revista
#2, 03/2016
EXPEDIENTE Editor Flávio Valle
A revista Ensaio Fotográfico é uma publicação eletrônica
quadrimestral,
Curadores Flávio Valle, Isabel Florêncio, Tibério França
distribuída
gratuitamente, cujo propósito é promover a fotografia autoral e a pesquisa em fotografia produzidas em Belo Horizonte no cenário nacional e internacional. A revista Ensaio Fotográfico é realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte.
Colaboradores Adriana Galuppo, Beto Eterovick, Helena Teixeira Rios, Oitenta Mundos e Paulo Roberto de Carvalho Barbosa Revisão e Tradução Oficina Só Português Produção, Diagramação e Projeto Gráfico CultivArte
Fundação Municipal de Cultura. Fotografia de capa Beto Eterovick Email contato@revistaensaiofotografico.com Site www.revistaensaiofotografico.com Facebook www.facebook.com/revistaensaiofotografico
Editorial
4
Edelweiss
7
Fotografias BETO ETEROVICK e Texto MARIANA CLARK
Entrevista com Miguel Aun
25
Texto OITENTA MUNDOS
Coletivos
33
Fotografias e Texto ADRIANA GALUPPO
O índice mórbido: variações sobre a morte fotográfica
49
Texto PAULO ROBERTO DE CARVALHO BARBOSA
Diante do invisível Texto e Fotografias HELENA TEIXEIRA RIOS
61
EDITORIAL
No editorial da edição anterior, destacamos
A
que a boa fase experimentada pela fotografia
contemplada neste edital e sua continuidade
em Belo Horizonte ao longo dos últimos 5
está ameaçada. Temos recursos somente
anos se deve à dedicação dos profissionais da
para a editoração da próxima edição, prevista
cidade e a uma política pública de incentivo à
para ser publicada no segundo semestre de
cultura. Nos editais de 2010, 11, 12 e 13 da Lei
2016. No entanto, estamos determinados a
Municipal de Incentivo à Cultura (LMIC) foram
encontrar uma solução. Planejamos realizar,
aprovados mais de 29 projetos de fotografia.
no segundo semestre de 2016, uma campanha
Aproximadamente 7 projetos por ano.
de financiamento colaborativo para viabilizar
revista
Ensaio
Fotográfico
não
foi
a editoração da quarta edição, prevista para Entretanto, no resultado do último edital da
o primeiro semestre de 2017. Enquanto isso,
LMIC, apenas 3 projetos de fotografia foram
buscaremos outras formas de financiamento
aprovados. Nenhum deles no Fundo de
que assegurem a continuidade da revista por
Projetos Culturais. Entre os grandes projetos
um período maior.
realizados periodicamente na cidade, somente o Foto em Pauta foi contemplado. Na prática,
Se,
isso significa, por exemplo, que em 2016
consolidação da fotografia em Belo Horizonte
não serão realizados festivais de fotografia
à mobilização dos fotógrafos e demais agentes
em Belo Horizonte ou que os festivais que
do setor, por outro, podemos apontar a
forem realizados não contarão com recursos
descontinuidade desse engajamento como
municipais.
um dos elementos que contribuíram para o
por
um
lado,
podemos
atribuir
a
retrocesso revelado no resultado do último
4
edital da LMIC. Que 2016 seja um ano de desafios, aprendizado O anúncio, em 2009, do encerramento das
e conquistas.
atividades do Instituto Moreira Salles (IMS) fez eclodir a força da mobilização dos profissionais
Flávio Valle – Editor
da cidade com a fundação do Fórum Mineiro de Fotografia Autoral (FOMFA) e a criação de um espaço dedicado à fotografia, onde funcionava o IMS, administrado pelo governo estadual por meio da Fundação Clóvis Salgado, o Câmera Sete (na época, o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia). Novamente, se faz urgente a mobilização dos profissionais da cidade. Não apenas para recuperar aquilo que foi conquistado ao longo dos últimos anos, mas, sobretudo, para retomar a pauta de desenvolvimento elaborada em 2009 e publicada no blog do FOMFA em 20101. Reafirmamos nosso comprometimento com o progresso da fotografia belo-horizontina e mineira e nos colocamos à disposição para colaborar com as iniciativas que surgirem.
1
Disponível em: http://goo.gl/Qm136F.
5
Edelweiss Fotografias BETO ETEROVICK e Texto MARIANA CLARK
Há quem diga que lendas não existem. E que
imigrações internas e externas, construções
vida e morte são antônimos, dois conceitos
de casas, vidas e sentimentos. Partidas que
irreconciliáveis. Que quando há vida não há
equivalem a chegadas, mortes simbólicas que
morte e que esta é sempre o fim irrevogável
são pré-requisito radical de vidas reais.
daquela. Há quem diga que lendas não existem. Edelweiss desafia conceitos. Põe-se, assim, em
Edelweiss, no entanto, é sobre a existência.
seu título, como orvalho em pasto, em silêncio
Do que foi congelado em uma foto, do que veio
como tudo aquilo que se presentifica com
antes dela e do que dela se perdura. Do seu
respeito. Essa dualidade de flor que se ergue
próprio material, foto, que aqui se eterniza.
como viva, mesmo depois de morta, e que se abre em título com textura de orvalho, serve de
Edelweiss é um recorte do trabalho de pesquisa
norte para este ensaio. Ultrapassa a fronteira
realizada pelo fotógrafo Beto Eterovick, de
entre fotógrafo/corpo-vivo e máquina/olhar-
2012 a 2014, que percorreu a região do Vale
pulsante, apresentando ao leitor um resultado
Europeu, em Santa Catarina, registrando
paradoxal: o efeito deste trabalho é confirmado
imagens da cultura e influência alemãs
pela capacidade de se reafirmar na ausência.
que existem na região desde a chegada dos primeiros colonizadores, ocorrida em meados
E não é com um olhar único que nos seria
do século XIX.
possível entender que atos lendários estão em toda parte. E que a vida, em seu material vivo, não obedece a dualidades lineares, mas pertence sim a absolutos recomeços, corajosas 7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
18
19
20
21
22
23
24
Entrevista com Miguel Aun Por JULIO BOAVENTURA JR e MANUELA RODRIGUES OITENTA MUNDOS
Com seu jeito calmo e gentil, Miguel Aun
passagem pela engenharia e a física, o Foto
(1945) nos recebeu em seu estúdio para contar
Clube de Minas Gerais, a transição do analógico
um pouco de sua história na fotografia que se
para o digital e sua vontade de passar a paixão
mistura com a da loja Foto Elias, fundada por seu
pela fotografia para as próximas gerações.
pai e que durou mais de 60 anos. Na conversa, Miguel falou sobre Elias Aun, a Foto Elias, sua
25
Como foi seu primeiro contato com a fotografia?
Foto Elias. Então é claro que tive um contato inevitável
Tudo começou com o meu pai Elias Aun,
com a fotografia muito cedo por conta de toda
que foi uma figura muito importante para a
essa história do meu pai, mas só fui levar
fotografia mineira. Ele fundou, em 1935, a
a sério mais tarde, depois de me formar em
Foto Elias, que tinha estúdio, laboratório e
Engenharia pela UFMG.
vendia equipamentos fotográficos. Por conta da dificuldade de trazer produtos de fora do país na década de 40, ele também abriu a IFB
Como foi que você passou da engenharia para a fotografia?
(Indústria Fototécnica Brasileira) e foi um dos Fiz engenharia porque eu era bom em física
pioneiros da área.
e matemática, e na época não tinha muita se
opção, ou era engenheiro ou era médico. No
especializando em fotografia 3x4, pois na época
fim, escolhi ser engenheiro que não tinha nada
do Getúlio Vargas passou a ser obrigatório a
a ver comigo. Depois, tentei a física que eu
foto na carteira de trabalho. Foi isso que fez ele
gostava e curto até hoje, mas também não me
crescer e ter condições de montar a Indústria.
prendeu.
Como
fotógrafo,
meu
pai
acabou
Como ele sempre entendeu muito de técnica, química e fazia equipamentos, o pessoal todo
A fotografia surgiu nesse período de faculdade.
da época que precisava de alguma coisa,
Na época, eu fazia algumas fotos macro com
acabava passando por lá e rapidamente a Foto
a câmera do meu irmão, e também tinha um
Elias virou um ponto de referência. A loja era
amigo do curso que gostava bastante de foto.
na rua Rio de Janeiro, perto da Praça Sete,
Então começamos a ir para o laboratório e
depois mudou para Tupinambás, teve uma
experimentar algumas coisas. Na formatura,
filial na Bias Fortes, e fechou em 1998, com
meu pai me deu de presente uma Canon Ftb.
mais de 60 anos de existência. Meu pai faleceu
E foi a partir daí que comecei a curtir mais.
com 102 anos e até 1996 estava trabalhando na 26
Quando
me
formei,
atuei
pouco
como
também me deu muitas dicas de laboratório
engenheiro, pois já estava trabalhando no
e química, ele sabia tudo de cabeça, foi um
IPR da UFMG. Fiz uma pós na área de física
excelente autodidata.
nuclear lá mesmo. Mas assim que defendi a tese, encostei a chuteira e virei fotógrafo profissional. Por volta de 1975, já assumi a loja filial da Foto Elias na Bias Fortes.
Antes de iniciar sua atuação profissional você já frequentava O Foto Clube de Minas Gerais. Pode contar um pouco dessa participação?
Nessa época, meu pai precisava de uma nova loja porque tinha entrado o colorido e o p&b
O “primeiro” Foto Clube foi da época do meu
estava ficando fora de moda. Então, tivemos
pai, Eugenio Vidigal (da farmácia Vidigal),
que montar um laboratório independente, que
Wilson Baptista e outros. Eles tinham esse
funcionasse com revelação colorida. Também
clube muito bem organizado, eu tinha até
aproveitei para montar um estúdio mais
umas revistinhas que eles fizeram do primeiro
bacana, para fazer retratos posados, que era
salão de fotografia. E muitos deles conheci
minha principal forma de atuação nesse início.
quando comecei a ir ajudar meu pai na loja, ele costumava abrir aos domingos só para
Você acredita que ter cursado engenharia te ajudou a ser fotógrafo de alguma maneira?
encontrar os amigos. Já a minha fase no Foto Clube foi uma renovação. Um pessoal mais novo que começou a me
Acho que sim, todos os estudos ajudam. A parte
chamar depois que tirei uma menção honrosa
técnica, principalmente, porque eu entendia
no concurso nacional da Revista Realidade, que
mais de óptica, então a lógica dessa parte foi
era uma referência na época. Foi uma foto que
fácil de aprender. E isso me deu facilidade de
fiz lá no Nordeste, quando ainda trabalhava
explicar para os outros também. Nunca dei
pelo IPR. Estava passando de barco, tinha
aula, mas sempre tive uns discípulos. Ensinava
uma prainha bonita com uns coqueirinhos
quem precisava e me procurava. Meu pai
e fotografei. Depois, fiz um processo em 27
laboratório, com kodalite, e imprimi num papel
concurso que a gente teve.
colorido, que deu uma cor mais interessante. O Photoshop da época era o kodalite, a gente
E muita gente que estava começando passou
experimentava muito no processo.
por lá também. O Eustáquio Neves, que chamei para participar depois de ver o trabalho dele
Então, comecei a participar do Foto Clube e
em um concurso, o Eugênio Sávio, que ia na
conhecer os amadores mais interessados em
minha loja com o pai, que já fotografava, e
fotografia. Além disso, foi uma época de grande
outros tantos que já não lembro. Foi uma época
desenvolvimento
fotográfica.
muito rica. Mas acabou terminando também.
Realizávamos um concurso interno todo mês,
Agora tem a terceira safra do Foto Clube, mas
no qual, a partir de um tema, produzíamos um
não cheguei a participar.
e
produção
trabalho para apresentar. Nesse período era
semana fotografando.
Você manteve contato com o grupo mesmo depois de ter acabado o Foto Clube?
Essa época também foi importante pelos
Depois que a gente teve que entregar a sala
aprendizados com grandes referências da
onde nos reuníamos, o pessoal acabou indo
área como o Handam, fotógrafo carioca que
para minha loja na Bias Fortes. Não tínhamos
veio para cá na época com um trabalho de
mais aquela reunião semanal, mas lá todo
publicidade muito diferente do resto e ganhou
dia acabava tendo encontro. E foi muito bom,
muito dinheiro com isso. O Genérico, que veio
a gente fazia projeções, palestras, bate-papo,
dos Estados Unidos. Tinha também o Carlos
rendeu muita coisa. Lembro que até fiz uma
Guilherme, na área de casamentos, e, ainda,
pequena galeria dentro da loja.
comum chamar um companheiro do Foto Clube para viajar para o interior, e passar o fim de
o Luís Otávio Siqueira, que nunca foi fotógrafo profissional, mas foi um dos primeiros a
Além disso, também nos organizávamos
fazer um trabalho que podemos chamar de
para produzir algumas exposições no ICBEU
conceitual, de colocar texto com foto, para um
(Instituto Cultural Brasil – Estados Unidos) que
28
era próximo dali. Chegamos até a trazer uma
simples, que é o grosso do meu trabalho mais
do Sebastião Salgado, da série da América do
antigo. E continuei com as minhas macros
Sul.
também.
Com a experiência do Foto Clube, que acabava incentivando uma fotografia mais livre e autoral, você não pensou em largar a prática comercial?
Como foi para você a transição do analógico para o digital? Demorei a entrar no digital. Como ainda tinha laboratório e clientes que trabalhavam com
Eu ficava preso lá na minha loja, mas gostava
cromo, continuei trabalhando com filme, mas
muito da publicidade. Eu usava a publicidade
não teve muito jeito. O mercado começou a
como desafio porque sempre tinha uma
exigir, o prazo era curto, não tinha mais tanta
iluminação diferente, a cada situação você
oferta de filme e os químicos subiram de preço.
tinha que desenvolver ou adaptar uma técnica. Para fotografar vidros e garrafas, por exemplo,
Hoje em dia, faço o básico no Photoshop. Sem
eram sempre grandes desafios.
dúvida, é muito mais fácil do que o laboratório. Se errar é só voltar. Além disso, dá para fazer
Nunca gostei de layout pronto. Gosto mais de
umas fotos impossíveis que no filme não tinha
ver e fotografar, nem tanto de produzir. Mas as
jeito. É possível fazer cópias idênticas, coisa
agências não gostam muito disso [risos]. Gosto
que na época de laboratório praticamente não
de deixar mais solto, de sentir o momento e
existia. Tudo isso facilitou demais. Está mais
clicar de acordo com o que te toca na hora.
fácil, melhor e mais durável, ainda com poucas impressões.
Mas, independente disso, eu fotografava de curtição. Sempre que eu saía, viajava, nunca
Acho que o mercado de filme não vai acabar,
deixei de fazer fotos de natureza, interior
mas está bem restrito. Grande formato
de Minas, as cidadezinhas, os personagens
ainda ficou, eu mesmo nunca passei grande 29
formato para o digital. A hora que saiu, já não
A mudança foi radical e diminui muito os lucros
tinha condição de comprar. Hoje, fotografo
por conta da economia também. A margem foi
principalmente com uma digital da Nikon,
encurtando e quem não reformou a vida não
que tem resolução suficiente e já entope o
conseguiu fazer a transição direito. Meu pai
computador! Mas que é bom é. A qualidade é
tinha muito funcionário antigo, não queria
excelente!
acabar com aquilo. Mas não chegou a ver a
No fim dessa questão de digital e analógico,
Foto Elias fechar, faleceu dois anos antes.
acho que o importante é fotografar o que te emociona na hora e não deixar passar. Por
Quando fechou o Foto Elias, em 1998, montei
isso sempre carreguei uma câmera comigo,
meu estúdio atual. Mas foi um baque, eu sentia
e isso facilitou muito com essas câmeras sem
muita falta quando vim para cá. O comércio
espelho e compactas de boa qualidade. Adoro
agitava, era um ponto bom na Bias Fortes, todo
andar com elas. Para fazer fotos na rua é ideal.
mundo passava para conversar e comprar.
Também tem muita coisa interessante sendo
Então, os primeiros anos aqui foram duros,
feita em celular, mas tenho preguiça e nunca
mais parado e sozinho.
aderi.
O Foto Elias não chegou ao auge dessa transição, acabou fechando antes. O que aconteceu?
Depois de toda essa trajetória, o que significa ser fotógrafo para você? Aí você me apertou [risos]. Acho que comecei por vontade de fazer um negócio próprio, meu,
Nosso principal problema foi a mudança de
para não ficar só por conta do meu pai. Eu
laboratório grande para minilab. A gente tinha
gostava da fotografia em si e não do comércio.
todo o equipamento pesado, eram máquinas
Gostava do comércio para atender gente,
grandes, caras, e muita gente trabalhando. E
sabia vender câmera porque eu entendia da
quando começou o minilab, que era pequeno e
máquina. Mas comércio puro não tinha muita
fazia cópia na hora, ficou difícil competir.
graça para mim. Gostava mais do laboratório, do estúdio e isso me motivou.
30
maneira. Fotografia é uma ferramenta muito legal para guardar memória. E como gosto muito
Algum filho seu já fotografa?
de memória, acho que também me motivou a mexer com fotografia. Tenho um acervo muito
Sim, minha filha mais velha, Bianca Aun, já é
grande de fotos de família, grande parte do que
fotógrafa e trabalha aqui comigo no estúdio. O
sobrou do meu pai, porque as fotos pessoais
meu filho de catorze anos também já fotografa
dele na época pegaram fogo no arquivo que
direitinho. As fotos de família, aniversários e
ficava no Foto Elias, e o que não queimou os
festas já deixo tudo na mão dele.
bombeiros jogaram água. Então não sobrou muita foto dele, o que tinha era de família que estava guardada em casa. Mas no fim a gente fotografa para quê? Para mostrar, capturar alguma coisa que te interessou, mostrar para alguém que você gosta. Ou trabalho pessoal, que a gente faz para guardar, para registrar o que está te emocionado no final das contas. Tem muita bobagem que é só para você mesmo, que não tem nada a ver, mas tem gente que vai gostar, vai curtir. Tem coisa que faço só para filho ver, para despertar algum interesse. Gosto muito de mostrar fotos para crianças, estou até pensando em fazer um curso para jovens adolescentes, para mostrar o mundo de outra 31
Coletivos Fotografias e Texto ADRIANA GALUPPO
Em Belo Horizonte, o problema da mobilidade
se esquecem, dormem, conversam, silenciam,
urbana tem sido alvo crescente de crítica e
trabalham, comem, perdem a esperança ou
revolta. Dominada por empresas de ônibus
sonham atrás dos vidros sujos, sentados nas
e com um traçado viário ineficiente, a cidade
cadeiras desconfortáveis dos ônibus da cidade.
toma de seus moradores um dos seus bens mais preciosos: o tempo.
Observar de fora a velocidade e a inércia, o movimento e a pausa e registrar as cenas
Quase não há pausa em um movimento
que essas pessoas encenam nesse espaço de
constante de ida e volta que engole a
convivência é o objetivo da fotógrafa, também
subjetividade e dissolve a imagem de seus
usuária do transporte público. A insistência
passageiros. Na condição de dependentes de
na pausa, no tratar de guardar os quadros
um transporte ineficiente e caro, a população
que geralmente, de tão rápidos, nem viram
da cidade se perde entre as mais de 300
memória e, de tão iguais, nem viram quadros.
linhas que seguem traçando, despreocupadas,
Na verdade, trazem cenas singulares, são
desenhos equivocados de uma viagem sem fim.
feitos de pessoas nas suas proximidades e distâncias.
Mas quem esses carros carregam? As indagações que deram origem a esse ensaio
Coletivos que se encontram e se desencontram
são simples. Quem são seus passageiros?
em um ritual diário de obrigação e espera,
O que fazem durante suas viagens? Como
mas que também pode trazer a interrupção
são tratados?
São eles os coletivos que
que perpassa o espaço comum como instante
compartilham o mesmo espaço por horas,
reflexivo na busca pela construção de um outro
diariamente. Se conhecem, se desconhecem,
tempo que não seja o tempo perdido.
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
O índice mórbido: variações sobre a morte fotográfica Texto PAULO ROBERTO DE CARVALHO BARBOSA
1 – Fotografar mortos
no final do século XIX.3 Esse tipo de fotografia fez boa carreira local, dada a alta mortalidade
Certa feita, deparei com uma curiosa foto
infantil da época. E começou a desaparecer
num velho álbum de família. Mostrava a
em meados do século XX, quando entrou em
menina Eneida, primogênita de meus avós,
desuso, passando a ser considerado mórbido.4
morta por difteria em 1920, mal completara um ano. Era um belo retrato, e nada na
Reza o vulgo que o primeiro retrato pós-
imagem indicava tratar-se de um cadáver.1
morte veio a lume a pedido da Rainha Vitória.
Pesquisando o assunto, descobri que meus
Enlutada, a regente britânica teria mandado
avós encomendaram a foto em obediência a um
fotografar um parente recém-falecido, a
costume europeu. Desde os daguerreótipos,2
prática virando moda na Europa depois disso.
usava-se, no velho continente, registrar
Com maior rigor, Rosalind Krauss5 observa
crianças
prática
que as imagens mortuárias se disseminaram a
trazida ao Brasil por fotógrafos imigrantes,
partir de 1860, quando melhoras na tecnologia
precocemente
falecidas,
1 Eu me achava pelo início deste artigo quando soube da perda da foto de Eneida, destruída num gesto primitivo de horror a um objeto tabu. 2 Daguerreótipo: processo fotográfico patenteado em 1837 pelo francês Louis Jacques Mandé Daguerre.
3 Mais sobre a fotografia itinerante em Minas Gerais em O ofício da fotografia em Minas Gerais no século XIX (1845-1900), Arruda, 2013. 4 Sobre as fotos pós-morte, ver Fotografia mortuária: imagens da boa morte Blume, 2013. 5
Rosalind Krauss, O fotográfico, 2013, p. 29. 49
fizeram do retrato um hábito doméstico. Em
se temer a morte, podendo-se até mesmo
suas origens, como quer que seja, a técnica
desejá-la, passagem que era para uma
fotográfica já ensaiava uma aproximação
eternidade bucólica e acolhedora, nunca para
com a morte. Se a fotografia era o “pincel
as profundezas do Hades.7
da natureza”, conforme a nomeou o pioneiro inglês Fox Talbot, nada escaparia às lentes das
Atentos a essas questões, os fotógrafos de
câmeras, nem mesmo a morte, esta fatalidade
mortos buscavam amenizar o choque a que a
biológica, onipresente ao mundo natural.
contemplação de um cadáver pode levar. Seus mortos deviam parecer belos nas imagens,
As raízes estéticas da foto mortuária remontam
numa indicação de que haviam passado para o
ao
especialmente
além hígidos e felizes. Mobilizavam-se, nesses
interessado nas coisas da morte. Entre os
retratos, narrativas respeitosas, fazendo-
românticos, a morte não é mais sinistra ou
se crer que o (a) falecido (a) descrevera uma
terrível, escreve Philippe Ariès. Antes, “É
biografia sem máculas. Bebês e crianças
bela, e o morto é belo” (2013, p. 633),6 diz o
eram particularmente exemplares dessa bela
historiador, que atribui tal atração pelo fim a
morte, sendo em geral envolvidos em panos
uma mudança no modo pelo qual a morte foi
de seda e cobertos com flores para serem
vista no século XIX. Caiu por terra, naquele
registrados solenes, sentados em cadeiras ou
século, a ideia de uma expiação póstera no
deitados em caixões. Era assim que investiam-
inferno: o homem do décimo nono rejeitava a
se da condição de anjos, criaturas breves e
ideia de punições no além-túmulo. Preferia
puras, jamais tisnadas pelo pecado.
romantismo,
período
entender que seus entes queridos tomariam a forma de espíritos no pós-morte, passando
2 – Anjinhos
a habitar uma espécie de limbo cósmico. E se era esse o caso, não havia razões para
O mineiro Juca Pereira atuou como “retratista” na cidade de Porto Real do São Francisco
6 Mais sobre a morte romântica em O homem diante da morte (2013), Ariès. 50
7
Vide nota anterior.
até 1939. Fotografava de maneira itinerante,
Tudo colabora, aqui, para atenuar a ideia
transportando seu maquinário a cavalo em
de extinção física da pequena, cuja postura
visitas avulsas às fazendas da região. Foi
se confunde com a de alguém que dorme.
pródigo em retratar óbitos infantis, e algumas
Assim constituída, a imagem consola, fazendo
de suas imagens mortuárias sobrevivem,
esquecer o real estado de Criseida, vizinho já à
podendo ser vistas no curta-metragem Último
decomposição. Eis uma fotografia em sintonia
retrato (2010).8 Pereira procurava maquiar o
com a simbólica cristã para óbitos infantis
incômodo que os retratos de crianças mortas
naquela época, convicta de que bebês viram-
são capazes de provocar. Esmerava-se em
se em anjos depois de mortos, merecendo
edulcorar suas fotos, valendo-se, para isso, de
ingresso incontinenti no plano celestial.
um procedimento comum à fotografia daquele tempo: colorir as fotos reveladas com uma tinta especial à base de aquarela. Pereira aplicou finas veladuras de cor à foto da menina Criseida de Oliveira Faria (fig.2).9 Na imagem, a pequena aparece sentada numa cadeira de vime, rodeada de flores vermelhas, rosas e amarelas. Também uma viragem sépia recobre a foto de maneira uniforme, emprestando-lhe um timbre cálido.
8 Juca Pereira, ou José Pereira Garcia Leão Filho, nasceu em Porto Real do São Francisco, em 1890. Sua obra encontra-se hoje em fase de catalogação pelo cineasta Abelardo de Carvalho. 9 A causa mortis e a data do falecimento de Criseida são desconhecidas. A família da menina morava na estação ferroviária de Porto Real do São Francisco.
Fig. 1 – Foto pós-morte. Juca Pereira, s/ data.
51
Também o diamantinense Chichico Alkmin (1886-1978)10 prodigalizou-se em retratos de mortos. De 1920 a 1955, manteve um estúdio em Diamantina, onde realizava fotos de variados tipos, revelando dileta preferência pelas fotos de crianças mortas. Seus anjinhos, porém, diferem daqueles da maioria dos fotógrafos da
época,
exibindo
um
extraordinário
refinamento visual. Uma mãe contrafeita e debruçada sobre seu filho natimorto é o que se vê, por exemplo, numa foto de Chichico dos anos 1940 (fig.2). A mater dolorosa sobraça o
Fig. 2 – Foto pós-morte. Chichico Alkmin, s/ data.
pequeno caixão, encarnando pungente Pietà negra. Trata-se de nítida referência ao célebre mármore renascentista, em que Miguel Ângelo
Outra foto de Chichico na mesma linha da
dá forma ao martírio de Maria. Relida pela
anterior mostra menina num caixão, já com
ótica fotográfica, a Pietà de Chichico oferece
o sorriso da morte nos dentes. É velada por
ao espectador moderno um páthos grato e
seus irmãozinhos caracterizados como anjos,
cultivado, fruto da contemplação artística
guardando o corpo putrefato, munidos de
sensível, que sofre e goza com a beleza plástica
vasto aparato floral (fig. 3). Encenam um papel
do mórbido.
para os adultos, que os iniciaram nas alegorias cristãs da pureza. E fazem-no com a contrição real de quem sabe ter perdido um ente próximo e querido. A presença das crianças
10 Filho de proprietários rurais e irmão do político José Maria Alkmin, Chichico foi um dos pioneiros da fotografia de estúdio em Diamantina. Sua obra compõese de quase cinco mil negativos em vidro e constitui um valioso registro da vida diamantinense na primeira metade do século XX. 52
nesta imagem mobiliza sentidos capazes de desviar a atenção do cadáver-mirim para a dinâmica intrafamiliar da morta. É assim
que, socializada, a morte tem a sua carga de
incursão à seca nordestina, e foi na passagem
maldição atenuada, permitindo ao espectador
por uma rodovia cearense que o fotógrafo
incursionar pelo cruel passamento infantil
cruzou com uma família de lavradores rumo
conforme a mediação segura do Sagrado.
a um cemitério rural. Os pais caminhavam para enterrar a filha morta por desnutrição, deixando Salgado acompanhar o cortejo. Também lhe foi autorizado fotografar a menina, que, na imagem, aparece em extremo close-up, de olhos abertos, coroada por uma cruz (fig. 4).
Fig. 3 – Foto pós-morte. Chichico Alkmin, s/ data.
A alegoria do anjo segue usada para enterros
Fig. 4 – S/ título. Sebastião Salgado, 1986.
de crianças na região Nordeste, lá onde a mortalidade de bebês ainda é farta. Vale comparar as imagens de Pereira e Chichico com as do contemporâneo Sebastião Salgado, que perambulou pela América do Sul nos anos 1980, documentando a variedade humana do continente. O roteiro de Salgado incluiu uma
Sem truques ou retoques, a imagem não mascara a verdade do cadáver: há sangue parado
nos
olhos
do
bebê,
indicando
decomposição em marcha. Símbolos religiosos também presentificam-se à foto, embora de maneira residual: são dados de realidade, 53
dizendo do costume popular de se enterrar
Sagrado: destinam-se, antes, a livros, jornais
crianças sem batismo, coroadas e de olhos
e revistas, publicações com as quais mantêm
abertos, para que “encontrem o caminho do
um pacto de laicidade. Estão livres, portanto,
céu”. Assim não fosse, os bebês – inocentes
para veicularem visões críticas da miséria no
das coisas da vida – errariam às cegas pelo
Nordeste, mostrando a religião como parceira
limbo, sem jamais encontrar “a casa do
da indústria da seca, lá onde o misticismo é,
Senhor”, esclarece Salgado sobre a tradição
a uma só vez, lenitivo e motor para os muitos
dos anjinhos nordestinos.11
sofrimentos nordestinos.
Enquanto as fotos de Pereira e Chichico
3 – Moribundos
misturam magia e documento, Salgado cultiva um olho secular: não se curva ao discurso
A prática do retrato pós-morte desapareceu,
místico-religioso e oferece, da menina, um
dissemos, devido à mudança no entendimento
close-up sem vida, precisamente aí, onde
sobre a etapa final humana. Se antigamente
só o que se esperava ver era vida. Estranho
morria-se de maneira aceite e em caráter
prazer escópico perpassa a contemplação
privado, a partir de meados do século XX, a morte
desta imagem: reclama-se e rejeita-se a um
foi banida do cenário doméstico (ARIÈS, 2013).
só tempo o sinistro rosto infantil, prestes
Na atualidade, morrer e adoecer tornaram-se
a baixar à campa. E é talvez porque já nos
um problema de médicos e hospitais, não mais
acostumamos a entender a fotografia como
de famílias e/ou indivíduos. Os alemães Walter
problema que digerimos o horror aí figurado.
Schels e Beate Lakotta12 resolveram desafiar
Ao contrário das fotos pós-morte, as fotos de
esse paradigma e cruzar barreiras invisíveis
Salgado não se endereçam a álbuns de família,
para chegar àqueles que experimentam
contexto em que se embeberiam das tintas do
doenças terminais. Registraram pacientes
11 SALGADO, apud GARCIA, em Severinos e Iracemas: uma leitura do Brasil atual em fotos de Sebastião Salgado e canções de Chico Buarque. 2006, p. 112.
12 Beate Lakotta é alemã e trabalha como redatora da editoria de ciência da revista Spiegel. Walter Schels também é alemão, e trabalha com fotografia desde 1970.
54
cancerosos em grandes close-ups em preto e branco, antes e depois de suas respectivas mortes.
Colheram
também
depoimentos
desses pacientes, transpostos para textos afixados ao lado das fotografias. As fotos de Schels e Lakotta mostram a morte com intimidade, nesta era refratária à ideia de extinção física. E se a mão técnica dos
Fig. 5– Schmitz. Schels e Lakotta, 19/11/2003.
médicos retira algo da dignidade do morrer, tais fotos pretendem devolvê-la aos doentes. As informações textuais colaboram para tanto, recuperando a história dessas pessoas. É assim que se conhecem seus percursos, da doença até a morte. É assim que os moribundos narram a própria morte, vista aqui não como tragédia, mas como cumprimento essencial de uma etapa. Um tal movimento não estaria completo se os fotógrafos não se aproximassem dos pacientes: Schels e Lakotta têm seus modelos como amigos, suas fotos, para eles, funcionam “como uma forma de adeus”. Eis, nestas imagens, um novo tipo de ritual laico, tendo como ponta mais visível
4 – Body farm No polo oposto ao de Schels e Lakotta estão as imagens de Sally Mann,13 que, entre 2000 e 2003, fotografou corpos em observação no Forensic Anthropology Facility, um centro de estudos sobre a decomposição humana, localizado no Tennessee. O ensaio Body farm tem como objeto carcaças humanas deixadas no parque dessa instituição para serem examinadas. Para que se prestem à análise, essas carcaças não podem ter nome ou
frias máscaras de luz e sombra, esculpidas no suporte fotográfico pela compaixão.
13 Sally Mann nasceu em Lexington, Virginia, 1951. É uma das fotógrafas norte-americanas mais inovadoras da atualidade, e seu trabalho divide-se em diferentes ensaios, nos quais aborda temas como a sua própria família, a morte e a vida ao seu redor. 55
história: trata-se, afinal, de peças para uso da ciência, espécimes que chegam ali sem nome ou identidade, condição básica para seu reaproveitamento. Sally se fixa, portanto, nesses corpos anônimos, a fim de mostrar a sua biólise (fig. 6). Interessa menos à fotógrafa uma estetização do horrível do que refletir sobre o fim: seremos assim um dia, parecem dizer as imagens, transitaremos da saponificação à
esqueletização,
sendo
finalmente
reintegrados à natureza, em forma de pó. Restituir essa realidade biológica, eis a proposta de Sally, que se vale do colódio úmido para seus registros. A técnica usa vidro e papel (negativo e positivo, respectivamente) como suporte para as imagens, o que as
Fig. 6– Body farm. Sally Mann, 2000-2001.
submete a acasos fotoquímicos. Esse modo de fotografar colabora para conferir um aspecto imperfeito às imagens, agenciando a noção de passagem do tempo e de deliquescência da carne, num íntimo casamento com a temática do ensaio.
Desritualizadas,
não
encenadas,
desencantadas, as fotos de Body farm não consolam nem aterrorizam: dão a ver, em close-ups e planos gerais, a última fase do homem como um dado do mundo natural. Se estas mortes anônimas e sem história podem afigurar-se menos terríveis que as de um ente querido – não têm personagens conhecidos
56
a animá-las –, não resultam, porém, menos
progressão. A fotografia pode ser vista, nesse
perturbadoras.
com
sentido, como um meio de fazer parar o tempo,
um cadáver, fotográfico ou in natura, não
ainda que provisoriamente: mumifica as coisas,
constitui experiência das mais fáceis: diante
embalsama-as em sua clepsidra de sais de
do “mistério espiritual da morte efetivada”
prata. Especialmente os cadáveres ganham
(LANDSBERG, 2009, p. 24), quer-se encontrar
curiosa revivescência por meio da técnica:
razões que a justifiquem, ainda que esteja ali
são como espectros, emanações derradeiras
um corpo anônimo. É a finitude da vida que
de uma vida que desapareceu. Se a fotografia
se inscreve no cadáver, qualquer cadáver; é
logra enganar o tempo, concedendo uma
o vazio de sentido de nossas existências que
última chance às coisas já mortas, não engana,
transparece, álgido e inelutável, no corpo
porém, a morte. No máximo, negocia com
morto. Angústia, enfim, é o que provocam
ela: ou conjura-lhe os “demônios” por meio
corpos em descenso. E qualquer que seja a
de símbolos e artifícios estéticos, ou retira-
origem dessa angústia, ela é transferida, como
lhe a carga ritual, exibindo-a nua e terrível,
por osmose, ao singular duplo fotográfico z,
destituída de mágica. Em qualquer dos casos,
este estranho fantasma a nos interrogar.
a morte ainda vigia e contempla, do lá de lá da
Defrontar-se,
afinal,
imagem, com um sorriso amarelo nos dentes. 5 – Deterioração
Em qualquer dos casos, assiste, vitoriosa, ao apodrecimento de todos nós.
A fotografia costuma ser entendida como a marca luminosa de um instante. Indica um tempo cristalizado, um átimo infinitesimal que subsiste na imagem, sob a forma de luz impressa. Por sua vez, o tempo é uma grandeza apontando para a deterioração: tudo se desvanece, e mesmo o universo sucumbirá ao avanço do tempo, inclemente em sua
57
REFERÊNCIAS ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. São Paulo: Unesp, 2013. ARRUDA, Rogério Pereira de. O ofício da fotografia em Minas Gerais no século XIX (1845-1900). Belo Horizonte: edição do autor: 2013. DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Editora Papirus, 1993. FREUD, Sigmund. Totem e tabu. São Paulo: Penguin e Companhia das Letras, 2012. FARIA, Alexandre Graça. Severinos e Iracemas: uma leitura do Brasil atual em fotos de Sebastião Salgado e canções de Chico Buarque. Juiz de Fora: Revista Verbo de Minas, 2006. p.103 a 125. KRAUSS, Rosalind. O fotográfico. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2013. LANDSBERG, Paulo Ludwig. Ensaio sobre a experiência da morte. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2009. SANDRO, Blume. Fotografia mortuária: imagens da boa morte, anais do IV Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades, Anpuh. Memória e narrativas nas religiões e nas religiosidades. Revista brasileira de história das religiões. Maringá, v. V, n.15, jan/2013. 58
LISTA DAS IMAGENS Fig. 1 – Criseida Fonte: Acervo do cineasta Abelardo de Carvalho. Fig. 2 – Pietà Fonte: FLANDER, Sousa de e FRANÇA, Verônica Alkmin. O olhar eterno de Chichico Alkmin. Belo Horizonte: Editora B, 2005. Fig. 3 – Querubins Fonte: FLANDER, Sousa de e FRANÇA, Verônica Alkmin. O olhar eterno de Chichico Alkmin. Belo Horizonte: Editora B, 2005. Fig. 4 – Nordeste Fonte: <www.setorvip.com.br/todas-as-terras-desebastiao-salgado-mundo-a-fora> Último acesso em: 10/10/2015. Fig. 5 – Schmitz Fonte: <www.culturainquieta.com/es/fotografia/ item/4449-la-vida-antes-de-la-muerte.html>. Último acesso em: 10/10/2015. Fig. 6 – Body farm Fonte: <http://sallymann.com/selected-works/bodyfarm> Último acesso em: 10/10/2015.
59
60
Diante do invisível Fotografias e Texto HELENA TEIXEIRA RIOS
Este ensaio foi pensado a partir das sensações
e contorcendo-a. Os membros foram somados
e tensões existentes no trabalho de Francis
ou excluídos criando desfigurações com a
Bacon. Através de suas imagens deformadas
intenção de criar imagens “voláteis”, que vão
e desfiguradas por forças não aparentes, ele
se dissipando, mesclando ou desconstruindo
pretende neutralizar a narração, a ilustração
minha face. Movimentos aleatórios foram
e a figuração.
feitos ao observar o tempo de escaneamento da máquina, sem controle sobre o resultado
Bacon dizia que as fotos reduziam a sensação a
final da imagem, causando estes acidentes
um único nível e que só maltratando a imagem
mencionados por Bacon. Posteriormente vou
a sensação poderia surgir. Já a pintura, dizia
adicionando ou subtraindo escolhas, fazendo
ele, cria acasos manipulados, parte-se de uma
cortes, somando camadas de desenhos com
forma figurativa, um diagrama intervém para
intuito de causar sensações.
borrá-la, e dele deve surgir uma forma chamada figura. O essencial do diagrama é que ele é feito
Meu trabalho está inserido neste estado de
para que alguma coisa surja. Seria um tipo de
suspensão. Somos vulneráveis, não temos
pintura estruturada na qual as imagens surgiriam
controle sobre nossa vida,
de um rio de carne, como se elevassem de poças
irá se desintegrar, são estes os modos de
de sangue...*
sensibilidade que organizo.
Neste trabalho, apresento imagens feitas
*Deleuze, Gilles - Francis Bacon Lógica da
utilizando um escaner de mesa. Friccionando
Sensação - Editora Zahar - Ed. 2007
nosso corpo
minha cabeça no vidro do escaner, copiei minha face diversas vezes: esticando-a, amassando-a
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
COLABORADORES
Adriana Galuppo Natural de Belo Horizonte, onde vive atualmente. Formada em filosofia na UFMG, estudou fotografia no International Centre of Photography (ICP) e vídeo na SVA - School of Visual Arts em NY. Biografias imaginárias, memória e a vida e ocupação dos centros urbanos são o foco principal de sua pesquisa. Começou a trabalhar na área, como assistente da fotógrafa Ana Valadares em 1987. Trabalhou como assistente de artistas visuais e fotógrafos em NY, onde morou em 2000, 2003, 2004 e 2005. Entre eles, Frida Baraneck, Waleska Soares, Thomas Smith e Gustavo Campos. Colaborou como freelancer para várias publicações: Piseagrama, Muse, Jornal O Tempo, Correio Brasiliense, O Estado de São Paulo, etc. Atua como fotógrafa em cobertura de eventos culturais e artísticos e fotografia para livros de artistas. Atuou como educadora de fotografia e criação de vídeo no projeto itinerante Images Around the World em NY, Barcelona, Roma e Brasil entre 2009 e 2011. Foi professora de fotografia da Oi Kabum!BH Escola de Arte e Tecnologia entre 2011 e 2014, onde ainda mantém projetos e ações paralelas.
Beto Eterovick Biólogo de formação, mineiro de Belo Horizonte, Beto Eterovick trabalha há 9 anos como fotógrafo publicitário, corporativo e de eventos. Participou de diversas exposições coletivas no estado e mostras de fotografia autorais. É sócio fundador do Coletivo CultivArte, onde trabalha com projetos culturais na área das artes visuais desde 2013. Participou do Festival de Fotografia de Tiradentes nas edições de 2014 e 2015, com instalações e produção de exposições, além de ser o corresponsável pela realização das mostras fotográficas e dos eventos culturais que acontecem no Espaço Cultural Sou Café, no CCBB-BH.
Flávio Valle Doutorando em Comunicação Social na UFMG. Mestre e Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, pela mesma instituição. Professor com experiência em atividades de ensino, pesquisa e extensão nas seguintes áreas: Cultura Visual, Fotografia, Imagem, Narrativa e Jornalismo. Editor e Curador da revista Ensaio Fotográfico. Produtor Cultural com experiência na realização de projetos fotográficos. Colaborador do Núcleo de Estudos Tramas Comunicacionais: Narrativa e Experiência. Membro fundador do Fora das Bordas, coletivo de artes visuais integradas.
72
Helena Teixeira Rios Helena Teixeira Rios graduou-se em Arquitetura e Urbanismo em Belo Horizonte, Minas Gerais. Fez máster na Universidad Politécnica de Catalunia em Barcelona, na Espanha. Em 2012 começou a trabalhar com fotografia, tendo como objetivo a elaboração de ensaios fotográficos. Realizou o Curso Completo de Fotografia na Escola de Imagem, concluindo-o em set/2014, e graduou-se no em Fotografia, Arte e Cultura na Puc Minas em julho/2015. Participou, em jul/2015, da exposição coletiva no Pátio de Convivência do Centro Cultural do Banco do Brasil, intitulada “Cultura e Liberdade”, sob coordenação do professor e fotógrafo Guto Muniz.
Isabel Florêncio Pesquisadora no campo da intermedialidade, fotógrafa e curadora no eixo Brasil/Alemanha. Doutora em Literatura Comparada e Sistemas Semióticos pela Faculdade de Letras/UFMG. Sua tese, intitulada “Figuralidades: da tradução ao poético na fotografia de arte contemporânea”, discute a intermidialidade na fotografia contemporânea e estabelece uma relação comparada entre as estratégias discursivas da fotografia de arte e da literatura a partir da década de 1970. Possui mestrado em Comunicação Social/UFMG e graduação em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes/UFMG.
Paulo Roberto de Carvalho Barbosa Paulo Barbosa é mestre e doutor em Artes Visuais. Autor dos livros “Do truque ao efeito especial: o cinema de Segundo de Chomón” e “O primeiro cinema em cores”, escreve artigos para revistas e publicações diversas. É também professor de História do Cinema, lecionando, ainda, como arte-educador, em escolas públicas de Belo Horizonte.
Tibério França Fotógrafo e professor de Fotografia da Escola Guignard/UEMG. Entre 2003 e 2006 foi curador da Primeira Fotogaleria de Belo Horizonte realizando exposições. Co-fundador do Núcleo Imagem Latente, coordenador do Forum Mineiro de Fotografia Autoral e realizador da Semana da Fotografia de Belo Horizonte. Membro do Colegiado Setorial de Artes Visuais do Ministério da Cultura no período de 2010 a 2013. Atual Presidente Nacional da Associação de Fotógrafos Fototech e Diretor Administrativo da Rede de Produtores Culturais de Fotografia no Brasil.
CultivArte A CultivArte é um coletivo que trabalha com projetos culturais na área das artes visuais. Formado em 2013 pelos fotógrafos Beto Eterovick e Madu Dorella vem atuando na produção de exposições, de publicações, workshops e na organização de eventos ligados à fotografia. A CultivArte participou do Festival de Fotografia de Tiradentes nas edições de 2014 e 2015 com instalações e produção de exposições, além de ser a responsável pela realização das mostras fotográficas e dos eventos culturais que acontecem no Espaço Cultural Sou Café, no CCBB-BH.
Oficina Só Português Fundada por Mariana Clark, psicóloga, mestre em Literatura e licenciada em Letras e Viviana Giannaccari, administradora, especialista em organização de métodos e processos, a Oficina Só Português conta com uma equipe especializada em várias frentes de trabalho relacionadas à língua tais como: aulas, acompanhamento textual, revisão e formatação, tradução e transcrição de áudio em texto. Presta serviços ao comércio, indústria, jornalistas, escolas, publicitários e produtores culturais em todo Brasil. www.OficinaSoPortugues.com.br
Oitenta Mundos Formado pela economista e gestora cultural Manuela Rodrigues e pelo fotógrafo e editor de conteúdo Julio Boaventura Jr, o Oitenta Mundos surgiu em 2013, inspirado pelas palestras e debates do Terceiro Fórum Latino Americano de Fotografia. A partir de então começaram a investigar iniciativas e entrevistar profissionais da produção cultural fotográfica. Também já participaram das equipes de importantes festivais e eventos da área: E.CO/14- Encontro de Coletivos Ibero-americanos (2014), 9º Paraty em Foco (2014), Goa Photo (2015 / Índia), 5º Foco em Pauta Tiradentes (2015), IV Encontro, Pensamento e Reflexão na Fotografia (2015), 10º Paraty em Foco (2015) e 2º San José Foto (2016 / Uruguai).
73
Patrocínio: Produção:
Projeto 123/FPC/2013
Apoio: