Celebrando o amor de Deus

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Celebrando o amor de Deus



Klaus Douglass

Celebrando o amor de Deus O despertar para um novo culto

O terceiro módulo da série: “O Desenvolvimento Natural da Igreja”

3ª edição Tradução: Valdemar Kroker

Curitiba/PR 2020


Klaus Douglass

Celebrando o amor de Deus O despertar para um novo culto

Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Tradutor: Valdemar Kroker Capa: Claudio Beckert Jr. Revisão: Fred R. Bornschein, Doris Körber, Josiane Zanon Moreschi Editoração eletrônica: Rafael Filipe Panfil 1ª edição brasileira: Setembro de 2000 2ª edição brasileira: Fevereiro de 2008 Reimpressão revisada: Julho de 2010 3ª edição brasileira: Março de 2020 Título do Original em Alemão: Gottes Liebe feiern - Aufbruch zum neuen Gottesdienst Copyright©1998 C & P Verlag Emmelsbüll, Alemanha Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Douglass, Klaus Celebrando o amor de Deus : o despertar para um novo culto / Klaus Douglass ; tradução de Waldemar Kroker. - - 3. ed. - - Curitiba : Editora Evangélica Esperança, 2020. - - (Série “o desenvolvimento natural da Igreja”) Título original: Gottes Liebe feiern. Bibliografia ISBN978-65-990619-2-9 1. Celebrações litúrgicas 2. Culto público 3. Deus - Adoração e amor 4. Igreja - Crescimento 5. Novas Igrejas - Desenvolvimento I. Título. II. Série 10-08211 CDD-264.041

Índices para catálogo sistemático: 1. Culto público : Igreja : Cristianismo 264.041 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem permissão escrita dos editores. EDITORA EVANGÉLICA ESPERANÇA Rua Aviador Vicente Wolski, 353 – CEP 82510-420 – Curitiba – PR Fone: (41) 3022-3390 comercial@esperanca-editora.com.br www.editoraesperanca.com.br


Sumário

Prólogo..................................................................................................................................7 À procura de um culto atraente para as pessoas...............................................................7 Parte 1 Por que muitos cultos não atraem as pessoas?.............................................................15 1. Como as pessoas vivenciam os nossos cultos........................................................16 2. Sete sugestões para análise e terapia.......................................................................19 3. Uma conversa com Afonso (Curso rápido sobre liturgia)..................................33 4. “Liturgia invertida” – um jogo didático.................................................................43 Parte 2 Dez elementos-chave do culto........................................................................................45 1. Música.........................................................................................................................46 a) Uma defesa da música moderna.......................................................................47 b) Dez linhas bíblicas gerais....................................................................................56 c) Como posso transformar uma igreja tradicional?.............................................66 2. Confissão de pecados..................................................................................................73 a) A função da confissão de pecados.....................................................................74 b) Aconselhamento e confissão................................................................................80 c) A prática no culto..................................................................................................92 3. Oração.........................................................................................................................97 a) A oração no culto...................................................................................................98 b) Workshop: “Expressão corporal na oração”..................................................107 c) Assim você intensifica a vida de oração na sua igreja.....................................115 4. Louvor........................................................................................................................123 a) Porque devemos louvar a Deus........................................................................125 b) Oito passos para desenvolver o louvor pessoal..............................................128 c) Desenvolvendo uma cultura de louvor..........................................................135 5. Pregação..........................................................................................................140 a) Sobre bons e maus sermões...............................................................................142 b) Doze regras para um bom sermão....................................................................145 c) Desenvolvendo a pregação interativa..............................................................153 6. Profecia..............................................................................................................160 a) Dez critérios para a prática da profecia..........................................................165 b) Workshop: “Discernindo os espíritos”.............................................................169 c) Desenvolvendo a palavra profética na igreja..................................................171


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7. Confissão de fé..........................................................................................................174 a) Dificuldades com a confissão de fé.................................................................176 b) Desenvolvendo a sua própria confissão de fé...............................................182 c) Dez variações da confissão de fé.....................................................................185 8. Ceia do Senhor..........................................................................................................189 a) Dez tópicos da minha concepção da Ceia......................................................190 b) Um programa de aprendizado da Ceia...........................................................199 c) O preparo da celebração da Ceia.................................................................202 9. Bênção...........................................................................................................208 a) Linhas básicas para a prática bíblica da bênção...........................................211 b) Três estudos bíblicos para grupos familiares..................................................218 c) Dez dicas para uma prática bíblica mais intensa da bênção........................221 10. Dízimos e ofertas......................................................................................................225 a) Uma breve teologia do dinheiro.......................................................................226 b) Desenvolvendo um plano para as finanças pessoais...................................232 c) Aprendendo a dar com generosidade – como se aprende isso?.................236 Parte 3 Mais 111 dicas para o preparo do culto.......................................................................243 1. Os aspectos chamados “exteriores”......................................................................244 2. A antessala do preparo para o culto.....................................................................248 3. Dicas para o trabalho com crianças........................................................................251 4. Dicas para a parte inicial do culto...........................................................................254 5. A liturgia da introdução – dicas para as igrejas tradicionais................................261 6. Batismos no culto principal – dicas para as igrejas tradicionais........................266 7. A pregação no culto..................................................................................................271 8. O envio no culto........................................................................................................276 9. Após o culto...............................................................................................................279 10. Perspectiva......................................................................................................283 Adendo Do culto avivado para a igreja avivada.......................................................................286 Lista de verificação: Onde está sua igreja?...................................................................287 O Desenvolvimento Natural da Igreja..........................................................................289 A série: Desenvolvimento Natural da Igreja..................................................................291


À procura de um culto atraente para as pessoas

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Prólogo

À procura de um culto atraente para as pessoas Há algum tempo, ofereci um curso para pastores sobre o tema “Cultos atraentes para as pessoas”. Fiquei «Só haverá um surpreso ao ver como algumas pessoas apresentaram reações fortes diante desse tema: “Culto atraente para culto renovado se as pessoas? Será que este é um critério adequado para toda a igreja se a avaliação do culto? Será que não é muito mais imporpuser a caminho». tante que os nossos cultos agradem a Deus?” Sempre fico admirado com este contra-ataque. Até hoje não consegui descobrir nenhuma contradição entre estes dois aspectos: o culto ser agradável a Deus e atraente para as pessoas. Será que na Bíblia Deus não nos é apresentado de capa a capa como um Deus atraente para as pessoas? E será que um culto que é agradável a Deus não tem também a tarefa de ser atraente para as pessoas?

Cultos “não atraentes” para as pessoas? Mais um problema surgiu quando dei aquele curso. Houve pessoas que não se inscreveram porque se sentiram – vamos ser francos – um pouco ofendidas. Uma pessoa me escreveu o seguinte: “O tema foi formulado de maneira tal que sugere que os nossos cultos não são atraentes para as pessoas”. Confesso que é isso mesmo o que eu penso sobre um grande número de cultos que conheço. Ninguém precisa encarar esta minha opinião como uma crítica às pessoas. Creio que o problema é estrutural. Assim que uma igreja, pelos longos anos de existência, chega à idade de desenvolver tradições, ela tende a ser mais fiel ao passado do que ao presente. Para preservar a “herança santa” de Martinho Lutero, João Wesley ou seja lá de quem for, paga-se, sem muitas reflexões, o preço de perder o contato com as pessoas de hoje. E ainda achamos que estamos honrando a Deus de maneira especial com esSe procedimento.

A minha história pastoral Eu mesmo sou luterano. À nossa igreja, na periferia de Frankfurt, vêm centenas de pessoas. Uma das chaves para isso são os cultos avivados. Nos últimos anos as pessoas têm me acusado, muitas vezes, de que estou me conformando com o mundo, com o espírito de nossa época. Mas estou pouco interessado no espírito da época. O que me interessa são as pessoas de hoje, e a minha paixão é levar a elas o Evangelho de Jesus Cristo de tal maneira que elas o entendam, que a mensagem se identifique com situações reais da sua vida e lhes permita experimentar o amor de Deus. Na minha opinião, essa era exatamente a preocupação de Martinho Lutero e de outros reformadores. Eles não estavam interessados em criar tradições, mas em conduzir a igreja conforme as Escrituras Sagradas no tocante à mensagem e conforme a época no tocante à forma.


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Como surgiram as tradições Todas as grandes tradições começaram como inovações. Essas inovações eram introduzidas – em geral contra a oposição ferrenha daqueles que se agarravam ao que era considerado santa tradição – porque eram úteis para as pessoas do seu tempo. Essas tradições ajudavam as pessoas a oferecerem a Deus um culto melhor, a experimentarem Deus de maneira mais abrangente, a entenderem melhor o amor de Deus, etc. No início, essas tradições eram fundamentadas em argumentos bem práticos e sensatos. Só que as pessoas elevavam essas práticas, nascidas da necessidade e da utilidade, à posição de supostos mandamentos de Deus. Assim, ficaram cristalizadas e engessadas, praticadas mesmo quando já tinham perdido seu sentido original e quando quase não havia mais alguém que ainda as entendesse. É como na história do gato do guru: O GATO DO GURU Todas as noites, quando o guru se sentava para o culto ao seu deus, o gato do Ashram (comunidade na qual o guru vive com seus discípulos) costumava caminhar pelo salão e, assim, distraía os adoradores. Por isso, o guru pediu que, durante o culto da noite, o gato fosse amarrado do lado de fora, em frente à porta. Após a morte do guru, o gato continuou a ser amarrado em frente à porta durante o culto da noite. E, quando o gato finalmente morreu, outro gato foi levado ao Ashram para que fosse amarrado, de acordo com as regras apropriadas, durante o culto da noite. Séculos mais tarde, os seguidores do guru escreveram longas e detalhadas teses sobre o papel importante de um gato naquele culto. Todo aquele que não se curvava diante do gato na entrada já era considerado pecador. E se alguém ousasse questionar a importância do gato para a correta adoração, era queimado como herege.

Soltando os “gatos” O objetivo deste livro é soltar aqueles “gatos” que o cristianismo amarrou no âmbito do culto ao longo dos anos e séculos e chamou de “gatos sagrados”. Não sou, por princípio, contra a tradição. Você irá descobrir neste livro que muitas tradições se tornaram preciosas para mim ao longo da minha caminhada. A tradição pode ser um instrumento muito, muito útil para não termos que reinventar a roda a cada hora. A tradição muitas vezes nos sugere coisas que, por nós mesmos, não teríamos nos lembrado, e também age como corretivo para a nossa visão limitada. Mas a tradição em si não é coisa diante da qual o cristão precise se curvar. A tradição é uma ajuda, nada mais e nada menos. Precisamos nos perguntar por que ela surgiu, que sentido traz e se tem esse sentido ainda hoje. O critério para avaliar a tradição não é se ela é antiga e digna de reverência, mas se ainda cumpre o seu sentido original. E se o gato no Ashram já não estimula a


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pessoa no seu culto e talvez até impeça o fiel de ir ao culto, então está na hora de soltar o gato e de pensar em algo novo.

Afinal, quem é que está servindo a quem? Neste livro estamos falando sobre o culto cristão. Culto a Deus: Você já parou para pensar quem é que está cultuando e quem é que está servindo a quem? Será que Deus está servindo a nós, ou nós estamos servindo a ele? Na prática, esta questão já está resolvida há muito tempo. É evidente que nós, seres humanos, é que precisamos servir a Deus! Se não fosse assim, como poderíamos explicar o fato de que milhares de pessoas saem da cama domingo após domingo (em vez de dormir mais um pouco e depois tomar um café tranquilo na companhia da família) e se põem a caminho para participar de um programa no qual geralmente sentarão em bancos duros e ouvirão músicas que provavelmente não estão nos CDs que compram? Só alguns poucos cultuadores conseguem entender o conteúdo desse programa e as questões que lá são tratadas geralmente não têm relação alguma com o dia a dia das pessoas. Mesmos assim elas vão lá, pois o culto a Deus, como se vê pelos seus semblantes sérios e piedosos, é tarefa de todo cristão, é um sacrifício que devemos fazer para Deus. Aparentemente é disso que ele gosta.

Sentimento de obrigação em vez de alegria No entanto, cada vez menos pessoas estão dispostas a fazer esse sacrifício. O fato é que, em muitas igrejas, os frequentadores são, em grande parte, apenas aquelas pessoas que, desde jovens, estão familiarizadas com a forma do culto e que ainda se sentem tocadas pela linguagem e pelas músicas do culto. (Na maioria das vezes são idosos e, mesmo assim, em quantidade assustadoramente reduzida.) Ou então vêm aos cultos pessoas que não se encaixam nessas condições, mas que têm um sentimento de obrigação tão forte que estão dispostas a fazer este sacrifício para Deus.

O culto precisa ser agradável O que seria, no entanto, do culto, se ele fosse muito mais um momento em que Deus nos serve, em vez de nós servirmos a ele? O que aconteceria se Deus quisesse nos servir no culto de domingo para que, depois de sermos abastecidos e fortalecidos, pudéssemos servi-lo nos outros seis dias da semana? Se o culto fosse um lugar no qual Deus nos serve antes de nós servirmos a ele, então teríamos convivido todos estes anos com um grande mal-entendido. Teríamos procurado servir a Deus, quando na verdade ele queria nos servir. É claro que todo pastor vai dizer que o culto é também um momento em que Deus serve o ser humano. Mas o que decide não é o que o pastor afirma com


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argumentos teológicos, mas como o participante vivencia o culto. O fato de Deus servir o ser humano não pode ficar oculto no culto, mas precisa se tornar uma experiência palpável. Faço esta afirmação abertamente: O culto precisa ser agradável. Ele precisa fazer com que as pessoas saiam de lá mais tranquilas, confiantes, carinhosas, mais preparadas para a vida e mais alegres. O culto a Deus precisa estimular o prazer da fé.

A real pedra de tropeço Para alcançar esse objetivo, o culto deve ser caracterizado por uma atmosfera que reflita o amor de Deus. Pode ser que algumas pessoas se escandalizem com este amor. Não podemos mudar isso. Enquanto houver cristianismo haverá pessoas que se escandalizarão com o amor de Deus, que foi até a cruz. Esta é uma pedra de tropeço que provém do conteúdo da mensagem. Não podemos e nem temos o direito de evitá-la. O que podemos – e temos a obrigação de – evitar é que as pessoas não entendam os nossos cultos e que tropecem nas formas criadas por nós. Não podemos permitir que as pessoas tropecem no fato de estarmos falando constantemente do amor de Deus sem que isso seja perceptível na maneira com que celebramos o nosso Deus.

A estrutura do livro Este livro trata inicialmente, de forma panorâmica, da problemática de tantas igrejas terem cada vez menos pessoas nos seus cultos. Uma das razões mais importantes para as pessoas não frequentarem os cultos é esta: elas já não entendem os nossos cultos. Vamos nos colocar no lugar de um jovem ingênuo, que vai ao culto pela primeira vez na sua vida e quando o pastor anuncia a leitura bíblica ele acha que o Corinthians ganhou do versículo por 3 a 1. Neste livro darei uma série de sugestões de como fazer um culto diferente. Mas, antes, quero conduzir o jovem Afonso – e assim também o leitor deste livro – por um curso rápido para familiarizá-lo com os elementos principais de um culto tradicional. Não importa de que igreja você é, não importa se o culto de sua igreja é muito preso à liturgia ou se é conduzido de maneira mais livre: estudar os elementos básicos do culto evangélico tradicional é de grande utilidade para todos. É também de grande utilidade para igrejas que celebram seus cultos de forma não tradicional.

O método dos três passos O conteúdo principal deste livro está na parte 2. Ela estuda os dez elementos de importância fundamental para o culto cristão seguindo os três passos: Entender – Conectar – Desenvolver.


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O primeiro passo: Entender Em primeiro lugar, queremos entender cada parte do culto cristão. Já ganharemos muito se pararmos para pensar sobre o culto: O que está acontecendo no culto? Que sentido tem este aspecto na sequência do culto? Que objetivo tem para a minha vida? Às igrejas mais tradicionais sugiro que se ocupem com questões que nasceram em contextos de igrejas carismáticas, como profecia e formas novas de adoração, e às igrejas carismáticas sugiro que se ocupem com questões como confissão de pecados e confissão de fé. O meu desejo é que as duas aprendam uma com a outra. Somente assim venceremos parcialidades e limitações na nossa prática eclesiástica. A primeira parte de cada capítulo traz, portanto, uma breve introdução teológica a respeito de cada elemento do culto. Até aí o livro Celebrando o amor de Deus é um autêntico livro para reflexão. Mas não fica nisso.

O segundo passo: Conectar Toda a vida do cristão deve ser um culto a Deus. O que celebramos no domingo é somente o ápice e o objetivo para o qual todos os detalhes da semana do cristão convergem. Por isso, depois do Entender vem o Conectar. Nesta parte você encontrará exercícios e ideias que irão provocar discussões cuja finalidade é ajudá-lo a estabelecer uma relação entre cada elemento do culto e a sua vida pessoal. Esses exercícios foram preparados para conduzi-lo a uma compreensão da sequência do culto que vai muito além do entendimento intelectual. Você pode fazer a maioria dos exercícios sozinho. Mas a experiência mostra que é melhor fazê-los com outras pessoas, seja nos grupos familiares ou em reuniões de obreiros da igreja. O objetivo é que, como indivíduos e como grupos, experimentemos cada elemento do culto de maneira mais consciente e profunda, como enriquecimento para a nossa vida. A segunda parte de cada capítulo tem como objetivo gerar mudanças na nossa vida, mais especificamente o desenvolvimento de novos hábitos. Neste sentido, Celebrando o amor de Deus é um livro prático para a vida.

O terceiro passo: Desenvolver O terceiro passo – Desenvolver – trata da prática das novas percepções aprendidas durante a reflexão anterior nos nossos cultos e igrejas. Neste passo você encontrará dicas muito práticas de como introduzir mudanças no seu culto, mas também dou sugestões concretas a respeito do que precisa acontecer antes de introduzir mudanças nos cultos da sua igreja. Tenho a convicção de que também os cultos deste novo milênio não apresentarão elementos totalmente novos, mas que nos aspectos básicos serão constituídos daquelas partes antigas e aprovadas desde os tempos bíblicos. É claro que elas precisam passar por modificações relacionadas aos novos tempos e por mudanças de ênfase, de modo que a participação nos cultos


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se torne uma experiência significativa para o ser humano da nossa época. A terceira parte de cada capítulo o ajudará a dar os passos corretos nessa área, a fim de criar as condições necessárias para as mudanças na sua igreja. Neste sentido, Celebrando o amor de Deus é um autêntico livro de edificação de igreja.

Celebrando o amor de Deus ‒ uma arte Da mesma maneira como os exercícios individuais, também as orientações concretas deste livro serão mais ou menos práticas de acordo com cada situação. E isso precisa ser assim, pois não conheço a situação da sua igreja. Portanto, aproveite deste meu livro aquilo que melhor se aplica à sua igreja agora. O restante deixe de lado por enquanto. E não se incomode com o fato de que as orientações do livro muitas vezes são do estilo “livro de receitas”. Tanto faz se alguém está aprendendo a programar um computador, a pintar lindos quadros ou se está praticando os exercícios para tocar um instrumento – cada arte precisa ser aprendida por meio de pequenos e detalhados passos. Isso vale também para a arte de aprender a celebrar o amor de Deus. No momento em que você alcançou certo nível de capacidade nesta arte, a sequência dos passos se torna um tanto relativa. É verdade que há diferentes caminhos para se aprender uma mesma arte. O caminho descrito neste livro é somente um entre muitos possíveis. Se você conhece um caminho melhor, ótimo. O que me importa não são os caminhos descritos aqui, mas o nosso objetivo comum: que aprendamos a celebrar a Deus – cada um da sua maneira – de tal forma que isso seja atraente para as pessoas e que Deus seja honrado.

Não só para pastores Entre os meus leitores há, certamente, muitas pessoas que têm uma influência direta sobre a forma de culto na sua igreja. Penso, por exemplo, nos pastores, nos pregadores leigos, nos líderes de igrejas, nas equipes responsáveis pelos cultos ou em outras pessoas que são ouvidas pelos pastores. E, neste sentido, dou importância especial ao seguinte fato: este livro não foi escrito em primeiro lugar para pastores! Talvez você fique admirado com a afirmação acima, pois “culto” é um tema clássico para pastores. Mas se quisermos que os cultos se tornem mais atraentes para as pessoas – que é um dos objetivos principais deste livro – isto só irá acontecer se permitirmos que as pessoas da igreja participem cada vez mais do processo de desenvolvimento e preparo do culto. Só haverá o “novo culto” se as igrejas romperem as barreiras e se puserem a caminho. Por isso, o livro está voltado em primeiro lugar para “não pastores”. Muitas coisas que estão neste livro o pastor já sabe há muito tempo. Ele foi escrito – como todos os livros da série “O Desenvolvimento Natural da Igreja” – principalmente para cristãos comprometidos e engajados nas suas igrejas.


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A função do pastor Por outro lado, quando estivermos falando sobre o preparo e as mudanças no culto, vamos nos dirigir mais aos pastores, pois se o pastor não estiver liderando, se ele não quiser as mudanças, dificilmente alguma coisa acontecerá nessa área. Então, só resta às pessoas tentar entender melhor todos os elementos do culto atual de sua igreja e aplicá-los à sua vida. Este livro pode ajudar até nisso, mas a verdade é que somente com isso o culto não irá se tornar mais atraente para as pessoas. E, assim, ganharemos somente pessoas que já estão altamente motivadas. A melhor forma de colocar as ideias deste livro em prática de maneira bem-sucedida é que pastor e membros engajados caminhem juntos a trilha aqui sugerida.



Parte 1

Por que muitos cultos não atraem as pessoas?

Neste capítulo vamos nos colocar no lugar de um confirmando1 ingênuo que, de repente, se vê na situação de ter que participar do culto durante um ano inteiro. E nós nos perguntamos: Será que depois da confirmação ele continuará vindo ao culto ou irá fazer o que seus pais fizeram? Neste capítulo você encontrará várias sugestões práticas sobre como avaliar a qualidade do seu culto, bem como algumas orientações iniciais de terapia e correção. No final desta parte darei uma breve introdução ao culto evangélico tradicional. Antes de você rejeitar ou mudar essa forma de culto, deve pelo menos saber qual foi a intenção original na sua concepção. E, quem sabe, você descubra neste curso rápido de liturgia que há mais tesouros escondidos no culto convencional do que você desconfiava. 1 Na igreja luterana, “confirmando” é um(a) jovem (entre 12-15 anos) que recebe instrução doutrinária e tem o compromisso de participar regularmente durante um ano dos cultos da sua igreja, antes que faça a profissão de fé, isto é, seja “confirmado”. (N. de Edição)


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Introdução

Como as pessoas vivenciam os nossos cultos AFONSO VAI À IGREJA Afonso sai da cama resmungando, põe o jeans e o tênis. Com pesar pensa na sua infância, quando podia dormir o quanto quisesse no domingo. Mas agora ele tem 14 anos e participa do curso de profissão de fé. E época de profissão de fé significa um ano de frequência obrigatória aos cultos. A mãe vem ao seu encontro de roupão. “Jeans e tênis? Você deve estar maluco!” ela exclama. “Ponha uma roupa decente se você quer ir à igreja”. Afonso responde: “E como você sabe o que é decente pra ir à igreja se nunca vai?” “Você já irá descobrir”, ela responde enquanto “nhac nhac” mais uma fatia de pão para si. E é assim que Afonso chega à igreja: bem penteado e em roupas que não têm nada a ver com ele e nas quais não se sente bem. Um senhor mais velho coloca um livro vermelho em suas mãos. São quase 10 horas e, preocupado, Afonso pensa: “Tomara que eu ainda consiga um bom lugar”. Até então ele só havia estado na igreja no culto de Natal, quando era necessário chegar meia hora mais cedo se quisesse ver alguma coisa. Ao entrar na igreja esfrega os olhos, admirado: O que é isso? Será que o seu relógio está errado? Só há 20, talvez 25 pessoas espalhadas pelos bancos e a maioria são mulheres. “Eu sozinho entre as mulheres”, Afonso pensa. Ele vai ao banco mais próximo e senta ao lado de uma senhora mais idosa, que olha para ele sem esconder sua indignação. Afonso pensa: “Devo ter feito algo errado”, e observa que ninguém na igreja está sentado ao lado de outra pessoa. Todos estão afastados o mais possível uns dos outros. Ele também sente que o banco em que está sentado é mais duro do que a sua carteira na escola, que já não é lá muito confortável. Afonso olha pelo salão: a igreja está ornamentada de maneira muito solene. O órgão começa a tocar. O pastor, que ele conhece do curso de profissão de fé, entra de beca. “Não fica bem pra ele”, Afonso pensa, “mas provavelmente esta cor tem um significado simbólico no culto”. O pastor saúda as pessoas de forma “bem calorosa” (Afonso irá descobrir mais tarde que não é expressão de entusiasmo, pois o pastor faz esta mesma saudação todos os domingos), para logo em seguida contar, sem o mesmo sorriso, que a oferta no domingo anterior deu R$ 64,75. “Ah”, pensa Afonso, “parece que as coisas mais importantes acontecem no início do culto”.

«Muitas pessoas se sentem como Afonso quando vêm ao nosso culto».


Como as pessoas vivenciam os nossos cultos “Nós queremos orar agora”, diz o pastor em seguida. Afonso não está a fim de orar. Mas já que todos se levantam e juntam as mãos para orar, ele os imita e faz o mesmo. Ele, porém, não fecha os olhos, mas observa cuidadosamente todos os participantes do culto. Tão cuidadosamente que descobre que orar é uma coisa muita séria, chega a ser triste. Em seguida todos sentam-se de novo e começam a cantar. Todos menos Afonso, que está mudando de voz. Mas parece que todos estão com o mesmo problema, pois o canto é lamentável. Depois acontece uma série de coisas que Afonso não entende. O pastor fala em uma linguagem que ele não consegue compreender, a igreja responde com hinos breves, bem antigos, que ele não consegue achar em hinário algum, e que tampouco entende. Às vezes as pessoas levantam, depois sentam, e parece que todos conhecem as regras do jogo – só Afonso não. Graças a Deus, isso dura apenas uns 10 minutos, mas parece que durou muito mais. É uma das coisas mais monótonas que ele já experimentou na vida. Depois, todos se levantam de novo e recitam juntos a confissão de fé. Afonso está desanimado com tudo em que o cristão precisa crer. É verdade que não há muitas pessoas no culto, mas será que todas creem, de fato, na concepção virginal de Maria, como acabam de declarar? Aí o pessoal lê mais um texto da Bíblia – Já foram quantos neste culto? – e o pastor aparece, de repente, em um lugar dois metros acima da congregação em algo que mais parece um camarote de teatro. Mas, infelizmente, o que vem em seguida não é nada divertido. Afonso tenta entender o sentido mais profundo da mensagem, mas ele simplesmente não consegue. “Por que este homem não fala a minha língua?”, ele se questiona. Aliás, isso acontece durante todo o culto. Talvez ele devesse ter trazido um dicionário: tantas palavras e conceitos que ele nunca tinha ouvido alguém usar. E, quando o pastor fala em “concupiscência da carne” e da “expiação de Cristo para a nossa justificação”, ele se desliga de vez da mensagem. Depois vêm mais hinos com letras também incompreensíveis e melodias complicadas. Segue uma oração aparentemente interminável e então, ainda bem, vem o final. O pastor ainda diz que o rosto de Deus deve resplandecer, ou algo parecido, e depois todos podem sair, impelidos por uma música do órgão. De consciência pesada, ele passa ao largo de uma cesta com dinheiro. “Ah, se eu tivesse algumas moedinhas, pelo menos não passaria vergonha agora”. As pessoas já não aparentam ser tão rígidas (parece que o efeito do culto já diminuiu) e desaparecem em todas as direções. Lá fora já há crianças esperando pela próxima apresentação. “Eu nem sabia que tinha mais uma”, Afonso pensa. Ele tem pena das crianças. E de si mesmo também, pois durante um ano inteiro terá que passar por isso todos os domingos. Mas depois deste ano ele irá fazer como todos os outros jovens que fazem a profissão de fé: nunca mais voltará para participar deste evento, que ele não entende, que não lhe traz vantagem alguma e que é contra tudo o que ele pensa da vida.

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Totalmente contra o que as pessoas pensam e sentem sobre a vida Confesso que essa história foi exagerada. Talvez seja até injusta. E mesmo assim ela se repete, domingo após domingo, em inúmeras igrejas. Quando perguntamos aos responsáveis pelos cultos por que tão poucas pessoas vão aos cultos, eles gostam de alegar que a causa está nas “modificações sociais” ou no “ateísmo crescente” da humanidade. Se, no entanto, perguntarmos às pessoas por que elas não vão aos cultos – e eu faço isto frequentemente – a resposta que ouço é outra: “Eu até que tenho interesse, mas não ganho nada com a mensagem. Ela não tem nada a ver com a minha vida”. E, acima de tudo, e cada vez mais, ouço esta resposta: “O culto é contra tudo o que eu penso e sinto sobre a vida. Eu não entendo a música, não entendo a linguagem. Não entendo os símbolos. Eu não entendo os problemas que são tratados lá”.

O problema fundamental de muitas igrejas Com certeza na sua igreja as coisas são bem diferentes. Vocês não têm bancos de madeira e, de vez em quando, cantam uma música mais moderna. Seu pastor é dinâmico e aberto. Mas, ainda assim, coloque-se no lugar da pessoa que não tem ideia de como são os nossos cultos e que é uma pessoa moderna e atual na sua forma de pensar. Será que ela irá sentir o culto de modo muito diferente do que Afonso? Será que essa pessoa não precisará vencer também uma série de barreiras para conseguir entender o que está acontecendo? Talvez você diga: “Mas Afonso está só no começo do curso de profissão de fé. Com o tempo ele irá aprender tudo”. Mas o problema não é só que Afonso não entende muitas coisas do culto. Mais decisivo é que ele simplesmente não se sente bem porque muitas coisas do culto não têm relação alguma com a sua concepção de vida. Mesmo que ele aprenda a entender a forma com que o culto foi preparado, esse conhecimento teórico dificilmente irá atingir os seus sentimentos. As pessoas com a idade do Afonso não são as únicas que têm este tipo de problema. Aquilo que, supostamente, deve ser um culto para “toda a igreja” obviamente só atinge senhoras idosas. Até a mãe de Afonso, que é 25 anos mais velha que ele, evidentemente tem o mesmo problema e, por isso, já não vai ao culto há muitos anos. “Você descobrirá o porquê”, ela diz – e Afonso de fato descobre. Será que isso é só uma história? Pois tire a dúvida na prática. Você teria coragem?


Sete sugestões para análise e terapia

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Sete sugestões para análise e terapia Sugestão número 1: Analise a participação nos seus cultos. Conte os participantes do seu culto. Faça uma análise «Cultos são, via de acordo com idade e sexo. Quantos “Afonsos” você de regra, eventos ainda vê nos cultos após a profissão de fé, ou após o batismo, se a sua igreja pratica o batismo após a propara um fissão de fé? Ou pense na mãe do Afonso. Ela deve ter público alvo». entre 35 e 40 anos. Quantas pessoas desta faixa etária vêm aos cultos da sua igreja? Reflita sobre a questão de como o seu culto se relaciona com a concepção que as pessoas têm da realidade de hoje. Mas não faça esta análise por estimativa: conte! Para alguns talvez pareça banalidade, mas é surpreendente ver como muitos pastores fecham os olhos diante da verdade de que, via de regra, muitos cultos afastam os jovens, e principalmente os homens, ao invés de atraí-los. A maioria dos pastores acha que a forma como conduzem o culto e pregam é original e criativa. Minha sugestão é a seguinte: não confie na sua própria avaliação, mas conte exatamente quantas pessoas pensam da mesma maneira que você! Não fuja de uma análise impiedosa! De forma bem concreta: faça uma contagem de quatro cultos seguidos. Mas não inclua um domingo especial, como o culto de natal, de batismo ou um domingo em que um conjunto famoso vai cantar na sua igreja, e desconte dos números todas as pessoas que vêm por obrigação, como o pessoal responsável pelo louvor, o pastor ou a pessoa que está dirigindo o culto. Nesta pesquisa responda às seguintes perguntas: 1. Quantas pessoas estão no culto? 2. Quantos homens e quantas mulheres? 3. E a idade das pessoas? Quantas estão abaixo de 25 anos, quantas abaixo de 40, quantas acima de 60? E aqui também vale a pergunta: Quantas vêm por obrigação (por exemplo: as pessoas com uma responsabilidade no culto)? Desconte estes últimos do número total. Para a nossa pesquisa só é interessante anotar quantas pessoas vêm ao culto porque ele é um evento atraente para elas. (Isso significa que, se as pessoas do louvor também estão no culto quando não estão dirigindo o louvor, você deve incluí-las na contagem). 4. Depois de fazer esses cálculos você obterá o número total de pessoas do seu culto normal. Ao fazer uma análise sóbria desses dados, você talvez chegue a uma conclusão interessante: seu culto, na verdade, não é direcionado “para todos”, como você talvez goste de afirmar. Ele é, na verdade, um evento para um grupo alvo! E o seu culto, com certeza, não está acima do conceito de “faixa etária”, como você talvez supusesse. Se


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Celebrando o amor de Deus assim fosse, você possivelmente teria nos cultos uma mistura saudável de pessoas de todas as idades. Muitos cultos não são “atemporais”, mas simplesmente antiquados, e, por isso, são atraentes principalmente para pessoas idosas, ou para as pessoas que tendem para o tradicionalismo. Todas as outras, que não têm um nível de tolerância à frustração muito alto, não serão encontradas nestes cultos muito frequentemente.

5. Se essas conclusões o surpreendem, comece a refletir se você quer deixar as coisas como estão ou não. UMA INSERÇÃO NECESSÁRIA: SOBRE NÚMEROS E CONTAGENS Quando falamos sobre isso, muitos cristãos levantam objeções: “Será que devemos contar os participantes dos nossos cultos?” Eu entendo essa preocupação. Sören Kierkegaard disse certa vez: “A comparação é o pecado original do ser humano”. Não podemos simplesmente dar de ombros para a verdade dessa frase. Pastores cujas igrejas estão no topo da lista de estatísticas facilmente escorregam para o orgulho falso, e outros, cujas igrejas não estão nas listas das “mais mais”, ficam com inveja ou são muito críticos. Números e contagens no âmbito espiritual geram controvérsias. Quero citar alguns aspectos negativos sobre isso. Em primeiro lugar, a quantidade, por si só, não é sinal de qualidade. Há muitas igrejas que estão cheias por causa da força motriz de um grande pregador, mas que não têm muito crescimento no aspecto de edificação de igreja. Acontece muitas vezes que, quando aquele pastor sai, a igreja, que era tão viçosa e exuberante por fora, desaba como um castelo de cartas. Por outro lado, há igrejas que se ocupam zelosa e cuidadosamente com um processo de edificação dos seus membros e que, apesar disso – ou talvez exatamente por isso –, se encontram em um processo de definhamento. Em segundo lugar, geralmente falta a esses números um termo de comparação adequado. Como podemos comparar uma igreja no interior com seis pontos de pregação em diferentes vilas com uma igreja urbana com 4000 membros? Mais difícil ainda: Como comparar uma igreja tradicional bem frequentada de uma colônia de imigrantes com uma igreja nova avivada com 80 membros ativos? Em terceiro lugar, a contagem de participantes de um culto pode conduzir a uma série de pecados. Isso já começa com as estimativas que, em geral, são muito altas – Por que será? – e que conduzem a sentimentos de orgulho, de segurança falsa ou de inveja. Parece que esses sentimentos obrigatoriamente andam lado a lado com a necessidade da comparação. Na Bíblia, Davi se mete em problemas consideráveis quando começa a contar seus soldados em vez de confiar inteiramente em Deus (1Cr 21). Mas há também motivos bons e importantes para contar os participantes do culto, do grupo familiar, etc.


Sete sugestões para análise e terapia Em primeiro lugar: é verdade que a quantidade não diz nada sobre a qualidade de uma igreja, mas a qualidade sempre desemboca em quantidade. Por isso, pouca quantidade em uma igreja pode muito bem ser um sinal de pouca qualidade. Muitos cristãos se acomodam quando veem pouca gente nos seus cultos e ficam elogiando os benefícios de um grupo pequeno. Eles apressadamente se justificam dizendo que não há relação entre este número pequeno e a qualidade da vida na igreja, pois qualidade, se ela realmente existe, atrai pessoas. Eu não creio em qualidade pela qual ninguém se interessa a médio e longo prazo. Bons sermões, grupos familiares avivados, pessoas fervorosas em oração, amor nos relacionamentos entre os membros, sejam lá quais forem as qualidades que estiverem presentes na igreja, tudo isso geralmente conduz a mais pessoas presentes nos cultos. Em segundo lugar: análises requerem dados. No início de toda correção de rota consciente e de toda estratégia está uma análise equilibrada da situação. Preciso saber onde estou, de onde devo partir, com o que posso contar e o que quero alcançar. Isso não tem nada a ver com “ativismo”, mas com procedimentos sóbrios e conscientes. Não posso nem fazer um bolo sem trabalhar conscientemente com números: 500 gramas de farinha, 200 gramas de açúcar, 2 ovos, 1 xícara de uvas-passas, 50 minutos no forno a 175ºC. Você iria acusar a pessoa que está pesando a farinha de “ativista”? Para concluir: também precisamos de números para avaliar e testar os objetivos alcançados. Se não tivermos esse controle numérico, nossa avaliação sobre se alcançamos os nossos objetivos ou não sempre será subjetiva. E já que a maioria de nós tende a exagerar para o lado otimista, esse procedimento abre as portas para o autoengano e para conclusões nebulosas. É fácil achar que o amor na igreja está crescendo. A coisa se torna interessante quando começamos a perguntar como isso se expressa de forma bem concreta: se, de fato, há mais visitas a doentes, se mais pessoas estão convidando outras para uma refeição ou se há mais pessoas orando umas pelas outras. Por isto, Christian A. Schwarz não fala somente sobre “relacionamentos amorosos” entre as pessoas, mas sobre um “alto quociente de amor”. O amor precisa ser concreto e mensurável. “Estamos realmente alcançando mais homens do que antigamente? O número de encontros dos grupos familiares está tendo consequências positivas ou negativas sobre a ajuda aos necessitados? O último seminário sobre evangelização trouxe resultados concretos de mais pessoas vindo a Jesus nas últimas semanas?” – Se quero respostas a estas perguntas, preciso de dados concretos. Quando falamos de números e contagens não podemos citar somente o exemplo bíblico de Davi. O próprio Senhor Jesus aconselha quem vai construir uma torre ou o rei que vai à guerra (veja Lc 14.28-32) a fazer as contas. O bom pastor sabe exatamente que das 100 ovelhas falta uma, e se ele não notou isso por uma contagem, então foi por uma intuição que não perde em nada para uma boa contagem (veja Lc 15.1-10). Parece que a igreja primitiva em Jerusalém

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Celebrando o amor de Deus fazia contas bem acuradas de quantas pessoas se convertiam (veja Atos 2.41; 4.4; 5.14; etc.) Por quê? Porque essas pessoas eram importantes para a igreja primitiva! Em viagens com igrejas e grupos de jovens, sempre que o ônibus para em algum lugar, tenho o costume de contar as pessoas que entram para ver se é o mesmo número das que saíram do ônibus. Por quê? Porque estou preocupado com o meu ego e gostaria de levar grandes multidões para casa? Não! Mas porque não quero perder nenhuma dessas pessoas! Contamos aquilo que valorizamos. Uma igreja que conta as ofertas, mas não conta o número de pessoas, evidencia prioridades um tanto estranhas. Se contamos alguma coisa nas nossas igrejas deveriam ser as pessoas.

Avalidando o culto Sugestão número 2: Peça aos participantes para avaliarem o seu culto. Esta sugestão é dirigida principalmente aos pastores. Se você não pertence a este grupo – o que provavelmente é o caso da maioria dos leitores deste livro – então convide seu pastor para um café e diga o seguinte a ele: Querido pastor: talvez a minha primeira sugestão não tenha lhe agradado. Talvez você não concorde que os números sobre os participantes do culto possam significar alguma coisa. Talvez você diga: “A qualidade está acima da quantidade”. Concordo 100%. Por isso, eu gostaria de encorajá-lo a avaliar a qualidade dos cultos da nossa igreja: 1. Peça que algumas pessoas críticas, mas abertas, venham ao culto e dê a elas um questionário que vai ajudá-las a seguir e avaliar o culto. O questionário está nas páginas seguintes e pode ser fotocopiado. Se quiser, você pode pedir a elas que deem uma nota ao culto. (Principalmente os jovens, que sempre recebem notas dos outros, gostam muito de fazer isso.) Mais importante, no entanto, é o feedback sobre o conteúdo dos cultos que você irá receber dessa forma. 2. Peça que o questionário seja preenchido anonimamente. Não colocando o nome, as pessoas geralmente têm mais liberdade de escrever o que pensam. Diga às pessoas que você gostaria de conversar com elas sobre a maneira como elas vivenciaram o culto após a pregação de domingo ou em uma visita às suas casas. Nesta hora é muito importante não ignorar, rejeitar ou menosprezar eventuais críticas, mas levar a sério as considerações e ser transparente e vulnerável diante das pessoas (e, dentro do possível, aprender algo com isso!) 3. Ponha o questionário em um lugar bem visível na sua igreja para que todos que quiserem possam preenchê-lo. Chame atenção de todas as formas possíveis (avisos, boletim) para esta ação. Você irá se surpreender com a


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disposição das pessoas em ajudá-lo se você der sinais claros de que está disposto a mudanças e quer aprender. Um efeito colateral desta ação será: a sua igreja irá participar dos seus cultos de maneira muito mais intensa. Se o trabalho for bem divulgado, pessoas curiosas virão ao culto, muitas delas pessoas que já tinham dito adeus à igreja. Posso também imaginar que o pastor – mesmo que ninguém vá admitir isso –, sabendo que entre os participantes do culto há pessoas que não estão só sentadas assistindo ao culto, mas estão avaliando criticamente o evento, vá se preocupar mais em preparar um bom culto. Se você fizer este trabalho na sua igreja por algum tempo, irá notar que o retorno em alguns aspectos será mais frequente e intenso do que em outros. Estes são os aspectos nos quais você deve começar a repensar e modificar seu culto. Nas partes dois e três deste livro você irá encontrar orientações para isso. Dica: Uma ampliação de 130% do questionário das próximas páginas resulta em uma folha tamanho A4.


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Folha de trabalho para fotocópia

Questionário de avaliação do culto 1. A minha primeira impressão ao entrar na igreja: Quando entrei na igreja o ambiente causou em mim...

O salão em que foi realizado o culto teve sobre mim o efeito de...

2. Os participantes do culto: são abertos para pessoas de fora (1) (2) são muito ativos (1) (2) sua espiritualidade parece real (1) (2) irradiam alegria (1) (2)

(3) (4) (5) geram sentimento de rejeição (3) (4) (5) são muito passivos (3) (4) (5) sua fé parece artificial (3) (4) (5) não irradiam alegria

3. As partes do culto: Achei que a música é monótona – variada – sem qualidade – muito “parada” – inspiradora Outros comentários:

Considero a linguagem dos textos e das orações antiquada – compreensível – relacionada ao meu dia a dia – distante – artificial Outros comentários:

A liturgia do culto para mim foi artificial – festiva – de grande impacto – estranha – animadora Outros comentários:


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Sete sugestões para análise e terapia (Quando) conseguiu pegar o “fio da meada” do culto?

O culto é um show de um homem só (o pastor) ou é dirigido por uma equipe?

4. O pastor: Dá a impressão de autenticidade e naturalidade? Ele me motiva e me incentiva para a fé? Ele consegue ter contato com os participantes? 5. O sermão: Foi fácil seguir e entender a estrutura e as partes do sermão? O sermão me tocou? (Por quê? Por que não?) Achei que a mensagem foi empolgante? A mensagem do sermão teve aplicação para a minha vida? O sermão me pareceu muito extenso? 6. A minha impressão geral: Este culto foi para mim uma experiência inspiradora. Eu gostaria muito de ter levado os meus amigos para este culto! Este culto me preparou para a próxima semana. Este culto aprofundou o meu amor. Já estou ansioso para ir ao culto no próximo domingo.

Minha idade: Sexo:

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Sim Sim Sim Sim Sim

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Não Não Não Não Não


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