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Cinzas, um caminho de conversão

A quaresma é um itinerário para o tempo de preparação para a Páscoa, que começa, precisamente, com o rito da imposição das cinzas. A quarta-feira de cinzas é dia de jejum, oração e caridade, práticas para toda a quaresma, enquanto que nas sextas-feiras da quaresma o cristão é convidado a abster-se de carne. Como recorda um dos prefácios das orações eucarísticas das missas celebradas na quaresma, com o jejum é possível vencer as paixões e elevar o espírito. O jejum, a esmola e a oração são os sinais, ou melhor, as práticas da quaresma. O jejum não significa apenas a abstinência do alimento, mas compreende outras formas de privação para uma vida mais sóbria. Ao receber as cinzas, o convite à conversão é expresso com uma dupla fórmula: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” ou “Lembra-te, que és pó e ao pó hás de voltar”. O primeiro apelo é à conversão, que significa mudar a direção do caminho da vida e andar contracorrente (“corrente” é o estilo de vida superficial, incoerente e ilusório). A segunda fórmula remete para os inícios da história humana, quando Deus disse a Adão: “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19). A quaresma não é um tempo de mortificações, mas de vivificações. Por isso, a ação de Jesus não é abater a árvore que não dá fruto, mas adubá-la para renovar o seu vigor (Lc 13,8); porque Ele não veio quebrar a cana rachada ou apagar o pavio que ainda fumega (Mt 12,20), mas para libertar no homem as energias de amor que estão adormecidas e fazer com que descubra formas inéditas, originais e criativas de perdão, de generosidade e de serviço que elevam a qualidade do seu amor, para pô-lo em sintonia com o Senhor, Autor da Vida; e, assim, experimentar a Páscoa não só como plenitude da vida do Ressuscitado, mas também da sua. A quaresma é um caminho e uma caminhada de amadurecimento; é uma erupção de energia que nos remete para o interior, para atingirmos a plenitude de nós mesmos, e, por isso, leva-nos a sermos divinos. Porque a nossa vocação última é tornarmo-nos Deus, uma só coisa com Ele. Os padres da Igreja recordam-nos muitas vezes, como o metal mergulhado no fogo que, já não se distingue dele. A quaresma é um Caminho e caminhada com Jesus, o Verbo Encarnado, que realizou plenamente na sua vida um caminho de reconciliação e que, agora, espera que também cada um de nós o faça.

Pe. Arilson Lima SCE Região Norte III

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