escala
arquitetos + decoradores + designers + vips...
ano 09 nº31 maio de 2010
Oscar Niemeyer + Lucio Costa + Victor Cañas + Giancarlo Mazzanti + Patricia Mayer + Ivo Mareines + Juan Felipe Mesa + Jeroen Bergsma + Mario Santos + Eliane Amarante + Jan Jongert + Césare Peeren + Elisabeth Abduch + Patricia Anastassiadis + Rainer Mutsch + Allard van der Hoek + Brunete Fraccaroli + Paola 1 Ribeiro + Alrik Koudenburg + Joost van Bleiswijk + Caco Borges + Valeria Nunes
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Editorial ESCALA é uma publicação da
De Jung a Zuenir Ventura
www.altherswanke.com.br altherswanke@altherswanke.com.br (21) 2284-9605/ (21) 9919-2292
Jornalista responsável
A
tônica das principais reportagens desta edição é a abertura de portas, janelas, olhos, novos caminhos... Só que não foi programado para ser assim. Coincidência, então, para os que acreditam meramente em coincidências; para nós, da Redação de ESCALA, sincronicidade junguiana. Da Colômbia, vem “Construindo oportunidades: urbanismo social”. Uma entrevista tríplice, exclusivíssima, com os arquitetos colombianos Giancarlo Mazzanti e Juan Felipe Mesa, conjuntamente com o arquiteto brasileiro Ivo Mareines, que recentemente visitou Medellín. Eles falam sobre a abertura de oportunidades para a população dos bairros mais pobres de Medellín, através da arquitetura e do urbanismo. Para nós, no Rio, cidade partida zueniriana, vale refletir sobre uma das máximas de Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín: “Há uma porta aberta para o mundo do conflito, e a única maneira de fechá-la é abrir outras”. A matéria “Portas para abrir”, por sua vez, mostra a arquitetura do costa-riquenho Victor Cañas e um pouco sobre o seu país, na visão dele. Portas Novas, um de seus principais projetos, é uma casa de vidro, onde o interior se abre para o exterior. E que tal um escritório onde, à exceção da maioria dos móveis e de algum reforço em MDF na escada e nos painéis que revestem o piso, tudo é papelão? Ou, ainda, uma casa construída com 60% de materiais reciclados? É tempo de abrir as portas para novos materiais, para a sustentabilidade. Salve Brasília!
Andréa Magalhães MTb 17.287
Conselho Consultivo
Adriana Figueiredo, arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Estácio de Sá Andréa Menezes, arquiteta Carlos Alcantarino, designer Carlos Fernando Andrade, arquiteto Carlos Murdoch, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Estácio de Sá Carolina Wambier, arquiteta Christiane Laclau, decoradora Franklin Iriarte, arquiteto e professor da Escola Candido Mendes de Interiores Jorge Lopes, coordenador do Laboratório de Modelos Tridimensionais do Instituto Nacional de Tecnologia Francisco Martins, especialista em implementação de projetos, da Gerência de Novos Negócios em Tecnologia, do Sistema Firjan Jerônimo de Moraes Neto, arquiteto Lygia Niemeyer, arquiteta e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da FAU/UFRJ
Projeto Gráfico
Altherswanke Comunicação
Edição de Arte Fernando Lima
Publisher de ESCALA Diretora da andrea@altherswanke.com.br
Consultor Financeiro
Peter Wanke, engenheiro de produção, Doutor em Logística ESCALA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.
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Para anunciar em ESCALA: (21) 2284-9605/ (21) 9919-2292 www.altherswanke.com.br altherswanke@altherswanke.com.br revistaescala@uol.com.br
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N b E ta — p te q d E to d n W
escala
no mundo por Jean Fontes O conteúdo de ESCALA foi parar na Coréia do Sul. Mais precisamente, uma matéria sobre o escritório de arquitetura Mareines + Patalano, publicada na revista C3, referência naquele país. Tal como ESCALA, a revista é bilíngüe (coreano/inglês) e muito bem-cuidada em termos jornalísticos e gráficos. Para se ter uma pequena amostra do nível de refinamento da C3, a foto da capa da edição em questão é texturizada. A matéria publicada na revista sulcoreana leva a assinatura de Andréa Magalhães, publisher de ESCALA.
Destaque em site bielo-russo No novo site do designer bielo-russo Dzmitry Samal, ESCALA aparece em destaque na seção “Press” — com direito a duas capas e à reprodução, na íntegra, das duas matérias que publicamos a respeito do designer. Para nós, de ESCALA, um orgulho e tanto, pois nos coloca junto de grandes revistas internacionais, como Business Week, Arch e AD.
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arquitetos + decoradores + designers + vips...
ano 05 nº26 setembro de 2008
Oscar Niemeyer + Paulo Mendes da Rocha + Richard Horden + Stephen Cherry + Ivo Mareines + Rafael Patalano + Billie Lee + Lydia Haack + Irmãos Campana + Gilson Martins + John Höpfner + Vincent Baranger + Mana Bernardes + Andréa Knecht + Anthony Lebossé + Jean-Sebastien Blanc + Marcela Vieira + Tabitha Von Krüger + Claire Renard + Dzmitry Samal + Stella de Orleans e Bragança + Ana Lúcia Jucá
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ESCALA no Brasil 11/05/2010 Gostaria de receber informações sobre a Escala (quando foi lançada, como surgiu a idéia, equipe...). Sou estudante de arquitetura e gosto muito da revista. Os temas abordados nas reportagens são sempre interessantes e a gente não vê em outras revistas. Há lugar para um estagiário na equipe? Carlos Braga (estudante de arquitetura) 07/05/2010 Conheci a Escala há alguns dias e fiquei impressionada com a qualidade da revista. E muito feliz, porque a publicação é carioquíssima. Li a revista toda com o maior prazer. Parabéns à equipe. Márcia S. Silva (jornalista) 23/04/2010 Como faço para receber a Escala? Andréa Leite (designer)
Nota da Redação: Você deve contactar a Redação pelo telefone (21) 2284-9605 ou pelos e-mails: altherswanke@altherswanke.com.br ou revistaescala@uol.com.br 18/04/2010 Oi, Andréa. A Escala é show! Queria saber como vocês arrumam reportagens tão legais. A Escala sai do óbvio e isso é muito importante para nós que somos profissionais do design. Alice Marques (designer) 09/04/2010 Como faço para conseguir exemplares antigos da Escala? Cândida Cruz (estudante de arquitetura) Nota da Redação: Cândida, favor entrar em contato com a Redação, através do telefone ou dos e-mails anteriormente mencionados.
Conteúdo
Capa: foto principal de Allard van der Hoek (Villa Welpeloo, Holanda). No destaque (acima), detalhe da agência de publicidade Nothing (Alrik Koudenburg e Joost van Bleiswijk, Holanda)
escala
arquitetos + decoradores + designers + vips...
ano 09 nº31 maio de 2010
Oscar Niemeyer + Lucio Costa + Victor Cañas + Giancarlo Mazzanti + Patricia Mayer + Ivo Mareines + Juan Felipe Mesa + Jeroen Bergsma + Mario Santos + Eliane Amarante + Jan Jongert + Césare Peeren + Elisabeth Abduch + Patricia Anastassiadis + Rainer Mutsch + Allard van der Hoek + Brunete Fraccaroli + Paola 1 Ribeiro + Alrik Koudenburg + Joost van Bleiswijk + Caco Borges + Valeria Nunes
04 Editorial
20 360º
05 Escala no mundo
30 Exclusivo 22
30 Exclusivo 08
30 Exclusivo 26
30 Exclusivo 12
30 Exclusivo 34
30 Exclusivo 18 20 Design “do bem”
30 Inside 42
por Jean Fontes
Escritório de papelão por Heloisa Righetto
Ame-os para sempre
por Heloisa Righetto
por Taciana de Abreu e Silva
Segunda vida
Portas para abrir
Construindo oportunidades: urbanismo social
por Chico Vartulli
8 maio 2010
Escritório de papelão
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onceitual, popular ou funcional? O papelão está “pipocando” em feiras de design no mundo inteiro e em projetos que saem do papel. Um exemplo que parece inacreditável num primeiro momento, mas que já faz parte da vida real, é o escritório da agência de publicidade Nothing, em Amsterdã, cujo interior é quase inteiramente em papelão.
O custo total do projeto — que cobre um espaço de 120m² — foi de 15 mil euros (cerca de 37 mil reais) e contou com a técnica “sem parafusos, sem cola” (apenas com encaixes), desenvolvida por van Bleiswijk.
À exceção da maioria dos móveis e de algum reforço em MDF na escada e nos painéis que revestem o piso, tudo é papelão nesse escritório holandês. E isso significa 1.500 itens feitos com a matéria-prima e tratados com um verniz especial, que, além de reforçar a estrutura, também evita a aparição de manchas. Tudo projetado pelos arquitetos Alrik Koudenburg e Joost van Bleiswijk para durar, no mínimo, dois anos, desde que com limpeza cautelosa.
Simplicidade — Após a definição do conceito, partiu-se para desenhar os 1.500 componentes, um a um, o que demorou um mês. Depois disso, mais um mês para a construção. Ou seja, muito mais simples do que uma reforma “normal”, que geralmente dá muita dor de cabeça e ultrapassa os prazos previamente estabelecidos. O toque final ficou por conta dos cartoons desenhados in loco pelo artista russo Fiodor Sumkin. 9
Segundo os arquitetos, quando visitantes entram no espaço, agem de maneira muito cuidadosa, respeitando a estrutura e assegurando, assim, a “longevidade da obra”. “Não somos casados com o papelão e nem queremos ser conhecidos como os caras do papelão”, diz Michael Jansen, um dos proprietários da agência. E ele completa: “Não foi uma construção cara. Então, quando a aparência não for mais legal, vamos reciclar e colocar uma nova idéia em prática”. E esse é exatamente o espírito da coisa: poder também se divertir, mudar, arriscar, sem aquele medo de gerar mais lixo para o meio ambiente e gastos enormes, que, depois, inibam qualquer desejo de mudança. Aqui, em Londres, como no resto das principais capitais européias, o papelão ganha cada vez mais status e surpreende nas vitrines das lojas de decoração mais bacanas, em móveis e acessórios desenvolvidos por designers que já entenderam a importância de criar produtos de fácil manuseio, manutenção e armazenamento, baratos e, principalmente, eco-friendly. Além disso, a matéria-
10 maio 2010
prima aparece crescentemente nas universidades, em projetos de final de curso de estudantes de design, e até em brinquedos, que ganham o mercado e alguma simpatia dos pais. Simples e moderno assim.
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Ame-os para sempre
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le tinha em torno de 10 anos quando projetou e construiu sua primeira cadeira — e ela ainda existe! Um verdadeiro amor começou em sua infância e vem crescendo até agora. Sim, amor, porque só o amor faz alguém dirigir 1.200 quilômetros, de Berlim até Oslo, para entregar alguns móveis. A paixão de Rainer Mutsch pelo design é tão forte que ele diz: “Quando você ama um móvel, você não pode jogálo fora assim tão fácil”.
Em entrevista exclusiva à ESCALA, o designer de produto austríaco, que ganhou importantes prêmios internacionais, como Red Dot Design Award 2009, na categoria “Espaço Público”, mostra porque seus amigos descrevem o design dele como idealista, irônico e apaixonado.
R-Table 12 maio 2010
ESCALA: Quem você convidaria para comer ou trabalhar com você usando a “R-Table”? Mutsch: Meu cliente para quem eu a projetei. A mesa foi feita sob medida para ele, e ele ainda gosta muito dela. Toda vez que eu visito-o, eu a aprecio. ESCALA: Como você teve a inspiração? Mutsch: Meu cliente gosta de convidar pessoas para jantares, festas... Analisei a cronologia — primeiramente, jantar; descansar no sofá depois; fumar charutos — e tentei criar uma mesa “social”, que permitisse uma transição suave da área de jantar para a área da sala de estar.
É uma espreguiçadeira baseada em um painel dobrado de fibrocimento. Depois de algumas visitas às instalações de produção, eu me apaixonei pela máquina industrial de 24 metros de comprimento, que é o coração da empresa. ESCALA: Como você analisa o papel dos designers hoje? Mutsch: Se você projeta mobiliário hoje em dia, você tem muita responsabilidade. Tudo tem que estar em um ambiente equilibrado. Eu sempre pergunto a mim mesmo, antes da fase de concepção de um novo item, se é realmente necessário trazê-lo para o mercado.
ESCALA: “Linea” ganhou o Red Dot Design Award 2009. Conte-nos sobre isso. Mutsch: “Linea” foi inspirada no processo de produção dos vasos “Shift”, que fiz para a empresa suíço-austríaca Eternit.
Rocking chair 13
ESCALA: Então, um móvel tem que ter alguma personalidade. Mutsch: Com certeza. E ele deve ter o potencial para um relacionamento longo com o seu usuário. Um vestido maravilhoso que você mantém por anos é sustentável. Um ótimo sofá, passado de uma geração para a próxima, é sustentável. ESCALA: Não é só uma questão de materiais sustentáveis. Mutsch: Sim. Designers podem criar compromisso de longo prazo. Se o comprador médio mantiver o seu sofá por dez anos em vez dos habituais três ou quatro (itens da IKEA duram até menos), seremos capazes de transformar muita coisa. Transportando produtos de curta vida útil, desperdiçamos energia, recursos naturais e a boa vontade pública. Hoje, a qualidade de sofás é tão grande, que a real razão para sofás serem jogados fora antes de dez anos é a falta de amor. ESCALA: Como você vê o design austríaco hoje em dia? Mutsch: Viena tem uma longa tradição de design. Adolf Loos e Josef Hoffmann ainda são onipresentes. Atualmente, Pure Austrian Design — uma instituição privada, fundada por Andres Fredes, um diretor de arte chileno — ajuda a desenvolver a rede local de design. A Vienna Design Week começa a se tornar um evento importante na cena do design da Europa Central, por causa da sua intenção de conectar jovens designers internacionais com empresas austríacas. ESCALA: Quais são os melhores fabricantes de móveis austríacos hoje? Mutsch: Das Möbel, Lobmayr, Neue Wiener Werkstätte, Viteo,
Wittmann e Kohlmaier Viena. A Áustria tem uma tradição antiga de artesanato de alta qualidade. Hoje em dia, é bom ver algumas das tradicionais empresas abrindo suas mentes e começando a trabalhar com jovens designers. Apenas como curiosidade: meu pai, agora um arquiteto de interiores, foi um carpinteiro apaixonado. Ele teve sua própria oficina. ESCALA: Você tem um fabricante favorito? Mutsch: Um dos meus favoritos em Viena é Das Möbel. Possuído pelo idealista e apaixonado Sr. Lothar Trierenberg, produz e exibe o design de jovens designers austríacos em um ambiente muito especial: Das Möbel é um bar conceitual, que também funciona como um showroom de design austríaco. Nenhuma mesa é parecida com outra; cada cadeira é diferente. Convidados podem jantar lá e também adquirir móveis, produzidos por jovens designers austríacos. ESCALA: Que lições você aprendeu nas universidades da Áustria, Dinamarca e Alemanha, onde você estudou? Mutsch: Seja mente aberta, viaje muito e seja autêntico e apaixonado pelo seu trabalho. Na minha opinião, é muito importante viajar e ver diferentes abordagens para o design. Essa foi a razão pela qual eu deixei a Áustria por quase três anos durante os meus estudos. ESCALA: Você trabalhou com Werner Aisslinger, antes de abrir seu estúdio em 2005. Como foi? Mutsch: Puh, foi uma época difícil e intensa. Eu era o assistente pessoal dele. Uma vez, uma gripe pegou todo o pessoal do escritório, com exceção de mim. Tínhamos que entregar duas cadeiras “Soft-Cell” customizadas (desenhadas por ele) para um colecionador muito importante na Noruega. As cadeiras não estavam concluídas quando a empresa de transporte chegou para pegá-las. A solução foi: eu entregá-las posteriormente. Colocamos as cadeiras no meu carro e eu dirigi de Berlin até Oslo (cerca de 1.200 quilômetros), noite adentro, para entregar as cadeiras. ESCALA: O que está projetando agora? Mutsch: Uma coleção de sofás para Neue Wiener Werkstätte, uma espreguiçadeira, uma cadeira de jantar, uma mesa baixa e um sofá para a belga Sixinch. Gostaria de trabalhar com um fabricante brasileiro.
14 maio 2010
Eternit prototype
Love them forever
H
.e was around 10 when he designed and built his first chair — and it still exists! A true love began in his childhood and has been growing up to now. Yes, love, because only love makes someone drive 1200 kilometers, from Berlin to Oslo, to deliver some pieces of furniture. Rainer Mutsch’s passion for design is so strong that he says, “When you love a piece of furniture, you can’t throw it away that easy”. In exclusive interview to ESCALA Magazine, the Austrian product designer, who has won important international prizes, like Red Dot Design Award 2009, in the category “Public Space”, shows why his friends describe his design as idealistic, ironic, and passionate. ESCALA: Who would you invite to eat or work with you using “R-Table”? Mutsch: My customer to whom I designed it. The table was tailor-made for him, and he still likes it a lot. Every time I visit him, I enjoy it. ESCALA: How did you have its inspiration? Mutsch: My customer likes to invite people for dinners, parties… I analyzed the chronology — first dining, then lounging on the sofa, and smoking cigars — and tried to create a “social” table, which enabled a seamless transition from the dining area to the lounge area. ESCALA: “Linea” won Red Dot Design Award 2009. Tell us about it. Mutsch: “Linea” was inspired by the production process of “Shift” planters I did for the Swiss/Austrian company Eternit.
Crash
It is a lounge chair based on a bent fiber cement panel. After a couple of visits to the production facilities, I fell in love with the 24 meters long industrial machine, which is the heart of the company. ESCALA: How do you analyze the role of designers nowadays? Mutsch: If you design furniture nowadays, you have a lot of responsibility. Everything has to stand in a balanced environment. I always ask myself, before the designing phase of a new item, if it is really necessary to bring that thing to the market. ESCALA: So, a piece of furniture must have some personality. Mutsch: For sure. And it should have the potential for a longer relationship with its user. A great dress that you keep for years is sustainable. A great sofa, passed from one generation to the next, is sustainable. 15
ESCALA: So, it is not only a question of eco-friendly materials. Mutsch: Exactly. Designers can create long-term commitment. If the average buyer keeps his sofa for ten years instead of the usual three or four (IKEA items last even less), we will be able to change a lot. By shipping short-term products, we squander energy, natural resources, and public goodwill. Nowadays, the quality of sofas is so high, that the real reason sofas are thrown away in sooner than ten years is lack of love. ESCALA: How do you see Austrian design nowadays? Mutsch: Vienna has a long tradition of design. Adolf Loos and Josef Hoffmann are still omnipresent. I highly appreciate the historical importance of them. Nowadays, Pure Austrian Design — a private institution, ironically founded by Andres Fredes, an art director from Chile — helps to develop the local design network. Vienna Design Week starts to become a very important event in mid-European design scene, because of its intention to connect young international designers with traditional Austrian companies. ESCALA: What are the best Austrian furniture manufacturers today? Mutsch: Das Möbel, Lobmayr, Neue Wiener Werkstätte, Viteo, Wittmann, and Kohlmaier Vienna. Austria has an old tradition of high quality craftsmanship. Nowadays, it’s nice to see some of the traditional companies opening their minds and starting to work with young designers. Just as a curiosity: my father, now an interior architect, was a passionate carpenter. He had his own workshop. ESCALA: Do you have a favorite manufacturer? Mutsch: One of my favorite in Vienna is Das Möbel. Owned by the idealistic and passionate Mr. Lothar Trierenberg, it produces and exhibits designs by young Austrian designers in a very special environment: Das Möbel is a conceptual bar which additionally functions as a showroom of Austrian design. No table is like any other; each chair is different. Guests can dine there and also purchase pieces of furniture, which are produced by young Austrian designers. 16 maio 2010
Shift
ESCALA: What were the best lessons you learned at the universities you studied in Austria, Denmark, and Germany? Mutsch: Be open-minded, travel a lot, and be authentic and passionate about your work. In my opinion, it’s very important to travel and see different approaches to design. That was the reason why I left Austria for almost three years during my studies. ESCALA: You worked with Werner Aisslinger, before opening your studio in 2005. How was it? Mutsch: Puh, it was a tough and intense time, because I was his personal assistant and senior designer at the office. Once a flu whipped out the entire office staff, excepting me. We had to deliver two custom-made “Soft-Cell” chairs (designed by Aisslinger) to a very important collector in Norway. The chairs weren’t finished when the transportation company arrived to pick up them. We had a big problem and the solution was that I would deliver the chairs later. We put the chairs into my car and I drove from Berlin to Oslo (around 1200 kilometers), over night, to deliver the chairs. ESCALA: What are you projecting now? Mutsch: I’m working on a sofa collection for Neue Wiener Werkstätte and designing a chaise longue, a dining chair, a table, and a modular sofa for Sixinch, a Belgian manufacturer. I would like to work with a Brazilian manufacturer.
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Design “do bem”
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m fogão com chaminé, um monitor de batimento cardíaco fetal ativado através de manivela, um livro com 185 produtos feitos a partir de um porco, um projeto relacionado a veículos elétricos e um site que possibilita microempréstimos para pequenos empresários. Parecem simples, alguns até rústicos, mas, na verdade, todos estes itens envolvem muita tecnologia, coerência com público-alvo, e têm em comum o fato de terem sido os vencedores do Index Award 2009, dividindo o prêmio de 500 mil euros. O objetivo do concorrido concurso dinamarquês — no ano passado, foram mais de 700 inscrições —, que ocorre bienalmente, é estimular designers do mundo inteiro a criar soluções que atendam as necessidades das pessoas em sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento. Em outras palavras, é o incentivo ao design “para viver melhor”. A equipe de design da Philips levou o prêmio na disputada categoria “Home”, com o fogão “Chulha”, desenvolvido para ajudar a amenizar um sério problema em
18 maio 2010
países como a Índia, onde combustíveis como madeira e esterco são utilizados para cozinhar dentro das casas. A OMS estima que 1,6 milhão de pessoas morram, por ano, devido a complicações respiratórias por inalação do gás gerado pela queima desses combustíveis. O “Chulha” foi pensado e desenvolvido para ser facilmente fabricado por pequenos empresários locais e faz parte de um programa interno da Philips, iniciado em 2005, que visa a levar o design para quem precisa, ajudando a resolver ou, pelo menos, amenizar problemas sociais. Suas duas bocas exigem menos combustível. O calor e a fumaça ficam presos antes de passar por uma câmara que leva à chaminé. A tal câmara é formada por peças de barro encaixadas, que capturam partículas antes que a fumaça saia, já auxiliando na limpeza da peça. Por fim, a chaminé possui uma abertura que pode ser acessada dentro de casa, para limpeza, acabando com a necessidade de alguém subir no telhado. Parto seguro — Outro sério problema em regiões em desenvolvimento é a mortalidade de recém-nascidos, que significa 60% da mortalidade infantil, também segundo a OMS. Um acompanhamento básico da saúde do bebê no momento
Better Place
Chul
Place
do parto mudaria muito o quadro. Pensando nisso, o “Freeplay”, monitor de batimento cardíaco fetal, foi desenvolvido e ganhou o Index Award na categoria “Body”. O “Freeplay”, de Philip Goodwin, Stefan Zwahlen e John Hutchinson, tem tudo para tornar-se um grande aliado das parteiras. Não precisando de energia elétrica para funcionar, ele é ativado através de uma manivela. Girá-la durante um minuto fornece dez minutos de energia. Na hora do parto, com o “Freeplay” mostrando que os batimentos cardíacos do bebê estão fracos, a parteira poderá tomar as providências para encaminhar a parturiente para um lugar com serviços médicos mais avançados. Ganhador do prêmio na categoria “Work”, o website kiva.org, desenvolvido por Matt Flannery e Jessica Jackley, foi escolhido por possibilitar microempréstimos para pequenos empresários em todo o mundo. Pelo site, qualquer um pode fazer o cadastro e buscar, por região ou tipo de negócio, alguém para ajudar. Na semana de entrega do prêmio, o site alcançou a marca de 87 milhões de dólares em empréstimos. Origem — O livro “PIG 05049”, ganhador do Index na categoria “Play”, tem o objetivo de mostrar aos leitores como a cadeia de fabricação de coisas simples, como um giz de cera, é iniciada a partir de... um porco! E tinta, sabão, cigarros e até munição. O designer holandês Christien Chulha
Livro PIG 05049
Meindertsma reuniu no livro, cheio de imagens e quase sem texto, 185 produtos feitos a partir do animal. “Para tomarmos melhor conta do planeta, precisamos saber de onde as coisas vêm”, diz ele. A categoria “Community” foi vencida pelo “Better Place”, sistema que serve de infraestrutura para veículos movidos a energia elétrica. Motoristas que utilizam este tipo de meio de transporte são o público-alvo do sistema, fundado por Shai Agassi e que inclui pontos de abastecimento, distribuídos pelas cidades e estradas, e um software avançado, que, integrado aos veículos, auxilia o motorista na navegação e a aproveitar a rede “Better Place” ao máximo. Além dos premiados citados, a designer australiana Jean Madden conquistou o prêmio “Escolha do Público” (por ele, ganhou uma poltrona Egg, de Arne Jacobsen), pelo seu “Street Swags”, uma cama/bolsa para moradores de rua. Trata-se de uma solução temporária, mas que fornece o mínimo de conforto e proteção. O colchão de espuma é leve e de alta densidade. Jean conseguiu unir a comunidade de sua cidade, Brisbane, em torno da produção. Entidades privadas doaram fundos, presidiários costuraram, estudantes finalizaram o processo embalando as peças. Voluntários fizeram a distribuição por todo o país, tornando o “Street Swags” realidade. 19
Disputa australiana
Mais pretextos para aumentar a rixa entre Melbourne e Sidney. O Melbourne Recital Centre e o Melbourne Theatre Company, do escritório Ashton Raggatt McDougal, conquistaram o prêmio máximo no 2009 Victorian Architecture Medal em três categorias: public architecture, interior design e urban design. Destaque para a “Word Wall” do teatro, uma parede interna que reúne 70 frases de obras teatrais diferentes. Todas iluminadas.
Design no metrô
O livro “Art, Fashion & Architecture” exalta o sucesso criativo da Louis Vuitton, que há mais de 30 anos viu na co-criação a oportunidade de manter-se pop e up-to-date. Estão nele as malas by JacquesHenri Lartigue, Starck, Murakami e Shigeru Ban; os lenços by Sol LeWitt; as instalações luminosas by Olafur Eliasson... Must have.
20 maio 2010
Objet du désir II
Objet du désir I
Da legendária fonte sans-serif, de 1916, à marca new roundel, também desenhada por Edward Johnston, em 1918; do mapa, desenhado por Harry Beck, em 1931, às estações das décadas de 20 e 30, de Charles Holden; do Shield Design... Desde sua criação, o London Underground proporciona aulas de design para os olhares mais atentos. Este ano não será diferente. O novo padrão que estofará os assentos — ocupados por mais de 3,5 milhões de passageiros diariamente — sairá da London Underground Fabric Competition.
A designer de jóias Valeria Nunes lança sua coleção neste mês. O nome já diz tudo: “Magnificat”, que também é o nome da principal jóia da coleção. Com 100 quilates, o anel “Magnificat” parece vários anéis em um. Tudo depende do ângulo escolhido para admirá-lo. Vale conferir no website da designer carioca (www.valerianunesjoias.com.br).
Segunda vida
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ova, mas de segunda mão. Em Enschede, Holanda, um escritório de arquitetura construiu uma casa com 60% de materiais reciclados. O que, à primeira vista, é uma casa como outra qualquer, na verdade, pode ser um marco arquitetônico moderno, provando que construções sustentáveis não precisam exibir-se como tal, nem devem merecer apenas o rótulo de “conceituais”. O nome da casa é Villa Welpeloo; possui dois andares, 300m² de área. Assinado pelo escritório holandês 2012 Architecten — dos sócios Césare Peeren, Jeroen Bergsma e Jan Jongert —, o projeto tem a importância de algo sustentável, construído em 2009 para ser permanente. Não é um objeto temporário, nem apenas decoração. Não é moda, tendência. A estrutura principal foi feita com perfis de aço, que anteriormente fizeram parte de uma máquina usada em produção têxtil, uma indústria outrora muito importante na região de Enschede. Nas fachadas principais, foram usadas madeiras de segunda mão, mais precisamente, ripas de madeira coletadas de 600 bobinas usadas para enrolar cabos. No telhado e na maior parte do piso, tábuas de madeira reaproveitadas. O material de isolamento veio de um prédio comercial demolido na vizinhança. Primeiramente, uma camada de EPS, seguida por três camadas de lã de vidro com lâmina reflexiva. Isso garantiu um nível maior de isolamento do que o padrão oficial. 22 maio 2010
O elevador escolhido foi um de segunda mão, do tipo usado em construção. As instalações de luz, feitas com partes de guarda-chuvas quebrados. E, talvez, o mais inusitado de tudo: nos banheiros, o acabamento das paredes e do piso foi produzido com copos plásticos de café comprimidos. Segundo os arquitetos, o ganho ambiental — redução na emissão de CO2, incluindo transporte e processamento —, graças à utilização desses materiais reciclados, é enorme. Em relação ao revestimento, se compararmos a emissão de CO2 na Villa Welpeloo e em uma obra com um revestimento de madeira simples, mas novo, na Villa, houve uma redução de 85% na emissão, de acordo com os sócios. No que se refere à construção em aço, 95% de redução comparado a uma construção similar com aço novo, segundo eles. Novo em folha — Com tantos reciclados, fica a curiosidade: o que foi novinho em folha para a Villa? Todos os parafusos, as instalações técnicas, o estuque e o concreto da fundação. “Em construções, é muito difícil atingir 100% de reutilização. Em alguns casos, o reuso é impossível ou sem sentido”, diz Bergsma. Para o fotógrafo Allard van der Hoek, a casa parece adaptada à vizinhança, algo que, na opinião dele, não acontece com a maioria dos edifícios novos, que precisam de algum tempo para serem integrados ao lugar. “Vi a fachada em madeira desgastada como a pele de pessoas idosas”, compara.
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Contudo, segundo van der Hoek, não se trata de “arquitetura alternativa” óbvia. “A reutilização dos materiais não é claramente visível em todos os lugares, o que para alguns será visto como uma grande qualidade, enquanto outros podem achar isso uma oportunidade perdida”, analisa o fotógrafo. A respeito do seu orçamento, a Villa Welpeloo custou aproximadamente 800.000 euros. Uma casa similar, construída com materiais novos, custaria 900.000 euros. “Economizar dinheiro tinha importância secundária; o objetivo era economizar energia”, analisa Jongert. Filosofia — Muito mais do que uma casa, Peeren, Bergsma e Jongert desenvolveram um conceito e um método construtivo (“Superuse Concept and Method”): sempre que possível, usar sucata, encontrada em áreas industriais próximas ao local da construção, para que as emissões de CO2 durante o transporte sejam mantidas a um nível mínimo. Abastecimento local é a chave e eles fazem este tipo de busca. “Nós usamos uma lista da Câmara de Comércio para fazer uma avaliação do tipo de sucata industrial que nós pode-
mos encontrar em uma determinada região”, conta Peeren, acrescentando que a Villa Welpeloo foi a primeira casa criada pelo escritório seguindo o “Superuse Concept and Method”. E os arquitetos criaram também o “Superuse Relevancy Factor”, usado para descrever a relação entre a quantidade de energia que tem que ser acrescentada para reutilizar um produto, incluindo um processo de preservação e o transporte do local da coleta para o local da construção, e a quantidade original de energia associada com a sua produção. Às vezes, eles descobrem que terão que gastar muita energia para reutilizar o material, não valendo a pena, já que o propósito de tudo é a preservação do ambiente. Sobre próximos projetos, os sócios sonham expandir o conceito e o método “Superuse”. “Há 15 anos, começamos a construir pequenas instalações, principalmente para convencer as pessoas, e nós mesmos, que a nossa abordagem podia funcionar. Hoje em dia, grandes empresas já acreditam que é possível criar edifícios bonitos e funcionais reaproveitando materiais encontrados na vizinhança”, finaliza Bergsma.
Fotos de Allard van der Hoek
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Villa Welpeloo
Second life
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ew, but second-hand. In Enschede, in the Netherlands, an architectural firm has built a house with 60 percent of recycled materials. What at first glance is a house like any other, actually, can be a modern architectural landmark, proving that sustainable buildings do not need to exhibit themselves as such, neither should only deserve the “conceptual” label. The name of the house is Villa Welpeloo. It has two floors, 300 square meters. Signed by Dutch office 2012 Architecten — Césare Peeren, Jeroen Bergsma, and Jan Jongert are the partners —, the project has the importance of something sustainable, built in 2009 to be permanent. It’s not a temporary object, nor just decoration. Not fashion, trend. The main structure was made out of steel profiles that previously were part of a machine used in textile production, an industry once very important in the region. In the main façades, second-hand wood was used, more precisely wooden slats collected from 600 reels, used to roll cables. In the roof and in the majority of the floor, reused timbers. The insulation material came from a demolished office building in the neighborhood. First, a layer of EPS, followed by three layers of glass wool with reflective blade. This ensured a greater level of insulation than the official standard. The chosen elevator — the kind used in construction — was second-hand. The light fixtures, made of parts of broken 24 maio 2010
umbrellas. And perhaps the most unusual of all: in the bathrooms, the finishing of the walls and the floor was made of compressed plastic coffee cups. According to the architects, the environmental gain — reduction in CO2 emission, including transport and processing — is enormous, thanks to the use of recycled materials. In terms of cladding, comparing the emission of CO2 in Villa Welpeloo and in a building made of simple but new wood, in Villa Welpeloo, there was an 85% reduction in emission, according to the partners. With regard to steel construction, 95% reduction compared to a similar construction made of new steel, they say. Brand-new — With so many recycled materials, what was brand-new in Villa Welpeloo? The technical installations, all the screws, plaster, and the concrete of the foundation. “A hundred percent reuse in a building is very difficult to achieve. In some cases, reuse is impossible or meaningless”, says Bergsma. To Allard van der Hoek, the house seems to be “selfconfident” and adapted to the neighborhood, something that, in the photographer’s opinion, doesn’t occur with the majority of new buildings, which need some time to be integrated to their place. “I saw the worn-out wooden façade like the skin of old people”, he compares.
However, according to van der Hoek, it is not obvious “alternative architecture”. “The reuse of materials is not clearly visible everywhere, which for some will be seen as a great quality whereas others may find this a missed opportunity”, analyzes the photographer. Regarding the budget, Villa Welpeloo costed about 800,000 euros. A similar house, built with new materials, would cost 900,000 euros. “Saving money was of secondary importance; the objective was to save energy”, says Jongert. Philosophy — Much more than a house, Peeren, Bergsma, and Jongert have developed a concept and a method: whenever possible, using scrap found in industrial areas near the construction site, so that CO2 emissions are kept to a minimum during transport.
Relevancy Factor” to describe the relationship between the amount of energy that must be added to reuse a waste product, including a preservation process and the transport from the harvest location to the building site, and the original amount of energy associated with its production. Sometimes they find that they will have to spend too much energy to reuse the material, not worth having, since the purpose of it all is the preservation of the environment. Now they dream about expanding their concept and method. “Fifteen years ago we started building installations, mainly to convince people, and us, that our approach could work. Today, big companies already believe that it is possible to create buildings reusing materials found in the neighborhood”, concludes Bergsma.
Photos by Allard van der Hoek
“We use a list from the Chamber of Commerce to make an assessment of the type of industrial waste we can find in a particular area”, tells Peeren, adding that Villa Welpeloo was the first house created by them with “Superuse Concept and Method”. And the three architects have also created the “Superuse
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Portas para abrir
26 maio 2010
Portas Novas
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om Portas Novas, uma janela para a Costa Rica. O projeto, de Victor Cañas, é uma grande oportunidade para conhecer mais sobre esse país da América Central. E, claro, sobre o trabalho de Cañas. É a primeira vez que ESCALA entrevista um arquiteto costa-riquenho. Cañas é um dos mais prestigiados arquitetos de seu país — ele foi agraciado com o principal prêmio na Bienal de Arquitectura y Urbanismo de Costa Rica, em 1998, 2004 e 2010, em San José, a capital. Lá, é comum encontrar anúncios enfatizando que a casa foi projetada por ele. Como um certificado de qualidade. Em 2007, foi nomeado membro honorário do American Institute of Architects (AIA) – College of Fellows.
ESCALA: Abrindo uma janela para o passado, você foi cônsul da Embaixada da Costa Rica em Londres. Como isso aconteceu? Cañas: Por acaso. Na época, a Costa Rica não tinha corpo consular profissional, nem diplomático. E fui mandado para o posto.
procurando a sua própria identidade. Há uma consciência crescente sobre a importância da sustentabilidade e sobre projetar arquitetura que responda ao nosso clima e à nossa realidade econômica. ESCALA: Quais são as piores? Cañas: Antes da crise econômica, estávamos em meio a um boom construtivo desencadeado pelo crescente fluxo de turismo europeu e americano. Isso resultou em empreendimentos imobiliários — principalmente na costa norte, na província de Guanacaste —, que, agora, estão sendo questionados. A maioria era de qualidade arquitetônica duvidosa. ESCALA: Eu li que você ensina na Universidad de Costa Rica desde 1989. Pensando em você como um estudante nos anos 70 e nos seus alunos hoje, quais são as semelhanças e as principais diferenças? Cañas: A principal semelhança é que pouco se evoluiu em
Fotos de Jordi Miralles
ESCALA: Qual foi a melhor coisa que o arquiteto deu para o cônsul? Cañas: Organização e técnicas de resolução de problemas. ESCALA: E o cônsul deu para o arquiteto... Cañas: A possibilidade de repensar sobre o que eu estava fazendo no meu escritório e uma perspectiva distante para olhar para a arquitetura na Costa Rica. ESCALA: Como você analisa a relação entre arquitetura costa-riquenha e governo hoje? Cañas: Lamentavelmente, o governo não tem interesse em arquitetura. Ele não poderia se importar menos com a qualidade dos edifícios. Bom que a construção de prédios públicos parou por completo. ESCALA: Quais as melhores coisas relacionadas à arquitetura feita no seu país hoje? Cañas: A arquitetura na Costa Rica está 27
Portas Novas
relação aos métodos de ensino. As salas de projeto são basicamente as mesmas de 30-40 anos atrás, o que é algo realmente preocupante. Tem havido pouca evolução, o que eu acho que deveria causar uma espécie de revolução. A principal diferença tem sido feita através do uso de computadores, com todas as suas boas e más implicações. ESCALA: Como o seu escritório está lidando com a sustentabilidade? Cañas: Uma de nossas maiores preocupações sempre foi a relação entre o edifício e o seu ambiente, levando em consideração suas características topográficas e climáticas. Recentemente, na maioria dos nossos projetos, fontes alternativas de energia têm sido usadas. Temos uma consciência crescente de que esta é uma abordagem correta, mas também que não é suficiente. Mas, por falta de informação sobre a pegada de carbono* para fabricar os materiais e para colocar em prática métodos construtivos no nosso país, é muito difícil tomar as melhores decisões sobre o que usar. ESCALA: Conte-nos sobre Portas Novas. Cañas: Ela está localizada no topo de uma montanha em Guanacaste, uma província tropical seca da Costa Rica. A casa tem duas vistas muito diferentes: a abertura do horizonte com o pôr-do-sol para o Oeste, e a vista mais íntima, mas ainda assim muito ampla, da montanha e dos vizinhos isolados para o Leste. ESCALA: E o que mais? Cañas: Portas Novas me deu a oportunidade de aplicar * “Pegada de carbono” corresponde à quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitida como resultado direto, ou indireto, de uma atividade. Quase tudo o que fazemos resulta em emissão de carbono — até respirar. 28 maio 2010
alguns elementos de design sobre os quais eu venho constantemente refletindo, como o uso da iluminação, a articulação entre espaços, a relação interior-exterior, o uso de escalas diferentes para espaços diferentes, de acordo com sua função; tudo em um projeto localizado em um lugar exclusivo, com vistas maravilhosas e quase sem problemas de privacidade. ESCALA: O que falam sobre ela? Cañas: As pessoas falam que a piscina que circunda a casa dá a ela a impressão de uma casa flutuante. Algumas falam que a mistura de azuis do céu, do oceano e da água da piscina cria um ambiente mágico. Algumas comentam que o espelho d’água ao nível do solo, no lado ocidental, parece fundir-se com o oceano. E algumas falam que a casa traz o exterior para dentro. ESCALA: A utilização do vidro em Portas Novas é fabulosa. Ele é o seu material preferido? Cañas: É um material com o qual eu me sinto confortável. Quando usado juntamente com uma estrutura bem-concebida, dá para você a oportunidade de abertura e de fácil fluxo de espaço. Luz natural entra na casa, graças às janelas enormes. Mas eu também usei madeira, pedra, aço e concreto. ESCALA: Em seus projetos, há uma perfeita continuidade entre os ambientes interno e externo. Cañas: O fluxo contínuo entre espaços exterior e interior tem sido para mim um dos maiores prazeres arquitetônicos. Felizmente, nos nossos climas tropicais, viver no exterior é possível durante todo o ano, dando-nos a possibilidade de jogar com essa ambigüidade ou dualidade de viver no interior e no exterior. Em alguns dos meus projetos, eu tentei apagar essa fronteira, através do fluxo contínuo de materiais de piso, da utilização de grandes portas de correr que se abrem
para o exterior e, em algumas casas de frente para o mar, usando a água como um elemento unificador entre o oceano e a casa, com piscinas estrategicamente colocadas, que se misturam com a paisagem. Uma vez, alguém me falou que, em Portas Novas, o mar vem até a borda da casa. Aquela era exatamente a minha intenção. ESCALA: Você disse: “A arquitetura é uma ponte que liga o cotidiano ao eterno”. Cañas: A arquitetura tem que agitar o espírito humano; tem que criar emoções que durem. ESCALA: Um poema para sua arquitetura? Cañas: Uma das coisas que eu sinto que eu não tenho sido capaz de desfrutar na minha vida é uma apreciação profunda
da poesia. Eu acho difícil de ler. Isso criou um enorme vazio dentro de mim. Talvez por essa razão, eu prefira a definição da arquitetura como música congelada. Alguns edifícios dizem o que eles têm a dizer de uma forma muito tranqüila, alguns cantam em voz alta. Alguns são complexas sinfonias, alguns são silenciosos. Esses últimos são, às vezes, os que têm mais a dizer. ESCALA: Hoje em dia, pensando em sua arquitetura, para que coisas você abre todas as portas? Cañas: Para inovação, novos materiais e técnicas construtivas, e para a sustentabilidade. ESCALA: E para que coisas você as fecha bem? Cañas: Para a moda.
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Portas Novas
Photos by Jordi Miralles
Doors to open
Portas Novas
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..ith Portas Novas, a window to Costa Rica. The project, by Victor Cañas, is a great opportunity to know more about this country in Central America. And, of course, about Cañas’ work. It is the first time ESCALA interviews a Costa Rican architect. Cañas is one of the most prestigious architects in his country — he was awarded with the grand prize at Bienal de Arquitectura y Urbanismo de Costa Rica, in 1998, 2004, and 2010, in San Jose, the capital. There, it is common to find advertisements emphasizing that the house has been projected by him. Like a certificate of quality. In 2007, he was named an honorary member of the American Institute of Architects (AIA) – College of Fellows. 30 maio 2010
ESCALA: Opening a window to the past, you were consul of the Costa Rican Embassy in London. How did it happen? Cañas: By chance. At that time, Costa Rica had no professional consular corps, nor diplomatic. And I was sent to headquarters. ESCALA: What was the best thing the architect gave to the consul? Cañas: Organization and problem solving techniques. ESCALA: And the consul gave to the architect... Cañas: A chance to rethink about what I was doing in my practice and a distant perspective to look at architecture in Costa Rica. ESCALA: How do you analyze the relationship between Costa Rican architecture and government nowadays? Cañas: Regrettably, the government has no interest in architecture. It couldn’t care less about the quality of buildings. Fortunately, the construction of public buildings has come to a complete stop.
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ESCALA: What are the best things related to the architecture done in your country today? Cañas: Architecture in Costa Rica is looking for its identity. There is a growing consciousness on the importance of sustainability and on designing architecture that responds to our climate and economic reality. ESCALA: What are the worst ones? Cañas: Before the economic crisis, we were in the midst of a construction boom triggered by the increasing flow of American and European tourism. This resulted in developments — mainly on the northern costal province of Guanacaste —, which are now being questioned. Most of these developments were of a very dubious architectural quality. ESCALA: I’ve read that you have taught at Universidad de Costa Rica since 1989. Thinking about you as a student in the 70’s and in your students today, what are the similarities and the main differences? Cañas: The main similarity is that little has evolved regarding teaching methods. The design studios are basically the same as 30 – 40 years ago, which is something to really worry about. There has been little evolution, which I think should bring about a kind of revolution. The main difference has been made by the use of computers, with all its good and bad implications. ESCALA: How has your office been dealing with sustainability? Cañas: One of our major concerns has always been the relation between the building and its site, taking into consideration its topographic and climatic characteristics. Recently, on most of our projects, alternative energy sources have been used. We have a growing awareness that this is a correct approach, but also that it is not enough. But, for lack of information on the carbon footprint to produce the materials and to put in practice construction methods in our country, it is very difficult to make the best decisions on what to use. ESCALA: Tell us about Portas Novas. Cañas: It is situated on the top of a mountain in Guanacaste, a dry tropical province of Costa Rica. The house has two very different views: the openness of the horizon with the sunset to the West, and the more intimate, but still very wide, view of mountainside and isolated neighbors to the East. ESCALA: And what else? Cañas: Portas Novas has given me the opportunity to apply
Portas Novas
some design elements upon which I have consistently been reflecting, like the usage of light, the articulation between spaces, the indoor–outdoor relationship, the use of different scales for different spaces according to their function; all in a project located on a unique site, with wonderful views and almost no privacy problems. ESCALA: What do people say about it? Cañas: People say that the swimming pool that surrounds the house gives it the impression of a floating home. Some say that the mix of blues from the sky, the ocean, and the swimming pool water creates a magical environment. Some comment that the ground-level water mirror, on the western side, seems to merge into the ocean. And some say that the house brings the outdoors in. ESCALA: The use of glass in Portas Novas is fantastic. Is it your favorite material? Cañas: It is a material I feel comfortable with. When used in conjunction with a well-designed structure, it gives you the opportunity of openness and easy flow of space. Natural light enters the house, thanks to the huge windows. But I also used wood, stone, steel, and concrete. 31
ESCALA: In your projects, there is a perfect continuity between indoor and outdoor environments. Cañas: The continuous flow between outer and inner spaces has been to me one of the greatest architectural delights. Luckily, in our tropical climates, living outdoors is possible all year round, giving us the possibility to play with this ambiguousness or duality of living indoors and outdoors. In some of my projects, I have tried to erase this boundary, by the continuous flow of floor materials, the use of big sliding doors which open to the outside, and, in some ocean front houses, by using water as an unifying element between the ocean and the house, with strategically placed swimming pools, that blend themselves with the landscape. Someone once has told me that, in Portas Novas, the ocean comes to the very edge of the house. That was exactly my intention.
fer the definition of architecture as frozen music. Some buildings say what they have to say in a very quiet way, some sing it out loud. Some are complex symphonies, some are silent. These last ones are sometimes the ones that have more to say. ESCALA: Nowadays, thinking about your architecture, to what things do you open all doors? Cañas: To innovation, new materials and building techniques, and to sustainability. ESCALA: And to what things do you close them tight? Cañas: To fashion.
ESCALA: You have said, “Architecture is a bridge that links the everyday to the everlasting”. Cañas: Architecture must shake the human spirit; it must create emotions that last. ESCALA: A poem to your architecture? Cañas: One of the things that I feel that I’ve not been able to enjoy in my life is a deep appreciation of poetry. I find it difficult to read it. This has created a huge void in me. Maybe for that reason, I pre-
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Construindo oportunidades: urbanismo social Sergio Gomez
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e o nosso vizinho pode, ... Desde 2003, os índices de criminalidade diminuíram bastante em Medellín (Colômbia) — apesar de, em 2008 e 2009, terem subido de novo, mas, mesmo assim, para níveis bem inferiores aos das décadas de 80 e 90 — e a cidade passou a ser destino obrigatório para arquitetos, dos mais diversos países, que desejam entender como sua profissão foi, e ainda é, tão importante nesta transformação. Medellín virou, sim, uma nova cidade, graças à arquitetura, ao urbanismo, mas também à cultura, à educação e a programas sociais (criação de em34 maio 2010
pregos, estímulo ao empreendedorismo...) e de infraestrutura, levados às camadas mais pobres da população. O local que gerava medo por causa das dimensões extraordinárias do tráfico de drogas, hoje, gera turismo, esperança, ... Muitas pessoas melhoraram a sua qualidade de vida. Problemas sociais foram solucionados ou, pelo menos, abrandados. Em entrevista exclusiva à ESCALA, os arquitetos colombianos Giancarlo Mazzanti e Juan Felipe Mesa (Plan B Arquitectos) falam sobre sua participação neste processo sem precedentes no país. No Brasil, o arquiteto Ivo Mareines revela o que mais o surpreendeu em sua recente visita até Medellín.
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Início — Esta história começou com um prefeito matemático, filho de arquiteto. Seu nome: Sergio Fajardo. Seu ousado e ambicioso plano: recuperar Medellín a partir do redesenho do espaço público. E isso incluía conectar áreas de diferentes níveis socioeconômicos. Suas cinco principais linhas de atuação (que ele e a sua equipe idealizaram e executaram): planejamento; construção de equipamentos educativos para dignificar os bairros, principalmente os mais pobres; desenvolvimento de projetos urbanos contra a exclusão e a desigualdade; investimento em habitação social para amenizar dívidas históricas — algumas casas cresceram e foram construídos edifícios para substituir os barracos mais precários; criação de parques lineares, para promover a integração da cidade, recuperando a rua como valor fundamental. Seu braço-
direito, diretor do projeto urbano implantado: Alejandro Echeverri, arquiteto e paisagista. Com o apoio e a participação de arquitetos, engenheiros, jornalistas, sociólogos e, principalmente, dos habitantes das favelas, Fajardo conseguiu converter a sede do famoso cartel de drogas — em 1991, o município mais violento do mundo, com taxa de 381 assassinatos por 100 mil habitantes — em uma cidade melhor, com menos pobreza e menos violência. Em quatro anos, os índices de homicídios baixaram 81%. Foram construídos mais de 50 projetos urbanísticos e de arquitetura — “o mais bonito para os mais humildes”: cinco novas bibliotecas, dez escolas, novas ruas para pedestres, ... — criados por arquitetos renomados, mas também por jovens ta-
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O teleférico levará diariamente 30 mil pessoas, em um percurso que sairá do asfalto e passará pelas cinco montanhas que formam o Complexo do Alemão. O plano urbanístico e social da cidade de Medellín já recebeu algumas premiações, entre elas, o Curry Stone Design Prize for Emerging Humanitarian Innovation/ 2009. O prêmio de US$ 100.000 foi dado a Echeverri e Fajardo. ESCALA: Arquitetos e políticos. Quando esta relação funciona? Mesa: Funciona quando não há imposição; quando o mais importante é o bem-estar da comunidade. Mazzanti: Eu acredito que a relação entre arquitetos e políticos tem que ser próxima.
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lentos. Projetos vencedores de concursos públicos. Entre esses símbolos, ícones arquitetônicos, estão: o Parque Biblioteca España (Mazzanti) e o Orquideorama (Plan B Arquitectos), que viraram marcos da cidade. Não à toa, Medellín transformou-se em “Meca” para arquitetos do mundo inteiro e também para governadores brasileiros, como Sérgio Cabral (RJ), Aécio Neves (MG) e José Roberto Arruda (ex-governador do DF), que estiveram lá para aprender os caminhos para a paz. Inspirado em Medellín, o Governo do Rio conclui atualmente um pacote de investimentos sociais que pretende transformar..a região do Complexo do Alemão..— serão gastos R$ 750 milhões, quase metade vinda do Programa de..Aceleração e Crescimento (PAC). Da Colômbia, copiou-se, entre outras idéias, a do Teleférico Metro Cable, que custará R$ 172 milhões. Em Medellín, o teleférico conecta os bairros mais pobres (e, antes dele, mais isolados) ao resto da cidade. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, em 8 de março, serão cinco estações, inauguradas até setembro. 36 maio 2010
ESCALA: Como os moradores mais humildes reagiram a todos aqueles projetos de arquitetura arrojada? Mazzanti: Eles apreciaram e respeitaram o trabalho, porque entenderam que o resultado era para eles, para suas famílias. Mareines: E o resultado era o melhor. A tradição de dar migalhas aos mais humildes foi esquecida. Os projetos são extremamente criativos. Arquitetura e materiais excelentes. Os moradores das favelas perceberam isso; perceberam que
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estavam recebendo o melhor. Bibliotecas, centros culturais, áreas esportivas, ... Fajardo tem uma frase ótima: “Nossos prédios mais bonitos têm que estar nas nossas áreas mais pobres”. Por isso, as pessoas mais humildes participaram tanto durante a construção dos prédios — cada projeto foi construído consultando os moradores; as comunidades cresceram junto com os projetos — e, hoje, o nível de vandalismo nesses prédios públicos é bem baixo. Quando você dá às pessoas o melhor que você pode dar, elas cuidam. ESCALA: Para eles, tudo isso representa dignidade, autoestima, educação, cultura, mudanças de comportamento, oportunidades, ... E para vocês? Mazzanti: É muito gratificante saber que, com o meu trabalho, ajudei a transformar as vidas de muitas pessoas. Mesa: Medellín vem mudando, mas ainda há muito a fazer em termos de igualdade, oportunidades para todos... Mazzanti: Há mais projetos agora. Estamos projetando para muitas áreas pobres. Graças a fundações e organizações governamentais e não-governamentais, existirão mais escolas, jardins de infância, ...
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ESCALA: Qual é a principal característica do Parque Biblioteca España? Mazzanti: O edifício é um símbolo, um ícone visível na maior parte da cidade. Ele significa mudança, progresso. ESCALA: O que você mais gosta neste projeto? Mazzanti: O contraste de texturas entre o prédio e o local onde ele está. A construção dá uma sensação de dureza. Seus três volumes parecem pedras posadas sobre a montanha. ESCALA: Uma coisa que você gosta de fazer no Orquideorama. Mesa: Nós (Plan B) amamos observar as diferentes atividades realizadas no espaço: festivais de música, meditação, casamentos, ... Mareines: A construção, com uma estrutura metálica recoberta por tiras de madeira, é realmente surpreendente. Orquideorama virou um ambiente para plantas, mas também para pessoas. É um lugar para lazer, eventos, ... Como o Parque Biblioteca España, ganhou um concurso público e tornou-se um ícone.
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ESCALA: Parque Biblioteca España e Orquideorama são construções icônicas. Vocês acham que em áreas como favelas este tipo de arquitetura simbólica tem um papel importante? Mazzanti: Sim, porque cria identidade entre os moradores e o 37
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B o s u A arquitetura só faz sentido se for capaz de produzir bem-estar. Caso contrário, torna-se um jogo de formas e de egos. Giancarlo Mazzanti
bairro. O símbolo cria sentido de “pertencência”. Mareines: Os moradores estão muito orgulhosos desses símbolos. E, conseqüentemente, eles sentem-se orgulhosos de onde vivem. Hoje, as pessoas dizem: “Eu vivo lá, onde você pode ver aquele prédio bonito”. Era impossível ouvir isso nos anos 80 e 90. ESCALA: Até hoje, qual foi a melhor oportunidade que alguém construiu para você? Mazzanti: A oportunidade de participar de concursos públicos ligados à arquitetura. 38 maio 2010
Mesa: Na Colômbia, há uma lei que obriga o governo a investir dinheiro promovendo concursos arquitetônicos públicos. Isso abre as portas para jovens arquitetos; isso democratiza oportunidades. Os concursos que ganhamos nos deram credibilidade e visibilidade. Mazzanti: Em arquitetura, a competição é a única opção para produzir rupturas, porque, quando você é contratado, normalmente, lhe dizem o que fazer. Com competições, por outro lado, você diz: “Esses são os caminhos possíveis. Você escolhe”. Mareines: No Brasil, infelizmente, nós temos poucos concursos públicos ligados à arquitetura. O governo costuma convidar arquitetos, às vezes, estrangeiros. ESCALA: Você acredita que o conceito de Fajardo sobre a cidade e seus habitantes possa viajar para outras cidades na Colômbia e para fora do país também? Para o Rio de Janeiro? Mazzanti: Penso que cada cidade é um caso particular, com habitantes diferentes, problemas diferentes. Importar um modelo não é a solução. É melhor aprender com experiências bem-sucedidas, melhorá-las e, finalmente, adaptá-las ao novo contexto. Mareines: Concordo. A economia não decide tudo. Vocês, colombianos, nos mostraram isso. A arquitetura também pode ter um papel importante na solução ou, pelo menos, na redução de problemas sociais. Eu voltei de Medellín acreditando que é possível transformar via educação, cultura, cidadania, respeito, arquitetura, ... Visitar Medellín me deu novamente um orgulho enorme da minha profissão.
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Building opportunities: social urbanism
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because of the extraordinary dimensions of drug trafficking; today, it generates tourism, hope, ... Many people have improved their quality of life. Social problems have been solved or, at least, mitigated. In exclusive interview to ESCALA, Colombian architects Giancarlo Mazzanti and Juan Felipe Mesa (Plan B Arquitectos) talk about their participation in this unprecedented process in the country. In Brazil, architect Ivo Mareines reveals what surprised him the most in his recent visit to Medellin. Beginning — This story has begun with a mathematician mayor, son of an architect. His name: Sergio Fajardo. His bold and ambitious plan: to revitalize Medellin through the redesign of its public space. And this has included connecting areas of different socioeconomic levels. His five main actions (which he and his team have conceived and executed): planning; construction of educational equipments to dignify the neighborhoods, especially the poorest; development of urban projects against exclusion and inequality; investment in social housing to mitigate historical debts — some houses have grown and buildings have been constructed to replace the most precarious shacks; and creation of linear parks to promote the integration of the city, recovering the street as a fundamental value. His right-hand man, director of the urban plan: Alejandro Echeverri, architect and landscape architect.
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.f our neighbor can, ... Since 2003, the indexes of criminality have considerably decreased in Medellin (Colombia) — in 2008 and 2009, they increased again, but even so to levels which were inferior than the ones of the 80’s and 90’s — and the city has become a necessary stop for architects from many different countries, who want to understand how their profession was, and still is, so important in this transformation. Medellin has become a new city, thanks to architecture, urbanism, but also to culture, education, and infrastructure and social programs (job opportunities, entrepreneurship stimulus, ... ) directed to the poorest inhabitants. Few years ago the place generated fear
With the support and participation of architects, engineers, journalists, sociologists, and, especially, the inhabitants of the slums, Fajardo has managed to convert the home of the legendary drug cartel — in 1991, the most violent city in the world, with 381 murders per 100,000 inhabitants — in a better city, with less poverty and violence. In four years, homicide rates have decreased 81%. More than 50 urban and architectural projects have been built — “the most beautiful for the most humble”: five new libraries, ten schools, new pedestrian streets, ... — created by renowned architects, but also by young professionals. Projects which have won public architectural competitions. Among those symbols, architectural icons, are: Parque Biblioteca Espana (by Mazzanti) and Orquideorama (by Plan B Arquitectos), which have become landmarks of the city. 39
ESCALA: Architects and politicians. When does this relationship function? Mesa: It works when there is no imposition; when the most important thing is the welfare of the community. Mazzanti: I believe that the relationship between architects and politicians must be close.
Orquideorama
Not by chance, Medellin has become a Mecca for architects from all over the world and also for Brazilian governors, as Sergio Cabral (Rio de Janeiro), Aecio Neves (Minas Gerais), and Jose Roberto Arruda (former governor of the Federal District), who have been there to learn the paths to peace. Inspired in Medellin, the Government of Rio de Janeiro concludes nowadays a list of social investments (approximately $ 430 million) which aims to transform one of the most violent areas of the city, called Complexo do Alemao. From Colombia, Rio has copied the Cable Car project, among other ideas. In Medellin, the elevated gondola tramway connects the poorest neighborhoods (and, before it, more isolated) to the rest of the city. According to an article published on March 8, by O Estado de S.Paulo newspaper, Rio will inaugurate five stations until September. The cable car will take 30,000 people daily, on a journey that will pass through five mountains, which form Complexo do Alemao. The social and urban plan of Medellin has already won some awards, like 2009 Curry Stone Design Prize for Emerging Humanitarian Innovation. The prize of $ 100,000 was given to Echeverri and Fajardo. 40 maio 2010
ESCALA: How have the most humble inhabitants reacted to all those bold architectural projects? Mazzanti: They have appreciated and respected the work, because they have understood that the result has been for them, for their families. Mareines: And the result has been the best. The tradition of giving crumbs to the most humble has been forgotten. The projects are extremely creative. Excellent architecture and materials. The inhabitants of the slums have noticed this; they have realized that they have been receiving the best. Libraries, cultural centers, sporting venues, ... Fajardo has a great phrase: “Our most beautiful buildings must be in our poorest areas”. Therefore, the most humble people have participated so much during the construction of the buildings — each project has been built consulting the inhabitants; the communities have grown along with the projects —, and, today, the level of vandalism on these public buildings is very low. When you give people the best you can give, they take care of it. ESCALA: For them, all this represents dignity, self-esteem, education, culture, change of behaviors, opportunities, ... And for you? Mazzanti: It is very gratifying to know that, with my work, I have helped to transform the lives of many people. Mesa: Medellin has been changing, but there is still much to do in terms of equality, opportunities to all... Mazzanti: There are more projects now. We are projecting for many poor areas. Thanks to several foundations and governmental and non-governmental organizations, there will be more schools, kindergartens, ... ESCALA: What is the main characteristic of Parque Biblioteca Espana? Mazzanti: The building is a symbol, an icon, visible in most of the city. It means change, progress. ESCALA: What do you like the most in this project? Mazzanti: The contrast of textures between the building and the place where it is. The building gives a sense of toughness. Its three volumes seem to be rocks on the mountain.
Orquideorama
ESCALA: One thing you enjoy doing in Orquideorama. Mesa: We (Plan B) love watching the different activities performed in the space: music festivals, meditation, weddings, ... Mareines: The construction, with a metal frame covered with wood strips, is really amazing. It is a series of hexagons linked organically and they are integrated with the garden’s trees. Orquideorama has become a space for plants, but also for people. It is a place for leisure, events, ... Like Parque Biblioteca Espana, it has won a public competition and become an icon. ESCALA: Parque Biblioteca Espana and Orquideorama are iconic buildings. Do you think that in areas like slums such symbolic architecture plays an important role? Mazzanti: Yes, because it creates identity between the inhabitants and the neighborhood. The symbol creates the sense of “belongingness”. Mareines: The inhabitants are very proud of these symbols. And consequently they feel proud of where they live. Today people say, “I live there, where you can see that beautiful building”. It was impossible to hear this in the 80’s and 90’s. ESCALA: What has been the best opportunity someone has built for you? Mazzanti: The opportunity to take part in public architectural competitions. Mesa: In Colombia, there is a law obliging the government to invest money promoting public architectural competitions. This
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opens the door for young architects; it democratizes opportunities. The contests that we have won have given us credibility and visibility. Mazzanti: Competition is the only option in architecture for producing ruptures, because when you are hired you are normally told what to do. With competitions, on the other hand, you say, “These are the possible paths. You choose”. Mareines: In Brazil, unfortunately, we have few public architectural competitions. The government usually invites architects, sometimes foreigners. ESCALA: Do you believe that Fajardo’s concept on the city and its inhabitants can travel to other cities in Colombia and abroad as well? To Rio de Janeiro? Mazzanti: I think that every city is a particular case, with different people, different problems. To import a model is not the solution. It is better to learn from successful experiences, improve them, and finally adapt them to the new context. Mareines: I agree. Economy doesn’t decide everything. You, Colombians, have showed us this. Architecture can also play an important role in the solution or, at least, in the reduction of social problems. I have come back from Medellin believing that it is possible to transform through education, culture, citizenship, respect, architecture, ... Visiting Medellin has given me back an enormous pride about my profession. 41
Paulo Jabur
Giro Guardian Viagem cultural é sempre demais! Os arquitetos e decoradores brasileiros, que participaram, em abril, do III Giro Guardian de Design em Milão, voltaram cheios de elogios para a diretora de marketing da multinacional do vidro, Elisabeth Abduch, idealizadora do tour. Além do Salone Internazionale, o grupo visitou uma casa dos anos 30, que preserva todo mobiliário original, a empresa Sawaya & Moroni e a Valcucine, onde todos conheceram uma cozinha 100% sustentável. Na lista dos felizardos, Patricia Anastassiadis e Brunete Fraccaroli.
Eduardo Paes esbanja simpatia entre a esposa, Cristine (à dir.), e a arquiteta Deborah Brauer, na loja MAC
MAC 30 anos De Milão para o Rio, a festa bombou no dia 4 de maio, na MAC, comemorando seus 30 anos. Compareceram ao evento, na própria loja — com ambientes assinados por nomes como Caco Borges e Cadas Abranches —, figuras ilustres, como o prefeito Eduardo Paes e sua esposa. Luiza Brunet estava linda de morrer! WAY Cultural Dia 10 de maio, na loja Way Design, do Leblon, ocorreu a abertura da mostra “Visões Noturnas”, de Alberto Nicolau. O artista plástico é conhecido por pintar paisagens e interiores de Paris e da Normandia. Happy birthday! No dia 8 de maio, a arquiteta Paola Ribeiro comemorou seu níver com um jantar 10! Estiveram presentes nomes do design e da arquitetura cariocas, como Pedro Paranaguá, Patrícia Marinho e Patricia Mayer. 42 maio 2010
Flash Exclusivo Paulo Jabur
Fernanda Marques + Brunete Fraccaroli + Elisabeth Abduch (à dir.), em Milão
Clima de festa: os arquitetos Mario Santos e Eliane Amarante + Artur Fernandes (à dir.), dono da MAC
Em Milão, pose para foto dos participantes do III Giro Guardian de Design
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