Incômodas questões by Editora Esperança

Marcos Mendes

para a Igreja Brasileira hoje

Incômodas

questões para a Igreja Brasileira hoje

Marcos Mendes

Incômodas

questões para a Igreja Brasileira hoje 1ª edição

Curitiba/PR 2021

Marcos Mendes

Incômodas questões para a Igreja Brasileira hoje

Coordenação editorial: Revisão: Capa: Diagramação:

Claudio Beckert Jr. Raquel Selner Endrik Silva Kelly de Britto Pilarski

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213 (SC Assessoria Editorial, SP, Brasil)

Mendes, Marcos

Incômodas questões para a Igreja Brasileira hoje / Marcos Mendes. –- 1.ed. -- Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2021. 176 p. ISBN 978-65-87285-56-6 1. Igreja.

2. Identidade da igreja. 3. Missões. I. Tí�tulo.

Índices para catálogo sistemático: 1. Igreja 254.1

CDD-254.1

Salvo indicado em contrário, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada na versão Nova Almeida Atualizada © Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

Editora Evangélica Esperança

Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 comercial@editoraesperanca.com.br www.editoraesperanca.com.br

SUMÁRIO

Agradecimentos ��9 Apresentação ��11 Prefácio ��13 Introdução ��15 1. Incômodas questões ��19 Antes de Wuhan....................................................................................................22 Tempos difíceis, tempo para pensar.............................................................. 27 Em busca de respostas.......................................................................................30 2. O que é a igreja? �� 37 A igreja como “comunidade do povo de Deus”...........................................39 A igreja como povo de Deus.............................................................................51 3. Qual é a missão da igreja? ��63 A recapitulação e a missão da igreja............................................................. 67 A missio dei e a participação da igreja..........................................................70 O exercício sacerdotal e a missão integral da igreja...............................80 4. A Igreja, a cultura e o mundo ��93 Evangelho e contextualização......................................................................... 97 Falando a língua dos homens....................................................................... 102 Uni-duni-tê: Que caminho escolher?.......................................................... 111 5. Uma igreja para o agora! �� 123 Uma nova consciência de missão................................................................ 126 Refletir e repensar: a igreja e o processo de renovação...................... 129 Bibliografia �� 159

Ao Senhor Jesus Cristo, pela oportunidade de fazer parte de seu povo e da comunidade dos santos, a embaixada do Reino de Deus na Terra e a grande ferramenta divina para transformação do mundo: a Igreja.

AGRADECIMENTOS

á muitas pessoas às quais poderia e deveria agradecer pelo incentivo e pela incansável intercessão em meu favor, o que foi valioso para que tivesse o ânimo e a força necessários para escrever este livro. Reconheço o afeto e o apoio de cada um desses irmãos, para os quais suplico a bênção do Senhor. Contudo, existem aqueles que compartilharam mais de perto as dores da gestação intelectual e o trabalho de parto que trouxe à luz esta obra. Gente com quem pude dividir pensamentos, discutir ideias, refletir sobre a igreja, a cultura e o mundo dentro de um tempo tão significativo e difícil para a humanidade. Ademais, foi e tem sido um período de intensas exigências em diversos setores de minha vida pessoal. Creio que o Senhor tem momentos específicos, um tanto especiais, para nos ensinar algumas lições e edificar nosso ser, e esse processo didático pelo qual ele nos conduz nem sempre é tão agradável ou simples quanto gostaríamos. Somos levados para fora de nossa zona de conforto e, por diversas vezes, afligidos pela dúvida, forçados a repensar muitas de nossas certezas, refletir sobre nossas convicções e passar por terríveis crises de consciência. Porém, é reconfortante saber que podemos contar com a amizade, o conselho, o incentivo e a oração de gente que estava perto, que empresta o ombro, chora e sorri conosco. Minha profunda gratidão ao querido Pr. Timóteo Carriker, pela honra e privilégio de ter prefaciado esta obra, mesmo em meio a tempos difíceis e com profundas demandas de atenção àqueles que amamos e com quem convivemos. É indiscutível a importância de haver contado com a paciência e o conselho de Douglas Lamp, meu querido mentor. Dono de um humor refinado e de uma tremenda sensibilidade para encontrar o ponto central de questões

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difíceis, Douglas é um ponto de equilíbrio nas reuniões da ALEF, um missionário por excelência e uma pessoa extraordinária com quem tenho o prazer de conviver. Agradeço ao querido Renildo Diniz, vice-presidente da Missão ALEF, pastor da igreja na qual tenho a oportunidade de servir ao Senhor. Renildo é um ministro dotado da virtude do equilíbrio, alguém que mantém o zelo pelos princípios e valores bíblicos, guardando o respeito e a sensatez ao lidar com a cultura e a vida das pessoas. Sou grato aos queridos irmãos da diretoria da Missão ALEF, Leandro Silva, Valtenci Oliveira e Artur Isac, pelo companheirismo e pela verdadeira e preciosa amizade, que nos fortaleceu na caminhada. Não dá para esquecer da amiga Gladys, com seus preciosos comentários e anotações, que nos estimularam a continuar e nos mostraram que estávamos caminhando no rumo certo. A Debora, Juliana, Marcos Filho, Paulo (genro), Carlos e Yasmin, filhos naturais e adotivos, por proporcionarem momentos inigualáveis de alegria e de refrigério em meio às lutas. Vocês são presentes de Deus que me lembram que a paternidade é uma dádiva divina, uma oportunidade para crescermos juntamente com vocês. Deixamos por último minha grande incentivadora, a mulher que torna minha vida uma aventura apaixonante, digna de ser vivida com grande intensidade. Rose, minha mulher, você é minha grande companheira nessa caminhada, alguém que compreende meus olhares, meus sorrisos, minhas lágrimas e meus silêncios. Eu só posso dizer uma coisa... Eu te amo!

APRESENTAÇÃO

igreja dos nossos dias tem vivenciado transformações significativas, tanto nos aspectos da cultura e nas formas litúrgicas quanto no entendimento de missão, os quais a têm afetado. Com o surgimento da pandemia em razão da doença conhecida por COVID-19, esses processos de mudança foram ainda mais acentuados, levando a igreja a repensar inclusive maneiras de como realizar seus cultos públicos, sua missão, seu papel social e tantas outras formas de expressão da igreja do Senhor. Posso afirmar que são poucas as pessoas que conseguem sintetizar os principais aspectos que formam a identidade da igreja de uma maneira que nos faça compreender o quanto a comunidade dos santos é importante para o mundo e como a igreja tem um papel fundamental na parceria com Deus em implementar seu reino. Meu amigo Marcos Mendes é essa pessoa. Seu olhar detalhado, desde as questões mais teóricas às mais práticas, faz da leitura de Incômodas Questões um livro necessário. Como ele mesmo afirma, sua intenção é refletir sobre duas questões importantes para a igreja dos nossos dias: o que é igreja? Qual é sua missão? Recomendo a você, caro leitor, a leitura deste preciso livro pelas mesmas duas questões que Marcos faz. Primeiro, precisamos ter uma clara ideia de quem é a Igreja e de qual é sua missão dentro do espectro maior da missão de Deus. Tenho certeza de que esta obra falará e inspirará muitos pastores, líderes, missionários e o corpo de Cristo expresso em vários lugares do nosso Brasil. Renildo Diniz Lopes Júnior Pastor da Igreja Batista Esperança – Natal/RN

PREFÁCIO

ste livro levanta duas questões fundamentais: O que é a igreja? E qual é a sua missão? Ambas podem parecer assuntos bem abrangentes. De fato, há muitos livros já escritos, de modo bem mais elaborado, sobre cada um desses assuntos. Então, o que este autor, Marcos Mendes, consegue contribuir para o assunto? Basicamente é a maneira como ele apresenta o assunto, especialmente por meio de uma série de perguntas que ele levanta ao longo do livro, que visam ao bom aproveitamento da leitura e “digestão” do papel do leitor e da sua igreja local na missão de Deus. Isso porque, em grande parte, é à missão da igreja que o autor está querendo que o leitor chegue. É para isso que ele levanta antes a questão da natureza, do papel e do funcionamento do corpo de Cristo dentro dos propósitos de Deus. Tudo isso o autor faz de modo sistemático e, assim, fácil de acompanhar. Seu enredo segue uma trajetória hermenêutica segura. Começa por uma discussão sobre o mundo em que vivemos, inclusive no campo da saúde em relação à pandemia pela COVID-19. Conhecendo bem esse nosso contexto maior, é mais fácil provocar uma boa discussão sobre como devemos bíblica e contextualmente visualizar a igreja. Sempre o autor enraíza a sua reflexão nas Escrituras, acreditando (certamente) que as Escrituras sempre são a nossa base sólida. Uma vez feito isso traz a reflexão sobre a missão da igreja… Nossa ação… Algo que faça diferença no mundo que nos cerca. Outro benefício desta leitura é o diálogo que o autor traz com alguns dos melhores peritos sobre o assunto, mas sem ser “pesado” demais, perdendo o leitor no mar de citações. A dose é boa e de qualidade. Finalmente, nos últimos capítulos Mendes nos deixa com uma série de desafios para: 1) avaliarmos melhor as tendências culturais do nosso mundo; 2) reconstruirmos nossa visão da igreja; 3) esclarecer a natureza e as prioridades da nossa missão como pessoas e como igreja; e 4) engajarmos

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nessa missão! Lógico, do jeito como ele escreve, levantando indagações certeiras, o sucesso desses objetivos do livro vai depender também da reflexão do leitor ao longo da sua leitura. Então, o desafio fica para você! Boa leitura. Pr. Timóteo Carriker

INTRODUÇÃO

erguntas são questões que têm o poder de traduzir um universo de sentimentos e produzir uma infinidade de reações nas pessoas. Elas podem falar de dúvidas; podem arguir o quanto sabemos acerca de um assunto; podem, ainda, dar início a profundas investigações. É um elemento da língua por demais poderoso, considerando suas causas, intenções e consequências. E por que pensar sobre perguntas? Porque, como podemos observar, elas incorporam todo um complexo de sensações e pensamentos que vão das formas mais simples aos mais intrincados problemas e mistérios, além de alimentarem ou materializarem nossa curiosidade quanto a determinado assunto. Quem não faz perguntas não entende, não experimenta, não aprende e, por conseguinte, não cresce. Quem nunca parou em uma noite estrelada e quedou-se a questionar sobre quantas estrelas poderiam existir, quão distante de nós estaria aquela estrela quase imperceptível, de brilho tão reduzido, ou ainda o que haveria depois das estrelas que conseguimos ver? Qual pai ou mãe não se viu diante de um par de olhos curiosos, inquirindo sobre como aquela pessoinha surgiu no mundo? Quantas perguntas banais não fazemos durante nosso dia para as pessoas com as quais convivemos? Quantos questionamentos levantamos ao ver os fatos que inundam os noticiários com dor e sofrimento, pela violência e pelos graves problemas que afetam o país? Enfim, poderíamos nos estender por páginas e páginas redigindo uma infindável lista de perguntas que surgem desde a infância e se estendem até o fim da vida, circundando nosso cotidiano e estimulando nossa imaginação. As perguntas são excelentes ferramentas na construção de nossa existência, de quem somos, pois nos ajudam a moldar nossas convicções e a duvidar

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delas, fazendo com que passemos de um estágio para outro, de fase em fase nesta jornada que chamamos de vida. Diante dessas reflexões, é bom lembrar que existem perguntas que se caracterizam por serem incômodas e, ao que nos parece, essas são questões que geralmente nos fazem mergulhar mais profundamente em nossas reflexões, mesmo que estejamos muito seguros sobre nossa posição acerca daquilo sobre o que somos inquiridos. Elas sempre nos apresentam argumentos ou aspectos que precisam ser analisados com maior vagar, que requerem um julgamento mais detido e fundamentado. Contudo, cremos que pensar sobre assuntos que transcendem a esfera humana ao mesmo tempo detém uma carga muito forte de imanência com relação ao contexto de nossa vida e provoca esses incômodos. São temas que mexem não só com nossa espiritualidade, mas que envolvem a integralidade de nosso ser e abordam pontos sensíveis da nossa cosmovisão. Logo, tocar em assuntos ligados à fé, à nossa relação com a eternidade, à existência de um Deus Criador e nossa interação com ele poderá levar — e certamente levará — a perguntas que irão às raízes de nossas crenças e tocarão nossas estruturas pessoais. O escopo deste trabalho não é se tornar mais um livro sobre Eclesiologia. Nosso objetivo é convidar você, leitor, a pensar conosco sobre duas destas incômodas questões, as quais acreditamos serem merecedoras de constante reflexão: O que é a igreja? Qual é a sua missão? O caráter dinâmico e contextual que está presente na igreja exige que, de tempos em tempos, estejamos respondendo esses questionamentos. Embora a igreja do Senhor seja una, formada e mantida pela graça e segundo o projeto divino, ela é composta por pessoas que vivem em um determinado lapso temporal histórico, então é compreensível que passe por mutações. Essas mutações não mexem necessariamente com a essência da igreja. Porém, são decorrentes da própria evolução dos tempos e da necessidade de adaptação às realidades que se desenham à sua volta à medida que o mundo se transforma. Em outras palavras, a igreja não se transforma como o mundo, mas para socorrer e atender ao mundo em sua miséria espiritual, provocada pelo pecado. Assim, partimos, já no primeiro capítulo, de uma análise sobre o mundo contemporâneo, principalmente após a manifestação da pandemia pela

Introdução

COVID-19, com os reflexos que trouxe para a vida das pessoas e sua relação com a igreja. No segundo capítulo, a proposta é discutir o que é a igreja, fugindo das respostas mais comuns que se procura dar à questão. Focamos na ekklēsia como comunidade e como povo de Deus, procurando analisar seu aspecto identitário, o qual está em crise diante de uma sociedade de consumo com pessoas tomadas de uma ética consumista, bem como a condição dos cristãos enquanto “filhos de Abraão” e “sacerdotes de Deus”. O terceiro capítulo volta-se a pensar sobre a missão da igreja, sua relação com a perspectiva da recapitulação defendida por Irineu e com a Missio Dei. Nesse capítulo, tratamos, ainda, a questão da vocação e do sacerdócio universal dos crentes, abordando o exercício sacerdotal dos cristãos e a missão integral da igreja. O quarto capítulo tem uma abordagem focada na relação entre a igreja, a cultura e o mundo; discute-se a contextualização do Evangelho com uma análise da relevância da linguagem em seu sentido pleno, a necessidade de conhecimento do ambiente no qual a igreja está inserida e a importância do desenvolvimento de uma boa hermenêutica contextual. Finalmente, o quinto capítulo consta de uma reflexão sobre o estabelecimento de uma igreja que atenda às demandas do presente e esteja preparada para enfrentar os desafios futuros, através do estabelecimento de uma nova consciência de missão e de um processo de renovação no pensamento e práticas dos cristãos. Não temos a pretensão de apresentar fórmulas, respostas ou soluções prontas para as incômodas questões que orientaram a escrita deste livro. O propósito, como evidenciamos, é que cada leitor — especialmente pastores e líderes —, ao ter acesso ao seu conteúdo, faça sua reflexão, junte-se a outros e discuta sobre a igreja de hoje. O que somos e como somos vistos pelas demais pessoas? Qual é a nossa missão e como deve ser cumprida na atualidade? Nós a temos cumprido com fidelidade? Como podemos e devemos nos relacionar com os contextos (cultural, social, econômico, político etc.) nos quais estamos mergulhados? Que igreja precisamos ser para alcançar relevância no mundo hodierno e exercer nossa tarefa como embaixada do Reino de Deus e seus mensageiros?

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Essas são algumas das muitas perguntas que deveríamos fazer a nós mesmos, alinhando nossa identidade e caráter às Escrituras Sagradas, mas sobretudo à soberana vontade de Deus. Nossa expectativa não é de que você, leitor, concorde com o que escrevemos. Contudo, como dissemos, que cada um que tenha acesso a esse conteúdo fique perturbado, instigado, estimulado por essas incômodas questões.

1 INCÔMODAS QUESTÕES

m nossa existência muitas coisas, pessoas e instituições com as quais nos habituamos ou convivemos não se mostravam alvo de maior reflexão. Tudo parecia ser natural e, normalmente, acreditávamos que se algo era daquela forma ou funcionava daquele jeito, é porque, em essência, sempre fora assim, e que a história seria suficiente para justificar alguma mudança surgida ao longo do tempo. No entanto, tudo aquilo que não era pensado e discutido um dia passou ou passará a ser alvo de indagações. Esses questionamentos acontecem porque, de alguma forma, algo, um elemento qualquer, seja humano ou não, funciona como um gatilho que nos desperta para o fato de que precisamos refletir e compreender o que aquilo significa para nós, que importância atribuímos e que prioridades ocupa em nossa vida. E, mais do que isso, porque aquilo existe, qual seu papel na história e, diante do contexto à volta, que futuro lhe estaria reservado. O cenário contemporâneo não é dos mais animadores, como descreveu John Stott, pouco mais de uma década atrás: No início do século 21, somos confrontados com uma enorme gama de desafios, os quais nunca poderíamos ter imaginado há cinquenta anos. O ritmo das mudanças tecnológicas confirma a inteligência da humanidade, mas a persistência da pobreza mundial continua sendo um desafio ao nosso senso de justiça. Cada vez mais somos interdependentes globalmente e as oportunidades de negócios são abundantes, no entanto ricos e pobres nunca estiveram tão distantes. Somos

Incômodas questões tratados como consumidores e não como cidadãos, em uma sociedade materialista de grande sofisticação, mas de pouco propósito.1

Esse não tão novo tempo, o pós-modernismo2, despe-se da objetividade científica e da autonomia da razão humana para investir-se de um caráter subjetivo. Stott esclarece que:

O compromisso do modernismo é com a busca da verdade, crendo que é possível chegar à certeza; o compromisso do pós-modernismo é com o pluralismo, afirmando a igual validade de todas as ideologias e a tolerância como a virtude suprema. O modernismo declara a inevitabilidade do progresso social; o pós-modernismo estoura a bolha dos sonhos utópicos. O modernismo exalta o individualismo autocentrado, mas o pós-modernismo busca estar junto da comunidade. O modernismo é extremamente autoconfiante, muitas vezes culpado daquela ambição arrogante a que os antigos gregos chamavam hubris, enquanto o pós-modernismo é humilde o bastante para questionar qualquer coisa, pois carece de confiança em tudo.3

Assim, invariavelmente, não conseguimos administrar e manter de forma equilibrada e tranquila a agenda de relações, de atividades cotidianas e das variações dos conceitos fundamentais que nos dão um lastro identitário, cada vez mais efêmeros. Essa agitação é tão intensa, o ambiente à nossa volta é tão conturbado e nos vemos tão habituados a estar afligidos por um sem-número de questões nas diversas áreas de nossa vida que não encontramos tempo para pensar: “como estamos vivendo e preparando nosso caminho para o futuro?” Ressaltamos que o termo “futuro” nessa pergunta não está preso à questão do conforto humano, a estar casado ou não, a ter filhos ou não, aos bens materiais, à saúde física, ao sucesso profissional ou à posição social. Ele ganha um sentido mais amplo que meramente o dia de amanhã: trata-se de eternidade, de um tempo que transcende a vida na Terra. 1 2

STOTT, 2014, p. 23. Embora para muitos autores a pós-modernidade tenha iniciado após a Segunda Guerra Mundial, com a terceira Revolução Industrial, e outros apontem a década de 1960 e as inovações tecnológicas da era digital, Ricardo Quadros Gouvêa, em seu livro Esboços de teologia filosófica, defende que sua semente e nascedouro estariam na segunda metade do século 18, a partir da filosofia de Imannuel Kant. STOTT, 2013, p. 13.

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Falar de eternidade leva-nos a recair em questões que, mesmo alguns não querendo admitir, atravessam os caminhos da filosofia e adentram o patamar das reflexões teológicas, onde nos deparamos com a discussão sobre o relacionamento entre o divino e o humano, bem como os questionamentos acerca da vida após a morte física, sua existência e relação com a vida terrena. Há de se considerar que, apesar do perceptível número de pessoas que se declaram ateias, sem religião ou agnósticas (16,4% da população mundial), ao contrário do que se pensa, o mundo não está mais secularizado do que em épocas passadas e apresenta uma tendência a se tornar mais religioso, conforme um estudo feito pelo Pew Research Center4. Então, é coerente afirmar que a maioria das pessoas no mundo professa algum tipo de religião e acredita em uma existência além vida. Deve-se levar em conta, ainda, que essa existência mantém, em diversos aspectos, uma relação direta com aquilo que fazemos ou como vivemos enquanto na Terra. Essa relação, em muitos casos, aos olhos dos crentes (cristãos ou não), está explicada e regida por ensinamentos doutrinários, princípios e normas que emanam e são interpretados por meio de uma estrutura institucional a qual chamamos de igreja, seja ela formal ou não. Portanto, é interessante pensar esse organismo em seu conceito, razão de ser e funções contemporâneas. Entendemos que, como cristãos, sem nos importarmos se somos protestantes, reformados, evangélicos, pentecostais ou não, é preciso pensar a igreja e sobre a igreja, a exemplo do que ocorreu durante e após a Reforma Protestante, através de Lutero, Calvino, Zwínglio, Melanchton, Müntzer, Huss, Wyclif, Armínio e outros, a partir do pressuposto de sua relevância quanto às questões ético-morais presentes em nosso dia a dia e que, dessa feita, são transversais em nosso comportamento e ações. A igreja é parte crucial na forma como nossas relações transcorrem, quer no sentido vertical, quer no sentido horizontal, isto é, ela meio que esboça, ou mesmo define, nossa conduta diante do subjetivo, do etéreo, do espiritual, em resumo, do metafísico, e, por outra vertente, empresta-nos um senso de pertença e busca devolver-nos a perspectiva do comunitário, do fraterno e de uma solidariedade que se perde no egoísmo e egocentrismo pós-modernos. Atrevo-me a dizer que ela é a grande guardiã de nossa cosmovisão, conforme o conceito de Hiebert, que a apresenta como “pressupostos fundamentais 4

Cf. KELLER, 2018, p. 22.

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cognitivos, afetivos e avaliadores que um grupo de pessoas adota sobre a natureza das coisas e que utiliza para organizar sua vida”5, com o que corrobora Nash, quando afirma que “cosmovisão, portanto, é um esquema conceitual pelo qual, consciente ou inconscientemente, aplicamos ou adequamos todas as coisas em que cremos, e interpretamos e julgamos a realidade”6. Essas considerações introdutórias nos permitem observar como a igreja se insere dentre o rol de conceitos que precisamos rever, sendo que um dos principais motivos para essa reflexão é sua ligação com a questão da eternidade, em especial na atualidade, quando vivemos a terrível experiência da pandemia pela COVID-197. Então, entendemos como necessária uma revisão do quadro anterior à pandemia e posterior ao seu advento.

ANTES DE WUHAN 8 O cenário sociocultural anterior à pandemia caracterizava-se por inegável fluidez e transitoriedade em seus conceitos e elementos éticos mais essenciais, gestando um estado de perplexidade e indiscutível desnorteamento. Vivíamos — e podemos dizer que tornamos a viver — uma época de constantes mudanças, as quais, desde então, provocaram fortes abalos e uma absurda insegurança na forma de pensar e crer da humanidade nesta geração. Como consequência, “o ser humano contemporâneo está fragmentado em suas convicções, inseguro quanto ao seu futuro, ideologicamente decepcionado, órfão dos valores da religião”9. Este é um mundo construído sobre ideias de que “tempo é dinheiro”, que não podemos “perder o bonde da história”, que temos que ser competentes, nos atualizar e aprimorar a cada minuto, sob o medo de nos tornarmos inapropriados, obsoletos e, por conseguinte, descartáveis10. 5 6 7 8 9 10

HIEBERT, 2016, p. 19. NASH, 2012, p. 25. Também conhecida como “pandemia do coronavírus”, trata-se de uma doença respiratória aguda grave causada pelo vírus designado por SARS-CoV-2. Cidade chinesa, capital da província de Hubei, onde foi notificado o primeiro caso da doença que originou a pandemia pela COVID-19. AYRES, 1998, p. 6. BAUMAN, 2005; 2011.

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Fomos submetidos a um processo intenso de compressão espaço-tempo, decorrente do crescente desenvolvimento científico-tecnológico, sobretudo pela evolução dos meios de comunicação e transporte, o que implementou condições cada vez mais favoráveis ao fenômeno da globalização. Assim, percebia-se a geração contínua de novas relações nas quais pequenos fatos ocorridos em determinado lugar poderiam provocar reações de ordem mundial, afetando a vida das pessoas em pontos muitas vezes diametralmente opostos do globo. Isso produziu um estado de complexidade inimaginável na vida social e, consequentemente, nossa rede de relacionamentos — cada vez mais virtualizada — ao mesmo tempo que nos aproximou de outras realidades, afastou-nos de um contato mais pessoal com outros seres humanos. Uma avalanche de informações que alcançavam especialmente aqueles que vivem em áreas mais urbanizadas provocou uma vida de alta frequência, isto é, tremendamente corrida e cheia de compromissos, sem muito tempo para absorver com mais vagar o que acontecia à volta e refletir sobre o que estava acontecendo. Nessa incalculável “Babel” de discursos e visões que construímos, fomos, de forma paralela, construídos por valores por vezes conflituosos, efêmeros e que quase sempre não nos traduziam a devida segurança. No mundo pré-Wuhan, caracterizado por sua diversidade e correspondente complexidade, refletir acerca de ideias como religião (especificamente a cristã), igreja (em seu conceito e missão) e evangelização (enquanto proclamação do Evangelho) mostrava-se um desafio. Esse desafio impôs-se cada vez mais hercúleo à medida que vislumbramos a vastidão do universo das probabilidades, o que nos ofereceu — e ainda oferece — a tentação de enveredar por incontáveis caminhos, especialmente aqueles que se mostram mais confortáveis ao nosso ser. Muita gente passou a correr atrás de uma igreja perfeita, na qual todas as suas necessidades espirituais — e materiais — fossem satisfeitas, bastando para isso que nos afiliássemos e entregássemos nossos dízimos. Em lugar das pessoas se adequarem ao Evangelho e à igreja, o que vemos foi um movimento crescente (que perdura) de gente querendo uma igreja que seja perto de sua casa, tenha uma excelente mensagem (desde que não confronte nossos “pecadinhos de estimação”), um louvor agradável, com cultos de curta duração e que atenda às necessidades dos nossos filhos, ou melhor, dos pais que não querem se incomodar com filhos na ida dominical à igreja,

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a exemplo dos ambientes que possuem um playground para os pequenos, enquanto os adultos se divertem e cuidam dos seus interesses. Parece que começou a haver uma confusão entre os conceitos de clube e igreja. Thomas Rainer, comentando sobre a situação da igreja nos Estados Unidos, afirma que: [...] as congregações nos Estados Unidos estão enfraquecidas porque muitos membros perderam o entendimento bíblico acerca do que significa fazer parte do Corpo de Cristo. Nós nos tornamos membros de nossas igrejas esperando que as pessoas nos sirvam, nos alimentem e cuidem de nós. Não gostamos dos hipócritas da igreja, mas deixamos de enxergar as nossas próprias hipocrisias. Deus não nos deu igrejas locais para que estas se tornem clubes de campo nas quais ser membro significa ter privilégios e regalias. Ele nos colocou nas igrejas para servir, cuidar dos outros, orar pelos líderes, aprender, ensinar, dar e, em alguns casos, morrer pelo Evangelho.11

Contudo, possivelmente isso seja uma mera consequência de algo muito pior, um fenômeno que poderíamos chamar — e alguns têm chamado — de “mercantilização da fé”. Trata-se de uma mentalidade que Zabatiero12 explicou como “totalização da dominância do mercado”, ou seja, só é verdade aquilo que produz lucro, que se funda na ideia de concorrência entre os indivíduos, como na economia neoliberal. Esse raciocínio fica bem claro quando atentamos para o fato de levas de pastores e líderes evangélicos, inclusive de renome, focarem sua atenção meramente no crescimento numérico de suas igrejas, em uma teologia que tem como centro de seu discurso a prosperidade material e que faz com que outras denominações sejam vistas como concorrentes, como no mercado financeiro. Assim, dízimos e ofertas deixam de ser atos de reconhecimento, de generosidade desinteressada e, principalmente, de gratidão ao Senhor para tornarem-se algo semelhante à mensalidade de um clube ou, ainda, à negociação de ações em uma bolsa de valores. Quanto mais contribuímos, mais ações adquirimos e, consequentemente, somos dotados de mais prestígio e poder, o que irá influir na identidade dos cristãos e da igreja, algo que afetará a comunhão, o que veremos mais à frente. 11 12

RAINER, 2018, p. 18. ZABATIERO, 2020.

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Aliado a essa realidade, a igreja, o templo, a denominação passaram a expressar não mais um conjunto que representa uma posição teológica, um entendimento ou percepção sobre Deus e o seu reino, a perspectiva de ser um povo chamado para servir. O que se percebe é que esses elementos se tornaram símbolos de status, objetos de negociação política e canais para se buscar aquilo que é de nosso interesse. Embora essas afirmações pareçam duras e radicais, acreditamos que os fatos que relacionamos nos parágrafos anteriores provocaram uma situação que nos leva a querer pensar e moldar uma quantidade inominável de “formatos” de igreja. Obviamente não podemos desconsiderar que a igreja pode apresentar múltiplas vertentes de adequação cultural, visando a alcançar a maior quantidade possível de pessoas, com toda a sua diversidade étnica, social, cultural etc. Todavia, não se pode querer formatá-la de maneira a atender àquilo que acreditamos que ela deve ser para saciar nossos desejos. Isso nos coloca diante do mesmo desejo diabólico que afetou o primeiro casal: ser igual a Deus. Diante dos desafios culturais contemporâneos e das ameaças que pairam sobre a sobrevivência da humanidade, muitos cristãos passaram a se comportar e a agir como os homens em Babel, alimentando uma cultura secularizada que tem “à disposição enorme poder científico e tecnológico”13, o que, aliado à economia e à política, tem conduzido a uma cultura religiosa, no entanto, ausente de um Deus único e soberano. O que queremos dizer é que, na busca de recuperar o “paraíso perdido” e achar a saída para seus problemas, os homens — incluindo uma grande quantidade de cristãos — acreditam que podem resolver as questões que os afligem por sua própria força. Quando percebem que não o conseguirão, para manter a aparência de religiosos e não terem que assumir a responsabilidade de seus atos, produzem ídolos, os quais, acreditam, têm o poder de solucionar esses dilemas. Essa é uma cultura na qual a cruz é descartada, até mesmo dentro da igreja. Por que ela é descartada? Porque, como explica John Stott: A cruz continua sendo pedra de tropeço para aqueles que, como Nietzsche, adoram o poder. A cruz é tropeço para todos os que confiam no poder humano e em sua própria capacidade para se salvar.

SCHUURMAN, 2016, p. 50.

Incômodas questões Como os judeus contemporâneos de Paulo, muitos de nós tratamos de nos amparar em nossa própria justiça. Muitas pessoas creem que Deus está obrigado por suas boas obras.14

Precisamos fugir à cilada de acreditar que somos “super-heróis”, dotados de superpoderes e que têm solução para tudo, a exemplo daqueles que estão na mídia e nos cinemas. Somos humanos e, como tal, frágeis, vacilantes e incapazes de solucionar todas as demandas que nos afligem. Precisamos desacreditar da proposta do “super-homem” (do alemão übermensch) elaborada por Nietzsche, que o considerava o modelo ideal para elevar não a humanidade como um todo, porém um grupo de indivíduos mais dotados e mais fortes. Na visão do filósofo, o super-homem seria um indivíduo superior, acima da mediocridade, cuja existência era consequência de seu esforço e de sua educação em lugar de ser um processo de seleção natural. Para a perspectiva nietzschiana, esse grupo de super-homens não deveria se unir a pessoas que não fossem superiores, contudo, unicamente a outros que lhe fossem semelhantes, buscando permanente melhoramento na espécie. Esse pensamento é alinhado à teoria eugênica15, que defende uma raça superior, sem considerar que somos todos pecadores, dependentes e necessitados da graça divina. Precisamos, enfim, resistir à tentação de moldar nossos próprios modelos, não só de igreja, mas de existência, e tentar “soprar em nossas próprias narinas um fôlego de vida”. O melhor é manter-se ancorado nas Escrituras. Ainda que para muitos a Bíblia seja apenas um livro religioso, ou a base do paradigma judaico-cristão para se viver no mundo, consideraremos que ela é e contém a Palavra de Deus, o conjunto dos princípios e valores que regem a criação e nos apresenta o Criador. A partir do primeiro semestre de 2020, o mundo viu-se imerso em um oceano de aflição e dúvida com o advento da pandemia pela COVID-19. 14 15

STOTT, 2018, p. 33. Eugenia é um termo que define o estudo de elementos que, debaixo de controle social, podem melhorar ou piorar as qualidades raciais, quer no aspecto físico, quer no aspecto mental, das futuras gerações. A eugenia, embora seja um assunto já discutido desde a Antiguidade, modernamente surgiu pelo pensamento de Francis Galton, antropólogo, matemático e estatístico inglês, sob a influência do trabalho de seu primo, Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução. A eugenia influenciou terrivelmente o pensamento nazista em sua crença quanto a uma raça superior (a ariana), levando ao holocausto, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial.

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TEMPOS DIFÍCEIS, TEMPO PARA PENSAR Com a pandemia pela COVID-19, o mundo em geral, com seus sistemas e habitantes, passou a experimentar sentimentos de profunda estranheza, sendo tomado de um misto de incertezas e insegurança, o que fomentou um terreno fértil para construções intelectuais de caráter social, político, cultural, filosófico e religioso dos mais variados matizes. Algumas dessas construções são fantasiosas, catastróficas, apocalípticas, enquanto outras mostram-se mais comedidas, menos espetaculares e até mesmo bastante equilibradas. Todavia, a verdade é que ninguém sabe afirmar ao certo o caminho que iremos trilhar a partir do esperado fim da pandemia da COVID-19, enquanto uma vacina não eliminar o risco de contágio e propagação do vírus para a maior parte da população do planeta. Desde o momento em que rompeu as fronteiras chinesas, a pandemia assumiu a posição de “pauta do dia”, desde os comunicados oficiais até os noticiários e informativos de toda espécie de mídia. O mundo entrou em alerta pelo número de infectados e mortos, e medidas como lockdown16, distanciamento social e uma série de ações sanitárias, profiláticas e de atendimento aos atingidos pela doença passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas e instituições. O planeta, isolado em casas e apartamentos, viu os universos do trabalho e da educação serem “virtualizados” com intensidade e velocidade impressionantes, o que provocou consideráveis consequências para a sociedade em geral. Embora essa seja uma condição irreversível, especialmente nos países mais desenvolvidos, nas sociedades com maiores índices de desigualdade social, nas quais os segmentos menos favorecidos economicamente são privados de maior acesso ao mundo digital, muitos viram-se com a oportunidade de trabalhar no sistema de home office, inclusive com a derrubada do mito da perda de produtividade. Por outro lado, no Brasil, por exemplo, milhões foram alcançados pelo desemprego, suspensões de contrato e perdas econômico-financeiras. No setor da educação não foi diferente. Nos segmentos sociais onde o acesso aos equipamentos e recursos digitais tornou possível a frequência 16

Expressão na língua inglesa que significa confinamento ou fechamento total. Consiste no método mais radical imposto por governos visando ao cumprimento do período de distanciamento social, implicando medidas como o fechamento de uma região, a interdição de vias, a proibição de deslocamentos e viagens não essenciais, sendo permitido unicamente o funcionamento de serviços considerados essenciais.

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às aulas, os alunos, independentemente de julgamentos quanto ao nível e validade dos meios e processos empregados, tiveram a oportunidade de dar continuidade aos seus estudos. Contudo, outros segmentos desprovidos desse acesso viram crianças, adolescente, jovens e adultos condenados ao atraso em suas atividades educacionais e até alijados do processo didático-pedagógico. Porém, a questão da desigualdade arrastou consigo discussões intensas em outras áreas, como a política. No Brasil, a polarização entre “progressistas” e “liberais” ganhou tremenda amplitude, provocando uma radicalização dos argumentos e diálogos nas mais distintas esferas, levando à exacerbação de movimentos ideológicos e aumento de fissuras sociais, o que em nada contribui para que se encontre uma saída equilibrada para os problemas nacionais, fruto de reflexão e discussões orientadas e pacíficas. Assim, além de graves desencontros entre as forças políticas do país, esse tipo de conduta só tem servido para o desenvolvimento de uma politicagem corrompida e barata, que atende aos interesses de uns poucos e não produz o bem para o povo em geral. No âmbito individual e familiar, se por um lado houve um tempo maior para o convívio nos lares, oportunizando que as pessoas tivessem uma reaproximação ou estreitamento de laços afetivos, por outro, ao menos inicialmente, a pandemia levou alguns a situações críticas dentro de suas próprias casas. Muitos casais, que já estavam com seus relacionamentos esgarçados, tiveram que forçosamente conviver e administrar seu estado de conflito; pais que não sabiam mais o que era criar e educar seus próprios filhos viram-se matriculados, pelo isolamento doméstico, em uma escola, na qual, nos intervalos do home office, foram levados a entender o que é realmente paternidade e maternidade, o valor dessa relação com seus filhos e como manter a sanidade e a salubridade da vida familiar. Aqueles que não conseguiram encontrar soluções visando a equilibrar esses relacionamentos e, desta feita, constituir um ambiente no qual o bem comum se tornasse um bem maior viram-se arrastados para situações extremas, como divórcios, violência doméstica e outros até piores. E o que dizer de todas as pessoas que em razão de seu exercício profissional, como no caso dos servidores da saúde, segurança, rodoviários, entre outros que não tinham como parar suas atividades, viram-se cotidianamente expostas ao risco de serem infectadas pelo vírus? Muitos perderam

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a vida e outros foram afetados de alguma forma pelo perigo de contágio e pela tensão decorrente, sem maiores alternativas do que se colocarem na posição de possíveis vítimas a serem imoladas para que outros pudessem continuar vivendo. Enfim, foi perceptível o adoecimento psicológico que afetou diversas pessoas, decorrente da solidão, da escassez do convívio com grupos que integravam seus cotidianos e da prática de atividades corriqueiras, desde as mais simples, como dar uma volta com o cachorro pelas ruas do bairro, até as mais complexas, como o enfrentamento do trânsito urbano, as reuniões de trabalho, entre outras. Inicialmente era até interessante a descoberta de um mundo digital, de encontros online, emojis e outros atrativos que o Instagram, o WhatsApp, o Snapchat, o Facebook etc. podem oferecer. Entretanto, o ser humano precisa do toque, do “olho no olho”, de experimentar a presença do outro. Isso nos faz “desensimesmar”, sair um pouco do quarto interior no qual muitas vezes nos trancamos, para que, assim, possamos nos tornar verdadeiramente humanos. Só o contato real com o outro tem este poder, de expressar nossa humanidade e de quebrar, ainda que levemente, o individualismo que nos assedia diariamente. É possível que a pandemia, apesar de todos os males que provocou, tenha sido um fenômeno útil para nos dar um choque, nos provocar um despertamento sobre o que estava acontecendo no mundo e como estávamos vivendo. Essa é uma análise necessária para podermos compreender o que tem sido a pandemia da COVID-19, além daquilo que os noticiários, a ciência, os economistas e os próprios teólogos nos dizem. Sem cogitar teorias conspiratórias e sem comentar posicionamentos político-ideológicos de quaisquer matizes, procuramos ver nesse tempo uma espécie de pausa para que especificamente nós, cristãos, pudéssemos olhar para nossa caminhada, pensar sobre nosso cotidiano e buscar uma resposta para uma questão que acredito vir do próprio Deus: “que tipo de cristianismo temos vivido?” Essa pergunta envolve tantas outras e vai muito além das banalidades do dia a dia. Ela nos convida à reflexão sobre a soberania divina e principalmente com relação a aspectos cruciais de nossa vida e ao nosso testemunho como discípulos de Jesus de Nazaré; mexe com o que alcança desde nosso estado espiritual, nossa comunhão com o Senhor, até a forma como temos expressado nossa fé através dos relacionamentos que mantemos em casa, na

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escola, no trabalho, nos espaços públicos de convivência, com toda a sorte de pessoas. Trata-se de rever o filme de nossa existência mais recente, com a disposição de aprender mais sobre nós mesmos, de corrigir rumos, de discutir diferenças e chegar a um consenso de paz; enfim, de ter uma mentalidade mais humilde e aberta à graça divina. Ao fazer essa leitura, é impreterível olhar para a relação que mantemos com a igreja, tomando como ponto de partida que conceito temos sobre ela, o que representa em nossa vida e espiritualidade. Essa revisão conceitual, existencial e funcional acerca da ekklēsia17 nos conduz a questionamentos que podem ser bastante incômodos, pois nos constrangem a sair de nossa “zona de conforto” e a colocar a igreja e, consequentemente, nossa fé na berlinda18. Mesmo porque algumas dessas perguntas, se formos sinceros ao respondê-las, irão nos surpreender e até contrariar aquilo que aprendemos ou pensamos ao longo de anos. É possível, ainda, que fiquemos sem uma resposta satisfatória para várias dessas indagações.

EM BUSCA DE RESPOSTAS Nesses tempos de pandemia em que, por exemplo, a relação que mantemos com a igreja passa por um processo de virtualização muito forte, desprovido do abraço, do ósculo santo, do aperto de mão, da adoração comunitária, somos colocados em xeque quanto à comunhão. Somos confrontados se o que ansiamos é o sentimento fluente da presença divina no outro, o fazer parte do corpo, sendo um em Cristo com nossos irmãos e usando de nossa vocação, dos dons que recebemos pela graça para abençoar vidas, ou se o que nos importa é o mero compromisso religioso dominical, o bate-papo com 17

Termo grego empregado para designar a principal assembleia da democracia em Atenas, na Antiguidade, criada por Sólon em 594 a.C. Etimologicamente, a palavra é composta por dois radicais gregos: ek, que significa “para fora”, e klesia, que significa “chamados”. O termo foi adotado pelos autores da Septuaginta (a tradução grega da Bíblia Hebraica) como tradução do termo hebraico q(e)hal Yahveh, o qual era empregado entre os judeus para designar a assembleia do “povo do deserto” reunida por Moisés. Berlinda é uma palavra proveniente do italiano berlina. No português de Portugal, o termo é sinônimo de picota, um poste de madeira no qual eram expostas, em sua parte superior, as cabeças de condenados ou, quando guarnecido de argolas, infratores da lei eram expostos publicamente à pena de açoites. Estar na berlinda teria o sentido de alguém ou algo ser objeto de comentários, atenção ou curiosidade das pessoas, como em um jogo social em que cada jogador se senta, um após o outro, no meio de seus companheiros para ouvir destes suas opiniões acerca dele e tentar adivinhar quem as proferiu.

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aqueles que nos são mais próximos, a ostentação do cargo sem maior envolvimento com o trabalho espiritual. Vamos à igreja para “buscar nossa bênção” ou para servir? Estamos lá pelos amigos dos programas de lazer ou pelos irmãos com quem choramos em suas lutas e sorrimos nos momentos de júbilo? Entramos por suas portas enquanto instituição religiosa da qual fazemos parte ou porque nos reunimos como povo de Deus para adorá-Lo? Que lugar a igreja ocupa em nossa vida e como a enxergamos diante do mundo? Portanto, vemos duas questões básicas para nossos dias, as quais se mostram bastante incômodas para muita gente: o que é a igreja? Qual é sua função ou missão no mundo contemporâneo? Esses são dois questionamentos que abrem, como dissemos, um vasto leque de outras perguntas e que, defendemos, precisam urgentemente emergir na reflexão de pastores, líderes, teólogos, missiólogos, estudantes de Teologia, pensadores cristãos, enfim, dos crentes em geral, diante da diversidade de modelos de fé e comunidades possíveis de serem encontradas na sociedade e que poderão surgir nesses tempos. O escopo dessas inquirições é trazer à tona a essência da igreja de Jesus Cristo, da mensagem e missão que lhe foram confiadas, quando tantos têm se preocupado unicamente com a forma. Em outras palavras, poder-se-ia dizer que a estética em muitas comunidades ditas evangélicas ganha muito mais relevância do que o conteúdo e o fruto de suas palavras e obras. É a técnica e a neurolinguística substituindo o talento natural e o kharisma; trata-se do discurso recheado de jargões ilusórios e pervertido por uma falsa esperança, substituindo a didaskalia; é o individualismo egoístico e comodista ocupando lugar da diakonia compassiva e amorosa; o autocentrismo envolto na conveniência pessoal, sufocando a martyria; a verdadeira adoração perdendo espaço para o emocionalismo provocado por luzes, palavras de ordem e gritos. Precisamos de respostas. Precisamos satisfazer esse anseio por referências mais consistentes, paradigmas alinhados a um projeto transcendente à nossa humanidade, pois a sociedade contemporânea nasceu e foi embalada no berço da desilusão com a fracassada proposta da modernidade, que previa a autossuficiência humana por meio de suas revoluções filosófica e industrial. Todavia, como assevera Throup:

Incômodas questões As suas amargas críticas à igreja do estado provocaram, ao longo do tempo, uma mudança na consciência coletiva, achando-a autoritária em vez da autoridade que antes lhe atribuíam. Para a teoria pós-moderna, que herdou a hostilidade moderna no tocante à religião institucional, a nova demarcação da religião seria em termos da preferência pessoal: a religião passa a ser uma questão privada segundo o gosto do indivíduo, e nada de verdade pública — uma revolução no jeito de pensar sobre o lado religioso da vida19. Agora ninguém teria o direito de afirmar possuir “a verdade”, pelo contrário, a religião deveria ser domesticada e redesenhada para que não viesse a ser proclamada nem discutida no espaço público.20

Este é um mundo que valoriza a espiritualidade; entretanto, é uma espiritualidade privada, não raramente sem Deus, criando seus próprios ídolos21. Por isso, avança em muito maior escala para a idolatria do que para a secularização, arrastando a humanidade, com seus relativismos, incertezas, conceitos e princípios duvidosos, a um afastamento de seu Criador e Senhor, o único e verdadeiro Deus. Na verdade, como discorre Newbigin ao falar do “mito da sociedade secular”: [...] os seres humanos não podem viver na atmosfera rarefeita da pura racionalidade como o mundo pós-Iluminista entendia a racionalidade. Há necessidades do espírito humano que simplesmente devem ser supridas. Parece que aqueles organismos religiosos que tentaram incorporar o máximo possível do racionalismo do Iluminismo são aqueles que estão em declínio, e que aqueles que mantiveram uma forte ênfase na dimensão sobrenatural da religião prosperaram.22

Portanto, a sociedade atual é dotada de uma espiritualidade que requer dos homens essa “religação” com algo que transcenda nossa racionalidade, fazendo com que diversos conceitos presentes em sua existência possam se sinonimizar à religião. Vale esclarecer que não estamos tratando de cristianismo, judaísmo, islamismo ou quaisquer outras formas tradicionais de expressão de fé que as pessoas adotem, porém, estamos nos referindo ao 19 20 21 22

Throup faz referência ao paper “Mission in the face of modernity”, de Os Guiness, em EDEN, Martyn; WELLS, David. The gospel in the modern world. (Illinois: IVP, 1991.) THROUP, 2011, p. 43. E.g. o sexo, o consumo, a fama etc. NEWBIGIN, 2016, p. 274.

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caráter experiencial sacralizado que emprestamos a setores de nossa vida, os quais nos fornecem significado, dão sentido, isolada ou conjuntamente com outros elementos existenciais, às nossas palavras e atitudes, chegando a promover o surgimento de uma persona com a qual nos identificamos filosófica e/ou psicologicamente. Magalhães expressa que “a religião é a experiência fundamental que constitui a rede de significados mais antiga, confundindo-se com o próprio tornar-se humano”23. Portella evidencia que “a experiência do sagrado ganha muitas formas”, existindo ideias, formas, rituais, sentimentos e maneiras de lidar com o sagrado24. Dessa feita, podemos, então, converter áreas de nossa existência em um locus spiritualis com seus ídolos. Esses ídolos ocupam um espaço em nosso coração que deveria ser ocupado pelo Senhor. Keller comenta sobre as imagens que os homens evocam na contemporaneidade ao terem que lidar com a palavra “idolatria”. Segundo ele, essas imagens correspondem a “primitivos curvando-se diante de estátuas”25 e ao estado do mundo greco-romano nos tempos do apóstolo Paulo em Atenas, conforme o relato de Atos dos Apóstolos, especialmente em seu capítulo 17. Entretanto, com tremenda precisão, diagnostica que: Nossa sociedade atual não é fundamentalmente diferente dessas antigas culturas. Cada uma delas é dominada por seu próprio conjunto de ídolos. Cada uma tem seu “sacerdócio”, seus totens e rituais. Cada uma delas tem seus templos — sejam eles torres empresariais, spas, academias, estúdios ou estádios — onde sacrifícios têm de ser feitos para que as bênçãos da boa vida sejam obtidas e os desastres sejam evitados. Quais são os deuses da beleza, do poder, dinheiro, e do sucesso, se não os que assumiram proporções míticas em nossa vida individual e em nossa sociedade?26

É possível que este seja o grande fomento para o desespero decorrente da pandemia: o fechamento dos “templos” onde muitos realizavam seus cultos a ídolos que não se restringem ao amor romântico, à prosperidade financeira 23 24 25 26

MAGALHÃES, 2011, p. 26. PORTELLA, 2011, p. 50. KELLER, 2016, p. 10. Idem, p. 11.

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ou ao sucesso político, contudo se estendem a outros “deuses”, como o lucro, a pátria, a raça, a família, a religião e a própria igreja27. A partir do princípio de que “as experiências religiosas apontam para um transcendente, para uma esfera fora do cotidiano e do humano, que costuma ser identificado com seres supra-humanos”28, percebemos com maior clareza o surgimento do ídolo como uma materialização dessa transcendência, seja de forma personalista, isto é, um ou mais deuses pessoais, bem como de forma monista, na qual o deus é impessoal, contudo, conduz à experiência do sagrado por meio de um princípio fundamental único que rege o mundo, ou ainda “a própria ‘essência’ humana ou da natureza como princípio divino/sagrado”29. Diante dessas considerações, concluímos que não há como pensar na transformação dessa sociedade centrada em idolatria, entediada consigo mesma, ansiosa por constantes e renovados prazeres e assumidamente fugaz em sua estética e conceitos sem que, em primeiro lugar, encontremos respostas adequadas que nos tragam de forma bíblica e sólida a convicção acerca do que é a igreja e qual é sua missão no mundo. Não se concebe arguir para si o papel de agência do Reino de Deus ou assumir um papel profético e denunciar a injustiça, a desigualdade, a corrupção e as heresias políticas sem que tenhamos verdadeiro conhecimento sobre esse exército que avança — ou deveria avançar — contra as portas do inferno e a quem cabe ser coluna e firmeza da verdade. Como tem marchado? Como deve marchar? Qual é seu objetivo? Em que acredita? Todavia, para encontrar o que estamos chamando de “respostas adequadas”, é essencial usar da necessária isenção, fugindo de tautologias e de significados particulares que a igreja possa ter para nós, focando nossos interesses pessoais, bem como dos achismos, conceitos e preconceitos denominacionais, além de outros estabelecidos ao longo do tempo por interpretações equivocadas da revelação divina contida na Bíblia Sagrada e na própria criação. Como afirma Dewey Mulholland: “Esta crise é de identidade: o que é a igreja? É possível que tenhamos dedicado tanto esforço em agir como igreja que não sabemos mais o que é a igreja. A procura da sua identidade exige entendimento dos propósitos de Deus em relação às igrejas e ao mundo. 27 28 29

Cf. KELLER, op. cit., cap. 6. PORTELLA, op. cit., p. 54. Idem, p. 55.

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Temos de saber qual é a sua natureza antes de planejar sua missão no mundo contemporâneo”30. Devemos, portanto, lembrar que ao responder essas perguntas, delineamos traços importantes de nosso senso de identidade e propósito. Nosso conceito de igreja incorpora pontos relevantes de nossa busca ou ideal de espiritualidade, bem como nossa visão de futuro. Por outro lado, evidencia, mesmo que de forma sutil, nossa compreensão sobre nossa razão de viver e como vamos lidar com nossas habilidades individuais, nossa vocação e como vamos desenvolver nossos relacionamentos. Dessa feita, ocupar-nos-emos nos próximos capítulos com a construção do conceito de igreja e da reflexão sobre sua missão fundamental.

MULHOLLAND, 2004, p. 15.

Incômodas

~ questoes para a Igreja Brasileira hoje

A publicação do livro “Incômodas Questões” chega junto com o segundo ano da pandemia COVID-19. A pandemia continua e até aqui tem produzido mais perguntas que respostas em torno da fragilidade e da resiliência das nações e seus povos. Perguntas relacionadas ao propósito e à praticidade da religião, e ao Cristianismo em particular, vêm à luz em momentos de crises como uma pandemia. Incômodas questões é fruto de uma reflexão tanto teológica quanto prática em torno do significado e da missão da Igreja Cristã fundamentada no ensinamento de Jesus Cristo e do testemunho da igreja nova testamentária. Pastor Marcos Mendes é um ouvinte atento e um perspicaz pensador. Eu sei porque gosto de lançar perguntas em sua direção e esperar para ouvir suas respostas. Agora é o momento de Marcos formular as perguntas, tais como: “O que é a Igreja?” e “Qual é sua missão?” Uma terceira pergunta que ele formula e quer encontrar respostas aqui é: “Qual é o papel e a relevância da igreja neste novo momento “pós-Wuhan” (China)?” Com uma introspeção mais profunda, Marcos trata dessas perguntas simples para descobrir como elas contêm outras questões incômodas e até subversivas. Aqui o leitor não vai encontrar respostas simples, mas uma reflexão oportuna para os dias complexos e desafiantes nos anos que vêm. Pr. Douglas Lamp – foi missionário da Sepal e OCI.