As 3 cores da sua espiritualidade

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Christian A. Schwarz

As 3 cores da sua

espiritualidade 9 estilos espirituais: Como você se conecta com Deus da maneira mais natural? Tradução: Valdemar Kroker

R E C U R SO S P R Á T ICOS DO DNI

Curitiba 2012


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O que significa estar apaixonado? O que significa estar apaixonado por Deus? O que significa ser um filósofo, um médico ou um artista que ama ser filósofo, médico ou artista? O que significa ser um filósofo, um médico ou um artista que está apaixonado por Deus? O que significa você se tornar gradativamente quem você foi criado para ser? Dedico este livro a meus nove mentores espirituais: Thomas, Gene e Ian; Victor, Henrik e Olli; Ole, Jonathan e Jack. Cada um de vocês me deu muito trabalho. Por meio de vocês todos, no entanto, eu pude sentir a luz de Deus — sem queimar os meus olhos. C. A. S.

As 3 cores da sua espiritualidade

9 estilos espirituais: se espiritualidade conecta com Deus da maneira As 3 Como cores você da sua mais natural? Título do original: Die 3 Farben Deiner Spiritualität © 2009 por Christian A. Schwarz, NCD disponível: Media Também © 2012 Editora Evangélica Esperança Como adotar as 3 cores da sua espiritualidade em seu mundo Layout e Gráficos: Christian A. Schwarz Um guia para viajar através deste livro para grupos Tradução: Valdemar Kroker Revisão: Josiane Zanon Moreschi Título do original: The 3 Colors of Your Spirituality Edição: Sandro Bier

© 2009 por Christian A. Schwarz, NCD Media © 2011 Editora Evangélica Esperança Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Layout e Gráficos: Christian A. Brasileira Schwarzdo Livro, SP, Brasil) (Câmara Tradução: Valdemar Kroker Schwarz, Christian Revisão: Josiane ZanonA.Moreschi As 3 cores Edição: Sandro Bierda sua espiritualidade : 9 estilos espirituais : como você se conecta com Deus de maneira natural? / Christian A. Schwarz ; tradução Valdemar Kroker. - - Curitiba, PR : Editora Esperança, 2012.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Título original: Die 3 Farben Deiner Spiritualität (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ISBN 978-85-7839-066-2

1. Dons espirituais 2. Igreja - Crescimento 3. Igreja - Ministério I. Título 12-05530

Proibida a reprodução do livro ou parte dele.

CDD-254.5

Índice para catálogo sistemático:

Por trás de todos os livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja há

1. Igreja : Desenvolvimento natural : Cristianismo 254.5

Proibida a reprodução do livro ou parte dele. Por trás de todos os livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja há dispendiosos projetos de pesquisa que o Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja desenvolveu nos cinco continentes. Os custos deste desenvolvimento são cobertos exclusivamente com a venda destes livros. Quem divulga os materiais de apoio por meio de fotocópias compromete a continuidade do trabalho de edificação da igreja feito pelo instituto, especialmente em países fora do mundo ocidental.


Sumário

As 3 cores da sua espirualidade Introdução......................................................................................................5 Quadro: Por que alguns aspectos estão excluídos?.....................................8 Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus: O coração da paixão espiritual...................................................................11 Você expressa sua fé de acordo com o estilo que Deus lhe deu?.....................12 Quadro: Um livro para Deus ou para os seres humanos?..............................14 O que é equilíbrio radical?.............................................................................16 Quadro: O perigo do nominalismo..............................................................18 A paixão espiritual e a bússola trinitária.........................................................20 Quadro: Imagens masculinas, femininas e neutras.......................................24 Nove maneiras de se encontrar com Deus....................................................26 Quadro: Podemos mudar o nosso estilo?....................................................32 Qual é a sua linguagem espiritual?................................................................33 Quadro: Estilos espirituais e o aprendizado da linguagem............................34 A regra de Jesus ...........................................................................................36 Quadro: Qual é a nossa parte, qual é a de Deus?........................................38 Estilos espirituais e tradições espirituais..........................................................40 Quadro: Como os estilos são distribuídos?...................................................42 Crescimento Nível A e Nível B......................................................................44 Quadro: Três possibilidades de se aproximar do polo oposto........................48 Os perigos de cada estilo espiritual................................................................49 Quadro: O poder dos jacarés roxos.............................................................54 Três sistemas de valores espirituais.................................................................55 Quadro: Os três sistemas de valores no DNI................................................58 Meus nove mentores espirituais....................................................................60 Quadro: O meu próprio estilo e a mensagem deste livro..............................62 O teste dos estilos espirituais........................................................................64 Quadro: Os benefícios de uma avaliação corporativa...................................74 Parte 2: Crescimento Nível A: Descubra o seu estilo espiritual.................................................................75 A essência do crescimento Nível A................................................................76 Quadro: Usando de forma errada a tipologia do estilo.................................78 O que todos os estilos têm em comum.........................................................79 Quadro: A abordagem “Seja como nós”.....................................................82 O estilo sensorial: Desfrutando das obras de Deus........................................84 Quadro: Espiritualidade de baixo................................................................90 O estilo racional: Compreendendo a natureza de Deus.................................91 Quadro: Pensar e crer não são opostos.......................................................96

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Sumário

O estilo doutrinal: Pensando corretamente sobre Deus ................................98 Quadro: O conteúdo da fé e o ato da fé ..................................................104 O estilo movido pela Palavra: Aplicando a Palavra de Deus.........................105 Quadro: Estilo movido pela Palavra versus estilo doutrinal..........................110 O estilo compartilhador: Passando adiante a graça de Deus........................112 Quadro: O estilo compartilhador e o evangelismo ....................................118 O estilo asceta: Desenvolvendo a disciplina para Deus................................119 Quadro: Diferentes maneiras de enxergar o verde.....................................124 O estilo entusiasta: Celebrando o poder de Deus........................................126 Quadro: O estilo entusiasta e a paixão espiritual.......................................132 O estilo místico: Descansando na presença de Deus...................................133 Quadro: A asa mística de todas as religiões...............................................138 O estilo sacramental: Expressando a encarnação de Deus...........................140 Quadro: O meu ícone de três cores...........................................................146 Quem está certo, quem está errado?..........................................................147 Quadro: O papa é o seu porta-voz?..........................................................152 Parte 3: Crescimento Nível B: Explore seu polo oposto......................................................................................153 A essência do crescimento Nível B..............................................................154 Quadro: Aprendendo de indivíduos ou igrejas?..........................................156 Não adore o seu estilo................................................................................158 Quadro: Politeísmo teórico versus politeísmo prático..................................160 Seu próprio estilo e seu estilo oposto..........................................................161 Quadro: Deixando sua zona de conforto...................................................162 O Nível B e a “noite escura da alma”..........................................................164 Quadro: Minhas próprias experiências de “noite escura”...........................166 Como funciona o treinamento....................................................................167 Quadro: Treinamento físico, intelectual e espiritual....................................170 28 dias de disciplina....................................................................................171 Quadro: Sentir-se espiritual versus ser espiritual.........................................172 A essência da maturidade espiritual.............................................................173 Quadro: Não espere tudo da sua igreja ...................................................174 Estilos espirituais em uma igreja de três cores.............................................176 Quadro: O poder dos sapatos vermelhos...................................................178 Como explorar o seu estilo oposto.............................................................179 Quadro: A minha própria peregrinação.....................................................180 Como o mentoreamento espiritual pode ajudar você a crescer....................182 Quadro: Assuma a sua responsabilidade!..................................................184 O fruto do crescimento Nível B...................................................................186 Quadro: Processo versus rompimento de barreira.......................................188 Mudança é possível.....................................................................................189 Quadro: Duas horas para mudar a sua igreja ..........................................192


AsThe 3 Cores 3 Colors da sua of Your Espiritualidade Introduction Spirituality

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Introduction Introdução

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ocê está feliz com a sua vida espiritual, com a maneira com que a sua relação com Deus se expressa atualmente? Se você é como a maioria das pessoas, a sua resposta é: “Não, eu não estou realmente feliz”. Esse “Não” pode vir de uma série de diferentes razões; no entanto, a probabilidade de que a sua razão esteja descrita e seja tratada neste livro é relativamente alta. Enquanto trabalhava no material As 3 cores da sua espiritualidade, eu ficava pensando o tempo todo naquelas pessoas que não estão verdadeiramente felizes com a sua vida espiritual, mas na verdade não sabem o por quê. Se você por acaso é uma delas, estou ansioso para acompanhá-lo em uma jornada na qual você terá novas e desafiadoras experiências com Deus. Se você está satisfeito... No entanto, se a sua resposta à minha pergunta é “Sim”, pode ser por uma destas razões: • Talvez você considere os momentos em que aprendeu coisas novas e com curiosidade explorou áreas além da sua zona de conforto como um capítulo fechado do seu passado. Você não se sente inclinado de forma alguma a mudar ou melhorar sua presente situação, e muito menos a explorar novos horizontes. Você prefere que tudo permaneça como está. Se isso o descreve, eu diria que este livro não vai realmente mexer com você, ao menos não no seu presente estado. Você pode até decidir folheá-lo, mas Termos-chave: a probabilidade é grande de que você considere irritantes O Desenvolvimento Natural muitas coisas que você ler. • No entanto, a sua razão por estar “feliz” com a sua vida da Igreja cunhou uma série espiritual pode ser completamente diferente. Talvez você de termos que já se tornaram tenha descoberto tantas coisas novas e emocionantes na fé parte do vocabulário cristão cristã que esteja cheio de curiosidade para descobrir quais em muitos lugares e grupos. novas surpresas Deus tem reservado para você. Se esse é Esses termos serão explicados, o caso, nas próximas 188 páginas você descobrirá muitas se tal explicação parecer útil coisas que irão tocar você, mexer com você e mudar você. em um dado contexto, nos Embora Deus seja mencionado em quase todas as páginas quadros abaixo dos títulos com deste livro, o tema de As 3 cores da sua espiritualidade não é o fundo amarelo encontrados na próprio Deus, mas antes as diferentes formas como as pessoas margem de cada página. experimentam Deus. Ao longo deste livro, você vai identificar o seu estilo espiritual pessoal — a sua língua-mãe espiritual, por assim dizer. Você vai descobrir o quanto já vive de acordo com esse estilo. Vai aprender como pode crescer continuamente nesse estilo. E finalmente, vai entender como o fato de se ocupar com outros estilos de espiritualidade, que agora são estranhos à sua experiência, podem ajudá-lo a liberar todo o seu potencial espiritual. Meu próprio pano de fundo Durante os últimos anos, nosso instituto tem trabalhado com mais de 60 mil igrejas em aproximadamente 70 países para ajudá-las a experimentar o crescimento qualitativo e quantitativo. Esse trabalho tem me moldado pessoalmente. Eu não sou simplesmente o autor do Desenvolvimento Natural da Igreja, mas uma pessoa que investe toda a sua energia em ajudar outros a implantar exatamente as coisas que o livro O Desenvolvimento Natural da Igreja trata. Durante as minhas viagens em todos os seis continentes, o meu trabalho não tem sido falar sobre uma ciência abstrata, mas antes trabalhar com pessoas reais


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Introdução

em igrejas reais tratando de problemas da vida real. Nós encontramos soluções reais, experimentamos derrotas reais, tivemos celebrações reais, compartilhamos lágrimas reais, fizemos orações reais — e vimos progresso real. Sem dúvida, todas essas experiências moldaram fortemente a minha compreensão de Deus. Uma teoria “entre a prática e a prática” O teólogo alemão Helmut Gollwitzer certa vez definiu a teologia como “a teoria entre a prática e a prática” (veja diagrama). Em outras palavras, a teologia não começa no silêncio do estudo. Antes, ela começa com perguntas concretas que vieram da prática da vida diária e estão esperando por respostas cuidadosamente ponderadas. Os teólogos não inventam essas perguntas. Eles as descobrem por meio da observação e da audição atentas. Para respondê-las, eles desenvolvem uma teoria — com a esperança de que seja uma teoria útil. Então, é tarefa dessa teoria impactar a prática DNI: Abreviação para Desenvolvi- de tal maneira que o resultado seja uma prática melhorada. mento Natural da Igreja. É o É assim que funciona a teologia, ou ao menos é como ela nome da abordagem ao nosso deveria funcionar. É assim que eu entendo o nosso trabaministério cristão que nós deri- lho com o Desenvolvimento Natural da Igreja. O objetivo vamos da nossa pesquisa em não é minimizar a teoria em favor da prática. Ao contrário, todos os seis continentes. O nós precisamos urgentemente de uma teoria que comece DNI não concentra sua aten- com perguntas e questões práticas e que tenha o objetivo de ção em um modelo específico melhorar a prática cristã. Essa é a abordagem do livro As 3 de igreja, mas está baseado em cores da sua espiritualidade. princípios universais que se apli- Paixão, equilíbrio e maturidade cam a todos os tipos de igrejas, Por meio do Desenvolvimento Natural da Igreja, aprendeindependentemente de cultura, mos a concentrar nossa atenção nas causas do crescimento tradição espiritual ou tamanho. de igreja a longo prazo. As igrejas não crescem porque melhoram as suas habilidades de entretenimento, porque introduzem uma estratégia de marketing, ou porque estabelecem alvos de crescimento numérico. As igrejas crescem — e essa é a descoberta central inequívoca da nossa pesquisa em mais de 60 mil igrejas — se a sua qualidade é elevada. O que determina a qualidade de uma igreja? Quando conduzimos a pesquisa para avaliar a qualidade de uma igreja, não estamos observando a qualidade do show no palco nem a qualidade dos bancos. Antes, avaliamos a qualidade na cabeça e coração das pessoas que estão sentadas nos bancos. A igreja é constituída de pessoas, e a qualidade na cabeça e no coração das pessoas é a qualidade que vale. Essa qualidade é determinada, não exclusivamente, mas em grande medida, pela paixão espiritual, pelo equilíbrio e pela maturidade de cada cristão membro dessa igreja. E essas são as três palavras-chave deste livro. Como você atinge a paixão, o equilíbrio e a maturidade? Como os outros cristãos os atingem? Como toda uma igreja os atinge? É disso que trata o livro As 3 cores da sua espiritualidade. A ideia é alienar-se do mundo real? Este livro está sendo publicado em uma época em que o mundo está sendo bombardeado por crises econômicas, políticas e ecológicas como raramente visto antes. O mundo está enfrentando um colapso. E é precisamente nesta época que estou escolhendo investir diversos anos da minha vida no estudo da espiritualidade. Como isso se encaixa com os eventos atuais? Será que a religião mais uma vez vai servir como a supressão de uma realidade insuportável, como uma alienação dos problemas do mundo, como uma fuga para dentro de nós mesmos? Essas são perguntas razoáveis, visto que esta tem sido a forma com que o cristianismo tem se apresentado, ao menos em parte, ao longo da história: como “o ópio do povo” (Karl Marx), “o platonismo para o povo” (Friedrich Nietzsche), até mesmo como “neurose coletiva” (Sigmund Freud). A crítica


Introdução

“A teologia é sempre... teoria entre prática

e

prática”

Helmut Gollwitzer em “Liberation to Solidarity” (Libertação para a solidariedade)

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Em seu livro, Liberation to Solidarity (Libertação para a solidariedade), o teólogo Helmut Gollwitzer define a teologia como “a teoria entre a prática e a prática” — ela é causada pela prática (a seta da esquerda) e tem como alvo atingir uma mudança positiva na prática (seta da direita). Essa associação dupla às questões práticas caracteriza o paradigma que está na base do Desenvolvimento Natural da Igreja, que é especialmente relevante para o livro As 3 cores da sua espiritualidade.

dessas três perspectivas pode ser, em termos gerais, injusta, exagerada, por demais generalizada e parcialmente movida por motivações questionáveis; mas quem negaria seriamente que cada uma delas ressalta feridas abertas dentro do cristianismo? O meu propósito não é defender esse cristianismo ferido, mas antes ajudar a identificar as feridas e oferecer uma maneira de curá-las. Neste ponto, podemos pedir mais uma vez aos seguidores das críticas mencionadas a opinião sobre esse cristianismo ensinável, autocrítico, curado ou ao menos progressivamente melhorado. Eu creio que o seu juízo vai ser diferente. O dogma do constante “mais” Eu vejo este livro como uma resposta às crises econômicas e políticas do nosso tempo, mesmo que esse não seja o foco. Durante décadas, Perfil do DNI: a busca por “mais” em termos materiais quase se tornou um dogma da sociedade, questionado por apenas uma pequena Por meio do perfil do DNI, qualminoria. Dinheiro é bom, mais dinheiro é melhor. Ter um quer igreja pode identificar o carro é bom, ter mais carros é melhor. Duas horas de TV por quanto estão desenvolvidas as dia é bom, quatro horas é melhor. Mil reais de aposentadoria marcas de qualidade de igrejas é bom, dois mil reais é melhor. Mas também: duas mil que crescem, e especialmente, calorias por dia é bom, quatro mil é melhor. Fazer exercícios qual marca de qualidade está uma hora por dia é bom, fazer exercícios duas horas por dia é impedindo mais fortemente melhor. Dessa forma, o objetivo não questionado de adquirir o crescimento a longo prazo. O procedimento científico por mais criou o seu próprio círculo vicioso. trás do perfil está fundamenNão há crescimento ilimitado em um mundo limitado. Pelo tado em uma pesquisa feita em projeto de Deus, nosso planeta tem limites. O crescimento mais de 60 mil igrejas. Quando só pode acontecer dentro de limitações claramente definidas se realiza o perfil regularmente, antes de resultar em fatalidade, como está provado pelo o desenvolvimento da qualiestudo do crescimento do câncer. Em toda a Criação de dade da igreja pode ser moniDeus, essa parece ser uma regra sem exceção. torado com precisão. Será que é realmente sem exceções? Não totalmente. Há um tipo de crescimento que o próprio Criador projetou para que pudesse continuar indefinidamente, sem nunca atingir uma limitação natural. Esse é o crescimento espiritual, a intensificação constante e crescente do nosso amor por Deus, que está inseparavelmente associado a uma constante e crescente transformação de nós mesmos.


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Introdução

Por que alguns aspectos estão excluídos? Quando estudar este livro, você vai perceber que embora ele trate muitas áreas da vida espiritual, outros aspectos parecem estar excluídos. Há duas áreas em particular que são mencionadas em As 3 cores da sua espiritualidade, mas não são tratadas de forma sistemática. 1. A dimensão comunitária da fé cristã. 2. A ordem de “amar o próximo”, que também inclui o tema da responsabilidade social. Mas esses não são dois elementos essenciais da fé cristã? É possível escrever um livro sobre espiritualidade sem tratar detalhadamente dessas duas áreas? Poderia ser que eu estou tentando apresentar a espiritualidade como uma questão puramente individualista (“Deus e eu”, ou mesmo: “Deus e a minha alma”), que está alienada tanto dos nossos irmãos de fé quanto das pessoas fora da nossa comunidade cristã? Essas perguntas são legítimas, visto que, de acordo com a Bíblia, ambas as partes são aspectos essenciais da fé cristã. Por que, então, eles têm um papel menos importante neste livro?

entendimento de “espiritualidade”. Neste livro, o foco principal é o relacionamento pessoal do cristão individual com Deus, e não os efeitos que esse relacionamento tem sobre as diversas áreas da nossa vida. Se alguém disser: “Eu expresso a minha espiritualidade principalmente ao lutar por justiça social”, eu responderia: “Isso é maravilhoso. Essa é uma parte importante do discipulado, que também ocupa um lugar proeminente no Desenvolvimento Natural da Igreja. No entanto, no nosso modelo nós não atribuímos isso à marca de qualidade da ‘Espiritualidade contagiante’, mas aos ‘Relacionamentos marcados pelo amor fraternal’ “. Se definíssemos “espiritualidade” tão amplamente a ponto de incluir quase todas as funções vitais do cristianismo, já não faria sentido distinguir entre as marcas de qualidade individuais de igrejas que crescem. Cada uma das marcas de qualidade (por razões práticas no DNI distinguimos oito delas) se tornaria finalmente um sinônimo “do todo”. Haveria então uma enorme sobreposição das oito áreas. Por isso, parece fazer mais sentido prático dar a cada marca de qualidade uma definição propositadamente restrita. Aqueles aspectos que ultrapassam as definições restritas não são ignorados, mas recebem um tratamento cuidadoso e de fácil compreensão em outras partes do sistema.

Esses aspectos são tão importantes que são tratados detalhadamente em outras partes do sistema do Desenvolvimento Natural da Igreja.

A razão não é que eu não considere esses aspectos importantes. Muito pelo contrário. Eles são tão importantes que receberam um lugar próprio no sistema geral do Desenvolvimento Natural da Igreja, onde recebem tratamento amplo. O caráter comunitário da fé cristã é tratado nas ferramentas relacionadas à marca de qualidade “Grupos pequenos integrais”. O mandamento de “amar o próximo”, incluindo o tema da responsabilidade social, é tratado nas ferramentas associadas à marca de qualidade “Relacionamentos marcados pelo amor fraternal”.

Em As 3 cores da sua espiritualidade eu deliberadamente apliquei um estreito

Ao mesmo tempo, mesmo que eu afirme que este livro não focaliza as duas áreas mencionadas, isso não significa que elas sejam completamente ignoradas. A terceira parte deste livro, em particular, toca em ambas essas dimensões sem tratá-las sistemática e exaustivamente (por exemplo, ver o tema do Mentoreamento Mútuo).


Introduction Introdução

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Se você é cético em relação ao cristianismo Talvez você não esteja entre os cristãos que estão se preparando com toda a empolgação para uma “maratona espiritual”. Talvez você encare este livro de uma perspectiva totalmente diferente. Você está saturado da fé cristã. Você não sente necessidade alguma do tipo de vida de igreja que você experimentou até aqui. Se isso for verdade, eu espero que você continue lendo mesmo assim. Talvez a sua frustração com o cristianismo tenha algo a ver com o fato de que você nunca experimentou nem observou a dinâmica descrita neste livro. Talvez nós dois — você, um crítico do cristianismo, e eu, o autor deste livro — estejamos no mesmo barco. Talvez o seu afastamento do cristianismo tenha suas raízes no fato de que você nunca encontrou cristãos interessados no seu estilo espiritual específico, na sua língua-mãe espiritual, na forma singular em que você expressa a sua fé. Talvez você tenha frequentado uma igreja em que os estilos espirituais preferenciais eram simplesmente incompatíveis com os seus. As expressões de fé que você encontrou ali não pareciam naturais, ou talvez até fossem estranhas para você. Elas não combinavam com quem você é. Talvez você tenha dado as costas ao cristianismo, não porque esteja desapontado com Deus, mas simplesmente porque ninguém o ajudou a encontrar uma forma de se conectar com Deus que leve em consideração a sua singularidade. Se isso for verdade, eu arrisco dizer que o conteúdo das próximas páginas vai interessar você. O termo “Deus” 8 marcas de qualidade: Talvez o seu ceticismo religioso seja tão grande que você tenha eliminado o termo “Deus” do seu vocabulário. Se esse A expressão usada para descrever princípios universalmente é o seu caso, não quero persuadir você a reintroduzir esse válidos para igrejas saudátermo no seu vocabulário cotidiano o mais rápido possível. veis que foram identificados É muito provável que você associe tantas experiências nega- na nossa pesquisa: liderança tivas com a ideia de “Deus” — no caso experiências emo- capacitadora, ministérios cionalmente carregadas — que seria melhor você se abster orientados pelos dons, espiricompletamente de usar esse termo por um tempo. Sempre tualidade contagiante, estruque você se deparar com o termo “Deus” (que eu vou usar turas eficazes, culto inspirador, frequentemente), por favor, interprete isso por enquanto grupos pequenos integrais, simplesmente como um substituto para “o grande desco- evangelização orientada para nhecido”, nada mais. No final deste livro você poderá se per- as necessidades e relacionaguntar novamente se faria sentido chamar esse desconhe- mentos marcados pelo amor cido — ou o desconhecido — de “Deus”. fraternal. Esses princípios se Leon Tolstoi tratou desse tema da seguinte maneira: “Se lhe aplicam a todas as igrejas ocorrer a ideia de que tudo que você pensava sobre Deus sem exceção; no entanto, sua estava errado, e que não há Deus, não fique perturbado. implementação prática difere Muitas pessoas têm esse tipo de pensamentos. O que você de igreja para igreja. não deveria crer, no entanto, é que a sua própria incredulidade é o resultado do fato de que não há Deus [...] quando povos primitivos param de acreditar no seu deus de madeira, isso não significa que não há Deus, mas simplesmente que o verdadeiro Deus não é de madeira”. Em outras palavras, você talvez esteja absolutamente correto em relação ao que rejeitou no passado. Talvez tenha sido, em linguagem metafórica, um “deus de madeira”, como Tolstoi o chama. Nesse caso, foi certo jogar fora a imagem de Deus que você tinha. Mas você precisa se lembrar que ao jogar fora um deus de madeira, Deus não deixou de existir, nem você deixou de ser uma pessoa que foi criada para ter um relacionamento positivo com o seu Criador.


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Introdução

Foco na transformação O objetivo deste livro não é simplesmente compartilhar informações. Eu não quero me restringir a descrever “a teoria correta”. Antes, eu gostaria de capacitar você: • a realmente entender esses princípios de espiritualidade (tanto com a sua mente quanto com o seu coração); • a aplicá-los à sua própria vida (mesmo que isso exija processos complicados de tentativa e erro); • a ajudar outras pessoas a entrarem no processo (se esse estágio não for atingido, eu, como o autor, terei fracassado). O mosteiro trinitário Para apoiar o processo de implementação, nós fundamos um mosteiro virtual: uma comunidade de cristãos das mais diversas tradições espirituais baseada na Internet. Embora o mosteiro em si seja virtual, a comunidade Mosteiro trinitário: de cristãos não poderia ser mais real. O objetivo é que você Comunidade baseada na possa, assim como em um mosteiro “real”, retirar-se para este Internet na qual cristãos de mosteiro virtual de tempos em tempos a fim de encontrar o todas as culturas e denomina- que mais precisa para o seu próprio crescimento espiritual. ções se apoiam mutuamente Em contraste com um mosteiro real, que sempre promove em seu crescimento espiritual: uma tradição espiritual específica, o nosso Mosteiro Trinitáwww.3colorsofyourspirituality.org rio funciona de forma diferente: você tem acesso àquelas tradições que são mais úteis à sua presente fase de desenvolvimento. As “experiências monásticas” que você acessar on-line darão suporte aos processos de aprendizagem descritos neste livro (mais sobre isso na página 182). Também desenvolvemos um manual complementar, Como adotar as 3 cores da sua espiritualidade no seu mundo, que oferece orientações para a implementação desses processos. Com essas ferramentas e tudo que Deus lhe deu, você precisa aproveitar a oportunidade para se aprofundar e voar mais alto.

Christian A. Schwarz Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja

Os quadros amarelos e o símbolo do fogo Em cada capítulo deste livro você vai encontrar um quadro fornecendo informações adicionais. Essas informações vêm das minhas experiências pessoais em trabalhar com esses conceitos durante os últimos anos. Esses textos não são essenciais para a compreensão do livro, então você pode pular os quadros ao ler o livro pela primeira vez. No entanto, eles podem prover alguma informação que aumentará a sua compreensão e será útil ao seu crescimento espiritual. O pano de fundo gráfico desses quadros é o símbolo do fogo. Tanto na Bíblia quanto na tradição cristã essa imagem tem sido usada frequentemente para simbolizar a essência da paixão espiritual. O objetivo deste livro não é outro senão soprar essa chama espiritual fazendo-a arder em altas labaredas — ou, se o seu fogo praticamente se apagou, acendê-lo de novo.


Parte 1

A verdade, bondade e beleza de Deus: O coração da paixão espiritual

Quem de nós não anseia por uma experiência espiritual profunda? Muitos cristãos pegam a estrada cheios de expectativa, mas pouco tempo depois o seu processo de crescimento chega ao fim. Por que isso acontece? Como isso pode ser mudado? Como se parece a busca da paixão espiritual que não é estranha nem artificial? Uma espiritualidade na qual nos sentimos 100% naturais, autênticos e vivos?


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Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus

Você expressa sua fé de acordo com o estilo que Deus lhe deu?

A

lguma vez alguém já lhe perguntou sobre o seu estilo espiritual pessoal? Alguém já lhe ofereceu ajuda exatamente nessa área, a área da sua mais intensa receptividade do divino? Ou sua experiência tem sido que a maioria dos cristãos está tão concentrada em sua própria abordagem do relacionamento com Deus que eles creem que é a correta, ou ao menos a melhor, para todos os outros? Durante os últimos anos, no contexto do meu ministério, tenho conversado com milhares de cristãos, e de forma bem pessoal com alguns deles. No entanto, até há dois anos atrás nunca ninguém me perguntou: “Christian, qual é o seu estilo espiritual pessoal? Como posso ajudar você a crescer nesta área?”. A razão por que isso mudou há dois anos é bem trivial. Veja bem, tenho falado tanto sobre os estilos espirituais ultimamente que é natural Estilo espiritual: que as pessoas fiquem curiosas sobre o meu próprio estilo A maneira pela qual um cris- espiritual. tão se conecta da forma mais Por que tantas pessoas deixam as igrejas? natural com Deus. No DNI Na década de 1980, a pesquisa do crescimento de igreja na distinguimos nove estilos espi- área das campanhas evangelísticas revelou fatos tão espetarituais que resultam da sua culares que deveriam ter resultado em uma revolução. Entre associação com as três cores todas as pessoas que tinham aceitado Cristo e procurado da bússola trinitária. Os esti- uma comunidade cristã, somente 0,3% a 15% puderam ser los espirituais não devem ser encontradas em uma igreja local um ano depois. Formuconfundidos com a tradição, a lando isso do outro ponto de vista, de todas as pessoas que denominação ou o movimento começaram a jornada cristã, 85% (no melhor cenário) até espiritual ao qual pertencemos. 99,7% (no pior cenário) tinham dado as costas à igreja um Cada um desses movimentos ano depois. pode priorizar um ou mais estiAlguns desses indivíduos talvez se considerem “maus crislos espirituais, mas entre seus tãos”. Outros talvez estejam convencidos de que a fé cristã membros, eles sempre englonão é realmente para eles. Ainda outros talvez continuem bam todos os nove estilos. participando da sua igreja, mas basicamente se afastaram da vida de igreja. Eles a suportam em vez de se sentirem encorajados por ela. Ou procuraram outra igreja que considerem mais adequada. Há muitas razões por que as pessoas deixam uma igreja. Elas não estão relacionadas exclusivamente à insensibilidade com relação aos estilos espirituais. Alguém pode deixar uma igreja porque esta não é amorosa, ou devido a um conflito teológico, ou porque a igreja não satisfaz as necessidades da família, ou... No entanto, mesmo nesses casos seria revelador dar uma espiada nos bastidores. Talvez fosse o que a pessoa percebia como “não amoroso” estivesse mais associado à insensibilidade com relação às diferentes abordagens ao relacionamento com Deus? Talvez por trás do conflito teológico houvesse um conflito entre estilos espirituais opostos que simplesmente foi travado no nível teológico? E talvez a incompatibilidade da igreja com as necessidades familiares estivesse associada ao fato de que cada membro da família tem o seu estilo espiritual singular, e de que é irrealista esperar que as mesmas coisas que são atraentes a um membro tocariam os outros da mesma maneira? Com que se parece uma pessoa espiritual? Quando pensamos sobre uma “pessoa espiritual”, a maioria de nós tem certa imagem em mente. Essas imagens diferem consideravelmente dependendo


Você expressa sua fé de acordo com o estilo que Deus lhe deu?

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Qual é o significado das três cores — verde, vermelho e azul — neste e em outros livros do Desenvolvimento Natural da Igreja? Em essência, elas simbolizam diferentes maneiras pelas quais Deus se revela aos seres humanos: na criação e nas leis da natureza (verde com o símbolo do arco-íris); no sacrifício de Jesus (vermelho com o símbolo da cruz); e finalmente no nosso coração (azul com o símbolo da pomba). Cada um dos estilos espirituais que são retratados neste livro pode ser descrito pela intensidade com que cada uma das três cores molda nossa aproximação a Deus.

da tradição espiritual à qual cada um de nós pertence. Dê uma olhada no diagrama. A espiritualidade esperada dos membros de uma dada igreja está marcantemente inclinada à mesma cor que a igreja priorizar: em alguns casos, é principalmente verde (ressaltando “a espiritualidade da criação”); em outros casos, é principalmente vermelho (orientada fortemente segundo a Palavra); e ainda em outros casos, é principalmente azul (concentrada na experiência pessoal). No entanto, apesar dessas diferenças, sempre guardamos em nossa mente certa imagem padrão de uma “pessoa espiritual”. Se essa imagem é agradável a nós — ótimo! Se percebemos que não combina conosco, talvez nos percebamos como “maus cristãos”, ou talvez até cheguemos à conclusão de que a fé cristã não é na verdade a “nossa” religião. Um modelo padrão de uma pessoa espiritual Durante os últimos anos li em torno de 400 livros sobre espiritualidade. Em todo esse processo eu percebi que há certos tipos de personalidade que são mais provavelmente rotulados de “espirituais”: • pessoas espirituais não são “espalhafatosas” e quase nunca são “extremas” (obviamente os verdadeiramente “espirituais” encontraram um feliz meio-termo); • raramente ela são marcadas por uma atitude provocativa, “beligerante” (obviamente uma pessoa branda é mais espiritual do que uma que gosta de se expressar em meio ao conflito); • geralmente estão na meia-idade ou já são idosas — na maioria dos casos já estão até mortas (obviamente a idade avançada têm um forte impacto sobre a espiritualidade, e a vantagem de se estar morto é que já não se pode rejeitar o rótulo “espiritual”); • provavelmente são pessoas que levantam cedo (obviamente acordar cedo é um sinal garantido de maturidade espiritual);


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Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus

Um livro para Deus ou para os seres humanos? Há alguns anos — quando eu era editor de uma revista cristã — tive um encontro com um grupo de outros editores cristãos em que compartilhamos nossas experiências. No início do nosso encontro pediu-se que cada um resumisse brevemente o propósito de sua respectiva publicação. A resposta mais frequente dos meus colegas cristãos foi: “A nossa revista busca dar glória a Deus!”. Mas a minha resposta foi diferente. “A nossa revista não busca dar glória a Deus. Antes, o seu propósito é ser ferramenta que ajude o maior número possível de pessoas a darem glória a Deus”. Por que era tão importante para eu fazer essa distinção? Por duas razões: Em primeiro lugar, um produto impresso (como uma revista ou um livro) não pode dar glória a Deus. Como seria isso em termos práticos? Produtos impressos não são seres pessoais que podem se conectar com Deus. Eles são feitos de papel e tinta. Sempre que esperamos de objetos materiais algo que é a tarefa de seres humanos, corremos o risco de reduzir a fé cristã à crença em mágica. Começamos a construir prédios que vão exaltar a Deus, em vez de prédios que ajudem as pessoas a exaltar a Deus. Criamos instituições para a glória de Deus, em vez de sermos eficientes em apoiar as pessoas para que elas deem glória a Deus. Elaboramos “credos” para honrar a Deus, em vez de considerá-los ferramentas úteis para que as pessoas honrem a Deus. Essa mudança de ênfase aparentemente insignificante tem consequências realmente dramáticas! Em segundo lugar, o texto de um artigo ou de um livro que foi escrito para dar glória a Deus na verdade deveria se dirigir a Deus, não a seres humanos. Um texto dirigido a Deus seria um texto totalmente diferente do concebido para se dirigir a seres humanos.

Quando eu oro, falo com Deus. Quando eu escrevo um livro, não falo com Deus, mas com seres humanos. É diferente a minha maneira de falar com Deus da minha maneira de falar com seres humanos, e com Deus falo de temas diferentes dos que discuto com seres humanos. Deus não precisa da minha instrução, mas ela pode ser útil para outros seres humanos. Não preciso despertar Deus, mas para seres humanos tal chamado ao despertamento pode ser muito útil. Pelo estilo, é fácil detectar se um livro está tentando dar glória a Deus “diretamente” (em vez de ser uma ferramenta que ajude o maior número possível de pessoas a dar glória a Deus). Dependendo da espiritualidade do autor, esses livros são caracterizados por uma linguagem sarcástica, espiritualista ou “bíblica”; a argumentação tende a ser um tanto indireta e embaçada, geralmente com um toque “de outro mundo”. Ali não encontramos nenhum tipo de provocação, ironia ou o humor — todos eles são meios de comunicação que podem ser inadequados quando dirigidos a Deus, mas podem ser meios fantásticos e extremamente eficientes na comunicação com pessoas. No fim, esses livros soam um pouco como a saudação de Natal da rainha da Inglaterra. E muitos leitores estão convencidos de que um livro “espiritual” precisa soar exatamente desse jeito. Para deixar claro o meu propósito, este é um livro para seres humanos, não para Deus. Quando as pessoas me perguntam qual é o “credo” por trás deste livro ou por trás do DNI, a minha resposta é: não é tarefa do DNI formular qualquer tipo de credo. Antes, o DNI quer ajudar o maior número possível de pessoas a encontrarem um credo com o qual se identifiquem de todo o coração, para que possam dar glória a Deus.

Este livro não busca dar glória a Deus, mas ajudar o maior número possível de pessoas a darem glória a Deus.


Você expressa sua fé de acordo com o estilo que Deus lhe deu?

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• os seus movimentos físicos tendem a ser lentos, talvez até mesmo um tanto ponderados (em inúmeros livros eu li — isso não é piada! — que movimentos físicos bruscos são expressões de imaturidade espiritual, portanto “ponderado” obviamente equivale a “espiritual”); • elas exercem diversas ocupações — preferencialmente pastores ou monges — mas certamente não são jogadores de futebol profissionais, comediantes, fisiculturistas ou modelos profissionais (obviamente entre essas profissões a vida espiritual na verdade nem é possível). E se você não se encaixar nesse modelo? Evidentemente eu não tenho nada contra pessoas que satisfazem todos os critérios acima. No entanto, creio que é problemático quando esse tipo de personalidade é tratado como modelo de espiriEspiritualidades: tualidade. O resultado é que as pessoas que não se encaixam Concordo com o grande teónesse perfil (e nem querem se encaixar nele!), ou se con- logo suíço Hans Urs von Balsideram “não espirituais”, ou sentem grande pressão para thasar que distingue entre se adaptar cada vez mais a esse padrão, uma tentativa que “espiritualidade” e “espirinunca será bem-sucedida. tualidades”. De acordo com Durante muitos anos da minha vida eu tive profunda convic- von Balthasar, existe, na raiz, ção de que precisava me adaptar ao modelo que acabo de somente uma espiritualidade, descrever. No entanto, graças a Deus, isso não funcionou. Há cuja “norma única e concreta inúmeras formas de expressar a nossa espiritualidade. Não há é Jesus Cristo que confere a definitivamente nada de errado com os critérios listados acima, cada uma dessas formas o seu próprio significado particular mas eles não têm nada que ver com maturidade espiritual. derivado da unidade do amor Pessoas espirituais podem ser extremas, lutadoras entusias- trino de Deus”. Assim, uma madas, jovens, que acordam tarde, cheias de movimento ou espiritualidade “cristã” autêncomediantes. Elas podem satisfazer os critérios mencionados tica é a que nos une a Cristo e acima, ser o exato oposto deles, ou qualquer coisa entre nos conduz por meio do poder esses extremos. O fato de que muitos livros sobre espiritu- do Espírito Santo a Deus, o Pai. alidade favorecem certo estereótipo de personalidade tem Dentro dessa estrutura essencausado grandes danos. cial, no entanto, há inúmeras A tentativa de expressar nossa espiritualidade de forma tal maneiras de encontrar Cristo, que não corresponda ao nosso estilo espiritual conduz à e von Balthasar as descreve frustração espiritual. Dallas Willard observou com preci- como “espiritualidades”. Eu são: “A espiritualidade compreendida ou buscada de forma me refiro a elas como “estilos errada é uma das maiores fontes de miséria humana e rebel- espirituais”. dia contra Deus”. Você conhece o seu estilo? Cada cristão tem o seu estilo espiritual singular, mas poucos de nós conhecem esse estilo. Alguns de nós talvez até vivam de acordo com o seu estilo, mas nunca refletiram sobre isso. Outros vivem em contraste com o seu estilo sem terem consciência disso. Neste livro eu reduzi o grande número de estilos espirituais a nove tipos principais e 18 sub-tipos. Diferenças no estilo espiritual são normais. Não é uma questão de “fé boa” e “fé má”. Antes, estamos tratando de diferentes maneiras de encontrar Deus — cada uma delas positiva, mas precisando ser complementada pelas outras. Enquanto a primeira parte deste livro descreve as implicações práticas desse paradigma, a segunda parte vai retratar cada estilo individual em detalhes. Um teste vai ajudar você a identificar a sua própria abordagem espiritual (pág. 64). Com base nisso, a terceira parte do livro vai então mostrar às pessoas que já conhecem o seu estilo como elas podem continuar no seu processo de crescimento.


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Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus

O que é equilíbrio radical?

A

mensagem deste livro — e do Desenvolvimento Natural da Igreja em geral — é a mensagem do que equilíbrio espiritual. Sempre que menciono este conceito, em geral é surpreendentemente bem recebido. Temo, no entanto, que esse aplauso esteja baseado, ao menos em parte, em um grosseiro mal-entendido. O equilíbrio, para muitos cristãos, é exatamente o oposto de algo radical. “Fé apaixonada? Não, não, isso é algo que deixamos para as seitas. Nós não somos fanáticos, somos equilibrados”. Do “equilíbrio” para o “equilíbrio radical” Dê uma olhada no diagrama. O eixo horizontal representa a variação entre o “nominal” (esquerda) e o “radical” (direita), onde o nominalismo é o perigo constante, e a radicalidade o alvo desejado. O eixo vertical expressa o grau de equilíbrio espiritual, que cobre o crescimento desde o “desequilibrado” (embaixo) até o “equilibrado” (topo). Quando combinamos as duas perspectivas, obtemos as quatro posições (e evidentemente todas as gradações entre elas): • Quadrante A: Aqui temos a combinação entre o desequilíbrio e o nominalismo. Pessoas que têm essa posição talvez tenham perspectivas bem dogmáticas acerca do que é certo (isto é, sua própria posição) e do que é errado (outras posições). Talvez elas rejeitem categoricamente outros estilos ou tradições espirituais como “sectárias” e certamente não indicam a mínima disposição para aprender deles. No entanto, sua própria tradição também não significa muita coisa para elas. Elas talvez até a defendam com intensidade, mas não com paixão convidativa. Representantes dessa posição talvez afirmem que a sua maneira Equilíbrio radical: Conceito-chave por trás da de conduzir um culto de adoração é a única maneira cormarca de qualidade “Espiritu- reta. Mesmo assim, elas raramente frequentam os cultos de alidade contagiante”. Por um adoração cujo estilo específico elas defendem com tanta lado, os cristãos são encora- veemência. jados a crescer no seu próprio estilo espiritual (radicalidade); por outro, são encorajados a aprender precisamente daqueles estilos que, no momento, lhes parecem estranhos (equilíbrio). Esse conceito se aplica da mesma maneira a outras áreas do Desenvolvimento Natural da Igreja.

• Quadrante B: Em comparação com o Quadrante A este demonstra grande melhora. Embora esta posição ainda seja caracterizada pelo desequilíbrio (as pessoas não estão dispostas ou não são capazes de aprender de outras abordagens), ele é ao menos marcado pela radicalidade e assim pela paixão por seu próprio estilo espiritual. Nunca devemos esquecer que o problema dessa posição não é o elemento radical, mas somente o fato de que a radicalidade é expressa de forma desequilibrada. Essa é exatamente a posição que muitos têm em mente quando reagem negativamente ao termo “radical”. Eles experimentaram princi palmente, se não exclusivamente, a radicalidade nessa variedade desequilibrada e acreditam que a radicalidade esteja associada inevitavelmente ao desequilíbrio e ao fanatismo. • Quadrante C: Essa posição é marcada pelo equilíbrio — as pessoas usam diferentes estilos e tradições espirituais com respeito — o que aparenta ser muito positivo. Em uma análise mais aprofundada, no entanto, percebemos que esse equilíbrio não é muito estável, pois é puramente nominal em sua natureza. Os representantes dessa posição não estão realmente interessados em aprender de outras abordagens espirituais ou em defendê-las com entusiasmo. Afinal, elas são indiferentes a todos os estilos. Se os líderes de igreja estão inclinados a essa posição (e parece que nesse grupo ocupacional isso é


O que é equilíbrio radical?

balanced equilibrado

C

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nominal

radical

A

B

desequilibrado

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Este diagrama mostra quatro opções que resultam da posição de uma pessoa sobre os dois eixos “nominal — radical” e “desequilibrado — equilibrado”. O Quadrante A simboliza o desequilíbrio espiritual que é expresso nominalmente. O Quadrante B que descreve a posição em que a espiritualidade se mostra de forma radical, mas de maneira desequilibrada. O quadrante C descreve aqueles cristãos cuja espiritualidade é equilibrada, mas nominal. O quadrante D indica o alvo do crescimento espiritual: o equilíbrio radical.

desproporcionalmente elevado), nunca devemos confundir sua benevolência pronunciada com o apoio ativo. Na sua cortesia sem limites para com as mais diversas posições, os representantes do Quadrante C geralmente são pessoas extremamente agradáveis. No entanto, você não consegue mudar o mundo com elas. • O Quadrante D, finalmente, descreve o alvo da jornada espiritual como esboçado neste livro: o equilíbrio radical. Aqui a paixão pelo seu próprio estilo é combinada com o respeito pelos outros estilos e a disposição para aprender deles. Dois passos para o equilíbrio radical Como você pode atingir esse tipo de equilíbrio radical? Basicamente, em dois passos: • O primeiro passo é identificar seu próprio estilo espiritual, crescer nesse estilo e ser capaz de vivê-lo na prática com confiança e segurança. Esse é o elemento radical, que é o tema da Parte 2 deste livro. • Depois, com base nesse fundamento sólido do seu próprio estilo natural, o segundo passo é lidar com aqueles estilos mais distantes da sua maneira de experimentar Deus (o chamado “polo oposto”). Esse é o passo que conduz ao equilíbrio espiritual. A Parte 3 deste livro dá instruções sobre como se pode fazê-lo. O seu ponto de partida e o seu destino Qual dos quatro quadrantes descreve você? Talvez eu deva reformular esta pergunta. Qual dos quadrantes descreve você atualmente? Esse não é um conjunto estabelecido de estilos de personalidade, mas uma descrição de pontos de partida. Depois que você identificou seu ponto de partida, pode dar os passos adequados que o levarão cada vez mais para o alvo do equilíbrio radical. • Sua vida espiritual está relativamente equilibrada, mas você sente falta da radicalidade (Quadrante C)? Parabéns, você descobriu uma dimensão importante do equilíbrio espiritual. O seu próximo passo é desenvolver o elemento radical da sua espiritualidade. • Você já é radical na sua espiritualidade, mas sente que lhe falta equilíbrio (Quadrante B)? Isso é promissor, visto que você já está praticando um aspecto essencial da espiritualidade contagiante, o da radicalidade. Agora você deve trabalhar rumo ao equilíbrio espiritual.


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Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus

O perigo do nominalismo Nunca encontrei um líder de igreja que estivesse satisfeito com o nominalismo na sua própria igreja. A maioria dos líderes tem o desejo de ver os cristãos em seus ministérios vivendo sua fé com mais entusiasmo, com mais coerência e com maior compromisso. No entanto, alguns deles temem que o “entusiasmo” esteja associado com um estilo específico (p. ex., “carismático” ou “orientado para os visitantes” ou “contemporâneo”) que não se enquadra na sua própria tradição, embora não seja o caso. Igrejas que se envolvem com o Desenvolvimento Natural da Igreja não são encorajadas a deixar a sua própria tradição a fim de adotar um estilo que lhes é estranho. Ao contrário, luteranos que se envolvem como o DNI se tornarão luteranos mais entusiasmados; católicos se tornarão católicos mais entusiasmados; batistas se tornarão batistas mais entusiasmados; e pentecostais serão pentecostais mais entusiasmados. Todas as denominações são ameaçadas pela tendência ao crescente nominalismo. O perigo de a falta de crescimento reduzir a fé ao que está no papel se aplica tanto a pentecostais quanto a luteranos ou católicos. No entanto, não se pode ignorar que algumas tradições eclesiásticas são mais propensas ao nominalismo, enquanto outras são mais propensas ao legalismo. Enquanto em algumas igrejas aqueles que vivem uma fé nominal precisam se justificar, em outras tradições eclesiásticas acontece exatamente o contrário — os que querem viver e expressar a sua fé com entusiasmo precisam se justificar. Embora eles sejam aceitos, são considerados uma subcultura, mesmo que esta subcultura seja vista com bons olhos (na melhor das hipóteses). Não é preciso dizer que nessas tradições eclesiásticas o

percentual de cristãos nominais é mais alto do que em outras. Enquanto algumas igrejas estão estruturadas de tal maneira que elas literalmente deixam de existir se a paixão espiritual se extinguir, outras consideram uma vantagem o fato de que as formas, rituais e instituições exteriores permaneçam intactos, mesmo que o entusiasmo espiritual desapareça. Isso pode ser considerado uma vantagem ou uma desvantagem. No entanto, é alta a probabilidade de que um percentual considerável de membros nessas igrejas reduza a sua fé ao conformismo exterior dos costumes esperados, e que os rituais sejam realizados mecanicamente, sem participação interior. Mesmo assim, para essas igrejas o caminho para a paixão espiritual não as afasta da sua própria tradição, como alguns talvez temam. Simplesmente as afasta de um tipo de tradicionalismo que é uma das causas do nominalismo. Enquanto tomávamos café em Riga, Letônia, o arcebispo luterano da Letônia, Janis Vanagas, contou-me algo que eu anotei imediatamente no meu guardanapo de papel: “A tradição é a fé viva dos mortos; o tradicionalismo é a fé morta dos vivos”. Essa é exatamente a abordagem que o Desenvolvimento Natural da Igreja quer promover — dizer “adeus” ao tradicionalismo, e “olá” às nossas próprias tradições vivas! Dificilmente alguma coisa tem sido mais contraproducente na avaliação do nominalismo (e de sua contrapartida: a paixão espiritual) do que o fato de que a paixão tem sido expressa tão frequentamente de maneira desequilibrada (Quadrante B no diagrama na página 17). Em comparação a isso, muitas pessoas preferem o equilíbrio nominal (Quadrante C). No entanto, nenhuma dessas opções é desejável. O alvo do crescimento espiritual é a maturidade que combina a radicalidade com o equilíbrio.

A tradição é a fé viva dos mortos; o tradicionalismo é a fé morta dos vivos.


O que é equilíbrio radical?

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• Você sente que a sua atual espiritualidade não é nem radical nem equilibrada (Quadrante A)? Isso não é razão para jogar a toalha. Inúmeras pessoas compartilham esse ponto de partida. Esse é exatamente o lugar onde a maioria de nós começou a jornada espiritual. Seu maior trunfo é o desejo de investir no processo de crescimento em vez de se contentar com a sua atual situação. O equilíbrio radical e a paixão espiritual A integração da radicalidade e do equilíbrio é a chave para a paixão espiritual. Infelizmente, muitas igrejas enxergam a paixão espiritual através de lentes críticas. Sem dúvida, elas têm em mente a versão desequilibrada da paixão (Quadrante B). Desse ponto de vista, o seu ceticismo é compreensível. No entanto, uma visão crítica do Quadrante B nunca deve ser a razão para se rejeitar o conceito do equilíbrio radical como esboçado neste livro (Quadrante D). Nunca devemos tentar justificar a falta de paixão — talvez até com referência ao “equilíbrio” — como algo desejável. Nesse aspecto a advertência bíblica é clara: “Melhor seria que você fosse frio ou quente!” o Cristo ressurreto disse para a igreja em Laodiceia. “Assim, porque Nominalismo: você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de O oposto de paixão espiritual. As vomitá-lo da minha boca” (Ap 3.15s). pessoas se consideram cristãs, Inúmeras congregações consideram a paixão essencialmente mas a sua fé não leva a mudancomo um ritual hormonal da adolescência, não como a ças de vida. Por isso, uma das impressão digital de Deus. “A sabedoria dominante é que a tarefas mais importantes das paixão, assim como a álgebra e a acne, deve ser suportada, igrejas é despertar constantee não interpretada”, escreve Kenda Creasy Dean em seu mente a paixão espiritual de livro esclarecedor Practicing Passion [Praticando a Paixão]. seus membros — não no sen“Depois que não sobrou mais nada pelo que ‘vale a pena tido de simplesmente suscitar morrer’ no ensino cristão, tornou-se cada vez mais duvidoso emoções, mas de fortalecer seus se o cristianismo oferece algo pelo que valha a pena viver”. “músculos espirituais”. O nominalismo deve ser aceito como o Nominalismo como o oposto de paixão Como descrito no quadro da página ao lado, todas as igrejas, ponto de partida de muitas pesnão importa a sua tradição espiritual, estão ameaçadas pelo soas, mas nunca deve ser reinnominalismo, visto que isso não é nada mais do que o terpretado como algo normal e resultado do desaparecimento da paixão. Cada cristão está muito menos positivo. ameaçado por ele; aliás, cada um de nós passa por diferentes fases na vida em que prevalece o nominalismo, e outras, em que prevalece a radicalidade. Em outras palavras, o nominalismo não é algo estático (“essas pessoas são nominais, e aquelas são radicais”), mas antes uma ameaça constante presente na vida de todos nós. Uma das principais tarefas dos líderes da igreja deve ser apoiar e encorajar os seus membros na sua luta diária contra as tendências nominalistas. No entanto, em vez de fazer isso, uma série de igrejas começou a usar a teologia para justificar o nominalismo. Na maioria dos casos, elas o fazem a fim de não parecerem julgadores ou exclusivistas. Elas querem incluir o maior número possível de pessoas, tanto cristãos nominais quanto cristãos comprometidos. Ironicamente, ao fazê-lo elas atingem o resultado oposto do que tinham em mente. No final das contas, o nominalismo afasta as pessoas. As pessoas que estão procurando algo “pelo qual valha a pena morrer” — e há muitas delas — inevitavelmente irão procurar em outro lugar. Não é de surpreender que as igrejas com um elevado percentual de cristãos nominais tendam a ser igrejas em declínio. A boa notícia é que o estado de nominalismo pode ser mudado. Pessoas que são nominais na sua fé — e nunca devemos nos esquecer de que cada um de nós vai passar por uma fase de nominalismo em algum ponto da vida — podem dar passos práticos para acender o fogo da sua paixão novamente.


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Parte 1: A verdade, bondade e beleza de Deus

A paixão espiritual e a bússola trinitária

O

que está no centro da fé cristã? Sem dúvida, é a experiência pessoal com o próprio Deus, a quem podemos ver em ação na Criação, se aproximando de nós por meio de Jesus de Nazaré e no poder do Espírito Santo. Essa é a experiência do Novo Testamento em si. Originalmente, a Trindade não era uma fórmula, nem uma doutrina, nem mesmo uma ideologia, mas antes um exemplo relatado, uma experiência testemunhada e um relacionamento encontrado. O objetivo da bússola trinitária, o cerne teológico do DNI, é ajudar as pessoas a experimentarem a iniciativa de Deus para conosco e as conBússola trinitária: sequências práticas disso. A bússola se empenha em liberar A chave espiritual para o aquilo que nós estamos acostumados a chamar de “TrinDesenvolvimento Natural da dade” da abstração de uma fórmula teológica. Tem como Igreja. A bússola trinitária, na alvo tornar o encontro com o Deus trino parte da nossa vida sua forma geral, reflete a reve- diária. Ela busca revelar o que significa experimentar Deus de lação tríplice de Deus (como três formas diferentes ao mesmo tempo em que encontraCriador, em Cristo e no Espí- mos sempre o mesmo Deus. rito Santo) e pode ser aplicada Quando você se familiarizar com a bússola trinitária, vai descoa diferentes áreas da nossa brir que diz respeito aos dois temas da “unidade” e da “triplivida. Ela sempre nos ajuda a cidade”, e sempre com referência ao próprio Deus. A bússola identificar (a) o estágio exato usa a linguagem simbólica das cores — verde, vermelho e azul. do desenvolvimento do cristão As cores individuais se referem à revelação na Criação (verde), individual ou de toda a igreja e à revelação da salvação (vermelho) e à revelação por meio do (b) os passos que são necessá- Espírito Santo (azul). Todas as três áreas compartilham a realirios a fim de se obter um equi- dade comum de um encontro com Deus, no entanto, diferem líbrio maior. uma da outra em termos da dimensão da revelação de Deus que é enfatizada. Em outras palavras, a bússola trinitária tem tudo a ver com identidade (unidade) e diversidade (triplicidade), que tem sido o tema predominante da antiga discussão sobre a Trindade. No entanto, o foco da bússola trinitária não é o relacionamento que as três pessoas da divindade têm uma com a outra. (Eu acredito que ao longo da história da teologia tudo o que se podia dizer sobre o tema já foi dito, e possivelmente até um pouquinho mais). Antes, o foco da bússola trinitária é descrever como nós, como seres humanos, nos relacionamos com a Trindade divina. Ambas as questões são importantes, mas não devem ser confundidas. Não sei quanto tempo Deus ainda vai me dar neste planeta, mas muito provavelmente vou investir o resto da minha vida em nada mais do que continuar a trabalhar neste tópico, tanto teológica quanto praticamente. Parece-me que nesta área nós apenas começamos. A Trindade como um tema extremamente prático Tanto na igreja católica romana quanto nas igrejas protestantes, raramente ouvimos sermões que tratem explicitamente da Trindade. Por alguma razão as pessoas parecem ter a impressão de que, mesmo sendo um tema importante, ele não é realmente relevante para a nossa vida diária. Já em 1798 Immanuel Kant escreveu: “É absolutamente impossível extrair quaisquer consequências práticas da doutrina da Trindade”. Com todo o respeito por Kant, eu creio que o oposto é verdade. Uma vez que começamos a pensar sobre o nosso próprio relacionamento com o Deus trino com referência às mais diversas questões da vida, o pensamento trinitário se torna algo eminentemente prático.


A paixão espiritual e a bússola trinitária

p a l a v

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A espiritualidade cristã deve satisfazer os seguintes três critérios: deve ser fundamentada na Palavra (o segmento vermelho), dirigida pelo Espírito (azul) e focalizada no mundo (verde). Se uma, ou mesmo duas das três dimensões estiverem subdesenvolvidas haverá uma falta de equilíbrio espiritual.

es

A minha tese, em resumo, é: “Diga-me como você enxerga Deus, e eu lhe direi que tipo de espiritualidade você tem”. Ou ainda melhor: “Diga-me como você enxerga Deus e eu lhe direi como você vive”. Verbalmente quase todos os cristãos recorrem à Trindade divina — na nossa terminologia: a todas as três cores — mas pode-se demonstrar que as diferentes vertentes do cristianismo dão pesos diferentes a cada uma das cores tendendo a priorizar uma ou duas delas. A essência das três cores Cada uma das três cores tem um foco específico que, no nível prático, permeia todas as áreas da vida. • Visto que a espiritualidade verde se relaciona principalmente à revelação de Deus na criação (Sl 19.2; Rm 1.19s.), ela pode ser denominada “espiritualidade da Criação”. Aquilo que pode ser percebido pelos cinco sentidos recebe grande significado espiritual. Como afirmou Emil Brunner: “Deus imprime a marca do seu caráter em tudo o que ele cria”. Por isso, a Criação do mundo é uma revelação de Deus. O lado objetivo da revelação de Deus na natureza corresponde à realidade subjetiva de que nós fomos criados à imagem de Deus. A espiritualidade verde leva a sério o fato de que Deus fez uma aliança com toda a humanidade — a aliança de Deus com Noé, cujo sinal é o arco-íris. Como resultado, a espiritualidade verde tem uma tendência universal. A penetração racional das dinâmicas da natureza não é vista como sendo oposta à fé, mas é, em si mesma, uma expressão da fé em contraste com a espiritualidade vermelha e azul, que chamam a atenção para o aspecto objetivo (vermelho) e subjetivo (azul), a espiritualidade verde com frequência é expressa de forma neutra. Na espiritualidade verde, o foco é o entendimento. • Visto que a espiritualidade vermelha é focalizada na revelação da salvação, ela tem —com boa base bíblica —uma tendência exclusivista (Jo


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