TÍTULO: Ladeira Porto Geral: formação e estruturação de um caminho
ALUNO: Erika Cristina Fernandes Paiva ORIENTADOR: Prof. Dr.Alessandro Castroviejo
APOIO: PIBIC/ Mackenzie
4. Resumo em Português O propósito desta pesquisa foi realizar um levantamento da historia de um logradouro, neste caso a Ladeira Porto Geral, abarcando sua formação. Neste processo desejou-se: descrever as características de constituição e ocupação deste espaço; identificar e discriminar tipologias, segundo sua forma e ocupação dos edifícios no lote; reconstruir sua genealogia fundiária através da sobreposição das cartas; Sara Brasil (1930), Vasp-Cruzeiro (1954), Gegran (1972) e Planta da Cidade de São Paulo -1881; comparar as ocupações desse espaço, no decorrer do tempo, através de fotos, mapas e registros bibliográficos. Uma das etapas do projeto de pesquisa foi à visita ao Arquivo Histórico Municipal, Washington Luis, onde tivemos contato com o funcionamento do sistema de consulta e também aos documentos com os quais trabalhamos, como: processos de aprovação de obras, proprietários, arquitetos, o uso, desenhos técnicos e alguns textos, fotografias das edificações presentes ou não no local. Essas informações estão sendo disponibilizadas em um banco de dados, já existente, neste foram registrados, através de fichas, todas as informações importantes da pesquisa. A outra etapa foi à visita e o levantamento da situação atual do logradouro. Nesta foram levantados 15 edifícios/logradouros na Rua Ladeira Porto Geral, enumerados do 14 ao 133 que foram registrados em fichas contendo os nomes, números dos prédios e registros fotográficos, que serão armazenados no banco de dados do grupo de pesquisa. Durante a pesquisa foi levantado uma bibliografia da cidade de São Paulo, revelando pontos significantes sobre a história de sua formação, sua estrutura e geografia. 5. Palavras Chaves Ladeira Porto Geral, Formação, Centro Histórico de São Paulo. 6. Abstract The purpose of this research was to conduct a survey of the history of a public place, in this case the Ladeira Porto Geral, covering its formation. In this process he wished: describe the
characteristics of formation and occupation of space; identify and discriminate typologies, according to his shape and occupation of buildings on the lot; rebuild their genealogy through overlapping letters land; Sara Brazil (1930), Vasp-Cruzeiro (1954), Gegran (1972) and plant in the city of São Paulo -1881; compare the occupations of that space, over time, through photos, maps and bibliographic records. The first step of the research project was to visit to the Municipal historic archive, Washington Luis, where we had contact with the functioning of the system of consultation and also to documents with which we work, such as: works approval processes, owners, architects, the use, technical drawings and some texts, photographs of the buildings present or not in place. This information is being made available in an existing database, this were registered through chips, all important information from the search. The next step was to visit and survey the current situation of public place. This had been raised to 15 buildings/public parks on the street Slope Port of 14 to generally listed that were registered in 133 chips containing the names, numbers of buildings and photographic records, which are stored in the database research group. During the search had been raised a bibliography from the city of São Paulo, revealing interesting points about the history of their formation, structure and geography. 7. Key- Words Ladeira Porto Geral, formation, the historical centre of São Paulo 8. Introdução O Centro Histórico de São Paulo possui uma grande infra-estrutura urbana e uma quantidade abastada de bens culturais, nele podemos observar as diversas transformações da cidade. Seus prédios constituem um acervo rico para entendermos melhor a historia da arquitetura, particularmente de seu Centro Histórico, para além da ideia de monumento.
Foto 1 - Desenho sem autor mostra a várzea do Rio Tamanduateí, o Mosteiro de São Bento ao fundo e as lavadoras no rio. As construções são do período colonial, com alvenaria de taipa, com beirais grandes; as ruas ainda de terra e uma grande quantidade de áreas verdes.
Estudar o centro histórico da cidade é fundamental não só para conhecê-lo, mas também para entendermos melhor como o mesmo funciona, quais são os seus problemas, as deficiências, as potencialidades e com base nesses, propor melhorias para a região. O desenho atual dessa região é resultado de vários processos de ocupação, que segundo Benedito Lima Toledo, possui três fases distintas: o período inicial das construções com taipa, que seria a vila colonial; uma fase intermediaria com técnica de alvenaria e de tijolos e por fim, as construções modernas de concreto armado, já em um intenso processo de verticalização. Essa área foi por muito tempo o centro de negócios de São Paulo, mas a partir da década de 80 houve um processo no qual os serviços e atividades financeiras se mudaram a para o eixo da Av. Paulista e, mais recentemente em direção à zona sul. Esse deslocamento se deu por vários fatores, alguns deles são: crescente decadência na área, devido à degradação das estruturas fundiárias; poluição urbana; comercio ambulante e a flutuação de população, ou seja, grande fluxo durante o dia, e a noite vazia (Carrilho, 2005). É nesse contexto que se encontra a nossa área de estudo, a Ladeira Porto Geral, que era o principal caminho para o Rio Tamanduateí a partir da colina ( Foto 1). Portanto, verifica-se uma rica história que envolve a Ladeira Porto Geral das primeiras trilhas, passando pela verticalização intensa, pelos processos de degradação e substituição de usos. Pensar e propor novas intervenções para o Centro Histórico de São Paulo implica também em reconhecer e conhecer seus processos de formação.
9. Referencial Teórico No livro São Paulo três cidades em um século, Benedito Lima de Toledo retrata a história da Cidade de São Paulo, mas antes questiona o crescimento das cidades, segundo ele: “As cidades brasileiras crescem muito rapidamente, e, entre elas, São Paulo mais que qualquer outra. A velocidade é tão grande, a ponto de apagar, no espaço de uma vida humana, o ambiente de uma geração anterior: os jovens não conhecem a cidade onde, jovens como eles, viveram os adultos do passado. Assim, as lembranças são mais duradouras que o cenário construído. Os estudos históricos tornam-se, então, duplamente necessários, para que não se deixem cair no esquecimento os cenários da vida passada, e para restituir profundidade a experiência do ambiente urbano.”
Foto 2 e 3- Fotos da esquina entre a Ladeira Porto Geral com a Rua Boa Vista. A primeira tirada no início do séc. 20 nota-se uma construção de gabarito baixo, onde residia o Teatro Boa Vista, que fora demolido em 1947. A segunda imagem data da segunda metade do séc. 20, e apresenta o edifício Banco Paulista do Comércio, demostrando o intenso processo de verticalização da cidade de São Paulo.
No final do século XIX a Cidade Imperial de São
Paulo
ainda
possuía
suas
características coloniais. Tudo que acontecia na
cidade
se
concentrava
no
famoso
triângulo São Francisco, São Bento e Carmo. O traçado da rua ainda não era definido e a existência de alguns muros defensivos, no primeiro século, poderia ter condicionado o traçado
de
algumas
ruas.
Houve
melhoramentos em algumas das vias, das ruas estreitas e irregulares, das ladeiras íngremes e mal articuladas com os largos, Foto 4- Verticalização da cidade de São Paulo, primeiro plano a Ladeira Porto Geral, atrás o Edifício Martinelli.
que formam, talvez, uma herança colonial. As características coloniais da cidade de São
Paulo vão perdurar até meados de 1870. Tratava-se de uma cidade de terra: onde os muros e as paredes eram de taipa.
A Ladeira Porto Geral, principal ligação entre o Rio Tamanduateí e a cidade situada na colina, foi chamada inicialmente de "caminho que vai para o Tamanduateí", isso por volta de 1780. Durante os primeiros séculos, as principais funções, comércio, residências se concentravam, no alto da colina, configurada como um triângulo cujos vértices eram marcados por três igrejas e respectivos conventos: Carmo, São Francisco e São Bento. Não obstante, e como era muito comum nos séculos XVII e XVIII, a ladeira era ainda conhecida por diversos nomes como "Beco do Barbas" (referência a um antigo barqueiro que residia nas imediações), "Beco da Barra" e "Beco do Quartim" (referência a Antonio Maria Quartim, proprietário de uma chácara na região). Posteriormente, recebeu a denominação de "Porto Geral de São Bento", e isso por dois motivos: o primeiro deles devese ao fato de que o "porto", além de ficar nas proximidades do Mosteiro de São Bento, era também muito utilizado como atracadouro para as canoas carregadas de mercadoria provenientes das fazendas de São Caetano e que pertenciam ao Mosteiro. A designação "Porto Geral", por sua vez, deve-se ao fato de que este não era o único porto no Rio Tamanduateí. Existiam ainda o da "Tabatinguera" e, mais abaixo, o da "Figueira" e o do "Coronel Paula Gomes". Porém, e em pouco tempo, o de "São Bento" passou a ser o mais importante da região, visto que nele é que atracava o maior número de canoas recheadas de mercadorias vindas dos sítios e das roças ribeirinhas e das olarias de São Bernardo. Nesse sentido, o povo passou a chamá-lo de Porto Geral, pois ele era o principal da cidade. O "Porto Geral" se tornara, pois, um centro de grande atividade comercial, apresentando-se sempre cheio de tropas e mercadores. E tudo isso até 1848, quando então o Rio Tamanduateí começou a ser retificado. Mesmo depois de sua retificação, a rua não perdeu seu caráter comercial, pois ela já estava consolidada. Com o passar dos anos, o seu comercio passou a ser atração turística, ganhando fama por seu comércio popular. (Toledo,Benedito, 2007, págs. 7, 9 e 10.) Aziz Nacib Ab’Sáber define em seu livro, a geografia das baixas colinas terraceadas, ou melhor, os “strath terraces”. Os “strath terraces”, estão presentes nas áreas contínuas aos terraços fluviais e caracterizam-se, no relevo, por suas colinas de declives, geralmente pouco extensas, formados por terrenos consistentes e enxutos, pouco retalhados pelos vales afluentes dos rios. A Ladeira Porto Geral é um exemplo de “strath terraces”, presente na cidade de São Paulo, por ela ter essa característica, foi muito importante para a história da região, uma vez que o Rio Tamanduateí era o articulador da cidade, na questão comercial, social e econômica, portanto a Ladeira ligava o Rio com a Cidade, que se encontrava na colina. (Ab’Sáber, 2007, págs.136 e 137.)
Foto 5- Comércio da Ladeira Porto Geral.
Segundo a cronologia do Grupo de Pesquisa : Centro Histórico de São Paulo 1: em 1867 houve a inauguração da ferrovia São Paulo Railway Company, a primeira via férrea da província, que liga a Serra do Mar para levar a produção de café do interior, atravessando a cidade. São Paulo, aos poucos deixa de ser uma cidade de tropeiros. A partir de 1870 a cidade passa a ser saneada e embelezada, e a taipa é substituída pelo tijolo nas construções. O centro continua concentrando as atividades político administrativas, lojas e bancos, enquanto o comércio atacadista vai se instalando nas vertentes do Tamanduateí e na própria várzea (Foto 5). Ao mesmo tempo o centro vai perdendo sua função residencial. Os velhos sobrado, residências dos fazendeiros, transformam-se em casas comercias ou sedem lugar à novas construções. Em 1887 o fotógrafo Militão de Azevedo refaz, a partir dos mesmos ângulos e retratando os mesmos locais documentados em 1862, as fotografias que compunham seu álbum de fotografias de São Paulo. Já em 1900 o prefeito concede a The São Paulo, Tramway, Light & Power o direito de explorar o transporte eletrificado na cidade, e da geração e distribuição de energia elétrica; a "Light" começa a operar o sistema de transportes por bondes elétricos com uma usina provisória a vapor. 10. Método A pesquisa foi elaborada nas seguintes etapas: 1
Cronologia elaborada pela professora Cecilia Rodrigues dos Santos e Beatriz Fraia; foi produzida no âmbito do trabalho do grupo de pesquisa "Centro Histórico de São Paulo: documentação e estudos de reabilitação", tendo sido realizada em 2006, e complementada em 2007.
I-) Levantamento de Campo II-) Pesquisa no Arquivo Histórico III-) Análise Cartográfica IV-) Análise Iconográfica V-) Banco de dados I-) O levantamento de campo teve o intuito de se conhecer a rua; foram feitas 32 fotos, registrando todas as fachadas dos 15 edifícios/logradouros pertencentes a Rua Ladeira Porto Geral, enumerados do número 14 ao 133, além das fotos, foram anotados outros dados como os nomes, os números e o gabarito de cada prédio . A seguir fotos feitas em campo:
Foto 6 e 7- Foto atual da ladeira Porto Geral, típica construção da rua: térreo comercial e os demais andares residenciais.
Foto 8 - Foto atual da ladeira Porto Geral com a Rua 25 de março, registro das fachadas.
II-) Na pesquisa realizada no Arquivo Histórico, foram levantadas 29 fichas contendo dados do projeto como: número do documento, data do processo, assunto, interessado, proprietário do imóvel, endereço, conteúdo do projeto, autor, memorial, conteúdo do processo. A seguir exemplo da ficha ( Figura 9):
Os documentos do logradouro no arquivo eram encontrados em ordem alfabética por meio de catálogos. Dos anos de 1870 até 1907 os arquivos são encadernados e dos anos de 1907 até 1921, são encontrados em caixas.
Foto 9.
Foto 10 e 11- Fotos tiradas dos documentos levantados no Arquivo Municipal.
Foto 12- Fotos tiradas dos documentos levantados no Arquivo Municipal.
Os documentos encontrados no arquivo geralmente possuem um memorial descritivo, acerca do projeto, e informando quem era o interessado, o autor e a data. Haviam documentos que não constavam os desenhos técnicos, alguns perdidos ao longo do tempo, ou ainda aqueles que se encontram em péssimo estado. Através da observação desses documentos eram feitas as análises e preenchimento das planilhas do arquivo. Nas imagens anteriores ( Fotos 10,11 e 12), está o projeto de Bruno Coppi, datado de 1915, e apresenta o desenhos das plantas, da fachada e do corte, nota-se uma construção caracteristica desse logradouro, no inicio do séc.20, com um térreo destinado ao comércio e o andar segunite residencial. A planta do pavimento superior possui um vazio na parte central, que nos remete a preocupação das questões de salubridade, permitindo a entrada de luz no interior do pavimento, o acesso para este era feita de forma separada do comércio, o que também esta registrado na elevação. III-) Através das cartas cartográficas da cidade de São Paulo é possível remontar parte da genealogia deste logradouro, suas tramas e conexões. Nos mapas com registros cadastrais é possível estudar a evolução das tipologias das edificações e a constituição da divisão fundiária. Entendendo-se este processo de formação da Ladeira, promovem-se vinculações
diretas entre os diversos tipos de ocupação: Edifícios modernos lá construídos substituíram antigas construções de taipa, de tijolos e alvenaria; porém ainda guardam em sua forma arquitetônica vestígios de uma tipologia pré-figurada (Ribeiro, 2007). Os mapas foram analisados diante da configuração dos traçados analisando a formação e ocupação do lote, o adensamento, a largura da rua e como este está inserido na paisagem da cidade. IV-) Depois de levantados os dados atuais e antigos, foi introduzida uma pesquisa sobre a iconografia do logradouro. Com essas imagens pode-se fazer comparações com as informações já obtidas e assim aprofundar as análises, sob um olhar mais geral da rua.
Foto 13 e 14 - Primeira foto tirada por Militão, a segunda registra a Ladeira nos dias de hoje. Encontro com a Ladeira Porto Geral e a Rua 25 de março, processo de verticalização do logradouro.
As análises dessas imagens feitas apartir da observação, nos relata o intenso processo de verticalização da rua (Fotos 13 e 14). Na primeira imagem, de um lado da rua, encontra-se construções com gabaritos mais baixos, como a casa da esquina, apresentando um aspecto ainda colonial- de taipa-, no lado oposto, há uma série de construções que possuem mais de um pavimento, seguindo a caracteristica de armazém/ comércio no térreo e residencial no segundo pavimento, demostrando o crescimento da rua, que já estava se tornando ponto de referencia comercial na cidade. Na segunda imagem, tirada em 2011 a ladeira Porto Geral já aparece com outro aspecto, totalmente verticalizada e com um intenso comércio.
Foto 15 e 16 - Primeira foto tirada por Militão, à segunda registra a Ladeira nos dias de hoje.
Nessas duas imagens (Fotos 15 e 16) concretizamos o que fora apresentado logo em cima, a intensa verticalização da Ladeira Porto Geral. Mesmo com todas essas transformações a Ladeira, ainda possui elementos presentes da cidade de taipa: reparam-se como os projetos eram elaborados nos limites dos lotes. E ainda como a configuração da rua permaneceu a mesma, largura e comprimento. V-) Todas as informações obtidas estão sendo disponibilizadas no Banco de dados do grupo de pesquisa. O Banco de Dados tem o objetivo de registrar as pesquisas permitindo consultas numa sequencia lógica de logradouros, edifícios, e assuntos relacionados. O cadastramento dos dados é feitos através das fichas que correspondem aos dados preenchidos
nas
pesquisas.
O
acesso
é
dado
através
do
endereço:
Http://www5.mackenzie.com.br/adm/adm.asp, onde são preenchidos com o login e a senha, em seguida abre-se uma página de consultas e inserções de dados.
Foto 17- Página inicial do banco de dados do Grupo de Pesquisa.
11. Resultado de Discussão.
Foto 18 - MAPPA DA CIDADE DE SÃO PAULO E SEUS SUBURBIOS Feito por Ordem do Ex.mo Sr Prez.te o Marechal de Campo Manoel da Fonseca Lima e Silva Pelo Engenheiro Civil C. A. Bresser- Mapa 1841.
Foto 20 -PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO Levantamento pala Companhia Cantaria de Esgotos- 1881.
Foto 19 - MAPPA DA CIDADE DE SÃO PAULO E SEUS SUBURBIOS Feito por Ordem do Ex.mo Sr Prez.te o Marechal de Campo Manoel da Fonseca Lima e Silva Pelo Engenheiro Civil C. A. Bresser-1947.
Foto 21 - PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO Organizada sob a direcção do Dr Gomes Cardim – 1897 – Escala de 1:20.000.
Foto 22- Sara Brasil -1930.
Foto 23 - Fonte Gegran São Paulo- São Bento, Sé, 1974.
Foto 24 - Vasp Cruzeiro- 1954.
A partir da análise dos mapas anteriores, das pesquisas e das imagens, nota-se que a Ladeira Porto Geral foi desde o princípio, utilizada para ligar o Rio Tamanduateí, e seu porto, com a cidade que se situava na colina. Essa era a única ligação existente na região que era dada através da Rua 25 de março com a Bela Vista. O mapa de 1881 (Foto 20), apresenta uma tipologia e um uso presentes no logradouro, o lado voltado pra o Largo São Bento, possui uma ocupação mais acentuada comparada com o lado oposto, essa característica perdura até o mapa de1947 (Foto 23). Diante da análise e da observação da ocupação, percebe-se que a cidade tinha um caráter colonial, uma vez que os parcelamentos dos lotes eram estreitos e profundos, privilegiando a fachada frontal no lote para o logradouro. No mapa do Sara Brasil (Foto 22), encontra-se uma situação adversa, uma vez que os parcelamentos sofreram remembramentos que alargavam e amplificavam os lotes deixando de serem tão estreitos comparados com os anos anteriores, dessa maneira começa um processo de uma maior ocupação no interior da quadra, devido ao crescimento da cidade e suas necessidades. Quando defrontamos com o Sara Brasil (Foto 22) e o Gegran (Foto 23), fica claro como a tipologia e o uso se tornam mais intensos, ambos os lados da rua passam a ser ocupados, não havendo nem um lote vazio; o parcelamento deixa de ser estreito e passa a ter uma largura maior, o interior da quadra também passa a ser ocupada quase que por completo, como os parcelamentos passam a ter uma largura maior, há a diminuição do número de lotes, sendo levantados 15 lotes no logradouro.
Essas modificações de tipologia e uso ao longo da história estam relacionadas ao crescimento populacional da cidade, no mapa de 1890 a população do município de São Paulo era de aproximadamente 64.93 habitantes, enquanto que no Gegran era de 5.924. 615 habitantes.
Foto 25 - Gráfico que mostra a evolução do município de São Paulo com o decorrer dos anos. De acordo com o mesmo, a população de 1890 até 1990 cresceu 9.581.251.
Ao analisarmos as fichas levantadas no Arquivo Histórico de São Paulo, nota-se que por ter suas características geográficas, no princípio, a rua tinha um caráter residencial, ainda numa cidade colonial. Com o passar dos anos a cidade foi crescendo demasiadamente e novos usos foram surgindo, a rua passou a ter um uso misto, geralmente com armazéns no pavimento térreo, e moradia nos superiores. O gabarito, não passava de 3 andares, sendo o mais comum, com 2 andares, os pés direitos tinham entorno de 4 à 5 metros de altura. Nos dias de hoje, modificou-se a tipologia e o uso da Ladeira Porto Geral, com a verticalização o comércio aumentou e novos serviços surgiram nos andares superiores das edificações, como escritórios e estoques. Um exemplo de construção mista de 3 pavimentos, são os desenhos do projeto do número 5 da Ladeira, do arquiteto Bruno Coppi, que data de 19 de maio de 1915, que estão na seguida( Fotos 26 e 27):
Foto 26 e 27 - Fotos tiradas dos documentos do Arquivo Histórico de São Paulo.
Diante desta planta pode-se analisar o uso e o modo de como as pessoas viviam. O projeto de Bruno Coppi seria o segundo tipo de ocupação- primeira ocupação, as casa de taipa, segunda, as construções de 2 de andares, com comercio no térreo, terceira, prédios altoscom construção com 2 ou 3 pavimentos, sendo o térreo comercial. Na planta do térreo encontra-se o armazém, e um pequeno quarto aos fundos, que poderia ser destinado a algum funcionário (não tinha contato com a família), o acesso para os andares superiores
era feito através de uma pequena entrada do lado esquerdo, lembrando que nessa época a sociedade era muito tradicional nos seus costumes, influenciados pelos imigrantes, onde as mulheres das famílias, não tinham contato com o exterior, com a rua, sem seus acompanhantes, eram submetidas a viverem nos andares superiores e o máximo de contato que poderiam ter com a vida exterior era feito através da varanda. Nos pavimentos superiores havia uma reentrância no projeto, este fora criado por questões da salubridade da casa, uma vez que permitia a entrada de luz e ventilação para os quartos, isso porque o projeto ocupava todo o lote, sem possuir recuos laterais e frontais, o que não permitia a abertura de janelas laterais. Vê-se que a disposição dos cômodos era feito de modo diferente, no primeiro pavimento, ao sair da escada encontra-se o banheiro uma sala de jantar ligada a cozinha que ficava na parte posterior da casa, diferente de hoje que a cozinha é um ponto de encontro, antigamente era o lugar onde os empregados ficavam logo não deveria ter muito contato com o resto da casa, no meio desse andar há um quarto (destinado a algum hospede mais intimo da família) e logo depois outra sala com uma varanda. No segundo pavimento encontram-se quartos, repara-se como há uma ausência de suítes, ou seja, quarto + banheiro, antigamente fazia-se um banheiro para todos; outro ponto interessante é que a casa não possui corredores, portanto, para ir de um ponto ao outro, há a necessidade de se passar pelos outros cômodos. Além das construções de sobrados e das reformas de ampliações, foram encontrados registros que nos permitem perceber que a cidade estava em pleno crescimento, é o caso de um processo da empresa The São Paulo Tramway, Ligth and Power Company, Limited, no ano de 1919, o requerido projeto propunha o desenvolvimento dos serviços de tração, luz e força para a região, e para isso era necessário construção de uma derivação subterrânea na Ladeira Porto Geral, com a Rua Bela Vista. Outro documento (Fotos 28 e 29) encontrado da mesma empresa refere-se à renovação do ar das câmeras subterrâneas de transformação de energia elétrica, o projeto proposto foi à criação de uma coluna de ventilação.
Desenhos da empresa The São Paulo Tramway, Ligth and Power Company, Limited, para a construção de uma coluna vertical para ventilação. Fotos tiradas no Arquivo Municipal.
Foto 28 e 29 - Fotos tiradas dos documentos levantados no Arquivo Municipal.
Outros tipos de licenças também apareceram com frequencia na pesquisa, um deles era o desejo de transformar janelas em portas, uma vez que a rua crescia economicamente por causa do porto encontrado no rio e com isso havia a necessidade de transformar uma casa ou sobrado em comércio, atendendo então a demanda local. Outra licença interessante data de 1901, que apresenta a
construção de um sobrado e aparece pela primeira vez a
preocupação com o alinhamento da rua, com recuo frontal de 6 metros. Outro documento ( Fotos 29, 30 e 31) que chama atenção foi a construção de um atelier de fotografia do arquiteto Jorge Muller e irmão, em 1900, este situado no número 7 da ladeira, mostrando mais uma vez o crescimento da cidade de São Paulo e a imporância da rua, uma vez que fotografia, mostrando a importancia da mesma no cotidiano da cidade. Além desse serviço, foram levantados outros pedidos para abertura de botequins. Segue a seguir o projeto desse atelier:
Foto 29, 30 e 31 - Fotos tiradas dos documentos levantados no Arquivo Municipal.
Dentre algumas curiosidades levantadas no arquivo está um processo de uma multa aplicada por fiscal chamado Raphael Fortunado de Oliveira pelo fato dos proprietários terem construído um pequeno quarto em seu prédio, sem pedirem licença e sendo-lhes atribuída uma multa, que demonstra a preocupação em relação às normas construtivas e urbanas.
12. Conclusão O objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento histórico da Rua Ladeira Porto Geral, inserida na Cidade de São Paulo. Através das análises, cartográficas, iconográficas, dos levantamentos de dados, das leituras dos documentos arquivísticos e das pesquisas, podese compreender melhor o processo de formação que se deu nessa rua e suas vinculações diretas entre os diversos tipos de ocupação na cidade, por exemplo, edifícios modernos que lá foram construídos, substituindo antigas construções de taipa, tijolos e alvenaria, mas que por outro lado, ainda guardam vestígios de uma tipologia passada, sobretudo quando à formação dos lotes. Neste sentido, descrever a formação e ocupação da Ladeira Porto Geral e desvelar seus vestígios e significados, nos permite conhecer informações importantes para decisões em torno de possíveis e futuras intervenções. Outro caráter importante da pesquisa foi que através dessa rua, foi resgatada a historia da Cidade de São Paulo, e assim sendo, entender melhor suas características atuais, com suas potencialidades e deficiências. Com toda a pesquisa e análise também foi permitido à criação de um banco de dados dessa Rua, facilitando estudiosos a terem contato com a mesma e assim possibilitar o desenvolvimento de novas pesquisas e análises. 13. Referências Ab’Sáber, Aziz Nacib. GEOMORFOLOGIA DO SÍTIO URBANO DE SÃO PAULO. 1.Edição. Ateliê Editorial, 2007, págs.136 e 137Azevedo, Militão Augusto. CARRILHO, Marcos José. O centro histórico de São Paulo: documentação e estudos de viabilidade. Anais do 1º Fórum Mackenzie de Pesquisa, 2005. RIBEIRO, Alessandro Castroviejo. Edifícios modernos no Centro Histórico de São Paulo: dificuldades de textura e forma. Arquitextos (São Paulo. Online). , v.089, p.089.02 - 2007. FRAIA Beatriz; SANTOS, Cecilia Rodrigues dos. Grupo de Pesquisa: Centro Histórico de São Paulo CRONOLOGIA / História da cidade de São Paulo (1554 – 1954) Contextualização, da Professora: Cecilia Rodrigues dos Santos e a Aluna: Beatriz Fraia : Toledo,Benedito Lima de. SÃO PAULO TRÊS CIDADES EM UM SÉCULO. 4. Edição. Cosac & Naify, 2007, págs. 7, 9 e 10. 14. Email para Contato erikacfpaiva@gmail.com