Escola Informação Nº 198 . Janeiro/fevereiro 2022

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A Cultura e a sua importância para o desenvolvimento do país

cultura enquanto evento assente na peça vendida avulso substituído pela temporada frequentada pelas populações residentes, com o consequente abandono da precariedade laboral dos artistas residentes, seria a melhor forma de alterar e dignificar o estatuto do artista. Torna-se muito importante alterar o financiamento da cultura, exigir um financiamento público claro que não deve optar pelo “pagamento à bilheteira”. A convergência para a média europeia da despesa pública portuguesa em cultura em percentagem do PIB levaria a uma quase duplicação dos montantes. Seria uma forma de financiar a requalificação do nosso património, reforçar e alargar as estruturas artísticas existentes em Portugal bem como alterar a contratação precária de muitos trabalhadores. Que cultura nos espera com as promessas eleitorais do governo eleito? O modelo de financiamento proposto no programa eleitoral

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tiveram mais presentes que nunca. A humanidade foi relembrada e a natureza humana condicionada acima de tudo pelas emoções. Momento ideal para enfrentarmos o nosso país, pobre na sua vida cultural, e bem diagnosticarmos a doença da qual padecemos. O usufruto cultural é um direito do qual já prescindimos há demasiado tempo. Vivemos numa “cultura” que oscila entre a recreação massiva e o evento esporádico para uma elite educada e endinheirada. Esta é a oportunidade para apostarmos num plano de recuperação cultural sólido, articulado e descentralizado, em que a intervenção pública seja afirmativa, onde a cultura de todos seja um direito para todos. O funcionamento e a criação de estruturas artísticas, dotadas de uma vida própria, em vários pontos do nosso país, permitiriam uma fruição contínua e uma progressiva alteração dos hábitos dos portugueses. O conceito de

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elar pela conservação e desenvolvimento do nível cultural de um país não parece ser nem tarefa fácil nem suficientemente compensadora para que os nossos governantes se sintam confiantes naquele que deveria ser o grande investimento e desafio das próximas gerações. Assistimos aos rápidos desenvolvimentos tecnológicos que sem dúvida apontam caminhos brilhantes em muitas áreas e dimensões das nossas vidas. O deslumbramento perante todas as possíveis maneiras de nos tornarmos mais exatos e produtivos contaminou todas as áreas do conhecimento, mesmo aquelas onde quantificar e digitalizar se torna uma tarefa inglória. Durante a pandemia, bastou o “tempo parar” e o confronto com a efemeridade humana tornou-se angustiante. As manifestações culturais espontâneas, o refúgio no livro, no cinema ou na música es-

Foto: Freepik

Um programa de Governo?

• Ana Mafalda Pernão IProfessora Escola Artística de Música do Conservatório Nacional e Membro da CE do SPGLI • Cristina Coelho IProfessora, violoncelista e delegada sindical Escola Artística de Música do Conservatório NacionalI

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