AS 3 CORES DA COMUNIDADE

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Christian A. Schwarz

As 3 Cores da

Comunidade Como as 7 Qualidades Comunitárias de pequenos grupos saudáveis podem ajudar você a superar os 7 Pecados Capitais Tradução: Cláudia Gil

R E C U R SO S P R Á T ICOS DO DNI

Curitiba 2014


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Ao escrever sobre a comunidade ideal, muitos autores a comparam com uma família. Concordo. A família é um maravilhoso modelo de unidade em diversidade, inclusive as tensões que podem resultar da tradução desses dois conceitos ao essencial da realidade de nossas vidas diárias. Família implica em confiança. Família implica em conflito. Família implica em constante aprendizado, e em um doloroso processo de crescimento. Implica em descobrir coisas de nós mesmos que não seríamos capazes de descobrir por nossa conta, inclusive o lado negro de nossa personalidade. Família implica em acender uma luz reveladora que pode tanto aquecer quanto queimar. E mais do que qualquer coisa, é exatamente o que precisamos em nossas igrejas. Dedico este livro a Chiara Laetitia, o mais jovem membro de nossa família. Oro para que, enquanto o ambiente protegido de nossa família dê a você estabilidade, possamos proporcionar-lhe desafios suficientes que a ajudarão a treinar seus músculos mentais, emocionais e espirituais. C.A.S.

As 3 cores da comunidade

Como as 7 Qualidades Comunitárias de pequenos grupos saudáveis podem ajudar você a superar os 7 Pecados Capitais Título do original: The 3 Colors of Community © 2012 por Christian A. Schwarz, NCD Media, Emmelsbüll, Alemanha © 2014 Editora Evangélica Esperança Layout e Gráficos: Christian A. Schwarz Gráficos das págs. 41, 49, 57, 65, 73, 81 e 89: Sheree Hanbury Tradução: Cláudia Gil Revisão: Josiane Zanon Moreschi Edição: Sandro Bier Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Schwarz, Christian A. As 3 cores da comunidade : como as 7 qualidades comunitárias de pequenos grupos saudáveis podem ajudar você a superar os 7 pecados capitais / Christian A. Schwarz ; tradução Cláudia Gil. - - Curitiba : Editora Esperança, 2014. Título original: The 3 Colors of Community ISBN 978-85-7839-106-5 1. Espiritualidade 2. Formação cristã 3. Formação humana 4. Orações 5. Pecados capitais 6. Vida cristã I. Título 14-11235

CDD-248.4 Índice para catálogo sistemático: 1. Comunidades cristãs : Vida cristã 247.4

Proibida a reprodução do livro ou parte dele. Por trás de todos os livros da série Desenvolvimento Natural da Igreja há dispendiosos projetos de pesquisa que o Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja desenvolveu nos cinco continentes. Os custos deste desenvolvimento são cobertos exclusivamente com a venda destes livros. Quem divulga os materiais de apoio por meio de fotocópias compromete a continuidade do trabalho de edificação da igreja feito pelo instituto, especialmente em países fora do mundo ocidental.


Sumário

As 3 Cores da comunidade Introdução: Vamos falar sobre céu e inferno................................4 Parte 1: A essência da comunidade cristã — Por que temos que enfrentar os Sete Pecados Capitais..........7 Um pequeno grupo é um grupo que é pequeno.........................8 O que torna um pequeno grupo integral?..................................11 Pecado – o rompimento da comunidade....................................15 Os Sete Pecados Capitais e a comunidade cristã........................18 Visões orientais e ocidentais do pecado...................................23 Aproveitando as energias por trás dos pecados capitais..............27 Por que não é suficiente dizer “não” ao pecado........................31 Consumidores cristãos ou discípulos?.......................................35 Parte 2: As Sete Qualidades Comunitárias — como abordar os Sete Pecados Capitais.......................................39 Um caminho que nos afasta do orgulho...................................40 Um caminho que nos afasta da gula........................................48 Um caminho que nos afasta da inveja......................................56 Um caminho que nos afasta da avareza...................................64 Um caminho que nos afasta da ira...........................................72 Um caminho que nos afasta da preguiça..................................80 Um caminho que nos afasta da luxúria.....................................88 O Teste Comunitário : Qual é a sua maior energia?......................96 Como avaliar o Teste Comunitário..........................................101 Como proceder.......................................................................103 Parte 3: Deixe a luz brilhar — criando uma comunidade que muda vidas..............................107 Pecado como ausência de luz...............................................108 Abordando os pecados capitais dentro do pequeno grupo...............................................................112 Dinâmica de Mudança Espiritual............................................117 Identificando as diferentes vozes dentro de você...................121 Compreendendo suas vozes interiores....................................127 Formando sua equipe interior.................................................131 Estabelecendo grupos mais integrais......................................136 Comunidade cristã – um vislumbre do céu.............................141

Sumário

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Introdução

Introdução: Vamos falar sobre céu e inferno

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o princípio foi um desastre – a pasta na qual eu tinha guardado todos os insights que havia coletado sobre ministério de pequenos grupos por muitos anos tinha sido deletada. Essas coisas acontecem e é a razão pela qual criamos os backups. Porém, justamente neste ponto é que meu disco de backup ficou inacessível. E meus backups anteriores, devido a um mal-entendido, foram apagados. Nenhuma loja de computadores, nenhum especialista, nenhum serviço de emergência pode me ajudar. Os arquivos foram perdidos – para sempre. Um ponto sem volta Para mim, essa perda de dados foi o pior acidente possível. Se todo o disco rígido fosse destruído, poderíamos administrar depois de algum tempo reconstruindo o sistema com um novo disco rígido. Se nossa casa queimasse, de alguma maneira encontraríamos um apartamento adequado para compensar a perda. Se a economia mundial entrasse em colapso, aprenderíamos a reorganizar o ministério em um nível econômico mais baixo. Para ser sincero, nenhum desses cenários seria agradável, mas eles não seriam qualificados como um dos piores acidentes possíveis. Porém, a perda completa dos insights obtidos ao longo de anos e anos de estudo, foi o pior acidente possível. Enquanto coisas materiais podem ser restauradas, conhecimento não pode. Isso foi um pesadelo. Toda aquela informação valiosa dos ministérios de pequenos grupos obtida pela participação em seminários, incontáveis entrevistas com líderes, estudos e compilações de inúmeros livros – se foi. Uma bênção disfarçada Por vários anos, decidi ignorar essa perda já que eu tinha que me concentrar em outras áreas de nosso ministério. Quando voltei ao assunto de pequenos grupos integrais, tentei relembrar o que havia sido perdido. Uma coleção dos mais bem-sucedidos modelos de igrejas em células do mundo. Elaborações sobre o tamanho ideal de grupo. Ideias de treinamento para líderes de pequenos grupos. Técnicas de multiplicação. Estratégias de marketing para atrair recém-chegados. Programas de estudo orientados para grupos de diversas idades. Em outras palavras, eu havia perdido o ensinamento predominante de pequenos grupos em um grande número de livros. Exemplos maravilhosos, úteis insights, ideias estimulantes. Quando me deparei com essa situação, subitamente me dei conta: será que é este material – novamente, excelente material que é bem divulgado e de fácil acesso – o conteúdo que eu preciso para me comunicar?


Vamos falar sobre céu e inferno

A promessa de Mateus 18.20 Onde estiverem dois ou mais reunidos

pequeno grupo

em meu nome

integral com sua cabeça,

ali estou no meio deles

presença de Cristo/Paraíso

(= amando Deus mãos e coração)

Pequeno grupo integral = uma reunião no nome de Cristo = uma janela para o céu

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A coluna da esquerda desta tabela apresenta o fundamento bíblico de qualquer comunidade cristã, a promessa de Jesus de estar “no meio de nós” (Mt 18.20). A coluna da direita traduz os três elementos dessa promessa na linguagem do desenvolvimento da igreja. As implicações, se levadas a sério, são explosivas. Qualquer pequeno grupo cristão pode, literalmente, se tornar uma janela para o céu.

A oportunidade para um novo começo Levei alguns dias para revisitar a considerável coleção de livros sobre pequenos grupos em minha biblioteca. Agradeci a Deus por cada um deles, coloquei-os de volta na prateleira e cheguei à conclusão: o que nós precisamos é um novo começo. Pouco a pouco minha frustração sobre o desastre da perda dos dados foi transformada em gratidão por ser involuntariamente forçado a deixar o conforto dos padrões muito familiares de pensamento. A inesperada perda de milhares de detalhes de informação me levou à oração pedindo: Senhor, qual é o centro da comunidade cristã? O que é realmente essencial? O que os pequenos grupos não podem perder? Naquela ocasião, eu não tinha a menor ideia de que o processo que havia iniciado me levaria a um livro sobre céu e inferno. Sobre santidade e pecado. Sobre vida e morte. Sobre as mais significativas – e ao mesmo tempo, mais perigosas – coisas que podemos compartilhar uns com os outros. Sobre quem nós somos aos olhos de Deus, e como os outros podem nos ajudar a nos tornarmos o que devemos ser. Por que céu e inferno? Quando pensamos sobre como contribuir para o crescimento explosivo da igreja por meio de um pequeno grupo contemporâneo, provavelmente a última coisa que nos vem à mente é céu e inferno. “Você deve estar brincando, Christian”, um consultor comentou quando eu compartilhei meus insights com ele. “Estes são exatamente os assuntos que tomamos muito cuidado para evitar”. “Eu sei”, eu disse. “E estou convencido de que esses pontos são a raiz do problema. Temos evitado lidar com os assuntos mais relevantes –


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Introdução

talvez porque tenhamos um vago entendimento sobre eles – e temos estado muito orgulhosos em alegrar as pessoas com a riqueza dos aspectos periféricos do cristianismo.” A intenção principal deste livro não é apresentar técnicas para dirigir grupos pequenos. Antes, é para que se abra para você o que compõe o cerne da comunidade cristã. E para apresentá-la de uma maneira que demonstre o que o cristianismo pode e, é claro, deve ser – nada menos que o vislumbre do céu. Não é necessário que você adote o meu vocabulário – céu Mais na web: e inferno, santidade e pecado, vida e morte. Porém, minha Este livro foi deliberadamente esperança é que você lide com os conceitos que esses destinado a ser breve. Se você termos querem comunicar. A presença de Cristo em nosso quiser ir mais a fundo, pode meio nada mais é do que o céu em nosso meio (veja o encontrar mais informação diagrama da página 5). Isso influencia todos os aspectos de em www.3colorsofcommu- nossas vidas aqui na terra e até mesmo a vida além. Onde nity.org. Os tópicos tratados podemos aprender na prática como viver nessa dimensão são listados nas seções “Mais eterna se não no contexto da comunidade cristã? Qual na web” deste livro. O mar- deveria ser o propósito da comunidade cristã senão este? cador de página incluído contém um código de acesso Minha experiência que você pode usar para Nos últimos 18 anos, tenho sido responsável por uma entrar na página da internet, rede de igrejas que estabeleceram raízes em mais de o que permite que você faça o 70 países. Parte do meu ministério é pesquisar, tendo como alvo experiências de crescimento nas igrejas. Teste Comunitário online. Nestes 18 anos, minha curva de crescimento tem sido íngreme. Mas a importância do processo de aprendizado que se iniciou pela perda do disco rígido sobre pequenos grupos é inigualável. TECT4S

Através deste livro, eu gostaria de dividir com você a essência do que aprendi. Estou convencido de que isso é relevante para todo cristão – especialmente aqueles que, diferentemente de mim, não têm acesso à pesquisa feita em algumas das 70.000 igrejas. Existe somente uma razão para que Deus revele o conhecimento individualmente – para dividi-lo com o máximo de pessoas possível. É isso que estou comprometido a fazer neste livro.

3colorsofcommunity.org

eTeste Perfil de Energia Espiritual

O N L I N E

Treinamento para líderes Sem dúvida, As 3 cores da comunidade será de interesse para líderes de pequenos grupos, mas não foi escrito especificamente para eles. Foi escrito para cada pessoa que frequenta um pequeno grupo ou esteja considerando fazê-lo. Os que estão interessados no tópico de liderança devem querer estudar As 3 cores da liderança (www. 3colorsofleadership.org), que foi publicado em conjunto com este livro. Ele fornece o treinamento que será especialmente apreciado por líderes de pequenos grupos. Instituto para o Desenvolvimento Natural da Igreja Christian A. Schwarz


Parte 1

A essência da comunidade cristã — Por que temos que enfrentar os Sete Pecados Capitais

Quando estivermos lidando com o assunto de pequenos grupos, faz todo o sentido considerar sobre a essência da comunidade cristã. Mas por que falar sobre pecado? Parece estranho no início, mas tão logo nos movemos além da superfície, o assunto é inevitável. Nunca iremos progredir em nossos esforços de construção da comunidade se ignorarmos a realidade do mal.


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Parte 1: A essência da comunidade cristã

Um pequeno grupo é um grupo que é pequeno

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ssa foi uma conferência na qual se supunha que eu revelasse minhas descobertas – os resultados de anos de estudo e pesquisa – a natureza de pequenos grupos saudáveis. “Por um tempo considerável”, eu disse aos participantes, “tenho trabalhado na definição de pequenos grupos, e estou feliz em anunciar que, após um longo período de tentativa e erro, finalmente cheguei a uma solução convincente. Já que esta definição é o assunto central de nossa conferência, sugiro que vocês peguem a caneta e escrevam, palavra por palavra. Vocês devem tomar um grande cuidado para não perder nenhum mínimo detalhe.” Centenas de mãos pegaram as canetas, esperando com antecipação pela definição que eu daria. Após uma prolongada pausa, eu disse vagarosamente: “Um... pequeno grupo... é um grupo... que é... pequeno”. A reação? Algumas pessoas riram, algumas olharam um pouco irritadas, e outras ficaram simplesmente desapontadas. Mas ninguém escreveu minha cuidadosa definição! E, contudo, era exatamente o centro do conceito de pequeno grupo que eu tentei dividir naquela conferência, e é o centro do conceito de pequeno grupo no qual este livro está baseado. Um pequeno grupo é um grupo que é pequeno – ponto. “Não temos nenhum pequeno grupo” A seguinte conversa com um pastor de uma igreja de tamanho médio representa as muitas discussões que eu tive sobre os pequenos grupos. “Não temos nenhum pequeno grupo”, disse esse pastor. “E na verdade, não gostamos realmente dos conceitos de pequenos grupos que temos observado em outras igrejas.” “Você tem certeza que não tem nenhum pequeno grupo?”, perguntei. “Bem, ao menos não no sentido em que você definiria um pequeno grupo”, ele disse. “Deixe-me dar minha definição”, eu disse. “Um pequeno grupo é um grupo que é pequeno. Você ainda tem certeza que não tem pequenos grupos?” O pastor sorriu. “É claro, nós temos grupos que são pequenos, muitos deles. Mas, para ser honesto com você, a maioria deles não é muito eficaz.” “Então vamos trabalhar para torná-los mais eficazes”, eu respondi. “Você não acha que seria uma tarefa que vale a pena?” Ao final de uma breve conversa, efetivamente identificamos 23 diferentes pequenos grupos dentro dessa igreja que afirmou não ter nenhum. Entre eles, um coro, três grupos de jovens, uma equipe do


Um pequeno grupo é um grupo que é pequeno

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O nível mais profundo da Bússola Trinitária: a revelação tripla de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. O próprio Deus é unidade (“Deus”) em variedade (“três pessoas”). Já que comunidade é a definição da natureza tanto de unidade quanto de variedade, Deus é, por si só, o modelo perfeito de comunidade.

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Terceiro Mundo, dois grupos de serviço social, um grupo de oração, três comitês e cinco equipes de ministério. Juntos concordamos em organizar um plano para tornar aqueles grupos mais eficazes. Isso é o que eu gostaria de oferecer a você neste livro: a oportunidade de ajudar seu grupo a se tornar mais eficaz. Convido você a considerar o início de novos grupos com novas oportunidades para novas pessoas, tanto cristãos quanto não cristãos. Não pretendo conquistar você para um modelo particular de pequeno grupo. Mas quero auxiliá-lo dentro do modelo de pequeno grupo que você decidiu seguir, e ajudá-lo a se concentrar no conteúdo mais imaginável possível – a essência da comunidade cristã. A dinâmica por trás de todos os modelos Estou ciente de que muitas pessoas consideram a minha definição de pequeno grupo uma piada. Mas não é. Seria fácil incluir vários aspectos desejáveis em nossa definição. Cumprir a Grande Comissão. Seguir certo padrão de multiplicação. Ser focado em missões. Assumir responsabilidades na vizinhança. Tornar-se centrado nas Escrituras. Concentrar-se nos sem igreja. Maravilhosos critérios! Alegro-me com seu grupo se esses e muitos outros critérios forem verdadeiros. Mas vamos assumir que não. Ainda é um pequeno grupo. E um pequeno grupo com o qual estou satisfeito em trabalhar! Seria muito fácil simplesmente eliminar qualquer grupo que não cumpre os critérios de nossa crença, da nossa realidade, do nosso mundo, excluindo-os de nossa definição de pequenos


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Parte 1: A essência da comunidade cristã

grupos. Porém, eles continuariam a existir, talvez ansiando por ajuda, mas nunca a conseguindo, já que os definimos como fora do nosso mundo. A maioria dos livros sobre pequenos grupos destaca um modelo específico de vida em grupo. Isso é absolutamente válido. Estou agradecido pela grande variedade de modelos que foram desenvolvidos em todos esses anos. Porém, minha intenção não é contribuir para a discussão sobre qual o modelo certo (ou o melhor). Em vez disso, quero focar na dinâmica por trás de pequenos grupos saudáveis, não importando qual o modelo que eles escolheram seguir. A diferença nos tipos de grupo Pequenos grupos podem ser – e de fato deveriam ser – diferentes uns dos outros. Eles têm diferentes tarefas, diferentes focos, diferentes estilos e, mais significativamente, são formados por diferentes tipos de pessoas. Diferentes aspectos da comunidade podem ser expressos por diferentes tipos de grupos. E, contudo, existe um elemento que todos os pequenos grupos cristãos têm em comum: todo pequeno grupo, quer seja seu objetivo ou não, é um modelo da comunidade, através do qual é expresso tanto nosso relacionamento com Deus quanto com os outros. A questão não é se o grupo quer ser tal modelo. Ele é. A questão é meramente se ele é um bom ou um mau modelo. Tornando um pequeno grupo integral Os que estão familiarizados com os outros livros da série Mais na web: Recursos Práticos do DNI sabem que todos os livros iniciam Em 3colorsofcommunity.org com a Bússola Trinitária (veja o diagrama na página 9) que você encontrará respostas se refere ao tópico em questão. O aspecto mais imporpara as seguintes questões: tante da Bússola Trinitária – de fato, da Trindade por si • Por que o DNI não carac- só – é sua variação (as três diferentes cores) em unidade teriza um modelo de (o centro do diagrama, simbolizado pela cor branca, no pequeno grupo específico? qual todas as cores da luz encontram sua unidade). Deus é único em variedade. Já que somos criados à imagem de • Por que todas as séries Deus, podemos e devemos valorizar as diferenças e, ao DNI começam com a Bús- mesmo tempo, podemos e devemos estar na expectativa sola Trinitária? de unificação dos fatores por trás dessas diferenças. Este é

o objetivo primário quando trabalhamos com todo tipo de pequenos grupos – unidade em variedade, com Deus como nosso exemplo. Por que precisamos de pequenos grupos? Por que o ser humano foi criado para a comunidade. Contudo, para que se complete esse propósito, eles devem se tornar integrais – amando Deus com suas cabeças, mãos e corações. Minha esperança é que este livro o convença de que seguir esse passo é um valioso investimento de seu melhor esforço.


O que torna um pequeno grupo integral?

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O que torna um pequeno grupo integral?

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ificilmente existe um termo mais abstrato do que “integral”, contudo o conceito por trás dele é extremamente simples. Não precisamos nem de uma apresentação no powerpoint para comunicar isso. Lembro-me de uma situação em que tive que falar sobre a Bússola Trinitária em um país do Terceiro Mundo. Viajei para uma vila onde não havia eletricidade, e esse fato não me foi comunicado antecipadamente. Como meu estilo de comunicação é bastante visual – principalmente sobre conceitos como a Bússola Trinitária, que realmente não pode ser explicado adequadamente somente com palavras – fiquei bastante frustrado pelo fato de que não seria capaz de fazer uma apresentação visual. Porém, após pensar sobre isso, me dei conta de que poderia fazer sem visual eletrônico. Tudo que eu precisava eram três gestos básicos. A essência da bússola trinitária em relação a pequenos grupos pode ser descrita expressando nosso amor a Deus com nossa cabeça (verde), nossas mãos (vermelho) e nosso coração (azul). É isso. Todos podem comunicar isso, mesmo sem palavras, e todos podem entender (veja o gráfico na página 12). Mais na web: As três questões básicas que temos que perguntar são: Em 3colorsofcommunity.org você encontrará respostas 1. O que você pensa (cabeça)? para as seguintes questões: 2. Como você se sente (coração)? • Que tipo de pesquisa o 3. O que você fará (mãos)? DNI Internacional fez nos pequenos grupos? As Sete Qualidades Comunitárias • Por que as características de O diagrama na página 13 indica que as Sete Qualidades qualidade de igrejas saudáComunitárias dos pequenos grupos têm uma posição preveis e pequenos grupos são cisa quando colocada em relação à cabeça, mãos e coração: quase idênticas? • Estruturas eficazes são a cabeça do negócio (verde), já que estão baseadas no pensamento reflexivo e planejamento consistente. • Evangelização orientada para as necessidades refere-se às mãos (vermelho), já que requer fazer algo prático – dividindo o que temos recebido. • Espiritualidade contagiante tem uma forte afinidade com o coração (azul), já que inclui todos os aspectos emocionais de nossas vidas. • Ministérios orientados pelos dons está posicionado entre a cabeça (pensamento reflexivo) e mãos (ministérios práticos), e se refere a dons especiais para concretizar tarefas.


Parte 1: A essência da comunidade cristã

O segredo dos pequenos grupos integrais é direcionar as cabeças (verde), as mãos (vermelho) e os corações (azul) dos participantes.

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• Relacionamentos marcados pelo amor fraternal estão posicionados entre o coração e as mãos; implicam em fazer algo pelos outros (mãos), levado pela motivação correta (coração). • Espiritualidade contagiante está posicionada entre a cabeça (ensinamento) e coração (encontrando Deus), com menos foco em ação. • Liderança capacitadora facilita e multiplica a vida de uma comunidade em todas as três cores dos segmentos, dependendo das necessidades do grupo. Portanto, está posicionada no centro do diagrama (mais na página 137). Pequenos grupos e igrejas inteiras Aqueles que estão familiarizados com o Desenvolvimento Natural da Igreja (DNI) notarão que as Sete Qualidades Comunitárias de pequenos grupos saudáveis são similares às Oito Marcas de Qualidade de igrejas saudáveis do DNI. Isso se deve ao fato de que um pequeno grupo nada mais é do que “uma igreja em miniatura”. No nível de pequeno grupo, as qualidades individuais podem ser realizadas de modo diferente do que em outros níveis da vida da igreja; porém, em ambos os casos, os princípios são os mesmos. As Oito Marcas de Qualidade de igrejas saudáveis são resultado da mais bem documentada pesquisa de crescimento de igreja já executada. Até o momento, nosso instituto pesquisou mais de 70.000 igrejas em 86 países, identificando oito fatores das


O que torna um pequeno grupo integral?

As Sete Qualidades Comunitárias de pequenos grupos: cada um dos sete elementos está definido pelo relacionamento com as três dimensões da cabeça, mãos e coração.

Estruturas eficazes

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igrejas que crescem, independentemente da cultura ou do estilo devocional que têm em comum. As diferenças entre aquela lista e a lista das Sete Qualidades Comunitárias de pequenos grupos foram encontradas em duas áreas: • Uma das marcas de qualidade de igrejas saudáveis são os pequenos grupos integrais. • A segunda diferença é a reformulação: culto inspirador (no nível da igreja) se torna culto inspirador (no nível do pequeno grupo). Nos pequenos grupos não falamos sobre um culto inspirador. Falamos sobre experiência de adoração, que pode ser expressa de várias maneiras. O objetivo não é necessariamente equilíbrio Existe outra diferença principal entre o crescimento dinâmico das igrejas locais e os pequenos grupos. Considerando que, na igreja local, o objetivo é um equilíbrio de todas as oito marcas de qualidade, esse não é necessariamente o caso dos pequenos grupos. Pequenos grupos podem ser intencionalmente unilaterais. Existem grupos que estão focados mais na solidariedade, e outros na sociabilidade; alguns concentram-se mais na vita activa (a vida ativa) e outros na vita contemplativa (a vida contemplativa). A primeira categoria poderia ser chamada de grupos de Marta; a segunda, de grupos de Maria. Essas diferenças nos tipos de grupos contribuem significativamente para o bom funcionamento da igreja (veja o diagrama acima).


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Pequenos grupos podem – e efetivamente devem – ter diferentes focos: alguns devem se concentrar mais em nutrir a pessoa interior (vita contemplativa); outros, em fazer alguma coisa pelos outros (vita activa).

Estruturas eficazes

Parte 1: A essência da comunidade cristã

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Nem todo pequeno grupo tem que estar em equilíbrio, mas o ministério de pequenos grupos da igreja como um todo, deve estar. Se uma igreja tem exclusivamente grupos de Marta ou de Maria, definitivamente tem um problema. Porém, não é necessário que todo pequeno grupo seja forte em todas as áreas. Diferenças nos focos dos pequenos grupos são um dos grandes recursos da igreja local. O modelo de banquete M. Scott Peck fez a famosa distinção entre comunidade genuína e o que chamou de pseudocomunidade. A pseudocomunidade acredita que é comunidade, quando, na realidade, está longe disso. Peck escreve que a ilusão de ser uma comunidade é mantida “através de um conjunto de normas comuns não faladas que chamamos de condutas: você deveria tentar o seu melhor e não dizer nada que possa antagonizar ou aborrecer qualquer pessoa; se alguém diz alguma coisa que o ofenda ou desperte um sentimento ou uma lembrança de dor, você deveria fingir que de modo algum o incomodou; e se o desacordo ou outro desprazer surgir, você deveria imediatamente mudar de assunto. Essas são as regras que qualquer anfitrião sabe. Elas podem criar um jantar que funcione sem problemas, mas nada mais significativo”. Se você estiver esperando que As 3 cores da comunidade seja um manual de como preparar um banquete cristão, as próximas 130 páginas inevitavelmente o desapontarão.


Pecado – o rompimento da comunidade

Pecado — o rompimento da comunidade

P

or que este livro sobre as Sete Qualidades Comunitárias é também livro sobre os Sete Pecados Capitais? A resposta a esta pergunta é muito mais simples do que possa parecer. Porém, somente veremos o significado dessa relação quando tivermos adotado a correta – isto é, bíblica – visão de pecado. Na linguagem de hoje, a palavra pecado quase nunca é usada. Mesmo os cristãos tentam evitar isso, se for possível. Quando é usada, serve quase que exclusivamente como uma descrição de ter comido muita torta floresta negra (ou outra iguaria como essa). E a torta floresta negra, se comida em grandes quantidades ou com moderação, ou mesmo como lanche num momento de comunhão, certamente tem pouco a ver com a essência da comunidade cristã. Ao menos não valeria a pena colocar isso no centro de um livro na comunidade cristã: Como as Sete Qualidades Comunitárias podem ajudar você a superar os efeitos da torta floresta negra. O pecado nos isola A noção da torta floresta negra nada mais é que uma caricatura da visão bíblica de pecado. Como muitas chaves de termos bíblicos, o pecado tem múltiplas definições, cada uma delas lançando luz em diferentes aspectos, mas a linha de fundo é sempre a mesma: Deus nos criou para vivermos em relacionamentos, mas o pecado nos isola. O pecado, em seu mais fundamental nível, é o rompimento da comunidade. Na realidade, é o rompimento triplo da comunidade – o rompimento de nosso relacionamento com Deus, com os outros e com nós mesmos (veja o diagrama na página 17). Essa é a ligação entre os temas da comunidade e o pecado. De fato, não são temas diferentes. É praticamente impossível construir uma comunidade digna do nome se negligenciamos a realidade do pecado. Ao contrário, é impossível dominar o pecado enquanto o tratarmos de uma maneira puramente individualista, fora do contexto da comunidade cristã. As maneiras tradicionais de lidar com o pecado seguiram principalmente um padrão individualista – uma abordagem que nunca funcionou e não pode nunca funcionar. Um triplo rompimento de comunidade Quando começamos a compreender o significado bíblico de pecado, nos movemos para bem distante do conceito da torta floresta negra e chegamos realmente próximos ao centro da fé cristã, que Jesus resumiu nestas palavras: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27). Observe os três objetos de nosso amor: o Senhor, seu vizinho, você mesmo. Essa é a essência da fé cristã.

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Parte 1: A essência da comunidade cristã

O pecado destrói todos os três relacionamentos: 1. Relacionamento com Deus: pecado é sempre sobre Deus, não sobre a torta floresta negra. Comer muita torta floresta negra talvez crie problemas, mas não necessariamente o tipo de problema que afeta o seu relacionamento com Deus. Independentemente de como o pecado se revela na prática, em sua raiz está sempre um problema espiritual. Portanto, o pecado tem muito mais a ver com seus pensamentos e sua atitude do que com suas ações. O pecado o aliena de Deus. Ele prejudica sua amizade com Deus. 2. Relacionamento com os outros: o cristianismo não é uma religião individual, mesmo que alguns setores cristãos sugiram que seja. Você não pode encontrar Deus completamente desassociado das pessoas de Deus. Servindo aos outros, você, na realidade, serve a Deus (veja Mt 25.31-46). Pelo contrário, você recebe o amor de Deus principalmente através do amor de outras pessoas. Amar Deus sem amar outras pessoas é como um rio sem nenhum acesso ao oceano. Seu amor por Deus se expressa através da comunidade e serviço. 3. Relacionamento consigo mesmo: não é importante somente construir um relacionamento com os outros, mas também consigo mesmo. Sua habilidade em servir aos outros é dependente do seu próprio relacionamento saudável. O pecado não significa que você é mau com os outros e bom consigo mesmo. Ao contrário, os efeitos negativos do pecado afetam você consideravelmente como afetam os outros. O pecado distorce seu relacionamento consigo mesmo. Ele o amarra e basicamente Mais na web: o faz infeliz. Peccatum poena peccati, como Agostinho Em 3colorsofcommunity.org expressou: “Pecado é punição para o pecado”. Alguns você encontrará respostas teólogos argumentam que o pecado nos leva para o para as seguintes perguntas: inferno, mas certamente não pode ser discutido que o • Quais são as definições mais pecado traz o inferno para dentro de nós. importantes de pecado? Egocentrismo em vez de “nós” • Já que Jesus morreu por nossos pecados, por que Onde quer que o relacionamento triplo com Deus, com isso ainda tem uma função outras pessoas e com nós mesmos estiver prejudicado, os opressiva no cristianismo? problemas surgem. Mais do que pensar e agir em termos de “nós”, mudamos para uma mentalidade individualista, egocêntrica, na qual nos vemos como o centro do universo. Essa é a essência do pecado. Não a torta floresta negra, mas eu! A cura de padrões de comportamento pecador depende de aprender o que significa pensar e agir na categoria do “nós” – um “nós” que inclui Deus, outras pessoas e nós mesmos. O ponto delicado é que essa mentalidade egoísta conseguiu surpreendentemente se esconder por trás da máscara de aparência espiritual. Essa tendência em se esconder é uma excelente característica do pecado em geral. Já que estamos lidando com o pecado no contexto da comunidade cristã,


Pecado – o rompimento da comunidade

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Jesus resumiu a essência da fé cristã nas seguintes palavras: “A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27). O pecado é um rompimento da comunidade: um rompimento em nosso relacionamento com Deus, com os outros e com nós mesmos.

deveríamos estar particularmente à procura de disfarces de máscara espiritual. Se formos sérios em ajudar as pessoas a levar uma “boa vida” – e isso certamente deveria ser o resultado de uma participação em pequenos grupos (veja a página 25) – deveríamos lidar com os fatores que os impede de alcançar esse objetivo. Enquanto falharmos em levar a sério a capacidade das pessoas para o mal, seremos incapazes em levar a sério a capacidade delas para o bem. Mais que quebra das regras De uma perspectiva de fora, o pecado se manifesta como uma quebra de regras. Isso poderia nos levar a assumir que a essência do pecado é somente isso – quebra de regras. Porém, essa visão é muito superficial. As regras existem somente para proteger as coisas que são mais importantes do que elas. Nosso objetivo é identificar quais regras devem ser protegidas. Somente por essa perspectiva seremos capazes de apreciar a sabedoria das regras. E quais são as regras que Deus quer proteger? Na essência, relacionamentos. As regras devem proteger nosso triplo relacionamento com Deus, com os outros e com nós mesmos. Deus não é contra a nossa liberdade e felicidade. Certamente ele está apaixonadamente interessado nelas. A fim de protegê-las, ele estabeleceu regras. Parte da atratividade do pecado é sua promessa de liberdade e felicidade além da comunidade – uma promessa, porém, que nunca é cumprida. Tanto a liberdade quanto a felicidade são gradualmente esmorecidas quando seguimos o caminho do isolamento. Nossa verdadeira natureza não é a individualidade, mas o pertencimento.


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Os Sete Pecados Capitais e a comunidade cristã

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or toda a história da igreja, os cristãos, incluindo os melhores teólogos, têm lutado com a essência do pecado – não somente como uma categoria abstrata, mas como uma realidade diária de cristãos e não cristãos. A categorização mais difundida que se revela dessas discussões é a dos sete pecados capitais. Ela tem sua origem nos ensinamentos do monge grego do deserto Evágrio do Ponto (345-399), e foi perpetuamente redefinida através dos séculos até chegar a sua forma atual (veja “Uma breve história dos Sete Pecados Capitais” na página 22). Os sete pecados capitais são orgulho, gula, inveja, avareza, ira, preguiça e luxúria (veja o diagrama à direita).

Ressalvas sobre os Sete Pecados Capitais Quando as pessoas se deparam com os Sete Pecados Capitais pela primeira vez, podem fazer as seguintes perguntas: 1. De acordo com as Escrituras, existe uma multidão de pecados. Por que reduzi-los a uma lista de sete? 2. Por que estes sete pecados são considerados mais sérios do que os outros? E outros pecados mais sérios como genocídio, racismo, militarismo, terrorismo, etc.? Comparado com eles, alguns dos Sete Pecados Capitais (tais como, preguiça e glutonaria) parecem inocentes. 3. E finalmente, o ensinamento dos Sete Pecados Capitais é bíblico? Estas perguntas são legítimas. Contudo, podem ser direcionadas adequadamente somente se entendermos o que a lista dos Sete Pecados Capitais significa – uma tipologia. Entendendo a natureza das tipologias Para entender a natureza de uma tipologia, vamos começar com a terceira questão: o ensinamento dos Sete Pecados Capitais é bíblico? Sim e não, dependendo de como definimos a palavra “bíblico”. Em lugar algum da Bíblia os Sete Pecados Capitais estão mencionados coletivamente. Nesse sentido, poderíamos dizer que a lista não é “bíblica”. Por outro lado, é bíblico o sentido de que é um sistema baseado nas Escrituras para nos ajudar a descobrir, organizar e aplicar a verdade bíblica. O desenvolvimento de uma tipologia desse tipo não pode ser confundido com exegese. Isso se encaixa melhor na categoria de teologia sistemática. A teologia sistemática é baseada no conhecimento exegético, mas busca sistematizar os vários ensinamentos das escrituras de acordo com os desafios de um dado período de tempo.


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Já que pecado, em sua essência, é o rompimento da comunidade, os Sete Pecados Capitais podem ser mais bem entendidos como a ausência das correspondentes qualidades comunitárias (compare o diagrama na página 13).

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Aqueles de vocês que estão familiarizados com o Desenvolvimento Natural da Igreja têm encontrado inúmeras tipologias deste tipo: as oito marcas de qualidade. As seis forças de crescimento. Os nove estilos de espiritualidade. As sete qualidades comunitárias. As seis asas características da liderança (para mencionar somente algumas). Nenhuma dessas listas é “bíblica” na forma pela qual as Escrituras as apresentam. Mas todas são bíblicas no sentido do seu propósito em nos ajudar a descobrir, organizar e aplicar a verdade bíblica. Todas essas tipologias provaram ser efetivas nessa busca. Em outras palavras, elas foram desenvolvidas para trazer vida às Escrituras. O mesmo é verdade para os Sete Pecados Capitais. Porém, em contraste com as modernas tipologias, o desenvolvimento dos Sete Pecados Capitais abrange quinze séculos. Esse catálogo foi testado repetidamente e refinado continuamente. Se eu tivesse que desenvolver um sistema alternativo (que seria absolutamente legítimo), escolheria classificar alguns termos de forma diferente, mas não questionaria o sistema como um todo. Ele revela uma incrível sabedoria em termos de entendimento bíblico e conhecimento da natureza do coração humano. Apresenta uma combinação das vulnerabilidades que os psicólogos seculares descrevem como “arquétipos negativos do caráter humano”. Além disso, a excelência da lista tradicional encontra-se na maneira pela qual os pecados mortais se relacionam com nossas vidas diárias.


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Dois exemplos de tipologia, projetada para destacar a verdade bíblica: a árvore dos vícios (esquerda) e a árvore das virtudes (direita), de: De fructibus carnis et spiritus, Salzburg, século 12.

Raízes, galhos e fruto Uma vez que entendamos a natureza dos Sete Pecados Capitais como uma tipologia, podemos nos dirigir para as duas primeiras questões: por que reduzimos a lista para sete pecados? Por que somente esses sete? Para comunicar os Sete Pecados Capitais nos tempos medievais, o símbolo da árvore era largamente usado (veja as imagens acima). A árvore tem uma raiz, um tronco e galhos dos quais inumeráveis males individuais desabrocham (virtudes também podem ser organizadas de acordo com o mesmo esquema, como ilustra a imagem da direita). Com isso em mente, podemos ver que cada pecado imaginável está efetivamente incluído – como uma descendência dos sete pecados capitais. Cada pecado mencionado nas Escrituras pode ser visto como uma subcategoria dos sete. O autor da lista original (que, na realidade, incluiu oito itens), o teólogo oriental Evágrio do Ponto, escreveu: “Existem oito categorias gerais e básicas de pensamento nas quais todo pensamento está incluso”. E o teólogo ocidental, Gregório, que foi o primeiro a surgir com sete pecados capitais, escreveu: “Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer por sua prosperidade. Da ira são produzidas discórdias, expansão da mente, insultos, tumultos, indignação, blasfêmias”. A lista dos Sete Pecados Capitais não sugere que os sete mencionados sejam mais graves do que os outros (aos quais deveríamos incluir pecados como o assassinato), nem que eles sejam mais frequentes do que os outros (neste caso, certamente teríamos que incluir a bebedeira e a mentira). Essa tipologia simplesmente se refere aos sete pecados como a maioria dos galhos nos quais incontáveis outros pecados desabrocham.


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Orgulho como pecado raiz A imagem da árvore implica em outra útil metáfora. Entre os Sete Pecados Mortais – os pecados principais, os pecados capitais – existe um pecado definido como “pecado raiz”, isto é, aquele em que todos os outros seis têm sua origem. Através da história da igreja diferentes pecados têm sido referidos como pecado raiz; mas a designação mais difundida retorna a Gregório Magno (540-604), que identificou o pecado do orgulho como a raiz da árvore que cria todo pecado. Para Gregório, o orgulho é o pecado dos pecados, o super pecado, a personificação da rebelião contra Deus. Qualquer outro tem sua origem neste pecado raiz. Em outras palavras, todo pecado individual inclui um elemento de orgulho. Os pecados capitais como a falta de qualidades comunitárias Cada um dos Sete Pecados Capitais podem ser melhor entendidos como a falta de correspondentes qualidades comunitárias. Compare os dois gráficos nas páginas 13 e 19: • O orgulho resulta da falta de liderança capacitadora. Seu lema destruidor da comunidade é: Eu sou melhor do que todos os outros. Em contraste, o lema da liderança capacitadora é: Deixe que os outros cresçam. • A gula resulta da falta de estruturas eficazes. Seu lema destruidor da comunidade é: Eu tenho que me encher. Em contraste, o lema das estruturas eficazes é: Viva com moderação. • A inveja resulta na falta de ministérios orientados pelos dons. Seu lema destruidor da comunidade é: Eu mereço o mesmo que todos os outros. Em contraste, o lema dos ministérios Mais na web: Em 3colorsofcommunity.org orientados pelos dons é: Eu dependo dos outros. • A avareza resulta da falta de evangelização orien- você encontrará respostas tada para as necessidades. Seu lema destruidor da para as seguintes perguntas: comunidade é: Eu preciso de mais para mim. Em con- • Por que e como a lista traste, o lema da evangelização orientada para as dos Sete Pecados Capitais necessidades é: Passe adiante o que você recebeu. mudou ao longo da história da igreja? • A ira resulta na falta de relacionamentos marcados pelo amor fraternal. Seu lema destruidor da comu- • O que exatamente o nidade é: Eu odeio o meu agressor. Em contraste, o termo “capitais” implica lema de relacionamentos marcados pelo amor franesse contexto? ternal é: Quebrar as barreiras que separam. • A preguiça resulta da falta de espiritualidade contagiante. Seu lema destruidor da comunidade é: Eu não me importo com nada. Em contraste, o lema da espiritualidade contagiante é: Ame a Deus com todo o seu coração, mente e alma. • A luxúria resulta da falta de espiritualidade contagiante. Seu lema destruidor da comunidade é: Eu uso os outros para a minha própria exaltação. Em contraste, o lema de espiritualidade contagiante é: Dirija sua dedicação integral ao Senhor.


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Uma pequena história sobre os Sete Pecados Capitais Enquanto a lista dos Sete Pecados Capitais como conhecemos hoje é uma criação ocidental, sua origem remonta à igreja oriental. Evágrio do Ponto (345-399), um monge grego contemplativo, que vivia com os monges no deserto do Egito, criou uma lista de oito pensamentos impuros para apoiar seus irmãos no processo do autoexame. A lista de Evágrio difere da lista atual dos Sete Pecados Capitais, pois não incluía a inveja, e continha tanto a tristeza quanto a vanglória. Evágrio tinha paixão pela prática. Estava mais interessado em oferecer ajuda pastoral do que em desenvolver um sistema teológico abrangente. Sendo um típico representante da tradição oriental, ele exibia mais interesse teológico do que retórico. O aluno de Evágrio, João Cassiano (360-435) levou esse ensinamento para Marselha e o apresentou à igreja ocidental (sem mencionar seu professor, Evágrio). A ocidentalização do paradigma original veio pela tradução do grego para o latim (uma linguagem que sugere mais conotações legais) e também através do aumento da mudança das categorias psicológicas para as morais. Os escritos de Cassiano têm uma forte influência em Bento de Núrsia (480-547), o fundador do monasticismo ocidental. Através de Bento, os ensinamentos de Cassiano chamaram a atenção do papa Gregório Magno (540-604), que reduziu a lista de oito para sete (juntando tristeza com preguiça e vanglória com orgulho, e adicionando inveja), e cunhou a expressão Sete Pecados Capitais. Foi Gregório que identificou o orgulho como o pecado raiz. Com o tempo, as sete categorias foram ampliadas e se tornaram cada vez mais abstratas. No tempo de Tomás de Aquino (1225-1274), uma classificação altamente sistemática foi desenvolvida, e se tornou parte da Suma Teológica de Aquino. Através dos séculos que se seguiram esse sistema serviu como uma planta para inúmeras adaptações pastorais, doutrinárias e artísticas (entre elas, a famosa Divina Comédia, de Dante), incluindo um enorme número de adaptações protestantes. Nos últimos anos, o ensinamento dos Sete Pecados Capitais tem experimentado um renascimento. Ocorreram profundas contribuições seculares – em particular psicológicas – para esse tema, e o número de adaptações evangélicas tem tido um aumento acentuado (Billy Graham, entre eles). Mesmo que as interpretações dos Sete Pecados Capitais difiram consideravelmente de autor para autor, em geral se concorda que a clássica lista é sábia para que todos possam consultar.


Visões orientais e ocidentais de pecado

Visões orientais e ocidentais do pecado

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uando abordei os Sete Pecados Capitais sob uma perspectiva terapêutica, repetidamente me deparei com confusão. “Terapia e pecado?”, um pastor me perguntou. “Isso simplesmente não faz sentido. Quando estamos doentes, buscamos a cura. Mas pecado não pode ser curado. Ele deve ser eliminado.” Aprendendo de diferentes tradições Um dos grandes privilégios de meu ministério é a oportunidade de trabalhar com tradições cristãs extremamente diversas. Essa interação contínua com diferentes correntes do cristianismo tem aguçado minha percepção das forças e desequilíbrios de cada tradição individual – incluindo aquela em que fui criado. A maior parte do meu ministério consiste em destacar as forças específicas de uma igreja e identificar as áreas que têm sido negligenciadas. Uma igreja que está buscando direcionar essas áreas pode ser enormemente beneficiada pelo conhecimento de outras tradições. O que isso significa em termos práticos? Quando detectamos em certa igreja Batista (ou Luterana, Pentecostal, etc.) negligência de certas características que podem ser encontradas em outra tradição, como a igreja ortodoxa, nosso objetivo não é tornar a igreja Batista mais “ortodoxa”. Em vez disso, é para adicionarmos novos elementos às forças existentes, de maneira que a igreja Batista (Luterana, Pentecostal) se torne mais efetiva. Os dois pulmões do cristianismo Quando igrejas ocidentais encontram tradições orientais, tais como os monges do deserto do século 4, devem ter em mente que é, na realidade, parte da sua própria tradição. Toda igreja na face da terra alega ter suas mais profundas raízes na igreja primitiva (e basicamente, em Jesus). Se você fosse seguir a linha do tempo da igreja primitiva até qualquer igreja nos dias atuais (seja Batista, Luterana, Pentecostal, etc.), inevitavelmente encontraria tanto a tradição ocidental quanto a oriental da igreja primitiva. A esse respeito, não estamos fazendo referência a diferentes denominações que comparamos umas com as outras, mas às duas dimensões – os dois pulmões – do cristianismo sobre o qual todas as igrejas têm sua fundação. Como repetidamente mencionei, ensinar os Sete Pecados Capitais nos conduz ao teólogo oriental, Evágrio do Ponto. Após a morte de Evágrio, seu conhecimento foi adotado pela igreja ocidental. Porém, no processo da “ocidentalização” eles foram significativamente transformados. Enquanto nosso entendimento de pecado

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Enquanto as Escrituras descrevem o pecado tanto na categoria legal quanto psíquica, a tradição ocidental tem se concentrado principalmente na dimensão legal, enquanto a tradição oriental tem enfatizado a dimensão física.

Paradigma ocidental

Paradigma oriental

pecado como quebra de leis cura: punição igreja como tribunal

pecado como doença cura: terapêutica igreja como hospital

foi, de alguma forma, aprofundado como resultado desse processo, nós também negligenciamos aspectos fundamentais do ensinamento de Evágrio que seriam especialmente relevantes para muitas igrejas ocidentais hoje. A preocupação de Evágrio era lidar com as raízes do pecado dentro do coração humano, não simplesmente com os sintomas como os manifestados no comportamento pecaminoso. Em outras palavras, a ênfase do seu ensinamento – e especialmente a prática derivada dele – era mais terapêutica do que retórica. Por outro lado, a abordagem ocidental tem sido mais direcionada em termos de categorias legais. Diferentes focos de duas tradições A diferença de foco tem sido influenciada pelo fato de que muitos teólogos do ocidente antigo foram educados na lei, enquanto a maioria dos teólogos orientais, na retórica e nas artes. Quando vemos a revelação das escrituras através de diferentes lentes, é natural que nossa interpretação enfatize os aspectos que são especialmente relevantes para nós, desde que respondam às perguntas que fizermos. Esses dois diferentes focos existiam desde bem cedo (bem antes do chamado cisma entre a igreja do ocidente e do oriente em 1054). E, desde então, ambos foram enraizados nas Escrituras, a ênfase particular dessas duas maiores tradições podem ser consideradas como os dois pulmões do cristianismo. Em um organismo saudável, ambos os pulmões são necessários. Não é um relacionamento ou/ou, mas ambos/e. Em geral, a tradição oriental enfatiza mais a encarnação e a ressurreição do que a tradição ocidental, que dá maior ênfase ao ato da salvação que aconteceu no calvário. Além do mais, na tradição oriental existe um maior apreço para dimensão corporativa da


Visões orientais e ocidentais de pecado

Trabalho de Cristo: vitória sobre MAL oposto de BEM ênfase da tradição ocidental

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MORTE oposto de VIDA ênfase da tradição oriental

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De acordo com as Escrituras, o trabalho de Cristo em nosso favor é a vitória sobre o mal e a morte. O oposto de mal e morte pode ser resumido como “vida boa”. A tarefa de pequenos grupos é esclarecer o que é esta “vida boa”.

resultando na VIDA BOA

fé cristã, enquanto na tradição ocidental a tendência é direcionar as pessoas principalmente como indivíduos. Enquanto fazemos tais afirmações gerais, devemos rapidamente reconhecer que tanto as igrejas ocidentais quanto as orientais sempre ensinaram a completa revelação bíblica – encarnação e salvação, Sexta-feira da Paixão e Páscoa, a dimensão individual e a dimensão corporativa. Ambas têm enfatizado a morte de Cristo na cruz como o único caminho para dominar o pecado. A diferença é simplesmente que, quando colocadas lado a lado, cada tradição tende a enfatizar um desses dois polos mais do que o outro. Esses diferentes focos podem ser facilmente averiguados no estudo da literatura teológica, da liturgia e do simbolismo religioso. Diferentes entendimentos do pecado Estou muito ciente de que o foco deste livro é a essência da comunidade cristã, não a história da igreja nem a história da doutrina cristã. Mas, sem o mínimo entendimento dos dois pulmões do cristianismo, seria difícil identificarmos a chave para abordar o problema da raiz da igreja. Cada polo, como descrito, é bíblico, mas em si e por si é unilateral. O verdadeiro entendimento bíblico deve sempre esforçar-se em colocar os dois polos juntos. Veja o diagrama da página 24. Ele relata os diferentes focos dos paradigmas ocidentais e orientais e seus conceitos de pecado. Enquanto a ênfase legal do paradigma ocidental resulta em ver o pecado principalmente como quebra de regras, o paradigma oriental tende a abordar o pecado como uma doença. Essas diferentes ênfases têm consequências para a seleção de uma cura adequada. Enquanto o paradigma ocidental gosta de termos legais tais como punição e perdão, o paradigma oriental tende para


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metáforas médicas, como cura. Na mente oriental até mesmo a punição não é muito vista como uma maneira de satisfazer a Deus, mas como medicina ou terapia. Em resumo, enquanto na teologia ocidental, muitas metáforas usadas para descrever o cristianismo são emprestadas da sala do tribunal, na visão teológica oriental, as igrejas são mais como um hospital. Repetidamente temos que enfatizar que ambas as metáforas – a forense e a terapêutica – têm suas raízes nas Escrituras, que ambas são essenciais e ambas deveriam encontrar expressões adequadas na igreja atual. Não é uma questão de ou/ou, mas de ambos/e. Porém, a fim de trazer equilíbrio para esses dois polos, a maioria das igrejas ocidentais precisa expandir seu entendimento terapêutico de pecado perguntando: O que leva as pessoas a desconsiderarem os mandamentos de Deus? O que elas esperam alcançar? Que energia as guia? Como essas energias podem ser recanalizadas para propósitos construtivos? E finalmente, o que podemos fazer, na prática, para ajudar pessoas a fugirem do padrão autodestrutivo do pecado? O centro da fé cristã Com tudo isso em mente, vamos olhar de perto o diagrama da página 25. Esse diagrama destaca a essência da fé cristã – a vitória de Cristo sobre o mal (quadro da esquerda) e morte (quadro da direita). A descrição do trabalho fundamental da Mais na web: Em 3colorsofcommunity.org igreja é comunicar essa realidade de tal maneira que você encontrará respostas as pessoas não somente ouçam a mensagem, mas para as seguintes questões: experimentem essa dupla vitória em suas vidas. • Como uma igreja ocidental Estou ciente de que muitos cristãos ocidentais espeaprende da tradição orien- ram um livro de pequenos grupos para aprofundar tal sem mudar sua identi- sobre o tamanho ideal de grupo, técnicas de marketing para atrair recém-chegados ou tópicos interesdade denominacional? santes que imediatamente os conectem com neces• Quais são as implica- sidades que se fazem sentidas. Existe um lugar para ções do assim chamado cada uma dessas questões. Meu medo, porém, é “cisma” de 1054, espe- que muitos grupos cristãos, enquanto fazem muitas cialmente para as igrejas coisas interessantes, e mesmo espirituais, corram o protestantes? risco de perder a essência da fé cristã – ajudar pessoas a experimentarem a vitória de Cristo acima do pecado e da morte em suas vidas. Quando “mal” e “morte” são os dois opostos da iniciativa cristã, deveríamos nos esforçar para promover a “boa vida” (“boa” como o oposto de “mal”, e “vida” como o oposto de “morte”). Comunidade cristã é isso. Quando lidamos com os Sete Pecados Capitais e as Sete Qualidades Comunitárias, nosso objetivo será dizer claramente qual é o significado de “boa vida” em termos práticos e quais obstáculos superar a fim de vê-lo florescer.


Aproveitando as energias por trás dos pecados capitais

Aproveitando as energias por trás dos pecados capitais

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té este ponto, algumas de nossas reflexões podem parecer um pouco abstratas: a definição de pequeno grupo. A Bússola Trinitária. As Sete Qualidades Comunitárias. Os Sete Pecados Capitais. Os paradigmas orientais e ocidentais. Alguns leitores que pensarem principalmente sobre a próxima sessão de seu pequeno grupo na terça-feira à noite, sobre as perguntas de John, Judith e Max; sobre o desemprego de Max; sobre o câncer de seio de Judith, sobre as dificuldades de entendimento de Romanos 4 e sua própria pressão de tempo, pode estar ficando impaciente e perguntar: “Quando começa a ser prático?” Estou confiante de que, através do restante deste livro, você apreciará a relevância da construção teórica em blocos que temos explorado. Sem ela, teria sido praticamente impossível entender o paradigma no qual este livro é baseado – a distinção entre as energias dadas por Deus e como elas expressam tanto a forma dos Sete Pecados Capitais quanto as Sete Qualidades Comunitárias. Há alguma coisa positiva sobre o pecado? A maioria dos autores que escrevem sobre os Sete Pecados Capitais chega certamente a uma descoberta enigmática em algum ponto ao longo do caminho. Naturalmente, abordam cada um dos pecados criticamente. Não há surpresa alguma de que as consequências destrutivas do pecado sejam bem visíveis. Contudo, cavando profundamente, inexplicavelmente parece haver algum elemento positivo conectado a cada um dos sete pecados. É claro que a ira é negativa – mas ela não proporciona a força necessária para sermos mais corajosos do que seríamos de outro modo? Não há dúvida alguma de que a avareza é errada – por outro lado, ela não proporciona o combustível que mantém nossa economia em crescimento? Não há dúvida de que o orgulho é pecado – mas ele não nos ajuda a desenvolver uma autoestima positiva? Observações similares podem ser feitas de cada um dos Sete Pecados Capitais. Parece que existe algo em cada um deles que não pode ser categoricamente condenado. Isso nos leva a um quadro confuso. Poderia ser que o pecado não é necessariamente mau, pelo menos nem sempre? Em alguns casos, sob certas circunstâncias, ou em algumas áreas, poderia ser correto? A resposta é um definitivo “não”. Pecado é sempre errado – em todos os casos, sob todas as circunstâncias, em todas as áreas. E, ainda assim, os autores que querem dar o sentido de algo positivo dentro de cada um dos pecados, não estão completamente errados. O elemento positivo não é nem o pecado, nem algo intrínseco conectado ao pecado, mas certamente a energia por trás de cada pecado.

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