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das lesões desportivas (páginas
11h00 13h00, Sala A
Da prevenção à recuperação de lesões desportivas
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gelo e controlar a inflamação. Depois, o doente deve começar a pôr o pé no chão, para promover a carga, que é essencial para a cicatrização eficaz dos ligamentos”, salienta. No entanto, Daniel Mendes nota que “a evolução tem sido no sentido da abordagem cirúrgica, que inclui a artroscopia, esperando-se que o início mais precoce da carga e da mobilização acelere a recuperação pós-operatória”.
Dr. Artur Pereira de Castro (moderador), Dr. Gonçalo Moraes Sarmento (moderador), Dr. Henrique Jones, Dr. Daniel Mendes, Dr. Manuel Virgolino e Dr. Gonçalo Borges (da esq. para a dta.)
Abordar a caracterização e o tratamento das cinco lesões mais frequentes nos desportistas, analisando também as formas de prevenção e as especificidades da reabilitação, são os grandes objetivos desta mesa-redonda. Nesse sentido, foram convidados para preletores vários ortopedistas e fisiatras especializados nesta área.
Pedro Bastos Reis
Na primeira preleção, o Prof. João Páscoa Pinheiro, especialista em Medicina Física e de Reabilitação e em Medicina Desportiva, vai explicar o conceito de lesão desportiva, notando que “abrange o impacto da lesão micro ou macrotraumática não só no atleta, mas também no clube e na comunidade”. No entanto, para os clínicos, “em primeiro lugar, deve vir o bem-estar do atleta, a promoção da saúde e a retoma segura ao desporto após lesão; só depois os interesses competitivos e a modalidade”, afirma o também docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Em termos de reabilitação, o orador considera que “é fundamental limitar o sofrimento, criando condições terapêuticas para promover a rápida cicatrização ou regeneração”. Para tal, “deve-se introduzir uma caracterização de risco e adotar estratégias de prevenção que evitem recidivas”, concretiza o Prof. João Páscoa Pinheiro.
Após a preleção introdutória, serão abordadas as cinco lesões mais prevalentes nos desportistas, começando pela entorse do tornozelo, que também “é a lesão mais frequente do aparelho locomotor”. Como indica o Dr. Daniel Mendes, coordenador da área de patologia de pé e tornozelo do Cluster Tejo, do grupo CUF, a entorse do tornozelo ocorre particularmente nos desportos de equipa, como o futebol.
Depois de referir os diversos tipos de entorse do tornozelo, que podem ocorrer desde o complexo lateral até à articulação subtalar, o ortopedista vai incidir sobre o tratamento e a recuperação. “Nos primeiros dias, é fundamental elevar o membro, aplicar Lesão do isquiotibial e síndrome pubálgica
Na intervenção seguinte, o Dr. Manuel Virgolino, ortopedista no Hospital das Forças Armadas/Polo de Lisboa, começará por alertar para a “grande incidência das lesões isquiotibiais”, realçando que a prioridade é “garantir que os atletas recuperem o mais rapidamente possível para retornarem à sua atividade desportiva”. O futebol e o atletismo são os desportos em que este tipo de lesão é mais comum, nomeadamente em situações de aceleração e desaceleração.
Em termos de tratamento, o preletor sublinha a necessidade de intervir perante pseudoquistos ou avulsões ósseas, referindo que, nestes casos, “a abordagem conservadora tem pouco sucesso, devendo-se optar pela cirurgia”. Contudo, para evitar complicações, é essencial que o diagnóstico seja precoce e preciso, sobretudo com recurso à ressonância magnética e à ecografia. “O diagnóstico é muito importante para que possamos escolher a melhor abordagem terapêutica, evitando as recidivas e minimizando a ausência do atleta da sua atividade desportiva”, afirma o Dr. Manuel Virgolino.
Centrando-se na síndrome pubálgica, o Dr. Henrique Jones, ortopedista na Clínica Ortopédica do Montijo, vai analisar os fatores etiopatogenéticos e osteoarticulares, nomeadamente ao nível da anca, da coluna lombar, da bacia e da sínfise pública. Além disso, “a hérnia do desportista, as tendinopatias insercionais, as compressões neuropáticas e, mais raramente, as patologias urogenitais e abdominais, podem causar uma dor que impossibilita a prática desportiva”, acrescenta o especialista.
Esta “riqueza diagnóstica” faz com que a síndrome pubálgica seja “um desafio terapêutico aliciante e multidisciplinar, nomeadamente na vertente cirúrgica e no suporte biológico.” No entanto, “o tratamento deve começar pela abordagem conservadora, através da correção dos fatores de risco identificados”. Se tal não for suficiente, “deve-se optar por uma abordagem cirúrgica individual e seletiva”, recomenda Henrique Jones.
Lesões meniscais e ligamentares do joelho
Segue-se a preleção do Dr. Jorge Pon, que começará por evidenciar que o aumento da prática de novos desportos, como o padel, e o facto de as pessoas fazerem desporto até idades mais avançadas
DR
Prof. João Páscoa Pinheiro Dr. Jorge Pon Dr. Pedro Pessoa Prof. José Gomes Pereira
podem contribuir para o aumento da incidência de lesões meniscais. “Deve-se praticar desporto, mas é necessária uma boa preparação física”, adverte o ortopedista no Hospital da Luz Setúbal, que, além da prevenção, vai abordar as opções terapêuticas. “O menisco é o nosso maior amortecedor e, se for retirado, aumentará a carga sobre o joelho. Felizmente, os avanços em Medicina têm levado a que cada vez mais se consiga recuperar a sua função.”
Quanto à escolha da terapêutica consoante o tipo de lesão meniscal, o ortopedista sublinha que é preciso ter em conta, entre outros fatores, a idade, o tipo de lesão e a expectativa do doente. “Mais importante do que a técnica é termos a certeza de que o menisco vai cicatrizar. Para tal, temos de conciliar, da melhor forma possível, a técnica cirúrgica com a componente dos materiais e as especificidades do doente”, conclui o Dr. Jorge Pon.
Por sua vez, o Dr. Pedro Pessoa vai incidir sobre a caracterização das lesões dos ligamentos colaterais, lateral interno, lateral externo do cruzado anterior e do cruzado posterior, sem esquecer a associação entre estas lesões. Na abordagem dos casos mais complexos, o ortopedista no Hospital Ortopédico de Sant’iago de Outão, em Setúbal, realça que “é fulcral ter muita experiência e dominar as várias técnicas cirúrgicas, nomeadamente os diferentes tipos de enxerto que se podem utilizar”, destaca. Em desportistas de alta competição, “há casos de lesões graves e recidivantes que implicam o recurso a aloenxerto de cadáver para substituição de ligamentos”, exemplifica Pedro Pessoa. Como tal, o ortopedista defende a necessidade de apostar, cada vez mais, em centros de referenciação especializados. “As lesões multiligamentares do joelho não são frequentes, mas têm de ser tratadas por quem conhece bem as diversas técnicas e tenha capacidade de planear a requisição de aloenxertos”, reitera.
Prevenção e reabilitação
As especificidades da reabilitação e o regresso ao desporto de competição estarão em foco na apresentação do Dr. Gonçalo Borges, que pretende evidenciar a importância da proximidade entre a Ortopedia e a Medicina Física e de Reabilitação. “A informação trocada entre o fisiatra e o ortopedista deve ser muito transparente, para que possamos perceber o estado da lesão e a fragilidade tecidular, de forma a definir um protocolo correto, principalmente na fase inicial da reabilitação”, sublinha o fisiatra no Hospital da Prelada, no Porto. Quanto ao protocolo de reabilitação mais adequado, o preletor refere que “não existem consensos”, nomeadamente no que toca à amplitude articular e à carga nas fases iniciais da lesão desportiva. “A minha preocupação é sempre perceber se uma articulação foi sujeita a suturas que a possam inviabilizar. Nessas circunstâncias, devemos ter um cuidado extremo com a carga que vamos permitir ao doente”, aconselha Gonçalo Borges, destacando o conceito de proprioceção, que “é crucial para garantir a estabilidade das articulações”.
Por seu turno, o Prof. José Gomes Pereira, diretor clínico da Desporsano e professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, vai discorrer sobre a prevenção de lesões desportivas. “A maior percentagem de lesões que um atleta sofre em treino e competições são de sobrecarga ou musculoesqueléticas”, informa o especialista europeu em Medicina Desportiva, destacando o transtorno de trauma cumulativo.
Para evitar este tipo de lesões, José Gomes Pereira considera que “a abordagem pluridisciplinar é fundamental, começando pelo planeamento e pela definição da metodologia de treino mais adequada”. Depois, importa apostar na preparação fora da modalidade em específico, como no ginásio, “onde o atleta vai adquirir competências físicas e de resistência musculoesquelética para tolerar a exigência das cargas do treino desportivo”, sintetiza o fisiatra. E conclui: “As lesões desportivas dividem-se em dois grandes grupos – traumáticas e resultantes de más práticas. Se conseguirmos corrigir as más práticas, estaremos a reduzir uma percentagem muito significativa de lesões.”
Mensagens-chave, em vídeo, dos nove preletores da mesa-redonda
Campanha europeia de prevenção de lesões do LCA
DR Na última preleção, o Prof. Thomas Patt, vice-chairman da European Sports Medicine Associates (ESMA), uma secção da European Society of Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy (ESSKA), vai apresentar a campanha “ACL Prevention for All”. Como explica o ortopedista neerlandês, este projeto tem como principal objetivo incentivar a prática de exercícios físicos que permitem prevenir lesões, particularmente do ligamento cruzado anterior (LCA). Para tal, foram criadas duas figuras de animação – o Esmi e a Esmily –, que aconselham exercícios para evitar lesões no joelho, dirigindo-se a crianças e adolescentes. “É necessário agir e de forma contínua. Se forem implementados aquecimentos de cinco ou dez minutos, isso levará ao equilíbrio muscular e à redução do risco de lesões”, exemplifica Thomas Patt. Segundo Henrique Jones, membro do board da ESMA e também um dos impulsionadores da campanha “ACL Prevention for All”, “pretende-se levar este programa a escolas, instituições desportivas, associações regionais, clubes e federações, para que as suas mensagens de prevenção cheguem aos jovens desportistas de toda Europa”.
Conheça o vídeo da campanha “ACL Prevention for All”, da ESSKA/ESMA