O ano que passou não foi nada fácil. A crise econômica do capital e as políticas do governo Dilma (PT) de proteção aos bancos fizeram com que as/os trabalhadoras/es pagassem caro pela crise. Em 2015, a politica esteve em crise, a saúde esteve em crise e a educação seguiu o mesmo caminho conturbado e cheio de ajustes para penalizar as/os mais precarizadas/os. Apesar da escolha do lema ‘Brasil, Pátria Educadora’ para o ano, começamos já com cortes no orçamento das universidades públicas. Cortes esses que se seguiram, chegando a R$ 10,5 bilhões no final de 2015. Ao passo que os cortes nas áreas sociais continuavam sucessivos, o Governo Federal, só em 2015, destinou R$ 198,4 bilhões em concessões para empresas privadas, através do Programa de Investimento em Logística (PIL). O governo do Partido dos Trabalhadores, apesar do discurso panfletário de geração de empregos e progresso, colocou em cima da base da pirâmide o peso da governabilidade. Enquanto isso, os bancos lucravam progressivamente com a opção de arrocho à classe trabalhadora. Só no primeiro semestre de 2015, Bradesco e Itau-Unibanco lucraram juntos R$ 20,4 bilhões, R$ 3 bilhões a mais que 2014 no mesmo período. Enquanto as passagens no transporte público continuavam a subir acima da inflação e aumentava-se vertiginosamente os trabalhos precarizados com flexibilização das leis trabalhistas, como a terceirização; banqueiros, empreiteiros e latifundiários faziam a festa. Através do Plano Safra (2015-2016), o Estado ampliou em R$ 187,7 bilhões o financiamento público ao agronegócio, 20% a mais que em 2014. No dia 30 de dezembro, para terminar o ano em que a Agenda Brasil foi proposta pelo Senado, o menino Vitor Pinto, de apenas 2 anos, indígena Kaingang, teve o pescoço ceifado em Santa Catarina. Vitor tinha migrado com sua família para vender artesanato. Dentre as medidas previstas no pacote da Agenda Brasil, de autoria do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), está a flexibilização das leis ambientais para liberação de obras e revisão dos marcos jurídicos que regulam áreas indígenas. Um retrocesso no pouco avanço na demarcação de terras indígenas no país. Retrocesso foi palavra de ordem na Câmara dos Deputados. Só nesse ano, propostas de emendas constitucionais e projetos de lei conseguiram versar sobre os ataques mais conservadores a direitos já consolidados no país. Entre eles, a redução da maioridade penal para 16 anos, a ampliação da terceirização para atividades fins e a restrição ao acesso ao aborto legal por vitimas de violência sexual. Todos eles protagonizados pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com direito a manobras golpistas e investigação sobre seu envolvimento em esquemas de corrupção. Tendo que lidar com a contradição da governabilidade e a forte crise de representatividade aprofundada nos 13 anos do governo do PT, que não respondeu aos anseios da esquerda, os poderosos e as elites iniciaram a guerra pelo controle do país. Em meio a isso, os movimentos sociais responderam com muita luta, nem pelo impeachment da direita, nem pelo conformismo da falsa esquerda. Dando adeus a política do medo, tomamos às ruas dizendo que não vamos pagar pela crise. A auto-organização de mulheres mostrou sua força e protagonizou os atos do Fora Cunha, a primavera feminista levou milhares às ruas pedindo pela legalização do aborto e o fim da violência contra a mulher. No ano de 2015 mais de 52 instituições de ensino superior públicas entraram em greve. Muitas duraram até 5 meses. Curitiba foi marcada no dia 29 de Abril
A Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social - ENECOS é a entidade representativa de estudantes das ramificações de Comunicação no Brasil. A partir dela, articulam-se as lutas e bandeiras do Movimento Estudantil de Comunicação - MECom a partir de eixos de atuação em pautas historicamente pactuadas, como Combate às Opressões, Democratização da Comunicação e Qualidade de Formação de Comunicadoras/es. A ENECOS se fundamenta no fim essencial de defender os interesses das/os estudantes de Comunicação Social, com autonomia, perante as demais instituições da sociedade, bem como mobilizá-las/os em âmbito nacional. Com identidade cunhada nas ruas e nas lutas, a Executiva tem fortaleza em seu histórico combativo que a referencia no Movimento Estudantil, no Movimento de Comunicação e no cerne da esquerda combativa brasileira.
Se o Governo Federal já mostrou seu poderio na sustentação do capitalismo e na defesa dos interesses dos banqueiros, é nosso papel centrar-se em oposição qualificada junto às/aos estudantes na construção de uma sociedade mais justa. Referenciando, centralmente, que estamos tratando de um processo de mobilização e discussão com as massas que lotam salas de aulas nos cursos de Comunicação. Sim, precisamos desencastelar a militância da Executiva e levá-la ao centro dos embates sociais contra o retrocesso de nossos direitos: às ruas, em coro, pela ruptura com o capitalismo. É fundamental que a ENECOS, bem como as pessoas que reivindicam a digital vermelha, compreendam que o grito vazio frente a tesoura do governo não basta! O MECom precisa atentar-se à necessidade de (re)inventar seu fazer e apontar um perfil propositivo que revele nossa formulação política frente aos retrocessos angariados pelos governos PT e PSDB. Nossas discordâncias com o governo não podem afundarse em pilhas discursivas em nossos encontros, mas devem se converter em oposição direta, nas lutas e construção de encaminhamentos capazes de dialogar com a sociedade e apontar outros rumos, outras vias. (Re)Vitalizar o MECom perpassa pelo reconhecimento das contribuições de cada estudante, na soma de forças para superação de nossos desafios e no eco de nossas ideias a fim de disputar consciências para um projeto de sociedade anticapitalista. Para tal, a radicalização da democracia em nossos processos internos é elemento basilar para (re)inventar o movimento - seja no fortalecimento das eleições diretas ou na ampliação/engajamento efetivo de participação de estudantes nos Grupos de Estudo e Trabalho - GETs. Por sua atuação direta na vida diária da/o estudante, a ENECOS tem um potencial de mobilização que precisa ser explorado. Tangenciando a burocratização e a crise de representatividade das instituições mais tradicionais do movimento estudantil, o movimento de área toma fôlego e se alimenta no contato estreito com Centros e Diretórios Acadêmicos e na criação de uma identidade enquanto área/curso que impulsiona a unidade. A necessidade de aprofundarmos o caráter democrático da nossa Executiva tem profunda ligação com a cultura política do movimento de área, em especial da Enecos, em relação ao combate às opressões e à centralidade da representatividade nesse processo. Quesitos esses que agregam de forma muito mais saudável e convidativa aos/às estudantes. Uma nova cultura política é possível!
Para nos libertarmos dessa situação precária, é fundamental avançar no diálogo e soma de forças na construção de uma agenda comum de lutas junto aos Centros e Diretórios Acadêmicos de Comunicação. Não à toa, dado que CAs e DAs são as instâncias representativas e deliberativas do MECom em cada escola. O GET de Movimento de Base deve conseguir aglutinar os CAs e DAs na orientação, concepção e efetivação dos Cadernos de Posicionamentos e Ações da ENECOS, assim como o Conselho Nacional de Entidades de Base - CONECOM não pode ser restringido a discutir questões sobre inquéritos e sedes de Encontros, devendo assumir papel referencial na constituição e construção do movimento. É perceptível que a atuação da ENECOS se dá, majoritariamente, nos estados da Zona Costeira e regiões limítrofes. O Centro Oeste e Norte, por exemplo, historicamente são negligenciados nos processos de diálogo e construção da Executiva - seja pela distância geográfica, seja pela falta de interesse em estabelecer contato - e, por vezes, aglutinados a outras regionais sem nenhuma política de (re)articulação. Dada que as contradições são nacionais, a Executiva deve ser solidária com companheiras/os de regionais com pouca incidência e fortalecê-las/os a fim de consolidar o movimento e emancipar os povos em torno de suas próprias lutas, no plano local e nacional. À medida que nos afirmamos no Movimento de Área, é indispensável retomar que, enquanto população, precisamos (re)organizar a tribo e, mais uma vez, aglutinar estudantes para mudar o que está posto.
As opressões do sistema também se localizam a partir da posição geográfica no espaço. Nós, que ocupamos espaços não-privilegiados, resistimos frente as pressões de anulação, sejam culturais, sejam físicas que afetem nossa existência. No embate social contra a catequese econômica do capitalismo que nos impõe adaptação, é fundamental que a ENECOS esteja aliada dos povos que resistem nas diferentes realidades que se somam em nosso território. Por sermos variantes do modelo de unidade cultural imposto pelo capitalismo para consolidação de estereótipos de consumo, nossas histórias são renegadas, nossos rostos invisibilizados, nossa práticas culturais são criminalizadas, nossos lugares são marginalizados e, por vezes, nossa existência é ameaçada! No último ano encaramos a dura face do extermínio: Em Antonio João (MS), o indígena Semião Fernandes Vilhalva (GuaraniKaiowá) foi morto por fazendeiros enquanto bebia água; em Fortaleza (CE), 11 pessoas negras foram mortas na periferia por abuso de autoridade da polícia, episódio que ficou conhecido como chacina da Messejana; em Macarani (BA), a ribeirinha Sueli Alves foi assassinada enquanto lavava roupas no riacho. As grandes obras e megaeventos, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo justificaram um número sem fim de violações de direitos das populações esquecidas. No Rio de Janeiro, não podemos esquecer a forma violenta como o Estado militarizado removeu indígenas que ocupavam a Aldeia Maracanã. Além disso, na cidade carioca, entre 2009 e 2014, foram cerca de 20,3 mil famílias removidas e outras mais ainda serão, até as Olimpíadas. Esse processo também atinge famílias de classe média da Zona Oeste da cidade, mas, atinge, sobretudo, as/os faveladas/os da Providência, de Manguinhos e da Vila Autódromo. Reivindicamos nossa autoafirmação cultural para relembrar que, mesmo diferentes e com práticas distintas, pulsamos o mesmo sangue dos povos oprimidos e que estão nas ruas por dias melhores!
POVOS TRADICIONAIS
As chances de uma/um jovem entre 12 e 29 anos ser morto é quase 3 vezes maior se ele tiver a pele escura. Segundo dados do mapa da violência o país mata em média 30 mil jovens por ano e 80% são negras/os - revelando o extermínio da juventude pobre e periférica. As ameaças também surgem institucionalmente através das medidas de criminalização da juventude preta, como a expansão da política de militarização nas comunidades e as UPP’s. Enquanto a taxa de homicídios de jovens brancos tem caído, do outro lado, a situação ainda permanece intacta; uma vez que o governo prioriza a perpetuação da criminalização da pobreza e preserva um sistema que ceifa vidas. O sistema sócioeducativo do Brasil é sem precedentes e cheio de falhas. A maioria das/os internas/os em medidas socioeducativas são negras/os e da periferia. É uma questão de classe e cor que estão entranhadas. Como se não bastasse, temos ainda exemplos explícitos nos meios de comunicação que reforçam estereótipos e constroem requisitos do que se entende por marginal. A televisão é uma importante ferramenta político-social, é preocupante a reprodução e exaltação de violência atrelada a imagem do povo negro nos programas policiais - que chegam nas casas da população todos os dias para explorar nossa dor e de nossa imagem. Além de violar direitos humanos ao expor pessoas, para os grandes grupos de comunicação: Preto é sempre culpado! Definitivamente, ética não é regente de atitudes das grandes emissoras, cúmplices na mercantilização de nosso povo.
A política anti-drogas é a maior responsável pelo encarceramento e morte da juventude negra no Brasil. Nos últimos 16 anos, o país triplicou o número de pessoas sob regime fechado. E 40% desse número (cerca de 500 mil pessoas) são negros e pobres da faixa de 18 a 24 anos. O tráfico de drogas é a principal acusação. Apesar do grande número de mortes e encarceramento devido as políticas de guerra as drogas serem masculinas, as mulheres negras pagam o preço da exclusão social. A grande parte das mulheres presas por tráfico de drogas ocupam posições subalternas na hierarquia do tráfico, como mulas para transporte de carregamento. Funções com baixo índice de periculosidade, mas que são um dos principais motivos de encarceramento feminino hoje no Brasil. Percebemos que a mídia hegemônica reforça o discurso de combate às drogas, legitimando a militarização dos morros por parte do Estado, provocando violações de direitos humanos e extermínio daquela população. Além disso, o próprio movimento estudantil também é criminalizado. Centros e Diretórios Acadêmicos já foram invadidos pela Polícia Militar após denúncias de que haveria drogas no local. Casos assim já aconteceram na UFF e na USP. No entanto, vale ressaltar que há aí um recorte de classe, uma vez que a abordagem na favela e no espaço universitário são muito diferentes.
Pensar comunicação, antes de tudo, pressupõe a reflexão sobre os discursos e estímulos que são transmitidos; e, por conseguinte, a compreensão de que, uma vez monopolizados, a decisão das informações e produções culturais que serão veiculadas a um grande montante de pessoas está centrada nas mãos de poucas pessoas - especificamente, 11 famílias no Brasil. Mesmo nas emissoras de rádio das cidades pequenas, as músicas veiculadas são aquelas ditadas pelo conjunto midiático a fim de se tornarem massificadas. É contrastante que, mesmo em um país extremamente rico em produção e manifestações culturais, os meios de comunicação divulguem e transmitam as produções norte-americanas e eurocêntricas nas principais faixas de tempo - ou adaptadas. Quando não, se atentam a reprodução de estereótipos ou impõem um estilo de vida inacessível para a maioria das pessoas. Perceba: A TV é a principal fonte de informação de 87% das/os brasileiras/os, mas sua programação está concentrada no eixo Rio-São Paulo.
Chega das mesmas pessoas, das mesmas práticas culturais impostas pelo capital, das mesmas famílias concentrando o poderio de dialogar com todas as pessoas e nós, o povo, sem deter as mesmas condições de impor nossas verdades, tradições e narrativas. Neste sentido, portanto, compreendemos descolonização como o processo de autoafirmação e lutas em torno da representatividade nos meios de comunicação aliada ao conceito de democratização. Porque não nos basta democratizar se os sujeitos historicamente oprimidos não estão no centro do processo de comunicação de massas - Sim, quem fala nos importa e não deve ser assunto deslocado. É preciso sair da academia e efetivar diálogos com os movimentos populares construindo conhecimentos sobre a relação da mídia no processo de fortalecimento das identidades culturais dos povos - promovendo uma maior circulação de vozes e diálogos interculturais.
Dotar o povo dos meios para reinventar a Comunicação Social e seu papel na sociedade é elemento fundamental para fortalecimento da comunicação popular. Sim, porque a comunicação popular, no todo, já é uma realidade. O cordel do sertanejo ou as toadas da rádio comunitária, ainda que com pouca abrangência de público e incentivo, são canais efetivos de resistência por uma outra comunicação que valida histórias e discursos que não cabem nas páginas impressas dos jornais comerciais. No entanto, não estamos satisfeitos em (re)inventar possibilidades para transmitir nossas ideias e lutamos pela democratização dos meios, de modo que consigamos propagar, em mesma proporção, contraposição de acontecimentos e ideias por vezes divergentes aos informado por veículos comerciais. Por estarmos no rol de movimentos que constroem comunicação contra-hegemônica e se articulam na construção de uma nova sociedade, a repressão do estado é uma constante. As concessões de rádio, por exemplo, são distribuídas segundo interesses do partido que gere o Ministério das Comunicação. Logo, grupos independentes quase nunca conseguem superar a burocracia do Estado para conseguir concessão dos meios. Se não nos dão os meios, nós tomamos! Já que a comunicação é distribuída em cartas marcadas, assim como a política de editais, devemos nos contrapor e fortalecer a militância pela democratização da comunicação - aliando sujeitos e agrupamentos ainda não envolvidos com a pauta. E, claro, produzir mídia livre e independente a fim de propagar o que vivemos, sentimos e presenciamos. Uma boa experiência são os Aparecidos Políticos, que ocupam frequências de rádio não utilizadas e veiculam informações. Além de fortalecer e estar aliada aos movimentos, a ENECOS deve incidir sobre sua política de comunicação interna e externa em suportes de mídia livre - apontando e utilizando de nossa formação para potencialização do movimento. O Observatório de Mobilizações na Educação, por exemplo, constitui-se de importante ferramenta de comunicação contrahegemônica que deve ser investido e encorajado.
Cerca de dois terços da população mundial ainda não tem acesso à internet. No Brasil, cerca de 50% das casas ainda não estão conectadas, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2014. Como forma de mudar esse cenário surgiu o programa Internet.org, uma iniciativa do Facebook em parceria com as operadoras de telecomunicações para garantir acesso à internet a quem não tem condições de pagar. Em junho de 2015, a presidenta Dilma disse que iria implementar o projeto no Brasil em parceria com a rede social. Mas, pera lá! O Internet.org tem muitos problemas. Para começar, a garantia de acesso não é à integralidade da rede, mas somente alguns sites são disponíveis, como Wikipedia e (que surpresa!) o próprio Facebook. O Internet.org já foi implementado em diversos países como Índia e Colômbia e enfrenta resistência nesses lugares. O projeto fere um dos princípios básicos da internet que é a neutralidade da rede significa que o tráfego na rede deve ser tratado de forma isonômica - apesar de garantido no Brasil a partir do Marco Civil. Ou seja, a operadora de internet não pode restringir o acesso a determinados sites, diminuindo a velocidade de seu acesso. Isso é comum de acontecer quando não se quer que o usuário tenha acesso a determinado tipo de conteúdo. Pode acontecer em países que tem um controle mais ferrenho da distribuição da informação ou quando não se quer que o usuário acesse conteúdo de uma empresa concorrente. Dessa forma, os usuários não têm autonomia na navegabilidade. Além disso, também fere o princípio de privacidade, uma vez que as operadoras de telecomunicação não vão cobrar pelo acesso ao Facebook, e, para isso, guardarão os dados de acesso do usuário. O projeto se anuncia como internet grátis, mas quer controlar a forma como as pessoas devem conectar-se. É inegável os benefícios da internet no que tange o acesso à contrainformação, à multiplicidade de saberes e à novas formas de se organizar. No entanto, todas essas possibilidades são interditadas no Internet.org. Nos posicionamos contra esse projeto que favorece grandes corporações e restringe a autonomia do usuário.
Apesar do Brasil conferir a educação como um dos direitos sociais expressos no Artigo 6º da Constituição, o acesso e o formato da educação superior não condizem com o fomento ou exercício de direitos. Codificados por números que registram nossa matrícula e cerceiam o acesso aos espaços universitários, pelos indicadores de rendimento acadêmico dos cursos e estudantes ou de rankeamento das Universidades e docentes, está evidente o compromisso das Universidades Públicas e Privadas - seguindo orientações do Ministério da Educação - com a consolidação da lógica mercantil em nossos processos formativos, especialmente nos cursos de bacharelado. O crescimento e multiplicação de instituições privadas e a privatização interna das universidades públicas, através das fundações de direito privado, das cobranças de taxas e mensalidades e do estabelecimento de parcerias entre as universidades públicas e as empresas - crescentes e ainda hoje pautas de embate do movimento estudantil, como no caso EBSERH - cavam espaço e avançam derrubando nossos direitos a cada dia desde 1994, quando o Banco Mundial lança um conjunto de indicações na cartilha 'O Ensino Superior: Lições derivadas da experiência' a fim de aflorar a compreensão de educação como um serviço na América Latina, Ásia e Caribe - tidos pelo Banco Mundial como subdesenvolvidos. Não por acaso, o que vivemos hoje é resultado do alinhamento de concepção do MEC e da imposição - seja nas gestões tucanas ou petistas - na construção de uma agenda neoliberal para educação. A formação de comunicadoras/es, nesse cenário, tem beirado cada vez mais ao tecnicismo e reprodução mecânica de formatos - apesar das Universidades não conferirem infraestrutura para tal. Assim, os cursos de Comunicação Social no Brasil deparam-se constantemente na contradição: Na proporção em que defendem cláusula de consciência, pensam projetos pedagógicos a fim de atender modelos tradicionais de mercado; À medida em que defende uma formação prática, não oferta os equipamentos e condições para desenvolver técnicas; Enquanto se margeia em suportes de comunicação e idealiza o poderio acadêmico sobre a pasta, ignora inúmeras manifestações e novos formatos criados pela mídia livre - permanecendo no mesmo formato, nos mesmos trejeitos. Seja na criação de um campo de reserva de profissionais, no fomento de condições impróprias e\ou na exploração, não podemos esquecer, portanto, que o processo formativo ao qual somos submetidos está vinculado à necessidade expressa do mercado (in)formal de trabalho em Comunicação. Logo, atende às necessidades do contratante, não das/os estudantes que futuramente estarão inseridos na lógica do trabalho. É justo atentarmos que, mesmo após a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercício da função, a criminalização da comunicação popular e contrahegemônica ainda é difundida pelos meios de comunicação de massa, sustentada pela Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ) e ancorada na sociedade. No intento de consolidar uma redoma de sujeitos aptos a ecoar notícias e informações, a exigência do diploma defendida por setores conservadores acorrenta nossas vozes e (re)cicla o fundamento mercantil da educação/comunicação como produtos, quando se constituem em direitos duramente conquistados pelos movimentos sociais. Por uma nova comunicação é fundamental reinventarmos a nossa formação e o papel da Universidade. Assim, é necessário formular e intervir nos processos políticopedagógicos, a fim de romper com o mercado e alinhá-los ao conjunto de interesses de estudantes e do povo na construção de uma sociedade que represente nossos anseios. É preciso indignar-se sobre a alienação em nossa formação, mas sem nunca perder o horizonte de subvertê-la e transformá-la.
Construímos diferentes perspectivas de comunicação em nossas habilitações que se ramificam desde o tradicional jornalismo aos conceitos de educomunicação; da inventividade da publicidade aos estudos em torno das relações públicas; da experimentação estética no audiovisual às observações sobre comunicação organizacional. O que nos unifica, certamente, é nossa raiz teórica expressa na Comunicação Social. Enquanto nossas habilitações se fincam nos olhares específicos sobre suportes, tendências, técnicas e processos, é na Comunicação Social que encontramos o espaço necessário para entender nosso campo de atuação, refletir sobre os objetos que regem nossa formação e perceber os poderes gerados pela concentração de influências advindas da dominação dos meios de comunicação - expressas em teorias que desmontam e remontam a nossa compreensão sobre nós, estudantes, frente ao nosso papel social. Sem os estudos em Comunicação Social, nossa formação teórica se margeia unicamente em teorias voltadas à prática da habilitação, desconsiderando a interação entre os meios e a sociedade. Desde 2006, o MEC estabelece medidas para desfazer o campo da Comunicação Social. Sentido duramente a partir de Diretrizes Curriculares que reconhecem às habilitações o status de independência e consequente desgarro de sua raiz teórica, elenca-se a necessidade da ENECOS voltar-se ativamente à construção de uma agenda ampla e de massas a fim de desfazer ou mitigar derrotas que sucederam o histórico do movimento na pauta - seja na criação de portarias separando os cursos, processo que se deu de forma abusiva e sem diálogo com a comunidade acadêmica; nas reformas curriculares que tendem a alinhar-se as demandas de mercado; no esvaziamento de campanhas e no fomento de uma visão\sentimento de austeridade com a pauta, tendendo a delegá-la a um número reduzido de pessoas, quando, na verdade, demanda-se ampla participação popular e mobilização de estudantes. A nossa posição na Comunicação Social, para além da identidade, trata-se da autoafirmação do campo que reconhecemos teoricamente e estrategicamente e, em outras instâncias, elemento central no processo de (re)construção da formação voltada aos interesses de estudantes e do povo e, portanto, rompa com a lógica capital. É basilar que a ENECOS volte às ruas e seja protagonista na construção de uma frente ampla de movimentos sociais que discuta, formule e avance numa concepção a esquerda de formação de comunicadoras/es.
Com poucas bolsas, uma política defasada de permanência estudantil e orientações formativas voltadas ao mercado tradicional, as Universidades impõem às/aos estudantes a obrigação do estágio referenciando-o como um 'laboratório vivencial que visa à preparação para o trabalho produtivo'. Regulamentado pela Lei 11.788, o estágio curricular supervisionado não corresponde ao que se propõe e insere estudantes em rotina de trabalho (in)formal. Apesar de previsto como parte do currículo, os cursos de Comunicação não possuem condições objetivas de suporte ao estágio. São poucas/os professoras/es que tutoram a modalidade e, em geral, já estão sobrecarregadas/os com outras disciplinas e funções institucionais - assim, não conseguem cumprir seu papel de acompanhamento pedagógico e orientação frente a cada realidade vivencial de estágio. Outra questão grave são os horários e cronogramas. Os campos de estágio ignoram a dispensa em dias de avaliação, assim como as Universidades não notificam o calendário avaliativo; Em comunicação, é imposta a rotina de plantões aos fim de semana sem acréscimo na baixa remuneração ou compensação de horas a serem trabalhadas durante a semana; e, em pior caso, uma rotina de tarefas aliada a pressão que condiciona estudantes a diminuírem sua participação no ambiente acadêmico - transformando, portanto, a universidade em espaço transitório de ensino. A baixa remuneração diante de uma rotina desgastante é um dos pontos que não podem passar desapercebidos. A cobrança centrada em um/a estagiário/a equivalente a atividades desenvolvidas por um grupo de pessoas com expertises diferentes, além de convencionar-se em exploração, revela um cenário insalubre. As condições de atuação no estágio sempre estão vinculadas a uma rotina de cobranças que demandam da/os estagiária/o o que chamam de 'pró-atividade' - sim, sem infraestrutura real para exercício das etapas, os grupos de comunicação esperam que estudantes disponham de seus próprios equipamentos, de tempo extra e assimilação da rotina de trabalho sob o guarda-chuva de uma falsa idealização de boa vontade. Irresponsável com o cenário de precarização e exploração nos estágios, o Ministério da Educação convenciona a partir das Novas Diretrizes Curriculares a obrigatóriedade e expansão do tempo de estágio. No Jornalismo e nas Relações Públicas, que antes previam 96h em um semestre, agora se ancoram em pelo menos 200h ou até 20% da carga horária total dos cursos. Assim, abre vazão para demissões em massa de comunicadoras/es sociais e vacância para estagiárias/os; expondo de forma cruel as garras do capitalismo na opressão de estudantes e trabalhadoras/es. Até agora, apenas uma categoria não sofre: os empresários.
Os cursos de Comunicação que já vinham de uma trajetória de baixos investimentos, afundam-se de vez no abandono frente ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI que criou novos cursos sem infraestrutura adequada para funcionamento e negligenciou a realidade dos já existentes. A falta de laboratórios adequados no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, por exemplo, é uma realidade resultado da falta de planejamento na criação do curso. Assim, como muitos outros, aberto as pressas para mostrar resultado nos indicadores estatísticos do governo federal. Mesmo cursos tradicionais, o ônus se amontoa. Na Universidade Federal do Ceará, o prédio em que o curso de Comunicação está situado alaga a cada chuva. No entanto, as obras do novo prédio se estendem desde 2008 e sem prazo para conclusão. Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, inaugurado o novo prédio, as paredes não são capazes de suportar o peso do quadro-branco. Em ambos, nenhum dos espaços criados pelo REUNI são adaptados à Pessoas com Deficiência. No cenário de abandono e sem uma política efetiva de permanência estudantil, ingressar não significa concluir os cursos. Os poucos equipamentos na Universidade Federal do Recôncavo Baiano que estão quebrados ou são divididos com outros cursos, por exemplo, impõe às/aos estudantes adquirir equipamentos de alto custo para realização das disciplinas. Não suficiente, apenas bolsistas podem acessar o Restaurante Universitário na UFRB. Aumentou o número de cursos, sim. Contudo, não são ofertadas as condições necessárias para formação de qualidade ou permanência. Nesse sentido, é imprescindível que a ENECOS retome um diálogo direto com os CAs e DAs a fim de construir uma ala de intervenção nas Universidades de forma esquemática e articulada, no entanto, sem considerar a atuação isolada como estratégia. Não podemos tratar o descaso do governo com educação apenas no plano local, demandando da Executiva uma postura mais firme e presente na organização e mobilização nacional em defesa da educação, em espaços como o II Encontro Nacional de Educação.
Uma das principais bandeiras dos governos do PT é a ampliação do acesso à educação de nível superior. No entanto, o Executivo parece optar pelo investimento no setor privado de ensino, facilitando, assim, o fortalecimento de grandes grupos empresariais e a mercantilização da educação. Em 2015, Dilma Rousseff liberou crédito extraordinário de R$ 5,1 bilhões para o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). Este programa, destinado a estudantes de baixa renda, permite que a/o financiada/o faça a graduação em uma instituição privada e, ao final, pague o curso. Dessa maneira, as/os estudantes saem da faculdade com uma enorme dívida a ser quitada. Os recursos concedidos à rede privada, por meio de financiamento de programas como ProUni e FIES e de incentivos fiscais, deveriam ser destinados à educação pública, de maneira que democratizasse, de fato, as universidades federais, garantindo a abertura de mais vagas e de verbas para políticas de assistência e permanência estudantil. Concentrando contradições da Agenda do Banco Mundial, as Universidades Pagas apontam atenção especial à formação voltada ao mercado e as contradições de uma educação mercantil são pulsadas a todo momento. É importante atentar ao perfil de estudantes que se concentram nas escolas pagas, em especial as com menores taxas e que recebem número massivo de estudantes prounistas, como as sedes da Kroton-Anhaguera. São pessoas negras e da periferia que preenchem os corredores apertados e salas de plástico em instituições privadas no Brasil, convertidas em escolões de técnicas sem referenciar qualidade na formação. É sintomático disciplinas como Teorias da Comunicação serem ofertadas unicamente em EaD nas sedes da Estácio. Diante do cenário conjuntural, A ENECOS precisa atuar efetivamente na mobilização e organização de estudantes e Cas das escolas pagas em torno do reconhecimento das contradições e emancipação - para então, travar as pautas diretas a partir da voz e construção dos sujeitos que (r)existem nas Instituições Privadas.