CARTAS na manga N
em tudo parece estar perdido para a ferrovia de Rio Claro. O arquiteto e urbanista rio-clarense, formado pela UNESP de Bauru, Érick Alexandro Tonin, tem um projeto prontinho de reformulação total da estação ferroviária com um detalhe importante: a manutenção dos trilhos e das oficinas. O projeto é rico em minúcias arquitetônicas - que transformariam Rio Claro num exemplo de modernidade para outras cidades - e se contrapõe à ideia do prefeito Du Altimari (PMDB) de forrar a linha com asfalto. A presidente da Câmara, Mônica Hussni (DEM) está interessada em conhecer o trabalho. PÁGINAS 5 a 8
Vista aérea da estação de Rio Claro no projeto proposto pelo arquiteto; no detalhe: Érick Alexandro Tonin
eu + !
CIDADES
Prefeito de Analândia, Luizinho Garbuio presta contas de 2009 no Caderno Especial
Nesta edição de Natal o caderno CIDADES traz os assuntos dos municípios que integram a cobertura do REGIONAL. PÁGINAs 17 a 32
RISCO Moradores do Jardim das Palmeiras, em Rio Claro, estão assustados com a cratera que se abre cada vez mais na Avenida 11 com a Rua 16. Vereador Julinho Lopes (PP) tenta uma solução. Na prefeitura, pelo menos, nenhuma até agora.
SUPLEMENTO ESPECIAL DE NATAL
Saúde consegue verba para informatização PÁGINA 2
fim de semana
PÁGINA 3
Cratera no Palmeiras envolve tubulação de água e perigo para os moradores
Legislativo rio-clarense faz balanço dos trabalhos PÁGINA 32
Um caderno recheado de informações sobre a Cultura de Rio Claro e região com reportagens especiais de Vivian Guilherme e Lourenço Favari é o presente do JORNAL REGIONAL para o fim de semana de nossos leitores. PÁGINAS 9 A 16
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Tempo Sol com aumento de nuvens e pancadas de chuva. Sábado e domingo com chuva.
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Quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
O orgulho rio-clarense Carlos Aguiar
Mais uma vez o JORNAL REGIONAL aborda a questão da ferrovia em Rio Claro. Em meados desse ano, mostramos o trabalho desenvolvido em Jaguariúna pela ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, que transformou aquele trecho da extinta Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em motivo de orgulho e maior atrativo turístico da cidade, com seu impecável museu e autênticas Maria-fumaças. O diretor administrativo da ABPF, Vanderlei Alves da Silva, que há 22 anos atua na guarda da memória ferroviária, classificou Rio Claro como a maior importância histórica nacional. “Rio Claro é uma das maiores referências do Brasil quando se fala em ferrovia – teve a Companhia Paulista – a quinta melhor ferrovia do mundo”. Infelizmente, essa referência parece estar “escorrendo entre os dedos” com o passar dos anos e corre o risco de tornar-se imortal apenas nas bibliotecas e nas mentes dos milhares de descendentes de ex-ferroviários.
ESTAÇÃO
A Estação Ferroviária de Rio Claro, estampada em qualquer elemento de marketing turístico e tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, se parece muito mais com um cenário de filme ou novela, onde apenas a fachada deve ser mostrada. Internamente, o monumental prédio está se esfacelando. As janelas e portas cobertas com tapumes escondem o que está por trás – forro caindo, pisos deteriorados e montes de entulhos empilhados. O mecanismo do relógio centenário, que registrava as partidas pontuais das locomotivas, está há sete anos na casa de um senhor que providenciou a manutenção. O motivo? Não dá
para reinstalar o maquinário na sala porque o cômodo está completamente deteriorado, sendo assim, é mais seguro permanecer sob a guarda de um particular. De acordo com o secretário municipal de turismo, René Neubauer, uma empresa de Rio Claro ofereceu um orçamento de R$ 78 mil para restaurar as portas, janelas, vidraças, piso e forro – valor irrisório para um patrimônio de tamanha envergadura – mas ele não conseguiu tocar o projeto adiante. Da mesma forma, Neubauer disse que existe um projeto de restauração total do prédio, já aprovado pelo Condephaat, da época do governo Claudio de Mauro. Foi encaminhado pedido de recursos ao Ministério do Turismo, mas nada aconteceu. René diz que quer montar um museu ferroviário e tem certeza que consegue reunir material suficiente para isso. O maior acervo ferroviário de Rio Claro, hoje, está sob o domínio de João Greve, que garantiu ceder as peças ao museu, mas, é claro, desde que haja garantia que tudo não vá se perder. “Ele se tornou guardião da ferrovia”, enfatiza René. O único passo conseguido pelo secretário foi a transformação da passagem subterrânea sob os trilhos da Avenida 8 em galeria de arte. Foi inaugurada em junho desse ano e já recebeu diversas exposições. Recentemente, uma museóloga de São Paulo se comprometeu a trazer mostras itinerantes para o local.
TRILHOS
Se perambular pelo patrimônio símbolo da Companhia Paulista é lamentável, andar nos trilhos por trás dos tapumes coloridos da estação é deprimente. Sim, as pessoas interessadas deveriam fazer um turismo “ecológico” no pátio das linhas.
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Tapumes escondem o estado das portas e janelas e o forro das salas está se desintegrando
Milhares de toneladas de ferro estão abandonadas em meio ao mato e sujeira. São centenas de vagões inúteis estacionados. Aliás, nem todos inúteis, já que algum se transformou em moradia. Esse é o cenário da maior referência de Rio Claro para o Brasil. Muitas discussões vêm sendo feitas em torno da ferrovia. Neste momento o destaque fica para a proposta do prefeito Du Altimari, que quer substituir as linhas por asfalto. Existem propostas divergentes e outras que misturam ideias, como a do arquiteto rio-clarense Erick Tonin, que mostraremos adiante. Tire suas conclusões, debata, afinal, o patrimônio é de todos nós.
Por trás dos tapumes da estação o que se enxerga é mato, sujeira e centenas de vagões abandonados
Caminho sem volta O prefeito Du Altimari (PMDB) vem trabalhando intensamente para retirar os trilhos da região urbana de Rio Claro e transformar o leito da ferrovia em uma via expressa, intitulada por ele de “Avenida Novo Tempo”. Ele também afirma que a cidade é dividida, o que compromete o progresso dos bairros “além-linha”, e que isso poderia ser mudado com a abertura de novas avenidas de cruzamento. O maior impasse, entretanto, é remover as oficinas que ocupam a região central e que continuam em operação sob a concessão da ALL – América Latina Logística. A proposta do prefeito é transferir todo o complexo para a região do Jardim Guanabara. Segundo o engenheiro ferroviário aposentado Mauro Lourenço do Prado, essa ideia não é nova. Ele lembra que a área do Guanabara foi adquirida pela Cia. Paulista há muitos anos justamente com esse propósito, mas a mudança nunca foi viabilizada. Altimari diz que são 70 mil metros quadrados de áreas pertencentes ao Estado e mais 150 mil metros quadrados da União referentes ao pátio das oficinas, isso sem contar a área da estação. A toda essa área disponibilizada o prefeito espera dar três destinos: moradias, comércio e lazer. Mas quem vai pagar a conta da transferência? Para o prefeito a matemática é simples: O Governo Federal banca a mudança e depois vende parte da
Prefeito Du Altimari quer a remoção dos trilhos e das oficinas e a ocupação dos espaços com sistema viário, moradias, comércio e lazer
Área das oficinas é o trecho mais conservado do complexo ferroviário de Rio Claro
área para a iniciativa privada, recuperando assim o capital investido e permitindo ao setor privado a expansão imobiliária. De acordo com Du, as negociações entre prefeitura, ALL e Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes) já estão bastante avançadas. O trecho compreendido a partir da Avenida 24, sentido norte, já está passível de ganhar o comodato da União. Outra novidade é que o
pontilhão da Avenida 7 poderá, enfim, ser duplicado, inclusive, contando com investimentos do Shopping Center Rio Claro. O prefeito havia dito que queria aterrá-lo com vistas à construção da via expressa, mas parece que a ALL não permitiu, o que demonstra que as coisas não estão tão claras assim e que o domínio da concessionária é evidente.
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O fim da linha “A ferrovia morreu, essa que é a verdade” “A ferrovia morreu, essa que é a verdade”, disparou Roberto Antonio Leonardo, ex-supervisor de manutenção das oficinas da Fepasa. Ele é diretor e ex-presidente da União dos Ferroviários Aposentados (UFA). Leonardo ingressou no SENAI - que funcionava dentro da oficina da Companhia Paulista - aos 13 anos de idade. Formou-se e só saiu em 1986, depois de mais de 40 anos de dedicação. Ele conhece aquilo como a palma da mão e conta que são barracões metálicos que podem ser transferidos, mas acredita que a mudança é extremamente onerosa. Segundo avalia, o montante que se estimava há certo tempo para a transferência não é suficiente nem para mudar o torno. Ainda de acordo Leonardo, em 1999 havia uma proposta de instalar um trem estático na estação, composto de vagão restaurante, carro pullman e vagões de 1ª e 2ª classes, com o objetivo de exposição e visitação. “Na época eles estavam lá, mas hoje não se sabe mais onde foram parar”, comenta. Já o engenheiro Mauro Lourenço do Prato, também do grupo diretor da UFA, considera que “se for pelo lado sentimental não deve ser mudado, pelo lado do progresso, sim”. No entendimento de Mauro, o importante é manter contato com a empresa ALL para saber das necessidades. Ele diz que houve um tempo em que se planejava fechar as oficinas de Jundiaí para transferir tudo para Rio Claro. “Tem que ter firmeza de propósito e planejamen-
to”, enfatiza. Para Mauro, se tiver que fazer o momento é agora, por conta da afinidade da vice-prefeita Olga Salomão (PT) com o Governo Federal. “Brasília abriu as portas, mas a eleição é o ano que vem”. O diretor Luiz Fernando Bicudo é mais cético – acha que nada vai acontecer. “Onde entra política nada acontece; em Jaguariúna deu certo porque um grupo de ferroviários e uma ONG pegaram; na política cada um pensa de um jeito”, analisa. Para Bicudo as coisas são muito confusas e as conversas contraditórias.
UFA
A União dos Ferroviários Aposentados possui 6.348 associados em todo o Estado de São Paulo. Só em Rio Claro a entidade tem cerca de 4.000 associados e considerando as esposas, que são associadas naturais, esse número se eleva para 7.000 pessoas. No coração de Rio Claro, a UFA conta com amplo prédio administrativo e um moderno e completo ambulatório, onde atendem 18 médicos e três dentistas, além de outros profissionais. No próximo dia 4 de janeiro a agremiação inaugura também uma farmácia – a “FARMAUFA” – que vai atender também o cidadão não associado. Atualmente, a UFA é presidida por José Otavio Sanches Varella. A diretoria é composta por oito diretores – cinco remanescentes das oficinas da Fepasa e três do sistema de tráfego. Tudo isso mostra a força ferroviária da cidade no contexto nacional.
Gilberto Antonio Leonardo, Norival Santos Volpato, José Otavio Sanches Varella e Mauro Lourenço do Prado
CAPA Quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
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Arquiteto apresenta proposta diferenciada EXCLUSIVO O arquiteto rio-clarense Érick Alexandro Tonin (26) decidiu escolher sua cidade natal para produzir seu Trabalho Final de Graduação (TFG), quando se formou arquiteto e urbanista pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Bauru, em 2007. Com o projeto intitulado “Requalificação e diretriz – Intervenções para a cidade de Rio Claro”, o jovem apresenta alternativas para o transporte público, com destaque para uma nova proposta de utilização do complexo ferroviário, incluindo a estação. O trabalho foi mostrado ao prefeito Nevoeiro Júnior, em 2008, que, segundo diz, lamentou o fato de não ter tido conhecimento anteriormente. Para elaboração do documento, Érick fez levantamento fotográfico de todas as áreas da ferrovia, incluindo os “vazios urbanos”, que de acordo com o constatado, hoje são ocupadas por moradores com hortas e outras formas de utilização. O estudo levou em conta também o fluxo de pessoas – de onde saem e para onde se dirigem, a utilização das bicicletas e ônibus e outros atributos que compõem o transporte público do município. Erick propõe um sistema cicloviário detalhado para toda a cidade. O trabalho dedica todo um capítulo exclusivo para a ciclovia. Seu plano é baseado numa pesquisadora de Fortaleza, que editou um caderno de orientações básicas para implantação de ciclovias em qualquer cidade brasileira. Uma das alternativas é a implantação de ciclofaixas com horários pré-estabelecidos para as bicicletas, assim como as faixas exclusivas de ônibus nos grandes centros. “A questão de priorizar este ou aquele transporte público é uma opção – é meio que obrigar a pessoa a se adequar”, considera.
Área interna da estação projetada, com bicicletários e áreas de lazer
TRILHOS E VAZIOS URBANOS
A ESTAÇÃO
do também interligação dos dois lados da cidade. Haveria praças de uso público com bicicletários. A proposta é que o usuário deixasse a bicicleta e utilizasse o comércio ou qualquer outro fim. Haveria ainda uma grande praça de alimentação. “O objetivo é trazer as pessoas para dentro da estação”.
Um trilho seria mantido para interligar as oficinas, conservando-as como forma de manutenção da história e cultura. Haveria um bloco de passagem para pedestres sobre a ferrovia com três formas de acesso – escada rolante, elevador e escada fixa. A ideia é criar acessibilidade para qualquer pessoa – deficiente permanente ou temporário, deficiente visual etc. “Reciclando a estação ou trazendo a pessoa para dentro ela criaria vida, já que teria mais uso; eu crio mais espaços de eventos, de comércio e serviços; tem muito no centro, porque não dentro da estação também?”, pondera. O trabalho também prevê a readequação de praças, a manu-
“Mexeram na estação, mas ela continua sem utilização; apenas alteraram a fachada, recuaram o muro e criaram uma pseudoparada de ônibus, que a princípio resolve, mas ao longo do tempo não vai mais suprir a demanda – você não vai afastar o muro ali da estação”, vaticina Érick. “Rio Claro continua sem opção para uma integração mais completa de transporte público, como centrais de ônibus na periferia, fazendo com que as pessoas fossem menos para o centro”, acrescenta. Em seu projeto, o terminal vai para den- Terminal de ônibus seria transferido para dentro da estação, com prioridade tro da estação, fazen- para o pedestre
tenção da secretaria de turismo e no fundo um centro de eventos. “A ideia não é utilizar apenas parte, mas a estação como um todo” diz. Outro detalhe é que ela seria autossustentável – a cobertura teria formato côncavo para coleta e reuso da água, além de placas fotovoltaicas.
No projeto são mais privilegiados os pedestres. Dessa forma, os passeios públicos estariam nivelados e os corredores de ônibus seriam rebaixados para que seu degrau tivesse a altura das plataformas. Também teriam guarda-corpos
para segurança das pessoas. Algo que Erick deixa claro é a diferença entre o novo e o velho, ou seja, o que era original seria mantido e o novo totalmente novo como forma de contraste entre os conjuntos arquitetônicos.
Modelo de vagões-comerciais agrupados criando uma praça de alimentação e lazer
até os bairros, onde permaneceriam estáticos. Não necessariamente um só, mas compor módulos com dois ou mais blocos. “As possibilidades são infinitas, até questões comerciais e de prestação de serviços”, salienta.
acabar com a segmentação da cidade. Tonin entende que o projeto proposto ainda é possível, embora tenha havido intervenção na estação. “Se houver interesse, qualquer coisa é possível”, conclui.
O escopo do plano de ação de Tonin é a criação de uma “Avenida Parque”. A linha seria mantida e, paralelo, criada uma via. Os vazios urbanos do entorno seriam utilizados pela Avenida Parque. A ideia é implantar dispositivos de lazer e envolvimento comunitário nos bairros. Com a instalação desses dispositivos as pessoas, provavelmente, reduziriam o fluxo da periferia para o centro. Centenas de vagões estão abandonados no pátio sem utilização. A sugestão é reciclá-los e levá-los para Perspectiva interna com detalhe para a nova cobertura do terminal esses espaços públicos. Os conjuntos teriam árUma das Érick Alexandro Tovores no entorno como forma opções para os vagões seria nin é filho de José Carlos de resfriar o ambiente, já que moldá-los para utilizações Tonin e de Maria de Fáos vagões são em chapa. diversas – uma praça, um tima Ceccato Tonin. Seu Outra sugestão, e que palco, uma base policial, TFG teve como orientavem de encontro à queixa um dispositivo de entretenidora a Professora Silvana do prefeito Du Altimari, é mento. Eles seriam mantidos Aparecida Alves. abrir novas travessias para sobre os trilhos e levados
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O fim da linha “A ferrovia morreu, essa que é a verdade” “A ferrovia morreu, essa que é a verdade”, disparou Roberto Antonio Leonardo, ex-supervisor de manutenção das oficinas da Fepasa. Ele é diretor e ex-presidente da União dos Ferroviários Aposentados (UFA). Leonardo ingressou no SENAI - que funcionava dentro da oficina da Companhia Paulista - aos 13 anos de idade. Formou-se e só saiu em 1986, depois de mais de 40 anos de dedicação. Ele conhece aquilo como a palma da mão e conta que são barracões metálicos que podem ser transferidos, mas acredita que a mudança é extremamente onerosa. Segundo avalia, o montante que se estimava há certo tempo para a transferência não é suficiente nem para mudar o torno. Ainda de acordo Leonardo, em 1999 havia uma proposta de instalar um trem estático na estação, composto de vagão restaurante, carro pullman e vagões de 1ª e 2ª classes, com o objetivo de exposição e visitação. “Na época eles estavam lá, mas hoje não se sabe mais onde foram parar”, comenta. Já o engenheiro Mauro Lourenço do Prato, também do grupo diretor da UFA, considera que “se for pelo lado sentimental não deve ser mudado, pelo lado do progresso, sim”. No entendimento de Mauro, o importante é manter contato com a empresa ALL para saber das necessidades. Ele diz que houve um tempo em que se planejava fechar as oficinas de Jundiaí para transferir tudo para Rio Claro. “Tem que ter firmeza de propósito e planejamen-
to”, enfatiza. Para Mauro, se tiver que fazer o momento é agora, por conta da afinidade da vice-prefeita Olga Salomão (PT) com o Governo Federal. “Brasília abriu as portas, mas a eleição é o ano que vem”. O diretor Luiz Fernando Bicudo é mais cético – acha que nada vai acontecer. “Onde entra política nada acontece; em Jaguariúna deu certo porque um grupo de ferroviários e uma ONG pegaram; na política cada um pensa de um jeito”, analisa. Para Bicudo as coisas são muito confusas e as conversas contraditórias.
UFA
A União dos Ferroviários Aposentados possui 6.348 associados em todo o Estado de São Paulo. Só em Rio Claro a entidade tem cerca de 4.000 associados e considerando as esposas, que são associadas naturais, esse número se eleva para 7.000 pessoas. No coração de Rio Claro, a UFA conta com amplo prédio administrativo e um moderno e completo ambulatório, onde atendem 18 médicos e três dentistas, além de outros profissionais. No próximo dia 4 de janeiro a agremiação inaugura também uma farmácia – a “FARMAUFA” – que vai atender também o cidadão não associado. Atualmente, a UFA é presidida por José Otavio Sanches Varella. A diretoria é composta por oito diretores – cinco remanescentes das oficinas da Fepasa e três do sistema de tráfego. Tudo isso mostra a força ferroviária da cidade no contexto nacional.
Gilberto Antonio Leonardo, Norival Santos Volpato, José Otavio Sanches Varella e Mauro Lourenço do Prado
CAPA Quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
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Arquiteto apresenta proposta diferenciada EXCLUSIVO O arquiteto rio-clarense Érick Alexandro Tonin (26) decidiu escolher sua cidade natal para produzir seu Trabalho Final de Graduação (TFG), quando se formou arquiteto e urbanista pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Bauru, em 2007. Com o projeto intitulado “Requalificação e diretriz – Intervenções para a cidade de Rio Claro”, o jovem apresenta alternativas para o transporte público, com destaque para uma nova proposta de utilização do complexo ferroviário, incluindo a estação. O trabalho foi mostrado ao prefeito Nevoeiro Júnior, em 2008, que, segundo diz, lamentou o fato de não ter tido conhecimento anteriormente. Para elaboração do documento, Érick fez levantamento fotográfico de todas as áreas da ferrovia, incluindo os “vazios urbanos”, que de acordo com o constatado, hoje são ocupadas por moradores com hortas e outras formas de utilização. O estudo levou em conta também o fluxo de pessoas – de onde saem e para onde se dirigem, a utilização das bicicletas e ônibus e outros atributos que compõem o transporte público do município. Erick propõe um sistema cicloviário detalhado para toda a cidade. O trabalho dedica todo um capítulo exclusivo para a ciclovia. Seu plano é baseado numa pesquisadora de Fortaleza, que editou um caderno de orientações básicas para implantação de ciclovias em qualquer cidade brasileira. Uma das alternativas é a implantação de ciclofaixas com horários pré-estabelecidos para as bicicletas, assim como as faixas exclusivas de ônibus nos grandes centros. “A questão de priorizar este ou aquele transporte público é uma opção – é meio que obrigar a pessoa a se adequar”, considera.
Área interna da estação projetada, com bicicletários e áreas de lazer
TRILHOS E VAZIOS URBANOS
A ESTAÇÃO
do também interligação dos dois lados da cidade. Haveria praças de uso público com bicicletários. A proposta é que o usuário deixasse a bicicleta e utilizasse o comércio ou qualquer outro fim. Haveria ainda uma grande praça de alimentação. “O objetivo é trazer as pessoas para dentro da estação”.
Um trilho seria mantido para interligar as oficinas, conservando-as como forma de manutenção da história e cultura. Haveria um bloco de passagem para pedestres sobre a ferrovia com três formas de acesso – escada rolante, elevador e escada fixa. A ideia é criar acessibilidade para qualquer pessoa – deficiente permanente ou temporário, deficiente visual etc. “Reciclando a estação ou trazendo a pessoa para dentro ela criaria vida, já que teria mais uso; eu crio mais espaços de eventos, de comércio e serviços; tem muito no centro, porque não dentro da estação também?”, pondera. O trabalho também prevê a readequação de praças, a manu-
“Mexeram na estação, mas ela continua sem utilização; apenas alteraram a fachada, recuaram o muro e criaram uma pseudoparada de ônibus, que a princípio resolve, mas ao longo do tempo não vai mais suprir a demanda – você não vai afastar o muro ali da estação”, vaticina Érick. “Rio Claro continua sem opção para uma integração mais completa de transporte público, como centrais de ônibus na periferia, fazendo com que as pessoas fossem menos para o centro”, acrescenta. Em seu projeto, o terminal vai para den- Terminal de ônibus seria transferido para dentro da estação, com prioridade tro da estação, fazen- para o pedestre
tenção da secretaria de turismo e no fundo um centro de eventos. “A ideia não é utilizar apenas parte, mas a estação como um todo” diz. Outro detalhe é que ela seria autossustentável – a cobertura teria formato côncavo para coleta e reuso da água, além de placas fotovoltaicas.
No projeto são mais privilegiados os pedestres. Dessa forma, os passeios públicos estariam nivelados e os corredores de ônibus seriam rebaixados para que seu degrau tivesse a altura das plataformas. Também teriam guarda-corpos
para segurança das pessoas. Algo que Erick deixa claro é a diferença entre o novo e o velho, ou seja, o que era original seria mantido e o novo totalmente novo como forma de contraste entre os conjuntos arquitetônicos.
Modelo de vagões-comerciais agrupados criando uma praça de alimentação e lazer
até os bairros, onde permaneceriam estáticos. Não necessariamente um só, mas compor módulos com dois ou mais blocos. “As possibilidades são infinitas, até questões comerciais e de prestação de serviços”, salienta.
acabar com a segmentação da cidade. Tonin entende que o projeto proposto ainda é possível, embora tenha havido intervenção na estação. “Se houver interesse, qualquer coisa é possível”, conclui.
O escopo do plano de ação de Tonin é a criação de uma “Avenida Parque”. A linha seria mantida e, paralelo, criada uma via. Os vazios urbanos do entorno seriam utilizados pela Avenida Parque. A ideia é implantar dispositivos de lazer e envolvimento comunitário nos bairros. Com a instalação desses dispositivos as pessoas, provavelmente, reduziriam o fluxo da periferia para o centro. Centenas de vagões estão abandonados no pátio sem utilização. A sugestão é reciclá-los e levá-los para Perspectiva interna com detalhe para a nova cobertura do terminal esses espaços públicos. Os conjuntos teriam árUma das Érick Alexandro Tovores no entorno como forma opções para os vagões seria nin é filho de José Carlos de resfriar o ambiente, já que moldá-los para utilizações Tonin e de Maria de Fáos vagões são em chapa. diversas – uma praça, um tima Ceccato Tonin. Seu Outra sugestão, e que palco, uma base policial, TFG teve como orientavem de encontro à queixa um dispositivo de entretenidora a Professora Silvana do prefeito Du Altimari, é mento. Eles seriam mantidos Aparecida Alves. abrir novas travessias para sobre os trilhos e levados