cognitiva. Sem diálogo intercultural, num quadro de práticas de injustiça cognitiva, há “transformação da heterogeneidade em desigualdade”. E, nesse caso, “serão todos os alunos vistos como cidadãos?”. A atuação do professor, neste contexto, poderá ser predominantemente monocultural ou predominantemente intermulticultural, classificou, havendo no meio várias formas. Um professor monocultural classifica comportamentos e resultados dos alunos. Atribui problemas ao sistema, às famílias e aos alunos. É um daltónico sociocultural. Valoriza o aluno “normal” e penaliza a diferença. Aplica o currículo único. Um professor intermulticultural é o oposto. Analisa comportamentos e resultados dos alunos. Observa e questiona as próprias práticas. Reconhece a heterogeneidade sociocultural dos alunos. Identifica saberes, problemas e valores dos alunos. Implementa um currículo emergente.
Direitos e cidadania Luiza Cortesão opôs ao conceito de “educação para a cidadania” o de “educação em cidadania”, que defendeu. Considerou que, em educação para a cidadania, a cidadania é vista no futuro e os alunos vistos como cidadãos a haver. Enquanto numa educação em cidadania “os alunos têm de viver as situações em que são cidadãos, em que são usufrutuários dos direitos humanos, têm de viver isso na escola”. Arrumando os direitos humanos por conquistas históricas, ligou-os a uma educação em cidadania, aos direitos que o aluno pode usufruir na escola. Aos direitos civis ligou o usufruto de justiça cognitiva e a avaliação formativa. Dos direitos políticos vividos na escola indicou a participação na elaboração do regulamento interno e a participação na resolução dos problemas sentidos. Os direitos sociais serão, considerou, o usufruto de boas condições de trabalho, currículos significativos, boa relação educativa e ausência
de daltonismo cultural. Os direitos de 4ª geração serão vividos na escola, se houver diálogo com movimentos estudantis e diálogo com culturas juvenis. Considerou que “se os alunos tiverem a possibilidade de vivenciarem estes diferentes direitos estão a formar-se em cidadania”. Citando a pedagoga Maria de Borges Medeiros, “o meu maior desejo é que os alunos acordem de manhã contentes por ir para a escola”, concluiu “se estes direitos forem vivenciados, os alunos acordam contentes por ir para a escola”. Já no debate, Luísa Cortesão defendeu que, para atender à diversidade, a primeira coisa é tentar não fazer aulas expositivas, dar a palavra aos alunos, preparar as aulas de modo aos alunos trabalharem em pequenos grupos. E que é preciso muita criatividade. Citando o “inédito viável” de Paulo Freire, considerou que “o professor tem de estar disponível para agarrar oportunidades e tentar o inédito viável”.
Mais uma vez de mão dada na formação contínua de docentes!
Diretor de Juventude e Educação para os Direitos Humanos
Para além do trabalho nas Escolas Amigas dos Direitos Humanos, das
sessões de educação nas escolas, dos recursos educativos e do apoio ad hoc, que vimos nos números anteriores, a Amnistia Internacional Portugal é também, desde 2020, entidade de for-
mação certificada pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua de docentes (CCPFC). A escolha estratégica de avançar neste sentido, bem como na certificação pela DGERT
ESCOLA
Matia Losego
Informação
A Amnistia Internacional Portugal trabalha no âmbito da educação para os direitos humanos e em colaboração com docentes e outros educadores praticamente desde a sua fundação. Nesta edição da revista Escola Informação queremos contar-lhe como chegámos a uma nova forma de continuarmos juntos e juntas este caminho na promoção e proteção dos direitos humanos através da educação, como sempre, de mão dada.
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