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Há coisas que não mudam, nem com a pandemia
• Matia Losego
Diretor de Juventude e Educação para os Direitos Humanos Amnistia Internacional Portugal
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Apandemia que nos acompanha há quase dois anos mudou muito a nossa vida, dentro e fora da escola. Ainda assim há dimensões que nunca mudam, como o cuidar da nossa família, o fazermos balanços no final do ano e, claro, o ativismo para os direitos humanos. Apesar das muitas vitórias que, em conjunto, alcançámos nas últimas décadas em várias partes do mundo, quem se preocupa e quer agir para proteger os direitos humanos de todas as pessoas, em todo o lado, a toda a hora, olha sempre para o próximo passo, para ‘o que se pode fazer mais’. Neste espírito a Amnistia Internacional, como movimento global, lança este ano a nova edição da Maratona de Cartas, o maior evento de ativismo para os direitos humanos a nível internacional. A Maratona é um momento de destaque para o trabalho realizado pelas equipas da Amnistia ao longo do ano onde, após investigar casos de violações de direitos humanos, após identificar as autoridades responsáveis para corrigir a situação e após tentar os canais oficiais de advocacia política, pedimos o apoio da nossa comunidade de ativistas para que a mudança aconteça e os direitos humanos sejam protegidos. A Maratona funciona com casos reais, de pessoas e grupos com um nome, uma cara e uma história, mas quer resolver a situação geral que cada um desses casos representa, porque os direitos humanos são de toda a gente. Os cinco casos que trabalhamos este ano em Portugal são emblemáticos e pedem o contributo urgente de todos e todas nós. O caso mais urgente, por razões de saúde, é o de Zhang Zhan, advogada e jornalista-cidadã chinesa que, em 2020, enquanto o governo chinês tentava abafar as notícias sobre o surto de Covid-19, viajou para Wuhan e documentou a situação nos hospitais. Mais tarde foi presa e condenada a quatro anos de prisão; atualmente, Zhang Zhan está em greve de fome parcial e encontra-se num estado de saúde muito frágil. Pedimos que seja libertada porque o papel dos jornalistas é fundamental nas nossas sociedades. Também pedimos liberdade, justiça e reparação para Mikita Zalatarou, um jovem de 17 anos detido, agredido e preso injustamente na Bielorrússia. Antes de estar no sítio errado a hora errada, a vida do Mikita era muito parecida à vida de jovens da mesma idade em Portugal: gostava de jogar Minecraft e de andar de bicicleta. Foi acusado injustamente de atirar uma garrafa molotov à polícia numa manifestação na qual ele não participou. Sorte e geografia é o que nos separa dele. Em 2012 na Eritreia, com 15 anos, Ciham Ali foi presa e feita desaparecer pelas autoridades. Suspeita-se que esta foi uma medida de retaliação dirigida ao seu pai, na altura ministro do governo do Presidente Isaias Afwerki, que já estava no exílio. Até hoje, nove anos depois, não sabemos onde está Ciham. Exigimos que seja libertada e que possa voltar à sua família. Bernardo Caal Xol, um dos líderes indígenas da comunidade Maia Q’eqchi, na Guatemala, está preso e condenado sem provas, porque se tornou incomodativo pelo seu trabalho na defesa dos direitos humanos da sua comunidade contra a construção de duas centrais hidroelétricas no rio Cahabón. Bernando é professor e sindicalista, provavelmente como muitas das pessoas que leem este artigo. Por fim, o caso de Janna Jihad, uma jovem jornalista de 15 anos dos Territórios Ocupados da Palestina. Desde criança Janna denuncia os abusos da ocupação militar da sua aldeia por parte das forças israelitas, e por isto é ameaçada e atacada. Exigimos que seja protegida e, sobretudo, que lhe seja permitido viver a sua adolescência em paz. O convite à ação é aberto a toda a gente, o de assinar as petições dirigidas às autoridades responsáveis para resolver estes casos e os abusos de direitos humanos cometidos e o de enviar mensagens de solidariedade a estas cinco pessoas e às suas famílias. Jovens a partir dos 14 anos podem assinar as petições, com o consentimento das pessoas encarregadas da sua educação e toda a gente, mesmo crianças, pode enviar mensagens de solidariedade. A Amnistia compromete-se a fazê-las chegar e a continuar a fazer pressão política até que os casos sejam resolvidos. Se quiser fazer ainda mais – pois é preciso e urgente – pode também levar a Maratona à sua escola, às suas turmas e às suas redes de contactos pessoais e profissionais. Podemos apoiar com materiais educativos, cartazes e ideias de ação. Saiba mais em amnistia.pt/maratona-de-cartas-2021. Neste ano investimos esforços também para voltar a afirmar a necessidade de proteger quem defende os direitos humanos, entregando às autoridades as assinaturas recolhidas no âmbito da campanha Brave. As histórias de pessoas como Marielle Franco e Berta Cáceres não podem ser esquecidas e os seus nomes merecem ser recordados. Contamos consigo neste empenho constante para proteger e promover os direitos humanos, em todas as dimensões da nossa vida. Resistimos juntos, vencemos juntos!