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“Vai e não peques mais”
A penitência faz parte da tradição judaico-cristã como um caminho de reencontro entre a humanidade e os desígnios de Deus. Desde o Antigo Testamento, a fragilidade humana diante da natureza criada por Deus demonstra a necessidade de uma constante reflexão do homem sobre as suas atitudes e seus sentimentos a respeito dos fatos históricos como manifestação da presença de Deus no mundo. De fato, o sentimento de pequenez diante da grandeza de Deus suscita sempre o imperativo da transformação do ser humano para atender o projeto de Deus. A penitência é a expressão de que somos capazes de voltar ao projeto inicial deixado por Deus. Como nos recorda Santo Agostinho, “quem caminha no sentido oposto a Deus, caminha em direção ao nada”. (Comentário ao Salmo 38, 22). Em Jesus Cristo, a penitência passa a ser chave central para uma adesão real ao discipulado cristão. Segundo o Documento de Aparecida (2007), o sacramento da penitência é imprescindível para que aconteça a conversão necessária para que o cristão batizado combata o mal que nos faz incoerentes com os compromissos que assumimos dos sacramentos da Igreja Católica, como o sacramento do matrimônio, tão caro para o Movimento das Equipes de Nossa Senhora. A penitência leva a um contato direto com o amor de Jesus pela humanidade que deveria promover não somente o reconhecimento de nossas debilidades, mas também a confissão de nossas debilidades diante de situações que requerem uma postura de fé e luta pela justiça social. A Bíblia nos mostra diversos exemplos desses encontros transformadores através do reconhecimento dos pecados em personagens bíblicos como Zaqueu (Lc 19, 1-10) e Paulo (At 9, 1-5). Contudo, esse encontro pessoal com Jesus não é impositivo. Por isso, cabe ao penitente escolher trilhar, ou não, o caminho da salvação. Esse pode ser visto em exemplos como a história da mulher pega em adultério e acusada diante de Jesus. Nessa reflexão joanina, Jesus não condena a pecadora, no entanto deixa em suas mãos a decisão de escolher o caminho da sua conversão: “Vai e não peques mais”. (cf. João 8, 11b) Enfim, é com esse espírito de acolhimento, da parte de Deus, e de abertura, da parte dos homens, que construímos a nossa seara penitencial. Cabe a nós o desafio de apresentar nossa disponibilidade de mudarmos e sermos criaturas novas desde os sacramentos do matrimônio e da ordem, a fim de construirmos um mundo mais justo, fraterno – e redimido – para toda a humanidade.
Frei Arthur Vianna Ferreira SCEP Leste I