Senac-SP Pós-graduação em Tipografia
Conhecimento e criatividade Type Design I – Harmonia e Experimentação Prof. Leopoldo Leal
Érico Carneiro Lebedenco 2014.01
Conhecimento e criatividade
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A personalidade de um indivíduo e sua capacidade de desenvolvimento intelectual criativo se formam nos primeiros anos de vida. Segundo pesquisadores, incluindo o pesquisador e designer Bruno Munari, permanecerá assim durante toda a sua vida. Esse indivíduo se tornará uma pessoa criativa ou apenas um repetidor de códigos dependendo dos educadores presentes nos seus primeiros anos. O raciocínio criativo é um diferencial em várias áreas de atuação, sejam artísticas, burocráticas, amadoras ou profissionais. Não são apenas as pessoas ligadas as artes que se beneficiam da criatividade como ferramenta. Até mesmo profissionais em setores como o direito e a administração podem se beneficiar do uso do raciocínio criativo para chegarem a soluções práticas, dinâmicas ou inusitadas, de acordo com as limitações impostas. A criatividade existe em conjunto com outras faculdades mentais relacionadas a fantasia. Segundo Munari, as atividades da fantasia, da invenção e da criatividade se processam muitas
vezes em simultâneo com a imaginação. A fantasia é a faculdade mais livre de todas tendo a independência da viabilidade daquilo que se pensou. É possível fantasiar coisas absurdas, incríveis ou impossíveis. A invenção faz uso de uma técnica similar a da fantasia, relacionando informações que se conhece, mas com o objetivo de utilização prática. A relação entre essas faculdades pode ser simplificada da seguinte maneira: a imaginação começa a tomar forma, o indivíduo consegue “ver” em sua mente a coisa imaginada; a criatividade pode pensar em alguma utilização adequada para ele; e a invenção pode pensar em uma forma de produzir essa coisa, torná-la tangível de alguma maneira. O problema central do desenvolvimento da fantasia, e consequentemente da criatividade e também da imaginação, é a necessidade de aumento do conhecimento. Quanto maior a capacidade de relacionar informações conhecidas, maior será o poder de fantasia. Segundo Donald A. Norman, especialista em ciência cognitiva, existem dois tipos básicos de conhecimento: o conhecimento no mundo e o conhecimento na cabeça. Quando necessário, o conhecimento adequado para determinada tarefa pode se tornar acessível de quatro formas a partir do conhecimento impreciso existente no mundo. Pode ser o conhecimento
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como o conjunto de informações disponíveis para consulta, para se realizar uma determinada tarefa, combinando com informações presentes na memória (na cabeça). Quando não se requer grande precisão, então o conhecimento adquirido descreve as informações o suficiente para que se distinga a escolha correta entre as outras. As limitações naturais presentes podem definir as possibilidades de relacionamento ou operação com o objeto em questão. Além dessas limitações naturais físicas, existem restrições culturais desenvolvidas na sociedade na qual o indivíduo se insere, que podem restringir suas escolhas. Em virtude dessas restrições naturais e artificiais, o número de opções para qualquer situação é reduzido, como são o volume e o conhecimento específico exigido da memória. Sempre que as informações estão facilmente disponíveis no mundo, nossa necessidade de aprendê-las diminui. Logo, a codificação interna na memória passa a ser apenas o suficiente para que se sustente a meta desejada. Por isso, que algumas pessoas trabalham muito bem em seus ambientes mas são incapazes de descrever o que fazem. O conhecimento na cabeça é a memória do indivíduo. A memória humana é o conhecimento interno adquirido com o tempo e a experiência. O uso e a recuperação de informações da memória se dá de três formas. A memória para coisas arbitrárias (modo que se aprende decorando rotinas), a memória para
relacionamentos significativos (forma de aprendizado por associação de ideias e interpretações do objeto/ uso/situação com outros elementos já conhecidos) e a memória por meio de explicação (uma aprendizagem mais lenta que envolve dedução de modelos mentais apropriados para a meta desejada). De certo modo o conhecimento no mundo também é memória, porém esse conhecimento é limitado. Caso se perca contato com o ponto chave da informação, se estiver em outro lugar ou o mundo ao redor for alterado, o conhecimento se perde. Citando Munari em seu livro Fantasia “o conhecimento dá ao indivíduo um domínio completo do meio, pelo que se exprimirá com clareza, com coerência entre o meio e a mensagem”. E ainda “não o memorizamos e, portanto, não podemos reconhecê-lo”. Ou seja, o conhecimento não absorvido se torna uma dificuldade para as faculdades mentais da fantasia, criatividade e imaginação cruzarem informações em busca de uma solução ou ideia que fuja das convenções praticadas de forma rotineira. Bruno Munari propõe o desenho, a pintura, a escultura, a modelística, o cinema, entre outros, como meios substitutivos da imaginação. A imaginação não é necessariamente criadora, mas pode ser incentivada por alguns exercícios de experimentação em comunicação visual.
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Primeiramente, conhecer bem o instrumento que se utiliza, de modo que se conheça todas as possibilidades de uso. Fazer compreender a técnica correta para o instrumento selecionado. Não se deve estabelecer objetivos antes de se conhecer todos os resultados. As experimentações se desenvolvem por meio prático, provocando reações e deve-se analisar os resultados. Após o processo, destruir tudo e voltar a fazer, para manter uma constante atualização e não mistificar o trabalho. O objetivo principal é conservar o método projetual, a experiência modificável, sempre pronta para voltar a produzir de acordo com os problemas que se apresentam. As possíveis variações são pessoais e infinitas. Cheias de significado e memorizadas pela experiência, se tornam intrínsecas ao indivíduo. Passam a fazer parte do conhecimento interno presente na memória, permitindo maiores conexões de informações possíveis para as faculdades mentais criativas.
Bibliografia
MUNARI, Bruno. Fantasia. Lisboa: Editorial Presença, 1987. NORMAN, Donald A. O design do dia-a-dia. Tradução de Ana Deiró. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.