessidade de organizar cursos intensivos regionais de jornalismo; que dêsses cursos se façam apostilas ou resumos à disposição dos jornalistas interessados. Se possível, no final, se façam estágios em grandes jornais.
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RESOLVER, Que o I Seminário solicite ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais processar junto ao Ministério do Trabalho a extensão da base territorial do Sindicato a todo o Estado de Pernambuco. RESOLUÇÕES SÔBRE DINAMIZAÇÃO DAS DELEGACIAS DA AIP. RECOMENDAR À AIP: I – a regulamentação, no mais breve possível, do Departamento de Imprensa do Interior, fixando as atribuições dos delegados do Interior; II – a organização de um encontro, no Recife, dos correspondentes de jornais, com o fim de estudar problemas específicos dessas funções; III – a adoção do sistema de rodízio e de maior participação de representantes do interior nos congressos nacionais de jornalistas. APROVAR: As sugestões no sentido da publicação mensal de um boletim de informações da AIP, destinado aos jornalistas do Interior. Caruaru, 1º de maio de 1962. A COMISSÃO EXECUTIVA: Paulo Cavalcanti – Presidente Aristides Veras – 1º Vice-Presidente Florisbelo Vila-Nova – 2º Vice-presidente Alcides Nicéas – Secretário-Geral Padre Petronilo Pedrosa – Secretário de atas Wandragésilo Neves – Secretário de Arquivos e Anais Azael Leitão – Relator-geral
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JORNALISMO PELA TELEVISÃO E PELO RÁDIO: PERSPECTIVAS*
Luiz Beltrão
Os meios de comunicação surgem e popularizam-se no momento histórico e de acôrdo com as necessidades coletivas. A imprensa, inventada no século XV, somente duzentos anos depois provocava a aparição dos periódicos, quando o número de consumidores alfabetizados os reclamava e poderia mantê-los. A Revolução Industrial, atraindo enormes e heterogêneas populações às grandes áreas da pro-dução, sem lhes exigir alfabetização e, por outro lado, proporcionando recursos técnicos para a fabricação de utilidades e inventos os mais diversos, possibilitou mercado para o cinema e para o rádio que, respectivamente, pela imagem fotográfica em movimento e pela palavra transmitida à distância vencendo a barreira do espaço, iriam favorecer as massas com a mensagem jornalística de que se encontravam alheiadas pelo seu desconhecimento da escrita. A mensagem cinematográfica, contudo, estava limitada por características inerentes à sua tecnologia: só poderia ser transmitida à noite ou em ambiente escuro; exigia aglomeração do público, desde que a projeção se fazia com fidelidade apenas em áreas de dimensões exíguas; reclamava instalações e equipamentos de elevado custo para a recepção e também vultoso investimento para a regular distribuição do produto aos consumidores, ou seja, a exibição oportuna e constante de novos programas. O jornalístico cinematográfico não conseguia, portanto, alcançar o público em profundidade e com facilidade. E mais: em razão do tempo dispendido entre a captação da notícia, sua edição e apresentação pública, perdia em atualidade para o rádio – campeão da instantaneidade – e para a imprensa que, imediatamente, com poucas horas de diferença, passava a informação detalhada ao domínio do consumidor.
* Conferência pronunciada na Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo, inaugurando o ciclo de Conferências e Debates Curriculares, em 10 de agôsto de 1967.
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Entre as duas guerras mundiais, a humanidade empreende e assiste a uma febril revolução tecnológica, com profundas ressonâncias em tôdas as suas camadas. Nações e povos mergulhados em estágios ainda primários de civilização como que despertam de um sono letárgico e querem situar-se no caminho da prosperidade e do gôzo dos bens criados pela industrialização. Imprensa, rádio e cinema – o cinema ao qual se deu voz para torná-lo acessível exatamente às parcelas analfabetas dessas populações – constituem os canais por onde se derramam as informações, a visão provocante do “brave new world” em que se encontram os países líderes do desenvolvimento econômico. Nem mesmo o II Conflito Mundial interrompe o ímpeto da ciência e da técnica ou diminui os desejos e esperanças de progresso e poder dos dois terços marginalizados da raça humana. Antes parece estimular o trabalho criador dos produtores de riquezas e confôrto e o ânimo de luta dos que aspiram tornar-se consumidores dos bens saídos das linhas de montagem da indústria soberana. ADVENTO DA ICONOSFERA Para consolidar o seu império, a Tecnologia necessitava do seu meio ideal de comunicação. Esbarrava, porém, em dois sérios obstáculos: o analfabetismo de mais da metade da população mundial e a babel das línguas. Nenhum desses obstáculos poderia ser superado a curto prazo, e o ritmo da civilização nuclear e espacial exigia a participação global da humanidade sob pena de perdurarem os germes da ignorância e da incompreensão, que agravam o problema social e conduzem à política exterminadora das guerras. Era preciso urgentemente tornar a informação instantânea e universal. A Televisão foi o veículo dessa instantâneidade e dêsse universalismo porque é a apresentação do acontecimento no justo momento em que ocorre, através da imagem, o signo mais acessível à compreensão humana. Com a TV, que, a partir de 1950, se vai disseminando por todos os quadrantes do globo, o homem passa a viver naquele ambiente que Jean Wahl, denominou a iconosfera – o universo da imagem oni-presente, informando e formando o ser social, numa linguagem que independe do conhecimento de um idioma ou da escrita por parte do receptor. Daí parecer-nos impertinente, senão extravagante, insistir-se na utilização da TV prioritàriamente para a alfabetização, uma vez que ela foi criada para educar e ensinar sem apêlo ao sinal gráfico. Rigorosamente, a inclusão do texto escrito na TV é um recurso puramente estético - e tanto é assim que tôda vez que se difunde uma mensagem escrita pelo vídeo há um locutor que a traduz para o telespectador. A grande função da TV Educativa é exatamente essa: ensinar e formar sem ajuda da escrita e com o mínimo de palavras, já que a frase em TV deve ter o mesmo papel da legenda ilustrativa de uma foto no veículo impresso.
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Essa forma de expressão da TV – pela imagem e só subsidiàriamente pela palavra – é que tem sido ignorada pelos editôres do telejornalismo brasileiro, reduzido a um radiojornalismo televisado pela leitura de notícias ou a um misto de jornalismo falado, impresso e cinematográfico. Recusa-se, entre nós, admitir o advento da iconosfera e transforma-se o grande veículo da imagem instantânea, direta, e por si mesma “falante” em um monstrengo sem personalidade, às vêzes rádio, às vêzes imprensa, às vêzes cinema. Em defesa da TV, dos esforços dispendidos pelos que consumiram as suas energias empreendendo estudos, pesquisas e experimentos para dotar a humanidade de um nôvo meio de comunicação com linguagem própria e dinâmica, e, sobretudo, em defesa do jornalismo visual é que se impõe a colocação de questões e aspectos do telejornalismo como tema em debate, sem receio de tabus, com o propósito não só de preparar objetivamente as equipes de agentes culturais da informação que irão manejar, no futuro, esse prodigioso instrumento de comunicação coletiva como ainda de contribuir para a reformulação dos métodos de captação e edição de notícias pela TV, ora em vigor no País. O PROBLEMA DA ADEQUAÇÃO Vimos que, por motivos econômicos, por despreparo ou improvisação, a captação de notícias, sua interpretação e edição pelas nossas telemissoras se processam em completo desacôrdo com a linguagem específica do poderoso meio de comunicação, que é a imagem, apanhada ao vivo e no exato momento da ação. Instantaneidade ou, pelo menos, imediaticidade entre a produção e a edição da mensagem; linguagem acessível ao indivíduo de qualquer grau de cultura, inclusive e especialmente ao analfabeto; e facilidade de recepção – foram os três fatôres que levaram a tecnologia a inventar e aperfeiçoar a televisão. Selecionada a linguagem iconográfica e partindo das limitações do cinema – a imagem fotografada e projetada a curta distância em recintos fechados e escuros – e atentos à amplitude dos princípios da eletrônica – que já havia proporcionado a transmissão do som a grande distâncias e a públicos dispersos – cientistas e técnicos, através de pesquisas e experimentos, conseguiram afinal o veículo que atendia às exigências de uma época dinâmica, em que a participação total é reclamada, não havendo tempo para preparar mais a humanidade sòmente através do domínio da escrita e da leitura, como tradicionalmente se fazia. A educação, a formação profissional, a experiência e todo o patrimônio artístico e cultural da humanidade estariam doravante à disposição da massa, qualquer que fôsse o seu estágio de civilização. Naturalmente, o jornalismo – atividade humana e social indispensável à sobrevivência e desenvolvimento dos indivíduos e comunidades – haveria de aproveitar o nôvo meio, como o fizera antes com a imprensa, o cinema e o rádio.
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O problema do nascente telejornalisno era, antes de tudo, o de adequação. Tratava-se de saber o que, quanto e como se poderia emitir no campo do jornalismo, através da linguagem iconográfica. Do mesmo modo que os seus inventores se tinham valido do cinema e do rádio para fazer nascer a TV, o editôr jornalista buscou-se a princípio, como môdelo, servindo-se, ainda, de recursos gráficos para dar mais ênfase à mensagem – o que lhe parecia legitimo e válido, dentro da tradição trissecular do exercício profissional. Foi a fase, em que ainda nos encontramos no Brasil, do radiojornalismo e do cinejornalismo televisado e da utilização abundante de letreiros, fotografias e desenhos, como se cada emissão de TV fôsse a reprodução de páginas e periódicos impressos. Na seleção dos gêneros jornalísticos – o QUE – também valia tudo: noticias, entrevistas, reportagens, crônicas, editoriais. Tivessem ou não possibilidades de apresentação através da imagem. Imagem? Imagem era o locutor sentado à frente de um mapa do país, com luzes piscapiscantes, nos pontos em que havia filiais da firma patrocinadora. Ou tendo por cenário um mural ou biombo com aplicações fotográficas de pessoas, incidentes e lugares. Ou, ainda, um glôbo sôbre a mesa de locução, onde também se encontravam para a leitura páginas datilografadas de textos de matéria, redigidos pelo pessoal do pomposamente chamado “departamento de tele-jornalismo”, às mais das vêzes funcionando na redação do jornal ou na radio-emissora da mesma emprêsa editôra e, em muitos casos, meras cópias datilografadas para os três veículos simultâneamente. Quando alguém criticava denunciando a ausência de elementos visuais nos noticiosos da TV, logo surgiam os que contrapunham o “irrespondível” argumento do uso de fotografias, desenhos e filmes de atualidades, intercalando ou ilustrando as palavras do locutor. De boa ou má fé, propositadamente ou por ignorância, confundiam recursos visuais com elementos visuais, ou, para falar em têrmos técnicos, não distinguiam entre o vocabulário, sintaxe e pontuação a linguagem de TV. A questão, contudo, preocupava os estudiosos e especialistas tanto em eletrônica como em comunicação coletiva. Para estes últimos, dos recursos visuais de que se valia o telejornalismo, sem dúvida era a filmagem das ocorrências o que mais se aproximava da mensagem de TV. Persistia, entretanto, na utilização da cinta cinematográfica a deficiência que já apontamos: o espaço de tempo entre a captação e edição em filme e a apresentação da notícia no vídeo continuava a prejudicar a imediaticidade da transmissão, mantendo-se rádio e imprensa na dianteira da informação. Por seu turno, os técnicos em eletrônica viam com desagrado que a gravação do sinal de TV pelo processo denominado cinescópio – que consiste na transposição da imagem colhida em película cinematográfica, com um padrão de 24 quadros por segundo, para o tubo reprodutor da TV, que emite 30 quadros por segundo (definição de 525 linhas, adotada nos EUA, onde se realizavam as pesquisas) – tal sistema de gravação, além dos inconvenientes de tempo e de alto
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cuto operacional implicava, ainda, numa deformação da imagem, pelo que ação não era apresentada com a requerida fidelidade. Desenvolveu-se, então, por tôda a década dos 50, a busca do processo específico de fixação da imagem diretamente para a TV, o que vem a ser obtido com a descoberta do “vídeo tape” - os sinais da imagem são gravados em fita plástica de 5 cms. largura, recoberta com partículas de óxido de ferro e enrolada em carretéis para a sua emissão. Tal como o “tape-record”, o VT grava, edita e apaga magnèticamente a imagem, não havendo praticamente diferença em qualidade para a transmissão ao vivo. Como não há processo de revelação em laboratório, como nos filmes, quer a imagem quer o som podem ser transmitidos imediatamente após a gravação. Os aparelhos de gravação de TV são, hoje, fabricados em diversos tipos e tamanhos, permitindo que, em lugar do equipamento cinematográfico, os tele-repórteres operem com VT portáteis, documentando as ocorrências que testemunharem para transmití-las nos horários que as emissoras destinam à informação pública. A REVOLUÇÃO DO VT O carunchoso telejornalismo da fase dos recursos visuais tem os seus dias contados. Os satélites de comunicações, ao lado das emissões diretas, ao vivo, instantâneas, permitem a reprodução universal, com autenticidade e imediaticidade que o filme jamais alcançaria, das imagens e ocorrências gravadas. O VT proporcionou ao jornalismo televisado os elementos visuais de que necessitava para utilizar adequadamente a linguagem própria, insubstituível e carregada de significado da imagem. Essa revolução, mais do que a do rádio, traz ao jornalismo substanciais mudanças. A começar pela organização dos departamentos de telejornalismo, dos quais desaparecem figuras clássicas do jornalismo gráfico, como o redator, o fotógrafo e o ilustrador; ou do jornalismo radiofônico; como o locutor-leitor, e ainda do jornalismo cinematográfico, como o cinegrafista. Na verdade, do pessoal da fase anterior subsistem apenas duas figuras - o editor e o repórter; o primeiro encarregado do planejamento e do controle das emissões jornalísticas; o último, como desde os primeiros dias da história social do homem, nas atividades fundamentais da captação e interpretação dos fatos noticiáveis. Em substituição às figuras jornalísticas importadas das redações dos periódicos e do rádio, e dos estúdios de cinema, outras categorias profissionais são reclamadas para a prática efetiva do telejornalismo entre as quais a da equipe - operador de câmera-jornalista e narrador-comentarista de TV, equipe que “cobre” e transmite as ocorrências ao vivo, tencionando os seus membros como xipófagos, e de cuja existência e técnicas de ação não se têm ocupado os teóricos da comunicação ou os professores e instrutores incumbidos da formação de agentes da comunicação jornalística televisada.
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GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA TV Estabelecidos pela técnica o vocabulário da TV – os elementos visuais da imagem – e a sua sintaxis – a combinação dêsses elementos de modo que a mensagem tenha ritmo e significado para o receptor – é evidente que os recursos audiovisuais empregados na primeira fase do telejornalismo teriam de ser abandonados ou reduzidos, na sua utilização, a meras partículas gramaticais. Como se fôssem conjunções, advérbios ou preposições ; no máximo como qualificativos; jamais, porém, como substantivos ou verbos, como na linguagem da imprensa e do rádio. Música, ilustrações fotográficas e desenhadas, filme cinematográfico, a palavra oral (e a escrita apenas nos letreiros, como no espetáculo de cinema) serviriam, de agora por diante, como adjutórios, meros fatores ilustrativos ou estéticos. Dêsse modo, se por um lado o VT havia favorecido o jornalismo visual com o recurso técnico da gravação, oferecendo-lhe a possibilidade de fixar o acontecimento em seu desenrolar e assim tornar o receptor assistente e testemunha da ocorrência através da notícia televisada, por outro dificultava, quase excluía, o editorial e a crônica. Esses gêneros jornalísticos de tanto relêvo na imprensa e no rádio, têm sua tônica na argumentação idiomática, na formulação de princípios, raciocínio e conclusões por meio do verbo. E embora seja possível à imagem construir uma sintaxe filosófica, o primeiro significado a ser aprendido pelo espectador é o diretamente expresso; somente com o tempo e a meditação é que mensagem iconográfica interior pode ser decodificada. E às vezes nem assim: ainda hoje o sorriso de Mona Lisa permanece enigmático. Ora, a televisão é a imagem fugaz e dos meios de comunicação talvez seja o mais efêmero, desde que ao rádio é inerente a repetição da mensagem e os veículos impressos têm ao seu favor a durabilidade do seu extrato material, o papel e a tinta. Com a linguagem iconográfica, sucede que a repetição cansa o receptor, deixa de interessá-lo. Ninguém assiste ao mesmo filme cinematográfico duas vêzes; e se o faz, entre uma e outra recepção da imagem fílmica se interpõe um mais ou menos longo espaço de tempo. DOCUMENTÁRIO DE TV Para substituir o editorial, o telejornalismo tende a desenvolver o documentário, seguindo, ampliando e vulgarizando esse gênero cinematográfico, de que há pouco assistimos a uma valiosa série – Mundo Cão. O documentário televisado é a interpretação de uma ocorrência e de uma situação; a exposição visual de uma tese; o gênero que, na imprensa e no rádio, se conhece como grande reportagem, reportagem interpretativa. Antes da descoberta da gravação em fita magnética, os editores de telejornalismo naturalmente usavam a filmagem, compondo o documentário com
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entrevistas, transmissões externas e outros recursos visuais. Dêsse padrão de produção jornalística de TV são exemplos as séries – “March of Times” e “Special Enquiry: report for Television” – lançados pela BBC; “German under Control”, produzido por Robert Barr, na Alemanha, após o término da guerra; e o programa de Ed Murrow sobre a política interna norte-americana pelo CBS, que alcançava grande repercussão ao tempo de nossa visita aos EUA, ocupandose das idéias e atividades do então famoso senador McCarthy. Com o VT, o campo da criação de documentários televisados apresenta as mais amplas perspectivas, o que leva Arthur Swinson a considerar o gênero como “a parte mais importante da televisão”, dada “a sua grande influência sobre a maior parte da prosa televisada, incluindo os gêneros dramáticos” e por ser a TV não apenas um substituto do cinema e do teatro com a principal tarefa de divertir mas “uma janela aberta para o mundo” (Conf. “Writing for Television”). Seja sob a forma de atualidade, restrito às tomadas de aconteciments na ocasião mesma em que se desenrolam; seja sob a modalidade dramatizada, apresentando ocorrências reais com o emprêgo de atores e produzida no estúdio, como a série – “A Verdade”, originária dos EUA e que vem sendo oferecida aos telespectadores brasileiros – o fato é que o documentário televisado constitui gênero jornalístico capaz de levar a TV àquele objetivo superior anunciado por Maurice Wiggin, crítico do “Sunday Times” – “a televisão não deve somente mostrar a vida; mediante o documentário ela pode ilustrá-la, analisá-la e, até certo ponto, explicá-la. A ENTREVISTA NA TV Ainda como sucedâneo do editorial, do “artigo de fundo” ou da matéria opinativa que se constituem em importante porção do jornalismo gráfico; a televisão oferece larga margem para a entrevista que, ao nosso ver, está fadada a desaparecer como gênero específico no rádio. Conceitua-se clàssicamente a entrevista como a técnica de obtenção de matéria jornalística por meio de perguntas do repórter e respostas da personalidade ouvida. Seria, contudo, sòmente isso em TV? Seria um diálogo em frente da câmera, um bate-papo, um ping-pong verbal entre o jornalista e o entrevistado, ambos portando um microfone de lapela, com o primeiro bancando o lustra-botas e provocando o riso fácil do auditório com indagações indiscretas, quanto não asnáticas ou licenciosas? Neste e em outros tipos de entrevista, viciado no papel de animador de espetáculos cômicos, com o micróbio do estrelismo que o vídeo parece inocular em cantores, atores e bailarinos dos seus musicais – o agente da comunicação jornalística televisada sói esquecer o seu desempenho e quer ofuscar, perante os milhares de espectadores, a figura de proa – o entrevistado – razão de ser do programa, autoridade no assunto, cuja opinião o público deseja conhecer ao vivo.
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E assim procedendo, o jornalista busca ignorar o anonimato a que está votado pela televisão, anonimato ainda mais completo do que o que lhe impõe o exercício profissional na imprensa. O estrelismo do comunicador-jornalista na TV é que permite, entre nós, que surjam como concorrentes aos shows de Chico Anísio ou de Moacir Franco, vedetes do disco ou do palco, sem nenhum preparo na difícil arte da entrevista, produzindo programas do gênero, como uma oportunidade, não raras vêzes, de fugir à aposentadoria ou ao ostracismo dos seus impiedosos fãs dos velhos bons tempos do rádio solitário ou do teatro cego. Mas a entrevista não é nada disso, ou disso tem muito pouco. E é tão séria a sua posição no quadro da comunicação televisada que, em fins de 65, realizouse, em Florença, promovido pelo Instituto de Antropologia Cultural da Universidade de Perúsia e com a participação de eminentes figuras de pesquisadores, educadores, jornalistas, técnicos em audiovisuais e psicólogos europeus, um colóquio consagrado exclusivamente ao estudo da entrevista – seus métodos e técnicas – nas ciências sociais em paralelo com a rádio-televisão. Não pode, portanto, um gênero tão rico em implicações sócio-culturais ficar entregue a quem não tenha formação profissional especializada, sólida cultura geral de nível superior e o mais elevado sendo de responsabilidade. A entrevista, em todas as suas modalidades – individual, em mesa redonda, do tipo debate-e-julgamento (a exemplo da produzida semanalmente por Flávio Cavalcanti em tôrno da música popular) – assume na televisão aspectos inteiramente diversos dos que ostenta nos periódicos impressos e mesmo no rádio. A sua planificação é outra; a sua realização apresenta elementos novos, entre os quais aquêles de natureza visual, que jamais podem ser ignorados ou relegados a um segundo plano quando se trata de TV. É para o que Pierre Dumayet chama a atenção em artigo para a excelente revista francesa “Communications” (nº 7 – 1966), no qual assinala que certos detalhes até mesmo da roupa do entrevistado são importantes, citando como exemplos tomadas de cena expressivas do camera-man Jean Prat com os belos sapatos de um inglês, fotógrafo da côrte da Inglaterra, que havia escrito um livro de memórias – sapatos tão extrordinários que faziam parte efetiva da personagem, ou de uma dama mexicana, que escrevera um livro meloso sôbre um pobre país e que usava enormes jóias, o que levou o inteligente Prat, quase durante todo o tempo da entrevista, a fazer o inventário de suas pérolas e diamantes. PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS NA TV Os horizontes que se abrem à televisão como veículo de comunicação jornalística, com o VT e os satélites, especialmente, impõem uma formação profissional ainda mais cuidadosa, consciente e responsável do que para a renovação do pessoal destinado à imprensa e ao rádio. Pela simples razão de que,
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entre nós, pràticamente, não há o telejornalista e sim o homem de sete instrumentos ou o jornalista polivalente, que se improvisa para o vídeo, recrutado das redações dos periódicos, do rádio ou do cinema. Uma constante preocupação dos alunos de comunicação das nossas universidades é a do que irão fazer quando forem declarados habilitados ao ofício com a conclusão do curso e dos estágios a que estão obrigados para a obtenção do título e do registro profissional. Acreditam que, com o fenômeno da concentração das emprêsas jornalísticas, com a formação das cadeias de jornais-rádio e telemissoras e com o consequente aproveitamento do mesmo pessoal para os três veículos, o mercado de trabalhado irá minguando e raros terão oportunidade de fazer carreira na especialização que escolheram. Se essa preocupação se faz notar entre os que preferiam aprofundar os seus estudos em jornalismo gráfico, muito maior se registra em relação aos que têm tendência e aspiram dedicar-se à televisão. Êsse receio pelo futuro resulta da avaliação estreita que mestres e estudantes, em sua grande maioria, fazem do campo de atividade que será abrangido pela TV, à base da situação atual. Para promover o interêsse do estudante em busca de sua especialização como telejornalista, parecenos suficiente levá-lo a considerar a esplêndida realidade da transmissão da imagem, diretamente, pelos satélites. Realidade que implicará, sem dúvida, no estabelecimento das agências de informações televisadas, funcionando 24 horas ao dia, do mesmo modo que atualmente as destinadas a fornecer notícias, reportagens, secções e fotografias a periódicos impressos e radioemissoras. Estas agências empregam milhares de jornalistas em todo o mundo. E o mesmo ocorrerá com as de TV que irão recrutar para os seus quadros pessoal especializado na captação da notícia com a utilização do VT. Por uma questão de resguardo dos interêsses nacionais – e não podemos ignorar que rádio e TV são concessões do Estado – e ao lado dos programas noticiosos e interpretativos produzidos pelos telecentros (a exemplo das novelas e musicais agora editados e distribuídos no País), também o govêrno haverá de produzir documentários e educativos através dos seus serviços de informação. Igrejas, indústrias, agências de turismo e propaganda, emprêsas de publicidade irão necessitar cada dia em maior escala de pessoal capacitado nas técnicas informativas de TV. Assim, o problema para os graduados não será o de encontrarem trabalhos, porém o de alcançarem um nível de habilitação que os credencie para o exercício rentável da sua profissão. Acontecerá com a TV o mesmo que hoje ocorre nas redações dos periódicos, onde vem crescendo expressivamente a demanda de graduados. Dos 90 concluintes do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, de 1963 a 1966, 42 estão exercendo a profissão atualmente, num índice animador, portanto, de 48 por cento.
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FORMAÇÃO PESSOAL A televisão será, talvez, o mais atraente dos veículos de comunicação de massa para a mocidade que está acorrendo às faculdades de jornalismo do Brasil. O fenômeno é natural: a idade da TV se identifica com a sua; a TV está na moda. Como o cinema o estêve para a geração de estudantes dos últimos dez anos anos e que, agora, começa a surgir com certo êxito na produção fílmica brasileira. A preparação de pessoal realmente habilitado para as funções reclamadas pelo telejornalismo, além das deficiências de instalações e recursos de nossas escolas, que podem ser superadas de várias maneiras, vai encontrar o seu ponto nevrálgico na seleção dos candidatos psíquica e culturalmente aptos à aprendizagem. Seleção, diga-se de passagem, que não poderia efetivar-se nos cursos restritos aos jornalismo gráfico, mas que hoje se torna possível nas escolas de comunicação. Nestas ocorrerá que muitos estudantes, ao contato com as exigências e os problemas da formação técnico-profissional, chegarão à evidência de que realizarão integralmente como rádio-comunicadores ou nas atividades do grafojornalismo, que respondem melhor à sua vocação. Como Jacques de Pottier e Patrice Habans, da equipe de fotógrafos do “Paris-match”, que, interrogados sôbre se o cinema já os atraíra, responderam prontamente: “Não. Para nós, o cinema representa facilidade... a foto pode ter uma fôrça de impacto muito maior... pois fixa a cena numa fração de segundo, realizando uma espécie de condensação emocional”. (Entrevista para “Lettres de Paris” – nº17 – Jan. 1966) Cada um com o dom que Deus lhe deu, como já o adverte o Apóstolo. Em ensaio aparecido em “Television in the Making”, o diretor artístico da BBC, Norman Swallow, referindo-se ao produtor de programas documentais televisados, assinala que “pode ser um jornalista profissional ou um editorialista em um jornal e que deve ter as qualidades – honestidade na interpretação e arte na maneira de apresentá-lo, modéstia profissional e sobretudo integridade moral no ponto de vista defendido”. Acontece, porém, que estas qualidades não bastam a êsse jornalistas: “é raras vêzes um cenógrafo e carece de treinamento nos complicados métodos do “script” de TV em que o elemento visual conta mais do que a palavra. Assim, quando se lhe pede um roteiro, costuma compor um tratado ou um enorme comentário salpicado de sugestões relativas às fotografias que se podem empregar. Neste caso, é levado a colocar as palavras em primeiro plano e as imagens em segundo lugar ou a pedir o uso de sequências fílmicas como um conferencista pede as ilstrações da lanterna mágica.”. Os repórteres de TV – seja o jornalista-operador de VT, seja o narrador comentarista – se irão deparar com situações inteiramente diversas daquelas com que se defrontam os seus colegas da imprensa e do rádio. A partir da visão que colhem do acontecimento e que apresenta um paradoxo: uma visão indireta num veículo que capta a ocorrência ao vivo. É que o primeiro, como o cinegrafista, vê o sucesso por uma lente; o outro, por um monitor; um deve ter quase o
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divinatório dom da previsão exata do ângulo em que vai situar-se o aspecto definitivo e característico do fato; o outro não pode afastar-se da imagem limitada do vídeo, como a um presidiário está vedada a paisagem que não se contenha no quadrado gradeado de sua cela. Eis porque, a despeito da atração que exerce, a TV significa um instrumento tirânico para o comunicador. Por mais hábil jornalista que o seja, para bem exercer o seu ofício, precisa submeter-se à complexa estrutura do meio, na verdade o mais complexo de quantos servem à humanidade nos nossos dias. Precisa perder o individualismo do escritor ou do orador, sem contudo recusarse à criatividade que é inerente à sua capacidade profissional. Precisa fugir à tentação do estrelismo para compreender e aceitar o trabalho de equipe, pois “uma boa equipe operará satisfatòriamente na medida em que a compõem especialistas de diversos ramos. E a função principal do diretor (no telejornalismo ou em qualquer outro realização de TV) é a de assegurar-se de que o produto final tenha a aparência de uma máquina bem construída e de marcha suave e não a de uma carroça em disparada, arrastada por cavalos inquietos e dirigida para lados opostos” – como arremata Swallow. TELEVISÃO E RÁDIO Aparentemente, o maior impacto sôbre os demais veículos utilizados para a difusão jornalística, com o surgimento da televisão, alcançou o rádio. Se, no processo cinematográfico, a imagem buscara o som, que o rádio explorava, para tornar-se mais inteligível e influente, a TV já nascia dotada da palavra e da música. E competindo com o rádio em têrmos de liquidá-lo definitivamente, por utilizar como transportadoras do som as mesmas ondas eletromagnéticas sobre as quais o veículo oral buscara a sua vantagem frente à imprensa – trazia a possibilidade de produzir, editar e distribuir a informação instantaneamente. Não foram poucos os que predisseram que o rádio não resistiria por muito tempo, tomando-lhe a TV tôda a sua audiência, que não só ouviria como também veria os acontecimentos. Causas técnicas, econômicas e culturais (que afloramos em nossas considerações anteriores) impediram que essa perspectiva pessimista se consumasse até os nosso dias. Ao contrário, o rádio prosseguiu mantendo a primazia na informação, continuando a ser “o primeiro a dar as últimas”, enquanto aumentava a sua popularidade com a multiplicação das emissoras e o aumento vertiginoso do número de receptores em todo o mundo. A REVOLUÇÃO DO TRANSISTOR A verdade é que, nos nossos dias, o rádio é o mais poderoso, o mais eficaz, o único veículo realmente dotado de universidalidade e instantaneidade com que conta a humanidade. Êste “status” foi alcançado por dois fatores conjugados: o
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primeiro de natureza fisio-psicológica – o fato de ter o homem a capacidade de captar e reter a mensagem falada e sonora simultâneamente com a excecução de outra atividade que não a especificamente receptiva; o outro, de natureza tecnológica - a descoberta do transistor. Não exigindo que o receptor permaneça com a sua atenção inteiramente voltada para o alto-falante, nem que à mensagem dedique o sentido da visão – normalmente reclamado para o exercício de qualquer atividade – o rádio, ao contrário da imprensa, da TV e do cinema, mantém na psiqué humana a sua ânsia natural de liberdade. O ouvinte tem pleno direito de escolha entre dedicar tôda a sua atenção à mensagem ou dividí-la com outra atividade, sem contudo perdêla de todo. Por vêzes, e até auxiliado nessa segunda atividade pela mensagem radiofônica, como no caso da prática de exercício físico (ginástica pelo rádio), da dança ou da aprendizagem. A dona de casa ouve a novela radiofônica enquanto tempera as panelas ou costura a roupa das crianças; o chefe da família ouve o noticiário, enquanto dirige seu automóvel rumo ao escritório; o estudante faz seus deveres, o operário trabalha em sua oficina, os consumidores adquirem gêneros e utilidades nos supermercados ao som dos programas transmitidos pelo éter. O rádio tornou-se, assim, inseparável do homem – e jamais é um incômodo, nem inoportuno, nem ladrão de tempo útil de cada um. Se não chegou a tornarse um vício (foi muito curta, limitada à época da descoberta e fabricação dos primeiros receptores de fone, a fase da radiomania) – transformou-se num hábito, situação a que aspira qualquer dos veículos de comunicação de massa. Familiarizado com as emissões, o receptor estará atento para as características dos programas que lhe interessam. Essas características, como os pregões dos vendedores de periódicos, os títulos e manchetes dos diários ou os cartazes coloridos dos cinemas captadas pelo ouvinte parcialmente desatento é que o levam a concentrar na mensagem jornalística radiofônica o seu interesse, sobrepondo a qualquer outra, por alguns minutos, a atividade receptiva. É o que constatamos em todo o País, quando se ouve a clarinada do “Repórter Esso” ou a abertura do “Guarany”, que anuncia a emissão do noticário oficial. O transistor foi a solução da técnica para levar o rádio às ruas, ao campo, à montanha, aos transportes coletivos, à praia, às florestas. Onde quer que o homem se encontre, desfrute ou não o confôrto da civilização, na mais recôndita longitude, não estará sozinho: ouvirá pelo receptor transistorizado o eco das grandes cidades, acompanhará os sucessos, a voz da multidão, manter-se-á em dia (e em hora) com o palpitar da comunidade internacional e nacional e palpitará com ela. O transistor permitiu a sintonização do homem com seus irmãos distantes, sem quaisquer barreiras. Insistirão as equivocadas Cassandras do rádio em que também a TV alcançará este extraordinário poder de onipresença, uma vez que já dispõe da mesma vantagem tecnológica. Permanece, contudo, e permanecerá sempre, como elemento
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garantidor da existência e supremacia do rádio como veículo de comunicação aquêle fator ímpar de deixar-se usar pelo homem sem privar a êste de sua liberdade, sem viciá-lo, sem lhe exigir mais do que alguns minutos por dia para que atenda à sua necessidade biológica e social de informação. RÁDIO E REGIÃO Veículo de alcance universal, que pode levar sua mensagem a qualquer parte do glôbo, no mesmo instante unindo populações antípodas – o rádio entretanto é de natureza eminentemente regional, quanto à sua principal audiência. Tôdas as pesquisas realizadas até hoje dão conta da preferência dos ouvintes pelas emissoras locais e regionais. Enquanto o jornal tende a adquirir âmbito nacional e a TV se internacionaliza (a Europa-vision é um exemplo dessa tendência irresistível e irrefreável), o rádio se faz porta-voz, arauto, elo cada dia mais forte e necessário de comunidades vizinhas, presas às mesmas condições sociais, econômicas, políticas e culturais, dentro de determinados limites geográficos. Com a perspicácia para os fenômenos pisco-sociais, os planejados do sistema soviético de radiodifusão estabeleceram, na URSS, a rêde de receptores conectados, que não captam outros programa senão os distribuídos pelas emissoras locais e regionais. (Apenas uma quinta parte dos aparelhos soviéticos são capazes de receber emissões em frequências diversificadas, segundo Inkeles – “Public Opinion in Soviet Russia: a Study in Mass Persuasion”). É evidente que, na implantação de tal sistema, houve interêsse político, mas além das circunstâncias de que um receptor conectado custa menos da décima parte da instalação e manutenção de um aparelho comum e de que apresenta uma recepção de melhor qualidade, a generalizada preferência dos ouvintes de rádio de sintonizar as emissoras regionais é responsável pelo conformismo da audiência de tôdas as Rússias diante da situação. Ramiro Dominguez, em sua tese sôbre a comunicação em áreas rurais do Paraguai (“El Valle y la Loma” – Asunción, 1966) constata o desinteresse da população de Caundy e de outras localidades da área pesquisada por programas de outras emissoras que não a local – ZP6-ZPA6 “Rádio Guairá” – sintonizada geralmente. E afirma: “O único programa de Rádio Nacional que todos procuram escutar é o comunicado do meio-dia para fazer-se uma idéia do que ocorre na capital ou de alguma disposição governamental que possa afetá-los”. O mesmo se pode observar no Brasil, em qualquer cidade interiorana que tenha a sua emissora. A íntima correlação entre rádio e comunidade regional – correlação que tende a crescer com o advento da onipresença da comunicação televisada e com o seu internacionalismo característico – tem sido estudado pela prof. Zita de Andrade Lima, que chama a atenção dos seus alunos em Brasília para a necessidade de modificar a linguagem e as técnicas do radiojornalismo em uso. Com efeito, se em TV quanto à linguagem estamos retardados de um qüinqüênio pelo menos – não nos parece iminente a modificação na linha da produção
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telejornalística – em rádio a situação se nos afigura semelhante à de um indivíduo que, fora dos dias carnavalescos, se metesse num fraque e, de colarinho alto e cartola, saísse diàriamente pelas ruas, em suas atividades normais. O rádio precioso, pretensioso e pernóstico; o rádio gritado, urrado, ululante; o rádio com textos lidos dos periódicos ou redigidos pelos Gongora caboclos; o rádio das conferências intermináveis e entrevistas prèviamente preparadas, lidas pelo locutor com monotonia e escutadas pelo receptor com enfado; o rádio que evita a surpresa, que foge às interferências sonoras da própria vida, que não utiliza os recursos musicais à sua disposição para enriquecer-lhe e matizar-lhe as mensagens – êste é o rádio brasileiro em sua generalidade, já superado e desatendendo ao mínimo de enquadramento na nova fase a que se verá lançado pela TV, quando esta desfrutar da mesma popularidade ao oferecer à audiência idênticas facilidades (receptores transistorizados) de acolhimento de suas mensagens, mais atraentes pelo uso da imagem, da cor e dos seus conjugados. RÁDIO E AUDIOSFERA O rádio integrou-se na vida cotidiana da humanidade porque foi o primeiro veículo a penetrar por si mesmo o domicílio de cada família, a violar a intimidade dos lares, a tornar-se uma presença invisível mas audível e atuante na existência de cada indivíduo em particular. A palavra e o som, incorpóreos e ampliados, tornaram-se companheiros do homem, que deixou de ser um solitário e ensimesmado, nascido paradoxalmente da sociedade de massas. Com o rádio, o som recebeu nova dimensão, a palavra ganhou mais poder. Com o rádio, o homem contemporâneo, envolvido num mundo de claxons, sirenas, clangores, bruaás e pregões, e fugindo ao pandemônio dos gritos e tumultos das multidões para o refúgio do seu lar, conquistou o silêncio construtivo da palavra dita e não falada e o tranqüilizador ambiente do som harmonioso, e não estridente, da música, o “background” sono exigido para a sua recuperação interior, para o seu equilíbrio psíquico ameaçado. Essa, a primeira observação da natureza psicológica, e logo técnicoprofissional que se apresenta à consideração dos homens de rádio e aos que se preparam para o exercício da comunicação radiodifundida no Brasil: o rádio é o veículo intimista por excelência. Ninguém entra na casa de outro aos gritos; ninguém aperta uma campainha ininterruptamente até que venham atender à porta. O rádio é o amigo e visitante que, como o queria Chesterton, compartilha conosco o nosso ideal de silêncio, nos momentos em que fugimos à audiosfera, como podemos, parafraseando Walsh, cognominar o universo indisciplinado da palavra e do som em que vivemos mergulhados. No Brasil, o rádio é gritado com se a audiência fosse constituída de surdos ou os comunicadores acreditassem que a persuasão é um problema de volume e não de valor da argumentação oral. E o vício se estende às orquestras que
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sufocam a voz do cantor ou do locutor, tornando a sua mensagem confusa, desarmoniosa, indecifrável. Sonoplastas, técnicos de áudio, regentes, cantores e locutores do rádio brasileiro precisam de ser advertidos da importância psicosocial do volume em que é emitida a mensagem radiofônica para que o receptor não se irrite, não tenha elevado o seu “stress”, exatamente quando busca no lar relaxar as tensões a que os seus ouvidos estiveram submetidos no mundo exterior. Por isso Fernando Curado Ribeiro, no seu substancioso ensaio sôbre os problemas de realização, produção e estética do rádio, salienta a necessidade imprescindível do “estudo da voz falada” para todos aquêles que elegem uma carreira na qual a voz é uma ferramenta e que devem conhecer “as regras do melhor uso e eficiência da sua voz, como base profissional”. Igualmente Coquelin, pensando na importância da voz radioeufônica, e prevendo a tendência de evitar-se o maior volume pelo emprego de uma oratória inadequada, formulou o seu princípio fundamental: “não falar, mas dizer; mas dizer não deve ser sinônimo de declamar”. Aos estudantes que sentirem inclinação para as lides da comunicação radiofônica, os seus professôres e instrutores precisam de insistir sôbre o estudo da voz, a prática da dicção, as normas de interpretação vocal, das inflexões, da ênfase, das cacofonias, do eco, dos hiatos, dos paraquemas, nas nasalações, lambdacismo, zetacismo, ceceísmo, sigmatismos e outros vícios de linguagem, provocados por diferentes causas e passíveis de correção. Na verdade, o candidato a qualquer função no rádio (exceto aquelas de caráter técnico) não deve ser encorajado se não for dotado de voz radieufônica. Vejamos o que acontece, por exemplo, com um produtor ou redator, mesmo intelectual de qualidade, que não saiba “dizer oralmente”. Terá, sem dúvida, de submeter o seu trabalho a um locutor, treiná-lo, corrigí-lo e ser por êle corrigido – e essas operações demandam tempo, num veículo que pelo menos no que tange ao radiojornalismo – reclama instantaneidade na emissão das mensagens. O homem de rádio, independente de ser locutor, é um especialista em dicção, um falante hábil e educado, sem o que jamais será um elemento profissionalmente completo e econômicamente rentável para a indústria radiofônica. EXPRESSÃO RADIOFÔNICA Mas não é somente pelo inadequado da voz e do som que peca o rádio brasileiro. Falta à sua produção a consciência e o domínio da expressão radiofônica, da linguagem específica, insubstituível por qualquer outro veículo de comunicação coletiva. Essa deficiência observa-se sobretudo no que tange ao radiojornalismo. Continua-se, mesmo depois das experiências exitosas de sonoplastia, no rádio-teatro e em programas artísticos armados, mesmo depois do aperfeiçoamento dos microfones e amplificadores e das técnicas de reverberação – continua-se a resumir o radiojornalismo à leitura de textos escritos
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de notícias, comentários, declarações e entrevistas e uma que outra reportagem externa. Sòmente nestas, às vêzes, registra-se o aproveitamento dos sons ambientais, que dão realismo à informação direta, fazendo vibrar o ouvinte. No mais, chega-se a considerar má uma transmissão de informativo lido quando o ouvinte percebe o raspar dos originais à passagem das páginas ou fichas de texto. Consideração, decerto, oriunda de dois dos nossos vícios: a leitura de mensagens ao microfone e a tapeação do ouvinte. No entanto, as transmissões futebolísticas constituem uma execeção exemplar no rádio brasileiro, como único tipo adequado à expressão radiofônica pela transmissão instantânea e “in loco” da ocorrência, o que permite o aproveitamento dos sons naturais – as manifestações da “torcida”, o trilar do apito dos árbitros e, por vêzes, até as pancadas da bola nas traves da linha de “goal”; o uso do instrumento da descrição; a seqüência ordenada da narração e até mesmo pelo emprêgo de um vocabulário e uma sintaxe conhecidos e decodificáveis fàcilmente pela audiência, embora constituam uma charada para os não aficcionados ao esporte bretão. Explica-se, assim, a popularidade de que gozam as emissões desportivas do gênero e o fato de numerosos frequentadores dos nosso estádios portarem receptores transistorizados para acompanhar a irradiação dos “matches” a que êles próprios estão assistindo. Seguramente, as radiorreportagens futebolísticas alcançaram um nível modelar, sem qualquer planejamento ou preparação técnica, porque o seu ritmo excitado, a liberdade de que goza o locutor na elevação da voz e o comentarista na descrição e crítica dos lances e fases do jogo correspondem igualmente ao estado psicológico do ouvinte apaixonado pelo esporte e ao generalizado uso pelos nossos locutores do diapasão gritada e inflamado com que emitem as mensagens publicitárias. Quanto ao radioteatro, o seu êxito pode ser atribuído, sem muito perigo de erro, ao prepararo dos diretores e aos constantes ensaios dos artistas, muitos vindos do palco e com bastante experiência em interpretação oral. O problema da linguagem radiofônica, do uso – na codificação das mensagens – de vocábulos e sintaxes passíveis de serem compreendidos pelo receptor, está ligado, em um país continental e no estágio de pré-desenvolvimento como o nosso, ao “status” sócio-cultural das audiências regionais. Mas também se vincula à natureza e aspectos dos gêneros jornalísticos passíveis de ser adaptados à expressão oral – com já o referimos – e à formação profissional das equipes de comunicadores e técnicos a serviço da informação pública. Quanto ao primeiro fator, já está mais do que provado que a preferência do público se vola para as emissoras regionais e locais, exatamente porque espera que lhes fale em uma linguagem compreensível e que se ocupem, prioritàriamente, de gentes, situações e ambientes com que se encontra familiarizado. Pesquisas em tôrno dos assuntos de interêsse e do vocabulário de cada audiência, em termos regionais, proporcionariam valiosos subsídios a uma atualização do rádio
JORNALISMO
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brasileiro para atender melhor, em mais extensão e profundidade, aos propósitos educativos e culturais que devem orientá-lo. Esta é uma tarefa sobretudo do govêrno e das emprêsas. FORMAÇÃO PROFISSIONAL Tarefa mais diretamente de responsabilidade de escolas é, sem dúvida, o reexame e reformulação dos métodos de ensino, dos currículos e das práticas de aprendizagem, no sentido de preparar profissionais capacitados ao pleno aproveitamento dos recursos sonoros próprios do veículo no exercício do jornalismo pelo rádio. Antes de tudo, deve-se indagar se todos os gêneros do jornalismo gráfico se prestam à sua divulgação oral e, em seguida, como adequá-las às características, às particularidades do meio radiofônico, às suas técnicas, inclusive e especialmente, à de repetição, inadmissível e cansativa nos demais veículos de comunicação coletiva. De um modo geral, os programas meramente informativos, de notícias nacionais e estrangeiras, distribuídos pelas agências de informações e que não permitem a ilustração sonora, encontram-se bem apresentados no atual rádio brasileiro e serão aperfeiçoados, desde que redigidos para a leitura em voz alta – que muito difere do texto destinado a ser mentalmente decodificado. Quando, porém, o noticioso se ocupa de fatos locais (e algumas vêzes mesmo de ocorrências exteriores que foram transmitidas originàriamente “ex loco” – como um discurso ou entrevista coletiva de personalidade de relêvo na vida nacional ou internacional) a perfeita cobertura radiofônica exige a utilização de recursos sonoros, como por exemplo, a voz do entrevistado em “background” enquanto o locutor resume as suas declarações. Freqüentemente, ouvimos notícias de realização de concertos e recitais, de festas e “shows”, de declarações de autoridades locais e outras ocorrências ricas em sons – apresentadas com a pobreza e a aridez da linguagem estatística ou de relatório militar. O rádiorepórter e o rádio-produtor brasileiros ainda não descobriram o gravador de som para a captação do ambiente em todo o seu realismo auditivo. As entrevistas constituem outro gênero jornalístico que, caso não passem por um processo profundo de adequação, terminarão por perder o público – como as novelas radiofônicas já o estão perdendo, frente à televisão. Julgamos mesmo que, ao rádio, resta o caminho de fazer da entrevista não um gênero específico mas uma ilustração, um recurso para a reportagem, esta sim a modalidade mais aberta, que maiores oportunidades oferece ao agente comunicador radiofônico. Na reportagem transmitida diretamente ou gravada para posterior apresentação é que tem o jornalista do rádio a sua oportunidade de desenvolver e comprovar a própria perícia, sensibilidade e criatividade, como exemplificamos anteriormente com as transmissões futebolísticas. Descrevendo
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o ambiente – fábrica, escritório, salão de festa, as ruas, hospital, prisão, cemitério ou igreja; captando palavras e sons; retratando os tipos em suas roupas, em seus maneirismos, em seus gestos, em suas modificações fisionômicas, em seus movimentos; narrando e interpretando as ocorrências em ritmo e diapasão compatíveis com a sua natureza; repetindo e repetindo inteligente e oportunamente o tema, o local, os temporais, modais e causais da sua reportagem – o jornalista de rádio consegue que a audiência ponha a trabalhar a sua imaginação criadora, fixe os fatos, participe efetivamente da ação, acolha a mensagem por processo idêntico e com o mesmo efeito de retenção que a pretendida pelo periodista da imprensa ou pelo autor de uma estória ou romance. O poder de persuasão da palavra falada é tão grande, quando consegue inflamar a imaginação, que não há exemplo na história de qualquer dos demais instrumentos de comunicação de adesões ou histerias coletivas, como a tomada da Bastilha sob a influência dos tribunos...
O CASO DOS CONTRATOS TIME/LIFE E TV-GLOBO*
Luiz Beltrão
Todo o ano de 1966 e parte do ano em curso foi agitado, nos círculos jornalísticos, empresariais da comunicação, políticos e júridicos pela apaixonante questão da participação de capitais estrangeiros nos meios de divulgação nacionais, caracterizada, sobretudo, pelos acôrdos firmados entre o consórcio norte-americano Time/Life 1 e a TV-Globo Ltda. Sob a liderança do deputado João Calmon, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e um dos diretores dos Diários e Rádios Associados”, foi desencadeada uma campanha contra o que se denunciou como “um processo de desnacionalização da imprensa, da TV e do Rádio”, exigindo-se uma definição do Govêrno quanto aos acôrdos citados e suas conseqüências, que constituiriam flagrante violação do Art. 160 da Constituição em vigor. Esse artigo proibia “a propriedade de emprêsas jornalísticas, sejam políticas ou simplesmente noticiosas, assim como a de radiodifusão, a sociedades anônimas por ações ao portador e a estrangeiros. Nem êsses nem pessoas jurídicas, excetuados os partidos políticos nacionais, poderão ser acionistas de sociedade anônimas proprietárias dessas emprêsas. A brasileiros caberá, exclusivamente, a responsabilidade principal delas e sua orientação intelectual e administrativa”. ORIGENS DA CAMPANHA Em seu livro “História da Imprensa no Brasil” (Rio, Civilização Brasileira, 1966). Nelson Werneck Sodré dedica o capitulo final à crise da imprensa nacional, * Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 3:2-3 (1968): pp. 24-35 1 THE TIME-LiFE/TV GLOBO CASE - A complete inventory of one of the most noisy political, journalistic and juridic cases that ever agitated Brazil: the validity of the contract of financing and investment by the Northamerican group to the Brazilian proprietary group of tire daily “O Globo” and various radio and TV channels in the country. The Documentation Departnent of INCINFORM prepared this paper, covering the period between the emerging of case, in 1965, until march of 1967, with a definition of tire Federal Government about the affair.
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mostrando a penetração de publicações periódicas norte-americanas, burlando a lei, pois “de propriedade de estrangeiros e até impressas no estrangeiro”. Outra como “Seleções do Reader’s Digest” e “Visão” circulavam, já em 1954, “sem a menor dissimulação”, conforme o depoimento de R. Magalhães Júnior em artigo citado pelo autor: “Na primeira, os brasileiros são meros tradutores Na segunda é um boss vindo dos U.S.A quem dá a palavra decisiva sôbre tôda a matéria editorial”. Então já se reclamava um inquérito governamental sobre o assunto . No govêrno constitucional de Vargas “os antagonismos políticos tornavam-se agudos e refletiam-se claramente na imprensa. Vargas não tinha condições, pela mudança dos tempos, para subornar a grande imprensa, como se fizera antes no Brasil, e Campos Sales confessara com tanta simplicidade. Mas era já rotina a abertura de generosos créditos a emprêsas jornalísticas, nos estabelecimentos bancários e previdenciários do Estado. Vargas julgou que êsse caminho, largamente batido, lhe permitiria ter pelo menos um órgão oficioso, de base popular, capaz de permitir--lhe enfrentar a maciça frente dos jornais controlados pelas agências estrangeiras de publicidade. Foi assim que vultosos e rápidos, créditos possibilitaram, em 1951 a Samuel Wainer fundar o vespertino “Última Hora”, que logo conquistou lugar de destaque na imprensa carioca e brasileira (...) O imperialismo cedo entendeu que era imprescindível liquidar a parcela nacionalista da política de Vargas. Para isso, montou, à base das agências de publicidade, gigantesca e persistente campanha antinacionalista, visando impossibilitar a solução estatal do problema do petróleo.” Werneck Sodré continua rememorando essa primeira grande batalha da crise da nossa imprensa: a campanha encetada em 1953 e que se arrastou por vários meses, em que “tôda a imprensa concentrou-se então em demonstrar o óbvio: que êsse jornal (U.H) só tornara possível pela concessão de grandes empréstimos nos estabelecimentos oficiais de crédito”. A campanha era sustentada principalmente pelos “Diários Associados” e por “Tribuna da Imprensa”, todos esquecendo os empréstimos levantados pelas suas emprêsas “nas mesmas condições, ou piores” (...). “Rafael Correia de Oliveira, em sua coluna do”Diário de Noticias”, mostrava como não era possível, quando menos por coerência, atitudes diversas ante fatos iguais, e acusava os Diários Associados de se terem aproveitado mais dos estabelecimentos oficiais de crédito do que a “Última Hora”, posta sózinha no pelourinho”. A Comissão Parlamentar de Inquérito, então criada para apurar o caso não considerou “as denúncias das dividas dos srs. Chateaubriand e Roberto Marinho, nunca saldadas, no Banco do Brasil e nem nas Caixas Econômicas de São Paulo (...). Os dados apresentados à Comissão Parlamentar de Inquérito (sôbre as verbas de publicidade pagas no mesmo ano de 1953 e distribuídas por companhias americanas nos jornais, no rádio e em outros veículos de propaganda oposicionista, e que montaram a 3 bilhões 506 milhões e 200 mil cruzeiros) foram
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sonegadas ao conhecimento público” (...). É possível afirmar, sem nenhum risco de êrro, que as ofensivas publicitárias de 1951-1952 contra o Clube Militar, sua “Revista” e a ala nacionalista das Fôrças Armadas; de 1953, contra a êmpresa “Última Hora”; e de 1954 contra o govêrno Vargas (...) foram rigorosamente planejadas e desenvolvidas, e que a elas se devem os atentados cometidos contra a liberdade, inclusive a de expressão do pensamento”. Daí por diante, em seus congressos de classe, em livros, artigos e reportagens, jornalistas e estudiosos dos problemas da imprensa apontavam a progressiva desnacionalização da imprensa. Em fins de 1963, o deputado João Dória requeria uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a infiltração estrangeira nos meios de divulgação do País, argumentando que, “ao longo dos trabalhos, não apenas a transgressão de um dispositivo constitucional virá a tona, mas a constatação de um dos poderosos mecanismos de que se utilizam os grupos financeiros internacionais para exercitar no mundo moderno uma nova forma de colonialismo: aquela que domina as fontes de informação e os meios de exploração de riquezas com outras armas que não a da ocupação militar e dá aos povos colonizados a falsa e por isso cruel impressão de senhores do seu destino”. AS REVISTAS ESTRANGEIRAS EDITADAS NO BRASIL Segundo Genival Rabêlo (“O capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira” – Rio, Civilização Brasileira, 1966), a penetração ilegal de revistas de propriedade e orientação de estrangeiros começou “com um sofisma. Seleções do Reader’s Digest que, juntamente com outras publicações, entrava no Brasil como produto importado, pagando, como devido, direitos aduaneiros, requereu ao govêrno brasileiro ser editada e impressa no Brasil, nas oficinas da Editora Ipiranga, em São Paulo. O procurador da República – sr. Temístocles Cavalcanti – deu parecer favorável, a pretexto de que aquela revista não tinha implicações políticas, limitando-se a publicar resumos de artigos de divulgação cultural ou científica já publicados. Ocorre que isso é verdade apenas em parte. Seleções sempre foi uma revista política, que exerce seus objetivos pela escolha adequada de trabalhos com cuja a opinião esteja identificada. Nenhuma outra revista nos Estados Unidos traduz melhor o american way of life. Portanto, do ponto de vista do interêsse do brasileiro, poderia ela continuar a entrar no Brasil como produto importado, pagando direitos aduaneiros, e nunca ser impressa aqui, concorrendo com o pêso do seu poder econômico, em igualdade de condições, com as revistas nacionais. Foi errado, pois, o parecer do procurador Temístocles Cavalcanti. É de assinalar, porém, que ele procurou fazer jurisprudência com aquela justificação de publicação apolítica, para consentir na impressão de “Seleções” tanto assim é que a porta se abriu e começaram a ingressar no País inúmeras revistas estrangeiras, editadas por estrangeiros aqui em português. Depois de Seleções, veio Visão (1950), cuja editora – Visions Inc., com sede em Nova Iorque, passou a editar aqui, também,
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Dirigente Industrial, Dirigente Rural e Dirigente Construtor, adquirido e passando a editar também, a partir de 1964, Direção, que pertencia à McGraw-Hill. O maior grupo estrangeiro, porém, que opera no Brasil é a Editora Abril, do Sr. Victor Civita. Com o lançamento de Realidade alcança 18 publicações, com uma tiragem global de cêrca de 4,5 milhões de exemplares mensais, para todos os setores da opinião pública brasileira”. Adiante, o sr. Genival Rabelo lembra que começou a denunciar o perigo a “burla à nossa Constituição”, em 1961, através da revista de sua propriedade – PN (primeiro, Publicidade e& Negócios, depois Política & Negócios), que “deixou de circular” pelas mesmas razões que impuseram agora o silêncio ao Diário Carioca”, em 1964. “Durante esse período, a situação se agravou, havendo rumores de que as visitas dos editores estrangeiros começam a se voltar para o campo da imprensa diária. (Salvo honrosas exceções, o campo das revistas, no Brasil, está virtualmente nas mãos dos estrangeiros). No setor da televisão e do rádio, a coisa já não se limita a rumores, pois há denuncia pública a respeito”. A “INVASÃO BRANCA” Praticamente, no segundo volume de sua obra “Duas Invasões”, intitulado “O Livro Negro da Invasão Branca” (Rio, Edições O Cruzeiro, 1966), o sr. João Calmon oferece subsídios muito valiosos ao exame da questão Time/LifeTV-Globo, do ponto de vista do grupo das emprêsas de comunicação que liderou. Reune, na quarta parte do livro, substancial documentário e anuncia uma próxima publicação, contendo o resto “desta campanha contra a invasão branca”, inclusive as conclusões da CPI e da Comissão de Alto Nível, ainda não conhecidas na época. No prefácio, o sr. João Calmon explica que não se trata, como é impressão dominante em parte apreciável da opinião pública nacional, de “uma luta entre dois grupos econômico, principalmente no setor da televisão” mas que o caso “tem implicações que envolvem o futuro do Brasil como país independente, pois “se não fôr torpedeado o plano do grupo Time/Life, cuja execução começou em 1962, no govêrno João Goulart, pouco restará, dentro de 2 ou 3 anos, a imprensa escrita e falada autenticamente brasileira”. Baseado no acôrdo entre o consórcio norte-americano e a TV-Globo, mostra a fórmula dessa “invasão”: a) venda do imóvel ocupado pela revista, pelo jornal, ou pela estação de rádio ou de televisão ao grupo estrangeiro; b) cessão de 45% do lucro e 3% da receita; c) presença de uma organização de auditores do grupo do exterior e de dois assessores, recebendo os salários em dólares em seu país, um com categoria de gerente-geral e outro encarregado da supervisão das finanças e da contabilidade; d) financiamento de milhões de dólares, a ser pago de acôrdo com as conveniências de ambas as partes. E acrescenta: “No caso da TV-Globo Ltda. , para um “capital brasileiro” irregularmente integralizado, de
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seiscentos milhões de cruzeiros, há um financiamento de Time-Life superior a ONZE BILHÕES DE CRUZEIROS. Aliás, no chamado “contrato principal”, assinado em julho de 1962, lê-se uma referencia expressa a essa transação como “ investimento estrangeiro” e não como “financiamento estrangeiro”. ETAPAS DA CAMPANHA A fim de situarmos a posição atual (abril de 1967) do rumoroso “affaire” e a atuação do Governo Federal no seu desenrolar, historiamos, a seguir, as suas principais etapas. A denúncia – Em 15 de julho de 1965, o então Ministro da Justiça, sr. Milton Campos, recebia a denuncia de que “ a subordinação da emprêsa TVGlobo à emprêsa Time/Life Broadcast Inc. é total, pois até a orientação programática é obedecida, além dessa assistência financeira e comercial”; empregados da emprêsa Time/Life, pagos por esta, são os técnicos que dirigem a TV-Globo, em realidade; são desprezados, como inconsistentes, as disposições do Código de Telecomunicações, que proibem a participação de tais técnicos estrangeiros, salvo autorização prévia e expressa da CONTEL, o que não existe no caso; o fato expressa maior extensão e profundidade (...) eis que diz respeito a própria segurança nacional, defendida particularmente no art. 160 da Constituição Federal, particularmente no trecho final: “A brasileiros caberá exclusivamente a responsabilidade principal delas e a sua orientação intelectual e administrativa.” Pronunciamento do CONTEL – O ministro da Justiça encaminhou o processo ao Conselho Nacional de Telecomunicações (CONTEL), onde tomou o n. 13.306.65 e ali permaneceu quase um ano (23/6/65 a 20/5/66) quando após serem coligidas a documentação e provas necessárias, o Conselho proferiu uma decisão em que, considerando que, “sob o título de técnica administrativa, há referência a notícias, publicidade, orientação e assistência técnica”; que no instrumento contratual, mais de uma vez, é citado um elemento de Time Life com atribuições equivalentes a de um gerente-geral; que a participação da emprêsa nos lucros líquidos da TV-Globo é equivalente a 45% e mais 3% das receitas brutas da emissora como parte da remuneração da assistência técnica prestada; que a emprêsa está sujeita a visita e inspecção permanente dos seus livros, arquivos, contratos, faturas, documentos de caixa e comprovante e a discutir todos os negócios com representantes da Time/ Life e de firma subsidiária desta (Ernst & Ernst); que até mesmo para ampliar suas instalações mesmo que não arrendadas por Time/Life a TV-Globo terá de obter autorização daquela e que, de ações judiciais que esteja envolvida a emissora, haverá um advogado brasileiro de Time/Life, e, ainda mais, considerando, que “a experiência já acumulada no setor da radiodifusão mostra, que não há
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necessidade da assistência técnica estrangeira em prazos muito longos”, e os termos do despacho do então ministro da Justiça, sr. Men de Sá, decidiu: “a) fixar o prazo de 90 dias para que a TV-Globo Ltda. ajuste, inequivocadamente, os contratos elaborados com Time/Life à letra e ao espírito do art. 160 da Constituição e legislação vigente, muito embora existam nos contratos clausulas que declaram expressamente a obediência à Legislação brasileira, a soma de fatos até aqui citados mostra uma gama de compromissos econômicos e administrativos de tal ordem que impedem a afirmação de que Time/Life não esteja participando, mesmo de maneira indireta da orientação e da administração da TV-Globo; b) que tal medida não impedirá que o assunto venha a ser reexaminado, caso os resultados das investigações, que se desenvolvem através da Comissão Especial, tragam à luz novos documentos cujo teor indique a necessidade e al re-exame.”
Comissão Especial – a comissão especial que se referia o CONTEL tinha sido nomeada pelo ministro da justiça em 24 de janeiro de 1966 e era composta pelos srs. Gildo Corrêa Ferraz, procurador da República e seu presidente; tte. Coronel Rubens Mário Brum Negreiros, da Secretaria do Conselho de Segurança Nacional, e Celso Luis Silva, gerente de fiscalização e registro de Capitais Estrangeiros do Banco Central. Ouvindo 62 depoimentos, reunindo pastas e documentos e fazendo um exame circunstanciado não sòmente das relações entre as duas emprêsas em causa com também da situação financeira legal da TVGlobo, nem assim os seus membros chegaram a um acôrdo. Na verdade, as conclusões foram diametralmente opostas: enquanto o presidente confirmava in totum as denúncias, os demais membros consideravam não haver violação do dispositivo constitucional (art.160); que as operações contratuais e financeiras eram absolutamente regulares; que “não há dúvida quanto ao absoluto contrôle por elementos nacionais da imprensa” e que “existem irregularidade mas nada têm a ver com a orientação administrativa e intelectual da emprêsa”. Parecer da Consultoria Geral da República – 3 de março de 1967, depois de ter negado provimento ao recurso impetrado pela TV-Globo de decisão da CONTEL e atendendo a um seu pedido de reconsideração, o Presidente da República encaminhou o processo à Consultoria-Geral da República para opinar. Cinco dias depois, o consutor geral, dr. Adroaldo Mesquita da Costa, ofereceu parecer que, pela sua importância e exaustivo exame dos aspectos jurídicos-constitucionais, oferecemos, ao final, na íntegra. Decisão do Presidente a República – Em 11 de março, o então presidente da República, Marechal Humberto Castelo Branco, exarava, no processo, o seguinte despacho:
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“O parecer do sr. Consultor-Geral da República chega a conclusão da validade dos contratos em exame por não haverem êles infringido qualquer dispositivo de lei vigente na época de sua celebração. É minuciosa a análise que faz das disposições legais apontadas como violadas, bem como das clausulas contratuais que as teriam vulnerado. Não posso senão acolher essas conclusões em sua procedência jurídica. É possível, porém, que a letra dos contratos não viole a lei vigente à época de sua promulgação, não se lhes podendo aplicar a lei posterior sem retroação. Mas dois são os argumentos principais da arguição, o que não são exclusivamente de natureza jurídica, mas também de averiguação factual: o primeiro é quanto a eventual existência de cláusula que atribuiria a estrangeiro ou a pessoa indicada por estrangeiros funções de gerencia na TV e isso é vedado pela Constituição e mesmo e mesmo pela lei vigente à época da celebração dos contratos. O segundo diz respeito ao investimento e à sua remuneração. O parecer do CONTEL argui irregularidades no investimento e na remessa cambial, através dos quais se teriam enviados recursos para a construção e instalação da TV-Globo, bem assim nas modalidades ral e o Código de Telecomunicade sua remuneração, o que poderia infringir a Constituição Federal. Assim, sem acolher as conclusões de nulidade dos contratos uma vez que os fundamentos do parecer do Sr. Consultor-Geral da República demonstram que não houve infrigência legal, reconsidero meu despacho anterior, mas determino se processem as seguintes diligências; a) que o CONTEL verifique se de fato há atribuição de poderes de gerencia ou orientação intelectual ou administrativa a estrangeiros; caso se constate, em qualquer momento, esse fato, caracterizar-se-ia, apesar da letra dos contratos, infração à lei brasileira, sujeita as sanções do Código de Telecomunicações; b) que o Banco Central do Brasil verifique a regularidade das remessas cambiais, registro de capital e modalidades de sua remuneração, reexaminando estas questões de acôrdo com a legislação vigente à época da celebração dos contratos em confronto cm as alegações do CONTEL constantes dêsse processo.”
PARECER ADROALDO MESQUITA Os Fatos- A “TV-Globo Ltda.” constituída por pessoas físicas brasileiras natas, celebrou em 1962 com o GRUPO TIME-LIFE, dois contratos – um de sociedade em conta de participação e outro de assistência técnica. O Primeiro, tem a natureza de contrato de financiamento. Por êle o financiador – cujos recursos fornecidos seriam escrituados em conta à parte nos livros da sociedade – receberia determinada porcentagem dos lucros líquidos da operação comercial da êmpresa, todavia sem ter qualquer direito de propriedade da êmpresa ou sôbre seus bens, ou sôbre as ações representativa, do capital
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social, ou ainda qualquer direito de gerencia ou administração (cláusulas 5 e 11, letras “a” e “b” ). Esse contrato pouco interêsse tem para o desate do problema, por isso que, antes mesmo de a estação de TV entrar no ar, foi resilido. O segundo – de assistência técnica – é típico dos contratos dessa natureza, de uso correntio. É precedido de “consideranda” que consubstanciam as justificativas do contrato e sua motivação. A assistência técnica que preconiza esta enumerada em suas clausula e se refere à técnica administrativa e operacional (programas, notícias, vendas, publicidades, etc.) bem como conselhos técnicos relacionados com a construção da estação e especificação do equipamento. Para tanto, o grupo TIMELIFE coloca à disposição da TV-GLOBO: (...) na capacidade de consultor pelo prazo que a TV-GLOBO desejar uma pessoa com as habilitações equivalentes às de um Gerente-Geral de uma estação de televisão” (1 – letra a) e ainda. (...) uma pessoa com experiência nos campos da contabilidade e finanças. A referida pessoa trabalhará para a estação em regime de tempo integral, sob as ordens do Diretor Geral e da Diretoria com o título de Assistente do Diretor Geral (...).
Além disso treinará nas especialidades necessárias para a operação de televisão comercial o numero de pessoas que a TV-GLOBO deseja”. (1 – letra b). Essa assistência técnica como não poderia deixar de ser é remunerada, na forma como prescrevem a cláusula 2 e suas letras a, b, c, d, e, e do contrato de que trata. O contrato de sociedade em conta de participação teve forma contratual e cedeu a TV-GLOBO ao GRUPO TIME-LIFE seus direitos à promessa de compra e venda do prédio em que está instalada a estação – com exceção do material necessário à transmissão – desaparecendo, assim, o financiamento, que foi aplicado no preço da compra do imóvel. Celebrou-se, então, contrato de arrendamento em que se prevê o pagamento de aluguel, mediante uma porcentagem dos lucros líquidos da emprêsa. De consequência, estão em vigor os seguintes contratos: a) de assistencia técnica b) de arrendamento Teses em Debate Em fase dessa situação, indaga-se: a) Poderia a TV-GLOBO firmar o contrato de sociedade em conta de participação com o Grupo TIME-LIFE, sem infrigência da legislação, então em vigor?
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b) Poderia a TV-GLOBO celebrar o contrato de assistência técnica, nas bases como o fêz, com o Grupo TIME-LIFE, sem ferir a legislação brasileira que, então, regulava a espécie? c) Permitiria a legislação, então, em vigor, que a TV-GLOBO assumissem através de contrato de arrendamento, as obrigações constantes daquele que assinou com o Grupo TIME-LIFE? O DIREITO Art. 160 – É verdade a propriedade de emprêsas jornalísticas, sejam políticas ou simplesmente noticiosas, assim como a de radiodifusão a sociedades anônimas por ações ao portador e a estrangeiros. Nem esses, nem pessoas jurídicas, executados os partidos políticos nacionais, poderão ser acionistas de sociedades anônimas proprietárias dessas emprêsas. A brasileiros (art. 129 ns. I e II) caberá, exclusivamente, a responsabilidade principal delas e sua orientação intelectual e administrativa”. Prescreve o art. 38 e sua letra a, do Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117, de 1962); Art. 38 – Nas condições concessões e autorizações para a execução de serviços de radiodifusão serão observados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas: a) os diretores e gerentes serão brasileiros natos e técnicos encarregados da operação dos equipamentos transmissores serão brasileiros ou estrangeiros com residência exclusiva no País, permitida, porem com caráter excepcional e com autorização expressa do Conselho de Telecomunicações, a admissão de especialistas estrangeiros, mediante contrato, para estas últimas funções, e ainda no art. 44: “É vedada a concessão ou prestação do serviço de radiodifusão a sociedades por ações ao portador ou a emprêsas que não sejam constituídas exclusivamente dos brasileiros a que se refere as alíneas I e II do art. 129 da Constituição Federal’. Infere-se portanto dos textos retro-transcritos que os estrangeiros e pessoas jurídicas por ações ao portador não podem: a) ser proprietários de emprêsas jornalísticas ou de radiodifusão; b) ser acionistas de tais emprêsas; c) exercer sua direção, bem como a sua orientação intelectual e administrativa.
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8. O Mérito 8.1- As conclusões dos que estudaram, sindicaram, perquiriram e analisaram o assunto, são divergentes. Há, todavia, em tôdas elas, um denominador comum; aquela, segundo a qual urge uma elaboração legislativa, cujos textos de lei vedem expressamente às emprêsas que explorem serviços do radiodifusão, quer sonora ou de imagens: a) firmar contrato de assistência técnica, quer com pessoas físicas ou jurídicas, cuja retribuição pelos serviços recebidos seja por meio de uma determinada porcentagem da receita ou do lucro; b) contratar técnicos estrangeiros para assessoramento de administração e contabilidade; c) celebrar contratos de financiamento em proporções excessivas ao capital social e recursos fornecidos pelos próprios acionistas, proporção esta a ser fixada pelo CONTEL em ato regulamentar. (Entendendo-se por financiamento, não só o puro e simples, como ainda o relatório como a participação em lucros, a sociedade em conta de participação ou qualquer outra forma negocial com participação de lucros); d) estabelecer cláusula contratual de locação do imóvel ou equipamento cujo aluguel seja expresso em uma participação na receita do lucro; e) qualquer espécie de convênio, acôrdo, ajuste ou contrato com emprêsas estrangeiras, relacionadas com a administração, operação e programação da estação; f) programação que não seja preparada pelas próprias emissoras ou firmas nacionais cujos cotistas acionistas, diretores, gerentes e administradores seja brasileiros natos; g) a exibição de programas de origem estrangeira que ultrapasse a proporção máxima de 20% do horário da programação. (Para efeito do estabelecido nesta letra, será computado o período de uma semana na distribuição da percentagem)”. 8.2 – Essas foram as sugestões constantes do Parecer do ilustre Conselho Hugo Lisbôa Dourado que, parece atenderam: a) ao despacho ministerial inserto na decisão do CONTEL – (1.4.°); b) ao que contém os itens 11 e 12 das conclusões dos membros da Comissão Especial que divergiram de seu Presidente (2.5). 8.3 – Tanto assim que, hoje, tais sugestões se transformaram em disposições legais (Decreto lei numero 236, de 28 de fevereiro último, arts. 5º a 9º). 8.4 – Essas sugestões são fruto do exame procedido na TV-GLOBO e brotam do processo respectivo. Justificando-as, disse o Conselheiro Hugo Lisboa Dourado.
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Todavia a despeito da clareza nos contratos de cláusula que estabelece a inalienabilidade das cotas e da direção intelectual e administração da emprêsa, verificamos que as diversas formas de retribuição por serviços prestados nos contratos de assistência técnica ou na locação do imóvel, muito embora caracterizado no interesse econômico do empreendimento, poderiam vir a ser inconvenientes, a ponto de tornar frágeis os artigos da Constituição e da lei que pretendem impedir a ser inconvenientes, a ponto de tornar frágeis os artigos da Constituição e da lei que pretendem impedir a ingerência estrangeira a ponto de impor a orientação intelectual e administrativa de emprêsa de radiodifusão. É norma comezinha do Direito que qualquer preceito restritivo ou proibitivo não pode deixar de figurar expressamente na lei: (princípio da legalidade) o que a lei não proíbe é legal”. 8.5 – Parece fora de dúvida que os contratos celebrados pela TV-GLOBO com TIME-LIFE, expressa e inequivocadamente estabelecem; a) que TIME-LIFE não terá direito de possuir ações do capital da TVGLOBO nem quaisquer direitos na TV-GLOBO que as leis brasileiras atribuem às ações de capitais; b) que TIME-LIFE não terá qualquer interferência direta ou indireta na direção ou administração da TV-GLOBO. 8.6 – De conseqüência, tais contratos se enquadram na letra do espírito do art.160 da Constituição Federal, bem como tais disposições do Código de Telecomunicações. Ao tempo em que foram celebrados, não existia qualquer disposição legal que os vedasse ou proibisse. Ao contrário eram de uso correntio: tanto o de arrendamento, quanto o de assistência técnica. 8.7 – Argumentar-se, agora que tais contratos poderão vir a ser inconvenientes, a ponto de tornar frágeis os artigos da Constituição e da lei que pretendem impedir a ingerência estrangeira ... a data vênia, submeter a restrição de direitos ao sabor de critérios subjetivos que podem gerar danos e insegurança para os empresários, alem de ferir o invocado principio comezinho do Direito; o que a lei não proíbe é legal. 8.8 – A prova de que a lei não proibia está na crescente expedição o Decreto lei n° 236, que além das proibições do artigo 160 da Constituição Federal, exige que a categoria ou proibição o que foi considerado que foi inconveniente nos contratos celebrados entre a TV-GLOBO e TIME –LIFE. Conseqüentemente da data dêsse Decreto lei em diante tomaram-se ilegais os contratos idênticos aos celebrados entre TV-GLOBO e TIME –LIFE; contudo,
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não pode a lei nova retroagir para alcançar os efeitos dos que lhe antecederam, por fôrça do mandamento constitucional relativo ao direito adquirido. 8.9 O contrato de sociedade em conta de participação, e de arrendamento e o de assistência técnica, desde que não implicassem, em atribuir a estrangeiros a propriedade da TV, o direito de possuir ações na respectivas sociedades anônimas ou finalmente a ingerência de estrangeiros na orientação e administração da emprêsa, podiam, até o advento de Decreto-lei n° 236, de 28 de fevereiro último, ser celebrados, sem infrigência legal. Se, posteriormente, tais contratos são considerados inconvenientes, podem ser evitados, mediante legislação nova do que se fez, nunca porém invalidados ou retificados sem quebra do principio da legalidade. 8.10 – Se fôsse levantada a objeção de que os contratos da TV-GLOBO, apesar de não ferirem a literalidade do artigo 100 da Constituição de 1946, seriam contrários a seu espírito, ousaria discordar. 8.11 – O que a Constituição veda está claro e expresso: 1) não podem ser proprietários de emprêsas jornalísticas as sociedades anônimas por ações ao portador e os estrangeiros. 2) os estrangeiros e as pessoas jurídicas não podem participar de tais emprêsas como acionistas. 3) a direção dos jornais, bem como a direção intelectual e administrativa, só poderão ser exercidas por brasileiros natos. (Pontes Miranda, “Comentários à Constituição de 1946”, 2° Edição, Vol V págs. 111 e112). Pontes Miranda para por em relevo a ratio legis dêsse texto constitucional, se refere às sociedades em comandita por ações ao portador e faz até o registro de decisões judiciais sôbre a matéria, para afinal, rematar: Mas a ratio legis opõe-se a que o acionista da sociedade de comandita possa ser estrangeiro: ora, se a sociedade é em comandita por ações ao portador, estaria exposto o jornalismo brasileiro a que estrangeiros tivessem ações na emprêsa; se em comandita por ações nominativas, lá estaria visível o estrangeiro. Resta saber se sendo sociedade em comandita simples a sociedade proprietária de emprêsa jornalística, algum sócio comanditários, podem ser estrangeiros. Ora se aos estrangeiros é vedado participarem de emprêsas jornalísticas como acionistas, a fortiori como quotistas (Obra citada pág. 114).
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As hipóteses figuradas são bem diversas daquela existente entre a TVGLOBO e TIME –LIFE. Esta não é nem acionista, nem quotista de TVGLOBO, nem o financiamento, nem o arrendamento, nem a assistência técnica, nenhum dessas qualificações nem os três conjuntos. 8.12 – Também, no que concerne à exigência constitucional a cerca da direção e orientação intelectual, política e administrativa a ser exercida sòmente por brasileiro nato, parece, não pairar duvida em in casu, a Constituição está respeitada. A única objeção séria neste sentido é a constante dos “consideranda” da decisão do CONTEL verbis: (...) que mais de uma vês, é citado um elemento de TIME –LIFE com atribuições equivalentes a um Gerente Geral (grifamos).
Se assim fôra, realmente, aí estaria ferido o texto constitucional. Mas, o que consta do contrato é coisa parecida, entretanto, bem diversa, etc. Com referência a essa assistência Time enviará a TV-GLOBO no Rio de Janeiro na capacidade de consultor, pelo prazo que TV-GLOBO desejar uma pessoa com habilitações equivalentes às de um Gerente Geral de uma estação de televisão. Atribuições e habilitações, bem se vê, não são a mesma coisa. Deve-se atribuir a quem tenha habilitações, mas pode alguém ter habilitações sem ter as atribuições, e isso é comum nos casos de assistência técnica, assessoria, consultoria, etc., como o de que se trata. 9. Conclusões 9.1 – Pelo expôsto, atendendo data vênia que o vício de ilegalidade não macula os contratos celebrados entre TV-GLOBO Ltda. e TIME –LIFE, sou de parecer que se atenda o pedido de RECONSIDERAÇÃO para dar-se provimento ao recurso interposto contra a DECISÃO n° 38/66 do CONTEL. 9.2 – Releva salientar por oportuno que a Constituição de 1967 que entrará em vigor a 15 dêste mês no seu artigo n° 166, dá ao assunto, tratamento idêntico ao da Constituição ainda em vigor. Apenas faz incluir ao lado da radiodifusão as emprêsas de televisão e acrescenta a matéria nova constante do §2°, verbis: Sem prejuízo da liberdade de pensamento e de informações a lei poderá estabelecer outras condições para a organização e o funcionamento das emprêsas jornalísticas ou de televisão e de radiodifusão no interêsse do regime democrático e do combate à subversão e à corrupção.” Sub censura Brasília, 8 de março de 1967, Aroldo Mesquita da Costa, Consultor-Geral da República. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 151-163, jan/dez. 2006
BRASIL: 50 ANOS DE RÁDIO*
Luiz Beltrão
O rádio brasileiro comemora êste ano o seu cincoentenário: a 6 de abril de 1919, no Recife, fundava-se o Rádio Clube de Pernambuco, destinado a reunir curiosos e interessados no progresso da radiodifusão, que “ainda se encontrava em estudos nos grandes laboratórios”, como costumava dizer um dos seus sócios, Oscar Moreira Pinto. Êste pioneiro, depois, juntamente com Augusto Pereira e João Cardoso Ayres, iria comandar as primeiras emissões radiofônicas regulares no nordêste do País. Os associados do Rádio Clube de Pernambuco promoviam encontros diários para trocar idéias “sôbre o rádio e seus progressos, discutiam os últimos informes obtidos acêrca da especialidade e... captavam apenas os sinais Morse”, pois “não existiam emissôras a captar” 1, o que somente a partir de 1920 iria ocorrer nos Estados Unidos. “Entretanto, ainda estão vivos alguns conferencistas, pianistas e até cantores que atuaram no rádio de galena de Augusto Pereira, antes mesmo do ingresso de Oscar Moreira Pinto na organização ” – escreve NESTOR DE HOLANDA. E acrescenta: ‘Tenho comigo volume imenso de documentos que atestam isso. E transmitir músicas e conferências é radiodifusão; não é radiotelegrafia...” 2 INTRODUÇÃO OFICIAL DO RÁDIO Foi contudo em 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência, que a Westinghouse Electric Internacional Co., em combinação com a Companhia Telefônica Brasileira, fez montar no alto do Corcovado, para demonstração, uma estação de 500 watts. Através dela,
* Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 4:1 (1969): pp.1-13. 1 PINTO, Humberto Sodré – Subsídios à História do Rádio em Pernambuco – in <<C & P>> - Vol. 1 – N. 2. Recife, 1945. 2 HOLANDA, Nestor de – Como nasceram o rádio e a televisão – in <<Guanabara>> - n. 7. Rio, 1967
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maravilhados, os cariocas e forasteiros que visitaram a Exposição Internacional do Rio de Janeiro ouviram o discurso de Inauguração proferido pelo então presidente da República, Epitácio Pessoa, e emissões de música lírica, conferências e concertos, captadas nos oitenta receptores que, com licença especial, tinham vindo dos Estados Unidos e haviam sido distribuídos a autoridades e pessoas de destaque ou instalados em praças públicas. No ano seguinte, o govêrno adquiriu uma estação idêntica à Wêstern Electric, instalando-a na Praia Vermelha para o serviço de radiotelegrafia (SPE). Com a competente autorização da Repartição Geral dos Telégrafos, também através dela foram feitas emissões de caráter literário e musical e transmitidas informações sôbre o movimento da bôlsa do açúcar do café, previsões do tempo, efemérides. Crescia o interêsse pela radiodifusão: importavam receptores e fabricavam-se rudimentares aparelhos de cristal para a audiência dessas emissões, a despeito das dificuldades apostas pela legislação vigente às atividades dos rádio-escutas. A PRIMEIRA IMPRESSÃO Quando vi a antena plantada a um canto do jardim - uma simples vara de bambu com uns fios ligeiramente instalados - e sobretudo quando penetrei no quarto das operações e pude examinar os toscos objetos que completavam o dispositivo, não pude deixar de sorrir por dentro. Não era possível que aquella carangueijola, feita com bambu, alguns metros de fio de cobre, uma bobina de papelão e um phone de aparelho comum, desse resultado sério. Quem sabe, se aquillo que pregavam ouvir por intermédio dêsse apparelho, não seriam quaesquer vibrações ordinárias, confusamente conduzidas por taes fios expostos! Dentro em pouco, porém, collocando o phone ao ouvido, pude escutar versos declamados na Praia Vermelha, e entremeiados de música, tudo tão perceptível como se os sons se originassem a dois passos. Aquella carangueijola ridícula funcionava maravilhosamente! (AMADEU AMARAL).
EXIGÊNCIAS PARA SER R´ZDIO-OUVINTES “São êstes os têrmos dos diversos requerimentos que devem ser feitos por todo amador, que queira instalar, em sua casa, um aparelho receptor rádio-telefônico:
Exmo. Sr. Ministro da Viação: (nome, nacionalidade, profissão, residência), desejando instalar em sua casa um aparêlho receptor de radio-telefonia, vem por meio deste pedir a V. Excia. a necessária licença.
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Junta documentos que provam sua idoneidade e E. Deferimento Rio de Janeiro , ...... de....................... de.......... (assinatura) (Estampilha de 1$000 Documento de idoneidade - A Rádio Sociedade fornece aos seus sócios o atestado de Idoneidade exigido. “Sr. Diretor dos Telégrafos: O abaixo-assinado pede a V. Excia. fazer chegar às mãos do Sr. Ministro, devidamente informado, o requerimento incluso em que solicita licença para estabelecer um aparelho receptor de rádio-telefonia em sua residência. Junta esquema da Instalação. E. Deferimento. (Data, assinatura e estampilha de 1$000) “O abaixo-assinado compromete-se a guardar absoluto sigílo de tôda correspondência rádio-telefônica por ventura interceptada pelo seu posto de recepção rádio-telefônica a ser instalado em sua residência à Rua.... nº (Assinatura sôbre estampilha de $600) Esquema da instalação rádio-telefônica a ser instalada na residência de (nome do requerente) à Rua .............. n.º..... Certificado de Idoneidade. Folha em branco com estampilha de $600". (Da revista “RÁDIO” -n.o 1. 15 de outubro de 1923. publicada no Rio de Janeiro). Em 20 de abril de 1923. Roquette Pinto funda a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que inícia a fase dinâmica de rádiodifusão no País. E já em junho do ano seguinte, inaugura um transmissor Marconi de 2 mil watts, então o mais potente da América do Sul. Foi também a primeira estação a requerer a sua legalização junto nos Correios e TeIégrafos obtendo o prefixo PRA-2. (Êste prefixo é, hoje, o da Rádio Ministério da Educação e Cultura, do Rio, que, no ano passado, comemorou o seu 32º aniversário, instalando dois novos transmissores de ondas curtas de 10 kw e um de ondas médias de 50 kw e modificando a sua programação para torná-la mais dinâmica e atraente). Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 165-176, jan/dez. 2006
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Em 1934, era inaugurada a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro dirigida pelo prof. Anísio Teixeira com fundos públicos. Hoje essa emissora leva o nome de Roquette Pinto. O SUPORTE DA PUBLICIDADE Ao lado das sociedades privadas que mantinham emissoras - as Rádio Sociedades e os Rádio Clubes - e viviam de contribuições dos associados, vai surgir, com o Rádio Clube do Brasil, que herdara o equipamento e a freqüência da primitiva emissora SPE da Praia Vermelha, a publicidade como suporte das transmissões. HUMBERTO SODRÉ PINTO registra o evento: “A Rádio Clube do Brasil obteve autorização do Ministério da Viação para fazer divulgar os nomes das firmas as-sociadas ou que ajudassem a manutenção dos serviços e despesas de “broadcasting”; ressaltemos que não era a indicação falada ou musicada que hoje conhecemos mas apenas a referência dos nomes das firmas, pura e simplesmente. Acreditamos ter sido a Rádio Clube do Brasil a pioneira da publicidade radiofônica do Brasil, na forma acima descrita. 3 Com essa autorização, “o próprio Governo abriu mão de seu direito legítimo de usar a radiodifusão como veículo de divulgação cultural e educativa, como acontece nos maiores centros civilizados da Europa para entregá-la a concessionários nem sempre fiéis a missão primordial do rádio.”4. No entanto, “enquanto o rádio – concebido como veículo de educação formal – retraía-se, incapaz de desenvolver-se ou mesmo sustentar-se em bases tão frágeis como têm sido aquelas sôbre as quais se mantém tradicionalmente a educação no País, o rádio publicitário amparado em características técnicas cada dia mais aperfeiçoadas e nas constelações de interêsses ligados à vida econômica, vencia os últimos obstáculos (de ordem jurídica, pois havia uma legislação impedindoo de tornar-se veículo de publicidade, como a que pesa hoje sôbre a Televisão Educativa) que se opunham à sua completa integração em amplos contextos associacionais e que se traduzia em têrmos de novos enunciados formais ligados a esquema de atribuições e funções fundamentalmente prêso no complexo comercial-industrial.”5. O chamado “grande rádio” vai surgir pelos idos de 1936, quando o vespertino “A Noite” instala e inaugura a Rádio Nacional, no Rio, mais tarde incorporada ao Patrimônio da União e por cujas ondas ainda hoje o Govêrno faz irradiar o noticiário oficial dos Poderes da República. Sob a orientação de um 3 4 5
PINTO, Humberto Sodré – art. cit. acima. HOLANDA, Nestor de – art. cit. acima PEREIRA, João Batista Borges – Cor, Profissão e Mobilidade (O Negro e o Rádio em São Paulo). São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1967 – pág. 52.
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radialista dinâmico e empreendedor, Vitor Costa, essa emissora desenvolveu um “broadcasting” rico em programas musicais, informativos, desportivos, humorísticos, de estúdio e auditório, e com transmissões externas que lhe valeram justa fama. Entre as iniciativas da Rádio Nacional, “coube-lhe a primasia de desenvolver o radioteatro, transmitindo, a partir de 5 de junho de 1951, – “Em busca da felicidade” - do cubano Leandro Blanco, em adaptação de Gilberto Martins, a primeira novela de rádio apresentada no Brasil - informa o citado NESTOR DE HOLANDA. A Rádio Nacional chegou a ter mais de mil contratados entre seus artistas, técnicos e funcionários. Em São Paulo, na época o segundo centro urbanístico do País, também a radiodifusão tomava conta das populações, entusiasmava e provocava iniciativas destinadas a tornar o Estado o detentor do maior número de freqüências e canais do País. Sòmente a capital bandeirante conta com 15 estações, das quais, por ordem de fundação, são as mais prestigiosas: Rádio Silo Paulo, Rádio Gazeta (antiga Educadora Paulista). Rádio Record, Rádio Piratininga (antiga Cruzeiro do Sul), Rádio Cultura, Rádio América (antiga Kosmos), Rádio Excelsior, Rádio Difusora, Rádio Tupi. Rádio Bandeirantes, Rádio Panamericana, Rádio Nacional e Rádio Eldorado. A FUNÇÃO DIVISIONAL DO RÁDIO No período de 1932 ao advento da Televisão (com seus palcos-auditórios, exigindo tôda uma “mise-en-scene” para a emissão dos seus programas) era exatamente nos pequenos e médios auditórios das emissoras que se reuniam aquêles que buscavam um entretenimento diferente para suas tardes e noites ociosas, transformando as rádio-emissoras em centros prediletos de recreação. JOÃO BATISTA BORGES PEREIRA, em ensaio sôbre o rádio na sociedade e na cultura brasileira, divulga o depoimento de um personagem “que ocupou altas posições na vida radiofônica e acompanhou de perto a evolução do rádio paulista”, segundo o qual, em 1935, “a antiga Rádio Kosmos, hoje, América, inaugurou o primeiro auditório em São Paulo”. Tal auditório - espécie de clube de elite, luxuoso e fechado, onde rapazes da alta burguesia se reuniam para divertirse - assediado pelas massas que então começavam a procurar o rádio, à busca de diversões gratuitas, “foi obrigado a abrir suas portas aos intrusos”6. O rádio popularizava-se, democratizava-se. A tal ponto a audiência acorria às emissoras que os antigos pequenos auditórios tiveram de ser ampliados. E reunir num mesmo edifício outras atrações. Foi o que ocorreu no Recife, onde a veterana Rádio Clube de Pernambuco, que permanecera como única emissora até 1948, diante da instalação de outras estações (como a Rádio Jornal do Comércio e a Rádio Tamandaré) “a fim de manter o nível técnico e artístico em 6
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que sempre atuara”, construiu o Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto, em homenagem à memória do grande pioneiro, dotando a cidade de um moderno e completo centro de diversões. Para objetivar tais planos fez instalar no edifício, um auditório, dotado de ar condicionado e com mil poltronas. Dois modernos equipamentos cinematográficos, marca Philips, foram montados na sala de projeções construída. Adaptou o seu palco principal com todos os requisitos necessários para montagem e encenação de quaisquer espetáculos teatrais. Também o equipou com uma caixa acústica para orquestra. A seguir, inaugurou uma “boite”, cujo projeto e decoração foi levado a cabo por artistas e com motivos da terra. Contando com dois palcos-auditórios, poderia, simultaneamente, apresentar espetáculos teatrais, radiofônicos, dançantes e cinematográficos. 7 Os programas de auditório provocaram polêmicas; as casas de espetáculo (cinemas, cassinos, teatros) sentiam-se prejudicadas e protestavam: ouvintes de casa arguiam prejuízo na recepção cômoda dos programas; e, naturalmente, reclamava-se contra o baixo nível das produções radiofônicas. Mas a inovação se firmara e iria, depois, favorecer o rápido impôr-se da programação de TV. A DÉCADA DE 40 Houve uma época de enorme fastígio para o rádio brasileiro, na década de 40. Programas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como a novela “O direito de nascer”, contavam com uma audiência religiosamente certa. Até os cinemas ficavam vazios durante a sessão que coincidia com o horário de transmissão da novela. Outros programas, como os de humorismo de Max Nunes, chegavam até a impor seu vocabulário ao povo (O ESTADO DE S. PAULO, Ed. de 21Set.-68).
A ILUSÃO DESFEITA Por mais de vinte anos uma das transmissões mais queridas do rádio alemão era a “Tarde alegre de sábado”, de Colônia. Os “Três alegres moços” representavam o tipo do cidadão de Colônia, o de Hamburgo e por assim dizer um neutro. E o ouvinte transformava as figuras dos locutores numa altura e tamanho que chegavam a uma esfera fabulosa. Êste efeito se desfez de uma vez quando se apresentou “Os Três alegres moços” em público e no lugar das pessoas idealizadas que a voz e a atmosfera tinham produzido, viram-se três homens iguais aos outros e que aquilo que parecia ser fruto de um alegre humor espontâneo era lido de um manuscrito (CARLOS HOLAMER em “A criança e o rádio” – Edições Paulinas, São Paulo, 1956). 7
PINTO, Humberto Sodré. art. cit. acima.
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PROGRAMAS DE AUDITÓRIO Embora há controvérsia (ainda existente), não é possível negar-se o valor e a importância do auditório na vitalidade de uma emissora. Não apenas no concernente à popularidade da organização, mas, e principalmente, para a movimentação de inúmeros programas, dependentes de um fundo colorido pelos aplausos e a vivacidade das vozes da audiência...
O programa de auditório é um dos fenômenos acentuados da característica do rádio. Oferece um vasto campo de ação, permitindo críticas e elogios de toda sorte. Há os que são contrários a essa modalidade radiofônica, principalmente pelo fato de constituir um perigo para o interêsse do ouvinte no lar. Contudo tal fato é originado da elementar capacidade de alguns radialistas que não têm o necessário discernimento para conduzir com inteligência seus programas. O verdadeiro animador, conhecido atualmente como mestre de cerimônia, é eclético e senhor de boa dose de expediente, tornando-se capaz de desenvolver um programa de auditório sem prejuízo para os que não estão presentes, portanto sujeitos a se aborrecerem diante de fatos vagos, sem a necessária clareza. Muitas vezes o programa não passa de medíocre, mas torna-se interesse e colorido devido à fôrça criadora do seu animador. Essa versatilidade é inerente aos homens que se especializam na apresentação de shows (espetáculos-vivos). (PEDRO NEME em “Introdução à Técnica Radiofônica” - Edições Páginas Rio-Lisboa, 1956) O RÁDIO INCENTIVA A ARTE À função recreativa, o rádio brasileiro ajuntou uma destacada função artística trazendo ao País nomes do maior relêvo na música e no canto de todo o mundo. Artistas e orquestras famosas vieram exibir-se ao microfône e perante o público que lotava os auditórios, que, embora cobrassem ingresso, eram mais acessíveis e menos formais do que teatros e salas de concerto. De Erna Sack a José Mojica, de Ortiz Tirado a Carlos Ramirez, de Peter Creuder a Carmen Cavallaro, da orquestra de Tommy Dorsey a The Platters e Xavier Cugat, sopranos, barítonos, tenores, concertistas e conjuntos da Europa e dos Estados Unidos foram trazidos às platéias radiofônicas, proporcionando-lhes um conhecimento “pessoal” de figuras de sonho. Irreais e impalpáveis, até então apenas vistas e sentidas através do cinema e das gravações. Nessa importação de artistas internacionalmente famosos, o rádio supria a lacuna causada pelo fechamento dos cassinos, com a lei de proibição ao jôgo. A publicidade cobria as despesas e as apresentações das “estrelas” ao microfône e perante os auditórios serviam de chamariz para os espetáculos da temporada teatral em que os mesmos artistas tomavam parte.
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A multiplicação de emissoras de rádio criou a competição. Os diretores de “broadcasting” e empresários buscavam talentos e os iam encontrar não somente entre os artistas do palco, entre os que haviam passado pelos conservatórios, entre os literatos consagrados e os compositores vitoriosos como no meio da massa: os “valores desconhecidos”, os “calouros ”, que não temiam o gongo do animador – espécie radiofônica da espada de Dámocles, pendente sôbre as suas aspirações artísticas. Três ou quatro gerações de “astros” nacionais foram revelados e projetados pelo rádio, alguns alcançando renome internacional, como Carmem Miranda e o Bando da Lua, como Ary Barroso, como Leny Eversong. Vozes privilegiadas como as de Vicente Celestino; vozes cheias de encanto, como as de Inezita Barroso e Adelaide Chioso; vozes de seresteiros como as de Chico Alves, Orlando Silva e Silvio Caldas; vozes do morro e da favela, como as de Aracy de Almeida, Linda e Dircinha Batista, Angela Maria – traduziam para os ouvintes de fronteira a fronteira do País e mais além, as composições e uma plêiade de músicos e poetas que ficariam restritos a meia dúzia de conterrâneos e amigos, a círculos estreitos de admiradores, não fosse a magia das ondas hertzianas que as transportavam ao influxo do rádio: Catulo da Paixão Cearense, Pixinguinha, Noel, Lamartine Babo, Caymmi, Humberto Teixeira, Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Ataulfo Paiva. O rádio tornou-se, em três décadas, o denominador comum dos compositores eruditos e populares. Sem êle, poucos teriam sido sensibilizados pela arte de Villa Lobos, Oscar Lourenço, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Radamés Gnatalli. Não se registraria a integração os gêneros musicais próprios de cada região no complexo musical do País: o frêvo não chegaria ao carnaval carioca, como o samba não teria “escolas” desfilando no tríduo momesco do Recife; o xaxado não deixaria os sertões para empolgar o asfalto: o baião não competiria em ritmo e dolência com o tango argentino ou o bolero. Ainda está para ser feito o estudo, em profundidade, de tôda a influência do rádio na cultura musical do brasileiro médio dos nossos dias. Inclusive da sua participação decisiva no desenvolvimento da indústria da gravação, de receptores e peças de rádio, de eletrolas e gravadores para x reprodução do canto e da música em conserva. CULTURA E INFORMAÇÃO Também quanto à cultura em geral, muito há a registrar em favor do rádio brasileiro. Se não conseguimos alcançar aquela meta desejada por Roquette Pinto – “Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão, livremente, o confôrto moral da ciência e da arte... pelo milagre das ondas misteriosas que transportam no espaço, silenciosamente, as harmonias”8 – pelo menos, numa análise desapaixonada, pode-se dizer que, de um modo global, o 8
PINTO, Roquette. Seixos Rolados. Rio, 1927, p. 79
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rádio cumpriu entre nós aquela meta que era o slogan da emissora por êle criada e que tinha por sede a Academia Brasileira de Ciências: levou a cada canto “um pouco de ensino, de educação e de alegria”. Algumas experiências de alfabetização pelo rádio, como a levada a efeito no Rio Grande do Norte pelo então bispo de Natal, dom Eugênio Sales; as aulas de educação física, cursos de madureza, as emissões destinadas aos agricultores, as classes de línguas e outros programas instrutivos, a despeito das imposições da própria estrutura comercial do rádio brasileiro, sem dúvida ofereceram e ainda oferecem contribuição valiosa ao levantamento cultural do nosso povo. Um outro aspecto que não pode deixar de ser destacado na apreciação destes 50 anos de rádio no Brasil é o da atividade informativa. Pelo menos a partir de 1925, quando os programas noticiosos tomaram corpo em todo o mundo, as emissoras nacionais passaram a divulgar jornais falados, programas curtos de informações, reportagens externas, crônicas e comentários. O conhecimento das notícias, que até então ficara limitado àqueles que sabiam ler e tinham posses para adquirir jornais e revistas, passou a ser generalizado, sobretudo através de alguns programas que, difundidos em várias estações de diferentes localidades adquiriram extraordinária popularidade, como o Repórter Esso, que adotara um slogan (o primeiro a dar as últimas), realmente expressivo da dinâmica do jornalismo radiofônico. Entre as divulgações jornalísticas específicas do rádio, a que maior aceitação alcançou foi a desportiva. A grande massa aficcionada do futebol passou a “assistir”, pela viva descrição dos locutores, não apenas ao jogo de sua cidade, mas a qualquer partida de campeonato que despertasse a atenção geral. Nêsse campo, o rádio ainda não encontrou competidor e não há brasileiro cincoentão que não tenha permanecido horas a fio diante da “caixa mágica” dos receptores nos históricos campeonatos mundiais de futebol, desde aquêle de Leônidas, o “Diamante Negro”, aos que nos consagraram bi-campeões e fizeram de Pelé o “Rei”, até o que nos arrebatou a Taça Jules Rimet nos estádios inglêses. Pode-se afirmar sem exagêro, que a politização das massas brasileiras, nas três últimas décadas, teve na popularização das emissões radiofônicas noticiosas e de propaganda um dos seus principais fatôres. As campanhas políticas, os programas partidários, as plataformas dos candidatos a cargos eletivos, os resultados dos pleitos, as agitações de rua, pronunciamentos do governo, atos revolucionários, leis, decretos, decisões da Justiça – tudo é difundido, dentro dos limites estabelecidos pela legislação especial, a fim de que o povo possa dia a dia mais participar, conscientemente, do processo democrático. Inclusive da política internacional, cujas repercussões dizem respeito ao nosso futuro de nação livre e soberana e podem ditar a nossa conduta no concêrto dos Estados. Acompanhamos, momento a momento, a Segunda Guerra Mundial e, simultaneamente ou com poucos minutos de qualquer ocorrência, em qualquer
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parte do mundo, as ondas hertzianas nos trazem, em palavras e sons, o tato “ainda quente de atualidade”. Como a coroação de Elisabeth II, a morte de João XXIII, a primeira benção de Paulo VI, o mergulho pioneiro do Sputnik no Cosmos, a eleição de Kennedy e o seu assassinato em Dallas, a conquista do cetro de beleza por Miss Brasil, a entrega do Prêmio Nobel, a desvalorização da libra e as ameaças ao franco, as desavenças sino-soviéticas, a ocupação da Tchecoslováquia, o vôo triunfal do Apolo-8 na primeira circunavegação tripulada da lua... Informação para milhões de brasileiros, pois que, de acôrdo com as estatísticas, dispunhamos, em 1967, de quinze milhões de receptores sem computar os transistorizados, calculados em cerca de 8 miIhões. O RÁDIO E O MERCADO NACIONAL Uma última e notável contribuição do rádio à evolução da civilização brasileira está em se ter constituído em um dos mais decisivos suportes à criação e desenvolvimento do mercado consumidor de produtos industrializados no País. Mediante “jingles” e pregões, através de mensagens publicitárias e do patrocínio de programas - notadamente os de entretenimento e informativos – a indústria nacional, que tomara notável incremento após 1930, conseguiu vencer as barreiras do preconceito, que sòmente admitia como bons para o consumo produtos importados ou obras de artesanato, e modificar os hábitos dos ouvintes, de modo especial quanto à alimentação e à higiene. O rádio persuadiu milhões a consumirem manteiga nacional, café moído, sabonetes e pastas dentifrícias, usar detergentes, aparêlhos eletro-domésticos, peças e motores fabricados no País, a beber vinhos e cervejas iguais ou melhores que os estrangeiros. O rádio ensinou o brasileiro a utilizar os sistemas de crédito, a investir capitais, a gastar para ganhar. Despertou nas massas desêjos e aspirações no conforto, ao bem estar, às facilidades que uma economia orientada pode proporcionar aos povos que ocupam, como o nosso, um vasto e rico território. As informações sôbre abertura de frentes de trabalho em diferentes pontos do Brasil fomentaram as migrações internas: Brasília foi constituída com “candangos” vindos, sobretudo, do norte e nordeste, atraídos pela divulgação radiofônica das perspectivas que se abriam na nova capital e no centro-oeste despovoado; campanhas em prol do desenvolvimento de uma região repercutiam e incentivavam idênticos movimentos em outras, como ocorreu em Pernambuco com a campanha contra o mocambo, que provocou o desencadeamento da política nacional de habitação popular. RÁDIO, IMPRENSA E TV O advento do rádio, na década dos vinte, e da televisão, na dos cinqüenta, força a imprensa a uma nova revolução tecnológica, morfológica e de conteúdo. O equipamento necessário para a montagem de um diário ou de uma revista
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capaz de competir com os novos veículos torna-se extremamente custoso. O processo inflacionário e a reação que se fazia necessária para contê-lo trazem dificuldades maiores à importação desse equipamento. De outra parte, a publicidade agora se divide entre os três grandes meios de comunicação, dando preferência ao de maior alcance (rádio) ou àquele (televisão), cujo índice de audiência e sabor de novidade os consagram como canais mais adequados ao trânsito da mensagem. Essas e outras causas provocam “a desaparição progressiva dos jornais locais (interioranos ou aqueles de menor suporte econômico nas capitais) por falta de recursos, enquanto nos mais distantes pontos do País vão surgindo radioemissoras, que não parecem ocasionar prejuízos às emprêsas concessionárias. As estações regionais se tornam dia a dia o único veículo com capacidade não só para transmitir notícias e informações de interêsse especial às populações até aonde chegam as suas ondas como para integrá-las nos programas educacionais e de desenvolvimento econômico nacional” - observa ZITA DE ANDRADE LIMA, em artigo bem argumentado sôbre a necessidade de regionalização do rádio brasileiro pela ampliação da rêde de emissoras.9 A partir de 1940, constata-se o surgimento das cadeias de radiodifusão. Como em outros países, a iniciativa é tomada pela imprensa cujas empresas editoras não vêem mais no rádio um concorrente mas um meio complementar de informação. Surge como a mais importante cadeia do gênero, os “Diários e Rádios Associados”, congregando 33 jornais e 26 rádios e tele-emissoras. Praticamente, tôdas as grandes emprêsas jornalísticas do País têm pelo menos uma emissora em seu complexo: o “Jornal do Commércio”, do Recife, com 5 estações de rádio e uma de televisão; “O Globo”, do Rio, com emissoras de rádio e TV na Guanabara e em São Paulo; o “Jornal do Brasil” com o Rádio Jornal do Brasil; o “Estado de São Paulo” com a Rádio Eldorado para só citar alguns dos mais destacados órgãos da imprensa brasileira. Outras cadeias, exclusivamente de emissoras, se constituíram, como por exemplo as Emissoras Unidas, de S. Paulo; a RENEC (Rede Nacional de Emissoras Católicas) que conta com mais de uma centena de estações em vários Estados; e as “Rádio Nacional” de Brasília, do Rio e de São Paulo. Como livre-atiradoras ou participando de grupos sob uma mesma orientação e tutela, umas cumprindo bem a sua missão outras simplesmente fazendo da comunicação pelo éter um negócio, a maior parte reequipando-se e renovando-se e algumas deixando-se sobrepujar à falta de elan ou por despreparo e desaviso de suas equipes de produtores e diretores — 1.000 rádio-emissoras, das quais 100 de ondas curtas, constituem hoje a rêde brasileira de radiodifusão sonora. Elas são a 9
ANDRADE LIMA, Zita. Regionalização do Rádio e Desenvolvimento Nacional – in <<Vozes>> - ano 63 – n. 1 – Petrópolis Janeiro de 1969.
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efetivação do sonho daquêles que, em abril de 1919, fundavam o Rádio Clube de Pernambuco; e também dos anseios, esforços e doutrinação de Roquette Pinto e Henrique Morize que, em 1973, organizavam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Cincoenta anos de rádio no Brasil, cincoenta anos de lutas, avanços, recuos, grandezas e misérias - aspectos de tôdas as instituições humanas -, mas cincoenta anos de serviço à nação, serviço que está reclamando uma apreciação isenta de preconceitos e paixões, um balanço sistemàticamente estruturado e que poderia ser objeto êste ano de especial atenção e estudo por quantos dedicam sua atividade à sociologia e às técnicas de comunicação de massa. Êste é o propósito que alimentamos ao dedicar o nosso primeiro número monográfico ao Rádio brasileiro.
AS LINHAS DA IMPRENSA BRASILEIRA*
Luiz Beltrão
GIOVANNI PAPINI descreve, em Gog, a personalidade e as idéias do professor Killaloe, “um irlandês de sessenta anos mas cheio de vida, alto como um patagônio, discutidor como um diabo, douto como a Enciclopédia Britânica, delgado como um cenobito”, que lhe falava de tudo com segurança e “sem mastigar aquêles lugares-comuns que são o pasto ordinário dos professôres”. O excêntrico personagem fôra ao Cairo para terminar a sua História Universal, que começava com a paz de Versailles e terminava com a narração do primeiro dia da criação, adotando o método de retroceder o presente para o passado, por considerá-lo “o mais lógico, o mais natural, o mais satisfatório... o único que torna possível uma interpretação dos fatos humano”, pois “um acontecimento não adquire a sua luz e a sua importância senão passados decênios e até séculos”. Essa inversão da cronologia também o professor Killaloe aplicava às biografias, por não se poder julgar um homem até o seu último dia, “e julgar quer dizer, para um homem de ciências, compreender”. Para compreender um grande homem – dizia- é preciso referir-se necessàriamente ao dia da sua morte. Exemplificava com a figura de César, mostrando que a indagação – por que foi assassinado? – encaminha o historiador e intérprete “diretamente às suas ambições, às suas campanhas, à sua ditadura”. E concluía: “Se o período final da vida de César se refere ao seu nascimento, nada tem de estranho: que César entre no sepulcro, segundo o método dos velhos historiadores , ou penetre, segundo o meu, no ventre da sua mãe, o resultado é perfeitamente o mesmo: desde êsse momento, nascimento ou morte, César já não existe.” 1 A IMPRENSA BRASILEIRA Como o queria Killaloe, comecemos por apresentar ao leitor o quadro atual da imprensa brasileira: circulam no País 242 diários, sendo 208 matutinos e 34 * Comunicação & Problemas. Editada pelo Instituto de Ciências da Informação (ICINFORM) Recife – Brasília – São Paulo – Belo Horizonte. 1 PAPINI, Giovannni. Yog. Porto Alegre? Livraria do Globo, 1932, pp. 71-76.
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vespertinos; 68 jornais saem duas ou três vezes por semana; 421 são editados semanalmente; 75, quinzenalmente, e mais 75 em outra periodicidade. As tiragens diárias alcançam 3.739.701 exemplares, conforme dados de 1966. Nos anos imediatamente anteriores eram de 2.606.431 e 3.478.956, tendo havido, portanto, uma elevação da ordem de 74,8% em 1965 e de 69,6% em 1966, no número de exemplares postos à disposição dos leitores. 2 Os maiores centros de produção e distribuição de jornais, contando com alguns diários de circulação nacional, são o Estado de São Paulo, com 69 matutinos e 6 vespertinos, e a Guanabara, com 19 matutinos e 2 vespertinos. Seguem-se o Paraná, o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, todos com um número variável entre 18 e 15 diários. Tendo em conta a população estimada do Brasil (83.890.000 em 1966), dispomos de 4,4 exemplares por 100 habitantes. A grande maioria dos jornais brasileiros é dotada de linotipos para a composição mecânica e de rotativas para impressão em estereotipia. Alguns diários, como o “Correio Braziliense”, em Brasília, e a “Fôlha de São Paulo”, na capital bandeirante, são compostos a frio e impressos pelo sistema “ofset”. Numerosos diários, tanto nos Estados citados como, ainda, em Pernambuco, na Bahia, no Ceará e no Pará, são ou podem ser impressos a côres e oferecem edições com dois e mais cadernos.Todos os grandes diários do país dispõem de teletipos e podem receber telefotos; contam com laboratórios fotográficos e atelieres de gravura e empregam pessoal especializado em diagramação e pesquisa para uma melhor apresentação gráfica e de conteúdo, capaz de manter e desenvolver o interêsse do leitor, sem dúvida solicitado pelo rádio e pela televisão nos últimos anos. A necessidade de complementar a informação audiovisual levou a imprensa brasileira contemporânea a uma substancial e expressiva evolução, tanto morfológica como de conteúdo. Os jornais são mais ilustrados, utilizam-se mais superfícies brancas, eliminaram-se as linhas de separação das colunas, evitam-se os circulados, inova-se a disposição de títulos, antetítulos e subtítulos. Ante a concorrência dos noticiosos radiofônicos e da informação televisada, os diários desenvolveram os seus departamentos de pesquisa e a notícia ganhou nova dimensão em profundidade. O jornalismo interpretativo predomina sôbre o meramente informativo: é a hora e a vez do repórter-analista que não vai à procura da ocorrência para noticiá-la em primeira mão, mas para descobrir as duas causas e avaliar as suas consequências dentro de um contexto social complexo. A notícia, de objetiva e institucional, que era oferecida ao leitor sempre segundo as regras de uma universidade pré-estabelecida e considerada necessária, passou à obra aberta, no mesmo sentido que UMBERTO ECO confere ao têrmo, analisando o produto artístico. A notícia, embora objeto dotado de propriedades estruturais definidas, permite a êsse nôvo repórter coordená-las de 2
IBGE – Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1967 e 1968.
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modo a obter “o revezamento das interpretações e o deslocar-se das perspectivas”. A mensagem jornalística tornou-se ambígua, dando margem “a uma pluralidade de significados, que convivem em um só significante”. 3 O lançamento simultâneo de grandes reportagens e depoimentos pela imprensa brasileira e de outros países dos cinco continentes; o debate paralelo dos temas de interêsse de toda a humanidade; as constantes consultas à opinião pública divulgadas em jornais e revistas; a edição de cadernos dedicados a problemas específicos, com a colaboração de equipes de comunicadores e expertas no campo analisado – são, entre outras, as características da fase de evolução que atravessa a imprensa nacional nos nossos dias. Pratica-se mais um jornalismo cada vez mais distanciado daquele dogmatismo ou daquela imponderabilidade, que haviam predominado nas fases da imprensa opinativa e apaixonada das lutas políticas dos fins do século passado até a terceira década do presente, ou da imprensa-indústria, que não se comprometia para não se incompatibilizar, sobretudo, com o poder econômico, que lhe servia de suporte. Porém, como registra JUAREZ BAHIA, “mais do que todos os numerosos fatôres, a renovação da técnica da imprensa e a marcha acelerada do País para as metas da industrialização determinaram o crescimento do potencial dos jornais. A imprensa deixou de ser apenas um veículo de informações para assumir o papel de relevante importância na estrutura da sociedade, como sua expressão”. A êsse potencial econômico, político e cultural é que se deve o nôvo jornalismo, explicado, ainda, “pela renovação do quadro profissional com a contribuição do treinamento universitário, a sedimentação de uma nova e misteriosa potência, na figura da opinião pública, o aperfeiçoamento dos meios de comunicação regionais, além das exigências naturais de uma sociedade empenhada no desenvolvimento”. Sem abdicar “de sua vocação liberaldemocrática” e “muito embora ainda sofra a influência de um status quo econômico e político cujas origens remontam ao século XIX – especialmente o domínio do proprietário sôbre o domínio da informação - o fato é que o jornal contemporâneo se integra no nôvo jornalismo, como o grande órgão da informação – isto é, o interêsse da notícia, a interpretação desapaixonada do acontecimento, a opinião independente acima de outras conveniências – a fim de oferecer ao leitor o panorama realista da vida comunitária”. 4 A EXPANSÃO DO MERCADO EDITORIAL Ao contrário do que vaticina a Cassandra do Canadá – MARSHAL McLUHAN – e dentro da experiência norte-americana, o surgimento e a popularização de novos meios de comunicação de massa sempre provocam uma evolução e uma expansão dos meios antigos. Os fiéis leitores de jornais e revistas 3 4
ECO, Humberto. Obra aberta. Rio de Janeiro: Editora Perspectiva, 1968. BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. 2 ed. São Paulo: Martins, 1967. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 177-188, jan/dez. 2006
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não abandonaram êsses veículos de informação e novas parcelas da audiência do rádio e da televisão vieram nêles buscar a complementação, exigida pela sua sêde de saber, não mitigada pelos flashes radiodifundidos. Já vimos que houve, nos últimos três anos, um considerável aumento nas tiragens dos diários brasileiros. Também as revistas de circulação nacional cresceram em número e variedade: enquanto as tradicionais – como “O Cruzeiro”, “Manchete”, “A Cigarra” e “Fatos & Fotos” – continuam em circulação pujante, outras surgiram, conquistando leitores e oferecendo ao público material informativo sôbre problemas da atualidade, de que são exemplos “Realidade”, “Veja”, “Êle-Ela”, e “Pais & Filhos”, sem falarmos nas revistas femininas e juvenis, de fotonovelas e quadrinhos. As minorias raciais, as colônias estrangeiras radicadas no País também desenvolveram a sua imprensa. Os últimos dados do censo oficial, correspondentes a 1967, dão conta de que, doa 1.683 jornais de informação geral e outros periódicos editados no Brasil 20 o são em alemão, espanhol, francês, inglês, japonês, lituano, ucraniano e outros idiomas, enquanto 38 são bilíngües, destacando-se aquêles compostos e impressos em português e árabe, português e italiano e português e inglês. Mas o nôvo jornalismo não se limita, agora, aos periódicos: procura um outro veículo, na forma do livro. As grandes reportagens, os depoimentos e a problemática da atualidade são fixados nas chamadas “edições-flashes”, que invadiram nos últimos anos, o mercado editorial brasileiro. Êste se vem ampliando e oferecendo boas perspectivas. A propósito, o “Correio do Livro”, de São Paulo, em sua edição de junho passado, faz uma análise dos balanços de quase quatro dezenas de editôres independentes ou pertencentes aos maiores grupos do País (Delta, Jackson, El Ateneo, Civilização e Polígono), concluindo que “em face dos inúmeros indicados (38 editôras faturaram cerca de NCr$52,5 milhões), são se pode falar em depressão do mercado, nem pròpriamente em crise, entendida esta palavra como algo desalentador...pode estar havendo crise de transição, ou de acomodação; mas não há declínio ou estagnção. Pelo contrário: a tendência do mercado brasileiro é de crescimento. Alguns recuos ou desvios não podem ser entendidos como perda; em geral, a marcha continua”. A análise do “Correio do Livro” focaliza diferentes aspectos da atualidade editorial brasileira, sendo de destacar a posição do público, cuja “curiosidade por leituras que antes não vingavam no ambiente brasileiro, fascinado pela ficção pura e simples, está reclamando até mesmo o recrutamento de autores nacionais, pois as editôras de reflexos mais rápidas precisam valer-se de traduções, à falta de escritores nativos com inclinação pelos novos veios universais”. É certo que o poder aquisitivo do leitor diminuiu em cotêjo com a evolução dos preços do livro, mas “a crise resultaria antes do excesso desordenado da oferta, na base de edições de pequena tiragem e preço unitário elevado, do que
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pròpriamente no declínio do interêsse efetivo do leitor”. Às nossas editôras tradicionais vêm juntar-se “algumas vinculadas, mais ou menos, à fontes financeiras e técnicas do exterior; outras quase autóctones, brotando da experiência nativa em matéria de livro”. Observa-se que “a tradição íbera da “porta da livraria” estaria com os dias contados: o editor larga os seus cômodos e parte à procura do leitor, até nas farmácias e nas bancas de jornal. Acontece ainda que a elevação do nível cultural, a massificação do ensino técnico e universitário e a curiosidade por novos setores (a psicologia, a sexologia, a sociologia, a ficção científica) manifestada pelo brasileiro médio, estariam abrindo novas perspectivas editoriais. Naturalmente, o fenômeno da concentração dos meios gráficos se vai tornando mais rápido e patente. De acôrdo com os dados estatísticos oficiais, entre 1965 e 1966 deixaram de circular 7 diários vespertinos e 22 de periodicidade diversa. Por outro lado, as grandes emprêsas jornalísticas estão absorvendo órgãos econômicamente mais frágeis, embora alguns de grande tradição, como ocorre em São Paulo, quando o grupo das “Fôlhas” incorporou desde a veneranda “A Gazeta” até os jornais políticos como “Última Hora” e sensacionalistas, como “Notícias Populares”. Essa concentração produz reflexos na economia das emprêsas que, mesmo mantendo os jornais absorvidos em circulação, têm reduzido consideravelmente o prêço de custo da sua confecção pela utilização de máquinas de composição e impressão que permaneciam ociosas pelo preparo de apenas duas ou três edições diárias. As questões que se apresentam hoje à indústria jornalística e gráfica brasileira se referem, especialmente, ao futuro das “cadeias” que se estão formando ou já se acham estabelecidas, em face do avanço das técnicas do fac-simile, que permitem a impressão e circulação no mesmo dia e à mesma hora de um mesmo jornal em diferentes centros populacionais do País. O jornal fac-similado, como os grandes diários “Asahi” e “Mainichi” do Japão, sustentados por fortes suportes econômicos dotados de um pessoal extremamente habilitado, poderá provocar a desaparição de muitos dos periódicos atuais, especialmente de órgãos locais e regionais, que não teriam condições de competir, pois enfrentariam na sua área de circulação, também e fortemente, a concorrência do rádio, que dia a dia se regionaliza, conforme o estudo de ZITA ANDRADE LIMA”.5 Então, além de uns poucos jornais que já agora assumem importância nacional e, tendo adotado novos métodos jornalísticos se prestam para empregar as novas técnicas de circulação simultânea – de que são os melhores exemplos o “Jornal do Brasil” e “O Globo”, do Rio, e “O Estado de São Paulo” e o “Jornal da Tarde”, da capital bandeirante – sòmente perdurariam aquêles que também evoluíssem para êsses métodos e essas técnicas , tendo ao seu favor o firmado prestígio que desfrutam em sua região, como a “Fôlha do Norte”, 5
ANDRADE LIMA, Zita. Regionalização do rádio e desenvolvimento nacional. In.: Vozes, ano 63, n. 1 – jan. 69.
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de Belém; o “Diário de Pernambuco”, e o “Jornal do Commercio” do Recife; “A Tarde”, de Salvador; “O Estado de Minas”, de Belo Horizonte, e o “Correio do Povo, de Pôrto Alegre. CAPITÃES DA IMPRENSA Quando C & P dedica a sua segunda edição monográfica à imprensa e à editoração no Brasil, é oportuno que lembremos aqui as figuras recentemente desaparecidas de três capitães da imprensa a cujo dinamismo, visão e espírito empreendedor devemos o patrimônio material e cultural que constitui o jornalismo gráfico dos nossos dias. ASSIS CHATEAUBRIAND Talvez possa ser apontado como o último grande business-man da comunicação mundial, no sentido de haver criado a derradeira cadeia de jornais, revistas, rádio e tele-emissoras, nos velhos moldes de Hearst, agora ameaçados pelo processo de produção jornalística por fac-símiles. São 32 jornais, 22 estações de rádio e 16 de televisão distribuídas por todos os Estados e regiões do País, além de 18 revistas, uma agência de notícias – a Meridional – uma de publicidade – a SIRTA – e uma casa editôra – O Cruzeiro, com sede no Rio. Todo esse patrimônio está hoje reunido no Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados, criado por doação de Chateaubriand, a partir de 1959, àqueles companheiros de emprêsa que mais o ajudaram na criação do seu império jornalístico. A “cadeia” obedece à direção geral de João de Medeiros Calmon, que tem a assistí-lo uma Comissão Executiva, cujos membros vitalícios foram designados pelo próprio doador. Constatando-se a amplitude do empreendimento, é difícil crer que Chateaubriand o iniciou entre 1923 e 1924, praticamente sem tostão reunindo um grupo de amigos para levantar o capital necessário à compra, no Rio, de “O Jornal”, posto então á venda por 5.800 contos de réis, e, em São Paulo, do “Diário da Noite”, êste último graças à sua perspicácia de apoiar na economia do café, que fornece divisas ao Brasil, a economia da sua emprêsa de comunicação de massa. Pertencente a uma família de tradicional importância na vida política País, os Bandeira de Melo, o seu pai, entretanto, fora jornalista e não fizera fortuna. Assim, Chateaubriand teve uma infância pobre na sua cidade natal de Umbuzeiro, Paraíba, e, aos 14 anos, emigrava para o Recife, onde freqüentou o Ginásio Pernambucano e a Faculdade de Direito de Recife, trabalhando desde então em alguns jornais para custear os estudos. Dotado de extraordinária capacidade de trabalho, inteligência viva e admirável presença de espírito, foi como repórter, entrevistando personalidades e realizando coberturas de acontecimentos da região, que lanços as bases de amizades duradouras e se fêz conhecido de elementos que, mais tarde, o iriam ajudar na sua carreira. Aos 20 anos concluía o Curso Jurídico e, dois anos mais tarde, candidatava-se à cátedra de Direito Romano, vencendo com brilhantismo o concurso e passando a figurar no corpo docente da Faculdade de Direito do Recife, onde pontificavam as mais altas expressões jurídicas do Brasil.
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Em 1917, transferiu-se para o Rio, onde abriu escritório de advocacia, mas não pôde resisti à atração do jornalismo e passou a colaborar em diversos jornais, até que o Conde Pereira Carneiro o convidou para assumir a chefia da redação do “Jornal do Brasil”. Em 1920, destacando-se como comentarista de assuntos internacionais, realizava sua primeira visita à Europa, como correspondente do “Correio de Manhã”. Do mesmo modo que o fizera como repórter , Chateaubriand ampliava no campo internacional, os seus conhecimentos e relações de amizade e negócio. De volta da Europa, publicou o seu livro – ‘Alemanha” e, desligando-se dos jornais a que servia, com o auxílio de Alfredo Pujol e Alexandre Mackenzie, lançou-se à emprêsa a que consagraria, em primeiro plano, todo o resto de sua vida: a construção de uma rede nacional de comunicação, que levasse aos pontos mais distantes do Brasil a informação da atualidade e a orientação política e cultural necessária à promoção da riqueza e da grandeza da pátria. Partidário da Aliança Liberal em 1930; revolucionário constitucionalista por São Paulo em 1932; prisioneiro e banido, com seus jornais expropriados por Vargas e, mais tarde, reconciliado com o astuto político gaúcho: legalista, contra o extremismo vermelho em 35; anti-fascista, contra o integralismo e apoiando Armando Sales de Oliveira na campanha presidencial gorada de 1937; aceitando o regime de exceção do Estado Nôvo, mas colocando todo o seu já ponderável império jornalístico a serviço das Nações Unidas, na II Guerra Mundial, apoiando a campanha de reconstitucionalização em 45; reafirmando sempre os seus princípios liberais, sem entretanto temer a manutenção de relações diplomáticas e comerciais com os Estados socialistas; parlamentar e embaixador; intelectual de primeira gema e membro da Academia Brasileira de Letras; promotor de algumas das mais decisivas campanhas em favor do desenvolvimento nacional como a campanha da aviação civil, dos postos de puericultura, dos cafés finos e das fazendas experimentais agropecuários; combatido e combativo; alvo dos mais sumários julgamentos condenatórios e das mais entusiásticas louvações; amigo e inimigo a quem não se poderia jamais ignorar; amante das artes e criador dos museus de arte; implantador da TV no Brasil – Assis Chateaubriand foi, sem dúvida, uma das mais impressionantes e complexas personalidades da História Contemporânea e das Comunicações na América Latina. M. PAULO FILHO De outra cêpa, era M. Paulo Filho. Nêle não se encontrava o empresário, o homem de negócios, o audacioso empreendedor de façanhas marcantes e inovações revolucionárias. Como Chateaubriand, formara-se em Direito, fôra advogado, professor, excursionara pela política, tendo sido deputado federal pela Bahia, era um fino crítico literário e um escritor de alto mérito. Mas o que o caracterizou como capitão da imprensa foi, sobretudo, a sua fidelidade e dedicação ao “Correio da Manhã”, como símbolos dos princípios éticos do jornalismo e dos ideais liberais de que se impregnara em sua juventude, ao Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 177-188, jan/dez. 2006
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contacto com Edmundo e Paulo Bittencourt, num ambiente em que o santo e a senha eram liberdade e responsabilidade na expressão do pensamento. Ingressando no grande diário carioca em 1911, como repórter, ali trabalhou durante quase 60 anos, não conhecendo outra trincheira,e , a cada década, conquistando galões e estrêlas, que o levaram do modesto posto inicial à direção do vibrante matutino. Por êle, para não falhar nas horas cruciais de inúmeras lutas e campanhas democráticas em que o jornal se empenhava, M. Paulo Filho sacrificou alguns dos seus sonhos mais íntimos, entre os quais o de escrever uma obra literária duradoura, que lhe asseguraria um justo lugar na Academia Brasileira de Letras. O jornalismo, porém exauria-lhe as fôrças exigia-lhe todos os minutos que sobravam do seu trabalho de ganha-pão (pois a imprensa ainda não se tornara capaz de pagar salário bastante para que o jornalista exercesse a sua profissão com exclusividade) no Tribunal de Contas da Guanabara. M. Paulo Filho, como Humberto de Campos, haveria de passar a vida vendendo miolos da cabeça em troco de miolos de pão. A sua obra literária era fragmentária; mas a sua obra jornalística, em artigos, reportagens, editoriais, crônicas, no colunismo, ora firmada, ora anônima, ora sob os pseudônimos mais conhecidos de J. B. Capivary e João Paraguassu – está toda em meio século de “Correio da Manhã”, num estilo puro, simples, espontâneo, em que os fatos da atualidade, as grandezas e misérias humanas, os avanços e recuos da sociedade, os azares políticos, os grandes gestos e as tôrpes manobras contra o povo são expostos, comentados, ajuizados com extraordinária sensibilidade e esclarecido amadurecimento. Há muito que aprender na vida e no trabalho jornalístico de M. Paulo Filho, que pode servir de paradigma ao comunicador consciente da nossa época. De tal modo tinha êle o senso de responsabilidade e com tal segurança analisava os acontecimentos no momento mesmo em que ocorriam, que pôde fazer transcrever, nos últimos anos de sua existência, quando a enfermidade de coração que o abateu já o impossibilitava de produzir novos artigos, muitas das crônicas que publicara anos atrás. Que nem por isso haviam perdido a sua oportunidade, que não tinham envelhecido, que não eram, como geralmente se considera a obra jornalística, como aquelas rosas de Malherbe, belas, perfumadas, mas efêmeras, que não resistem a uma noite. JÚLIO DE MESQUITA FILHO O seu nome se confunde com um jornal e com um Estado; com o mais sólido diário do país e com a mais progressista das unidades da Federação. Êle próprio, cremos, confundia as duas entidades: “O Estado de São Paulo” era o Estado de São Paulo, líder do desenvolvimento nacional, inspiração e modêlo para qualquer empreendimento de envergadura, prova insofismável da capacidade realizadora do homem brasileiro. Na direção do “Estadão” substituira o pai, que o fundara para servir à gente paulista; o filho, acompanhando a evolução da terra anchietana, completara a obra paterna, e o jornal existia, agora, para servir à gente brasileira. Espírito de
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bandeirante, novamente subindo o Tietê, e alcançando o planalto central; ou descendo pelo litoral até as coxilhas gaúchas; ou arrancando para o norte, vadeando o São Francisco e penetrando, através das caatingas, dos brejos e carrascais, até a imensa selva amazônica. Júlio de Mesquita Filho, imprimiu a “O Estado de São Paulo” o mais profundo sentido de brasilidade. Não uma brasilidade romântica, ufanista, mas uma brasilidade realística, por vezes até desapiedada, a brasilidade orgulhosa do paulista bem nascido, que soube construir o seu patrimônio e não admite que alguém da mesma nação, com a mesma história e com idênticos recursos, fique à margem do caminho, vendo a caravana passar ou, pior ainda, estendendo a mão à espera dos restos que sobrem da mêsa dos afortunados. Pode-se preferir outro jornal ao “Estadão”, do mesmo modo que a uns agradará mais a exuberância da paisagem cariocas ou a beleza enxuta de Brasília à grandeza cinzenta e imponente de São Paulo. Mas o leitor encontrará sempre no periódico de Júlio de Mesquita Filho a maior soma de informação que um jornal latino-americanos pode apresentar e um comentário lúcido e oportuno das ocorrências, apreciadas com sobriedade e sob prismas de valor universal. Não foi difícil a Júlio de Mesquita Filho adequar o jornalismo do “O Estado de S. Paulo” às modernas exigências da transformação teológica e cultural que vivemos. E se o velho órgão não mudou tanto em seu aspecto morfológico, permitiu que das mesmas oficinas e com o recrutamento de pessoal imbuído de outras idéias saísse o “Jornal da Tarde”, que se revestiu de roupagens de jovem guarda e se inscreveu, pelo seu conteúdo ágil e penetrante, na primeira linha do jornalismo interpretativo no País. O monobloco em que se constituem os dois jornais dos Mesquita está, desse modo, preparado para enfrentar com êxito as circunstâncias e situações que acaso lhe impuserem as etapas próximas e futuras do desenvolvimento. Do mesmo modo como, em instantes decisivos do seu “Estado” e do Brasil, Júlio de Mesquita Filho soube ser empresário e estadista. Empresário para resguardar o patrimônio que lhe fôra legado e que tanto elevara, vencendo com admirável fibra e visão todos os óbices. Estadista, mais do que um simples político, para examinar, ponderar e indicar, em autênticos decretos-leis, que eram os seus artigos e editoriais, os caminhos que o País deveria trilhar para manter a sua soberania e integridade e realizar o bem-estar coletivo. DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS O J ORNALISMO E A A TUALIDADE L ATINO -A MERICANA * Os jornalistas católicos reunidos em São Paulo, no IV Congresso Latino Americano de Imprensa Católica, estudaram a missão do jornalista no processo de transformação continental, em função de duas grandes perspectivas. * THE JOURNALIST AND PRESENT DAY EVENTS IN LATIN AMERICA – Text of the Statement of Principles of Latin-american catholic journalists, based Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 177-188, jan/dez. 2006
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1. A perspectiva da vida humana, nos diversos aspectos que conformam a atualidade, para fazer compreender aos homens o sentido da história contemporânea e o fato de que os progressos da ciência e da técnica podem ser uma afirmação crescente dos valôres da pessoa humana, dentro da comunidade de nações da América Latina, segundo a concepção cristã daquela vida. 2. A perspectiva da vida interna da Igreja, e o modo atual de sua ação religiosa do mundo, para que os homens possam conhecer a Boa Nova. 3. Jornalistas católicos, afirmamos nossa vontade de colaborar no exercício de nossa profissão na tarefa do desenvolvimento integral da pessoa humana vivente na comunidade de todos os homens e que a Igreja define hoje como urgente na América Latina. Diante daquelas perspectivas e desta vontade, consideramos que a liberdade de informações é afirmação teórica, é a realização prática do direito e do dever dos homens, de informar e de serem informados sôbre os acontecimentos. Em sentido geral, como direito de ser informado, esta liberdade corresponde a todos os homens. Como dever de informar corresponde, em primeiro lugar, aos depositários da autoridade e poder, no seio da comunidade. Isto supõe o acesso às fontes de informação e à transmissão de tudo, segundo as normas éticas da comunicação social. O exercício desta liberdade é condição necessária para logar a efetiva realização da pessoa humana, tanto como o desenvolvimento dos povos, em cuja tarefa os meios de comunicação social é fator básico e decisivo. O único limite desta liberdade é o direito do homem, ser respeitado em sua dignidade e em sua intimidade, na procura do bem comum e no exercício de sua responsabilidade profissional. Os jornalistas católicos, no exercício de sua missão profissional, dentro do processo de transformação da América Latina, se vêem, muitas vezes, impedidos por agentes de poder ou por grupos de pressão que cortam o exercício da liberdade de expressão ou de informação. Também no seio da igreja, se encontram, às vêzes, resistências para a difusão da informação objetiva e responsável. Nós nos solidarizamos com todos os comunicadores sociais que lutam pela defesa da liberdade de informação e a livre expressão das idéias: repudiamos a repressão, as pressões políticas e econômicas, a coação e a censura sôbre a imprensa, fatos que se repetem e se generalizam, hoje, na América Latina, com grave prejuízo para a promoção da pessoa humana. Propomos que os departamentos nacionais de imprensa, sem prejuízo de suas outras atribuições, prestem particular atenção ao serviço da informação tanto em nível diocesano como das Conferências Episcopais; que se coloquem tais serviços na mão de profissionais e que as informações sejam apresentadas com a oportunidade necessária, para evitar a criação fraudulenta ou a deformação das mesmas. É requisito indispensável para o bom funcionamento de tais serviços,
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que se destinem a êsse fim os recursos necessários para que tais objetivos se tornem realidade. O adequado funcionamento dos órgão de imprensa requer uma organização adequada, que aproveite todos os recursos da técnica moderna de difusão. Esta tarefa exige a colaboração de jornalistas qualificados e uma organização que torne possível a difusão extensiva das publicações. Assinalamos, especialmente, algumas necessidades: – Os Diretores dos órgãos de imprensa, com a participação ativa dos seus colaboradores, deverão orientar êstes para a transformação das estruturas, segundo fórmulas políticas, econômicas e sociais mais de acôrdo com o espírito de justiça. Afirmamos que na luta pelo desenvolvimento econômico e social da América Latina o respeito à liberdade de opinião ou informação e à promoção de relações humanas mais justas hão de ser valorizadas, com prioridade. Da mesma forma afirmamos a necessidade de lograr a máxima difusão para a informação religiosa e para o comentário que interprete a atualidade com íntegro sentido cristão. – As emprêsas jornalísticas devem organizar-se convenientemente para serem os instrumentos de comunicação social. Para seu correto desenvolvimento as bases financeiras devem ser amplas, requerendo-se, para isso, uma mais adequada distribuição dos recursos disponíveis da comunidade eclesial, a fim de logar que as iniciativas de comunicação social alcancem o lugar que lhes corresponde no mundo contemporâneo. Em sua organização e nas orientações que promovem, as publicações devem respeitar as legítimas diferenças no âmbito cristão do mundo e da vida. – Deve ser ativada a promoção de publicações de inspiração cristã, capazes de estar presentes no âmbito da imprensa geral, superando os limites do público confessional, para alcançar a todo o povo, com espírito de compreensão e respeito para com as idéias alheios e com qualidade profissional para lograr a adequada apresentação das próprias idéias. A difusão do pensamento cristão se torna realidade quando se informa com inteligência e oportunidade, em têrmos mais objetivos possíveis, sobre o acontecer de cada dia. Esta informação há de ser devidamente valorizada por comentadores capazes de atrair a confiança do público leitor, entregando-lhe, ademais, os elementos de julgamento para a formação de um critério inspirado no pensamento cristão, entre os problemas da atualidade. O jornalista católico, que trabalha nos órgãos da imprensa neutra (ou não confessional), tem grandes oportunidades de favorecer as orientações do pensamento católico ao apresentar os fatos positivos, que marcam a presença cristã da atualidade noticiosa. Isto requer o funcionamento de serviços de informação oportunos, objetivos e completos a respeito dos problemas que
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interessem ao público leitor. Por essa razão se fazem necessários serviços eficazes de agências de notícias, sobretudo católicas, devidamente organizadas, que estejam a serviço das aspirações dos povos da América Latina. Para a formação profissional do jornalista católico julgamos necessárias as Escolas de Jornalismo, de nível universitário , com autonomia acadêmica, nas quais deverão incluir-se disciplinas fundamentais para o bom exercício da profissão, no campo da comunicação, atualmente recomendadas pela experiência do CIESPAL, e pela necessidade do desenvolvimento na América Latina: teoria da comunicação, psicologia da comunicação, sociologia da comunicação, investigação da comunicação e a comunicação aplicada ao desenvolvimento latino-americano. No campo de ensino de jornalismo e comunicação é necessário intensificar a colaboração internacional mediante o aperfeiçoamento profissional dos jornalistas, com intercâmbio de bôlsas de estudo, correspondência, troca de publicações, cursos itinerantes de professôres competentes e outros meios convenientes, como a constituição, ao nível da Federação de Escolas, de Centros de Investigação que troquem experiências e trabalho. Tendo em conta os objetivos propostos pelo Congresso de Imprensa Católica, os jornalistas católicos se comprometem a procurar com interêsse, responsabilidade e capacidade profissional o melhor êxito das emprêsas onde trabalham e a promoção crescente de novas iniciativas, que permitam difundir os valôres cristãos, em linguagem moderna e atraente, para um público ansioso de atualidade. Nossos propósitos foram grandemente estimulados pela hospitalidade e cordialidade de nossos irmãos do Brasil, país que oferece uma rica experiência no jornalismo católico. Com êles e junto às instituições que trabalham estreitamente unidas na União Latinoamericana de Imprensa Católica (ULAPC) esperamos contribuir para o progresso de nossos povos, levando o esfôrço de observação, informação e reflexão necessária para favorecer o desenvolvimento de todos os que vivem no continente latino-americano. Livros recomendados sobre ciências da comunicação: De Luis Beltrão; A IMPRENSA INFORMATIVA De José Marques de Melo; COMUNICAÇÃO SOCIAL: TEORIA E PESQUISA
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I. CONCEITO HISTÓRICO Os livros de atualidade (LA) – aquêles que se ocupam de acontecimentos correntes, escritos, editados e lançados às livrarias enquanto ainda os temas e situações atuam ou repercutem intensamente na sociedade – são uma modalidade nova de jornalismo, surgida nos dias dias da II Guerra Mundial, com o objetivo de favorecer a mobilização, nos países beligerantes, e influenciar a opinião dos povos neutros pela narração pormenorizada, descrição viva, análise e prospecção objetiva dos episódios e conjunturas do conflito, que então envolvia pràticamente tôda a humanidade. Se bem que no período entre as duas guerras alguns LA houvessem sido editados e alcançassem grande aceitação, a exemplo dos livros de reportagens firmados por Pierre von Paasen, Geniéve Tabuis, John Reed e outros destacados correspondentes estrangeiros, de modo especial nos tempos da guerra civil espanhola, ainda a imprensa não se ressentia da concorrência do rádio (mais tarde, da televisão), que iria forçá-la a enveredar pelo jornalismo interpretativo, e nem as editôras dispunham, em suas oficinas gráficas, de equipamento que promovesse o trabalho rápido que o avanço da eletrônica e a técnica de automação iriam permitir depois. Ora, o atributo essencial do LA é o de ser lançado enquanto os acontecimentos de que trata ainda estão quentes, ainda se situam nas preocupações do cotidiano do público. O prodigioso progresso das * Artigo publicado na revista “Comunicações & Problemas”, 4:2-3 (1969): 127-160 FLASH BOOKS. In this article, Professor Luiz Beltrão analyses the different aspects of “present day events books” or “flash editions”, as a new and already triumphant form of contemporany journalism. These books on current events are published and sold while their themes and situation still take place or while the effects of the reported events are felt by society. The author examines the characteristics, graphic aspect, types of subjects, editors, authors, readers and circulation, and concludes, based on statistical data, that this kind of book has been surpassing novels in the public’s choice also in Brazil.
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artes gráficas, a utilização dos meios de gravação modernos, a extrema simplificação dos processos de editoração atuais é que permitem o fato por nós testemunhado na França, em julho de 1968, quando, num sábado, numa pequena livraria de Nice, contamos nada menos de doze livros sôbre a rebelião de estudantes que paralisara o país e provocara modificações estruturais na política e na sociedade francesa nos dois meses anteriores. E, conforme noticiou a imprensa, em meados de setembro, a Feira de Livros de Francforte exibia livros sôbre os acontecimentos da Tchecoslováquia e a agitação estudantil na Alemanha, três semanas antes, consagrando, assim, o gênero no mais famoso certame internacional de editôres. O fato levou até um semanário de Hamburgo a assim fixar o nôvo fenômeno editorial: “menos romances, mais Guevara”. Os princípios da Carta da ONU referentes à liberdade e difusão ampla de informações, a filosofia das Relações Públicas enfatizando as Comunicações dos govêrnos e emprêsas com os cidadãos e os clientes e, sobretudo, o impacto da televisão e do rádio, via satélites, reduzindo as dimensões do mundo, derrubando fronteiras e disseminando as notícias simultâneamente com os fatos ou imediatamente após a sua ocorrência não apenas produzem modificações no exercício e no conteúdo do jornalismo gráfico mas também reclamam dos responsáveis pela ordem, pelas tradições e pela evolução de cada povo a criação de instrumentos que permitam o equilíbrio institucional ameaçado. Os LA constituem um dos mais efetivos de tais instrumentos, donde a multiplicação das edições do gênero e a sua crescente acolhida por parte do público. O prestígio e a credibilidade do livro são reconhecidamente maiores do que os demais veículos de comunicação de massa. Ainda há entre o público um respeito quase religioso pela comunicação impressa em fôlhas ligadas umas às outras, em um conjunto revestido com capas flexíveis e leves – as brochuras. E talvez ainda mais aos volumes encadernados em papelão, couro, percalina, pelica, marroquim ou outra qualquer película ou tecido de valor e durabilidade. O livro, pelo seu formato e dimensões, por conter na lombada indicações (título, autor, editôra, tomo, ano, etc.) que o identificam à simples olhada, pode ser fàcilmente conservado, guardado e colecionado, ocupando um menor espaço que outras formas de impressos. Daí porque o homem, que aliena sem maiores preocupações jornais e revistas, hesita, considera e reconsidera quando dêle se deve desfazer. Com o LA, o leitor obtém uma forma prática de reter informações palpitantes sôbre os fatos e situações do presente, podendo-se considerar que essa modalidade jornalística acha-se hoje inserida na práxis social como elemento de ação reflexiva humana. Enquanto a notícia, divulgada pelo rádio e pela televisão, é dirigida sobretudo aos sentimentos e paixões que a dinâmica do presente provoca; enquanto as reportagens dos jornais e revistas, embora mais completas e melhor interpretadas, se ressentem da pressão do tempo entre duas edições (horas ou dois pares de dias), o texto de um LA, embora redigido a curto prazo, implica numa mais prolongada elaboração, desde as etapas de captação e seleção dos dados informativos até a pesquisa dos seus antecedentes, prospecção dos seus
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efeitos e redação da matéria. Em alguns LA, o autor ainda insere notas e anexos, durante a fase de sua composição e revisão, que não se processa em minutos e horas mas em alguns dias decorridos do acontecimento-núcleo da obra. Todos êsses elementos de elaboração imprimem ao LA caráter de trabalho reflexivo do autor e seus colaboradores – editor, revisor, ilustrador, técnicos de composição e impressão, equipe dos departamentos de publicidade, relações públicas, distribuição e difusão e, mesmo, o crítico. Conclui-se que, sendo resultado de reflexão, se dirija também ao espírito reflexivo do leitor, que já esgotou, diante do noticiário radiofônico e televisado e das reportagens escritas ao sabor e calor das ocorrências no momento em que se desenrolavam e transmitidas pelos jornais e revistas, a sua capacidade normal de emoção e paixão, que lhe empanariam a segurança de um juízo, o peso de uma atitude e o acêrto de uma ação relacionada com a situação agora relatada em todos os seus aspectos e apreciada sob nôvos e mais perspicazes ângulos. Esta é, seguramente, a razão por que há leitores interessados em determinados problemas atuais que colecionam tôdas as notícias e comentários que se publicam em torno do mesmo e, posteriormente, os reúnem em pastas, classificando-os e até mesmo encadernando-os – dando-lhes formato de livros – para tornar mais simples o manuseio e consulta de material laboriosa e custosamente reunido. Não é audacioso supor que a constatação dêsse hábito do leitor contribui para o desenvolvimento da indústria editorial do LA, do mesmo modo que os livros de culinária teriam surgido em consequência do colecionamento de receitas de pratos, salgados e outros acepipes, realizado por donas-de-casa em livros manuscritos ou com recortes de almanaques, folhinhas e revistas. Do mesmo modo que os meios de divulgação jornalística têm uma das suas justificativas na impossibilidade de cada indivíduo obter por si próprio a massa de informações que as poderosas emprêsas de comunicação proporcionam, reunindo pessoal numeroso próprio e valendo-se ainda das agências de notícias, também as editôras de livros se lançam ao campo da obra de atualidade conscientes das dificuldades de uma ação pessoal mais ou menos completa no colecionamento de dados sôbre uma determinada ocorrência ou situação em curso. As emprêsas jornalísticas conhecem sobejamente essa dificuldade quando instalam ou mantêm seus departamentos de arquivo e pesquisa; e, com o mesmo objetivo, empregando larga e especializada mão-de-obra, funcionam em todo o mundo organizações de recortes de informações e comentários divulgados em impressos sôbre assuntos diversos, de que temos, no Brasil, como exemplo, o “Lux-Jornal”. II. CARACTERÍSTICAS Segundo GABRIELLE ROLIN1, cinco características comuns distinguem os LA das edições tradicionais: 1
Conf. Armando Strozenberg – “A edição-flash ou o livro de hoje” in “Jornal do Brasil” – ed. 11/1/69 Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 189-217, jan/dez. 2006
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1) Seus assuntos são escolhidos entre as notícias de atualidade: da revolução de maio à resistência tcheco-eslovaco, do problema negro nos Estados Unidos à especulação sôbre o ouro, da agitação da América Latina aos prognósticos dos pósdegaullismo. Cada um dêles constitui uma espécie de número especial de revista. 2) Êles narram os acontecimentos sem recuos, na medida em que se desenvolvem, tentando prever suas conseqüências ou reações. A lei do gênero exige uma sincronização a mais rigorosa possível entre os fatos que inspiram a atenção do público e a saída da obra que lhes concerne: não se espera portanto que uma questão se conclua para que se veja tratada. Por outro lado, o pequeno número de assuntos em moda, suscetíveis de interessar audiência vasta, transforma em corrida a rivalidade entre editôres; assim, as provas são corrigidas em chumbo, enquanto que as mais recentes notícias completarão o texto. O prazo entre a concepção da obra e sua venda em livraria pode, segundo o editor Tchou, se reduzir a duas semanas. 3) Êles implicam, na maioria dos casos, em grandes investimentos (entre seis e 20 mil dólares), que correspondem às viagens dos enviados especiais, às 72 horas semanais referentes aos documentaristas, tradutores, revisores, maquetistas, montadores e cortadores. Tais despesas são, evidentemente, justificadas pelas grandes tiragens (nunca menos de 15 mil exemplares). 4) Não conhecem, em geral, sucessos permanentes na medida em que sua longevidade gira em tôrno de três a seis meses em função, evidentemente, do grau de extensão de novas edições. 5) E, finalmente, são produtos de novas técnicas: o gravador substitui a caneta ou a máquina de escrever, o estilo falado impõe-se sôbre o estilo crítico. A equipe substitui o autor que se limita a distribuir a cada um seu papel, isto quando o próprio editor não se encarrega da função pessoalmente. Inovações gráficas ainda em iniciação indicam a preocupação de facilitar a leitura e conduzir o leitor ao essencial do trabalho, isto é, às curvas, quadros, documentos anexos, etc. III. ILUSTRAÇÕES E CAPAS Os LA são ilustrados com fotos, desenhos, mapas, fac-símiles, diagramas e gráficos. Os ilustradores podem ser co-autores, quando realizam de comum acôrdo a “cobertura” do acontecimento focalizado, ou colaboradores, se as suas ilustrações são utilizadas pelo autor, que as julga em harmonia com o tema explorado. Co-autor é, por exemplo, Jaguar, que ilustrou com suas “charges”, os livros de Sérgio Pôrto (Stanislaw Ponte Preta) – “Febeapá”; colaboradores foram Rubens Seixas, cujas fotografias foram usadas por Rossini Rossi e Cotrim Costa em “Isaltina, o Caminho do Milagre” e os não identificados repórteres fotográficos da agência francesa Gamma, cujos impressionantes flagrantes foram adquiridos e empregados por Flávio Alcaraz Gomes em “A rebelião dos jovens”. Em alguns LA, como é o caso de “A rebelião romântica da Jovem Guarda”, de
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Ruy Martins, nem no texto nem na apresentação do livro figura a procedência ou autoria das fotos inseridas. As ilustrações soem ser em preto-e-branco, uma vez que o LA, destinado ao grande público, ficaria encarecido com fotos ou desenhos a côres. Já nas capas, os ilustradores (capistas) exploram abundantemente as côres, os tipos grandes e contrastantes de letras, os símbolos e figuras (retratos, fotos, caricaturas) mais conhecidos do público. A capa de “O ano 2000” de Herman Kahn e Anthony J. Wiener, lançado pelas edições Melhoramentos, oferece a sugestão de um computador-robot, em sete côres e empregando, em montagem, diveros símbolos, inclusive a bandeira norte-americana, a foice-e-o-martelo, a estrêla de Israel. Em “Recordações de um desterrado em Fernando de Noronha”, de Hélio Fernandes, a capa é uma foto de Luiz Pinto, que apresenta o autor de perfil, barbudo e com manchas vermelhas sôbre os olhos e a bôca, como a indicar que o seu castigo decorreu de ver e falar. A fotografia de grande expressão, por vezes, é suficiente para prender a atenção do leitor e fazê-lo adquirir o livro de atualidade, dispensando excessivo colorido ou títulos maiores, como é o caso de “Advogado da Liberdade”, de Araken Távora, Editôra do Repórter, em que dois terços da superfície são ocupados por um flagrante de Sobral Pinto durante uma sessão do Tribunal, em gesto oratório, realçado por um círculo citavado branco. O título em letras minúsculas, preto, e fundo vermelho. IV. GÊNEROS Uma apreciação do tratamento dado à matéria nos LA permite-nos distinguir quatro gêneros nas publicações da espécie: 1) Jornalístico, compreendendo reportagens, entrevistas, crônicas, críticas, diários e relatos de acontecimentos e situações. Dêsse tipo encontramos, na bibliografia brasileira “Assim Falou Julião”, entrevistas concedidas pelo líder das Ligas Camponesas ao Jornalista Gondim da Fonseca, por êste redigidas em dois dias (conforme palavras da apresentação), e que foram editados pela Fulgor no mesmo ano – 1962 – em que o movimento político-ideológico dos trabalhadores rurais nordestinos alcançava o seu auge; “Brasil: 1º de Abril”, de Araken Távora, lançado ainda no primeiro semestre de 1964, e que foi o primeiro LA surgido sôbre a revolução de março, e “A Rebelião dos Jovens – Paris, 1968”, escrito por Flávio Alcaraz Gomes em cinco dias, de acôrdo com divulgação da Editôra Globo, e lançado no mês de agôsto do mesmo ano, em plena fase aguda das agitações estudantis no Brasil e em diversas partes do mundo. 2) Memorialístico – compreendendo memórias, biografias e depoimentos sôbre fatos, personalidades ou série de sucessos que, embora passado algum tempo
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de sua ocorrência, continuam presentes e atuantes na consciência, continuam presentes e atuantes na consciência coletiva. Os mais expressivos exemplos dêsse tipo de LA são os relatos de diplomatas, abordando aspectos de “affaires” internacionais de que participaram e que, pela sua própria natureza, sòmente podem ser divulgados com um certo atraso sôbre as ocorrências focalizadas, e os “diários” de campanhas eleitorais ou movimentos revolucionários, que implicam sempre em episódios e aspectos sigilosos. Entre outros: “Memórias de um embaixador”, de Raul Bopp – Rio, Gráfica Record 1968 e o discutido “Diário” do famoso guerrilheiro argentino-cubano Ernesto “Che” Guevara, adquirido pelo govêrno de Havana e distribuído em todo o mundo. 3) Documental – compreendendo projetos, relatórios, orçamentos, balanços, textos e análises de pesquisas, discursos e conferências, atas e anais, plataformas, programas e planos-diretores, comunicações e documentos diversos sôbre problemas e assuntos do momento, elaborados por autoridades governamentais, organismos políticos e administrativos, pessoas e entidades oficiais, bem como organizações privadas do comércio, da agricultura e da indústria, igrejas, clubes e associações para diversas atividades. Em sua maioria, pelo caráter unilateral da apreciação do tema, pelas limitações impostas aos autores e editôres em sua estrutura estilística e gráfica e, ainda, pelas suas reduzidas tiragens e deficiência na distribuição, êsses LA não alcançam o grande público, servindo apenas como fonte de informações para estudiosos ou especialistas. Alguns, entretanto, pelo fato de abordarem matéria que, em determinada época, ocupa as preocupações da opinião pública, se transformam em uma espécie de um “best seller”, como ocorreu com “A Amazônia e a integridade do Brasil”, de Artur César Ferreira Reis, editado pelo Govêrno do Estado do Amazonas em 1966 e, mais tarde, reformulado, tendo alcançado três edições pela Distribuidora Record, sob o título – “A Amazônia e a cobiça internacional”. Ou como o texto completo do Relatório Warren, sôbre o assassinato do presidente Kennedy, difundindo em todo o mundo e editado, no Brasil, em 1966, pela Distribuidora Record. Publicações dêsse tipo são também as edições em vernáculo de encíclicas e decretos do Papa, da coleção “Documentos Pontifícios”, da Vozes, de Petrópolis. 4) De referência – compreendendo guias, “who’s who”, catálogos, índices e outros livros que oferecem dados informativos sôbre roteiros turísticos (estado atual de rodovias, ferrovias, portos e linhas marítimas e aéreas, preços e comodidades em hotéis e restaurantes, calendários, e programas de festas, exposições e celebrações, etc,) pessoas e instituições da sociedade atual (dados biográficos, atividades, obras, títulos, endereços, etc.) e listas descritivas ou relações circunstanciadas de produtos (fabricação, qualidades, utilização e
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consumo, custo, distribuição, condições de venda, etc.). A Editôra Abril anualmente envia jornalistas especializados em viagens pelo País, para o preparo e lançamento do seu “Guia 4 Rodas” e, em 1966, o Ministério das Relações Exteriores, pelo seu Departamento Cultural, fêz editar, com a colaboração de diversos escritores e críticos brasileiros, um “Quem é quem nas artes e nas letras do Brasil”, relacionando artistas e escritores contemporâneos ou falecidos depois de 1945. Essas obras são exemplos da categoria de LA de referência. Para o presente estudo apenas consideramos e realizamos o levantamento (vide anexos) dos LA classificados no primeiro e no segundo gêneros, lançados por emprêsas e editôras privadas, com exceção de algumas obras que, pela sua importância e oportunidade, alcançaram excepcional aceitação pública e a mais ampla divulgação. V. EDITÔRES E AUTORES A produção dos LA – pelas suas características de rapidez de elaboração, confecção gráfica e difusão – exige uma sólida e bem azeitada emprêsa editorial, que conte com pessoal e recursos para imediata mobilização, quando se trata de apresentar ao público uma obra do gênero. Julgamos, por isso, que as emprêsas jornalísticas, mais ainda do que as próprias casas de obras, estão aptas a produzir tais livros, uma vez que as suas máquinas de composição e impressão permanecem ociosas por várias horas do dia, dispõem dos melhores e mais capacitados elementos humanos para a captação e interpretação dos fatos correntes e contam com uma rêde de distribuição própria e eficiente. Em artigo divulgado pelo “Jornal do Brasil”, ARMANDO STROZENBERG 2 registra que os editôres franceses desenvolvem uma ação muito pronta para a obtenção de documentos e testemunhos para o lançamento de tais livros. Jean Lacouture (diretor da Coleção Seuil, Historie Immediate) enviou Julien Besançon a Israel; Calude Durant (diretor da Coleção Combats, do mesmo editôr) encarrega um grupo de estudantes franceses de entrevistar os jovens de outros países da Europa; e o editor Claude Tchou confia a direção de sua nova coleção – La Une – a dois jornalistas da televisão – Pierre Dumayet e Pierre Desgraupes – que, em colaboração com nove repórteres, reúnem em menos de três semanas um dossiê sôbre a Tcheco-Eslováquia – “O verão dos tanques”. Durante os acontecimentos de maio, Raymond Aron, sociólogo francês, escrever “La Revolucion Introuvable” em uma semana; Philippe Labre precisou menos de um mês para produzir “Ce n’est qu’un debut” e, em apenas alguns dias, o Sindicato Nacional dos Professores Universitários preparou “O Livro Negro
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STROZENBERG, Armando – art. Cit.
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da Revolução de Maio”, que vendeu 200 mil exemplares na França, no ano passado. Enquanto isso, o nosso Flávio Alcaraz Gomes, conforme nota introdutória dos editôres, escreveu o seu “A rebelião dos jovens” em somente cinco dias; em agôsto, no terceiro mês após os acontecimentos tumultuosos da capital francesa, a Editôra Globo já havia lançado o livro que obtinha, em Porto Alegre, o segundo lugar entre os “best sellers” do mês. (Ver anexo) Apesar das condições citadas favoráveis à editoria dos LA pelas emprêsas jornalísticas, poucas delas no Brasil se têm mostrado dispostas ao desdobramento de suas atividades nêsse campo. Dentre estas destacam-se Bloch Editôres – cujo principal órgão jornalístico é a revista semanal “Manchete”; os “Diários Associados”, através de sua emprêsa gráfica “O Cruzeiro” e a Editôra Leitura, que lança mensalmente a revista do mesmo nome, tôdas no Rio de Janeiro. Das emprêsas que mantém órgãos jornalísticos diários e empregam as próprias oficinas para êsses lançamentos, sòmente o “Correio da Manhã” têm editado LA, assim mesmo esporadicamente. Alguns jornalistas, percebendo a crescente procura de obras do gênero, têm tomado medidas para tornar mais frequente o lançamento de reportagens sôbre fatos e situações da atualidade , chegando mesmo a formar emprêsas-editôras, como a Editôra do Repórter, liderada por Araken Távora, e a nova editôra “Gol”, do Rio, especializada em atualidades desportivas. Entretanto, parecem faltar ainda recursos materiais a êsses jovens editôres para a execução de um largo programa de produção, capaz de compensar-lhes os esforços e os investimentos. Conforme recente editorial da “Fôlha de S. Paulo”3, o Brasil absorve dez milhões de livros por ano, dos quais seis milhões são obras didáticas, de aquisição pràticamente compulsória. Restam, pois, quatro milhões de livros de ficção e extensão cultural. “Empresários do ramo editorial e gráfico assinalam que o livro é um produto que se paga em média depois de vendidos 40% de uma edição. Comumente, a primeira edição circula com 5 mil exemplares, de sorte que o lucro começa a parecer depois de vendidos, no mínimo, dois mil exemplares, o que ocorre, em média, 90 dias após o lançamento. Afirma-se, porém, que para um título bem sucedido, a editôra enfrenta o encalhe de dois ou três... A reação do público leitor é imprevisível, às vezes em relação a títulos de um mesmo autor”. Como foi o caso da Editôra Expressão e Cultura que, tendo um êxito espetacular com “O desafio americano” (cêrca de 100.000 exemplares postos à venda em nove edições em 1968 não conseguiu repetí-lo nem com a “Resposta ao desafio Americano” nem com “O despertar da França”, este último do mesmo autor do “Desafio”. Essas circunstâncias fazem com que apenas as grandes casas editôras se disponham aos vultosos investimentos que o gênero reclama, uma vez que, dado o seu caráter eminentemente jornalístico, os LA exigem uma espécie de 3
“Folha de S. Paulo” – ed. 10/4/09
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periodicidade no lançamento de nôvos títulos, sob pena de não alcançarem os seus objetivos ou de os editôres serem surpreendidos por concorrentes mais perspicazes, mais sensíveis aos assuntos destinados a rêter o interêsse público. Assim, no Brasil, são poucas as editôras de obras que se destacam na apresentação de LA e entre elas a já citada Expressão e Cultura, a Civilização Brasileira, a Laudes, a Saga e a Vozes de Petrópolis (Vide anexo). Como referência aos autores, em primeiro lugar figuram os jornalistas que, pelo seu próprio ofício, estão capacitados a trabalhar sob a pressão do tempo, além de possuírem o domínio do estilo simples e a habilidade interpretativa característica da verdadeira reportagem. No Brasil, foram pioneiros dos LA – Joel Silveira e Rubem Braga, correspondentes de guerra e cronistas consagrados, seguidos, entre outros, nestes últimos vinte anos da agitada vida política e ebulição social em nosso País, por Edmar Morel, David Nasser, Antonio Callado, Carlos Heitor Cony, Araken Távora, Márcio Moreira Alves, Sergio Porto, Carlos Lacerda, Genival Rabelo. Seguem-se, em ordem de importância, os memorialistas. Não aquêles que, conforme JOSUÉ MONTELLO “compelidos à valorização natural do seu pequeno mundo, tendem a converter as suas lembranças em pretextos de belas páginas”, fixando-se de tal modo nas mesmas cenas e motivos “que nos transmitem a impressão de que viveram a mesma vida”4. Mas há os que escrevem antes as memórias de outros do que as próprias; que desprezam o seu pequeno mundo pelo grande mundo da humanidade atual. Ou que, pelo menos, sabem projetar, através de suas experiências pessoais, a experiência coletiva. Foi o que fêz, nos Estados Unidos, Caryll Chesmann, de sua cela da morte em San Quentin e, para não sairmos do campo dos condenados, o que estão fazendo Earl Ray, matador de Martin Luther King, e Sirhan Bishara Sirhan, o braço assassino de Roberto Kennedy. Ou que, entre nós, fizeram Graciliano Ramos, com as as suas “Memórias do Cárcere”, João Alberto com as “Memórias de um revolucionário” e Júlio Belo, com as “Memórias de um senhor de engenho”, autênticos LA à época de sua aparição e, hoje, documentos para a história e sociologia brasileiras. Governantes, políticos e diplomatas, seus assessores e familiares, afeitos ao trato dos assuntos públicos e com dotes naturais de comunicação, constituem uma outra categoria frequente de autores de LA, de modo especial quando encerraram normalmente ou por coação os seus mandatos e funções e podem falar com maior franqueza sôbre as pessoas com que êles conviveram e sôbre episódios e situações de que foram protagonistas, promotores, vítimas e testemunhas. Na bibliografia brasileira contemporânea, nessa classe de depoimentos, contamos com algumas obras de conteúdo e interêsse como, por 4
MONTELLO, Josué – “Uma prosa em pânico” – art. In “Jornal do Brasil” – ed. 10/4/69.
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exemplo, as memórias de José Américo de Almeida, Afonso Arinos de Melo e Franco, Benedito Valadares e do ex-presidente João Café Filho. Entre os autores internacionais dessa categoria, enquanto se aguarda o depoimento pessoal do expresidente Johnson, fazem sucesso, ainda, as memórias de Svetlana, a filha de Stalin, o Diário de Guevara, a defesa de Debray em Camiri. Situa-se, em seguida, uma vasta classe de biógrafos e analistas sociais (sociólogos, economistas, jurisconsultos, cientistas de diferentes campos), que historiam e apreciam a atuação de indivíduos e fenômenos coletivos em suas causas e conseqüências, ou baseiam em dados estatísticos e elementos objetivos as suas previsões para o futuro. Os LA produzidos pelos cientistas sociais distinguem-se de suas obras teóricas porque são motivados e se fundamentam, principalmente em ocorrências do momento. Como os livros mais recentes de Alceu Amoroso Lima, entre os brasileiros, sôbre os acontecimentos ligados ao movimento de março de 1964; de Bertrand Russel sôbre a guerra do Vietname; de Sartre sôbre Cuba e a revolução na América Latina ou de Raymond Aron sôbre a rebelião estudantil na França e no mundo. Por último, surgem os LA de autores, êles próprios protagonistas de acontecimentos que interessam à opinião pública como fundamento de orientação do quotidiano coletivo. Estão nessa categoria as autobiografias e memórias de artistas, cosmonautas, militares, médicos, psicanalistas, viajantes perspicazes, criminosos e policiais, sacerdotes e pastores, líderes operários, secretários, professores e estudantes. Dêsses autores temos, no Brasil, Oscar Niemeyer, com as suas “Quase memórias”; Juca Chaves com “Eu, baixo-retrato” e o padre Zanella com “A igreja traída” e, na biografia mundial contemporânea, as “Antimemórias”, de Malraux, “Nas garras de Mao-Tsé-Tung”, do pe. Pasquale de Martino, “Sim, eu posso”, de Sammy Davis Jr. e outros sôbre as suas experiências de ascensão social a despeito da raça, nos Estados Unidos. Os LA soem, ainda, ser produzidos por equipes, em geral dirigidas por um nome famoso no campo ou situação de que se ocupa a obra. Edison Carneiro lidera um grupo de antropólogos para elaborar “O negro brasileiro: 80 anos de abolição”; Celso Furtado reúne economistas e sociólogos para compor – “Brasil, tempos modernos” e Adonias Filho forma com outros nomes de relêvo do pensamento brasileiro atual para lançar – “O assunto é padre”. Entre os sucessos internacionais encontramos os coordenados por Seymour Krim – “Geração Beat”, por Morse Wayne – “Quem tem mêdo da Ásia?”, por Nigel Calder – “Se não houver paz” ou por Waldo César – “Protestantismo e Imperialismo na América Latina”. São ainda muito comuns os LA redigidos em co-autoria dupla: dois jornalistas políticos – Randolph e Winston Spencer Churchill – “Seis dias de uma guerra milenar”; dois cientistas – Herman Kahn e Anthony J. Wiener – “O ano 2.000”; um humorista das letras e um humorista do desenho – Stanislaw Ponte Preta e Jaguar – os “Febeapá”.
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Participam, também, da autoria dos LA, quando se trata de edição de obras estrangeiras, os tradutores. Destes, exige-se igualmente que estejam bem ao par dos acontecimentos e dos temas do LA, e familiarizados com a linguagem própria de tais temas e acontecimentos. Mais do que noutros trabalhos de tradução, excluindo poesia, aplica-se aos dos LA aquela sentença de Bertrand Russell, citada por JAKOBSON, em ensaio sôbre os aspectos lingüísticos da tradução 5 : “ninguém poderá compreender a palavra ‘queijo’ se não tiver conhecimento nãolingüístico do queijo”. Possivelmente, uma das dificuldades encontradas pelo editor brasileiro para o lançamento regular dos LA estrangeiros seja o pequeno número de bons tradutores e ao ainda menor número de tradutores profissionais empregados pelas emprêsas editôras permanentemente. Pois sòmente agora algumas Escolas de Comunicação – como a da Universidade de São Paulo – estão incluindo entre seus cursos os de Editoração e de Tradutores, de que nos vimos ressentindo há largos anos. VI. OS LA COMO “BEST SELLERS” Entre os “best sellers”mundiais, os LA figuram com o maior relevo. Segundo ALICE PAYNE HACKETT, editôra do “Publisher’s Weekly” e autora do livro de análise estatística da editoração norte-americana de 1895 a 1965 – “70 Years of Best Sellers” – dos doze livros de não-ficção mais vendidos naquêle país apenas dois não eram de sentido eminentemente prático (receitas culinárias cuidado com os filhos e a casa, atlas, etc.): o famoso “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, e o LA de John Fitzgerald Kennedy – “Profiles in Courage” que, lançado em 1956, vendera até então 5,5 milhões de exemplares. Em agôsto de 1968, uma correspondência de Paris para o Suplemento do Livro do “Jornal do Brasil”6 dava conta de que a mais recente das encílicas papais – a “Humanae Vitae” – tivera, em 48 horas, uma venda de cerca de 30.000 exemplares de uma primeira tiragem de 100.000. Já se anunciava uma segunda edição de 150.000 – o que confirmava a tese dos livreiros franceses segundo a qual todos os documentos oficiais da Igreja atingiam índices de venda comparáveis aos dos livros de uma Françoise Sagan, por exemplo. Os números indicam – acrescentava a correspondência – que os Sumos Pontífices são autores muito lidos: o “best seller” das encílicas – “Mater et Magistra”, de João XXIII – publicada em 1961, ultrapassou os 400.000 exemplares, enquanto um Prêmio Goncourt francês dificilmente chega aos 300.000. Uma outra encílica de João XXIII – “Pacem in terris” alcançou um índice de vendas de mais de ... 300.000 exemplares. Em março de 1969, na lista estabelecida pelo semanário “L’Express” dos dez livros de maior sucesso na França, o segundo lugar era ocupado por “Le 5
JAKOBSON, Roman – “Lingüística e Comunicação” – São Paulo, Cultrix, 1969 – pág. 63. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 189-217, jan/dez. 2006
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Móis de Mai du Général”, de J. R. Tournoux, enquanto, de acôrdo com a revista “Time”, eram “best sellers” nos Estados Unidos, entre outros LA, “The arms of Krupp”, de Manchester: “The tragedy of Lyndon Johnson”, de Goldman, e “The Day Kennedy was shot”, de Bishop 7. Ainda no Suplemento do Livro do JB8, LUIZ ORLANDO CARNEIRO chama atenção para um aspecto original da venda dos LA: êles se podem transformar em “best sellers” antes da sua edição. Como no caso de “A morte de um presidente”, de William Manchester, que saiu em abril de 67 mas foi “best seller” em 1966, em face da sua publicação na revista “Look”, que adquirira os direitos por uma soma recorde de 665 mil dólares. Outros livros de memórias – como o de autoria de Svletana ou o “Diário” de ‘Che’ Guevara” – antecipam o seu sucesso de vendas mediante a publicação de todo o texto ou de condensações em revistas de grande tiragem. O fenômeno também tem ocorrido no Brasil, onde alguns autores que têm lugar certo nas revistas semanais nelas divulgam em primeira mão as suas obras, depois reunidas em volume, como é o caso de um até bem pouco dos mais férteis produtores de LA do País – David Nasser. Entre os seus livros que tiveram aceitação dupla (antes e depois de sua edição) lembramos – “Jânio, a face cruel” e “A tragédia de Aída Curt”. Para confirmar, estatisticamente, a posição dos LA entre os “best sellers” no Brasil, realizamos um levantamento nas listas dos “dez mais vendidos” nos meses de julho e agôsto de 1968, em seis capitais brasileiras, conforme o suplemento do Livro do JB 9, apurando os seguintes dados: JULHO No Rio – 8 LA, a saber: 1) – Eu, Baixo-Retrato, de Juca Chaves; 2) – “Quanto custou Brasília”, de Maurício Valtsman; 3) – “Um projeto para o Brasil”, de Celso Furtado; 4) – “Brasil, tempos modernos”, de Celso Furtado e outros; 5) – “O desafio americano”, de Servan Schreiber; 6) – “Meu amigo ‘Che’”, de Ricardo Rojo; 8) – “O nôvo estado industrial”, de John Kenneth Galbraith; e 8) – “Luta por um mundo melhor”, de Robert Kennedy. Em Brasília – 3, sendo: 1) – “Brasil, tempos modernos”; 2) – “O nôvo estado industrial e 3) – “O poder jovem”, de José Artur Poerner. Em São Paulo – 5, sendo: 1) – “Eu, Baixo-retrato”; 2) – “O desafio americano”; 3) – “Meu amigo ‘Ché’; 4) – “O nôvo estado Industrial” e 5) – “A Revolução dentro da paz” de dom Helder Câmara. 6 7 8
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“Jornal do Brasil” – Suplemento do Livro – ed. 17/08/68 “O Globo” – ed. 10/03/69 CARNEIRO, Luiz Orlando – Art. In “Jornal do Brasil” – Suplemento do Livro – ed. 21/01/67 “Jornal do Brasil” – Suplemento do Livro – ed. 17/08 e 21/09/68
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No Recife – 7, sendo: 1) – “Revolução dentro da paz”; 2) – “Um projeto para o Brasil”; 3) – “Meu amigo ‘Ché’; 4) – “O desafio americano”; 5) – “Luta por um mundo melhor”; 6) – “O Cristo do povo”, de Márcio Moreira Alves; e 7) – “O Vietname segundo Giap”, do general Giap. Em Belo Horizonte – 5, sendo: 1) – “O poder jovem”; 2) – “O Cristo do Povo”; 3) – “O nôvo estado industrial”; 4) – “O desafio americano” e 5) – “Meu amigo ‘Ché’”. Em Porto Alegre – 3, sendo: 1) – “O nôvo estado industrial”; 2) – “O desafio americano”; 3) – “Memórias de um embaixador”, de Raul Bopp. AGÔSTO No Rio – 3, a saber: 1) – “Um projeto para o Brasil”; 2) – “O poder jovem” e 3) – “O desafio americano”. Em Brasília – 5, sendo: 1) – “Brasil, tempos modernos”; 2) – “O poder jovem”; 3) “Um projeto para o Brasil”; 4) – “O desafio americano” e 5) – “O despertar da França”, de Servan Schreiber. Em São Paulo – 5, sendo: “Um projeto para o Brasil”; 2) – “Eu, BaixoRetrato”; 3) – “O desafio americano”; 4) – “O nôvo estado industrial” e 5) – “Meu amigo ‘Ché’”. No recife – 5, a saber: 1) – “Um projeto para o Brasil”; 2) – “Brasil, tempos modernos”; 3) – “O Cristo do povo”; 4) – “Revolução dentro da paz” e 5) – “O Vietname segundo Giap” Em Belo Horizonte – 3, sendo: “Fui estudante em Moscou”, de Agenor Tonussi; 2) – “Opções da Revolução na América Latina”, de Miguel Urbano Rodrigues e 3) – “O poder jovem”. Em Pôrto Alegre – 3, a saber: 1) – “Um projeto para o Brasil; 2) – “A rebelião dos jovens”, de Flávio Alcaraz Gomes, e 3) – “O desafio americano”. Nos dois meses estudados, o recorde absoluto entre os livros de autores nacionais foi – “Um projeto para o Brasil” que do 4º lugar no Rio e do 2º no Recife, em julho, passou a ocupar a primeira colocação, no mês seguinte, no Rio, São Paulo, Recife e Pôrto Alegre. Entre os livros estrangeiros, incontestàvelmente “O desafio americano” manteve a liderança, surgindo, em julho, no primeiro lugar no Rio e em São Paulo e no segundo lugar em Recife e em Pôrto Alegre; enquanto em agôsto conquistava o primeiro lugar em Pôrto Alegre, o segundo em Brasília e o terceiro no Rio. Dos 21 livros de autor nacional colocados entre os “best sellers” em julho, 8 eram do gênero atualidades; dos 14 de autor estrangeiro, figuraram 5 na lista. Em agosto, 9 dos 21 livros de autores nacionais, e 5 dos 21 de autores estrangeiros eram LA. Apenas dois romancistas nacionais, ambos em reedição, Antônio Callado e José Mauro de Vasconcelos, conseguira, em julho, em
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Brasília e São Paulo, respectivamente, colocar-se à frente dos LA na preferência dos leitores, com suas novelas – “Quarup” e “Meu pé de laranja lima”. No mesmo mês, em Pôrto Alegre, também o primeiro posto era conquistado por um humorista, Leon Eliachar, com o seu “O homem ao zero”. Em agôsto, sòmente em Belo Horizonte um livro fora do gênero, de autor brasileiro, conseguiu a liderança – “História das Artes”, de Carlos Cavalcanti. Os dados apresentados em listas de “best sellers” escolhidas ao azar demonstram inequivocamente dois fatos: preferência do público pelo gênero e apoio aos autores nacionais que se ocupam dos temas e questões da atualidade, especialmente relativas ao Brasil. VII. O PÚBLICO DOS LA Quem são os consumidores dos LA? Quais as características desse público que, em 1968, provocou o lançamento de nove edições sucessivas de “O desafio americano” e que esgotou, nos dois últimos anos, seis edições do “Febeapá – 1”, quatro do “Febeapá – 2”, três de “O país dos coitadinhos”, duas de “Meu amigo ‘Ché’” e também duas de “Os sete pecados da juventude sem amôr”? Até hoje não foi feita uma pesquisa científica a respeito dos clientes de livros do gênero. Como, entretanto, é o sentido prático que dita a aquisição de livros, constituindo-se em “best sellers” aquêles que oferecem maiores possibilidades de utilização imediata dos conhecimentos nêles contidos, conforme a observação autorizada da já citada ALICE PAYNE HACKETT, será lícito tentar responder à pergunta, à base do conhecimento da caractereologia do público-leitor. Os inquéritos norte-americanos a respeito dos consumidores da cultura10 apresentam-se-nos com as seguintes características: a) – sua juventude; b) – composição paritária entre os dois sexos; c) – financeiramente abastados, bem educados e instruídos; d) – alta proporção de profissionais, técnicos e administradores executivos; e) – preponderância dos judtus na freqüência dos espetáculos de arte; f) – mobilidade alta. Especìficamente quanto aos leitores, os estudiosos são unânimes em considerar que “os livros atraem as pessoas que estão acima da média, não apenas em educação mas também no uso intenso do conteúdo em sério dos outros meios de comunicação – os “culturalmente alertas” das comunidades, para usarmos a frase de Bernard Berelson. Os livros são mais propensos a atrair os jovens adultos do que os mais velhos; as pessoas vivem em comunidades urbanas mais do que as que vivem nas rurais; as pessoas de alta renda mais do que as de baixa”.11 Já em 1837, um escritor anônimo escreveu na “Edinburg Review”: “Os livros, por mais baratos que sejam e por mais popularmente escritos não serão 10 11
TOFELER, A. – “O povo e a cultura”. Rio, Lidador, 1965, esp. o 3º capítulo. PETTERSON, JENSER E RIVERS. “Os meios de comunicação e a sociedade moderna” – Rio, GRD, 1966, p. 183
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provavelmente lidos pelos mal informados... Mas todos os homens lerão as NOTÍCIAS (...)”12. Há quase 150 anos que se descobria o interêsse do homem pelo nôvo, pelo original, pela narrativa dos acontecimentos da atualidade, mediante o conhecimento dos quais se teria uma vida mais rica, mais cheia de conteúdo e com menor probabilidade de êrros. O LA viria realizar o conúbio do jornal com o livro, possibilitando um nôvo público ao produto das casas de obras. “Em uma sociedade em que cada vez falta mais tempo... a leitura não pode ser já o ócio atento, porque até mesmo o ócio tem seu lugar na distribuição de quefazeres. Creio – escreve BENEYTO 13. que se lê, antes de tudo, pelo afã de instrução, pela necessidade de preparar-se culturalmente... Lê, também, o que deseja ascender em seu posto, dentro da estratificação social em que vivemos”. Nada mais resta daquela distinção entre leitores e ledores, criada por Thibaudet e adotada por SALINAS, na sua “Defensa de la lectura”14, segundo a qual o leitor seria ùnicamente “o que lê por ler, pelo puro gosto de ler, pelo amor invencível ao livro, por ganas de ficar com êle horas e horas, como ficaria com a amada: por recreio de passar as tardes sentindo correr, compassadamente, as páginas do livro e as águas do rio a cuja margem se recosta. Nenhum ânimo nêle de retirar do que está lendo ganho material, ascensão, dinheiro, notícias concretas que o elevem na escala social, nada que esteja além do livro mesmo e do seu mundo”. Se algo restasse dessa concepção, êsse, o “snob” da leitura, serial agora o ledor. O leitor de hoje é o que segue o conselho de FOLLIET, o homem do povo, cujos antepassados foram camponeses, artistas e operários que, tendo tido acesso à cultura em meio a trabalhos, sofrimentos e lutas, se faz defensor impávido da democratização dos bens literários, artísticos e científicos, no seu admirável ensaio – “A toi. Caliban”15: “Limitem suas compras (de livros)... a obras úteis à instrução profissional, aos livros que se sente serem portadores de uma mensagem, aos que consideram como instrumentos de trabalho”. E o leitor brasileiro? Será êle assim tão pragmatista? Vamos conhecê-lo, vamos conhecer o “nôvo senhor leitor” no sintético mas excelente estudo de ROBERTO DRUMMOND16: um tipo mais complicado que, “de uns cinco anos 12 13
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Conf. J.A.C. Brown – “Técnicas de Persuasão – Rio, Zahar, 1965 – pág. 126. BEYTO, Juan – “Mass Communications” – Madrid, Instituto de Estúdios Políticos, 1967 – pág. 67 SALINAS, Pedro – fragmentos do ensaio “Defesa de la lectura” in “El mundo de los libros” – seleção, prólogo e notas de Domingos Buonocore – Santa Fé, Editorial Castellvi, 1955 – pg. 166. FOLLIET, Joseph – “A toi, Caliban – Paris, Centurion, 1965 Versão Brasileira: “O povo e a cultura” – Forense, 1968. DRUMMOND, Roberto – “A procura do ângulo brasileiro” – in “Cadernos de Jornalismo” – Rio, Edições Jornal do Brasil, n. 2, Julho/Agosto/1965. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 189-217, jan/dez. 2006
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para cá mudou, e para melhor: é cada vez mais informado, mais exigente, mais curioso por questões que antes não o empolgavam”. Essa atitude resultaria de “dois aspectos do comportamento do leitor brasileiro muito importantes: a conscientização e a cultura nova”. Conscientização do momento que vivemos e da posição nacional em relação ao futuro. Conscientização que “deixa o leitor psicologicamente interessado pelas questões ligadas aos problemas de um país que começou a se industrializar. Daí a preferência sempre pelos temas sociais, políticos e econômicos. Uma consulta aos “best sellers”... mostra essa opção”. Cultura nova, no sentido de uma inquietação generalizada, notadamente nos meios estudantis e profissionais, por assuntos e aspectos próprios e adequados ao nosso desenvolvimento. Cultura nova que tem nos livros um fator de crescimento, a tal ponto que a “a indústria do livro escapa à crise que atravessam, no momento, outras indústrias nacionais”. A afirmativa de DRUMMOND poderá parecer audaciosa, tanto já nos acostumamos às lamentações dos editores. Contudo, uma análise dos balanços de quinze das mais ativas editôras do Brasil, realizada pelo “Correio do Livro” e divulgada em sua edição de julho de 1968, sob o título – “Cultura vira mercado no Brasil” mostra que essa editôras acusavam “um capital mais reservas de Ncr$ 14,2 milhões e um lucro, em 1967, de NCr$ 6 milhões. Quer dizer: ganharam 42% sôbre o principal”. (V. quadro em anexo). E ainda: “Vinte editôres estão com o “aprovese” do GEIPAG para a importação de 490 mil dólares em equipamento gráfico. O que pode significar tendência de transformação crescente da simples indústria editorial do país em editorial & gráfica.” As considerações anteriores permitem-nos, a despeito da falta de inquéritos específicos, considerar que o público de livros e, notadamente, de LA no Brasil é recrutado dentro de quatro grandes áreas: 1) Área política, compreendendo políticos, diplomatas, militares, administradores executivos; 2) Área universitária: professores, sociólogos, economistas, historiadores e estudantes; 3) Área da comunicação: jornalistas, publicitários, eclesiásticos, relacionistas, extensionistas, agentes de turismo, bibliotecônomos, editôres e livreiros; e 4) Área de negócios: industriais, comerciantes, profissionais liberais, funcionários públicos.
Presumivelmente, os aposentados e as donas de casa – em razão da sua atividade cultural vegetativa – são leitores menos assíduos, informando-se dos fatos correntes e dos comentários a respeito através de outros meios de comunicação, os meios essencialmente domésticos – rádio e televisão. Quanto aos agricultores, camponeses e operariado urbano, a sua própria condição econômica e as barreiras
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do analfabetismo ou baixa cultura, juntamente com o isolamento geográfico dos primeiros quanto aos grandes centros distribuidores de livros e o tempo ainda mais limitado de que dispõem para a leitura – fazem-nos supor que sejam dos menos freqüentes consumidores dos LA. VIII. EXPRESSÃO CULTURAL Em razão de sua significativa acolhida por parte do público e de sua acessibilidade (preço, técnicas de elaboração e editoração, linguagem, conteúdo), os LA se apresentam como excelentes veículos de cultura, atendendo com as vantagens já explanadas, àquelas aspirações de melhor informação, orientação e entretenimento, que são as do público consumidor de jornais e revistas. Pode-se aplicar ao leitor dos LA as mesma três motivações fundamentais que ROGER CLAUSSE 17 enumera quanto ao público de notícias: a primeira, “incoercível interêsse em conhecer o que se passa no mundo, uma vez que tais fatos tem, podem ter ou são, dentro de certos limites, incidentes sôbre a nossa vida pessoal ou coletiva. Nada do que se passa no mundo nos é estranho: tudo nos concerne diretamente. A segunda é o incoercível empenho de nos relacionarmos com os outros homens, não nos sentirmos isolados... ligarmo-nos a todos os que, aqui e ali, como nos próprios, têm a mesma curiosidade, a mesma inquietação ou sentem o mesmo alívio ao tomar o pulso agitado do mundo. A terceira é a incoercível necessidade de nos libertarmos das tensões da vida social, de “purgarnos” de tôdas as toxinas psicológicas que nos inoculam a submissão imposta do exterior, os instintos recalcados, o trabalho em turnos, a perda dos laços e contatos primários, as sujeições anônimas, e muito mais. Nós nos precipitamos gulosamente sôbre os fatos diversos postos em foco, sôbre as notícias sensacionais, sôbre os fatos “humanos” que nos mostram tais como somos. Então, vivendo as paixões dos outros, nós nos libertamos das tensões, relaxamos nosso nervos, aliviamos nossos instintos recalcados. Assim, os móveis profundos do público das notícias acompanham três eixos: conhecimento, integração, cartasis ou purgação. Essas motivações psicológicas conduzem o leitor a uma preferência acentuada por determinados gêneros de notícias. BERNARD VOYENNE 18, apreciando o comportamento dos leitores de jornais, baseia suas conclusões em duas “enquetes”: uma, realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública, segundo a qual “mais da metade dos leitores quer, em primeiro lugar, notícias regionais ou locais... vindo em seguida, na ordem de leitura, a política exterior e interior... o folhetim, o editorial, os fatos diversos, o esporte”. A outra sondagem, 17
18
CLAUSSE, Roger – “Le journal et l’áctualité” – Verviers, Belgique – Gerard & Co. – Marabout Université, 1967 – pág. 289 VOYENNE, Bernard – “La Presse dans la société contenporaine” – Paris, Armand Colin -1962 – págs. 155/6 Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 189-217, jan/dez. 2006
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publicada na revista polonesa “Politika”, que cita, pela ordem: Informações locais, fatos diversos, notícias políticas. Essas pesquisas levam VOYENNE a formular quatro questões que o leitor médio coloca, sucessivamente, ao abrir ao jornal: 1) Que aconteceu às pessoas que eu conheço? 2) Que aconteceu ao mundo que possa afetar a minha segurança? 3) Que aconteceu, em geral, de verdadeiramente importante, isto é, que eu não posso ignorar? 4) Que devo pensar de tudo isso? O leitor brasileiro não é muito diferente do francês ou do polonês. Conforme o resultado de uma pesquisa que levamos a efeito no Recife, em 1963, com o concurso dos alunos de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco19, a política ocupava o primeiro lugar no interêsse do público-leitor, seguida da informação estrangeira, de notícias locais, esportes, artigos e comentários, noticiário nacional e polícial. Para as quatro áreas de leitores preferenciais dos LA, que procuramos situar no item precedente, é evidente que também o primeiro lugar na sua preferência é a política, seja exterior seja nacional. E vale notar, Política com P maiúsculo, pois os livros mais consumidos nos meses apreciados detidamente (julho-agôsto de 1968) fora os de Servan Schreiber e de Celso Furtado, ambos abordando a atualidade sócio-econômica do mundo e do Brasil, em sua relação íntima com os fatos políticos. Se percorrermos, por exemplo, a lista de LA, editados em 1965 (V. anexo), das 31 obras de autores brasileiros alinhadas, apenas 3 – “Memórias de um médico da roça”, de Ciro Vieira da Cunha, “Rio, a cidade e os dias”, de Lêdo Ivo, e “Um diplomata nos caminhos do mundo”, de Vinícius da Veiga, que está classificado (910.4) como de Viagens pelos autores da Bibliografia – não se ocupam de fatos políticos e econômicos; 20 retratam o movimento revolucionário de março de 1964; 2 abordam problemas de política internacional do ponto de vista brasileiro e os demais analisam fatos e questões da atualidade econômica e social do País. Sendo ainda pouco expressivo o número de edições de LA entre nós, parece-nos que sòmente os dois primeiros móveis profundos declinados por CLAUSSE são atendidos pelo gênero: conhecimento e integração. Poucos, pouquíssimos, são os LA relativos aos fatos de natureza policial, salvo quando relacionados com a política nacional ou internacional. Também não se registram, entre os LA, obras de caráter erótico. Enquanto na bibliografia geral, especialmente no campo do romance e da divulgação médico-científica, a violência e o erotismo são temas predominantes, na bibliografia de atualidade rareiam as obras que abordam êsses aspectos da vida contemporânea, como tais. Alguns LA do gênero memorialístico contêm episódios eróticos; salvo um ou outro, apresentado como retratos da vida real mas cuja autenticidade é posta 19
“Comunicações & Problemas” – Vol. I – N 1 – Março de 1965.
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em dúvida (memórias de ninfas e prostitutas, de desregrados sexuais e viciados em entorpecentes), parecendo tratar-se antes de obras de ficção. Do mesmo modo que nos jornais e revistas, a linguagem e o estilo dos LA não permitem a exploração crua de tais temas; e nêsse particular é o próprio leitor que os censura e rejeita. Como já o apreciamos, as áreas do público-leitor dos LA são de nível intelectual acima do médio e têm interêsses definidos, ligados especialmente ao exercício de suas profissões, na aquisição e aproveitamento dessas obras. Entre os frutos produzidos pela edição dos LA está o de constituírem uma escalada, ou seja, o caminho para a procura de obras de análise, estudos e ensaios teóricos sôbre os temas e questões nêles relatados e superficialmente interpretados. O leitor, familiarizado com as situações focalizadas nos LA, deseja aprofundar os seus conhecimentos a respeito e vai à procura do pensamento científico, de obras filosóficas e sociológicas, que o capacitem a melhor penetrar a fenomenologia da atualidade. Por exemplo, as manifestações estudantis que se sucederam nos dois últimos anos e foram objeto de dezenas de LA provocaram excepcional interêsse pelas obras de Marcuse, traduzidas e editadas pela Zahar, com grande sucesso de vendas; a mesma editôra, em fase das mesmas ocorrências e de sua repercussão, fez traduzir e comentar ensaios os mais significativos sôbre a “Sociologia da Juventude”, lançados em quatro volumes, no ano passado, num total de cêrca de 700 páginas, de autoria de pensadores e cientistas sociais da categoria de Marx, Strickland, Trotsky, Eisenstadt, Allison, Margaret Mead e outros, selecionados e com introdução de Sulamita de Britto. Foi também a sucessão de LA sôbre o concílio ecumênico Vaticano II e a crise da Igreja Católica que provocou o excepcional interêsse do público-leitor brasileiro pela tradução do “Nôvo Catecismo Holandês”, lançado pela Herder, êste ano, e que, conforme informações colhidas quando já concluímos êste estudo, vendeu nos quinze primeiros dias de distribuição nas livrarias 10.000 exemplares em São Paulo, Rio e Brasília. Sem dúvida que a expansão dos LA no Brasil está sujeita a condições não apenas editoriais como políticas: como tôda obra jornalística, o gênero reclama um clima de liberdade, o que não exclui a responsabilidade dos seus autores e o direito do Estado de fixar os limites dessa liberdade, que estão inscritos na Constituição e que visam o resguardo do interêsse coletivo. Mas é dêsse interêsse, coincidênte, aliás, com os propósitos do desenvolvimento nacional e as realizações governamentais e emprêsariais nêsse sentido, que os problemas políticos, econômicos e sociais do País sejam expostos, através de fatos e conjunturas correntes, como se tem feito, embora ainda timidamente, com a Amazônia, o Nordeste, a Universidade, a política petrolífera e de minérios, a de energia e eletrificação a das comunicações, da colonização e da ocupação efetiva do oeste, alvo de tanta cobiça estrangeira.
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Essa, a expressão cultural dos LA e a contribuição que estão oferecendo e poderão ainda mais proporcionar às camadas mais responsáveis e capazes do público brasileiro. BALANÇO COM LUCRO Nos dados abaixo, Correio do Livro não dispôs de balanços de algumas firmas importantes, como a Civilização Brasileira e a Brasil. Todavia, a amostra colhida em 15 emprêsas, entre grandes, médias e pequenas, serve de espelho satisfatório do que acontece nas finanças editoriais em nosso meio. E elas registraram em 1967 os seguintes dados mestres: Editoras A) Capital e reservas NCr$ 1.000 Nacional José Olympio Brasiliense Ipiranga Forense Mérito Livro do Mês Ateneo Martins Irradiantes FTD Labor Aguilar Fundo de Cultura IBRASA TOTAL:
B) Lucro NCr$ 1.000
% de B S/A
4.219 2.341 1.415 1.112 987 784 631 574 455 433 370 342 321 145 43
2.837 628 367 400 161 228 405 275 237 133 121 61 14 92 65
67 27 26 36 16 29 64 48 52 31 33 18 4 63 151
14.172
6.024
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Do: Correio do Livro nº 12 – Ano II – Julho de 1968
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ANEXO L IVROS DE A TUALIDADE E DITADOS EM 1965 01. BORGES, Mauro - “O golpe em Goiás” (história de uma grande traição) - Rio. Civ. Bras. 02. CARLOS, Newton - “São Domingos, a guerra da América Latina” - Rio, José Álvaro 03. CASTRO, Josué de - “Sete palmos de terra e um caixão: ensaio sôbre o nordeste, área explosiva”- São Paulo. Brasiliense 04. CUNHA, Ciro Vieira da - “Memórias de um médico na roça” - Rio. Ed. do Val. 05. DEODATO, Alberto - “Nos tempos de João Goulart” - Belo Horizonte, Itatiaia 06 . DINES, Alberto et alii “O mundo depois de Kennedy” - Rio, José Álvaro 07 . FAUST, J. J. - “A revolução devora seus presidentes” - Rio. Saga 08 . FRANCO, Afonso Arinos de Melo – “Evolução da crise brasileira” – São Paulo. Cia. Editora Nacional 09. FRANCO, Cid - “Anotações de um cassado” - S. Paulo, Martins 10 . FREITAS, Tácito - “Petróleo, apesar de Mr. Link” - Rio. Gernasa 11. IANNI, Otávio et alii - “Política e revolução social no Brasil” Rio, Civ. Bras. 12. IVO, Lêdo - “Rio, a cidade e os dias” - Rio, Tempo brasileiro 13. JULIÃO - Francisco – “Até quarta, Isabela” - Rio. Civ. Bras. 14. JUREMA, Abelardo – “Entre, os Andes e a Revolu-cão” - Rio, Leitura 15 . LACERDA, Carlos - “Brasil entre a verdade e a mentira” Rio, Bloch 16 . LACERDA, Carlos – “Palavras e ação” - Rio, Dist. Recard 17 . LISITA JÚNIOR - “Goiás, novembro – 26” Goiania, Liv, Figuerôa. 18 . LOUZEIRO, José et al - “Assim marcha a família” - Rio. Civ. Bras. 19 . MAGALHÃES, Paulo Germano - “A nova liberdade: o combate aos trustes e cartéis” – Rio, Tempo Bras. 20 . MAIA NETO - “Brasil. guerra quente na América Latina” - Rio, Civ. Bras. 21. MARIGHELLA, Carlos - “Por que resisti à prisão?” Rio. Ed. Contemporânea 22 . MONIZ, Edmundo - “O golpe de abril” Rio Civ. Bras. 23. MOREL, Edmar - O golpe começou em Washington” - Rio, Civ. Bras. 24. NASSER. David - “A revolução que se perdeu a si mesma: diário de um repórter” - Rio, Ed. O Cruzeiro 25. NASSER. David - “João sem mêdo” - Rio Ed. O Cruzeiro 26. OLIVEIRA. Beneval do - “Ódio destrói o Brasil” - Rio, Tempo Bras. 27. PORTO SOBRINHO, Antonio - “A guerra psicodélica no Brasil” – Rio, Fundo de Cultura 28. STACHINI, José - “Março 64: mobilização da audácia” - São Paulo, Cia. Ed. Nacional 29. SUED. Ibranhin - “000 contra Moscou” - Rio, Bloch 30. VEIGA. Vinícius da - “Um diplomata nos caminhos do mundo” - S. Paulo, Martins 31. VICTOR, Mário - Cinco anos que abalaram o Brasil; de Jânio Quadros ao Mar. Castelo Branco” - Rio, Civ. Bras. DE AUTORES ESTRANGEIROS 32. BOTHEWELL, J. H. – “Kennedy, o presidente mártir” – Rio, Dist. Record
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33. CHAPLIN, Charles - História da minha vida” - Rio. José Olympio 34. DE MARTINO, Pe. Pasquale - “Nas garra de Mao-Tsè-Tung” - São Paulo, Paullnas 35. GERASSI, John - “A invasão da América Latina” - Rio, Civ. Bras. 36. GOLDEN, Harry - “Ken-nedy e os negros” - São Paulo, Martins 37. HATCH, Alden - “João XXIII, o papa inesquecível” - Rio, Vecchi 38. HOANG VAN CHI - “Do colonialismo ao comunismo” - Rio, GRD 39. HEVI, Emmanuel John – “Um estudante africano na China” - São Paulo Dominus 40. JOHNSON, Lyndon B. – “Minhas esperanças na América” - Rio. Dist. Record 41. KENNEDY, John Fitagerald - “O pêso da glória” - São Paulo, Melhoramen-tos 42. KENNEDY, Robert Fitzgerald - “Em busca da Justiça” - Rio. Dist. Record 43. KOVNER, Milton – “O desafio da coexistência” - São Paulo, Dominius 44. RAYMOND, Jack – “O poder do Pentágono” – Rio, Saga 45. SCANTAMBURLO, Giovanni - “Paulo VI” - Petrópolis, Vozes 46. SEGNOR, Leoporido Sédar - “Senghor em diálogo” - Rio, Inst. Brás. de Estudos AfroAsiáticos 47. WISE, David e ROSS, Thomas B. – “O gôverno invisível” – Rio, Civ. Bras.
L IVROS DE A TUALIDADE E DITADOS EM 1966 Fonte: “Bibliografia Brasileira” - Aureo Ottoni & Outros - Rio. Instituto Nacional do Livro, 1966 DE AUTORES BRASILEIROS: 1. CAFÉ FILHO, João - “Do Sindicato ao Catête” Rio. José Olympio 2. CALMON, João - Duas invasões: a invasão vermelha” - Rio, o Cruzeiro 3. CALMON, João - “O livro negro da Invasão branca” Rio, o Cruzeiro 4. CASTELO BRANCO, Humberto de Alencar et alii - “A revolução de 31 de março: 2° aniversário” - Rio, Bibl. do Exército 5. COELHO NETO, Paulo - “A realidade dos discos voadores” - Rio. Minerva 6. DIMAS FILHO, Nelson – “Costa e Silva, o homem e o líder” - Rio, O Cruzeiro 7. FURTADO, Celso - Sub-desenvolvimento e estagnação na América Latina - Rio, Civ. Bras. 8. GOMES, Paulo Emílio Sales et alii - Cinema moderno, cinema nôvo” - Rio José Álvaro 9. GONZAGA. Adhemar e Gomes, Paulo Emílio Sales - “70 anos de Cinema Brasileiro” Rio. Expressão e Cultura 10. HEITOR, Leopoldo - “A Cruz do Advogado do Diabo” - Rio Nova Geração 11. LACERDA, Carlos - “Crítica e Autocrítica” - Rio, Nova Fronteira 12. LACERDA, Carlos - “Paixão e Crime” - Rio, Nova Fronteira 13. LACOMBRE, Américo Lourenço Masset - “O conflito sino-soviético” - Rio, Org. Simões 14. MARTINS, Ruy - “A rebelião romântica da jovem guarda” - São Paulo, Fulgor 15. MENDES, Cândido - “Momento dos vivos” (a esquerda católica. no Brasil) - Rio, Tempo Bras. 16. OLIVEIRA, Beneval de - “ Pesado na Balança” - Rio, PN 17. O COMUNISMO NO BRASIL (Inquérito Policial Militar – Pref. do cel. Ferdinando de Carvalho) - Rio. Bibl. do Exército 18. MOURÃO, Geraldo de Melo - “Frei e o Chile num continente ocupado” - Rio, Tempo Bras. 19. PEDROSA, Mário - “A opção brasileira” - Rio, Civ. Bras.
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20. PEDROSA, Mário - “A opção imperialista” - Rio, Civ. Bras. 21. PINTO, Fernando - “Os sete pecados da juventude sem amôr” - Petrópolis, Vozes 22. PORTO, Sergio - “O festival da besteira que assola país” - Rio, Editôra do Autor 23. RABÊLO, Genival - “O capitão estrangeiro na imprensa brasileira” - Rio, Bras. 24. RODRIGUES, José Honório - “Interêsse nacional e política externa” - Rio, Civ. Bras. 25. ROSSI, Rossini e COTRIM, Costa - “Isaltina, caminho do milagre” - Rio. Eco 26. SCATIMBURGO, João de - “O destino da América Latina” - São Paulo, Cia. Ed. Nacional 27. SOUSA, Roosevelt Emerique de - “A Igreja (Presbiteriana) que se renova” J Rio. Graj. 28. TÁVORA, Araken - “O Advogado da Liberdade” – Rio, Ed. do Repórter 29. TÁVORA, Araken – “Onde está Guevara?” – Rio, Ed. do Repórter 30. TINHORÃO, José Ramos - “Música popular, um tema em debate” – Rio. Saga 31. VALLADARES, Benedito - Tempos idos e vividos” - Rio, Civ. Bras. DE AUTORES ESTRANGEIROS: 32. ALEXANDER, Tom - “Homem à lua: o projeto ApoIo” - São Paulo, Cultrix 33. ARZUMANIAN, A.A. et alii - “Que futuro espera a humanidade?” - Rio. Civ. Bras. 34. BAADE, Fritz - “A cor-rida para o ano 2.000 - Rio, Nova Fronteira 35. BARACH, Arnold - “O mundo que veremos amanhã - Rio, Lidador 38. BERLE. Adolph A. - “Se Marx voltasse” — Rio. Dist. Record 37. CHAPLIN, Michael - “Nunca fumei maconha no jardim do meu pai” - Belo Horizonte, Itatiaia 38. CRONKITE, Walter - “Vietnã em chamas” - Rio, Bloch 39. GEORGE, Pierre - “Panorama do mundo atual” - São Paulo. Dif. Europeia do Livro 40. GEORGETOWN UNIVERSITY – “República Dominicana, 1965: intervenção ou cooperação?” – Rio, O Cruzeiro 41. JACOBSON, Harold Karan - “A Rússia na ONU” - O Cruzeiro 42. KING, Gordon - “As Nações Unidas no Congo” - Rio, Bloch 43. LARTEGUY, Jean - “Um milhão de dólares por Vietcong” - Rio, José Olympio 44 MAILLER, Norman - “Cartas abertas ao Presidente Kennedy” - Rio, Civ, Bras. 45. MIELCHE, Hakon - “Petróleo e Oriente Médio – O cadillac de Aladim”- Rio, Saga 46. NEHEMIS, Peter - “América Latina: mito e realidade” - Rio, José Olympio. 47. PARKS, Gordon - “Escolho minhas armas - O Negro nos Estados Unidos” - Rio, Civ. Bras. 48. MURARO, Rose Marie - “A mulher na construção do mundo futuro”.- Petrópolis, Vozes 49. SYLVAN, Fox - “Perguntas que ficaram sem resposta no assassinato de Kennedy” - Rio, Dist. Record. 50. WARREN, Earl – “O crime do século: texto completo do Relatório Warren” – Rio Dist. Record.
L IVROS DE A TUALIDADE E DITADOS EM 1967 Fontes: “Boletim Bibliográfico Brasileiro” - Revista dos Editôres Vol. 15 - jan/agôsto – 1967 “Bibliografia Brasileira Mensal” - Ano 1 - N.°s. 3/4 - Editor: Aureo Ottoni - Rio, Instituto Nacional do Livro. (Não foram consultados os n° 1 e 2, esgotados) Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 189-217, jan/dez. 2006
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DE AUTORES BRASILEIROS: 1. ALCARAZ, Flávio Gomes - “Morrer por Israel” - Pôrto Alegre, Globo 2. ALVES, Marcio Moreira - “Torturas e torturados” - Rio, Idade Nova 3. BANDEIRA, Muniz et elii - “O ano vermelho (A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil) - Rio, Civ . Brás. 4. BORGES, Duraval Rosa et alii – “O seguro-saúde na atual conjuntura brasileira” - São Paulo, Cultrix 5. CAMPOS, Roberto de Oli-veira – “Do outro lado da cêrca...” - Rio, APEC 6. CARVALHO, Estevão Leitão de - “Memórias de um general reformado” - Rio, Biblioteca do Exército 7. FERNANDES. Helio - “Recordações de um desterrado em Fernando de Noronha” - Rio. Ed. Tribuna de Imprensa 8. FIGUEIREDO, Maurício “Cordão da Bola Preta” - Rio, Com. e Rep. Bahia 9. HENRIQUES, João “Kremlin ou Vaticano?” - Rio, Jornal das Môças 10. JEFF, Thomas - “Hong-Kong Confidencial” - Rio, Freitas Bastos 11. BISSOVSKI, Alexander - “2.000 anos depois: o renascimento de Israel” - Rio, Lux 12. MENEZES, José Rafael de - “José Américo, um homem do bem Comum” - Rio, Tempo Bras. 13. MOREL, Edmar - “Vendaval da Liberdade” - Rio, Civ. Bras. 14. NISKIER. Aranaldo et alii - “5 dias de junho: a guerra do Oriente Médio” - Rio Bloch 15. OLIVEIRA, Franklin de - “Morte da memória nacional” - Rio. Civ. Bras. 16. PORTO, Sergio - “Febeapá” (2° Festival da Besteira que assola o País) – 17. SANTARCANGELO, Maria Candido Vergueiro – “Juventude e delinquência” – São Paulo, Ática 18. RABELO, Genival - “Ocupação da Amazônia” - Rio. PN 19. VIANA, Cibilis da Rocha - “Estratégia do desenvolvimento brasileiro” - Rio, Civ. Bras. DE AUTORES ESTRANGEIROS: 20. ALEXANDER, Robert J. - “A organização do trabalho na América Latina” - Rio, Civ. Bras 21. ALVEAR, Carlos Torcuato de - “Vietname, trincheira e caminho para o mundo” - Rio, Dist. Record 22. BAIBLY, Edouard - “Brasil, país chave do 3° mundo” - Rio, Ed. Trabalhis-tas 23. BERNARDET. Jean Claude - “Brasil em tempo de cinema” - Rio, Civ. Bras. 24. BIAGI, Elxo - “Mamãe Svetlana. Vovó Stalin” - Rio, Dist. Record 2.; BOAVIDA, Americo - “Angola - cinco séculos de exploração portuguesa” - Rio, Civ. Bras. 26. BRAUN, Michael - “A vida fantástica dos Beattles”: “Me ama ta?” — Rio. Bibl. Univ. Popular 27. BURCHETT, Wilfred G. – “Vietnã Norte” – Rio, Civ. Bras. 28. COOK, Fred J. – “Esta nação corrompida” – Rio, Civ Bras. 29. CROZIER, Brian – “O sudoeste asiático em conflito” - Rio, Bloch 30. DAYAN, Moshe – “A guerra do Sinai” – Rio, Bloch 31. DANOVAN, Roberta John et alii – “A 3° Guerra” Rio, Nova Fronteira 32. FEHRENBAH, T. R. - “O que há por trás da ONU” - Rio, Dist. Nac. de Livros 33. GIGON, Fernad – USA x Vietcong, duas faces de um conflito” – Rio, Civ. Bras.
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34. HANNA, Edward et alii – “Adlai Stevenson” – Rio, Bloch 35. HOTCHERNER, S. B – “Papá Herngway” – Rio, Civ Bras. 36. HILTON, Harold C. – “A China comunista: sua política mundial” – Rio, O Cruzeiro 37. KAFEAUVER, Estes – “Em poucas mãos: o poder do monopólio na América do Norte” – Rio, Civ. Bras. 38. MACHLIN, Milt – “O inferno privado de Heminingway” – Rio, Graf. Record 39. MANSFILD,Peter – “Nasser e a revolução egípcia” – Rio, Civ. Bras. 40. MORRIS, George – “A CIA e o Movimento operário americano” 41. NIEMEYER, Gerhart – “Comunistas em govêrno de coalização” – Rio, O Cruzeiro 42. OKUMIYA, Masateke et alii– “Zero” – São Paulo, Flamboyant 43. PARKS, Gordon – “Escolho minhas armas” – Rio Civ. Bras. 44. ROBERTS, Charles – “A verdade sôbre a morte de Kennedy” – Rio, O Cruzeiro 45. RUSSEL, Bertrand – “Crimes de guerra no Vietnã “ – Rio, Paz e Terra 46. SCHLLESINGER, Jr. Arthur M. “Vietnã, herança trágica” – São Paulo Ibrasa 47. SLLEROT, Evelyne – “A mulher no futuro” - Rio, Forense 48. WERTH, Alexander – “De Gaulle” – Rio, Civ. Bras.
L IVROS DE A TUALIDADE E DITADOS EM 1967 Fonte: “Bibliografia Brasileira Mensal” – Ano 1 n° 1/12 – Ano 2° n°1/2 – Editor Aureo Ottoni – Rio, Instituto Nacional do Livro, 1968/9 DE AUTORES BRASILEIROS: 1. ABREU, Waldir – “O submundo da prostituição, vadiagem e jogo do bicho” – Rio, Freitas Bastos 2. ADONIAS FILHO et alii – “O assunto é padre” – Rio, Agir 3. ALENCAR, Edigar de – “Nosso Sinhô do Samba” – Rio, Leitura 4. ALENCASTRE, Amilcar – “O desafio de Israel” – Rio, Sabiá 6. ANJOS, Geraldo F. dos – “Histórias que o povo conta” (Ocorrências policiais que abalaram a opinião pública) – Rio, s/ ed. 7. APARECIDO, Sebastião de Oliveira – “Roteiro para a liberdade” – Rio, Senzala 8. AZEVEDO, Thales de – “A evasão de talentos” – Rio, Paz e Terra 9 . BARROS, Raimundo Caramuru – “Bens temporais numa igreja pobre” – Petrópolis, Vozes 10. BASBAUM, Leôncio – “História Sincera da República” (De Jânio Quadros a Costa e Silva” – Rio, Fulgor 11. BOPP, Raul – “Memórias de um embaixador” – Rio Graf. Record 12. BURNT, Lago – “De jornal em jornal” – Rio, Graf. Record 13. CÂMARA, Dom Hélder – “Revolução dentro da paz” – Rio, Sabiá 14. CAMPOS, Augusto – “Balanço da Bossa” – São Paulo, Perspectivas 15. CAMPOS, Domar et alii – “Paz, seu nome é desenvolvimento” – Rio, Fundo de Cultura 16 .CARNEIRO, Edison et alii - “ O negro brasileiro: 80 anos de abolição” – Rio, Ed. Cadernos Brasileiros 17. CARPEAUX, Otto Maria – “Vinte e cinco anos de literatura” – Rio, Civ. Bras.
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18. CARRION, Felipe Machado – “Discos voadores: imprevisíveis e conturbadores” – Porto alegre, Graf. Edu. São Luiz 19. CASTRO, Rui Pires de – “ A experiência brasileira” – Fortaleza, s/ ed. 20. CHAVES, Juca – “ Eu, baixo? retrato” – Rio, Gernasa 21. COELHO, Paulo – “Discos voadores e mistérios da aviação” – Rio, Minerva 22. CORBUSIER, Roland – “ Reforma ou revolução” – Rio, Civil. Bras. 23. COSTA, Auri Moura - “Mazelas da Casa de Detenção” - Rio, Imlace 24. COSTA, Maria Ines Corrêa da – “Gentissima” – Rio, Graf. Record 25. DIAS, Manuel Nunes et alli- “Brasil em perspectiva” – São Paulo, Dif. Eur. do Livro 26. FREITAS, José Itamar de – “Brasil, ano 2.000 – O Futuro sem Fantasia” Rio, Artes Gráficas Soares de Souza 27. FURTADO, Celso – “Um projeto para o Brasil” – Rio, Saga 28. FURTADO, Celso et alii –”Brasil, tempos modernos” – Rio, Paz e Terra 29. GOMES, Flávio Alcaraz – “A rebelião dos Jovens – Paris, 1968” – Pôrto Alegre, Globo 30. GONÇALVES, Roberto Mendes – “40 anos de campanha” (reminiscências diplomáticas” – Rio Dist. Liv. Agir 31. IANNI, Octávio – “O colapso do populismo no Brasil” Rio, Dist. Civ. Bras. 32. LIMA, Alceu amoroso – A experiência relacionaria” – Rio, Tempo Bras. 33. Luz, Nícia Vilela – “ A Amazônia para os negros americanos” – Rio, Saga 34. MELATTI, Júlio César – “ Índios e criadores: a situação dos Krahó na área pastoral do Tocantins” – Rio, Inst. Ciência Sociais 35. MORAES, Mário de – “ A reportagem que não foi escrita” – Rio, Graf. Record 36. MUGGIATI, Roberto – “Mao e a China” – Rio, Graf. Record 37. NASCIMENTO, Abdias do – “O Negro” – Rio, GRD 38. NIEMEYER,Oscar – “Quase memórias: viagens, tempos de entusiasmo e revolta” – Rio, Civ. Bras. 39. OLIVEIRA, Maria de Lourdes Ganzarelli – “Divórcio em debate” – Rio, Bittencourt 40. OLIVEIRA, Roberto Cardoso – “Urbanização e tribalização: a integração dos índios Terena numa sociedade de classes” – Rio, Zahar 41. PACHECO, Mário Victor de Assis – “ Neocolonialismo e contrôle da natalidade” – Rio. Civ. Bras. 42. PEDREIRA, Fernando et alii – “América, mito e violência” – Rio, Correio da Manhã 43. PEDROSA, Mário et alii - “Introdução à realidade brasileira” Rio, Cadernos brasileiros 44. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser – “Desenvolvimento e crise no Brasil” (1930/1967) – Rio, Zahar 45. POENER, Artur José – “O poder jovem” (história da participação política dos estudantes brasileiros) 46. PUPO, Sílvio Lira – “Brasil ainda é caf” – Rio, Fulgor 47. RABELO, Genival – “Cartilha do dólar” – Rio, PN 48. REZENDE, Cassio de – “Memórias de um médico” – Rio, Liv. São José 49. RIBEIRO, Mauro – “Diário de um confinado” – Rio, Povo Bras. 50 RODRIGUES, Miguel Urbano- “Opções da revolução na América Latina” – Rio, Paz e Terra 51. SALES, Armando – “O Brasil é assim” – Rio Graf. Lux 52. SILVA, Miguel Cruz e – “Amazonas é Brasil” – Brasília, Vitória Régia 53. TAMER, Alberto - "O mesmo nordeste” - São Paulo, Herder
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54. TONUSSI, Agenor – “Fui estudante em Moscou” – Rio, Laudes 55. TORRES , Paulo Martins – “Igualdade. Privilégios, nunca. A situação brasileira como se apresenta” – Rio, Cia. Ed. Fon-Fon e Seleta 56. VINHAS, M. – “ Problemas agrários – camponeses do Brasil” – Rio, Civ. Bras. 57. ZANELLA, Pe. Sérgio – “A Igreja Traída” – São Paulo, Senzala DE AUTORES ESTRANGEIROS: 58. ADOLFS, Robert – “Igraja, túmulo de Deus” – Rio, Paz e Terra 59. AQUINO, Francisco et alii - “América Latina: os próximos dez anos” – Rio, Victor Publicações 60. BABY, Jean – “As grandes divergências do mundo comunista” – São Paulo, Senzala 61. BAR –ZOHAR, M Michel - “Ben Gurion, o profeta armado” – São Paulo, Senzala 62. BEA, card. Augustinho – “A Igreja e o povo hebraico” – Petrópolis, Vozes 63. BENANI, Ari – “Entre a foice e o martelo” – Rio, Bloch 64. BERNARD, Pierre – “L.S.D – Dossier do vício” – Rio, Graf. Record 65. BOSC, Robert – “ O 3° Mundo e a política internacional” – Petrópolis, Vozes 66. BURCHETT, Willian – “Vietnã, a guerrilha vista por dentro” – Rio, Graf. Record 67. CAIDIN, Martin – “Chacinas nos céus do Extremo Oriente” – Rio, Flamboyant 68. CALDER, Nigel et alii – “Se não houver paz” – Rio, Exp. e Cult. 69. CÉSAR, Waldo et alii – “Protestantismo e imperialismo na América Latina” - Petropolis, Vozes 70. CHURCHILL, Randolph Spencer e Willian Spencer – “Seis dias de uma guerra milenar” – Rio, Exp. e Cult 71. COHN-BENDIT et alii – “A revolta estudantil” – Rio, Laudes 72. DAVIS, Sammy et alii – “Sim eu posso” – Rio, Bloch 73.– DESGRAUPES, Pierre e DUMAYET, Pierre – “Praga, quando os tanques avançaram” – Rio, Exp. e Cult. 74. EISTEN-UDON E.U – “O Poder Negro” – São Paulo, Senzala 75. FREI, Eduardo – “Pensamento e Ação” – Rio, Graf. Record 76. FREI, Eduardo, “O destino da América Latina” Rio, Graf. Record 77. GALBRAITH, John Keneth – “O novo estado industrial” Rio, Civ. Bras. 78. GUEVARA, Ernesto “Che” – “ Che Guevara na Bolívia” diário – Rio, Correio da Manhã 79. GIAP, gal. – “O Vietname, segundo Giap” – Rio Saga 80. GINZERBERG, Eli e EICHNER, Alfred S. – “ A presença inquietante (a democracia norte-americana e o negro)” - Rio, O Cruzeiro 81. HAREL, Ieshudah – “O leão do deserto - Moshed Dayan” - Rio, Mazal 82. HERRERA, Fleix - “O Desenvolvimento da América Latina e seu Finaciamento” – Rio, APEC 83. HO CHI MINH – “ A resitência do Vietname” - Rio – Laemmert 84. HUNTER, Davie – “A vida dos Beattles” – Rio, Ext. e Cult. 85. KAHAN, Herman e Wiener, Antony J. – “Ano de 2.000” – São Paulo, Melhoramentos 86. KENNEDY, Robert – “Luta por um mundo melhor”- Rio, Exp. E Cult. 87. KENNEDY, Roberto – “O desafio de uma América Latina” – Rio, Laudes 88. KING, Martin Luther – “O grito da consiência” - Rio. Exp. e Cult. 89. KING, Martin Luther – “Não podemos esperar” – São Paulo, Senzala 90. KLOPPENBURG, Boaventura – “Vaticano II: uma igreja diferente” – Petrópolis, Vozes
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91. KRIN, Seymour et alii – “Geração Beat” – São Paulo, Brasiliense 92. LEY, Willy – “ A conquista de Marte” – Rio Bloch 93. LYONS, Eugene – “Rússia, paraíso perdido” – Rio, O Cruzeiro 94. MAILLER, Norman – “ Os degraus do Pentágono” – Rio, Exp. e Cult. 95. Mc CARTHY, Eugene – “Resposta aos conservadores” – Rio, Laudes 96. Mc MILLAN, James e HARRIS, Bernard – “ A invasão Latino- americana” – Rio, Exp. e Cult. 97. MENDES-FRANCE, P. – “ Ação para o futuro” – Rio, Exp. e Cult. 98. MNACKO, Ladislaw – “ A Volúpia do poder” Rio, Nova Fronteira 99. MONAT, Pawell e DILLE John – “Fui espião dos Estados Unidos” – Rio. Laudes 100. MONTAG, Susan – “Viagem a Hanoi” – Rio, Exp. e Cult. 101. MORRIS, George – “A CIA e o movimento operário americano” – Rio, Civ. Bras. 102. PARMELLIN, Helene – “ Picasso disse..” – Rio, Exp. e Cult. 103. PREBISCH, Raul – “Dinâmica e desenvolvimento latino-americano”, Rio, Fundo de Cultura 104. ROSE, Arnold – “Negro, o dilema americano” São Paulo, Ibrasa 105. SATRE, Jean Paul – “Colonialismo e neocolonialismo” Rio, Tempo Bras. 106. SATRE, Jean Paul “Um crime monstruoso” (O caso Debray) – Rio, Dorell 107. SCHRAMM, Stuart – “Mao-Tsé–Tung”- Rio, BUP 108. SERVAN – SCHREIBER, Jean Jacques – “O despertar da França” – Rio, Exp. e Cult. 109. SUYIN, Han – “China, ano 2.000” – Rio, Zahan 110. SWEARWGEN, Roger e HAMMOND, Ralph – “O comunismo no Vietname” Rio, Bloch 111. TARR, David W. – “Nos bastidores da guerra fria” Rio, Victor Publicações 112. THICH NHAT HANH – “Vietnã, flor de lótus em de fogo” – Rio, Paz e Terra 113. TIGRID, Pavel – “A Primavera de Praga” – Rio, Laudes 114. TSURO, Sheto et alii – “ Aonde vai o capitalismo?” - Rio, Zahar 115. WAYNE, Morse et alii – “Quem tem medo da Ásia?” – Rio, Saga 116. WISE, David e ROSS, Thomas B. – “ O Governo invisível” – Rio, Civ. Bras 117. WISE, David e ROSS, Thomas B. – “O poder Secreto” – Rio, Nova Fronteira 118. SENA, Homero – “República das Letras” – Rio, Graf. Olímpica (2° ed.) 119. SERVAN – SCHREIBER, Jean Jacques – “ O desafio Americano” - Rio, Exp. e Cult (2ª a 9ª ed.) LANÇAMENTO POR EDITÔRAS Total – 12 EXPRESSÃO E CULTURA – 13 CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA – 11 GRAF. RECORD – 9 LAUDES e SEZALA – 6 PAZ E TERRA, VOZES e ZAHAR – 5 BLOCH e SAGA – 4 CADERNOS BRASILEIROS, FULGOR, FUNDO DE CULTURA, CORREIO DA MANHÃ, AGIR, NOVA FRONTEIRA, TEMPO BRASILEIRO e O CRUZEIRO – 2 DEMAIS EDITORAS DISCRIMINADAS NA RELAÇÃO – 1
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REEDIÇÕES POR EDITÔRAS Total – 12 CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA – 3 SABIÁ – 2 EXPRESSÃO E CULTURA – 1 (oito vezes a mesma obra) CIA. ED. NACIONAL, PAZ E TERRA GRÁFICA OLÍMPICA, VOZES e MINERVA – 1
AUTORES QUE EDITARAM MAIS DE UM LIVRO Total - 12 FURTADO, Celso – 2 FREI, Eduardo – 2 KENNEDY, Robert – 2 KING, Martin Luther – 2 SARTRE, Jean Paul – 2 SERVAN-SCHEIBER, Jean Jacques – 2 WISE, David e ROSS, Thomas B. - 2
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LITERATURA DE ELITE E LITERATURA DE MASSA*
Luiz Beltrão
Adverte-nos Tristão de Athayde de que o liberalismo político e econômico induziu, na sociedade moderna, “o preconceito de tratar as massas como aglomerados indistintos de criaturas humanas e só as elites como co-existência de unidades distintas, às quais então se (reserva) a condição de personalidades” Para o filósofo brasileiro, “massas e elites formam uma só unidade dentro de uma sociedade racionalmente organizada. A diferença que as distingue está, ou antes deve estar, no valor qualitativo das pessoas individualmente consideradas, e não nos grupos ou classes a que pertencem (...) as elites nas massas e as massas nas elites é o fim a que deve tender tôda sociedade bem organizada”. 1 A advertência é oportuna porque francamente aplicável para quem queira analisar o problema da existência de uma literatura de elite sobreposta a uma literatura de massa. Sem dúvida, há uma hipertrofia do conceito de elite cultural na posição assumida pelos que julgam que a elite seria o único segmento da sociedade com direito a exercer e fruir da mensagem estética, enquanto a massa, por natural incapacidade e despreparo, permanece indiferente, quanto não despreza ou contribui para o rebaixamento do nível artístico, com a sua acentuada predileção pelo kitsh, que gostosamente consome através dos meios elétricos, e eletrônicos, das revistas e das edições populares, da produção de bens culturais em série. Essa concepção de que a cultura é um fato aristocrático e de que “a simples idéia de uma cultura compartida por todos, produzida de modo a que se adapte a todos, e elaborada à medida de todos, é um contra-senso monstruoso” vem de Heráclito que exclamava, conforme lembra Umberto Eco: “Por que quereis arrastarme a tôdas as partes, ó ignorantes? Eu não escrevi para vós, mas para quem possa compreender-me. Para mim, um vale por cem mil, e nada a multidão”. Passa pelos jovens hegelianos do “Allgemeine Literaturzeitung”: “O pior testemunho em favor de uma obra é o entusiasmo com que a massa a recebe... Tôdas as grandes emprêsas
* Artigo publicado na “Revista de Cultura Vozes”, 64:4 (1970): 29-38 1 Art. Elites e massas in Fôlha de São Paulo, ed. 220-6-69
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da história foram até agora fundamentalmente frustadas e privadas de êxito efetivo porque a massa se interessou e entusiasmou-se com elas... O espírito sabe agora aonde buscar ao seu adversário único: nas frases, nas auto-ilusões, na falta de nervo das massas” 2. E, nos tempos atuais, vai encontrar a sua maior expressão em Dwight MacDonald: “Enquanto antigamente a alta cultura se restringia aos cognoscenti hoje ela deve considerar os ignoscenti... Se existisse aqui uma elite cultural claramente definida, as massas poderiam ter o seu Kitsh e suas elites ficariam com a sua Alta Cultura e todos setir-se-iam felizes.”3 A êsses arautos do discricionarismo literário, para os quais a cultura de massa é anticultura – “não o sinal de uma aberração transitória e limitada, mas... de uma queda irreparável, ante a qual o homem de cultura (último sobrevivente da préhistória, destinado à extinção) não pode senão expressar-se em têrmos de Apocalipse” – Eco os chama de apocalípticos, em oposição aos integrados, de reação otimista ante o fenômeno. O apocalíptico sobrevive precisamente elaborando teorias sôbre a decadência; o integrado não teoriza, mas prefere atuar, produzir emitir cotidianamente suas mensagens a todos os níveis; o primeiro, no fundo consola o leitor, “ porque o deixa entender, sôbre o pano de fundo da catástrofe, a existência de uma comunidade de “super-homens” capazes de elevar-se, embora mediante o rechaço, acima da banalidade média. Levado ao limite, a comunidade reduzidíssima – e eleita – do que escreve e do que lê, nós dois, tu e eu, os únicos que compreendemos e que estamos salvos, os únicos que não somos massas”.4 O CONCEITO FETICHE ANTE A HISTÓRIA “Ao tipo apocalíptico irredutível – escreve ainda Eco – se devem alguns conceitos fetiche. E os conceitos fetiche têm a particularidade de bloquear o discurso, transformado o colóquio em um ato de reação emotiva”. Tal é o caso da categorização da arte literária em duas espécies distintas: uma destinada à elite e outro destinada à massa. Ou da negação pura e simples de qualificação literária àquela obra bem aceita pelas multidões indiferenciadas de leitores, que constituem a massa. Examinemos êsses conceitos de fetiche à luz da evolução do livro e das idéias literária para apuramos em que sentido (se subsiste algum) poderemos admitir a dicotomia: literatura de elite, literatura de massa. No principio era o livro, que antecedeu à revista e ao jornal como canal de divulgação do fato cultural. Revestiu-se, por essa circunstância, de uma nobreza e uma responsabilidade que o marcaram como repositório ideal – e único – da obra literária. Ocorre, porém, que as revistas tiveram a sua fase áurea, quando os processos tipográficos e a arte de imprimir ainda ao asseguravam periodicidade 2
3 4
ECO, Humberto, Apocalittici e integratti, Milano, Bompiani, 1965 – II Edizione – pp. 5-6 e 13-14. TOFLER, A. O povo e a cultura, Rio, Libertador, 1965, p.13. ECO, Umberto obra cit. p. 7.
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diária ao jornal. Em revistas, foram difundidas informações e idéias sôbre a criação literária e nelas atuaram nomes do maior relêvo na novelística e na poética mundial, desde Swift, Defoe e o abade Prévost, a Goethe, Dickens, Tchecov e quase todos os criadores da ficção russa, cuja inteligentzia sempre deu primazia á divulgação de suas obras através da revista. No, Brasil, as revistas literárias também atraíram e lançaram muitos dos mais renomados vultos das nossas letras, e ainda hoje exercem a função descobridora e fomentadora de talentos, especialmente no campo da poesia, como o documenta, Plínio Doyle, em exaustivo levantamento crítico desses veículos.5 Quando chegou a hora do diário, transformado em grande emprêsa, chegou também a hora da produção e divulgação da arte literária pelo folhetim. Pràticamente, tôda a literatura oitocentista arrancou nos folhetins. O historiador da imprensa mundial, George Weil, narra como os primeiros diários de grande triagem se valeram da produção dos literatos franceses para “vencer os obstáculos do começo e conquistar uma clientela numerosa e segura”, mediante a novela de folhetim. “Um público nôvo, indiferente às variações cotidianas da política, se apaixonou pelos relatos de aventuras e histórias de amor”. Quem as escrevia? Em primeiro lugar, os mestres da literatura: o diário La Presse, fundado pelo gênio jornalístico e empresarial de Émile de Girardim, orgulhava-se de contar, entre seus colaboradores, com Victor Hugo, Lamatine e Tocqville. O seu principal concorrete, Lê Siècle, de Dutacq, depois de publicar extratos de novela estrangeiras, “inaugura a série de folhetins cheios de emocionantes peripécias”. Como viria a ocorrer mais tarde com a introdução dos “comics”, Weil registra a reação dos “mais conservadores dos diários antigos”, denunciando “desdenhosamente os procedimentos mercantis dos recém-chegados, mas, ao final, tendo de seguir o seu exemplo” . E o historiador continua: “Alguns dos mestres da literatura obtiveram grandes êxitos no cultivo dêsse gênero popular, mas o folhetim teve seus criadores titulados com Federico Souliè, Alexandre Dumas e, sobretudo, com Eugênio Sue. Uma novela de Dumas – Lê Capitanine Paul – aumentou em 5.000 os assinantes de Lê Siècle e tanto as classes elevadas como a gente do povo devoravam os folhetins de Sue, que fêz a fortuna do Journal dês Debats com “ Os mistérios de Paris” e, logo, com “ O Judeu Errante” a do Constitutionel. Mostra Weil como a moda do folhetim se estende aos jornais estrangeiros: “O Judeu Errante” é traduzido em tôdas as línguas; o mesmo ocorre com os “Mistérios de Paris” que, além do mais, desabrocha em “Os ministérios de Berlim” e “Os Mistérios de Munich”. O êxito da novela em folhetim é universal, arrancando de Lous Bamberger o entusiástico registro: “Não se pode dar idéia do encanto que exercia a novela de folhetim, quando Dumas Sue e Balzac reinavam no mundo”. 6 5
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DOYLE, Plínio História de revistas e jornais literários in Revista do Livro, publicação iniciada no n.32, 1968. WEIL, George, El Diário, México, Fondo de Cultura in Suplemento do Livro – Jornal do Brasil – ed. 17-9-66. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 219-228, jan/dez. 2006
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Também entre nós, foram folhetinistas consultores da melhor literatura romântica, realista e simbolista, desde Macedo e Manuel Antônio de Almeida passando por Alencar e alcançando Machado e Aluísio de Azevedo. O livro, porém, mantinha a sua aura e prestígio: a elite cultural o respaldava, considerando apenas os escritores editados. Uma edição era o papel, os tipos, as vinhetas, as ilustrações, o nome do autor fulgurando sòzinho como um sol num volume que se encadernava e se punha na estante, identificando em caracteres dourados na lombada de couro. Uma edição era o lançamento, a dedicatória, o autógrafo, o orgulho dos bibliófilos, da gente culta ou dos que desejavam impressionar amigos e visitantes, ostentando paredes cobertas de estantes cheias de volumes, por vêzes adquiridos, como naquele chiste do nouveau riche, a metro cúbico... A DEMOCRATIZAÇÃO DO LIVRO Mas essa belle èpoque do livro, em edição limitada e com os seus exemplares numerados como gravuras, entrou em crise, com o advento dos pocket books, das coleções populares tipo “livro do mês”, antecedidas pelos fascículos das primeiras décadas do século, quizenalmente traduzidos às casas dos assinantes, com as mesmas capas sugestivas das revistas de mistério ou ficção científica dos nossas dias e com a característica mais atrativa dos seriados cinematográficos, então muito em voga: a leitura era interrompida em meio a um quiproquó ou em uma seqüência da mais alta e expectante dramaticidade . Não é tanto o aspecto econômico – porque “constitui a primeira brecha no círculo vicioso da baixa tiragem – preço alto caracteriza o livro industrializado sob as formas tradicionais” – que torna o fenômeno – livro de bôlso “ o acontecimento mais revolucionário no campo editorial desde a invenção da imprensa”7. E, sobretudo, o aspecto cultural: com o livro de bôlso, a massa se apodera da literatura no que ela tem de melhor e mais expressivo, iniciando-se aquêle processo de “diluição cultural” que Morin analisa em “L’ Esprit du temps”8. Testemunha êsse apossamento singular o dado fornecido pelo Sindicato Nacional dos Editôres Frnaceses: no domínio da literatura geral, a produção de livros em fromato de bôlso era calculada, em 1965, em 32 milhões de exemplares, “ou seja, suas vêzes e meia a produção de livros policiais, de espionagem, de “sciencefiction” ou de antecipação, em que a distribuição segue circuitos comparáveis” 9. O número de autores lançados na França através dessas edições ascendia a 2.500; em 13 anos de atividade, “a aventura inicial do livro de bôlso – começada por Gallimard, com seus Livres de Poche, já colocou em circulação 7
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RODRIGUES, Danúzio, Menor o livro, maior a cultura in Suplemento do Livro – Jornal do Brasil – ed. 19-09-66. Edição francesa: Paris, Bernard Grasset, 1962. Versão brasileira: Cultura de Massas no Século XX, Rio Forense, 1967. MARTEL, Pierre albin, le livre au format de poche in Mass Media, Bland & Gay, 1966 –Vol. P. 100.
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160 milhões de volumes, abrangendo pràticamente todos os setores do conhecimento humano. Hoje, a aventura se tornou negócio organizado e rendoso: vinte e cinco editôres franceses mantêm 72 coleções diferentes”.10 Nos Estados Unidos, o American Book Publishers Councill Inc. usou a expressão “febre de cultura” para descrever, em relatório, o que estava sendo a onda de leitura e aquisição de livros: nos últimos cinco anos, a venda de livros aumentara três vêzes mais depressa do que a população de país. 11 E o fenômeno não se registrara apenas ali. A produção de livros alcançara, em 1957, cifras impressionantes: 25.299 títulos lançados no Japão, 20.719 na GrãBretanha, 15.710 nos países de língua alemã, 13.142 nos Estados Unidos, 11.917 na França e 9.320 na Itália, para apenas referirmos aos seis grandes.12 Quanto aos consumidores de livros, como de outros bens culturais, Tofler13os caracteriza à base de pesquisas pioneiras realizadas por diferentes instituições norteamericanas como “um homem em trânsito”, que “não pertence à velha e sedimentada aristocracia, cônscia do seu lugar no mundo e confirmada nos seus interêsses, nos seus juízos e nas suas preferências (não raro muito ruins, embora nossa têndencia seja para lembrar sòmente os exemplos de bom gôsto que deu). Também não pertence ao mundo em contração do proletário ou do agrário e também não é o tristemente limitado homem do passado, provinciano da classe média.. Êle é por demais instruído e também por demais viajado”, pelo menos no que tange às obrigações de sua profissão. O consumidor da cultura de massa representa “uma nova raça”, com “marcas limitações”, porém “não mais se chama Senhor Babitt”. E porque não pensar e agir como Babitt é que o homem de hoje, o homemmassa, se querem, devora com sofreguidão uma quantidade imensurável de literatura de todos os gêneros e escolas, de todos os tempos e procedências. O livro democratizou-se. Deixou de ser domínio próprio e inacessível de uma classe privilegiada. A cada edição de luxo se sucedem duas, três, diversas edições de bôlso. Em ritmo crescente, disseminaram-se as bibliotecas, enquanto livrarias tradicionais e suntuosas viram-se em concorrência com os sebos, e os stands de aeroportos, estações ferroviárias, supermercados e até farmácias. A tecnologia, a indústria editorial e o desenvolvimento das práticas comerciais desmistificaram o livro-de-24-linhas. Assim, quanto ao veículo, não há como caracterizar a literatura dita de elite, de que se ocupam os teorizastes apocalíticos.
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MAYRINK, Geraldo, O saber no bôlso in suplemento do Livro –Jornal do Brasil – edição 19-09-66. TOFFER, A. , obra cit. P. 26 e nota à p. 248. Cf. dados recolhidos per Sr. Stanley Unwin – O que é uma editôra –Rio, Distribuidora Record, s/d. TOFLER, A. obra cit., pp 50-51
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A ESTRUTURA LITERÁRIA Tentemos, agora, a distinção através da estrutura, mediante a qual o autor oferece à fruição do leitor a obra em essência literária. Para que não haja dúvida quanto às características dessa essência, valemo-nos aqui de Afrânio Coutinho, ao explicar o porquê dos aplausos que ainda hoje arranca dos leitores da epopéia homérica : “pela grandeza estética da estrutura estética daquelas obras de natureza estética, com unidade estética lograda à custa de artifícios estéticos para despertar o prazer estético, sem embargo dos elementos não-estéticos (sociais, religiosos, políticos, etc.) que elas veiculam e que estão intimamente entrelaçados com artifícios estéticos” 14 . Assim, pois, o tema os dados recolhidos, a maior ou menor soma de informações transmitidas, as próprias idéias do autor – elementos não estéticos – são temporais e circunstanciais, resultam das influências do meio e do com-saber das gerações e da sociedade que surge a mensagem artística; esta, porém, existe quando constitui um todo harmonioso, formado daqueles elementos e dos “artifícios de invenção e de composição”, a que se refere Veríssimo. 15 O problema da estrutura da obra literária – preocupação fundamental dos teóricos e críticos dos nossos dias – e no qual talvez resida a distinção que procuramos – é êste: até que ponto a percepção estética depende da comunicabilidade da mensagem? Para Gillo Dorfles, um dos mais distinguidos crítico de arte e mestres de estética da Europa, “sem que a comunicação tenha lugar não é possível que o momento estético se realize. A linguagem artística latente na obra de arte não chega fazer-se extrínseca”16. E ainda mais precisamente, quando se refere à literatura : “Segundo George Boas – “Comunication in Dewey’s Aesthetics”, JAAC, XII, 2 – não é preciso admitir a presença constante da comunicação uma vez que ao lado de uma arte que comunica (art of comunication) se produz a arte que oculta (art of cancealement), arte que prefere não transmitir aos demais as experiências do autor. Se essa opinião pode ser apropriada para algumas obras recentes no campo das artes visuais ou da música – onde antes de tudo se trata de um gênero de comunicação total ou prevalentemente aconceitual – cremos que seja difícil aceitála para as artes da palavra”. Mesmo quando se trata do hermetismo, Dorfles lembra a advertência de Mário Petrucciani, em ensaio sôbre êsse movimento literário na Itália: “A poesia nunca é obscura; a Expressão ‘poesia hermética é .. uma
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16
COUTINHO, Afrânio, Da critica e da nova critica, Rio Civilização Brasileira, 1957, p.142 VERÍSSIMO, José, História da Literatura Brasileira, Rio Livraria José Olympio, 1969. 5° Edição, p. 10. DORFLES, Gillo Et Devenir de la Artes, Mexico, Fondo de Cultura Económica, 1963, p. 81.
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contradição de têrmos”. E acrescenta: “será preciso (nestes casos de aparente incomunicação) distinguir entre ‘dificuldade’ e ‘obscuridade buscada’”.17 À corrente de Boas se filiam, entre outro, o crítico brasileiro Eduardo Portela, para quem “dizer-se que a literatura é comunicação significa estacionar a meio caminho da verdade”. A literatura é uma metacomunicação... porque a comunicação não é o ser da literatura. O processo comunicacional se efetiva através do sistema de signos da língua, e tem a mensagem como pronta. A literatura, o que nela é peculiar, o que a faz original, criadora, edifica-se para além dessa função. Ela será “redundante” se não ultrapassar o plano dêsse processo de comunicação. Se permanecer apenas no âmbito da língua, do sistema de signos, da comunicação, e minimizar o seu caráter fundamental, instaurador de mensagens, que é o pròpriamente específico do seu fazer, ela será tudo menos poesia. A literatura não pode repetir uma comunicação dentro de um sistema de signos vigente. Ela é tanto mais original quanto menos redundante. Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto são exemplos acabados dêsse poder instaurador da poesia”. 18 Essa facção de teóricos apocalíticos baseia o seu raciocínio e suas conclusões na aplicação da teoria matemática da informação à percepção estética, tentada por Abraham Moles e segundo a qual “existe para cada obra uma complexidade semântica e uma complexidade estética, independentes uma da outra, e cujos valôres relativos regem a facilidade de apreensão da mensagem artística”19. O repertório semântico, como êle já o definira antes 20 , produz o tipo de informação semântica, “de uma lógica universal, estruturada, enunciável, traduzível em uma língua extrangeira que, em uma concepção behaviorista, serve para preparar ações”; já o repertório estético produz a informação estética, “que é intraduzível, refere-se em lugar de um repertório universal a um de um repertório dos conhecimentos comuns ao transmissor e ao receptor e permanece teóricamente intraduzível em uma outra “língua” ou sistema de símbolos lógicos, pois que esta outra língua não existe. Pode-se aproximá-la do conceito de informação pessoal... não tem por fim preparar decisões, não tem um fim pròpriamente dito, não tem caráter de intencionalidade, (mas) determina de fato estados interiores cujas rrepercussões só são objetivamente constatáveis, ao menos nos casos típicos, pelos psico-esteticistas, ou mesmo por pscofisiologistas (emoção estética, trabalhos de fisiologia sôbre as sensações da música, etc.)”.
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DORFLES, Gillo , obra cit., nota à p. 336. PORTELA, Eduardo, Literatura e Teoria da Comunicação in Comunicazação e Cultura de Massa, edição especial da revista Tempo Brasileironn. 19-20. MOLES, Abraham, Creations artistic et mècanisme de l’espirit in Ring des Arts, 1960, p. 38. MOLES, Abraham, Theorie de l’information et perception estetique, Paris, Flammarion, 1958, p.134. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 219-228, jan/dez. 2006
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Assim, a literatura de massa seria aquela em que predominam os componentes semânticos, em que a redundância – como elemento que ajuda a intelegibilidade da mensagem – aumenta a sua capacidade comunicativa, embora em sacrifício da sua originalidade, que seria o transmitir um máximo de informações. Em toca, a literatura de elite teria a sua tônica na informação estética, pois o leitor nela buscaria antes originalidade que lógica. A aceitação pura e simples dessa teoria implicaria, contudo, na negação de tôda ou quase tôda a obra de arte do passado e invalidaria mesmo qualquer produção literária, após a primeira fruição estética. Com efeito, no caso da mensagem artística, ‘se todos os seus elementos são conhecidos de antemão pelo receptor, a informação que lhe é comunicada é nula ou quase nula, e a redundância máxima” – o que Dorfles considera um absurdo, pois “equivaleria a afirmar que a informação que nos vem subministrada por um livro, por um poesia, por uma sinfonia que já conhecemos a fundo é artisticamente nula, pelo simples fato de que já a tínhamos recebido através de precedentes leituras ou audições”. A verdade é que “em muitas obras de arte coexistem os dois gêneros de informação (...) o aspecto semântico poderá estar mais ou menos ligado ao estético, embora, de qualquer modo, não seja suficiente o elemento informativo semântico para justificar o verificar-se e o determinar-se da informação estética, isto é, o valori estético de uma obra de arte”.21 O DESTINATÁRIO DA LITERATURA O êrro, na avaliação crítica, parece estar na visão antropológico-cultural dos que pretendem criar a dicotomia: uma literatura para um homem que não mais existe, o homem do renascimento – homem gutemberguiano que, segundo McLuhan, está em agonia – e uma literatura para um pseudo homem-massa, sob a poderosa influência, a massagem constante dos “mass media”, que provocam e fomentam novos sistemas de valôres e novos modelos éticopedagógicos, como criam e introduzem nova linguagem, novos estilos, novos sistemas, novos esquemas preceptivos. Acham-se, os apocalípticos extremados, na mesma situação de Baudelaire que se mostra irritado, no Salon de 1859, com respeito à pretensão da fotografia de substituir a arte, exortando os fotógrados a que se dedicassem ao registro utilitário de imagens, em que lugar de querer usurpar o domínio do imaginário. Mas, como indaga Eco22, “é a arte que exorta a indústria a não invadir o seu campo ou é a indústria que está impelindo a arte a descobrir campos novos?” Parece-nos que colocar-se na posição de censor do gôsto da massa, dela se alheiando na sua produção intelectual ou aspirando uma volta aos “bons velhos tempos”, em que apenas uma fração da sociedade fruía do prazer 21
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DORFLES, Gillo, Símbolo, Comunicacíon y Consumo, Barcelona, Editorial Lumen, 1967, p 47. ECO, Humberto, obra cit. Nota à p. 76.
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estético, coloca a literatura em posição inferior às demais artes, especialmente à pintura que, ainda segundo Dorfles, mais que qualquer outra “ é a expressão verdadeira do nosso tempo; nunca, como agora, a arte lograra – livre de vínculos sociais, religiosos, culturais – chegar a ser a expressão genuína da individualidade humana. Qual é a imagem do homem, como aparece através das obras de Pollock, um Fauntrier, um Duffet, um Wols, um Burri, im Tobey, de um De Kooning? Certamente a da personalidade desgarrada e desfeita, desintegrada e esquizóide, que não conseguiu equilibrar os dados do pensamento com os do sentimento, a personalidade “cósmica” existencial. E apesar de tudo, talvez êste seja o rosto mais genuíno do homem de hoje... êsse rosto dilacerado, destroçado por impulsos caóticos, contraditórios, e voltado assim mesmo, para a busca de uma novus ardo, que aflora, às vêzes, e se adivinha através da confusão magnífica das côres, entre as estratificações dos esmaltes, submergido na lama sinuosa das côres diretamente lançadas do tubo ou através das tôscas superfícies de telas de fazenda, alcatrão e asfalto”.23 Felizmente, para a literatura, também ela – deixando de parte o teoricismo apocalítico – vai atendendo aos reclamos dêsse “homem em trânsito” e à procura daquele ideal de integração de que ela fala Tristão de Athayde. A literatura vai absorvendo e assimilando as “constantes da época”, pois que não há arte surgida do nada, desligada da realidade e dos anseios dos seus consumidores no tempo e no espaço. Por isso, e porque literatura é semântica e é estética, e porque a sua linguagem é eminentemente metafórica, podendo antecipar-se à simbologia e à semiótica usuais mas não a ponto de alcançar um código indecifrável e incomunicável – um grau infinito de entropia, apenas acessível aos últimos resíduos das ditas elites culturais – é que as massas estão consumindo, como jamais o fizeram desde que surgiram no cenário histórico, os bens literários produzidos em todos os tempos, desde os monumentos do classicismo até as mais arrojadas criações do vanguardismo. A INTEGRAÇÃO MASSA-ELITE Voltemos ao fenômeno do livro de bôlso para constarmos a fragilidade do discrecionarismo apocalítico: Zola é campeã de vendas na França, com 4.850.000 livros; em segundo lugar, figura Sartre, com 3.300.000 volumes adquiridos; individualmente, a obra mais vendida “au format de poche” é A Peste de Camus, com 965.000 exemplares; das obras completas de Rimbaud foram vendidos 310.000 exemplares e até o “nouveau roman” esta no páreo, com a aquisição pela massa de nada menos de 45.000 volumes de Le Planetarium de Nathalie Sarraute. E ainda, numa arrasadora derrubada das fronteiras teóricas: em 1965, constituiu acontecimento literário e editorial na França, o
23
DORFLES, Gillio, Et devenir, cit, p. 109. Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 219-228, jan/dez. 2006
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lançamento, em uma coleção popular, do Ulysses, de Joyce, que em menos de um ano vendeu mais de 20.000 exemplares. 24 Nada resta – diante dessas cifras e das análises frias do fenômeno elitemassa –da distinção de MacDonald dos três níveis culturais: higt, middle, e lowbrowi. Não correspondem a uma nivelação de classes, não se identificam com o maior ou menor grau de entropia da obra literária, não coincidem com a pauta semelhante de validez estética. Pessoas, de nível cultural e mais elevado, se deliciam com a literatura de ministério e mesmo com as estórias-em-quadrinho; o público devora a literatura dita hermética, acolhe a “avant garde” e aplaude Shakespeare e Sófocles; intelectuais e artistas da melhor cêpa produzem obras de lato teor estético, sem torná-las obscuras pelo uso de uma metaliguagem esotérica e dedicam o seu tempo e seu engenho à invenção e composição sôbre temas os mais prosaicos ou de maior aceitação dentro da mentalidade das maiorias, como é o caso da ficção científica ou da dramaturgia de Brechet ou de um João Cabral de Melo Neto. Seja a literatura um “meio de produção” ou seja “ um bem de consumo” – o seu destinatário é sòmente um: o leitor, indivíduo dotado de personalidade, que aceita ou rechaça a mensagem, de acôrdo com suas necessidades espirituais. Por isso, a literatura (arte literária, obra estética) exerce diferentes funções e proporciona diferentes graus de gôzo estético. Nisso é que se fundamenta a perenidade da obra literária, como “obra aberta” e cuja fruição repetida em diversas fases do evoluir intelectual do indivíduo provoca emoções, sensações e descobertas novas e outros juízos válidos. A questão não está em o autor elaborar a sua mensagem literária em um estilema de nível superior, que sòmente possa ser compreendido e aceito por uma elite bem posta e smob, os “happy few” da audiência. Pois bem pode acontecer uma surprêsa, como a que nos toma ao constatar o êxito de Rimbaud, Joyce ou Kafka junto à massa consumidora. Na verdade ninguém acredita que o poeta francês, o romancista inglês, ou o novelista tcheco hajam composto as suas obras para não serem sentidos ou compreendidos. Êles o fizeram, não obscuras ou incomunicáveis, mas obedientes àquele senso divinatório do artista, que lhe permite acompanhar e por vêzes mesmo ultrapassar a rapidez das mutações das atitudes estéticas e preceptivas do presente. Neste captar da oscilação do evoluir da personalidade do leitor - do seu gôsto e das suas necessidades e aspirações – que sòmente se obtém quando não se foge à vivência e às experiências humanas da época presente, quando se mergulha no coletivo sem por isso perder a individualidade e o senso estético, é que está o fundamento da criação literária e o princípio daquela interação preconizada por Tristão e Athayde e que hoje começamos a viver: as elites nas massas e as massas nas elites.
24
MAYRINK, Geraldo, art. cit.
O INTERESSE PELA FOLKCOMUNICAÇÃO
Luiz Beltrão
Ademais de pesquisas de que participaram os nossos alunos de graduação, do CEUB, nas disciplinas Teorias da Comunicação, Teoria da Opinião Pública e, por último, em Sistemas de Comunicação no Brasil, algumas das quais como as relativas à Festa do Divino e aos grafitos, inseridas no nosso Folkcomunicação, a Comunicação dos Marginalizados (São Paulo, Cortez, 1980), foi no segundo semestre letivo daquele ano que, como regente daquelas disciplinas, com a colaboração dos nossos assistentes, prof. Newton de Oliveira Quirino, Afonso Ligório Pires de Carvalho e, agora, da profa. Telma Regina Astolfi, conseguimos ordenar as investigações voltadas para a identificação das relações , do pensamento e da ação dos usuários dos sistemas de Comunicação Social e Folkcomunicação no que tange à sua religiosidade e misticismo (A Comunicação da Fé), ao seu fatalismo e aspirações à melhoria de vida (A Comunicação da Esperança), aos seus sentimentos de solidariedade, dedicação, humanitarismo e paixão (A Comunicação do Amor) e à sua noção de Tempo. O trabalho preliminar constou da coleta de material para cada uma dessas investigações, bem como o levantamento bibliográfico. Por exemplo, a equipe de cinco alunos, liderada por J. Alceu C. Portocarrero, em sua primeira apresentação, exibiu à classe o seguinte material coletado: 15 almanaques diversos, em sua maioria de propaganda de produtos farmacêuticos, o exemplar do ano do Almanaque da Editora Abril e um Almanaque Mundial, editado em Portugal, com 640 páginas, 4 folhinhas de mesa (material plástico); 74 cartões-calendários, incluindo oito de procedência estrangeira – México, Argentina e Uruguai; 28 calendários, sendo 25 de parede e 3 de mesa; um calendário asteca decorativo, fabricado com massa de rezina e cinza de vulcão, 11 agendas diversas, 18 relógios de parede e de mesa, de fabricação estrangeira, incluindo-se desde um antiqüíssimo, com cerca de 100 anos de fabricação, até um dos mais modernos, de quartzo; duas ampulhetas e dos cronógrafos. Tudo isso fora recolhido em 45 dias!
* Capítulo do livro “Pesquisa em Comunicação no Brasil” (1983): pp. 189-194.
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De posse desse material, o grupo passou a apreciá-lo oferecendo, ao final, um trabalho de análise do tema que, a partir da sua etimologia, abordou os sistemas de cômputo de duração das coisas e sucessão dos intervalos que envolvem a noção de presente, passado e futuro, como os calendários, as folhinhas, os almanaques (entre os quais os de cordel, os relógios e os cronômetros, a comunicação em suas limitações temporais, o tempo e a promoção humana, tempo de trabalho e tempo de lazer, a comunicação de massa como vitória do homem sobre o tempo e o comportamento do homem em relação ao tempo Além de uma revisão nos estudos anteriores sobre Almanaque, que publicamos em 1971 no ensaio Comunicação e Folclore – (SP, Melhoramentos), o estudo da equipe de 1980 está servindo de base para pesquisa em Folkcomunicação, já programadas sob o título – Tempo e Cultura Popular, que abrangerá os aspectos lingüísticos, as crendices e superstições, os costumes do povo relacionados com os dias, os meses e os anos na vida individual e coletiva. A equipe encarregada do tema A Comunicação da Fé, sob a coordenação de Francisco Régis de Moura Pereira, destacou-se pelo cuidadoso levantamento bibliográfico, tendo apresentado em seu relatório nada menos de quatro páginas de obras consultadas. O sumário do trabalho foi o seguinte: 1. SOBRENATURAL E REPRESENTAÇÃO 1.O Humano e o Divino 2. Preservação 2. 1. 2. 3.
O PROFANO E O RELIGIOSO Integração Autenticidade Mística Folclórica
3. UM “SISTEMA DE OBJETOS” 1. Representação 4. RELIGIOSIDADE, SINCRETISMO E COMUNICAÇÃO 1. Santos, ervas e defumações 2. Sincretismos 5. 1. 2. 3. 4. 5. 6.
O RESGATE SIMBÓLICO Origem histórica Símbolos e Mitos Esculturas & Iconografia Ex-votos e Comunicação de Massa O ex-voto impresso Outros (cinema, rádio e TV)
DA
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6. FOLHETO E VOLANTES: UM DISCURSO GRÁFICO-RELIGIOSO 1.Informação & Formação 7. 1. 2. 3.
MITO, SIMBOLISMO E ARTE (Cordéis e Carrancas) Os Cordéis da Fé O misticismo das carrancas Mitos e Imagens
8. 1. 2. 3. 4. 5. 6.
A FÉ ATRAVÉS DOS MEIOS ELETRÔNICOS Os chamados filmes “piedosos” Os filmes de reflexão crítica Rádio: mobilidade e rapidez Religião x TV: o difícil diálogo A questão da televisão na igreja Discos e fitas magnéticas
9. CONCLUSÃO Pela amplitude dos temas abordados, pode-se avaliar a multiplicidade de pesquisas que podem ser geradas relativas às maneiras pelo quais o povo, nas suas camadas mais humildes, manifesta a sua religiosidade e o seu misticismo. Sendo Brasília uma amostra nacional de todas as religiões e crenças praticadas no País, nela podem-se realizar pesquisas de grande valor antropo-sociológico. Por isso, o trabalho dessa equipe vem sendo utilizado, no corrente semestre, por duas pesquisas já iniciadas na disciplina Sistemas de Comunicação no Brasil: uma, que apura o culto popular a Ana Lídia, uma menina de 7 anos que foi seqüestrada, seviciada e morta em setembro de 1973, num crime, na época atribuído a traficantes de drogas segundo se dizia pertencentes a famílias de políticos e executivos, e que quase um decênio depois continua envolto em mistério. A exemplo do que ocorre em outros grandes centros do país, Ana Lídia foi “beatificada” pela memória popular e o seu túmulo é muito visitado, sobretudo no Dia de Finados, quando crentes pagam promessas por graças alcançadas por seu intermédio. A outra pesquisa diz respeito à Casa de Bênção, sede de uma seita pentecostal, o Tabernáculo Evangélico de Jesus, fundada em 1970 pelo pastor missionário Doriel de Oliveira na cidade satélite de Taguatinga, que, segundo os seus crentes, expulsa demônios e realiza curas miraculosas pelo poder da oração e mediante uma bênção em nome de Jesus. Sob a coordenação de João José Ferreira Forni, uma terceira equipe de alunos realizou um trabalho de investigação e análise a respeito da Esperança, centrado na tendência do brasileiro para triunfar sobre a pobreza mediante o jogo, confiando na sorte, preferindo o sucesso sem esforço àquele construído pelo trabalho. O tema, como se pode constatar do sumário a seguir reproduzido, foi tratado sob
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variados ângulos, merecendo, contudo, destaque a pesquisa de campo realizada junto a banqueiros do popularíssimo jogo-do-bicho, que nem a oficialização de jogos de azar como a loteria esportiva e a loto consegue extirpar. Centralizado na apreciação dos mass media, o estudo abrangeu os seguintes itens: 1. A ESPERANÇA NA LITERATURA 1. Literatura Brasileira 2. O Mito 3. A Revista – um veículo de massa 4. A esperança na literatura de massa 5. O fascínio da fotonovela 6. O best-seller 7. A loteria de massa 8. A esperança dos números 9. A literatura para a massa 9.1. A literatura da saúde 9.2.A literatura do futuro 9.3. Jogos de sorte 9.4. Literatura de cordel 9.5. A indústria da subliteratura 9.6. A literatura dos grupos marginalizados 2. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
A ESPERANÇA NA TELEVISÃO A programação da esperança A esperança na telenovela As cartas na televisão O curanderismo na TV Corrente não tem vez Astrologia no vídeo A sorte na TV
3. A ESPERANÇA NO RÁDIO 1. Um médium rural 2. O mundo da esperança pelo rádio 2.1 Os astros no rádio 2.2 A sorte também se ouve 3. A programação do desejo 4. 1. 2. 3. 4.
A ESPERANÇA NO DISCO A esperança na música popular brasileira Os jogos de sorte nos discos Discos sacros O disco na música clássica
DA
5. 1. 2. 3. 4. 5. 6.
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A ESPERANÇA NO CINEMA A hipnose das sombras O real e o imaginário A função terapêutica A concorrência da televisão O novo espectador Indústria da esperança
Entre os estudos inspirados nas linhas, em fase de conclusão pelo autor desta comunicação, está o intitulado – A herança de um duende indígena – em que se tenta uma interpretação da noção do caiporismo , da falta de sorte, que Gilberto Freyre considera “tão ligada à vida psíquica do brasileiro”, porque sempre presente no espírito e na ação de significativo número de pessoas através de superstições, práticas medicinais mágicas e medidas preventivas, sem cujo conhecimento e obediência jamais podem alcançar aquele ideal de vencer pela aventura e não por um espírito de construção pertinaz. A derradeira equipe de 1980, que apreciou o tema A Comunicação do Amor, sob a coordenação de Magali Albernaz Daltro Santos, voltou-se preferencialmente para o tratamento do tema nos meios de comunicação de massa, reunindo material informativo e documentação gráfica num volume de cerca de 300 páginas. Foram apreciados os seguintes itens: 1. a) b) c) d) e)
AMOR E VIDA SOCIAL O amor do casal O amor nas relações familiares Amor à pátria e à nação Amor à humanidade Amor a Deus
2. AMOR E ORALIDADE a) Diálogo amoroso: paquera-direta e telefônica, educação doméstica e social, oração, doutrinação, política b) Provérbios, trovas, canções, serestas, música folclórica, popular, erudita patriótica e/ou religiosa. c) Amor na arte dramática d) Amor no disco e no rádio 3. a) b) c) d)
AMOR E COMUNICAÇÃO GRÁFICA Cartas, cartões, folhetos, livros de amor Literatura de cordel romântica A grande literatura amorosa O erotismo nos meios de comunicação de massa
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4. AMOR E COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL MASSIVA a) Na televisão b) No cinema 5. AMOR E MENSAGEM ARTÍSTICA a) Objetos amorosos, jóias, talismãs, amuletos, medalhas, bandeiras, estandartes b) Desenho, pintura, gravura, fotografia c) A escultura amorosa Em suas conclusões, a equipe, que era toda constituída de alunos do sexo feminino, confessa que o seu trabalho foi gratificante, pois “muitas surpresas nos estavam reservadas...Descobriu-se um verdadeiro mundo na convivência com obras bibliográficas relacionadas com os meios de comunicação de massa”, cujas mensagens, em sua maioria, “tinham sempre um enfoque voltado para o Amor”, tema preferencial para “atingir o indivíduo através de seus sentimentos”, ainda que às vezes deturpado em sua essência. Atualmente à base das observações dessa equipe alunos do quarto semestre realizam uma pesquisa de campo sobre A Casa do Candango, instituição privada de assistência aos migrantes dos diversos estados brasileiros, que chegam à capital federal em busca de trabalho, sobretudo elementos oriundos do norte, nordeste e do interior de Goiás. Duas pesquisas de campo foram realizadas no biênio 77/79 por nossa iniciativa: uma na busca de líderes de opinião, na área urbana de Luziânia, pequena cidade limítrofe do Distrito Federal, em fase de transição sócio-econômica como pólo industrial, e outra sobre o uso dos meios de comunicação na cidade satélite da Ceilândia, criada para acolher populações de favelados (as favelas, em Brasília, denominam-se invasões) pela Campanha de Erradicação das Invasões (CEI). Foram essas pesquisas que apontam a necessidade de organização no CEUB, de um núcleo de estudo e documentação da memória popular, programado já para o ano de 1983 quando se espera a transformação do atual centro de ensino em universidade. Na oportunidade, são estas as informações que, como professor e orientador do programa de pesquisa em comunicação do CEUB, nos caberia trazer a este encontro, ao tempo em que propomos um levantamento das pesquisas que se estão realizando, sobretudo na área da folkcomunicação, com a publicação regular das mesas no Boletim Intercom, a fim de que possa haver entrosamento e intercâmbio entre investigadores e centros de investigação em todo o País.