PHIL PARSHALL
Compartilhando
JESUS com os
MUÇULMANOS abordagens contemporâneas aos desafios de contextualização
Compartilhando
JESUS com os
MUÇULMANOS
PHIL PARSHALL
Compartilhando
JESUS com os
MUÇULMANOS abordagens
contemporâneas aos desafios de contextualização 1ª edição Tradução João Ricardo Morais
Curitiba 2014
Phil Parshal
Compartilhando Jesus com os muçulmanos
Abordagens contemporâneas aos desafios de contextualização Coordenação editorial: Walter Feckinghaus Tradução: João Ricardo Morais Revisão: Josiane Zanon Moreschi Edição: Sandro Bier Capa: Sandro Bier Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi Originally published by InterVarsity Press as Muslim Evangelism by Philip L. Parshal. Copyright © 1981, 2012 by Phil Parshal. Translated and printed by permission of InterVarsity Press, P. O. Box 1400, Downers Grove, Il 60515, USA. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Parshal, Phil Compartilhando Jesus com os muçulmanos : abordagens contemporâneas aos desafios de contextualização / Phil Parshal ; tradução João Ricardo Morais. - Curitiba : Editora Esperança, 2014. Título original: Muslim evangelism. ISBN 978-85-7839-096-9 1. Cristianismo e cultura 2. Missões - Muçulmanos I. Título. 14-05066
CDD-266 Índices para catálogo sistemático: 1. Missões : Muçulmanos : Cristianismo
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As citações bíblicas foram extraídas da Bíblia edição Revista e Atualizada da tradução de João Ferreira de Almeida. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores. Editora Evangélica Esperança Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) 3256-3662 comercial@esperanca-editora.com.br - www.editoraesperanca.com.br
Para Julie e Lyndi Minhas duas melhores amigas e colegas mais pr贸ximas no minist茅rio.
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IIIII Sumário
Quanta contextualização é demais?..........................................................9 Prefácio para a edição brasileira..............................................................13 Prefácio........................................................................................................15 Agradecimentos.........................................................................................19 Dicionário de termos específicos.............................................................21 Introdução...................................................................................................25 Estudo de caso: o povo lombaro..............................................................33 PARTE 1 Princípios de contextualização................................................................41 1 Um panorama da contextualização.....................................................43 2 Sincretismo..............................................................................................55 3 Controvérsias sobre contextualização................................................65 4 Forma e significado...............................................................................81 5 A cosmovisão muçulmana...................................................................87 PARTE 2 Aplicação de contextualização...............................................................117 6 O comunicador transcultural..............................................................119 7 Pontes teológicas para a salvação......................................................147
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A igreja local para cristãos de origem muçulmana.........................173
9 Práticas cristãs problemáticas.............................................................197 10 Rituais religiosos muçulmanos...........................................................213 11 Práticas sociais muçulmanas...............................................................225 PARTE 3 Potencial para a contextualização.........................................................233 12 O desafio de Bambir.............................................................................235 13 Reações à contextualização.................................................................245 14 Considerações espirituais....................................................................253 Apêndice: Questionário sobre o batismo contextualizado.................269 Bibliografia................................................................................................271 Índice..........................................................................................................289
IIIII Quanta contextualização é demais? Uma retrospectiva do autor depois de meio século de trabalho em missões
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rustração. Fadiga. Fracasso. Estas foram as emoções que tomaram conta de mim à medida que completava meu primeiro período de ministério em Bangladesh em 1967. E o que, exatamente, eu tinha que relatar aos amigos e igrejas mantenedoras depois daqueles primeiros cinco anos de trabalho? Eu poderia falar sobre como era viver sem eletricidade ou água encanada em uma pequena vila, ou sobre como era aprender um idioma difícil para o qual meus pulmões produziam uma torrente de ar, quando apenas um suave sopro seria necessário. Mas, o que dizer de João 15 e a certeza de “muito fruto”? Foi esta promessa que, aos 24 anos de idade, me impeliu a levar minha amável noiva a uma vila longínqua onde nenhum convertido de origem islâmica jamais havia existido. Fruto? Que fruto? Depois de cinco anos, não havia nenhum cristão, nem mesmo alguém interessado, para mostrar durante nossa maratona de perseverança. Em 1975, depois de anos de mais esforço ainda, nossa equipe de 21 missionários embarcou rumo ao desconhecido. Estávamos vivendo em um país de dezenas de milhões de muçulmanos – mas apenas 100 haviam se entregado a Cristo nos últimos 50 anos. A maioria destes cristãos foi retirada de suas comunidades e dependia financeiramente da pequena igreja nacional, grandemente subsidiada pelos estrangeiros. Conforme o que pudemos pesquisar, ninguém estava tentando desenvolver um modo contextualizado para evangelizar muçulmanos.
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Você precisa entender que a igreja tradicional de Bangladesh era, e é, uma mistura de influências ocidentais e hindus. Iswar, uma palavra politeísta para Deus, foi a palavra que o missionário William Carey escolheu, no início do século 19, enquanto traduzia a Bíblia para o bengali. Para os hindus, que compõem cerca de dez por cento da população de Bangladesh, Iswar é uma palavra-ponte positiva para a fé cristã. Mas, para os muçulmanos, que compõem os outros noventa por cento, é repugnante pensar em Deus em termos de multiplicidade e adoração de ídolos. Nenhum muçulmano fiel jamais entraria em uma mesquita calçando sapatos. Eles purificam seus pés, mãos e rosto antes da adoração. Sentar-se no chão e prostrar-se são atos de profunda humilhação diante do soberano Deus do universo. Canções e instrumentos musicais são proibidos nas mesquitas. Eles preferem entoar cânticos como um modo de render adoração ao “Grande Deus”. Os poucos muçulmanos que se arriscam a entrar em uma igreja de Bangladesh consideram as formas de influência hindu tão repugnantes que raramente são capazes de processar a mensagem. Então, nossa equipe começou um esforço de dois anos que se concentrava na pesquisa, análise, experiência e avaliação. Nosso objetivo era encontrar um modo contextualizado para evangelizar muçulmanos, que fosse também biblicamente ortodoxo e o mais atraente possível ao público muçulmano. Acabamos adotando algumas formas comuns à adoração muçulmana. Mas, éramos sempre cautelosos em relação a aceitar rituais cuja forma fosse confusamente conectada a uma mensagem herética. Por exemplo, as posturas de oração (salat) são repletas com versos do Alcorão. Nós não adotamos isso. Ao mesmo tempo, usávamos formas bíblicas de oração tais como de ficar de joelhos, com as mãos erguidas e prostrar-se. Talvez o auxílio mais significativo que recebemos tenha sido uma tradução do Novo Testamento Bengali que empregava termos amigáveis aos muçulmanos. Viggo e Joan Olsen, da Associação Batista para Evangelismo Mundial, produziram esse texto magistral, que foi, então, publicado em um formato de baixo custo e atraente aos muçulmanos.
Quanta contextualização é demais?
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Os cristãos de Bangladesh filiados à Operação Mobilização vendiam os Novos Testamentos aos milhares em todo o país.
Então, o que dizer da promessa de fruto em João 15? Agora, anos mais tarde, dezenas de milhares de muçulmanos em Bangladesh já se tornaram seguidores de Isa (Jesus). Naquela primeira vila, onde vivíamos em 1960, há mais de 600 batizados. Mas, no início dos anos 1980, outros evangélicos comprometidos sentiram que deviam avançar ainda mais em um novo esforço de evangelismo: o Movimento Insider (movimento dos infiltrados). Na verdade, nós tínhamos sempre considerado nossa abordagem como “de dentro”, mas temos lutado para também permanecer dentro dos limites bíblicos. Tenho preocupações significativas sobre essas tentativas mais recentes de contextualização: • Há uma tendência de incentivar convertidos a permanecerem nas mesquitas e fazer as orações costumeiras. • Os novos convertidos ainda são conhecidos como muçulmanos, e não se identificam de outras formas, como “seguidores muçulmanos de Jesus!” • Para alguns, ainda é permitido recitar o credo: “Não há Deus senão Allah e Maomé é seu Mensageiro”. • A mais recente controvérsia diz respeito ao equívoco por parte dos muçulmanos com relação ao termo “Filho de Deus.” Várias traduções omitem essa expressão completamente e a substituem por Isa al Masih, que significa “Jesus, o Messias”. Nem todos os obreiros no Movimento Insider adotam cada um dos pontos acima. Os contextos variam, assim como as opiniões dos missionários e das juntas de missões. Mas quanta contextualização é demais? Missionários bem intencionados têm opiniões e estratégias diferentes. Respeito baseado em oração é essencial para resolver esses problemas. Este é um momento muito importante no mundo islâmico. Mais do que nunca antes na história, muçulmanos estão vindo a Cristo.
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aE os brasileiros já estão produzindo um impacto nessa seara. Eu
tive o privilégio de ministrar ao lado de muitos latinos que são ao mesmo tempo zelosos e eficazes no evangelismo de muçulmanos. Mas há mais para ser feito. Minha esperança é que este livro o ajude a se familiarizar com as muitas questões relacionadas à contextualização. E que, como eu, você seja conduzido pelo Senhor a investir sua vida para ganhar muçulmanos para Cristo. Phil Parshall Flórida, EUA Janeiro de 2014
IIIII Prefácio para a edição brasileira
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contextualização é uma das áreas mais importantes e relevantes do trabalho missionário. É um assunto que traz polêmica, grande discussão e, às vezes, divisão. Alguns teólogos chegam até mesmo a afirmar que não é necessário nenhum tipo de contextualização, basta pregar o Evangelho. Porém, não podemos nos esquecer de que, quando o Evangelho foi pregado na antiguidade pelos apóstolos, ou em tempos recentes por bons missionários, a mensagem sempre foi contextualizada. E o que poderíamos falar de Jesus? Pensando na sua encarnação e ministério entre os judeus, ele foi o maior em contextualização! O dr. Phil Parshall nos questiona: “Como embaixadores de Cristo não deveríamos fazer como ele fez?” Como seria a contextualização se Jesus vivesse em um país muçulmano? O que arranha o brilho da contextualização no presente momento, penso eu, é que alguns “ousados”, sem temor de “cruzar a fronteira” entre a contextualização e o sincretismo, avançam o sinal embasados em um pragmatismo desenfreado. Suas ações trazem confusão, divisão e, às vezes, sincretismo. Como achar o equilíbrio? Como permanecer fiel às Escrituras e ainda contextualizar a mensagem, o obreiro e a nova comunidade? Ao ler o livro de Parshall, alegrei-me em encontrar uma obra que nos aponta o caminho. Gostaria de compartilhar minhas impressões.
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Antes de mais nada, é importante frisar que Parshall não é um iniciante. Pelo contrário, é um veterano no trabalho missionário entre os muçulmanos, tendo servido mais de quarenta anos na Ásia. Você notará nesta obra um embasamento bíblico. O autor procura fazer análises de contextualização, sem se esquecer ou abusar dos textos sagrados. O livro contém diversas referências ao apóstolo Paulo. É inegável que ele foi e é um grande exemplo de teólogo e missiólogo. Entretanto, parece que não conseguimos colocar em prática seus ensinos sobre contextualização. Observei que o livro é muito prático. Phil mistura conhecimento teórico com anos de experiência no campo. Porém, não se engane achando que o conteúdo não é de alto nível. No capítulo sobre a cosmovisão muçulmana, fica claro que o irmão é um profundo conhecedor do assunto. Por fim, há várias advertências sobre o sincretismo. Parshall reconhece que não estamos livres desse “fantasma”, é preciso tomar cuidado. Na visão do autor, podemos ser ousados na contextualização e, ao mesmo tempo, devemos ser bíblicos. Recomendo este livro com todo apreço. Sei que será de grande valia aos missionários, pastores, líderes e todos aqueles que amam o Senhor Jesus e querem vê-lo glorificado entre os muçulmanos. Tenho certeza de que esta obra e suas reflexões nos desafiarão a sair da zona de conforto e inovar de forma ousada, porém, sem ir além do livro sagrado. Agradeço a Davi Souza, amigo e parceiro de ministério, por seu árduo trabalho na coordenação deste projeto. Obrigado também à Editora Esperança por mais esta parceria. Boa leitura! Estêvão Ibrahim Missão Evangélica Árabe do Brasil
IIIII Prefácio
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e tempos em tempos, surge um livro que representa um verdadeiro divisor de águas na história da reflexão cristã sobre uma determinada questão. O livro de Phil Parshall, Compartilhando Jesus com os muçulmanos, é este livro. Desde que a primeira edição foi publicada, em 1981, tem influenciado muito a discussão entre cristãos evangélicos envolvidos no ministério de evangelismo pessoal com muçulmanos. Tanto é que dificilmente se pode falar de uma forma informada sobre tal ministério sem, implícita ou explicitamente, referir-se às ideias de Parshall. Pode-se concordar ou discordar dele, mas não se pode ignorar seus conceitos. Foi este livro que deu um significado novo e bíblico à palavra contextualização, e tornou esta palavra o “tema quente” que é no ministério aos muçulmanos hoje. Se você quiser compreender profundamente as questões em jogo no ministério cristão entre muçulmanos, deve ler este livro. Mas Compartilhando Jesus com os muçulmanos é importante não só porque tem influenciado as ideias das pessoas sobre ministério. Ele tem influenciado profundamente uma geração inteira de obreiros cristãos transculturais entre os muçulmanos sobre como realmente fazer seu ministério. Eu sei, pois faço parte dessa geração. Minha esposa e eu lemos o livro recém-publicado de Parshall como alunos universitários, e dentro de poucos anos deixamos nosso país de origem para viver em um país cem por cento muçulmano. Nos 15 anos seguintes visamos tornar Jesus conhecido entre eles, de uma forma que
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afosse inteligível em seu contexto cultural. O livro de Parshall realmen-
te moldou nossa vida e ministério, como fez com a maioria de nossos contemporâneos. No nosso caso, o resultado foi o estabelecimento de uma pequena rede de igrejas nos lares em um país onde, anteriormente, não havia seguidores de Jesus. Em outros países em todo o mundo, o resultado tem sido visto em muitíssimas congregações contextualizadas de seguidores de Jesus entre os povos muçulmanos que anteriormente não tinham ouvido o Evangelho. Antes de ler este livro há duas coisas que você deve saber sobre Phil Parshall. A primeira é que ele não é um teórico. As prateleiras das livrarias cristãs contêm inúmeros livros sobre o islamismo escritos por pessoas que, na verdade, não dedicaram grande parte de suas vidas morando em comunidades muçulmanas e construindo relacionamentos significativos com muçulmanos. As opiniões expressas nesses livros sobre o islamismo não têm muito valor. Por outro lado, Phil e Julie Parshall viveram entre muçulmanos em Bangladesh e nas Filipinas por 41 anos, e têm o privilégio de contar com muitos muçulmanos como seus queridos amigos. Durante a sangrenta guerra que levou à independência de Bangladesh, enquanto outros ocidentais foram freneticamente evacuando o país, Phil e Julie resolveram ficar, enquanto as bombas eram lançadas ao redor de sua casa. Ficaram para expressar a solidariedade de Cristo com seus vizinhos sofridos. Nas Filipinas, eles viram um amado colega de trabalho ser morto por um muçulmano, mas continuaram com seu compromisso de levar o amor de Jesus aos muçulmanos de sua cidade. Veja então que estas são pessoas que pagaram o preço e são capazes de falar com credibilidade sobre o que significa amar os muçulmanos em nome de Jesus. A segunda coisa que você deve conhecer sobre Phil Parshall é seu compromisso total com a autoridade infalível das Escrituras. Quando li seu livro pela primeira vez, e quando o conheci pessoalmente, o que mais me impressionou foi que ele estava propondo uma abordagem aos muçulmanos profundamente bíblica e autenticamente cristã. A Bíblia deixa claro que Deus não deseja ver os muçulmanos convertidos em fotocópias de cristãos estrangeiros. Apocalipse 7.9 nos apresenta
Prefácio
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a visão de uma grande multidão de adoradores, lavados no sangue do Cordeiro, de toda tribo, língua, povo e nação. Se estivermos verdadeiramente tomados por essa visão, então vamos desejar muito nos unir aos muçulmanos que têm abraçado Jesus, à medida que eles trouxerem a riqueza cultural de suas nações em adoração ao Cordeiro. Sua cultura não é algo que será escatologicamente apagado, mas que glorificará a Deus eternamente como parte de um mosaico diversificado de adoração. Se formos tomados pelo exemplo em Hebreus 2.14-18 e 4.15s daquele que se tornou semelhante a nós em todos os sentidos, exceto no pecado, então nós também, alegremente, pagaremos o preço de abrir mão do conforto e do que é culturalmente familiar. Tornemo-nos como os nossos vizinhos e amigos muçulmanos em todos os sentidos, exceto no pecado, a fim de que Cristo seja visivelmente encarnado entre eles de uma forma que percebam a mensagem de Cristo como uma boa notícia. Se formos tomados pela visão de Efésios 3.6-10 de uma igreja multicultural, através da qual a multiforme sabedoria de Deus é dada a conhecer, então ficaremos ansiosos para aprender com as perspectivas culturais dos cristãos contextualizados que Parshall descreve neste livro. Na verdade, vamos entender que é só junto com eles que podemos compreender plenamente o amor multidimensional de Cristo (Ef 3.18).
As três décadas desde que Dr. Parshall escreveu a primeira versão de Evangelismo de Muçulmanos demonstraram que contextualização, muitas vezes, leva a uma maior resposta numérica para o Evangelho. Mas, para mim, essa não é a razão pela qual a contextualização é importante. É importante porque é bíblica. É importante porque é parte da resposta para a pergunta “O que Jesus faria?” entre os muçulmanos. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Este livro deveria ser publicado com um rótulo de aviso: ele vai desafiá-lo no âmago do seu ser se você ama os muçulmanos o suficiente para abrir mão do seu conforto, suas liberdades, seus direitos, e até de sua vida, a fim de amar seus amigos muçulmanos de verdade. Ramsay Harris
IIIII Agradecimentos
U
m livro dessa natureza é uma combinação de uma vida de ministério e experiências. Como resultado de um variado mosaico do espetacular e do comum, das lágrimas e das risadas, dos vales e dos picos, lentamente surge um conjunto de crenças, não embutidas em concreto, mas vestidas com a natureza errante da mente e do coração humanos. Como estes postulados de trabalho continuarão a ser refinados pelo envolvimento em situações reais, juntamente com críticas úteis de outros cristãos, surge um amplo consenso, reforçado por uma convicção interior dada pelo Espírito Santo de que “este é o caminho; andai por ele”. Como será visto neste livro, a sequência descrita acima está “em processo”. É dinâmica ao invés de estática. Àqueles que me auxiliaram em minha permanência até este momento, gostaria de expressar a minha sincera gratidão. A Operação Mobilização (OM) e uma cruzada no verão de 1960 no México me deram direção espiritual, que foi absolutamente crucial naquele momento importantíssimo da minha vida. George Verwer, fundador da OM e um grande amigo nos últimos 43 anos, tem sido uma grande fonte de desafio e inspiração. Nossa equipe de igrejas e de indivíduos que nos apoiaram, tanto nas finanças quanto na oração, tem sido marcante. A Igreja Batista Highland Park, em Southfield, Michigan, nossa igreja mãe, simboliza tudo o que um missionário possivelmente poderia desejar nas áreas de amor, preocupação e envolvimento.
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Reconheço publicamente as muitas horas que minha esposa Julie passou editando este manuscrito. Além disso, suas críticas incisivas foram inestimáveis. E, por fim, “agradeço” a Jesus Cristo, meu Salvador, meu Senhor e meu Mestre. A Trinity Evangelical Divinity School e a Escola de Missões Mundiais do Fuller Seminary contribuíram imensamente para os conceitos encontrados neste livro. Minha mente foi expandida e meu coração se encheu através da intensa exposição a homens de Deus que servem no corpo docente de ambas as instituições. Reconhecimento especial é dado a Charles Kraft, cuja mente fértil me guiou através de muitos dos conceitos fundamentais deste livro.
IIIII Dicionário de termos específicos
Allahu akbar – “Deus é grande”. A-salam-o-aleikum – “que a paz esteja sobre vós”. É uma expressão de cumprimento utilizada pelos povos árabes, em especial os que professam a fé islâmica. Bahishti Darwaza - porta para o Paraíso. Barakat – poderes espirituais especiais. COM – sigla para “cristãos de origem muçulmana”. Dhikr – ritual em que o nome de Allah é repetido muitas vezes. Faquir – um mendicante religioso, acredita-se que seja possuidor de barakat. Fatiha – primeira sura do Alcorão. Hadith – coleção de livros que interpretam o islã. Hajj – peregrinação à cidade de Meca, quinto pilar do islã. Id – festivais do islamismo; banquete. Id Al-Adha – festa do sacrifício, o fim do Hajj. Imã – líder espiritual, clérigo profissional; jurista proeminente (sunita); sucessor designado por Deus (xiita). Isa – Jesus, no idioma árabe. Isa-al-Masih – “Jesus, o Messias”. Iswar – palavra politeísta para Deus.
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aJinn – seres sobrenaturais, segundo o islã popular.
Kalima – forma de adoração sufi na qual se repete o nome de Allah muitas vezes. Korbani – palavra islâmica para o sacrifício. Masjid - mesquita. Maulanas - muçulmanos que receberam algum treinamento avançado em lei e teologia muçulmanas. Maulvi – líder religioso muçulmano que concluiu dez anos de formação religiosa básica. Mulá – líder religioso muçulmano. Mulla e munshi – líder religioso muçulmano que completou menos de dez anos de formação religiosa. Murid – os que se unem a um determinado pir. Nasakha – revogar. Pir – ancião, sábio; santo, guia espiritual (sufi). Qisas-ul-Ambia – livro persa de lendas (“as histórias dos profetas”). Qurbani Id = grande banquete. Ramadã – nono mês do calendário islâmico, durante o qual os muçulmanos praticam seu jejum ritual. É o quarto dos cinco pilares do islã. Rasuls – profetas que têm um povo separado por quem eles são responsáveis. Salam – paz. Salat – os cinco horários requeridos para o ritual da oração diária, o segundo pilar. Shahada – credo do islamismo. É o primeiro pilar. Shaib – título para homens. Shariah – lei muçulmana. Slametan – festa comunitária de Java, considerada o ritual central na religião javanesa. Taurat – a Lei.
Dicionário de termos específicos
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a
Tayamum - ato islâmico de purificação a seco, com areia ou poeira, que pode ser realizado no local de lavagem ritual se não houver água limpa disponível.
Tefilin – Usado na religião judaica, consiste em duas caixinhas de couro, cada qual presa a uma tira de couro, dentro das quais é colocado um pergaminho com quatro trechos da Torá. As caixinhas são amarradas, uma no braço esquerdo (próximo ao coração) e a outra na testa, para as orações matinais judaicas. Ulemás – os que detêm o conhecimento religioso. Umma – a comunidade muçulmana; o povo unido do islã. Wajid – êxtase. Wayang – teatro de sombra com fantoches tradicional da Indonésia. Zakat – tributo religioso, impropriamente traduzido como esmola. É o terceiro dos cinco pilares do islã.
IIIII Introdução
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mundo está despertando para a presença de uma comunidade religiosa que, por séculos, tem sido basicamente ignorada. Os muçulmanos estão espalhados da Indonésia à Tunísia. Há um grande número deles até mesmo na Rússia. Quase todas as nações da terra têm em seu solo uma comunidade de dedicados “Filhos de Ismael”. O poder político, religioso e econômico do islã nunca foi maior. As pessoas que ignoram ou diminuem a estrutura de poder dos muçulmanos colocamse em perigo. Em 1979 a revista Time dedicou, o artigo de capa a esse movimento emergente e dinâmico: O islamismo é a fé universal mais jovem do mundo e a segunda maior, com 750 milhões de adeptos, contra cerca de 985 milhões de cristãos.1 No hemisfério oriental, mas, principalmente, naquela região estratégica que se estende através da interseção de três continentes, os muçulmanos estão redescobrindo suas raízes espirituais e reafirmando o poder político do estilo de vida muçulmano. Rejeitados pelos frutos amargos da modernização e impulsionados pelo orgulho zeloso por sua herança ancestral, a umma (comunidade mundial) do islamismo está experimentando um avivamento. [...] O Ocidente não pode mais se dar ao luxo de ignorar o poder vivo da mensagem do Profeta.2
O islamismo surgiu nos desertos da Arábia no século 7. De lá, espalhou-se rapidamente, principalmente através de conquistas, abraçando o Oriente Médio, todo o norte da África e grandes partes da Europa. Nos setecentos anos seguintes, o islã desenvolveu uma 1 2
Hoje são 1,2 bilhão de muçulmanos e 1.8 bilhão de cristãos. (N. de Tradução) Time, 16 de abril 1979, pp. 40, 49.
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aorgulhosa herança de cultura e arte e conquistou vários níveis de
poder e influência. O pior momento nas relações entre muçulmanos e cristãos surgiu quando as Cruzadas nos séculos 11 e 12 marcharam em direção às terras ocupadas por muçulmanos com uma violência terrível e destrutiva. Os Filhos de Ismael fugiram diante dos exércitos poderosos do Ocidente. Cidades foram saqueadas, casas queimadas, mulheres estupradas e crianças escravizadas. Os cruzados eram, de fato, um grupo religioso. Suas armaduras reluziam o brilho das cruzes pintadas em vermelho. Eles marchavam ao som de hinos de guerra. Apenas no domingo, paravam suas práticas genocidas para adorar devotadamente a Deus Pai e a Jesus, o Filho. Que objetivo espiritual encorajava esses zelotes a prosseguir em suas conquistas incessantes? Os muçulmanos estavam ocupando a cidade santa de Jerusalém. Deviam ser retirados do solo sagrado cristão a qualquer custo. As lembranças dessa página negra da história da igreja mantêm-se como uma realidade viva nas mentes e corações de enormes segmentos do povo muçulmano. Mas tarde, no século 19 e primeira metade do século 20, grande parte do islã estava sob o domínio colonial. Um argumento persuasivo poderia ser dado com respeito ao progresso econômico dos muçulmanos durante esse período. Mas, será que um povo subjugado, desprovido de todos os direitos humanos pode ser realmente feliz? Mesmo a legislação relativamente branda dos britânicos na Índia estava destinada a acabar. No íntimo dos seres humanos, Deus colocou um desejo natural e legítimo de ser livre do domínio de outros seres humanos. O cristão dedicado, às vezes, considera difícil compreender o ímpeto de nacionalismo que faz com que um povo “atrasado” não seja grato pelas escolas, hospitais, programas de alfabetização e outras conquistas cristãs que têm sido uma bênção para literalmente milhões de pessoas no Terceiro Mundo. Um problema semelhante existia nas mentes dos governantes coloniais, quando tiveram que deixar terras que entendiam ter governado com toda a justiça e retidão. Laurens van der Post escreveu sobre uma conversa que teve com o governador-geral da Indonésia na época em que o regime holandês estava rapidamente em declínio. O governador-geral estava totalmente perplexo. Ele citou as muitas melhorias que os holandeses haviam implementado na Indonésia. Mencionou escolas, hospitais, estradas e a inauguração de um sistema judicial justo e eficiente.
Introdução
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O desanimado governador-geral olhou para van der Post e disse: “Você pode me dizer por que isso está acontecendo?” O sábio van der Post deu uma resposta extremamente pertinente. Ele disse: “Sim, creio que posso lhe dizer. É por causa do seu olhar quando estava falando com eles”.3
Esse olhar altivo do Ocidente causou uma profunda impressão nos muçulmanos. Impérios coloniais se fragmentaram nos meses após a Segunda Guerra Mundial. Permitiu-se aos muçulmanos saborearem o ar limpo e fresco da liberdade. Que emocionante! Pobres, oprimidos, analfabetos, mas livres – sim, livres para forjar seu próprio destino. Nessa atmosfera eufórica, uma nova força dinâmica surgiu, levando o mundo a reconhecer e tratar com o devido respeito o bloco islâmico das nações. Enormes reservas de petróleo têm feito com que dezenas dos mais prestigiados diplomatas do mundo façam peregrinações à Arábia Saudita e a outros países do Oriente Médio. Existe agora um importante processo de autenticação e redescoberta acontecendo entre os muçulmanos. Cultura e religião islâmica estão sendo retratadas como símbolos de uma autoidentidade positiva. Há um forte sentimento de nacionalismo que está tornando os muçulmanos orgulhosos de serem muçulmanos. Eles podem agora andar com suas próprias pernas. O Ocidente já não é o todo-poderoso santo padroeiro. Os fatores que acabo de apresentar, juntamente com questões teológicas, fizeram com que os muçulmanos se tornassem extremamente resistentes ao Evangelho de Jesus Cristo. Apenas na Indonésia e Bangladesh têm havido conversões significativos para Cristo. A resposta da Igreja tem sido, muitas vezes, a de se afastar do grande desafio do islamismo e sair à busca de campos de trabalho mais “frutíferos”. Mas o que dizer da responsabilidade cristã com relação a este bloco de povos não alcançados? Ralph Winter declarou: “O grupo muçulmano, que já é imenso, está crescendo a um ritmo biológico quase o dobro em comparação aos chineses”.4 3 4
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Phil Parshall, The Fortress and the Fire [A fortaleza e o fogo]. (Bombaim: Gospel Literature Service, 1976), p. 80. Ralph D. Winter, “The Highest Priority: Cross-Cultural Evangelism” [A mais alta prioridade: evangelismo transcultural], in: Crucial Dimensions in World Evangelization, ed. Arthur F. Glasser. (Pasadena: William Carey Library, 1976), p. 122.
30 Mais muçulmanos Compartilhando Jesusa com os muçulmanos estão vindo Cristo do que nunca antes
a na história. Mas há muito mais a ser feito. Este livro o ajudará a se familiarizar com as muitas questões relacionadas a um
ministério evangelístico contextualizado. A contextualização é uma das áreas mais importantes e relevantes do trabalho missionário.
“Este livro deu um significado novo e bíblico à palavra contextualização, e tornou esta palavra o ‘tema quente’ que é o ministério atual a muçulmanos. Se você quiser compreender profundamente as questões em jogo no ministério cristão entre os muçulmanos, deve ler este livro.” Ramsay Harris Nesta edição revisada do seu livro pioneiro, o dr. Parshall desafia a igreja a olhar com olhos críticos para o assunto da evangelização de muçulmanos. Devemos abandonar antigas pressuposições e nos conscientizar de que Deus está falando de uma nova maneira – não em relação à sua Palavra imutável – mas em relação a áreas da contextualização e metodologia.
“Este livro será de grande valia aos missionários, pastores, líderes e todos aqueles que amam o Senhor Jesus e querem vê-lo glorificado entre os muçulmanos. Esta obra nos desafiará a sair da zona de conforto e inovar de forma ousada, porém, sem ir além dos preceitos bíblicos.” Estevão Ibrahim