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GASTRONOMIA

Bate-papo da esquina: cozinha portuguesa muito além do bacalhau

Érica Rodrigues

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chef Vitor Sobral coleciona esquinas em três continentes. Com restaurantes em Lisboa, Luanda, São Paulo e João Pessoa, o português vem mostrando, com sucesso, a sua forma de ver a cozinha lusitana. E não por acaso, foi na esquina onde tudo começou que nos encontramos. A Tasca de Lisboa, para quem conhece a lial de João Pessoa, parece estranhamente pequena, mas aconchegante. Sentamo-nos numa mesa e a conversa rolou solta. A ideia de abrir a primeira Tasca da Esquina veio depois de muitos anos trabalhando em restaurantes so sticados, quando o chef sentiu a necessidade de ter um lugar onde as pessoas se sentissem em casa. “Eu sou cozinheiro há 31 anos e sempre zemos restaurantes so sticados. Cerca de dez anos pra cá pensamos “não, chega!”, vamos fazer restaurantes em que as pessoas se sintam à vontade. E aí que surge esta casa, que foi a primeira de todas as outras e na verdade todos os conceitos que vieram na seguinte esquina, a ideia era que fossem restaurantes em que as pessoas se sentissem à vontade, que nada os intimidasse, nem a decoração, nem o serviço e nem a cozinha”, conta. E depois chegar com sucesso ao mercado de São Paulo - a Tasca de lá foi eleita o Melhor Português da cidade pelo jornal Folha de São Paulo e as revistas Veja e Prazeres da Mesa – foi a vez de tentar a sorte no Nordeste. A ideia inicial era ir para Recife, e depois de muita procura por um local, foi numa viagem a passeio para João Pessoa, a convite do sócio Pedro Graça, que o chef encantou-se pelo mar da cidade. “A dúvida era se fa-

ríamos em João Pessoa ou em Recife, e eu desempatei porque gostei muito da cidade de João Pessoa”, explica. Porém, abrir espaço no mercado paraibano não tem sido tarefa fácil. A equipe vem tentando se alinhar ao per l do público na cidade, que busca algo diferente do que é apresentado em São Paulo, Lisboa ou Luanda. Uma das características da casa, em Lisboa, são os petiscos, que não foram bem aceitos pelo público da Paraíba. “Hoje as confecções de qualquer das Tascas não têm mais que cinco ou seis preparações, são pratos simples. Em João Pessoa, associa-se muito o nome do restaurante português a bacalhau, e em São Paulo ainda é pior. Mas petiscar, as pessoas não fazem. Temos muito mais camarão no restaurante de João Pessoa do que temos em qualquer outra das Tascas, mas porque o pessoal solicita bastante. Na verdade, aquilo que mais sai na Tasca de João Pessoa é bacalhau, peixe e cordeiro. E petiscar, nada”, conta, entre risos. Com base nessas percepções, a equipe está lançando um novo cardápio, mais alinhado com o per l do público local. “No novo cardápio nós vamos uma vez mais tentar ir ao encontro do gosto do paraibano. Como é lógico, as confecções vão ser com base na matriz da cozinha portuguesa, com base na cozinha que nós já fazemos. Vamos adaptar mais receitas com base nos produtos que mais saem na Tasca da Esquina”, aponta. E com a promessa de novidades à vista, nos resta a curiosidade de provar os novos pratos da casa. Certamente serão deliciosos, como tudo o que o simpático chef de além-mar põe a mão.


VIAGEM

Destino de viagem: a beleza sem igual das Ilhas Maldivas

Érica Rodrigues

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arquipélago das Maldivas é um pequeno país no sul do continente asiático, formado por aproximadamente 1190 ilhas divididas em 26 atóis no Oceano Índico. Dessas, apenas cerca de 200 ilhas são habitadas, mas todas reservam inúmeras belezas naturais de tirar o fôlego. O destino é muito comum para viagens em casal e lua de mel, graças à grande quantidade de resorts que garantem privacidade e tranquilidade aos viajantes. Mas isso não signi ca que os solteiros estão de fora do passeio, vale a pena conhecer este paraíso mesmo se você não estiver acompanhado, mas saiba que as acomodações geralmente são isoladas, com poucas chances de interagir com outros hóspedes. Por outro lado, a maioria dos hotéis conta com uma grande programação de atividades, passeios, mergulhos e spas, para garantir o lazer durante a estadia. De qualquer forma, é difícil car en-

tediado com a vista azul turquesa do Oceano Índico. A capital é Male, e lá é possível encontrar boa infraestrutura para viajar entre os atóis e conhecer ilhas desertas e paradisíacas. Uma grande variedade de esportes náuticos são praticados na região, como surfe e windsurfe, além de experiências inesquecíveis de mergulho, com chance de avistar diversas espécies marinhas incluindo tartarugas, peixes, arraias e tubarões. A má notícia é que o país é um recorde de baixa altitude no mundo, com os pontos mais altos chegando a apenas cerca de 2 metros acima do nível do mar. Graças a isso, esse paraíso corre o risco de desaparecer com o aumento do nível da água, graças ao degelo decorrente do aquecimento global. Ou seja, se você tem interesse em visitar as Ilhas Maldivas, é bom correr para garantir essa viagem o quanto antes!


CINEMA

Crítica: filme Ana e Vitória é um retrato sensível do amor nos tempos de Internet

Érica Rodrigues

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Net ix adicionou ao catálogo o lme Ana e Vitória, livremente inspirado na ascensão meteórica do duo que saiu de Araguaína-TO e ganhou os palcos do Brasil. O longa se vende como uma “comédia romântica musical sobre relacionamentos modernos”, numa tentativa de atrair não só os fãs da dupla, quanto outros espectadores que não as conheçam. De fato, não haveria descrição melhor para essa produção. Ao assistir Ana e Vitória nos deparamos com um retrato leve e sem tabus de como a geração Y vive o amor. Não há mais tanta necessidade de se rotular e os personagens passeiam entre relacionamentos que vem e vão, na velocidade de uma mensagem de Whatsapp. E por falar em tecnologia, ela é tão parte da narrativa do lme quanto das nossas vidas nos dias de hoje. Os smartphones e redes sociais são quase que personagens da comédia, que em vários momentos usa recursos para nos fazer entender como esses artefatos já são partes de nós mesmos. Ana gosta de meninos e meninas, e vive os amores e as decepções intensamente, transformando em música os afetos e sofrimentos. Já Vitória não sabe

muito bem o que quer, mas não desiste de procurar. Na verdade, ela só quer usar uma camisinha antiga que está na carteira e falta um mês para vencer. Mas ambas têm em comum a vontade de encontrar seu rumo, e parecem não ver necessidade de muitas certezas que são tão caras às gerações anteriores. Elas não buscam carteira assinada ou alguém para apresentar aos pais, apenas algo que faça sentido. E assim, passeamos pelas experiências das duas, desde antes do sucesso até quando já estão nos palcos cercadas de fãs. A história traz muitas situações vividas na vida real das artistas, mas grande parte é apenas cção. Porém, se você nasceu entre o m dos anos 1980 e o meio dos anos 1990, certamente se verá em vários momentos do longa. Não seria exagero dizer que a história da carreira do duo é apenas o pano de fundo para uma narrativa sensível e necessária que nos mostra como o amor pode ser vivido sem amarras, complicações e estereótipos. Ana e Vitória é o primeiro lme nacional a conseguir traduzir tão bem, e ao som do folk fo nho da dupla, uma geração que é cunhada em dúvidas, mas que tem a certeza de que quer buscar o próprio caminho.


LITERATURA

O que Jane Austen pode nos ensinar sobre feminismo

Érica Rodrigues

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interessante pensar que há mais de duzentos anos, quando não se fazia ideia do que era feminismo, já existiam mulheres que pensavam fora da caixa. Naquela época, as mulheres eram criadas para arrumar um bom casamento e fazer apenas o que esperavam delas, que se resumia em cuidar da casa, dos lhos e estar sempre bonita. Ser bonita já era algo bem importante, mesmo há tanto tempo atrás. Jane Austen, por outro lado, queria escrever romances, coisa que era considerada “pro ssão de homem”. Mas como publicar um livro sendo mulher, algo impensável naqueles tempos? Ela os publicou anonimamente. E ainda bem que o fez! Em suas obras, ela critica o papel da mulher na sociedade da época, através de protagonistas fortes, que sabem o rumo que querem dar às suas vidas. À primeira vista, podem parecer apenas romances sobre um bando de mulheres a procura de casamento, mas um olhar mais a fundo nos mostra a sutilidade com que ela questiona os padrões impostos em cima das guras femininas. Personagens como Elizabeth Bennet e Emma, profundamente inteligentes e seguras de si, fazem contraste com um cenário quase caricato da busca desesperada, típica da época, por um marido rico.

Ela nos traz protagonistas que não aceitam a forma como as coisas eram feitas, que buscam alguém que amem, independente do dinheiro ou posição social. A questão das classes sociais também é pincelada em alguns momentos das obras, com críticas severas a personagens abastados por sua avareza. Quase sempre os personagens ricos são retratados como esnobes, e a pobreza é considerada quase uma vergonha. Ninguém quer que uma pessoa de linhagem simples entre na família, pois isso era, na maioria das vezes, um escândalo. Outro ponto muito salientado nas obras de Jane Austen é a questão de as mulheres não terem direito de herdar os bens da família, que muitas vezes eram passados para parentes distantes, apenas pelo fato de serem homens. Isso apenas criava ainda mais pressão para fazê-las casar mais rápido com “um bom partido”. Apesar de serem, em primeira camada, livros românticos, é importante pensar que se considerando a realidade da época em que foram escritos, demonstram uma mentalidade à frente do seu tempo. Jane Austen era, mesmo sem saber, uma feminista nata! E ler os seus livros sob essa ótica pode nos trazer grandes ensinamentos sobre como viviam as mulheres do século XVIII.


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