PERSPECTIVA
Sumário # 18 | Março 2009 Reportagem 4 A Latitude do Olhar
Indochina – Entre o Verde e o Esmeralda Opinião 6 Isabel do Carmo 8 Ten. Cor. Brandão Ferreira 9 Joaquim Jorge 24 José Martino Regiões 25 Vila Nova de Famalicão:
Plano Estratégico define desenvolvimento até 2013
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Grande Reportagem
Não me tirem o útero!
Dia Internacional Contra a Discriminação Racial 22 Combater e Prevenir o Racismo
e a Discriminação
Dia Mundial do Teatro 30 Espectáculo que absorve todos
os que a ele assistem 32 “O teatro é a mais humana das artes”
16 Sondagens e Estudos de Opinião 16 Importantes ferramentas para ajudar a ganhar eleições 17 Estudos de Mercado em ano de eleições 18 O palco dos políticos (e os bastidores...) 19 Estudos Qualitivos e Marketing Político
20 Entrevista ao presidente da C. M. de Vila Nova de Famalicão 21 Formação: Fundação Alentejo 26 Eficiência Energética: Energia Solar Térmica 27 Turismo: Hotel Convento dos Capuchos 28 Vida Sénior: Valorizar o envelhecer 29 Vida Sénior: Fisioterapia: Melhoria da qualidade de vida 33 Rally de Portugal 34 Cultura
Propriedade. Escala de Ideias – Edições e Publicações, Lda - R. D. João I, 109, RC - 4450-164 Matosinhos NIF 507 996 429 Tel. 229 399 120 Fax. 229 399 128 Site. www.escaladeideias.pt E-mail. geral@escaladeideias.pt Directora-Geral. Alice Sousa - asousa@revistaperspectiva.info Director Editorial. Pedro Laranjeira - pedro@laranjeira.com Coordenação Editorial. Alexandra Carvalho Vieira - avieira@revistaperspectiva.info Colaboraram neste número. Ana Mendes, Diana Pedrosa, Filipe Ferraz, Pedro Mota. Opinião. Isabel do Carmo, Joaquim Jorge, Ten. Cor. Brandão Ferreira, José Martino Design e Produção Gráfica. Teresa Bento - tbento@revistaperspectiva.info Banco de Imagens. StockXpert, SXC Webmaster. Pedro Abreu webmaster@revistaperspectiva.info Edição. Alexandra Carvalho Vieira Contactos. Redacção 229 399 120 - redaccao@revistaperspectiva.info Departamento Comercial. 229 399 120 - publicidade@revistaperspectiva.info Tiragem. 70 000 exemplares Periodicidade. Mensal Distribuição. Gratuita, com o jornal “Público” Impressão. Mirandela - Artes Gráficas S. A. Depósito Legal. 257120/07 Internet. www.revistaperspectiva.info Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais sem a autorização do editor.
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REPORTAGEM A Latitude do Olhar
Indochina Entre o Verde e o Esmeralda
Os gongos ressoavam, com o som a repercutir-se nas encostas íngremes do Tonkim. O nevoeiro subia, roçagante, da fundura dos vales, misturando-se ao fumo dos incensos que ardiam em profusão por todo o mosteiro. Um velho monge veio sentar-se a meu lado. A cara era encarquilhada como uma maçã velha, a pele tisnada pelo Sol de montanha, mas os olhos eram vivos, com um fulgor flamejante Texto e Fotos: Pedro Mota Era de madrugada, um pouco antes das quatro da manhã, e já grande bulício e azáfama fluía por todo o mosteiro, soou o gongo, entramos no templo e começou o regougar cavo das orações salmodiadas. Era calmo, lindo, aquele uníssono de fraternidade trazia uma sensação reconfortante. Depois, os monges começaram a sair, um a um, em fila indiana, transportando uma gamela do lado esquerdo, suspensa a tiracolo por uma faixa cor de açafrão como a sua roupa. O dia começou a clarear, devagarinho, um manto de névoa elevava-se do Mekong, envolvendo de forma imprecisa os corpos longílineos dos monges. Estes pareciam pairar, seguindo o curso do rio, iam quase 4
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em pose marcial, dado o estado transcendental a que a oração os havia conduzido…parecia uma pintura impressionista! Eu quedei-me absorto, e a ocasião passou. Esta foi uma das melhores fotografias que não tirei! Encostei a minha canoa numa escadaria, que conduzia a um magnífico templo dourado. Vários monges desenrolavam as suas vestes cor de açafrão, mergulhando nas plácidas águas do rio. Seguira o obscuro e sinuoso rio Mekong, até chegar a Luam Prabang, a magnífica, com os seus elegantes, quase seráficos, templos budistas. O meu objectivo não era fácil, tentar obter autoriza-
ção para escrever sobre o dia-a-dia dos pequenos monges de um mosteiro budista no Laos, de tradição Hinayana. Há dias de sorte, o abade pediu-me se na continuação da minha viagem poderia dar boleia a um pequeno monge que se deslocava para outro mosteiro no Cambodja. Assim teria o meu personagem a tempo inteiro comigo. Ainda hoje somos amigos! Quantas aventuras vivemos enquanto descíamos o rio Mekong até ao Cambodja. Conversávamos todo o tempo, enquanto a nossa canoa descia languidamente o rio. Por fim terminou esse suave tempo de partilha e comunhão. Os nossos caminhos divergiram, eu a caminho de
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Tonlé Sap, ele a caminho do resto da sua vida. Nas margens do lago há inúmeras aldeias palustres, com as suas palafitas a darem um ar bucólico ao casario. Algo que me deixou perplexo neste país, assolado pelas guerras fratricidas, foi a bondade e alegria do seu povo. Num paradoxo, quanto mais pobres, maior a alegria. Passei algum tempo numa aldeia palustre e em pouco tempo já era o “tio” de toda a criançada. Um costume peculiar e extremamente cómico é o meio de locomoção que as crianças utilizam para circular entre os canais aquáticos das ruas: são as celhas e alguidares de lavar roupas e loiças, que no intervalo das suas nobres missões, servem para ir visitar os amigos, remando com as mãos. Presenciei inúmeras corridas de celhas de lavar a roupa, através do labirinto intrincado, que era a aldeia. Ver um rancho de crianças galhofeiras, evoluindo nas suas inesperadas embarcações de alumínio, no meio de risos e intensa gritaria, é algo de ines-
quecível quer pelo superlativo exotismo, quer pelo calor humano que dimana. O complexo dos templos de Angkor Wat, não fica longe e resolvi armar-me em turista e visitar esta maravilha da antiguidade. A beleza arquitectónica é sublime e apesar de muitos templos ainda serem ruínas, são ruínas poéticas com um charme inexcedível. Os baixos-relevos no templo principal são lindos e de uma minúcia extrema. Atente-se no pormenor das dançarinas Khmer que parecem ter vida própria. Ninguém estranharia se, de súbito, se destacassem da parede e fossem por ali a fora a dançar. De volta às terras baixas do Vietname, fui até à baía de Halong, porta dourada da Indochina, com as suas águas verde-esmeralda, furadas a pique pelos vertiginosos rochedos como catedrais geológicas. Embarquei com o povo dos barcos, também ditos: ciganos do mar. Este povo, vive todo o tempo nos seus barcos, indo a terra só em última instância, têm uma cultura e um folclore muito próprios. À noite, houve festa, as barca-
ças aproximaram-se, através dos meandros da baía. Passaram amarras, construindo, assim, uma espécie de enorme jangada. Até de dia, houve música e danças com uma maravilhosa lua cheia a provocar jogos de sombras chinesas com as agulhas rochosas da baía de Halong. Quando acalmaram os festejos mais histriónicos, formou-se uma larga roda de gente sentada no chão da coberta das barcaças. Num ambiente intimista e crepuscular começaram a declamar longos poemas na sua forma nasalada de falar. Chegou a hora de me por à estrada fixando o objectivo do meu azimute na Tailândia. Estive essencialmente no Norte, em zonas rurais, longe do frenético bulício que avassala a vibrante Banguecoque e grande parte do Sul submerso pelo turismo massificado. Apesar de poder ter alguma piada, visitar o frenesim pulsante da Khoa San road, a descaracterização humana e a amálgama de gentes que esqueceram as suas raízes culturais, deixam-me em geral desgostoso e nunca fico muito tempo. MARÇO 2009
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OPINIÃO
Os negócios da Saúde
» Isabel do Carmo
Neste momento, em que todos os dias ouvimos as notícias dos milhares de desempregados portugueses, todos vítimas da crise financeira e económica e em última análise do sistema, há uma consolação que nos resta. Quando se fecharem todas as portas, está ainda aberta a porta do Serviço Nacional de Saúde. Uma porta que dá muitas vezes para labirínticos corredores de burocracia e de tempo de espera, mas que está aberta. E lembro-me sempre do que está a acontecer, com 45 milhões de norte-americanos, que além de estarem lançados na miséria pela espiral financeira, muitos deles despejados das casas por falta de pagamento do crédito bancário, não têm nenhum serviço de saúde. Terá Obama coragem para aproveitar a crise e instaurar um SNS, vencendo as ameaças das Companhias de Seguros que Hillary Clinton não teve a coragem ou não foi capaz de vencer quando era esse o seu projecto? Os norte-americanos de baixa condição social, que não têm seguros ou que têm esses seguros de bairros pobres que só cobrem o mínimo, o que é que
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O nosso SNS vive do orçamento geral do Estado e portanto dos impostos e de outros rendimentos estatais. podem fazer se tiverem uma leucemia ou partirem uma perna? Ficam entregues ao destino ou à caridade. Já nem sequer se podem “empenhar” e pagar o resto da vida, porque não podem recorrer ao crédito. Estranho destino o dos cidadãos de um dos países mais ricos do mundo, centro do Império e onde uma parte da população pode vir a situar-se na área da dos “países em vias de desenvolvimento”. Era o que nos teria sucedido, ou pode vir a suceder, se tivéssemos ido nos cantos de sereia dum sistema de saúde baseado
nos seguros de saúde ou no pagamento de acordo com a situação social. Se juntarmos os adultos que não têm rendimento suficiente para pagar impostos e as crianças e jovens, provávelmente há 4 milhões que os não pagam (a não ser indirectamente o IVA). Portanto, quem paga impostos está antecipadamente a pagar os cuidados de saúde de que pode vir a necessitar e, num princípio de solidariedade, a pagar os cuidados daqueles que são mais pobres. Este é o mesmo princípio da lei que vigora no SNS inglês, um dos primeiros a ser criado depois dos soviéticos e o que vigora nos países escandinavos. No tempo da nossa ditadura só beneficiavam dos serviços os que trabalhavam e portanto descontavam para a “Caixa” e daí que os mais idosos ainda hoje digam que vão à “Caixa” quando vão ao Centro de Saúde. Eu própria quando estou a lidar com pessoas mais idosas sou capaz de dizer então “o que é que lhe disse a minha colega da Caixa?“, para me fazer entender. No entanto, o Centro de Saúde, já entrou suficientemente na cabeça das pessoas. Mesmo para reclamar, umas vezes com razão, outras vezes sem ela. Na altura das “Caixas”, os que se serviam dos serviços de saúde, particularmente os hospitalares, tinham que ir buscar à Câmara Municipal o certificado de “indigente” (palavra adocicada mais tarde por “sem rendimentos”) para não
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OPINIÃO
pagarem aquilo que de facto não podiam pagar. Era a “santa caridadesinha” na sua plena forma. Mas atenção que este discurso está aí com outras roupagens! Actualmente quem benefiaria dessas situação seriam as Companhias de Seguros. Não se estranhe portanto que, ao ouvirmos políticos defenderem o fim do SNS gratuito, tenham no curriculum ligações a companhias de seguros. É a endogamia nacional. Ou internacional...
pela negativa, vejo uma certa desilusão. Nas farmácias vendem-se medicamentos e também “suplementos alimentares”, cremes, leites de beleza, pastilhas, “bem estar”. O ambiente é refrescante, claro, luminoso. Apetece mesmo comprar! É a sociedade de consumo no seu pleno. Diga-se de passagem que quando os portugueses descobriram a cana de açucar e depois o respectivo conteúdo, aquele granulado doce era vendido nas farmácias como um bem raro e precioso.
Nesta época de crise, o SNS gratuito não pode querer dizer, no entanto, um SNS – saco azul, onde se vai buscar sem responsabilidade.
Qual é o negócio? Qual é então o negócio e o objectivo dos privados, dos hospitais que nascem como cogumelos? Nem há população com seguros, nem convenções, nem há “ricos” que os paguem. O único objectivo das grandes empresas de saúde privadas é que o Estado não cumpra o seu dever fornecendo o máximo e o melhor de serviço de saúde. Desse modo eles poderão suprir essa falta sendo eles próprios fornecedores de serviços ao Estado.
Tem de haver uma responsabilização do cidadão perante o seu SNS. Ninguém gosta de ser hospitalizado e muito menos de fazer cirurgias sem necessidade e por isso as taxas moderadoras não fazem sentido. E muito menos se pode considerar que um médico interne um doente sem necessidade num hospital já apinhado. No entanto, temos que reflectir todos, utentes e médicos, sobre o uso dos exames auxiliares de diagnóstico e sobre o uso dos medicamentos. Ainda bem que temos meios técnicos sofisticados e medicamentos que prolongam a vida e lhe dão qualidade. Mas... cada vez que, com um gesto, se pede um exame ou se prescreve um medicamento, temos que saber que se gasta dinheiro. Às vezes muito dinheiro. E os utentes, rodeados por uma informação medicalizada e com a ideia da saúde e da vida eterna a todo o custo, têm também que reflectir sobre isso. E sobre o seu próprio corpo... Quantas vezes em relação a doentes que me dizem “então agora não é preciso fazer mais análises?” ou “para isto não há medicamento nenhum?” e eu respondo
Se o Estado não faz hemodiálise, o Estado será cliente dos serviços privados. Se o Estado não faz radioterapia, o Estado será cliente dos serviços privados. Se o Estado não fizer cirurgia bariátrica aos grandes obesos, o Estado terá (teria) que ser cliente dos serviços privados. Nos hospitais privados, as consultas são mais baratas do que nos consultórios individuais e os médicos até não são mal pagos. Mas logo ali pedem-se análises, ecografias, radiografias, exames cardíacos que serão feitos...ali. Compreen-
de-se a fúria e as providências cautelares com que foram recebidos os postos publicos de análises abertos nos seis Centros de Saúde ligados aos Hospitais de Santa Maria – Pulido Valente. Fúria, providências cautelares e porque não algumas ameaças? É este o negócio. Mas, no entanto, em tempo de crise, o negócio está tremido. Ninguém os avisou e isto do capitalismo sem freio é de facto como o tal bater de asas da borboleta que vai desencadear uma catástrofe no outro lado do mundo. Neste caso em todo o mundo. Mas se o negócio está tremido, esperam-se com lógica chuvas de críticas sobre o SNS. Este de facto tem problemas. Por exemplo, ter havido anos em que só entraram para Medicina em todo o país 190 alunos, os quais só doze anos depois se tornam especialistas. Actualmente e até 2012, altura em que começaremos a receber os novos especialistas depois do alargamento de entradas, vai ser muito difícil manter urgências eficazes em todo o país. Não serão por acaso os responsáveis por este buraco os mesmos que agora criticam o SNS? MARÇO 2009
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OPINIÃO
PR, Vetos e Autonomias
» Ten. Cor. Brandão Ferreira
A recente perturbação – não chegou a ser uma crise – entre o PR, Governo e Região Autónoma dos Açores, por causa do novo estatuto autonómico, só aparentemente terminou. Vai deixar marcas e depende do bom senso político não provocar dissabores, senão mesmo fortes crises, no futuro. A questão resume-se em poucas linhas: aproveitando-se da maioria absoluta que o PS detém na AR e da já crónica “distracção” parlamentar em plena época balnear, o governo regional dos Açores apresentou um novo projecto de estatuto que mexe em assuntos constitucionais – torcendo-os – sem que, previamente, tivesse havido qualquer alteração na lei fundamental que tal permitisse. Deste modo foram atingidos alguns dos poderes do PR. Isto configura um pequeno golpe de estado constitucional. Pela informação disponível, parece que todos os intervenientes se portaram mal no processo. Andou mal o governo regional dos Açores, com o seu presidente à cabeça, pela iniciativa que não é necessária a nenhum título nem aparenta ter sido feita de boa fé; não contentes com isso, mesmo depois da lei promulgada, ainda continuam a querer alimentar a polémica. Não andaram bem os Partidos pois não “mastigaram” convenientemente o diploma durante a fase de discussão; não andaram bem ainda, pela baixa política evidenciada e pela baixeza e cobardia que representa a genuflexão pela tirania dos votos e da pseudo-satisfação das clientelas partidárias. Não andou bem o PR pois inexplicavelmente não enviou, em devido tempo, o documento para o Tribunal Constitucional; depois porque, após tomar atitudes públicas firmes e claras – uma raridade na classe política – invocando Princípios, acabou por fazer uma retirada de sendeiro. Não estiveram, finalmente, alguns 8
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comentadores e órgãos de informação, por tentarem menorizar os eventos. A questão, apesar de não ser reconhecível facilmente pela maioria dos portugueses como importante, tem, de facto, importância elevada.
O Prof. Cavaco Silva, ocupando o cargo mais proeminente na magistratura da Nação e, por inerência, comandante supremo das FAs, não pode mostrar falta de coragem ou tergiversação nos procedimentos. Se o fizer a sua autoridade sairá ferida daí para a frente. Quem confiará na sua intervenção numa crise futura? Não se deve, por outro lado, invocar Princípios e, na sua quebra, não retirar as consequências inerentes. Ora o que aconteceu, não querendo o PR resignar, só poderia terminar na dissolução da AR. Dirão alguns, que tal seria causa de grande perturbação política e social e que isso favoreceria o partido no governo que assim podia descartar-se das responsabilidades na crise económico/financeira/ social - diria sobretudo moral – em que o país está mergulhado e assim capitalizar em eleições antecipadas. Esse desiderato explicaria, até, a insistência absurda do PM em não querer mudar uma vírgula
ao diploma. Pode ser, mas a agitação irá bater à porta, mais cedo ou mais tarde. Aliás, o País anda em roda livre há vários anos, seja qual for o governo que lá esteja a cobrar impostos. Não pensem que somos irresponsáveis: o que resta de Portugal tem-se aguentado porque Bruxelas tem enviado para cá somas avultadas de dinheiro e não tem havido rupturas de stocks de alimentos e energia (que cada vez importamos mais...) não foi porque algum governo tenha conseguido por o país a funcionar e a produzir de uma forma competente e honesta – a avaliar pelos casos de corrupção e nepotismo que são públicos e notórios. Os índices económicos, financeiros e sociais não param de deslizar para o vermelho e a maioria da população está longe de se aperceber da gravidade da situação. Tudo isto irá ter consequências políticas e não se deverá ficar por aí. Os partidos estão a ficar, também, reféns de votos regionais, o que representa mais uma acha para a fogueira da ingovernabilidade. Atente-se o que se tem passado em Espanha. Voltamos à questão do estatuto autonómico para dizer que tudo isto é um erro. Começa por ser um erro toda a parafernália de estruturas politicas que se inventou para os Arquipélagos dos Açores e Madeira, pois são perfeitamente dispensáveis, já que não acrescentam nada à governabilidade destes 90000km2 de terra habitada (ainda) soberanamente por uns tipos que se dizem portugueses. Nem representam alguma mais-valia em termos sociais, económicos ou qualquer outro âmbito que se queira considerar. Representa, isso sim,
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OPINIÃO uma despesa descomunal, um desperdício de tempo e energias, um foco permanente de tensões e problemas e uma passerelle de vaidades. Não há, em rigor, qualquer razão para “autonomias” do mesmo modo que não as há para o Minho ou para a Estremadura, pois nenhuma questão étnica, religiosa, cultural, linguística ou seja de que espécie for, justifica semelhante diferenciação. O facto de serem ilhas e haver muito mar de permeio nada justifica. Também era difícil chegar a Trás-os-Montes e o mar, no nosso caso, serviu sempre para unir e não separar. Hoje em dia, com os meios de comunicação e transporte existentes, as distâncias estão ao alcance de todos.
Nada mais seria necessário, portanto, às portuguesíssimas ilhas atlânticas do que freguesias, câmaras e governo civil. E bom seria que os portugueses de todas as terras circulassem por todas elas! Existe, porém, uma razão ponderosa para que se tivessem criado governo e parlamento regionais e espalhados por várias ilhas – até partidos regionais – e ministro da república: é que por alturas de 1974/75,o desatino que tomou a revolução dos cravos, que nos pôs à beira da guerra civil, com a ameaça de tomada do poder por forças marxistas, em Lisboa, provocou uma reacção violenta de rejeição nos arquipélagos. Essa reacção fez despertar aflorações separatistas e para evitar males maiores inventou-se a autonomia. Sendo as coisas o que são não será sensato pôr em causa uma realidade que já leva 35 anos. Mas será mais insensato ainda querer passar daqui. O radicalismo de algumas vozes e o à-vontade irresponsável de alguns jornalistas e comentadores, que passaram a falar em “federação” e outros temas, como quem combina ir beber umas imperiais e comer uns tremoços, não augura nada de bom. Desenganem-se os optimistas, o sistema está eivado de erros e os partidos políticos simplesmente não prestam. As coisas não só podem piorar, como vão piorar.
Confiança
» Joaquim Jorge
Esta saturação e insurgência para com os partidos e políticos além de levar à indiferença pode levar à ruptura do sistema. De acordo com um estudo "European Trust Brands 2009", divulgado pela revista Reader´s Digest, só um por cento declara ter muita ou bastante confiança nos políticos. Os portugueses em quem mais confiam por ordem decrescente é nos bombeiros (93%), pilotos de aviação (92%), farmacêuticos (90%), médicos (84%), agricultores (79%), professores (78%), polícias (63%), meteorologistas (59%) e sacerdotes (49%). No fim do top 20 estão os vendedores de automóveis (9%) e políticos (1%). Os sinais sentem-se na sociedade portuguesa, talvez se os políticos fizessem um exame de consciência e tirassem as devidas ilações da sua conduta. Uma das cicatrizes (defeitos, impurezas) da nossa democracia é a tentação de utilizar a rede do poder para engendrar clientelas fiéis em função de um intercâmbio de voto. A culpa é sempre dos outros. A classe política, com os seus comportamentos e atitudes, tem levado ao divórcio entre os cidadãos e os políticos. E a melhor forma de incutir confiança e respeito é «o exemplo do nosso poder tem que ser igualado pelo poder do nosso exemplo», as instituições públicas estarem ao serviço das pessoas e não dos interesses e objectivos particulares e partidários.
Como diz Michel Maffesoli, “o politico é o contrário do que é a democracia; agora são uns poucos, uma aristocracia, quem governa”. Esta saturação e insurgência para com os partidos e políticos, além de levar à indiferença, pode levar à ruptura do sistema. Não deixa de ser curioso que os bombeiros, a maioria exerce esta profissão em regime de voluntariado com poucas ou nenhumas benesses é a mais reconhecida e com maior confiança dos portugueses, ao contrário dos políticos, a maioria em regime efectivo com muitas e enormes benesses e que não têm a confiança e o reconhecimento dos portugueses.
Há gente que já perdeu a fé nos políticos e no país. Estão fartos de sorrisos brancos, fatos escuros, interesses obscuros, demagogia, broncas e insultos. Um palavreado contínuo, uma retórica brilhante, vazia de conteúdo e inacção.
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GRANDE REPORTAGEM
Não me tirem o Útero!... * Grito de mulher a quem mandam amputar uma parte significativa do seu corpo: os órgãos reprodutores! * Grito silenciado às que já o fizeram... sem precisar! Perto de um milhão de portuguesas têm miomas, quer o saibam quer não. Só descobrem quando alguns desconfortos as levam ao médico e os exames o revelam. O pior vem a seguir: com o avançar da doença, a prescrição do ginecologista acaba por ser, na maior parte dos casos, sempre a mesma: histerectomia, remoção do útero. Milhares de pacientes passam por isso em Portugal todos os anos... SEM NECESSIDADE!... Existe já uma nova terapia que evita a operação e todas as suas traumáticas consequências, cura a doença, preserva os órgãos reprodutores... e permite continuar a ter filhos! Porque é que a maior parte dos ginecologistas continua renitente em a aconselhar é um “mistério” que procurarei ventilar ao longo deste artigo... Reportagem de Pedro Laranjeira
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GRANDE REPORTAGEM
A DOENÇA “Fibromioma” é a designação comum dada aos miomas, ou tumores benignos, que se desenvolvem nas paredes do útero. Podem ir de 1 milímetro a 30 centímetros ou mais, frequentemente são numerosos, e podem começar a surgir após a primeira menstruação, regredindo por normal depois da menopausa. Formam-se por acção de estrogénios (hormonas femininas), pelo que ficam de sobremaneira vulneráveis as mulheres que tomam a “pílula”. A incidência de fibromiomas verifica-se em cerca de um terço das mulheres em idade fértil e 40% das que têm mais de 35 anos. Isto significa que muitas centenas de milhares de portuguesas os transportam, muitas vezes sem o saber, uma vez que são difíceis de detectar pela doente na fase inicial e as queixas só começam a ser evidentes quando os miomas atingem dimensões significativas. OS SINTOMAS Os sintomas mais frequentes são: - dores na região pélvica - aumento de volume do abdómen - períodos menstruais prolongados - hemorragias, incluindo durante a menstruação - dores ou desconforto durante as relações sexuais - sensação de peso - coprostasia (obstipação, prisão de ventre) - necessidade frequente de urinar - dificuldade na micção - dificuldade em engravidar - abortos espontâneos LOCALIZAÇÃO Há três tipos de fibromiomas: - Sub-mucosos, os mais raros, que se desenvolvem na parede interna do útero - Sub-serosos, localizados na porção externa da parede do útero, que crescem para fora - Intra-murais, os mais frequentes, que se desenvolvem na parede uterina DIAGNÓSTICO A doença só é descoberta quando o aparecimento de sintomas leva a paciente ao médico para um exame ginecológico. As duas formas mais eficazes e seguras de diagnóstico são: - Ecografia (abdominal ou vaginal), a mais simples e imediata - Ressonância magnética pélvica, processo exacto e sem quaisquer riscos para a saúde TRATAMENTO A medicina tem três tipos de abordagem a esta patologia: 1. Medicamentos: normalmente a primeira terapia 2. Cirurgia: dois tipos – miomectomia (extracção dos tumores) ou histerectomia (extracção do útero) 3. Embolização: nova técnica alternativa, que cura a doença e preserva os órgãos reprodutores
1. MEDICAMENTOS Sem excluir anti-inflamatórios, esta terapia consiste essencialmente na administração de medicamentos à base de hormonas. É sempre um processo temporário, com frequentes efeitos secundários e cuja eficácia cessa com o fim da medicação: os miomas voltam a crescer e os sintomas reaparecem. Presentemente só se utiliza em situações de pré-cirurgia ou como medida temporária antes da menopausa. 2. CIRURGIA Miomectomia: remoção de cada um dos miomas, por incisão abdominal ou vaginal, conforme a localização. - Abdominal: realiza-se uma incisão no abdómen e outra no útero, para remoção do fibromioma - Histeroscópica: só para miomas submucosos, sem incisão cirúrgica - Laparoscópica: pequenas incisões nas paredes abdominais e uterinas, para remoção dos fibromiomas localizados fora do útero Histerectomia: remoção total do útero, por via abdominal ou vaginal. Cirurgia irreversível, que elimina definitivamente os miomas mas impede a mulher de jamais poder voltar a ter filhos, para além de severos traumas emocionais relacionados com a perda de autoestima, perturbação da vida sexual, sensação de perda e vazio, redução de actividades físicas e ocupacionais que frequentemente conduzem a alterações psíquicas ou comportamentais, bem como alteração dos hábitos sociais. 3. EMBOLIZAÇÃO Nova terapia alternativa por radiologia de intervenção, que consiste em privar os miomas de irrigação sanguínea, levando-os a secar, com um período de internamento de poucas horas e curta convalescença, que preserva os órgãos reprodutores e permite engravidar a partir de seis meses após a intervenção. Praticada em Portugal desde 2004, não origina quaisquer dos sintomas derivados da histerectomia, é mais barata e tem uma taxa de êxito superior a 99%. PRESCRIÇÃO É aqui que a porca torce o rabo. A maior parte dos ginecologistas continua a optar pela histerectomia, mesmo quando as suas pacientes recusam submeter-se a cirurgia, insistindo em que é “a única solução”. É sempre o primeiro conselho: cirurgia, remoção dos órgãos! Às vezes é sugerida a manutenção dos miomas sob observação, para só intervir se começarem a crescer demasiado; depois, vêm os medicamentos e ocasionalmente a extracção dos miomas um a um (miomectomia). Em última instância, o conselho acaba sempre por voltar a ser o primeiro: histerectomia, remoção do útero, que em 50% dos casos é acompanhada pela ablação dos ovários, “para aproveitar a cirurgia”. Mesmo quando confrontados com a sugestão de uma embolização, a maior parte dos ginecologistas “é contra”, insistindo em MARÇO 2009
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GRANDE REPORTAGEM
que a histerectomia é não só aconselhável como indispensável. Isto é particularmente estranho, se fizermos uma análise comparativa séria das duas terapias... HISTERECTOMIA VERSUS EMBOLIZAÇÃO Numa coisa coincidem: curam a doença. A histerectomia retirando todos os miomas do corpo, juntamente com o útero - a embolização asfixiando-os da alimentação sanguínea (isquémia), que lhes pára o crescimento e inicia uma diminuição gradual de volume, chegando a fazê-los desaparecer por completo e anulando todas as queixas. Em muitas outras, porém, estas duas formas de intervenção são dramaticamente diferentes, a saber: QUANTO CUSTA Antes de mais, os custos são incomparáveis: por um lado, não é fácil saber ao certo quanto pode custar uma histerectomia - os hospitais não fornecem informação que represente uma cotação séria (para não dizer mínima) dos seus custos. A primeira tentativa que fiz para um dos hospitais da zona da Grande Lisboa mostrou-me logo que não há respostas disponíveis: “cada caso é um caso, é preciso primeiro uma avaliação do médico, só depois se pode saber melhor”... A Portaria 163/A/2001, publicada no Suplemento nº 55 do Diário da República, I Série-B, Anexo II, em 6 de Março de 2001, atribui à “Evisceração pélvica, histerectomia” um valor de 3.150,91 euros, acrescido de 1.291,89 euros de remuneração da equipa, ou seja, 4.442,80 euros. A isto acrescem, é claro, os custos de internamento. A embolização, por outro lado, tem um custo fixo, claro e disponível a qualquer pessoa que o indague: 3.500,00 euros, ou seja, na prática custa metade ou menos que uma histerectomia. Há outra diferença, porém: a histerectomia é comparticipada, mas não a embolização. No entanto, muitas das seguradoras que fornecem serviços de saúde aceitam a comparticipação desta terapia, o que pode reduzir os custos para a utente, dependendo do plano contratado, a poucas centenas de euros. De notar que o custo da embolização inclui tudo: internamento, sala de tratamento, honorários clínicos e acompanhamento médico durante 3 anos. Mais ainda: quando a paciente não tiver uma cobertura de saúde e o dinheiro não lhe chegar, pode fazer o pagamento em 4 prestações. A INTERVENÇÃO A histerectomia implica um internamento de 4 a 7 dias, com um período de convalescença de um a dois meses. Obriga a anestesia geral. A embolização é realizada em ambulatório, com internamento de 4 a 6 horas, podendo a doente regressar a casa no próprio dia. Ao segundo dia pode retomar a sua vida normal de trabalho. A intervenção propriamente dita demora cerca de 30 a 60 minutos. A anestesia é local, permitindo à paciente acompanhar o processo através dos monitores. Para quem prefere evitar fármacos, existe em Portugal a possibilidade de recurso a anestesia por acu12
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pun-ctura – é o único sítio do mundo onde tal é possível. É também o único sítio no mundo onde a paciente tem alta no próprio dia (por exemplo, nos Estados Unidos, como aliás na maior parte dos países, a intervenção é efectuada sob anestesia epidural e seguida por 1 ou 2 dias de bomba de morfina, procedimento que foi até hoje o único responsável por algumas das raras complicações pós-terapia). TER FILHOS Este é, de facto, o problema crucial. Muitas mulheres em idade fértil são aconselhadas a extirpar o útero e em metade dos casos em que tal acontece a única razão é a existência de miomas. Trata-se de uma crueldade desnecessária, uma vez que a medicina dispõe já de outra saída. Uma histerectomia é o fim definitivo da hipótese de maternidade. A embolização preserva o útero e pode permitir engravidar seis meses depois do tratamento. Das mulheres que o fizeram em Portugal, nasceram já 16 crianças e dez estão grávidas, com bebés a nascer a partir de Maio. FEMINILIDADE, AUTO-ESTIMA Não é a maternidade, porém, o único – ou o pior – dos problemas. O útero e os ovários são os órgãos reprodutores da mulher, o símbolo intrínseco da sua feminilidade. Extirpá-los é uma forma de castração que tem, como está amplamente demonstrado, graves efeitos psicológicos e sequelas que se arrastam pela vida inteira, independentemente da idade da mulher. Este simples facto desmonta a teoria tão comum e tão grata a muitos ginecologistas de que, em idade de menopausa ou depois dela, “são órgãos que já não são precisos”. Não é verdade, qualquer mulher o dirá! Além disso, é um facto científico que a evisceração pélvica provoca alterações no sistema endócrino, nomeadamente desiquilíbrios hormonais e alterações comportamentais. De um modo geral, está provado que uma histerectomia, além de provocar esterilidade irreversível, causa traumas emociais, abandono da auto-estima, sensação de vazio e perda, perturbação da vida sexual, redução das actividades físicas e ocupacionais, que conduzem a profundas alterações psíquicas e sociais. A embolização evita TUDO isto: custa menos que arrancar um dente e não altera nada, no quotidiano da vida. OS NÚMEROS Apesar dos factos, os números que quantificam estas duas formas de terapia são dramaticamente diferentes. A histerectomia é uma prática comum: nos Estados Unidos são feitas 600.000 por ano (metade das quais com remoção dos ovários), no Brasil, uma média de 107.000. Em Portugal (dados de há 2 anos, em hospitais públicos do Continente) submeteram-se a esta intervenção 11.359 mulheres, das quais 4.756 o fizeram devido à existência de miomas, ou seja... inutilmente! No mesmo período, trataram-se por embolização, com sucesso pleno, 208 mulheres. Dessas, algumas já são mães de crianças geradas após o tratamento.
GRANDE REPORTAGEM
O MISTÉRIO... Porquê, então, a persistência de tantos ginecologistas em aconselhar uma cirurgia invasiva com efeitos graves e irreversíveis, quando existe uma terapia que cura a doença e não tem consequências, nem físicas nem psíquicas?... Obtive vários testemunhos, que se dividiram entre o desconhecimento puro e simples desta terapia como alternativa e a acusação, mais grave, de que “certos médicos se esqueceram do juramento feito e olham para a medicina com um negócio”, nem sempre optando pela melhor solução para com o superior interesse do paciente. A própria Wikipedia, a mais utilizada das actuais ferramentas populares de consulta, abre com esta frase a sua página sobre o assunto: “A embolização uterina é uma técnica recente e, embora sujeita a alguma contestação pela comunidade científica - sobretudo ginecologistas -, pode ser uma alternativa viável e a considerar como ferramenta no tratamento dos miomas uterinos.” Pessoalmente, depois de extensa pesquisa e uma consulta atenta às posições de inúmeros intervenientes nesse bem social que é a medicina, opto aqui por realçar uma declaração de Jorge Branco ao Expresso, em 10 de Janeiro passado. É esta a frase do director da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa: “É preciso bom senso clínico e sempre com o interesse da doente à cabeça. A histerectomia está longe de ser a única solução.” » João Martins Pisco, especialista em Embolização Arterial Uterina
HISTÓRIA Como terapêutica, a técnica tem vinte anos de existência e começou em França, pela mão do ginecologista Jacques Ravina. Foi introduzida nos Estados Unidos em 1996 e no Brasil em 1999. Antes mesmo disso, porém, um português de espírito pioneiro sugeriu a embolização numa doente de 23 anos com abundantes hemorragias devido à presença de um fibromioma, que foi recusada pelo ginecologista assistente daquela. O caso foi publicado numa revista da especialidade. Estava-se em 1985. A sugestão partiu do radiologista João Martins Pisco, médico há 42 anos e perito em Radiologia de Intervenção. Só a partir de 1996, no entanto, conseguiu começar a captar a atenção, mas não a anuência, de alguns colegas portugueses. NO NOSSO PAÍS O marco histórico viria a acontecer em 24 de Junho de 2004, quando Martins Pisco realizou a primeira embolização das artérias uterinas em Portugal, numa paciente de 32 anos já antes submetida a duas miomectomias e que tomou, ela própria, a iniciativa de o contactar, na sequência de pesquisas na internet e
por conselho de um médico brasileiro. Essa doente engravidou entretanto e teve o primeiro filho em Fevereiro de 2007. Martins Pisco começa então uma longa carreira de participação em congressos internacionais para divulgação das técnicas de Embolização Arterial Uterina (EAU), que se mantém até aos nossos dias. Hoje mesmo, na data de publicação deste artigo, está nos Estados Unidos em mais uma campanha da sua cruzada. Cinco meses depois da primeira intervenção, a comunicação social portuguesa interessa-se pelo assunto e o Correio da Manhã e a TVI deslocam uma equipa ao Hospital onde se realizava outra embolização, para trazer à opinião pública o conhecimento desta nova oferta da ciência. O HOSPITAL Martins Pisco iniciou a aplicação deste tratamento no Hospital de St. Louis em Lisboa, onde mantém o seu centro de trabalho e dispõe agora de uma equipa multidisciplinar, cada vez com mais pacientes a procurar os resultados ímpares da embolização das artérias uterinas. O Hospital fica no Bairro Alto e presta todo o tipo de esclarecimentos através do telefone 213 216 557. O TRATAMENTO A Embolização Arterial Uterina é uma terapêutica não invasiva que consiste na interrupção da circulação sanguínea que irriga o fibromioma, conduzindo à sua atrofia, com um grau de isquémia superior a 90%. É introduzida uma agulha na artéria femoral, através da virilha direita, por onde se faz entrar um cateter com 1,5 mm de espessura, que é dirigido através de monitorização video, para cada uma das artérias uterinas. A embolização é realizada pela introdução de microesferas de material sintético de polivinil alcóol. Este material é completamente inócuo e usa-se há mais de 40 anos em embolizações, sem qualquer reacção por parte do organismo. As microesferas “entopem” a alimentação de sangue ao mioma, que começa imediatamente a “murchar”, chegando a observar-se uma redução visível no volume do abdómen logo após o curto tempo da intervenção (ver fotos).
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» Hospital de St. Louis, 8 de Novembro de 2008, fotos: Pedro Laranjeira (notar a hora a que foram tiradas e a redução do abdómen apenas durante a embolização)
Todo o processo é acompanhado através de monitores, onde se vê perfeitamente a irrigação sanguínea do tumor a ser interrompida pela introdução das microesferas de polivinil. Uma vez terminado, retira-se o cateter e a doente descansa cerca de duas horas, após o que pode levantar-se e, uma hora depois, ingerir a sua primeira refeição. Tem alta no próprio dia. Depois de mais 24 horas de tranquilidade, mas na rotina normal MARÇO 2009
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GRANDE REPORTAGEM
» Anestesia por acupunctura Massagem de acompanhamento
da sua vida diária, pode regressar ao trabalho, embora se aconselhe uma semana de repouso, quando possível. AS PACIENTES No dia em que Martins Pisco me convidou para assistir a seis intervenções no St. Louis, entrevistei todas as pacientes antes e depois e mantive mesmo com duas delas uma conversa fácil e agradável durante a intervenção. Uma semana depois, todas estavam bem dispostas, de perfeita saúde, completamente recuperadas e felizes pela opção que as levara ali naquele dia. Uma delas era Testemunha de Jeová, que por determinação da sua fé não aceita transfusões de sangue e me disse que lhe tinham imposto fazer uma, ou assinar um termo de responsabilidade... fiquei a pensar o que o futuro lhe reservaria se não tivesse encontrado esta alternativa... Outra era, uma boa amiga de longos anos com quem tenho falado todos os dias desde então e que se diz feliz, liberta de cinco anos de pesadelo em que lhe prescreveram a necessidade inevitável de uma histerectomia. Quando descobriu esta solução, ficou com o probelam resolvido em menos de um mês e esteve tão à vontade que até deu uma entrevista, durante a intervenção, a uma equipa da RTP que ali esteve conosco e a passou no Telejornal dessa noite. É dela a frase que me inspirou o título para esta reportagem com 44 anos e sem querer ter filhos, o testemunho que lhe recordo foi, ainda assim, este mesmo: “Não me tirem o útero!...” » Anestesia por acupunctura, Dr. Mitsuharu Tsuychiya
A ANESTESIA Uma vantagem da embolização salientada por muitas das pacientes que entrevistei foi não terem que se submeter a uma anestesia geral. Martins Pisco tem vindo a aperfeiçoar as suas técnicas de intervenção e hoje em dia o processo é virtualmente indolor. Oferece às suas doentes dois tipos de anestesia: local, pelos métodos tradicionais, ou por Acupunctura. Nisso, é impar e pioneiro: é o único estabelecimento hospitalar no mundo que
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oferece anestesia por acupunctura. Para tal, conta com a colaboração de uma equipa liderado por Mitsuharu Tsuychiya, médico japonês radicado em Portugal há três décadas e meia, assistido por Pedro Figueiredo, um acupunctor que cruza a medicina convencional com a “alternativa” e proporciona sofisticadas técnicas de electro-acupunctura, acompanhadas de massagem shiatsu à cabeça da doente, no caso pela terapeuta Maria José, possuidora de uma vasta experiência. No dia da minha visita, duas das seis pacientes optaram por este método. O ACOMPANHAMENTO Se há uma coisa de que Martins Pisco e o Hospital de St. Louis não podem ser acusados é de malhar o ferro sem fogo. As condições que oferecem às suas pacientes, após o tratamento, são, no mínimo, invulgares... a saber: - contacto permanente com o médico, 24 horas por dia, através de telemóvel - em caso (raríssimo) de insucesso, a embolização é repetida seis meses depois, sem quaisquer custos - acompanhamento gratuito da doente durante os três anos seguintes. TESTEMUNHOS Não cabem aqui, mas tenho na minha posse 265 testemunhos de pacientes que tratam o médico do Bairro Alto como o salvador que lhes devolveu a vida!... Porque será?... PONTO DA SITUAÇÃO Até hoje, João Martins Pisco realizou em Portugal 756 embolizações. - 63 foram feitas com anestesia por acupunctura. - 78% das pacientes tinham uma prescrição anterior de histerectomia. - 26 engravidaram após o tratamento. - 16 crianças nasceram já. - 10 vão nascer em 2009.
...honni soit qui mal y pense!
SONDAGENS E ESTUDOS DE OPINIÃO Sondagens políticas e estudos de opinião
Importantes ferramentas para ajudar a ganhar eleições As sondagens e os estudos de opinião, são cada vez mais importantes ferramentas para os partidos e políticos em época de eleições. Para além de servirem de termómetros que medem as intenções de voto num determinado momento, fornecem importante informação, de forma a perceber-se quais as motivações dos eleitores que determinam a sua intenção de voto. Por Henrique Monteiro, director-geral da GBN
Com sondagens e estudos de opinião consegue-se percepcionar o que pensam os eleitores das várias personagens políticas, se votariam nelas ou não, e porquê, conseguindo-se assim escolher o melhor ou os melhores candidatos para galvanizar os eleitores e colher os consequentes votos. Por muito que os políticos queiram resolver os problemas do País ou do seu Concelho, não vão PUB
conseguir nunca dar resposta à maioria deles, inquirindo-se os Eleitores em relação às suas reais preocupações e anseios, percebe-se a sua escala de prioridades, logo é menos difícil preparar os programas eleitorais. Se um programa eleitoral der resposta aos anseios prioritários da maioria, as hipóteses de vitória eleitoral sobem exponencialmente.
Cada vez mais os políticos apostam no marketing político, a sua imagem é cada vez mais importante e influenciadora junto dos eleitores, os estudos de opinião servem e ajudam os marketeers da política a colher informação para melhor aconselhar os candidatos. Apesar de a informação obtida com as sondagens e estudos de opinião ser de fundamental importância para ajudar a ganhar eleições, aproveito este artigo para alertar os políticos que é preferível não ter informação do que ter má informação, ou melhor, este tipo de estudos são falíveis e tem margem de erro, dependendo o valor da informação, das amostras utilizadas e das metodologias aplicadas. Amostras diminutas e insuficientes aumentam o erro amostral (erro máximo), metodologias tecnicamente incorrectas podem tornar uma inverdade o nível de confiança apresentado. As limitações orçamentais que muitas vezes são apresentadas aos gabinetes no momento de encomenda destes estudos, dificultam o trabalho dos técnicos e podem limitar a escolha das melhores metodologias. Por outro lado aproveito para fazer um apelo aos leitores eleitores, quando solicitados para responderem a este tipo de estudos, façam-no respondendo com a verdade, é de fundamental importância, as vossas respostas são absolutamente confidenciais e nunca tratadas de forma individual.
SONDAGENS E ESTUDOS DE OPINIÃO
Estudos de mercado em ano de eleições No ano em que decorrem três eleições a nível nacional, a Perspectiva quis saber qual o espaço que os estudos de mercado ocupam nestes processos. António Salvador, director-geral da Intercampus, afirma que normalmente quem solicita os estudos de mercado, nem sempre os emprega como barómetro de receptividade e aceitação dos seus ideais políticos, mas sim como reveladores de dados controversos, os quais se podem usar como uma mais-valia para a sua campanha. Ano de eleições versus estudos de mercado e a sua importância?
As eleições que se realizam no nosso país, regra geral, impactam pouco nos estudos de mercado. Diria, sem rigor mas como imagem válida que, num ano de excepção, como é o caso de 2009, com três actos eleitorais, o volume de negócios proveniente desta área, pode, quanto muito, representar 5% do total. Em anos sem actos eleitorais, será quase despicienda. Agora é verdade que há empresas que, aparentemente, só fazem estudos políticos e eleitorais. Serão empresas, seguramente, de pequena dimensão, mas para quem estes estudos são a razão de existir. E há efeitos indirectos muito importantes. Este tipo de estudos tem enorme notoriedade; a sua mediatização implica que qualquer pequena sondagem, se reveladora de polémica, terá maior espaço de divulgação que, qualquer estudo de mercado, por mais exigente que seja, por mais robusta que seja a sua amostra, enfim por maior que seja a sua qualidade. A verdade é que, os políticos, utilizam as sondagens, como os treinadores, utilizam as arbitragens, ou seja, como justificação dos seus insucessos. Por outro lado, os bons resultados, em geral, que se têm verificado há vários anos, nas “bocas-de-urna”, são garante da fiabilidade destes estudos. A estratégia de comunicação dos partidos deve assentar no resultado dos estudos de opinião?
Sim e não. Sim, porque os estudos de opinião servem para testar estratégias, slogans e temas de comunicação. Não, porque os
partidos não devem definir as suas orientações exclusivamente em função do que os estudos de opinião lhes dizem. De que forma é possível certificar a qualidade dos estudos?
Através de processos de supervisão e verificação técnica e metodológica. As áreas mais críticas em termos de qualidade e veracidade dos estudos, podem resumir-se, da seguinte forma: 1. Dimensão da amostra 2. Método de selecção da amostra/ entrevistado 3. Método de recolha da informação 4. Cuidados na elaboração do questionário/inquérito 5. Processos de supervisão do trabalho realizado pelos entrevistadores 6. Processos de supervisão do tratamento informático 7. Processo de tratamento/análise de resultados Seja como for, em qualquer circunstância, e talvez como acontecerá com qualquer sistema de controle de qualidade, não é possível garantir a 100% a qualidade ou a fiabilidade dos estudos. E é fácil de perceber porquê. Vejamos, p. ex., dois aspectos especialmente importantes na realização de uma sondagem de intenção de voto: 1. o modo como a pergunta é formulada 2. o local onde a pergunta é colocada A situação ideal de formulação e colocação é o boletim de voto em urna como pergunta única ou, no limite, como pergunta inicial. Agora, se não se fizer uso do boletim de voto em urna, é possível
utilizar uma pergunta normal? Sim. E os resultados são iguais? Ninguém sabe, mas admite-se que serão parecidos. Mas uma pergunta como? Com uma lista de nomes, partidos ou siglas ou o que for, apresentados com várias ordens diferentes. E isso pode ser feito também por telefone? Sim. E os resultados são iguais? Ninguém sabe, mas admite-se que serão parecidos, mas, atenção, para o Universo em causa, ou seja para os possuidores do tipo de aparelho em causa (no caso do telefone fixo, estamos a falar de pouco mais de 50% da população). Mas, quer num caso quer no outro (telefónico ou directo), os resultados só serão provavelmente parecidos se a pergunta for a primeira do questionário. E se não for, os resultados são iguais, ou parecidos? Não. E serão tanto mais diferentes quão mais perturbadoras forem as perguntas que estão no meio. E vejamos agora o problema da abstenção. Nas sondagens pré-eleitorais a abstenção declarada é baixa, normalmente cerca de metade do que se vem mais tarde a verificar. E o que é que faz com que uma pessoa acabe por não ir votar quando estava a pensar fazê-lo? Entre outros factores possíveis, a motivação. A tal que as campanhas pretendem aumentar. Assim, diria que o resultado de uma sondagem préeleitoral é essencialmente um produto da simpatia ou opção partidária. Mas, estes estudos são, definitivamente, um excelente instrumento de gestão e aferição da estratégia. Leia entrevista na íntegra em www.revistaperspectiva.info
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O palco dos políticos (e os bastidores…) Tal como no teatro, na política também há palco e há bastidores. Tal como no teatro, também na política há actores e há uma imensa máquina que, por detrás da actuação, ensaia, prepara e ajuda os actores/candidatos. A equipa SIM - Network
Como exemplo ilustrativo da importância da imagem ficou o enigmático caso do confronto Nixon-Kennedy, onde as sondagens pós-debate foram míticas: a maioria dos que ouviram rádio considerou que Nixon tinha vencido o debate. Mas a maioria dos que o seguiram na TV atribuiu a vitória a Kennedy, que acabaria mesmo por ganhar as eleições. A política está cheia destes casos, onde os cuidados postos na performance e na imagem foram e são determinantes. A comunicação política está a sofrer, desde os finais do século XX, profundas alterações. As recentes eleições nos Estados Unidos da América deixaram já a sua marca na história, pelas mais diversas razões, mas sobretudo pela emergência de uma estratégia comunicacional extremamente bem organizada. Para veicular a sua mensagem, Barack Obama fez uso das mais modernas técnicas e tecnologias, na WEB: blogs, redes
sociais na net, videojogos, sites. A estas ferramentas aliou as mais convencionais formas de comunicação, como a mobilização porta a porta (cartas e chamadas nos «battleground states», etc.). Assim Obama dirigiu-se ao eleitorado de forma personalizada, adequando a mensagem a cada meio e a cada público. O resultado foi visível no acréscimo de eleitores nas urnas, e consequente eleição de Obama. O caso das presidenciais norte-americanas vem provar que através da comunicação política profissionalmente organizada, é possível ajudar a eleger um candidato. A opinião pública é fruto do que os media divulgam. O escrutínio permanente do eleitorado é feito também nos meios de comunicação, e estes podem ser o melhor auxiliador ou o pior coveiro de um candidato. Cabe aqui aos mais diversos profissionais (os tais que actuam nos bastidores…), orientar os candidatos na exploração e potencialização das suas mensagens através de múltiplas plataformas de comunicação.
Neste sentido, a adopção do modelo multicomunicacional americano será inevitável para as eleições que decorrerão neste paradigmático 2009, o ano de três eleições e onde todos estarão à prova. Um político não pode alienar-se de todas estas mudanças ao manter estratégias passadas, para um presente que quer res18
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postas diferentes. Só equipas multi-disciplinares e altamente profissionalizadas serão capazes de tirar proveito da conjuntura sociopolítica como chave necessária para os êxitos das campanhas eleitorais. Os estudos de mercado e as sondagens, como factor de auscultação das populações e diagnóstico prévio ao anúncio de medidas, têm aqui papel preponderante. Não há político que os dispense, não há partido que os não utilize como indicadores do que deve ser dito, onde, de que modo e para quem. Todo este esforço comunicativo é fruto de novos intervenientes nos palcos das máquinas partidárias: peritos em sociologia eleitoral, relações públicas, publicidade e marketing, psicólogos, informáticos, investigadores de opinião pública, redactores de discursos, organizadores de eventos, especialistas em logística, etc. São estes os novos intervenientes que personificam a profissionalização dos bastidores dos aparelhos de poder.
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Estudos Qualitativos e Marketing Politico Foi no Reino Unido, no final dos anos 80, que os Estudos Qualitativos se destacaram como utensílio de suporte à estratégia política na Europa. Nas eleições gerais britânicas de 1987 as metodologias qualitativas foram utilizadas por quase todos os principais partidos políticos e Tony Blair assumiu que grande parte da comunicação da sua estratégia eleitoral se tinha apoiado em informação recolhida segundo métodos e técnicas de investigação qualitativo. Por Paula Freire, directora-geral da Multivária - Representante Nacional da ESOMAR
Tony Blair e Bill Clinton foram as primeiras figuras políticas a usar metodologias qualitativas sistematicamente, tanto na fase pré-eleitoral como depois na gestão da sua relação política com os cidadãos durante o exercício dos respectivos mandatos. Actualmente, a compreensão sobre o comportamento dos eleitores indecisos e dos flutuantes é um contributo indispensável para a construção das estratégias eleitorais. É, fundamentalmente, aqui que reside a importância do conhecimento profundo das motivações, aspirações e expectativas do eleitorado, uma vez que, em grande parte, são eles os decisores dos resultados eleitorais. Com a crescente distanciação da população em relação á politica, o sentido de voto é muitas vezes condicionado pela componente imagética, pela personalidade e valores veiculados pelo candidato. As variáveis do foro emocional assumem com alguma frequência um papel mais relevante para o eleitorado que os programas partidários específicos. No nosso país são já desenvolvidos com regularidade Estudos Qualitativos para um conhecimento aprofundado dos candidato, da sua imagem e posicionamento no panorama político, os valores transmitidos e capacidades (re)conhecidas, bem como as ameaças e oportunidades para a afinação da estratégia global. Baseados em entrevistas semi-directivas em profundidade (individuais ou em grupo – “ focus group” ), estes estudos
permitem “ver a realidade” num fluxo narrativo, aceder às motivações e emoções conscientes e inconscientes, aos desejos e receios do eleitor comum. Ao exprimirem-se livremente, nos Estudos Qualitativos, o desenrolar do tema, as questões levantadas e as categorizações feitas, dependem do modo como os cidadãos encaram e vivenciam os assuntos em discussão.
Não pretendendo ter representatividade estatística, a validade dos qualitativos depende sobretudo da pluralidade amostral interna, da experiência na moderação de grupos e de uma intuição “despreconceituosa” e isenta característica dos analistas com formação e treino adequado. Para garantir a recolha de “todos os pontos de vista e emoções” sobre um tema há que conciliar a selecção de grupos “internamente homogéneos” com a necessidade de ter uma amostra total diversificada. Os grupos pouco homogéneos (por exemplo, que juntam potenciais eleitores do PSD, PS, CDS, BE, e PC para avaliar uma medida, um candidato, etc) tendem
a dispersar-se e a serem globalmente menos produtivos. Os grupos internamente não homogéneos são produtivos, por exemplo, quando se procuram pistas de resolução de conflitos ou em caso de optimização de políticas locais. Normalmente, quando se pensa na aplicação de estudos de opinião à área política, pensa-se essencialmente nas fases de campanha eleitoral. No entanto, os Estudos Qualitativos podem ser uma ferramenta importante na implementação de medidas políticas, no período inter-eleitoral tanto a nível nacional como local. As metodologias qualitativas podem ser úteis: - na fase de concepção de uma determinada política, permitindo perceber o ponto de vista do cidadão comum sobre o tema e nível de ajustamento às suas necessidades concretas; - na fase de comunicação, permitindo determinar qual a informação relevante para os cidadãos, e quais os seus receios a acautelar ; - na fase de implementação da medida, monitorizando a sua aplicação prática, ajustando e redefinindo todos os aspectos necessários; Os estudos qualitativos revelam-se, assim, um instrumento de facilitação da comunicação entre os agentes políticos e os cidadãos, originando medidas mais adequadas às necessidades da população e promovendo uma optimização da adesão às mesmas. MARÇO 2009
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ENTREVISTA
“Município cada vez mais atractivo” Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, traça as grandes linhas estratégicas para o concelho. Como caracteriza o concelho de Vila Nova de Famalicão?
Com 140 mil habitantes, Famalicão é um dos maiores municípios portugueses, inserido num dos principais eixos comerciais e industriais do País, formado pelos distritos do Porto e Braga. Em Famalicão temos um dos principais cruzamentos de auto-estradas e estamos a poucos minutos das maiores cidades do Norte. É por isso, um concelho bom para investir e bom para viver. O trabalho da Câmara Municipal tem como objectivo estratégico criar as infra-estruturas necessárias para que Famalicão seja um município cada vez mais atractivo, investindo no bem-estar das pessoas e na qualidade de vida. Isso faz-se investindo nas infraestruturas ambientais, nos equipamentos desportivos, na modernização constante do parque escolar e da rede viária, na criação e dinamização dos equipamentos culturais, etc..
“Guardamos e promovemos os nossos valores culturais e dinamizamos múltiplas actividades culturais de interesse nacional.”
Uma das grandes apostas do Executivo centra-se na área da cultura, nomeadamente através da Casa das Artes. Porquê esta aposta?
Para nós é um orgulho que Vila Nova de Famalicão, que acolhe algumas das maiores empresas do País em diversas áreas, seja conhecida também por uma política cultural muito activa. Além da Casa das Artes, que colocámos no roteiro das grandes salas do País, temos a Casa de Camilo, como grande espaço de dinamização da língua portuguesa, e temos um centro de investigação da I República, no Museu Bernardino Machado. Mas não só. Temos as artes plásticas do Surrealismo português, com o espólio de Mário Cesariny, entre outros artistas, que estará disponível no futuro Museu do Surrealismo, que vamos agora construir. Temos ainda as memórias dos caminhos ferroviários e da indústria têxtil. Ainda na cultura, recebemos, há um ano, na Biblioteca Camilo Castelo Branco, o espólio bibliográfico de Eduardo Prado Coelho, com mais de 10 mil títulos, que o próprio cedeu ao Município, por conhecer a nossa sensibilidade para a preservação e divulgação dos bens culturais. E para acompanhar esta “ementa” de valores culturais, temos também os sabores da melhor gastronomia do Minho. Guardamos e promovemos os nossos valores culturais e dinamizamos múltiplas actividades culturais de interesse nacional como instrumentos da nossa formação colectiva, mas também como elemento capaz de atrair um turismo de qualidade, fomentando, por essa via, muitas actividades económicas. Quais são os grandes projectos para o futuro?
Vamos lançar um concurso público internacional para a criação de uma parceria 20
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» Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
público-privada destinada a construir e gerir um total de 7 pavilhões desportivos, 2 piscinas e 2 campos de futebol, equipamentos que vão implicar um investimento de 50 milhões de euros. Neste investimento inclui-se também um pavilhão multiusos, para grandes eventos, e uma nova cidade desportiva, com um novo estádio moderno e funcional. Além disso, temos o Parque da Cidade, cujos terrenos acabámos de adquirir, pelo que o processo, que esteve emperrado durante muitos anos, é, agora, imparável. Temos uma parceria para a competitividade e inovação, com os municípios de Braga, Guimarães e Barcelos, no âmbito da qual vamos construir o Museu do Surrealismo, que inclui um centro de estudos. Ao nível do ambiente, os últimos anos foram de grandes investimentos nas redes de água e saneamento, e vamos prosseguir, para que, em 2013, tenhamos as 49 freguesias do concelho servidas por estas infra-estruturas.
FORMAÇÃO Escolas Profissionais
A sociedade civil na vanguarda do serviço público de educação de dupla certificação Escolas Profissionais – A sociedade civil na vanguarda do serviço público de educação de dupla certificação. Por Fernanda Ramos
Vinte anos após o relançamento do Ensino Profissional, e num momento em que esta vertente do nível secundário surge como determinante para a universalidade dos 12 anos de escolaridade, importa tecer algumas reflexões sobre o papel de verdadeira vanguarda na afirmação deste “subsistema” protagonizado pelas Escolas Profissionais. Quando em 1989/90 foi lançado o repto à sociedade civil para, em parceria com o Estado, ensaiar um novo modelo de resposta formativa de dupla qualificação que recuperasse a educação técnica e disponibilizasse um conjunto crescente de quadros técnicos intermédios altamente qualificados indispensáveis ao processo de modernização social e económica da sociedade portuguesa, estávamos longe de antever o percurso difícil mas de sucesso que este desafio viria a desencadear. Tratava-se de ensaiar um modelo novo que pudesse emergir como resposta a necessidades de qualificação escolar e profissional efectivamente sentidas e identificadas, ao nível local, que se inscrevesse num novo ciclo de afirmação da sociedade civil no processo de desenvolvimento e de modernidade que Portugal ansiava e a sua integração na Europa comunitária vinha possibilitar. Este processo foi assumido, desde o seu início, como um novo paradigma de respostas públicas aos imperativos constitucionais de uma educação para todos, por uma diversidade de instituições representativas do tecido social e económico de cada região, que interpretaram anseios e potencialidades e mobilizaram recursos locais e regionais. Sem elas não teria sido possível canalizar para a qualificação dos recursos humanos portugueses uma parte muito significativa da componente financeira comunitária que foi negociada no âmbito do PRODEP.
As Escolas Profissionais, com o seu vanguardismo organizacional e pedagógico, traduzido na formulação e consolidação de parcerias entre a Escola e Mundo do Trabalho nunca antes ensaiadas; na afirmação da promoção do sucesso educativo e do combate ao abandono escolar, assumiram, em nome de Portugal, compromissos financeiros que, na sua ausência, não teria sido possível concretizar o sistema inovador, estruturado e socialmente reconhecido que hoje é.
Contudo, este alargamento, não pode nem deve dispensar, a continuação de um espaço significativo das Escolas Profissionais (privadas) nesta resposta pública de educação. Por e para isso importa clarificar e assumir o papel das Escolas Profissionais no seio das políticas públicas de expansão da obrigatoriedade escolar para os 12 anos e fazê-lo estabelecendo um quadro favorável ao seu crescimento e à sua verdadeira autonomia administrativa e financeira, em conformidade com o espírito definido pelo Dec.-Lei 04/98. Este quadro, perspectivado a médio e longo prazo, deve resolver os constrangimentos financeiros e assentar numa nova fase de relação institucional baseada na contratualização de resultados e no respeito pela capacidade e responsabilidade de gestão dos apoios públicos que estas entidades têm comprovadamente demonstrado, ao serviço das populações e do processo de desenvolvimento sustentável de cada uma das regiões do nosso território nacional.
Leia artigo na íntegra em www.revistaperspectiva.info
* Presidente da Fundação Alentejo, entidade proprietária da EPRAL - Escola Profissional da Região Alentejo.
Saudamos o alargamento dos Cursos Profissionais à rede pública de Escolas Secundárias. Essa foi uma opção estratégica do actual executivo que deve ser reconhecida enquanto projecção para novos patamares quantitativos do modelo que fomos capazes de desenvolver no seio das Escolas Profissionais.
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CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Combater e prevenir
o racismo e a discriminação Com um balanço francamente positivo e a atribuição de um prémio contra a discriminação racial, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial encerrou um mandato de três anos. A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) é uma Comissão, especializada na luta contra a discriminação racial, que funciona junto do Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI). Para a prossecução desse objectivo, as suas principais competências são a recolha de toda a informação relativa à prática de actos discriminatórios e a emissão, através da Comissão Permanente, de pareceres relativos às sanções a aplicar no âmbito dos processos de contra-ordenação instaurados pela prática de actos discriminatórios. A CICDR deverá ainda recomendar a adopção das medidas legislativas, regulamentares e administrativas que considere adequadas para prevenir a prática de discriminações, assim como promover a realização de estudos e trabalhos de investigação sobre a problemática da discriminação.
discriminação. Assim, integra, para além da Alta Comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural, dois representantes eleitos pela Assembleia da República e dois representantes do Governo, a designar pelos departamentos governamentais responsáveis pelo emprego, solidariedade e segurança social e pela educação. Representando a sociedade civil, estão ainda presentes dois representantes das associações de imigrantes, dois representantes das associações anti-racistas, dois representantes das centrais sindicais, dois representantes das associações patronais, dois representantes das associações de defesa dos direitos humanos e ainda três personalidades a designar pelos restantes membros. Em entrevista Rosário Farmhouse, presidente da CICDR, faz um balanço da actividade da Comissão e revela que o concurso para o cartaz contra a discriminação racial “superou as expectativas”.
ram tomar iniciativas para mudar mentalidades, uma tarefa muito árdua e que tem ainda um longo caminho a percorrer. Têm-se realizado diversas iniciativas interessantes. Destaco, no último ano, que foi o período em que estive mais directamente ligada à CICDR, o Seminário Media e Imigração, que assegurou um painel de intervenientes de elevadíssima qualidade, e através do qual conseguimos debater e sensibilizar os media para o cuidado de não aumentar estereótipos nem construir mitos em torno dos Prémio “Cartaz contra a Discriminação Racial”
Que balanço se pode fazer das actividades da CICDR?
» Rosário Farmhouse, presidente da CICDR
É ainda da sua competência tornar públicos, por todos os meios ao seu alcance, casos de efectiva violação da lei e elaborar e publicitar um relatório anual sobre a situação da igualdade e da discriminação racial em Portugal. Esta Comissão é um organismo que reúne periodicamente, com uma composição que reflecte a diversidade de entidades envolvidas no combate ao racismo e com relevância para a promoção da não 22
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A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial procurou sensibilizar a opinião pública para a temática da discriminação, designadamente através de intervenções públicas sempre que tal se revelou necessário, para a promoção da tolerância na sociedade portuguesa, passíveis de consulta no site da CICDR, que foi outra das excelentes iniciativas deste triénio. Foi também recebendo queixas e acompanhando os processos de contra-ordenação por discriminação racial, no âmbito da aplicação da “Directiva Raça”. É um grupo muito diversificado, e por isso interessantíssimo do ponto de vista do trabalho desenvolvido, porque tem representantes de entidades públicas e privadas, que em conjunto procu-
O prémio “Cartaz contra a Discriminação Racial” foi uma iniciativa da CICDR com o apoio da Comissão Europeia, que inseriu esta iniciativa na campanha europeia “Pela Diversidade. Contra a Discriminação”. No dia 3 de Março, realizou-se a cerimónia de entrega de prémios. O vencedor do concurso, Pedro Almeida Regadas, recebeu em cerimónia pública, no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante, em Lisboa, um cheque no valor de 1.500 euros, entregue pessoalmente pela Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse. Foram ainda distinguidos com Menções Honrosas sete dos 181 trabalhos apresentados.
CONTRA A DISCRIMINAÇÂO RACIAL imigrantes e das minorias étnicas. Também destaco o concurso nacional, em parceria com o Ministério da Educação, “A Minha Escola na Luta contra a Discriminação Racial”, realizado em 2007 e que contou com a participação de mais de 110 escolas e 6000 alunos. Temos também realizado contactos, formais e informais, para sensibilizar os nossos parceiros, governamentais ou não, para esta temática. Estou-me a lembrar, por exemplo, de uma reunião com as várias polícias, onde desenvolvemos uma importante acção de sensibilização, entre muitas outras iniciativas. Existe um balanço positivo, mas ficou ainda muito por fazer. Quais serão as futuras iniciativas da CICDR?
Gostaríamos de, no futuro, poder realizar um trabalho cada vez melhor. Estamos a preparar um plano de acção com proactividade para trabalhar com o novo grupo. Iremos continuar com esta temática da sensibilização, que é muito importante. Alguns conselheiros já sugeriram novos seminários, nomeadamente um seminário sobre humor e discriminação, que me parece muito pertinente.
Testemunhos Conselheiro João Silva “A CICDR tem evoluído de forma bastante positiva. Cada vez mais, chegam-nos casos e situações de discriminação e pedidos de informação. No contexto social em que nos encontramos, o papel da CICDR será cada vez mais importante. A composição desta CICDR, com um mandato de três anos, chegou ao fim. Agora vai-se passar à formação da CICDR para o novo triénio. Daí que seja necessária uma reflexão sobre o que foram estes três anos, para encontrarmos mecanismos e medidas necessárias à sua agilização, conseguindo uma maior capacidade de resposta de um instrumento cada vez mais eficaz ao serviço da luta contra a discriminação racial. Penso que o principal problema da CICDR é ser pouco conhecida. Precisamos de investir mais na sua divulgação, porque existem de facto instrumentos e mecanismos com condições para dar resposta às situações de discriminação.” Conselheiro Manuel Correia “O balanço do funcionamento da CICDR é muito positivo. Esta Comissão contribuiu significativamente para alertar a sociedade, as instituições e a comunicação social no sentido de defender os cidadãos vítimas de racismo e discriminação. Apesar disso, a melhoria é sempre possível, sobretudo no que respeita à legislação, onde seria desejável alguma clarificação. Por outro lado, a discriminação é por vezes subtil, e é necessário perceber isso e combatê-la. Infelizmente, a CICDR não é tão conhecida quanto seria desejável. Quanto mais for conhecida, mais pode contribuir para que o racismo e a discriminação sejam banidos. De qualquer das formas, há um avanço significativo no número de queixas e no número de participações. Dantes, era muito rara uma queixa, mas actualmente há cada vez mais pessoas que sabem que podem recorrer à CICDR.”
Tive também oportunidade de falar, recentemente, com o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, para combinar uma acção conjunta de combate à discriminação na área do futebol. Há muito por fazer, temos novas ideias e estamos à espera de nos juntarmos com os novos conselheiros para elaborarmos um plano de actividades mais rico e abrangente. Que avaliação faz do concurso para o cartaz contra a discriminação racial?
Em www.cicdr.pt pode encontrar mais informações sobre a CICDR e diversas funcionalidades, entre as quais a possibilidade de apresentar, por via electrónica, queixas sobre racismo e discriminação, na esfera de competência desta Comissão.
O concurso superou as expectativas. Tivemos 181 trabalhos, todos de grande criatividade e sensibilidade, de pessoas das mais diferentes idades e zonas do país. Foi muito difícil escolher um vencedor entre os seleccionados, porque as menções honrosas quase que mereciam também primeiros prémios. São trabalhos muito bons, que iremos utilizar no âmbito de uma estratégia alargada de distribuição pelo país. Agora, iremos pensar noutras iniciativas, procurando chamar cada vez mais pessoas a demonstrar, através da arte, a sua sensibilidade para a questão da diversidade e para o combate à discriminação. MARÇO 2009
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PERSPECTIVA
OPINIÃO
O azeite biológico
como oportunidade do Interior
» José Martino, engenheiro agrónomo
Numa altura em que as notícias sobre a exploração do olival tradicional não são as melhores – com muitos produtores a deixarem as azeitonas nas árvores por considerarem que o negócio do azeite deixou de ser rentável por força da baixa do preço do produto no consumidor em cerca de 30 por cento – ganham cada vez mais força os projectos inovadores que poderão relançar a fileira do azeite no mercado nacional e internacional. Um dos projectos que garantem valor acrescentado à fileira, e que aguarda luz verde ao Ministério da Agricultura, foi elaborado pela Associação de Agricultores para a Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM), em parceria com a empresa Espaço Visual. Trata-se de um grande projecto de agricultura biológica, que visa converter e instalar até dez mil hectares de olival na Beira Interior, até 2013. Apesar da desertificação e do abandono da agricultura registado nos últimos anos, a região da Beira Interior e outras regiões marcadas pela interioridade, não estão condenadas a ficar no mapa de Portugal como territórios permanentemente adiados, em consequência do desaproveitamento das suas condições naturais, que compromete a sustentabilidade ambiental e a coesão económico-social do País. A Beira Interior pode e deve ser competitiva, a começar pela sua estruturação em torno de uma prioridade estratégica que conduza ao incentivo do regresso à terra, no âmbito da aplicação do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (PRODER), com uma estratégia empresarial e de visão de mercado que envolva todos os agentes económicos do sector na região. O que a AAPIM pretende é instalar até cinco mil hectares de novas plantações de olival e converter em Modo de Produção Biológica igual área de olival tradicional já existente, nos 24 concelhos da região, nos distritos da Guarda e Castelo Branco. É o maior projecto de Agricultura Biológica no País, que está a mobilizar produtores, 24
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Com o projecto apresentado, os agricultores da Beira Interior dão um forte sinal para o futuro da fileira do azeite em Portugal, apostando num produto de excelência, capaz de ser escoado nos mercados mais exigentes. autarquias e agentes económicos da região e que deve merecer a melhor atenção por parte do Governo, através dos Fundos do Plano de Desenvolvimento Regional, previstos no Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013. De acordo com este projecto, o azeite biológico é uma oportunidade a não perder no âmbito de um conjunto de medidas que visam dar sustentabilidade a uma região marcada pela interioridade e, portanto, com poucas oportunidades para estruturar o seu tecido económico e social. É um projecto de excelência na agricultura portuguesa. É um projecto ambicioso e perfeitamente exequível, que pretende dar respostas aos desafios do Ministério da Agricultura contidos no PRODER, nas suas diversas vertentes de competitividade com sustentabilidade, potenciando ainda os valores paisagísticos e ambientais da região. É ainda um projecto gerador de emprego e criador de esperanças para o desenvolvimento da agricultura e do mundo rural, contrariando o fatalismo do abandono, que teima em contagiar a Beira Interior. Está em causa um investimento de 126 milhões de euros, até 2013, para instalar até dez mil hectares de olival biológico, a partir dos quais será possível gerar um
volume de negócios de 46,8 milhões de euros anuais. O que será possível recorrendo á inovação tecnológica e aproveitando economias de escala – vantagens que, a par da qualidade superior do produto – não estão ao alcance do olival tradicional. Tal como é preconizado pelo PRODER e como, de forma inteligente e responsável, defende o Ministério da Agricultura, Portugal precisa de “reestruturar, modernizar e consolidar” fileiras que sejam competitivas. É o caso da fileira do azeite, neste caso em Modo de Produção Biológica, que, pelo seu valor acrescentado, terá garantia segura como produto exportável para os mercados nacionais e internacionais cada vez mais exigentes. Em muitos sectores, os portugueses já deram mostras de que sabem fazer e de que sabem fazer bem. Neste caso, estamos a falar da iniciativa de uma região portuguesa que não se resigna e que consegue encontrar um caminho novo para um futuro desenvolvido e sustentado. Os agricultores da Beira Interior estão prontos para concretizar um grande projecto de produção de azeite biológico. É um grande desafio para a região e para o País. Como Barack Obama, a Beira Interior pode dizer: “Yes, we can!”
REGIÕES Vila Nova de Famalicão
Plano estratégico define desenvolvimento até 2013 O Parque da Cidade, a nova Cidade Desportiva e um Centro Tecnológico da Carne de apoio à indústria alimentar, são alguns dos principais projectos a desenvolver no âmbito do Plano Estratégico do Município de Famalicão 2007-2013, recentemente apresentado. Armindo Costa, presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, defende que “são projectos grandiosos que vão qualificar Famalicão e determinar o desenvolvimento do concelho nos anos que se avizinham", acrescentando que “são estes e outros projectos que ajudarão a fazer de Famalicão um dos melhores concelhos do País para viver e para investir, onde a qualidade de vida seja uma realidade efectiva para todos aqueles que aqui vivem e aqui trabalham”. A sessão de apresentação pública do Plano Estratégico, que encheu o grande auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, contou com a presença do vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), Paulo Gomes que enalteceu o trabalho da autarquia no planeamento estratégico, dando como exemplo uma ideia “com valor acrescentado”: » Imagem virtual da futura cidade desportiva de Famalicão
a criação e dinamização do Centro Tecnológico da Carne. Paulo Gomes considerou ainda a apresentação pública do plano estratégico como “um exercício de cidadania e de partilha para a reflexão sobre o futuro da região e de Famalicão”, felicitando a forte presença da população no evento.
“Este Plano Estratégico é uma carta magna que faz um diagnóstico à nossa realidade.”
Armindo Costa
Referindo-se especificamente ao Centro Tecnológico da Carne, Armindo Costa considerou que este equipamento “será uma alavanca de promoção e qualificação da nossa indústria alimentar”, dada
» Armindo Costa apresentou Plano Estratégico do município
a grande concentração, em Famalicão, de empresas de transformação de carne, facto também salientado pelo vice-presidente da CCRDN. Ao nível dos grandes equipamentos culturais, o projecto que, neste momento, está a mobilizar a Câmara Municipal de Famalicão visa a construção do Museu do Surrealismo, onde serão expostas obras de artistas de renome, como Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas – cujo espólio se encontra na Fundação Arthur Cupertino de Miranda, em cujo conselho de administração participa o município. Elaborado pela empresa Quaternaire Portugal em conjunto com os técnicos do município, o Plano Estratégico aponta as grandes linhas de desenvolvimento de Famalicão para os próximos anos, fazendo um levantamento das fragilidades e potencialidades do município. “Este Plano Estratégico é uma carta magna que faz um diagnóstico à nossa realidade”, salienta Armindo Costa, acrescentando, no entanto, que “um documento deste género nunca será um dogma para a gestão municipal. Mas será sempre um instrumento precioso para muitas das decisões que o município tomará nos próximos cinco anos”. MARÇO 2009
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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Energia Solar Térmica
O Sol nasce para todos: Vamos aproveitá-lo! Fundada em 1987, a CANALCENTRO SA dispõe actualmente de sede em Leiria e uma filial em Loulé. A Certificação da Qualidade emitida em 2005, pela entidade SGS de acordo com a norma ISO 9001:2000, reflecte a aposta na dedicação, rigor e profissionalismo com que a empresa se tem pautado ao longo destes anos. No âmbito do programa FINCRESCE, promovido pelo IAPMEI, que procura reforçar a visibilidade das empresas pelo seu bom desempenho económico e financeiro, em 2007 a CanalCentro S.A., passa a ser distinguida com estatuto de PME Líder. A sua actividade tem sido orientada para empresas instaladoras, revendedores e empreiteiros de obras públicas. Consciente das exigências de um mercado fortemente competitivo, a qualidade dos serviços é o motor do sucesso, como tal a empresa cada vez mais valoriza o serviço pós-venda, bem como a formação técnica. Face à tendência deste segmento de mercado, motivada pela evolução do conceito de conforto e bem-estar, a empresa tem apostado no alargamento da oferta de produtos, dinamizando a comercialização de Material para Canalização, Rega e Aspiração Central e equipamentos de Climatização (aquecimento central; ar condicionado; sistemas solares). Com a crescente necessidade da quebra de vínculo com os combustíveis fósseis e o aumento da procura de energias renováveis, estabeleceu em 2007, um protocolo de Importação Exclusiva com a marca Austríaca, fabricante de Sistemas Solares – TISUN. Nota-se o aumento da procura de energias alternativas de forma a baixar os custos de exploração das instalações, originando um efeito positivo no sector do solar térmico, que tem vindo a notar enorme crescimento. O rendimento de topo oferecido pelos equipamentos TISUN, permite ao utilizador usufruir da radiação solar mesmo em 26
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dias de fraca incidência, melhorando significativamente o apoio ao aquecimento. À óptima eficiência do painel solar TISUN, soma-se a versatilidade apresentada, nomeadamente o painel de grande superfície, que pode atingir os 18m² num único módulo. Opção que para além de evitar inúmeras ligações entre colectores, consequentemente exigindo menos mão-de-obra, consegue num todo oferecer menos perdas de rendimento do que as ligações em série de colectores modulares. Na gama disponível existe ainda o colector de fachada, que se adapta a qualquer configuração desejada, sendo ideal para instalações onde o Inverno é uma prioridade, fazendo uma óptima limitação de captação de energia no Verão, eliminando o problema de dissipação do excesso.
Sistemas Solares para realidades severas. Aliado a um painel de excelência, a TISUN desenvolveu um produto que tem sido um sucesso indiscutível, o acumulador Pro-clean®. Este equipamento apresenta um rendimento supremo, aliado a uma simplicidade sem precedentes, facilitando a vida ao instalador, reduzindo o custo da instalação e eliminando a hipótese de aparecimento de avarias e afinações indesejáveis. Basicamente, o estratificador que é acoplado ao Pro-clean® permite que toda a energia absorvida pelos colectores seja injectada directamente onde é necessá-
ria (no topo do acumulador), formando a partir daí a estratificação necessária para garantir a máxima eficiência no menor tempo possível. Este sistema é ideal para instalações de aquecimento, quando se quer acoplar outras fontes térmicas, permitindo a ampliação da central a qualquer momento, até três acumuladores, garantindo a optimização da estratificação. O acumulador de estratificação Proclean® combinado com uma instalação solar pode reduzir os custos de energia entre 70-90% em Água Quente Sanitária e 20-40% para os custos com o aquecimento. Na forte ligação que a CanalCentro S.A. estabelece com os seus parceiros comerciais, temos como principal objectivo um acompanhamento técnico contínuo, onde apoiamos, desde o estudo, a instalação, o arranque e a afinação de todas as instalações. Com vista a qualificar adequadamente os instaladores, a CanalCentro S.A., activou desde Novembro de 2008, novas e sofisticadas instalações para formação, equipadas com uma enorme variedade de sistemas, onde se prima pela elevada qualidade nos produtos apresentados, aliando os mesmos a um controlo por domótica, que permite uma versatilidade e visualização dos sistemas em funcionamento bastante interessante. Deste modo temos hoje condições de oferecer aos nossos clientes uma formação adequada e actual, onde contamos com parcerias de instituições creditadas para o efeito. Canal Centro, S.A .
TURISMO Hotel Convento dos Capuchos
Onde o tempo passa devagar... Aproximadamente um ano depois de ter aberto as portas, o Convento dos Capuchos – Hotel Rural, em Monção, mantém a sua traça de Convento construído por monges, habitado por nobres e preparado para quem nele pretende passar momentos inesquecíveis. Águeda Pinto Rodrigues, António Pinto Rodrigues, Adriana Pinto Rodrigues, Fernando Pinto Rodrigues, proprietários do Convento dos Capuchos, transportam-nos no tempo... Que balanço faz deste quase um ano de actividade?
O primeiro ano foi e ainda está a ser (o Hotel abriu em 21 de Março de 2008, ou seja na Páscoa) muito positivo, excedendo mesmo a nossas expectativas. Se tivermos em conta que temos clientes que vêm conhecer e que voltam com a família ou com os amigos para passar uns dias de descanso… é muito gratificante saber que as pessoas se sentem aqui bem, que apreciam a recuperação do património e que gostam também eles de dar a conhecer. Quais são as grandes diferenças entre as duas alas: a do Convento e a do Jardim?
As diferenças são poucas. A Ala do Convento é uma Ala em que o património arquitectónico se impõe em toda a sua plenitude. É o caso do claustro, ou da antiga capela, onde hoje é o Restaurante Cozinha do Convento, ou o caso do quarto da Torre, que como o nome indica fica por baixo da torre sineira da actual Igreja dos Capuchos e onde ainda é visível um fresco do altar mor da antiga capela. É onde recuamos no tempo e se sente todo o espírito do lugar. Na Ala do Jardim, sobressai o design, quer nos aspectos construtivos quer na decoração. Houve a preocupação de harmonizar o edifício novo com o património já existente. Temos elementos de arquitectura muito interessantes, dos quais se realçam os aspectos relacionados com a luz natural, quer nos quartos quer nas salas de utilização comum. No caso da decoração valorizaram-se alguns ele-
mentos em pedra já existentes na Quinta, de uma forma inovadora e representativa das várias utilizações que a mesma teve ao longo dos séculos. Em tudo o resto podemos dizer que são iguais. São funcionalmente ligadas entre si ao nível da cripta e ambas as Alas se complementam e valorizam. É na parte nova que se encontram o SPA, o ginásio e a sala Saeculare preparada para todo o tipo de eventos. É um hotel que se destina a um turismo familiar, mas que tem inúmeras valências para o público empresarial. Porquê?
Sim, é um Hotel que pelas suas características próprias proporciona um ambiente acolhedor e personalizado... familiar, mas que dispõe também de equipamentos a pensar no sector empresarial. É o caso da sala de eventos preparada para reuniões de empresas, nomeadamente para apresentação de produtos novos ou formação dos seus recursos humanos, à qual se junta uma componente de outras actividades lúdicas ou de lazer, como sejam o minigolfe, ténis, ou acesso ao SPA e ao ginásio, a piscina exterior ou outras actividades como cursos de provas de vinhos etc. Organizam-se também actividades de acordo com a necessidade e gosto do nosso cliente empresarial. No dia-a-dia dispomos também de condições especiais para eles. Porquê? Porque Monção tem um parque empresarial em grande crescimento, porque estamos junto à fronteira com Espanha, onde se está a construir o porto seco de Vigo, e na região não
há empreendimentos hoteleiros com todas estas componentes. Existe também uma preocupação com a diferenciação, através da aposta na cozinha de autor?
Queremos apostar numa cozinha de qualidade, que valoriza os produtos da região e promova a nossa gastronomia do Alto Minho, de uma forma simples, mas inovadora, e com muito requinte, tencionamos que seja realmente diferente e que se justifique voltar sempre ao restaurante Cozinha do Convento e a Monção. Neste momento, estamos na época da lampreia e durante todo o ano temos cabrito à moda de Monção e outras iguarias confeccionadas com vinho Alvarinho, ao qual dedicamos um carinho muito especial, aliás, exemplo disso, foi o nosso primeiro jantar vínico com a participação do Chefe Hélio Loureiro e de enólogos de algumas das quintas produtoras de vinho da região. Quanto aos doces ... só provando! Leia entrevista na íntegra em www.revistaperspectiva.info
Hotel Rural Convento dos Capuchos Quinta do Convento de Santo António dos Capuchos 4950-527 Monção Telf.: +351 251 640 090 Fax.: +351 251 640 091 geral@conventodoscapuchos.com www.conventodoscapuchos.com
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VIDA SÉNIOR
Valorizar o envelhecer “A arte de envelhecer é a arte de viver” (António Arnaut)
O envelhecimento da população mundial vai aumentar rapidamente nos próximos vinte anos até atingir um pico em 2030, registando depois uma desaceleração no final do século. Portugal não é excepção. Texto: Ana Mendes
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A população portuguesa está cada vez mais envelhecida, uma realidade que tem a ver com um renovado estilo de vida que a população sénior adoptou. Desde os cuidados primários de saúde, assistência médica visivelmente melhorada, alimentação mais adequada e uma maior participação em actividades físicas, levam esta franja da população a atingir patamares de longevidade, que há uns anos eram impensáveis. O número de idosos aumentou de 708 mil, em 1960, para um milhão e 700 mil em 2004. Assim, num período inferior a 50 anos, a população idosa mais do que duplicou, e a previsão é de que em 2050 sejam mais de três milhões os idosos portugueses. Na última metade do século XX, a população mundial assistiu a um constante processo de transição demográfica, com o decréscimo simultâneo das taxas de mortalidade e de natalidade e com o aumento da esperança de vida, que se traduziu num envelhecimento populacional universal. A população sénior representa assim uma percentagem cada vez maior na sociedade e atendendo às características deste nicho emergente, a sociedade deverá ter capacidade para responder aos seus anseios. Um dos exemplos são as universidades seniores e as residências que potenciam um envelhecimento activo e com qualidade de vida. Universidades Seniores As pessoas que por motivos vários além da idade deixaram de exercer a sua profissão e querem aprender mais, têm há alguns anos a hipótese de ingressar numa universidade senior. As Universidades da Terceira Idade surgiram em França, na década de 70, para proporcionar aos mais velhos a possibilidade de aprenderem ou ensinarem e promover o convívio saudável entre gerações. A primeira universidade deste género a surgir em Portugal data de 1096 e foi a Universidade Internacional para a Terceira Idade. Actualmente, existem mais de 25 universidades seniores, nas mais diversas localidades, cuja missão é promover a integração dos mais velhos na sociedade através de actividades recreativas, como a ginástica, pintura e passeios. Na senda do conhecimento, frequentam disciplinas como História, Desenho e Pintura, Informática, Culinária, Primeiros Socorros, Promoção de Saúde ou Formação Musical, entre muitas outras.
VIDA SÉNIOR Fisioterapia
Melhoria da qualidade de vida A idade avançada potencia o aparecimento de alguns problemas de saúde que requerem o recurso a diferentes áreas da saúde para melhorar a qualidade de vida. Hoje, ao contrário de outros tempos, estes serviços estão disponíveis ao domicílio. Conversámos com Cláudia Mateus, licenciada em Fisioterapia, pós-Graduação em Saúde da Mulher, responsável pela FisioCasa, uma empresa que presta serviços de fisioterapia e cuidados continuados ao domicílio. Quais os serviços disponíbilizados pela Fisiocasa?
Foi a pensar na necessidade destes serviços e no bem-estar de quem deles mais precisa que centramos a nossa missão de prestar cuidados de saúde domiciliários de fisioterapia, através de profissionais superiormente habilitados, de forma a intervirmos nas suas diferentes áreas de actuação, como sejam a orto-traumatologia, reumatologia, neurologia, cárdio-respiratória, oncologia bem como a ginecologia e obstetrícia. Actualmente estamos a trabalhar em rede nacional, pelo que temos capacidade de actuação em todos os distritos do país. Os nossos serviços estendem-se a todas as faixas etárias, crianças, jovens, adultos e idosos, no entanto, e pelo risco aumentado que os problemas do envelhecimento acarretam, este último grupo da população é certamente o que mais procura os nossos serviços. A prestação dos cuidados continuados no domicílio é realizada mediante indicação clínica, podendo ser temporários ou permanentes e prolongar-se até aos cuidados terminais ou paliativos. Também na perspectiva da reabilitação global, dispomos não só de Fisioterapeutas como de Terapeutas da Fala e de Terapeutas Ocupacionais, de modo a proporcionar uma intervenção o mais completa possível.
“Fisioterapia é um serviço prestado exclusivamente pelo Fisioterapeuta e inclui avaliação, diagnóstico, planeamento, intervenção e reavaliação.” Qual a importância da fisioterapia preventiva no Idoso?
Sem dúvida que esta é uma área de extrema importância para a nossa actuação, porque também nesta vertente a fisioterapia domiciliária pode e deve intervir, mediante uma avaliação prévia, cuidada e adequada ao paciente. No nível primário, o objectivo do fisioterapeuta é o de preservar a função motora e adiar a instalação de incapacidades através de medidas preventivas, visando reduzir as complicações e melhorando a qualidade de vida. As alterações fisiológicas naturais, associadas ao processo de envelhecimento contribuem para a redução da activi-
dade geral diária, para a diminuição do equilíbrio e potencial de marcha, bem como para o aparecimento de fragilidade progressiva do estado de saúde do idoso.
Leia entrevista na íntegra em www.revistaperspectiva.info
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DIA MUNDIAL DO TEATRO
Espectáculo que absorve todos os que a ele assistem “O mundo é um palco, onde todos os homens e mulheres são actores.” Shakespeare
A 27 de Março é comemorado o Dia Mundial do Teatro. Uma iniciativa que nasceu em 1962 pela mão do Instituto Internacional de Teatro, sediado em Viena de Áustria. Espaço de exaltação e liberdade, onde todos podem sonhar e vibrar com a intensidade das histórias e as actuações dos personagens, é um espectáculo que absorve por completo
Texto: Ana Mendes
todos os que a ele assistem. Por vezes comove, outras amedronta, diverte, complica ou, quem sabe, desmistifica, esta encenação da realidade, transporta-nos a uma outra realidade que, muitas vezes, se entronca na nossa própria existência. O teatro nasceu em Atenas, onde as representações teatrais tinham lugar em recintos ao ar livre. Os actores trajavam vestuários de cores vivas e sapatos muito altos para ficarem com uma estatura imponente. Cobriam o rosto com máscaras que serviam para ampliar o som da voz e para tornar a expressão dos personagens mais visível à distância. A representação dos actores era acompanhada pelos comentários do coro, que se movimentava na orquestra, juntamente com os músicos. A tragédia e a comédia eram os dois géneros de representação existente. O primeiro, pretendia levar os espectadores a reflectirem nos valores e no sentido da existência humana. O segundo, baseava-se na crítica social que retratava figuras e acontecimentos da época, ridicularizando defeitos e limitações das sociedades. Tudo isto alimentou a tragédia antiga, desde os conflitos entre a moral e a paixão, a lei e o direito natural, o orgulho, o conhecimento e o impulso inconsiderado, entre outros. Sendo um factor de desenvolvimento social, o teatro é, como sempre foi, uma linguagem in loco que aborda questões universais através de textos de grandes autores e escritores. Afirmando-se como uma manifestação de arte e cultura, o teatro tem a função moral e didáctica de passar mensagens sobre as mais variadas matérias. Portugal é um país com grandes raízes teatrais na sua história. Escritores como Gil Vicente (século XVI), António José da Silva, Judeu, Garrett deixaram um grande legado nesta arte. Contudo, parece não restarem dúvidas, é a Gil Vicente que se deve a criação e consolidação do teatro em Portugal.
Museu do Teatro: Grande arquivo de memórias Trajes e adereços de cena, cenários, figurinos, cartazes, programas, discos e partituras e cerca de 120 mil fotografias, fazem parte do espólio do Museu do Teatro que trata, conserva, preserva, organiza, investiga, documenta e divulga todas as suas colecções. Mais de 300 mil peças e 35 mil volumes que podem ser vistos no Palácio Monteiro-Mor, um edifício do século XVIII, em Lisboa.
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DIA MUNDIAL DO TEATRO
Programação cultural em rede: Oito milhões de euros do QREN Até 31 de Março está a decorrer um concurso destinado a apoiar a programação cultural em rede, no valor de 8 milhões de euros de fundos estruturais, financiado pelos Programas Operacionais do QREN das regiões Norte, Centro, Alentejo, Algarve e Lisboa. Este concurso representa uma aposta conjunta do Ministério da Cultura e das entidades gestoras dos Programas Operacionais Regionais na promoção de uma programação cultural de elevada qualidade e descentralizada a todo o território. As candidaturas a este concurso devem envolver parcerias para a implementação de co-produções em rede e de programação em rede, podendo ser apresentadas por entidades proprietárias ou gestoras de teatros e cineteatros, tais como municípios, empresas públicas e municipais, associações e outras entidades sem fins lucrativos.
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DIA MUNDIAL DO TEATRO
“O teatro é a mais humana das artes” A opinião é de Luís Vicente, director Artístico da Companhia de Teatro do Algarve, que define o teatro como sendo a sua vida.
A 27 de Março assinala-se o Dia Mundial do Teatro. Qual a importância da comemoração deste dia?
Tem a importância que têm as datas que assinalam um evento, seja ele de que índole for, na sua feição restrita ou abrangente. Sendo o teatro a mais humana das artes, seria desejável que o dia que o assinala fosse sobretudo de reflexão quanto ao seu significado e abrangência. A ideia de que o fenómeno teatral é um dos momentos mais elevados da afirmação do espírito, não passa; não passa também a mensagem de que no corpo do teatro o Homem inscreveu propósitos de inquestionável alcance democrático. Em poucas palavras, o que é para si o teatro?
O teatro é a minha vida. Deve existir uma conciliação entre a formação, a sensibilização de públicos e a inovação?
O conceito de espectáculo foi o fenó-
meno que veio criar clivagens, decorrentes e acentuadas por fenómenos sociológicos diversos e profundos. A matéria é extensa e não cabe aqui. Pessoalmente, acredito na fórmula que na ACTA procuramos praticar, e que se aproxima um tanto da matriz helénica. Conciliação não significa cedência estética. Uma das principais dificuldades apontadas por quem dirige companhias de teatro é a falta de verbas. Em seu entender, é possível reverter esta situação?
O problema não é exclusivamente contemporâneo e acerca dele há quem incorra em grandes equívocos. Ao teatro sempre hão-de faltar verbas. Uma produção da Antígona, de Sófocles, ou do Fausto, de Goethe, em Portugal ou noutro qualquer país, não serão nunca, directamente, financeiramente lucrativas e sempre lhes hão-de faltar verbas; contudo, indirectamente, geram lucro significativo, inclusive financeiro. Porém, deste aspecto, em Portugal é diminuta a consciência, e frequentemente se ouve alardeados argumentos de ignorância, de forma clara ou eufémica. Sim, é possível reverter a situação: com maior grau de consciência social e cultural. Como analisa o percurso desenvolvido pela Companhia de Teatro do Algarve, que dirige desde 1997, cuja missão é projectar a sua acção no contexto do panorama teatral nacional e internacional?
O percurso da companhia é, a todos os títulos, e amplamente, considerado notável. Destaco o nosso projecto de serviço edu32
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cativo: abrange toda a região do Algarve, a bordo de um autocarro que é um teatro itinerante. Designa-se VATe, acrónimo de Vamos Apanhar o Teatro. É único em Portugal e não conheço outro na Europa. Mérito nosso, dos 16 municípios que o financiam e de 2 mecenas, a ALGAR, SA e a Águas do Algarve, SA. O ano passado fomos abordados para o levar à Alemanha e ao Luxemburgo, assim como a outros sítios do país, mas não temos agenda que permita demoradas ausências do Algarve. Actualmente trabalhamos nele o tema de Ulisses, com um texto de Alexandre Honrado; a seguir iremos trabalhar o D. Quixote, de Cervantes. É a nossa matriz: trabalhar temas universais. Como visualiza o futuro do teatro daqui a uns anos?
Talvez com prosélitos fiéis e fazedores com uma prática de sacerdócio de tipo epicurista.
RALLY DE PORTUGAL Vodafone Rally de Portugal
De volta ao Campeonato do Mundo de Ralis-WRC
O Algarve vai ser mais uma vez palco da edição mundial do Vodafone Rally de Portugal. Entre os dias 2 e 5 de Abril, os maiores nomes dos grandes ralis internacionais vão participar nas competitivas classificativas algarvias e alentejanas. Ao longo de 1164,63 quilómetros, num total de 18 provas especiais de classificação, o Vodafone Rally de Portugal vai ser pontuável para os três campeonatos mundiais: WRC - Absoluto, WRC - Junior e WRC - Produção, além do Ford Fiesta Sporting International Trophy. O Estádio do Algarve vai ser a base da organização, uma infra-estrutura desportiva que vai ser também o palco de duas super-especiais, uma a abrir a prova, outra a fechar a parte
1ª etapa: 3 de Abril Com uma dupla passagem por 3 classificativas: - Ourique, numa nova versão, com cerca de 23,5 km - Silves, um troço totalmente novo com 21,5 km - Malhão, numa nova versão de uma classificativa utilizada em 2007, agora com uma extensão de 22 km.
2ª etapa: 4 de Abril
competitiva do rali, em dois momentos que auguram elevados níveis de espectáculo. Organizada pelo Automóvel Club de Portugal, com o patrocínio da Vodafone Portugal, BP Ultimate, Hertz, Essilor, o apoio do Turismo de Portugal e das Câmaras Municipais de Almodôvar, Faro, Loulé, Ourique, S. Brás de Alportel e Silves, este ano estão prometidas algumas novidades e alerta-se, novamente, para os cuidados que o público deverá ter ao assistir a este evento.
Constam mais três classificativas a percorrer por 2 vezes: - Santa Clara, numa nova versão de cerca de 22,5 km - Almodôvar, também uma nova versão com um pouco mais de 27 km. - Vascão, introduzido na edição de 2008, mantém-se inalterado com quase 23 km
3ª etapa: 5 de Abril Inclui uma dupla passagem por duas classificativas já tradicionais no Rally de Portugal, além da já referida super especial no Estádio Algarve: - Loulé surge este ano numa nova versão, com cerca de 22,5 km - S. Brás de Alportel, com 16 km
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CULTURA
LEITURAS “Guia para treinadores de bancada” Livro Polémico sobre Futebol
José Ferraz escreve sobre Formação e Treino mas chama os bois pelos nomes e põe o dedo nas feridas do Desporto. Texto: Pedro Laranjeira
Com quinze obras sobre o lado mais nobre do Futebol - o da Formação - José Ferraz é o Treinador com maior volume de trabalho publicado sobre o Desporto que cativa os portugueses, desde livros a guias de orientação e treino em DVD e CDs interactivos. Fez um percurso internacional, que passou pela Holanda, esteve em África, treinou em Angola e chegou a ser Seleccionador Nacional de S. Tomé e Príncipe. É um livro que reduz a uma linguagem perceptível para o leigo o que de mais científico existe no planeamento e execução técnica do trabalho de um Treinador de Futebol. Com 88 páginas, 38 ilustrações e um preço ao alcance de todas as bolsas, promete uma forte penetração no vasto número de interessados neste tema. Já com apresentações públicas no Norte do País (Barcelos e Espinho), a obra estará disponível em breve nas livrarias, a nível nacional. PUB
MÚSICA Chico Buarque Essencial (4 CD) Um legado essencial, com um papel sintetizador da boa música deste artista, que reúne ao longo de 56 faixas as canções que marcam a carreira deste cantor. Além dos quatro CDs, traz ainda o DVD Chico ou País da Delicadeza Perdida, especial para a televisão francesa em 1990, com as participações de Gal Costa e Gilberto Gil. Leonard Cohen lança “Live in London” O melhor dos grandes clássicos ao vivo deste artista, que conta já com 40 anos de carreira, foi gravado na O2 Arena, em Londres, uma das maiores salas cobertas da Europa, durante a digressão mundial. Data de lançamento a 30 de Março.
ESPECTÁCULOS A Revolução do Flamenco Local.: Casino de Lisboa Dia 3 (3ª feira) a dia 7 (Sábado): 22h Dia 8 (Domingo): 17h Dia 10 (3ª feira) a dia 13 (6ª feira): 22h Dia 14 (Sábado): 17h e às 22h Sensual, apaixonado e apaixonante, FUEGO funde elementos de dança moderna com a ancestral pureza estética da arte Flamenca. Da Companhia de Dança Carmen Mota, uma referência do ballet tradicional espanhol, este espectáculo consagra a celebração dos ritmos tradicionais do Flamenco com elementos da dança contemporânea. Em palco vão estar 18 bailarinos e 5 músicos/cantores, com um guarda-roupa deslumbrante. Blue Man Group actua em Portugal Local.: Casino de Lisboa Apresentado em cidades como Nova Iorque, Boston, Chicago, Las Vegas, Tóquio ou Berlim, o trio Blue Man Show vem pela primeira vez a Portugal no dia 19 de Março. Vestidos com fatos latex azul, Phil Stanton, Chris Wink e Matt Goldman, prometem surpreender com o espectáulo intitulado “How to Be a Megastar Tour 2.1" que mistura música, humor através da comédia muda, arte performativa e luzes. A interacção com o público é uma constante. Para os mais curiosos sugerimos uma visita ao website oficial www.blueman.com.
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