PARQUE ESTAÇÃO:
entre percursos e conexões
TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO I ÉRIKA MIWA OKUSHIGUE GHISOLFI
INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - IAU-USP SÁO CARLOS, 2015
PROBLEMÁTICA DO TGI
Como reintegrar espaços de interesse patrimonial atualmente abandonados à cidade contemporânea considerando os edifícios neles existentes, potencializando e articulando-os entre si e com o entorno?
Pierre Nora, em seu texto “Entre a Memória e a História: A problemática dos lugares” evidencia uma das questões mais importantes da sociedade em que vivemos. Em nossa realidade contemporânea marcada pelo consumo de massa e profusão de imagens, facilmente perdemos o referencial ou sofremos da sensação de esgotamento das novidades. Essas inquietações, fazem com que nós busquemos no passado referências de uma vivência que já não nos é mais possível. Nesse sentido, o autor afirma que a memória foi colonizada pela história, ou seja longe de preservar o sentido das edificações históricas e a memória dos lugares como espaços de vivências, somos inundados por discursos que prometem a preservação do patrimônio e da cultura, porém de uma forma mercadológica, criando falsas vivências afim de promover-se o comércio ou o turismo dos centros históricos e edifícios patrimoniais. Neste contexto, a minha principal questão do pré-tgi era como problematizar a preservação do patrimônio histórico na realidade contemporânea sem recorrer a um discurso de revitalização do passado, mas pensando em como potencializar os edifícios patrimoniais garantindo sua integração a realidade contemporânea e a sua preservação no futuro.
CAMPINAS Uma das questões mais importantes relacionadas a preservação patrimonial é o entendimento de que o bem patrimonial transcede o edifício tombado, abrangendo o lugar onde este foi construído e o conjunto de relações e apropriações neles estabelecidos, ou seja o conjunto de vivências que agregam valor simbólico ao material, dando origem ao que entendemos por memória. A cidade como um todo pode ser vista como um bem de interesse cultural, portanto um bem patrimonial. São nos espaços da cidade que se criam as vivências, as relações e as trocas entre as pessoas. É através da vivência e apropriação desses espaços que se consolidam os lugares e assim a cultura da população se desenvolve. Nessa perspectiva, a questão colocada acerca da preservação do imoveis patrimoniais aparentemente abandonados ou esquecidos nas cidades contemporâneas se relaciona ao entendimento de como estas cidades se desenvolveram e se consolidaram. Quais ações ou transformações urbanas resultaram no esquecimento dos espaços percebidos hoje como de interesse histórico ou levaram a formação de vazios urbanos. A cidade de Campinas é uma das maiores cidades do estado de São Paulo, sendo pólo de interesses econômicos e sociais e movimentando a troca de pessoas e mercadorias entre as demais cidades da Região Metropolitana que leva seu nome. Com mais de 1 bilhão e 150 milhões de habitantes, possui mais de 240 anos de história desde sua fundação. Parte de sua formação geográfica e populacioanal, assim como de muitas cidades da RMC se deveu a chegada da companhias de ferro Paulista e Mogiana. Principalmente em seu centro velho abriga centenas de edifícios tombados, muitos dos quais construídos devido ao enriquecimento proporcionado pela chegada da estrada de ferro. No entanto, as relações urbanas e socio-econômicas que nela se desemvolveram foram marcadas pela segregação social e espacial, construindo uma cidade que carece de espaços públicos de qualidade principalmente para a população de baixa renda.
A área escolhida para intervenção foi o antigo complexo ferroviário da FEPASA de campinas. Por sua constituição, a área se mostra ideal para abordar as questões do TGI. Trata-se de um terreno com galpões históricos abandonados em meio a três configurações urbanas completamente distintas nas cidade: o centro marcado pela segregação e exclusão social, a Vila Industrial caracterizada por suas edificações antigas e vielas e a área entre os Terminais Multimodal e Central, de intenso tráfego urbano que se apresenta como uma barreira isolando á área.
ÁREA DE INTERVENÇÃO
ESTAÇÃO CULTURA prefeito antônio da costa santos
A antiga Estação Ferroviária da Fepasa foi inaugurada em 1872, sendo tombada como bem histórico e cultural em 1982. Com a construção do Terminal Multimodal Ramos de Azevedo e do Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira ao lado do complexo ferroviário em 2001, a linha de trem foi desativada para transporte de passageiros. Atualmente o trem transporta materiais de construção. O edifício sede da estação funciona hoje como edifício cultural promovendo shows, exposições e eventos e sediando o condepacc, orgão de preservação dos bens patrimoniais da cidade de campinas. Apesar de a maior parte do complexo ferroviário se encontrar em estado precário ou abandonado pela prefeitura municipal, a Estação Cultura é bastante frequentada e mantem suas atividades culturais em pleno funcionamento em parte pelo apoio da comunidade campineira através de redes sociais, tornando-se, assim, um centro de convivência para a população local e estimulando a diversidade de grupos (teatro, dança, músicos, afro-descendentes, entre outros), ao menos no meio artístico.
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1 - Terminal Urbano Central 2 - Avenida 20 de Novembro 3 - Terminal Multimodal Ramos de Azevedo
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4- Embaixo do viaduto da Av. Jo茫o Jorge 5 - Ao lado da RENOVA 6- Galp贸es utilizados pela RENOVA, empresa que faz a limpeza urbana da cidade
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7 - Vista da área onde ficam os trilhos não utilizados 8 - Vista da parte de trás da 4º Delegacia Militar 9 - Vista da parte de trás da 4º Delegacia Militar outro ângulo
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10 - Vista do relógio 11 - Barracão de Ensaios 12 - Barracão de Ensaios - Sala de Ginástica
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13 - Estação Cultura 14 - Vagão restaurante 15 - Cabine de maquetes
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16 - Casas da Vila Ferroviária na Rua Francisco Teodoro 17 -Entrada externa da Orquestra Sinfônica e passagem subterrânea
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19 - Vista do Galp達o de Eventos utilizado como estacionamento 20 - Frente do Galp達o de Eventos 21 - Lado do Galp達o de Eventos
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22 - Segundo Galpão de Eventos utilizadp como depósito de veículos e sucata 23 - Lado do Galpão 24 - Interior do Galpão
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25 - Vista dos Galp천es 26 - Barrac찾o de cimento abandonado 27 - Fachada do Barrac찾o de cimento na rua do terminal
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28 - Foto antiga da Oficina de Locomotivas 29 - Frente da Oficina 30 - Rotunda - Oficina de Pintura de Vag천es
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31 - Galp천es e Terminal Multimodal 32 - Vista da passarela do terminal 33 - Terminal Metropolitano
EDIFÍCIOS TOMBADOS TOMBADOS CONSIDERA-SE TOMBAR JÁ FORAM OU SERÃO DEMOLIDOS
ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS EDIFÍCIOS PÉSSIMO REGULAR BOM
LEVANTAMENTO DO COMPLEXO
A maior parte dos edifícios do antigo complexo ferroviário, apesar de tombados, encontram-se em estado de conservação precário ou abandonado, o que denota o descaso da prefeitura para com o local. Estes edifícios são utilizados como depósitos de material de reciclagem, sucata e veículos apreendidos, estacionamento ou estão sem uso. Os edifícios que encontram-se em bom estado de conservação, todos próximos a Estação Cultura, foram revitalizados para abrigar equipamentos culturais. Estes são os únicos edifícios frequentados pela população local: A Estação Cultura, onde ocorrem eventos, exposições, feiras livres, shows e apresentações; o Barracão de Lemos que abriga a Orquestra Sinfônica campineira e o Barração de ensaios utilizado para ensaios de teatro, dança e ginástica olímpica. Próximos a esses edifícios existem anexos que abrigam a Funap, ceprocamp e o condepacc, sendo construções novas sem aparente valor histórico. O outro único edifício tombado em uso abriga a 4º delegacia militar de campinas. A excessão dos anexos espalhados pelo terreno, todos os edifícios conservados tem entradas próximas as ruas, não havendo uma interação ou conexão entre eles. Assim, apesar de frequentarem esses edifícios as pessoas não costumam andar dentro do complexo ferroviário, apenas atravessando-o quando querem ir de um bairro à outro, visto que o espaço está desqualificado e abandonado.
PERCURSO DIRETO
TERMINAIS
PASSAGEM COBERTA
EDIFÍCIO PASSAGEM
EDIFÍCIOS
PASSAGEM SUBTERRÂNEA
LINHA DO TREM
PROPOSTA DE PROJETO A ideia principal de projeto parte do questionamento das necessidades da área de intervenção. Considerando-se a localização do antigo complexo ferroviário próximo ao centro de campinas, local de intenso tráfego urbano e fluxo de pessoas, propõe-se a criação de uma ligação entre os Terminais Urbano e Rodoviário/Metropolitano da Cidade por dentro da área de intervenção. Pretende-se que este percurso ofereça uma passagem segura que prioriza o pedestre e promove maior integração deste com os edifícios patrimoniais do complexo. Este percurso direto será permeado por um parque linear composto por sistema secundário de percursos e praças que promovem a experienciação de espacialiades diversas. Entende-se que a criação de paisagens diversas possa estimular a permanência das pessoas nesse ambiente, tornando-o convidaditivo e permitindo-se, assim, a apropriação do espaço. Dessa forma, o parque irá beneficiar não apenas a populaçãolocal proveniente dos bairros próximos, Vila Ferroviária e Vila Industrial, como também o público que necessita percorrer a distância entre os dois terminais.
PRIMEIROS ESTUDOS DE CONEXÕES, PERCURSOS E PONTOS DE VISIBILIDADE
Em princípio foram traçadas linhas de força que dessem continuidade a malha rodoviária. Estas ao se juntarem com os diagramas de fluxo interno formaram nós ou pontos de interesse. Também foram definidas os principais pontos de visibilidade de onde poderia-se ter uma boa vista para os edifícios patrimoniais. Da combinação desses três diagramas, com o projeto do percurso direto, foram feitos os primeiros esboços do percurso secundário e das praças.
PROCESSO DE PROJETO percurso secundário e praças
O desenvolvimento do projeto do sistema secundário de percursos ocorreu a partir do estudo de conexões entre a área de intervenção e a cidade e dos possíveis caminhos que as pessoas poderiam percorrer indo de um ponto a outro ao atravessar a área, ou de um edifíco a outro.
USOS JÁ EXISTENTES E NOVOS USOS ATUAIS NOVOS USOS DEMOLIDOS
USOS DEFINIDOS NO PROJETO ESPORTIVO COMERCIAL SERVIÇOS CULTURAL/EDUCATIVO PASSAGENS TERMINAIS
Como diretriz de projeto procurou-se manter os usos já consolidados na área de intervenção, acrescentando novos usos que aproveitassem a infra-estrutura existente, trouxessem maior dinâmica a esse lugar e promovessem a apropriação dos edifícios patrimoniais pela população. Tratando-se de uma área próxima ao centro da cidade, há uma grande demanda pela diversidade de usos, não apenas culturais. Assim o programa é pensado pretendendo oferecer usos diversificados e ao mesmo tempo integrados, tanto entre si como com o entorno imediato. Visto que, como metrópole, Campinas fornece serviços e empregos a todas as cidades ao redor, muitas pessoas transitam entre os terminais metropolitano e urbano diariamente., algumas para fazer compras no camelódromo, na Rua 13 de maio ou no Mercadão. Sendo assim, a área próxima ao Terminal Metropolitano mostra-se propicia para a criação de uma área comercial, um espaço para feiras e um segundo Mercadão para a cidade. Considerando-se o alto custo da alimentação na cidade, o barracão de cimentos abrigará um Restaurante Popular. Fazendo a ligação entre o restaurante e os antigos galpões de eventos, haverá um edifício passagem que comportará os usos dos anexos demolidos. O Edifíco passagem deverá abrigar também um espaço para exposições e o museu da ferroviária, permitindo que as pessoas tenham contato com informações sobre a história da cidade e da ferroviária enquanto fazem seu percurso. Os antigos Galpões de Eventos serão destinados a um centro de convivência e um teatro/cinema próximo ao edifício da Orquestra Sinfônica, Barracão de Ensaios e a Estação Cultura, integrando-se, assim, os usos culturais. A delegacia mantém seu uso e os barracões da extremidade oeste terão sua infraestrutura aproveitada para a criação de uma área esportiva, tanto para a população dos bairros adjacentes, quanto para os alunos da Escola Vilela Junior que fica na quadra ao lado.
IMPLANTAÇÃO
A
B
Sesc Campinas
Terminal Rodoviário Ave
nid
Terminal Metropolitano
aL
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aC
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a
Espaço para feiras Flores Linha do Trem Jardim
Passagem Subterrânea
Jardim Edifício Passagem
Pérgola
Pérgola Jardim
Área Comercial
Posto de Alimentação
Serviços
Centro Comunitário
Jardim
B
Rua Dr. Sales de Oliveira
A
Alambrado
Passarela
Restaurante Popular
Praça Comercial
Ja
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D
C
aA nid Ave ida
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S os
Camelódromo Terminal Urbano
Praça do Terminal Avenida 20 de Novembro Estação Cultura Cabine
Jardim
Passagens
Delegacia
Trilhos não utilizados
Ligação entre o terminal e a área da Fepasa Passarela
Postos de Alimentação
ardim
Teatro/Cinema Barracão de ensaios
Área Esportiva
Bosque
Rua Francisco Teodoro Pontos de Encontro E E Professor Antonio Vilela Junior Teatro Castro Alves Praça 9 de Julho
C
Praça da Sinfônica
Orquestra Sinfônica
Edifício Passagem Centro de Convivência Restaurante Popular
Trem
Pérgola
Corte AA
Terminal Rodoviário Cobertura
Corte BB
Trem
Área Comercial
CORTES
Área Esportiva Terminal Urbano
Passagem Coberta
Passagem Subterrânea
Corte CC
REFERÊNCIAS
ABBUD, BENEDITO. Criando Paisagens. Guia de Trabalho em Arquitetura Paisagística. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006. 2ºedição. MASCARÓ, LUCIA; MASCARÓ, JUAN LUIS. Vegetação Urbana. Porto Alegre: Editora Masquatro, 2010. 3º edição. MENEZES, UPIANO TOLEDO BEZERRA DE. A cidade como bem cultural - Áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance da preservação do patrimônio ambiental urbano. Artigo em: Patrimônio: atualizando o debate. Revista Iphan. Editora Eletrônica Conap. Pag. 35-72. NORA, PIERRE. Entre a Memória e a História: A problemática dos lugares. SCHENK, LUCIANA BONGIOVANNI MARTINS. Arquitetura da Paisagem: entre o pinturesco, Olmsted e o moderno. Tese de doutorado. São Carlos, 2008. SPERLING, DAVID MORENO. Espaço e Evento: considerações críticas sobre a arquitetura contemporânea. Parc La Villette, o espaço -evento entre a diffèrance e a cultura das diferenças. Pag.56-72. Tese de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.