Descobrindo o mundo do islã

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DESCOBRINDO O MUNDO DO

ISLÃ



DESCOBRINDO O MUNDO DO

ISLÃ EDITADO POR KEITH E. SWARTLEY 1a edição Tradução: Claudio Andre Lingenfelter, Denise Metzler, João Ricardo Morais, Marco André Siegel e Sílvia Helena Garcia Giagantaglia

Curitiba 2013


Keith E. Swartley (ed.)

Descobrindo o mundo do islã Coordenação editorial: Walter Feckinghaus Supervisão editorial: David Lane Williams Título original: Encountering the World of Islam Tradução: Claudio Andre Lingenfelter, Denise Metzler, João Ricardo Morais, Marco André Siegel e Sílvia Helena Garcia Giagantaglia Revisão: Mariângela Antonella Chirico França Oliveira, Rodrigo Nunes da Silva e Josiane Zanon Moreschi Edição: Sandro Bier Capa: Adaptação de Sandro Bier Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi Copyright © 2005 by Caleb Project Originally published in English under the title Encountering the World of Islam Published by Biblica This translation published by arrangement with Pioneers 10123 William Carey Drive, Orlando FL 32832, USA All rights reserved.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Descobrindo o mundo do islã / [editado por] Keith E. Swartley . - - Curitiba, PR : Editora Esperança, 2013. Título original: Encountering the World of Islam. Vários tradutores Bibliografia ISBN 978-85-7839-091-4 1. Cristianismo e outras religiões - Islamismo 2. Islamismo - Essência, gênio, natureza 3. Islamismo - Relações - Cristianismo 4. Missões junto aos muçulmanos I. Swartley, Keith E. 13-08218 CDD-297

Índices para catálogo sistemático: 1. Islã : Religião 297 2. Islamismo : Religião

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As citações bíblicas foram extraídas da Bíblia de Estudo NVI, Editora Vida (2003). As citações do Alcorão foram extraídas de Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado (trad. Prof. Samir El Hayek). São Paulo: 1989. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores. Editora Evangélica Esperança Rua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PR Fone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) 3256-3662 comercial@esperanca-editora.com.br - www.editoraesperanca.com.br


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Sem dúvidas o islamismo é o maior desafio missionário da igreja de Cristo. É imperativo conhecer a sua fé e história para melhor testemunhar do amor do Senhor a eles. Este livro brinda a igreja brasileira com o que há de melhor sobre o tema. Daniel Calze – Diretor Nacional, PMI-Brasil Descobrindo o Mundo do Islã é um livro diferenciado por sua abordagem positiva em relação aos muçulmanos, o que contribuirá para corrigir preconceitos. Uma das suas maiores virtudes é ajudar o povo de Deus a ver o islamismo por dentro, através dos olhos de quem o conhece bem. Roberto Renato Welzel – Presidente da AMEL (Associação Missionária Evangélica Livre) Este livro apresenta um convite para descobrirmos as riquezas do mundo do islã sem preconceitos, dispostos a conhecer, a compreender, a ver a realidade da perspectiva deles, a nos tornarmos amigos sinceros e a amá-los com o amor de Cristo. O livro trata os muçulmanos com o respeito que merecem. Antônia Leonora van der Meer – Diretora da Escola de Missões do Centro Evangélico de Missões Descobrindo o Mundo do Islã é o livro mais completo e integrado sobre trabalho com muçulmanos que existe em português. Kevin Boot – Vice-presidente, Perspectivas Brasil Descobrindo o Mundo do Islã é uma ferramenta valiosa para aqueles que querem se comprometer com a tarefa de alcançar os muçulmanos. Edgar Surenian – Diretor Regional, MANARAH Latino – Paraguai Descobrindo o Mundo do Islã reflete aquilo que faz o povo de Deus alegrar-se em anunciar o Evangelho: o conhecimento transmitido com amor. Pr. Robson Hernandez de Oliveira – Igreja Evangélica Menonita Nova Aliança, Curitiba


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Um provérbio dos povos do Deserto do Saara diz: “Eu andava pelo deserto e, de longe, vi um vulto. Era como o vulto de um leão. Ao aproximar-me mais, vi que era o vulto de um homem, e ao chegar bem próximo vi que era meu irmão”. Que este livro ajude você a não ver os muçulmanos apenas de longe, como se fossem leões inimigos, mas que você possa chegar bem perto e ver que eles são bons amigos e, potencialmente, seus irmãos. Charles Max – Diretor de Missões e Fronteiras, JOCUM Brasil Descobrindo o Mundo do Islã não é somente um livro com informações históricas e doutrinárias do ponto de vista bíblico, acerca das crenças do islamismo. É também um curso, uma ferramenta de treinamento para aqueles que desejam alcançar o coração dos muçulmanos. Marcos Napoli – Diretor, Frontiers Brasil A igreja brasileira tem sido abençoada com alguns bons livros sobre o desafio do islã. Como professor de capacitação de obreiros para esse contexto, acredito que o livro Descobrindo o Mundo do Islã é, na atualidade, a obra mais completa para conhecer e amar os seguidores de Maomé. Recomendo este livro com todo apreço. Estevão Ibrahim – Fundador da Missão Evangélica Árabe do Brasil – MEAB Este livro não pode ser meramente lido. Deve ser estudado e colocado em prática! João Mordomo – Presidente Executivo, CCI-Brasil Descobrindo o Mundo do Islã capacitará cristãos a compartilharem sua fé com muçulmanos. Vocacionados e seminaristas certamente descobrirão os sonhos de Deus para os muçulmanos ao examinar este livro. Muitos serão despertados a investir suas vidas para alcançá-los, estabelecendo com eles verdadeiros laços de amizade. Ana Maria Costa – Presidente da AMIDE (Associação Missionária para Difusão do Evangelho)


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Sumário Material introdutório Prefácio - Marcos Amado................................................................................19 Apresentação da MEAB..................................................................................21 Mensagem do editor........................................................................................23 Introdução........................................................................................25 Estrutura e formato das lições.......................................................................27 Siginificado de termos específicos.................................................................29 O desenvolvimento do islã Lição 1 – A origem do islã...................................................................................33 Introdução.................................................................................................35 Como o islã começou.......................................................................................41 O cristianismo durante os primeiro séculos do islã...................................59 Lição 2 – A expansão do islã.............................................................................71 Introdução...................................................................................73 Uma síntese da civilização muçulmana......................................................77 A expansão e o desenvolvimento do islã.....................................................80 O islã e o desenvolvimento do conhecimento.............................................93 Lição 3 – Crenças islâmicas................................................................................107 Introdução..................................................................................................109 O Alcorão, o Hadith e a Sharia......................................................................113 Práticas religiosas islâmicas: os pilares da fé..........................................119 Os elementos fundamentais da fé segundo o islã...................................132 As expressões do islã Lição 4 – Os muçulmanos hoje.........................................................................147


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Introdução.................................................................................................149 A diversidade dentro da umma....................................................................155 Uma conversa necessária: as diferenças entre a umma muçulmana e a igreja cristã.................................................................................................167 Uma análise da diversidade entre os muçulmanos.................................177 O fundamentalismo islâmico e suas principais causas...........................189 Lição 5 – A vida diária dos muçulmanos.....................................................197 Introdução......................................................................................199 Práticas comunitárias muçulmanas.............................................................204 Jejum e banquete.............................................................................................214 Honrando os estrangeiros............................................................................218 Os costumes de comunidades muçulmanas............................................221 Lição 6 – O mundo espiritual dos muçulmanos...........................................237 Introdução.............................................................................................239 O islã popular: o caminho para o poder sobrenatural...........................245 Ministério de poder junto ao islã popular................................................251 Encontros de poder no islã popular..........................................................260 Misticismo: uma fuga da lei........................................................................268 O cristianismo e o islã Lição 7 – Barreiras culturais..............................................................................279 Introdução...............................................................................................281 O vale da decisão............................................................................................287 Dez barreiras para o alcance de muçulmanos..........................................292 A caminhada da reconciliação.....................................................................296 Textos selecionados sobre a conversão.....................................................298 Níveis de mudança....................................................................................298 Testemunho discreto................................................................................299 Um relacionamento pessoal com cristo................................................300


Sumário

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Símbolos de conversão.............................................................................302 O mensageiro de Deus..................................................................................304 Israel ou Palestina – Quem tem razão?......................................................311 Vivendo como família de Deus...................................................................321 Lição 8 – Questões teológicas..........................................................................327 Introdução...........................................................................................329 Por que compartilhamos as Boas Novas sobre Jesus com todos os povos, inclusive com os muçulmanos?......................................332 Divergência teológica....................................................................................335 Apologética prática: respondendo às objeções mais comuns................337 A comunicação do Evangelho – partindo de onde eles estão..............340 A confiabilidade da Bíblia: uma questão que precisa ser tratada........352 A paternidade de Deus no islã e no cristianismo.................................357 Compartilhando nossa fé de forma eficaz.................................................363 Lição 9 – Abordagens do passado para o alcance dos muçulmanos.........371 Introdução.....................................................................................................373 Diversas abordagens para a evangelização..............................................377 Samuel Zwemer.............................................................................................384 Por que tão pouco fruto?............................................................................390 Lições da história para o empreendimento de missões.........................393 Lista mundial de vigilância.........................................................................402 Declarações sobre atitudes cristãs em relação aos muçulmanos..........405 O que leva as mulheres muçulmanas a Cristo......................................408 Nossa resposta ao islã Lição 10 – Plantação de igrejas.........................................................................415 Introdução...............................................................................................417 A plantação de igrejas no mundo mulçumano é uma “Missão Impossível”?...................................................................................421 Sete fases na plantação de igrejas.............................................................426


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Estratégias de plantação de igrejas que incluem as mulheres muçulmanas............................................................................431 O Espectro C1 a C6.....................................................................................440 Como saber se fomos longe demais?.........................................................444 O que aprendi observando o jejum..........................................................450 Retirando o Fatwa..........................................................................................452 Lição 11 – Uma resposta amorosa ao islã......................................................463 Introdução....................................................................................................465 Levando o Evangelho através do serviço..................................................469 Colocando-se na brecha...............................................................................473 Carta de um muçulmano em busca de Deus....................................478 Chegando ao coração faminto do islã.....................................................481 Ministério local como preparação pré-campo........................................483 Sul da Ásia: vegetais, peixes e mesquitas messiânicas.........................489 Por que sou missionária aos muçulmanos...............................................493 Lição 12 – Oração pelo mundo muçulmano..................................................499 Introdução................................................................................................501 Alcançando os muçulmanos através da oração.....................................504 A oração e a adoração: nossos recursos para responder ao islamismo...................................................................................................514 Qual o preço a ser pago para ganharmos os muçulmanos para Cristo?............................................................................519 Ibero-americanos alcançando muçulmanos árabes.................................525 Superando um milênio de ódio...............................................................528 Apêndices Os 99 nomes mais belos de Deus.................................................................533 Leitura cronológica do Alcorão.....................................................................536 Começando amizades com muçulmanos....................................................538 Fazendo uma visita à mesquita local............................................................541


Sumário

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Agências missionárias.....................................................................................543 Índices.......................................................................................................551 Citações da Bíblia............................................................................................553 Citações do Alcorão........................................................................................555 Glossário...............................................................................................557 Bibliografia......................................................................................563



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Destaques Conceituais Os cristãos deveriam usar “Allah” na tradução da Bíblia?............52 Onde é o Oriente Médio?..........................................................................87 A promessa de Deus para os muçulmanos.........................................100 O que a Bíblia diz sobre os Cinco Pilares do islã?.........................125 Como você vê o mundo?......................................................................128 Honra e vergonha....................................................................................151 Os passos em direção à violência.....................................................180 Cosmovisão ilustrada na vida diária...................................................202 Preparado para dar uma resposta......................................................264 O evangelismo como um processo.....................................................289 Questões que afetam a percepção dos muçulmanos....................308 Testemunho encarnacional.....................................................................348 A constante perda de testemunhas.....................................................378 Completo em Cristo...............................................................................381 Direitos humanos islâmicos...................................................................399 Unidade, submissão e comunidade.....................................................419 O que é um movimento de plantação de igrejas?.........................453 Dez passos para contar uma narrativa bíblica.................................456 Livre para sofrer......................................................................................495 Diversidade e pluralismo......................................................................503

Evangelísticos A necessidade do momento...................................................................63 Amor ágape.................................................................................................88 Tome a iniciativa......................................................................................117 Seja você mesmo......................................................................................163


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O banquete do sacrifício........................................................................212 Oração................................................................................................229 Faça boas perguntas................................................................................270 Dicas para compartilhar com um muçulmano.................................306 Mais dicas para compartilhar com um muçulmano..........................365 Compartilhando o que deus fez por você..........................................391 Os muçulmanos ao nosso redor..........................................................420 Colocando a Bíblia em suas mãos.......................................................491 Sugestões para caminhadas de oração................................................508 Encorajando nossos amigos muçulmanos a colocarem sua confiança em Cristo.........................................................................521

Étnicos Onde vivem os muçulmanos?................................................................47 O mundo de fala árabe............................................................................81 Povos do sul da Ásia..............................................................................110 Povos malaios...........................................................................................160 Povos indo-iranianos...............................................................................219 Povos da Eurásia.....................................................................................241 Povos subsaarianos..................................................................................317 Povos turcos..............................................................................................341 Os muçulmanos da China.....................................................................406 Imigrantes europeus................................................................................443 Muçulmanos no Brasil...........................................................................479 Movimentos de muçulmanos para Cristo.......................................505

Citações Quem era Maomé?....................................................................................43 Citações.....................................................................................................99 Allah é Deus?...........................................................................................120 Valores divergentes..................................................................................169


Destaques

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O ritmo de vida muçulmano................................................................206 Presuposições culturais............................................................................216 Crença e prática........................................................................................256 Arame farpado..........................................................................................282 Quem é o responsável pela salvação do homem?...............................338 Seguindo o cordeiro................................................................................379 Como posso continuar testemunhando?............................................388 O que é uma igreja?................................................................................445 Atalho para os corações muçulmanos.................................................467 Fale as escrituras de cor..........................................................................482 Por que orar pelos muçulmanos...........................................................502

Alcorão O que diz o Alcorão..................................................................................38 Os livros sagrados......................................................................................85 O que é permitido?..................................................................................114 O que é proibido?....................................................................................134 O que é a jihad?.......................................................................................184 A comunidade muçulmana....................................................................226 Por que baraka é necessário?.................................................................262 Por que os muçulmanos dizem “Insha Allah”?.................................293 A morte de Jesus.....................................................................................374 As mulheres ideais..................................................................................436 Amor condicional.....................................................................................468 Paraíso e inferno......................................................................................515

Pessoais A história de Rashid..................................................................................68 “Preciso pensar na eternidade”..............................................................97 Superando o passado..............................................................................174 Aprendendo a perdoar...........................................................................223


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“Eu o vi em um sonho”..........................................................................249 Outra fonte de poder.............................................................................252 “A qual pir você segue?”........................................................................269 Quem pode alcançar o norte da Índia?...............................................301 As pressões do casamento....................................................................336 O alto preço de crer em Cristo.............................................................387 Bondoso e dedicado................................................................................395 Um Deus não tão distante......................................................................427 Cura para o corpo e a alma..................................................................448 Respondendo ao analfabetismo e à pobreza......................................451 De volta ao lar com a nova fé em Cristo.............................................476 Usando a mídia para alcançar nações de acesso restrito...............486 Testemunha fiel.........................................................................................522 Um atraso divino.....................................................................................529

Femininos Uma xícara de chá.....................................................................................57 O hijab...........................................................................................................83 A família e as crianças.............................................................................139 A visão sobre as mulheres ocidentais...................................................170 Mulheres protegendo a honra...............................................................207 Mulheres e poder....................................................................................247 Através dos olhos dela...........................................................................322 Barreiras para o Evangelho...................................................................354 Os direitos das mulheres........................................................................410 Casamento e divórcio.............................................................................438 Pontes de amizade...................................................................................472 Hospitalidade..........................................................................................527


MATERIAL INTRODUTÓRIO



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Prefácio Uma das características mais marcantes dos cristãos evangélicos é o desejo de proclamar as Boas Novas a todos os povos da terra. É por isso que David Bosch, em seu excelente livro “Missão Transformadora”, faz questão de afirmar que: “A missão inclui a evangelização como uma de suas dimensões essenciais. Evangelização é a proclamação da salvação em Cristo às pessoas que não creem nele, chamando-as ao arrependimento e à conversão, anunciando o perdão do pecado e convidando-as a tornarem-se membros vivos da comunidade terrena de Cristo e a começar uma vida de serviço aos outros no poder do Espírito Santo.” Certamente a maioria dos cristãos brasileiros não teria nenhuma dificuldade em relação a essa definição de Bosch. Entretanto, as principais diferenças surgem quando tentamos definir qual é a melhor forma de colocarmos em prática o mandato divino de proclamar a salvação em Cristo, principalmente quando o foco da nossa proclamação são os muçulmanos. Durante cerca de 20 anos tive o privilégio de estar envolvido em um ministério aos muçulmanos fora do Brasil. Dentre as muitas experiências que vivi, uma das mais marcantes foi morar, juntamente com minha família, em casas de muçulmanos em um país do norte da África. Apesar de sermos cristãos, fomos recebidos como se fôssemos parte de suas próprias famílias. Fiz bons amigos e aprendi a me colocar no lugar deles quando tentava analisar os principais acontecimentos relacionados com o povo muçulmano ao redor do mundo. Porém, eu percebia que cada vez que conversava com um cristão brasileiro sobre o tema, as reações eram, com muita frequência, carregadas de animosidade e incompreensão. Até certo ponto essas reações são compreensíveis, pois somos bombardeados diariamente com notícias negativas sobre os muçulmanos. Isso acontece principalmente através dos meios de comunicação, mas conta com a ajuda de muitos missionários brasileiros que, ao darem seus relatórios em conferências missionárias sobre suas experiências em terras islâmicas, tendem a ressaltar apenas os aspectos exóticos e negativos. Além disso, parte da teologia que herdamos contribui negativamente para a apreciação que temos dos descendentes de Ismael. Nos esquecemos que na Bíblia encontramos muitas promessas da parte de Deus para eles. Ao dizer isto, eu não estou fechando os olhos para a dura realidade da perseguição que os cristãos sofrem em muitos países muçulmanos. Eu vivi sob esta realidade. Tampouco estou negando o que se vê com muita frequência nos meios de comunicação: grupos radicais muçulmanos atacando interesses ocidentais e, com isto, matando a milhares de inocentes. Mas, os radicais representam uma minoria dentre os mais de um bilhão de muçulmanos ao redor do mundo. Quando generalizamos, torna-se quase impossível fazer uma análise intelectualmente honesta sobre o islamismo e ter, como ponto de partida no nosso


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relacionamento com eles, um conhecimento objetivo sobre sua história e crenças. Consequentemente, passamos a ter uma postura quase bélica em relação aos seguidores de Maomé. Até o nosso linguajar, cheio de metáforas militares como “conquistar as terras muçulmanas”, “derrubar as muralhas do islamismo”, etc., denotam um posicionamento que lembra muito mais uma estratégia de ataque do que a estratégia do amor exemplificado na vida e palavras do nosso Senhor Jesus Cristo. É por isso que dou graças a Deus pelo lançamento, em português, do livro “Descobrindo o Mundo do Islã”. Em um momento histórico em que continuamos sendo inundados por notícias sobre revoltas, guerras e manifestações massivas em diferentes partes do mundo muçulmano, um livro como esse vem preencher uma grande lacuna na nossa bibliografia missionária. Além de ter sido escrito por renomados especialistas cristãos de diferentes partes do mundo, o livro, sem abrir mão das convicções evangélicas, leva o leitor a olhar para os muçulmanos como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus que, apesar de estarem seguindo caminhos que não levam a Ele, precisam ser compreendidos e tratados com respeito, amor e dignidade, e não como inimigos que estão à espreita, prontos para dizimar todo e qualquer cristão que cruzar seus caminhos. Os autores dos diferentes capítulos, baseados nas melhores fontes históricas e acadêmicas, levam o leitor a fazer uma viagem que se inicia com o nascimento de Maomé, por volta do ano 570 d.C., chegando até os dias de hoje. Nesse processo vemos como um pequeno movimento, iniciado por um homem que se dizia descendente de Ismael, transformou-se numa das principais religiões do mundo contemporâneo. Aprendemos sobre seu desenvolvimento geográfico, social e político ao longo dos séculos, sobre seus principais postulados teológicos e somos alertados sobre as implicações disso tudo para o desafio de apresentar aos muçulmanos a salvação que há em Cristo Jesus. Em suma: este livro coloca ao alcance de todo cristão uma gama riquíssima de material com informações preciosas sobre os muçulmanos. Estas informações levarão o leitor a compreender a extensão do desafio e da responsabilidade que temos na tarefa de orar e compartilhar o amor de Cristo àqueles que creem encontrar, nas palavras e exemplo de Maomé, o caminho para uma vida de fidelidade e submissão a Deus, assim como compartilhar esse amor de maneira respeitosa, com integridade intelectual e usando as “pontes” que existem entre a Bíblia e o Alcorão. Por isso recomendo a cada cristão que, ao embarcar na viagem proposta por este livro, o faça com a mente aberta e em espírito de oração, pedindo a Deus que mostre quais são as ideias preconcebidas que temos que impedem que a missão cristã aos muçulmanos seja mais efetiva. Se fizermos isso entenderemos, de uma vez por todas, que nossa guerra é espiritual, contra as potestades celestiais, e não contra os seguidores de Maomé que, assim como você e eu, precisam escutar pelo menos uma vez que Cristo é o Senhor. Marcos Amado - Diretor para a América Latina - Movimento de Lausanne


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Apresentação da MEAB Recentemente tive a oportunidade de ensinar as doze lições do livro Descobrindo o mundo do islã para um grupo de pastores e missionários. Diante desse privilégio, compartilho algumas impressões que me marcaram. Primeiro, é um material de alto nível. Os escritores são obreiros de grande relevância e longa experiência no mundo muçulmano. Em segundo lugar, chamou minha atenção encontrar nesta obra uma abordagem de diferentes assuntos, desde o início do islã até a plantação de igrejas nesse contexto. Outro elemento empolgante são os testemunhos de muçulmanos, de diferentes países, que vieram a Cristo. Os desafios são imensos, mas é muito encorajador ver como Deus está agindo. Tenho certeza de que esses testemunhos funcionarão como uma injeção de ânimo para aqueles que trabalham com este povo. Você perceberá ainda que o “espírito” do livro é de respeito, diálogo e, principalmente, de aproximação aos muçulmanos. Eles não são nossos inimigos, são pessoas por quem Jesus morreu. Muitos muçulmanos não rejeitaram o Evangelho, eles simplesmente não ouviram nada a respeito. Pense nisso! A igreja brasileira tem sido abençoada com alguns bons livros sobre o desafio do islã. Como professor de capacitação de obreiros para este contexto, acredito que o livro Descobrindo o Mundo do Islã é, na atualidade, a obra mais completa para conhecer e amar os seguidores de Maomé. Recomendo este livro com todo apreço. Estevão Ibrahim Missão Evangélica Árabe do Brasil



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Mensagem do editor A imagem que temos dos seguidores do islã muitas vezes é a de perigosos terroristas. A maioria dos livros até agora faz comparações entre as duas religiões, destacando as diferenças e erguendo, sem perceber, muros que separam ainda mais cristãos de muçulmanos. Este livro apresenta e representa uma nova forma de abordagem. Ao ler as primeiras lições, pode parecer que o livro está sempre dando razão para o islã, ou “puxando a sardinha” para o lado deles. Mas a verdade é que ele foi escrito para ajudar você a reconhecer os muçulmanos à sua volta e tomar passos práticos para ser um verdadeiro amigo deles/delas. Pois, é somente com esse tipo de atitude que você poderá realmente entendê-los, apreciar suas convicções e compreender um pouco sua maneira de enxergar o mundo. E através dessa compreensão você poderá começar a fazer pontes para a vida deles, e ser uma testemunha relevante. Em vez de resistir a certos aspectos deste livro, deixe que ele o leve em uma viagem de descoberta. Compreenda as diversas características do islã e, em vez de enfatizar as diferenças entre as duas religiões, torne-se apto a apresentar (de forma cativante) um relacionamento revolucionário com Deus por meio de Cristo. Como Greg Livingston nos lembra na Lição 9, “É raro o muçulmano que teve um amigo cristão que falasse seu idioma materno, refletisse o amor de Deus que atrai e desarma e que demonstrasse um amor genuíno por ele, assim como um interesse por suas necessidades sentidas e por sua alma”. Nossa esperança é que você se torne este amigo verdadeiro que seu vizinho muçulmano nunca teve. David Williams - Editor da versão brasileira



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Introdução Descobrindo o mundo do islã é o título, tanto do livro que você está lendo, quanto do curso que usa o livro como texto principal. Esta introdução explica os recursos do livro, como também traz algumas informações sobre o curso. Mesmo que esteja lendo o livro sem fazer o curso, você pode ler esta introdução para aprender como navegar através dos recursos de cada capítulo (chamados de lições). Você pode aprender mais sobre o curso Descobrindo o mundo do islã em nosso site www.encounteringislam.org (Site em inglês. Acesso em 03/07/2013). Este livro foi escrito para capacitar cristãos. Entendemos que é muito importante para os cristãos compreenderem seus vizinhos, colegas de trabalho e alunos muçulmanos. Este livro lhe dará o conhecimento prático e a experiência que precisa para começar a entender e ser amigo de seus conhecidos muçulmanos. Observe que aqueles que desejam viver entre muçulmanos precisarão estudar mais profundamente o islã, sua cultura e idioma além do que este livro apresenta.

Nossos pressupostos Seguimos vários pressupostos fundamentais para a elaboração deste material: 1. Cremos em Jesus Cristo como Deus Encarnado. É para ele que realizamos nosso trabalho. À medida que você avalia este livro, considere de que modo temos refletido o caráter de Cristo, nosso Senhor e Salvador. 2. Desejamos nos relacionar com os muçulmanos como amigos. Lamentavelmente, muitos cristãos ainda têm preconceitos contra eles, porque lhes falta conhecimento pessoal sobre o islã. Queremos estabelecer uma base de entendimento e empatia, promovendo um relacionamento genuíno com muçulmanos. 3. Somos evangélicos. Temos algo que desejamos compartilhar — as Boas Novas de salvação através de Jesus Cristo. Cremos que somos chamados a compartilhar nossa fé em Jesus

Cristo e escolhemos exercitar nosso direito humano fundamental de compartilhar nossa fé.

Nossas convicções sobre evangelismo Como evangélicos, sentimos a obrigação de compartilhar nossa fé. No entanto, entendemos que nosso testemunho deve ser feito com gentileza, amor e respeito, e não em uma base condicional (1Pe 3.15). Desencorajamos formas de testemunho cristão que sejam argumentativas, ou que não respeitem as tradições e opiniões dos outros. Queremos compartilhar Cristo e, ao mesmo tempo, manter o valor intrínseco de todas as pessoas. Não apoiamos formas de engajamento que têm levantado muros entre nós, levando a conclusões baseadas em ideologia, política e nacionalismo. Não apoiamos proselitismo ou qualquer outra forma de coerção, pois entendemos


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que a resposta ao nosso testemunho está nas mãos de Deus. Acreditamos que a demonstração do amor de Jesus Cristo inclui abordar todas as necessidades que as pessoas têm. O amor de Cristo nos compele a alcançarmos as pessoas com amizade, evangelismo, e boas ações que ministram a pessoa e a comunidade como um todo. Isso inclui necessidades médicas, educacionais, sociais, econômicas e políticas.

Como consideramos os muçulmanos Desejamos nos relacionar com os muçulmanos como iguais. Comparados a Cristo, nenhum de nós é justo, nenhum de nós alcança o padrão de Deus. Não os tememos, os culpamos, ou os classificamos como maus. Desencorajamos as discussões ou os debates. Encorajamos cada aluno a começar um diálogo aberto com um conhecido muçulmano com a finalidade de fazer amizade, não proselitismo. Entendemos perfeitamente que os cristãos devem ouvir os muçulmanos, porque estes explicam seus pontos de vista melhor do que nós jamais poderíamos. Queremos ajudar os cristãos a valorizarem Maomé e o islã, à medida que ouvem os muçulmanos atentamente e com satisfação explicarem sua fé.

Uma palavra aos nossos leitores muçulmanos Estamos contentes por vocês estarem lendo nossos materiais. Saibam que desejamos promover uma visão construtiva imparcial de Maomé, do islã e

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dos muçulmanos. Temos convidado líderes muçulmanos das comunidades locais para falarem em nossos cursos e eles têm sido calorosamente recebidos. Nas aulas, os alunos têm lido o Alcorão e autores muçulmanos. Neste livro, utilizamos materiais escritos por muçulmanos para explicar a vida de Maomé, contribuições muçulmanas à civilização global e a diversidade de pontos de vista na comunidade muçulmana. Acreditamos firmemente que os materiais de autoria muçulmana dão uma explicação melhor sobre esses assuntos. Agradecemos especificamente à Embaixada Real da Arábia Saudita, Publicações Amana, e ao Dr. Javeed Akhter por confiar em nós para incluir seus artigos. Esperamos sinceramente, pois é nossa intenção, que todos os nossos materiais sejam considerados respeitosos, enquanto, ao mesmo tempo, claramente apresentam o nosso desejo de, obedientemente, compartilhar nossa fé em Jesus Cristo com os muçulmanos. Reconhecemos a imensa dívida que todas as sociedades modernas têm com a civilização islâmica. Encorajamos os cristãos a se arrependerem e pedirem desculpas pelos erros praticados contra os muçulmanos, embora equivocadamente – as Cruzadas, a escravidão, o imperialismo e até mesmo as formas atuais de opressão político-econômica. Convocamos os cristãos a orarem e a lutarem por melhores condições humanas para os muçulmanos. Como vocês sabem, muitos muçulmanos não têm acesso aos direitos humanos, educação básica, saúde, água potável ou alimentação adequada, e muitos não são capazes de praticar livremente sua religião ou ter uma voz na direção de seus próprios assuntos.


Introdução

Estrutura e formato das lições

Formas de aprendizagem Muitos de vocês podem estar lendo este livro sem frequentar um curso. Neste caso, você controla o seu aprendizado. Se você está apenas lendo o livro, mas gostaria de se beneficiar com os recursos adicionais que temos disponíveis, visite nosso site www.encounteringislam.org. Também o encorajamos a experimentar algumas das atividades e tarefas opcionais.

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Leituras básicas: consistem em cerca de 20 páginas por lição. Recomendamos enfaticamente essas leituras para todos que estejam fazendo o curso. Elas lhe darão um conhecimento dos pontos básicos de cada lição. Leituras completas: consistem em 35 páginas por lição. Incluem o material das leituras básicas e mais algumas páginas complementares. A maioria dos alunos prefere fazer a leitura completa para obter um entendimento geral do assunto de cada lição.

Recursos das lições

Outros podem estar tendo uma aula semanal juntamente com a leitura deste livro. Nesses cursos Descobrindo o mundo do islã, as tarefas podem incluir leituras, debates, encontros com um muçulmano, visitas a uma mesquita local e um exame final.

Cada uma das lições contém as seguintes seções:

Se estiver fazendo este curso para receber créditos, certifique-se de seguir as orientações do seu programa de curso.

Objetivo: anuncia o propósito da lição.

Tarefas de leitura Os textos indicados devem ser lidos antes da palestra que acompanha cada lição. A relação dos textos é encontrada no início de cada lição. Cada conjunto de leituras é projetado para reforçar e expandir o conhecimento adquirido nas palestras do curso. Cabe ressaltar: algumas leituras são controversas. São elaboradas para estimular o pensamento, não para forçar o aluno a concordar com o que é apresentado. O conjunto de leituras em cada lição é dividido em duas partes:

Considere: estas perguntas introdutórias ajudarão a estruturar seus pensamentos à medida que você entra na lição. Separe um momento antes de iniciar a lição para refletir sobre estas perguntas. Conteúdo: relata os assuntos principais que serão abordados. Introdução: apresenta o significado da lição, comentando o valor e a importância do material a seguir, e faz sugestões para o melhor aproveitamento. Observe que essas quatro seções introdutórias o ajudarão a focar sua aprendizagem. Se você não dispõe de tempo suficiente, leia pelo menos essas quatro partes antes de cada aula. Para estudo posterior: este recurso, localizado no final de alguns artigos, identifica leituras adicionais sobre assuntos discutidos no artigo anterior. Perguntas para discussão: estas perguntas lhe darão uma oportunidade


Descobrindo

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o mundo do islã

para aplicar o material da lição em um debate com outras pessoas. Pode ser uma atividade de aula ou simplesmente servir para sua própria reflexão.

Destaques de citações – apresentam breves textos que ilustram pontos importantes da lição.

Atividades recomendadas: este recurso identifica leituras e atividades adicionais que podem ser de seu interesse ou exigidas por seu professor.

Destaques do Alcorão – exploram versículos e conceitos importantes do Alcorão.

Ícones de navegação Ícones são utilizados em todo o livro para orientar sua aprendizagem. Alguns se referem a níveis de leitura: Identifica as leituras básicas. Se você está com pouco tempo de preparo antes da aula, faça pelo menos essas leituras. Identifica as leituras completas, que acrescentam profundidade às leituras básicas e são recomendadas para todos os alunos. Outros ícones identificam os assuntos de destaque na lição: Destaques conceituais – discutem importantes conceitos bíblicos ou culturais que os alunos devem conhecer. Destaques evangelísticos – discutem modos apropriados para alcançar muçulmanos. Destaques étnicos – fornecem um breve panorama dos principais blocos de afinidade e descrevem os grupos étnicos que são encontrados em cada bloco.

Destaques pessoais – dão uma visão sobre a vida dos muçulmanos e dos cristãos de origem muçulmana. Destaques femininos – discutem assuntos que se aplicam especificamente às mulheres muçulmanas.

Citações bíblicas e alcorânicas Ao longo do livro, temos nos esforçado para registrar corretamente quais traduções da Bíblia ou do Alcorão são citadas: Textos da Bíblia: todas as citações são da Nova Versão Internacional (revisão de 2000), a menos que seja indicado a seguinte sigla NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje Textos do Alcorão: Todas as citações são da tradução de Samir El Hayek, a menos que seja indicado. NASR – Tradução do sentido do NOBRE ALCORÃO para a língua portuguesa, por Dr. Helmi Nasr


Introdução

Significado de termos específicos aya verso de uma sura do Alcorão. califa governante espiritual islâmico, antes de 1922 d.C. COM sigla para “cristãos de origem muçulmana”. crentes monoteístas; crentes em Allah. Cruzadas expedições cristãs para reconquistar a Terra Santa, Jerusalém (entre os anos 1200-1300 d.C.). dhimmi indivíduos protegidos, geralmente judeus e cristãos. jinn tipo de espírito segundo o islã popular; podem ser maus ou bons. hadith tradição, provérbio; dito do Profeta. Hadith coleção de literaturas que interpreta o islã. Hajj peregrinação à cidade de Meca, quinto pilar do islã. halal permitido, legal. Hégira a emigração muçulmana de Meca para Yathrib (Medina). Id al-Adha festa do sacrifício, o fim do Hajj. Id al-Fitr festa da quebra do jejum, fim do Ramadã. imã líder espiritual, clérigo profissional; jurista proeminente (sunita); sucessor designado por Deus (xiita). infiel incrédulo, politeísta, que adora ídolos. injil Evangelho original, sem corrupção; atual Novo Testamento. islã popular mistura de práticas islâmicas ortodoxas com práticas animistas que trata os problemas referentes ao medo e poderes espirituais. islamista radical islâmico, ativista político ou social. Isa Jesus na lingua árabe. jihad luta interior pela santidade; luta externa para disseminar a umma; termo usado pela mídia para guerra santa. Ka‘aba casa santa em Meca; que possui a Pedra Negra, centro do islã.

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Descobrindo

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o mundo do islã

Mahdi o bem encaminhado; o Iman que vem; um líder mundial que voltará como Messias. paraíso recompensa após a morte, Céu. Pilares da Fé as cinco obrigações religiosas dos muçulmanos. pir ancião, sábio; santo, guia espiritual (sufi). Povo do Livro judeus e cristãos (segundo o Alcorão). rakat conjunto de rituais de oração. Ramadã mês sagrado do jejum anual. salat os cinco horários requeridos para o ritual da oração diária; o segundo pilar. Shahada testemunho, credo; o primeiro pilar. shirk ato de associar parceiros a Allah; considerado politeísmo. sunita ramificação majoritária do islã (85%); o termo é derivado da sunna. sunna costume; precedente normativo estabelecido com base no exemplo de Maomé descrito no Hadith. sura capítulo do Alcorão. tawhid termo usado para expressar a unidade de Allah, o único Deus. umma a comunidade muçulmana; o povo unido do islã. Wahabita ramo conservador do islamismo sunita. Sharia lei islâmica ideal; a vontade de Deus expressa no Alcorão, no Hadith e na sunna. Xiita ramificação minoritária do islã (15%); seguidores de Ali. zakat taxa de esmola estatutária; o terceiro pilar.


O DESENVOLVIMENTO DO ISLÃ



LIÇÃO 1 A ORIGEM DO ISLÃ Objetivo: Conhecer a fundação do islã e a vida de Maomé.

Considere: • O que influenciou Maomé a se tornar o líder que ele foi? • Quais os aspectos positivos da vida de Maomé? • Como o rumo que a vida de Maomé tomou se diferencia do curso de vida escolhido por Cristo? • Qual deveria ser a atitude cristã em relação a Maomé?


Descobrindo

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o mundo do islã

Conteúdo: 1. O contexto histórico, cultural e religioso da Arábia antes do islã. 2. A decisão de Maomé de fugir do sofrimento em Meca e buscar o sucesso por meio da política em Medina. Comparação dessa decisão de Maomé com o curso de vida escolhido por Cristo e que o levou à cruz. 3. O crescimento do islã desde a primeira revelação de Maomé até o controle político de Meca e a morte de Maomé. 4. A rejeição de Maomé das tradições bíblicas do judaísmo e do cristianismo ao confrontar os judeus em Medina, mudar a direção da oração, subjugar Meca e redirecionar o movimento islâmico para uma religião árabe. 5. As primeiras interações do islã com o judaísmo e o cristianismo e as consequências da inexistência de uma Bíblia em árabe na época de Maomé.

Leituras nesta lição: Introdução.................................................................................................35 Como o islã começou.....................................................................................41 O cristianismo durante os primeiro séculos do islã.......................................59


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origem do islã

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Introdução K. S., Editor

Todos nós, como criaturas decaídas, somos equipados com moldes culturais compostos de pressuposições ou lentes pelas quais enxergamos o mundo. Usamos essas lentes para processar, interpretar e avaliar o que experimentamos. Normalmente não nos conscientizamos da existência de nossas lentes culturais até que nos defrontamos com alguém que possua um conjunto diferente.

Mulher turca e seu filho

Para entender o islã, precisamos olhar para o mundo através de outras lentes. Isso nos proporcionará uma compreensão e uma apreciação maior, até mesmo empatia pelos muçulmanos e seu mundo. Algumas questões sobre as quais estávamos desinformados serão corrigidas e nosso próprio horizonte de interpretação será expandido. Isso significa que iremos aceitar ou concordar com tudo o que veremos? Não, pois esse não é o nosso objetivo. Descobrindo o mundo do islã foi projetado não somente para desenvolver nossa interpretação e nosso respeito pelo ponto de vista muçulmano, mas também para nos preparar para estabelecermos relacionamentos profundos e duradouros com muçulmanos. Embora tenhamos reservas sobre muitos aspectos do islã, nosso enfoque nos relacionamentos amigáveis enfatizará o escutar e o aprender.

A primeira revelação de Maomé Vamos começar examinando a primeira revelação de Maomé, a experiência que deu origem ao islã. Uma de suas esposas descreve-a claramente na coletânea de tradições sobre Maomé, conhecida como o Hadith: O início da Inspiração Divina do Apóstolo de Allah foi na forma de bons sonhos, tão vívidos como a luz brilhante do dia, e então o amor à

reclusão lhe foi concedido. Ele costumava ficar em reclusão na caverna de Hira, onde ele costumava adorar (Allah somente) continuamente por muitos dias até que lhe viesse o desejo de ver sua família. Ele costumava levar consigo o alimento para a jornada e a estadia e voltava para (sua esposa) Khadija para semelhantemente levar o seu alimento novamente, até que, repentinamente, a Verdade desceu sobre ele enquanto


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Descobrindo

ele estava na caverna de Hira. O anjo veio até ele e pediu-lhe para ler. O Profeta respondeu: “Eu não sei ler”. O Profeta acrescentou: “O anjo me segurou (com força) e apertou-me com tanta força que eu não podia mais suportar. Ele então me soltou e novamente me pediu para ler e eu respondi: ‘‘Não sei ler’. “Então ele me segurou novamente e apertoume uma segunda vez até que eu não podia mais suportar. Ele então me soltou e novamente me pediu para ler, mas novamente eu respondi: ‘Não sei ler (ou o que devo ler)?’ Então ele me pegou pela terceira vez e pressionoume, e depois me soltou e disse: ‘Lê, em nome do teu Senhor Que criou; criou o homem de algo que se agarra (coágulo). Lê, que o teu Senhor é o mais Generoso’ ” (Sura 96.1-3). Em seguida, o Apóstolo de Allah voltou com a inspiração e com o coração batendo fortemente. Então, ele foi a Khadija e disse: “Cubra-me! Cubra-me!” Eles o cobriram até que seu medo se foi e depois disso ele contou a ela tudo o que tinha acontecido e disse: “Eu temo que algo possa acontecer comigo”. Khadija respondeu: “Nunca! Por Allah, Allah nunca te envergonhará. Mantenha boas relações com teus parentes e amigos, ajude os pobres e os necessitados, sirva teus convidados generosamente e ajude os dignos, afligidos pela calamidade”. Khadija então o acompanhou até seu primo, Waraqa bin Naufal bin Asad bin Abdul Uzza, que durante o período pré-islâmico, tornara-se um cristão e escrevia os escritos com letras hebraicas. Ele iria escrever o Evangelho em hebraico enquanto Allah desejasse que ele escrevesse. Ele era um homem velho e havia perdido sua visão.

o mundo do islã

Khadija disse a Waraqa: “Ouça a história de teu sobrinho, ó meu primo!” Waraqa perguntou: “Ó meu sobrinho! O que viste?” O Apóstolo de Allah descreveu tudo o que tinha visto. Waraqa disse: “Este é o mesmo que guarda os segredos (anjo Gabriel) a quem Allah havia enviado a Moisés. Eu gostaria de ser jovem e viver até o momento em que teu povo te expulsará”. O Apóstolo de Deus perguntou: “Eles me expulsarão?” Waraqa respondeu afirmativamente e disse: “Qualquer um que veio com algo semelhante ao que trouxeste foi tratado com hostilidade; e se eu permanecesse vivo até o dia em que tu fosses expulso, então eu te apoiaria firmemente”. Mas depois de alguns dias Waraqa morreu e a Inspiração Divina também foi interrompida por um tempo.1 Algo extraordinário parece ter acontecido a Maomé na caverna do Monte Hira, próximo a Meca, algo que mudou profundamente o rumo de sua vida. Personagens bíblicos tiveram experiências semelhantes: Jacó lutou por uma noite inteira com um ser espiritual em Gênesis 32 e Samuel precisou do encorajamento de Eli para ouvir a voz de Deus em 1 Samuel 3. A maioria das aparições de anjos registradas na Bíblia começa com o anjo dizendo: “Não temas”, porém nessa passagem, Maomé parecia claramente abalado, apesar de a história não conter uma ordem contra o medo.

“O que você acha do profeta Maomé”? Os muçulmanos muitas vezes nos fazem essa pergunta, como teste, no início da amizade. O modo como respondemos

1 Sahih Bukhari, The Collection of Hadith (A coleção do Hadith), narrada por Aisha; tradução de M. Muhsin Khan; vol.1, bk. 1, nº 3. Aisha era a esposa favorita na velhice de Maomé.


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origem do islã

frequentemente afeta o rumo do nosso relacionamento. Maomé foi acusado de ser um doente mental, epilético e até mesmo endemoninhado. Ele é visto de forma negativa por seu tratamento para com as mulheres e os judeus. No entanto, ele é o fundador de um dos maiores, mais duradouros e mais poderosos movimentos na história. Ao compor uma lista das pessoas mais influentes da história, o estudioso honesto deveria incluir Maomé. Mas o que sabemos sobre o profeta do islã e sua formação? À medida que formos entendendo as circunstâncias sob as quais o islã nasceu e se desenvolveu, conseguiremos articular uma compreensão mais profunda e mais justa de Maomé. Precisaremos reconhecer as fraquezas e falhas dos cristãos e da igreja daquela época. Estudaremos também a transformação do islã primitivo: seu início como um movimento de reforma, sua expansão e perseguição em Meca, até a criação de uma sociedade nova e distinta em Medina. Apesar de pobre e órfão, Maomé tornou-se um respeitado mediador de conflitos e um comerciante bem-sucedido. Mais tarde, veio a ser um reformador religioso e social e um líder político capaz. Maomé convocou as pessoas a adorarem o Único Deus Verdadeiro, o Criador do Universo. Ele se posicionou contra a idolatria, o abuso dos pobres, órfãos e viúvas e a usura praticada pelos ricos. Ele conclamou o povo a se submeter a Deus e a ser grato a ele por sua provisão, a fim de não sofrer seu juízo vindouro. Ele e seus seguidores foram brutalmente perseguidos por sua própria gente por causa de suas posições.

De Meca a Medina Depois de 12 anos de perseguição, Maomé e seu pequeno grupo de seguidores fugiu para Yathrib, que mais tarde se tornou conhecida como Medina, onde uma grande mudança na evolução do islã ocorreu. Maomé passou a ver a perseguição e o sofrimento como abominação, a busca do sucesso como seu caminho e esse sucesso como um sinal da bênção de Deus. O islã não inicia seu calendário a partir do nascimento de Maomé, nem de sua morte, nem de sua primeira experiência na caverna do Monte Hira, mas a partir dessa fuga para Medina. Maomé viu o convite de Yathrib para que ele solucionasse suas rivalidades tribais como o livramento de Deus do sofrimento. Essa migração deu início a uma nova e próspera sociedade islâmica. A primeira mesquita foi construída em Medina e as orações muçulmanas foram instituídas. Hoje, quando as comunidades muçulmanas ao redor do mundo são chamadas à oração cinco vezes por dia, as palavras que ecoam são: “Deus é grande! Venha à oração! Venha ao sucesso!” Conforme crescia o poder da sociedade muçulmana, Maomé começou a demonstrar sinais de que estava sendo corrompido pela influência que exercia. Apesar de ser fiel a Khadija, sua primeira esposa, até sua morte, depois ele se casou novamente, chegando a ter entre nove e onze mulheres. A maior parte delas eram as viúvas de seus primeiros seguidores, as quais ele protegeu. Outros casamentos selaram alianças com tribos árabes a fim de obter apoio político. Uma de suas esposas era ainda menina, várias eram escravas e uma era a esposa de seu filho adotivo.


DescobrinDo

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Inicialmente, Maomé procurou se identificar com as três tribos de judeus de Medina. Como estas se opuseram a ele, exilou duas tribos e matou 800 homens da terceira, vendendo as mulheres e crianças como escravas (seguindo a prática comum da época). Maomé e seu grupo assaltavam caravanas e foram acusados de quebrar tratados. Não devemos presumir que a extensão do controle de Maomé tenha sido obtida exclusivamente por conversões forçadas, nem tampouco por corações transformados. Maomé exigiu compensação financeira de seus inimigos assaltando caravanas

o munDo Do islã

dos Quraysh e lutou com as tribos árabes que não se submeteram a ele. Isso pode ter estabelecido os padrões para a futura expansão do mundo islâmico e sua imagem de sucesso. De qualquer forma, os níveis de violência foram irrisórios se comparados aos da invasão mongol, das cruzadas ou das guerras mundiais e os genocídios do século 20.

À luz de seu tempo O que acontece quando avaliamos os feitos de Maomé à luz do tempo no qual ele viveu em vez de julgá-lo pelos padrões

o que DiZ o alcorão

A primeira das 114 Suras (capítulos) do Alcorão é chamada de al-Fatiha, que significa “a abertura”. De algumas maneiras se assemelha ao Pai Nosso no Novo Testamento. “Estudar as duas orações lado a lado deveria remover a estranheza que sentimos sobre a oração no islã e nos capacitar a apreciar algo da base comum da espiritualidade cristã e muçulmana. Pensar sobre os muçulmanos em oração pode nos dar a oportunidade de nos sentarmos onde eles se sentam e de penetrarmos em um aspecto de seu relacionamento com Deus”.a A al-Fatiha é recitada cinco vezes ao dia no salat (orações). A tradução de Samir El Hayek do árabe é a seguinte: Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso. Louvado seja Allah, Senhor do Universo, O Clemente, o Misericordioso, Soberano do Dia do Juízo. Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda! Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciaste, não à dos abominados, nem à dos extraviados. As palavras iniciais da Sura são a passagem mais frequentemente repetida em todo o Alcorão. A primeira linha, chamada a Bismillah é pronunciada em todos os tipos de ocasiões. Em súplicas, para proteger contra maldições, para abençoar uma criança, antes de comer ou quando se começa qualquer coisa nova. Fonte: Encountering the World of Islam a

CHAPMAN, Colin, “Biblical Foundations of Praying for Muslims” (Fundamentos bíblicos de oração para os muçulmanos), in: Muslims and Christians on the Emmaus Road (Muçulmanos e cristãos no caminho de Emaús), J. Dudley Woodberry (Org.), (MARC, 1989), p. 306.


Lição 1 - A

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origem do islã

al-Fatiha – A Sura de Abertura do Alcorão

atuais? Quanto tempo o mundo moderno levou para abolir a escravidão e dar às mulheres o direito ao voto e outros direitos? Tratar pessoas como propriedade é uma parte da história que a maioria das culturas têm em comum, o mundo muçulmano não é o único. Quantas das esposas de Salomão eram jovens escravas? Qual era a idade de Maria quando ela foi casada com José? Quantos de nossos líderes judaico-cristãos como Davi e Gideão se corromperam e sofreram as consequências de sua própria infidelidade e depravação?

Se julgarmos Abraão perante Faraó ou Josué em suas batalhas, o que aprendemos sobre eles e a época em que viveram? E os fracassos de nossos líderes espirituais de hoje? E nós? Como é que nós reagimos àqueles que se opõem a nós? Se quisermos encontrar um exemplo de alguém que foi tentado e não pecou, somente a vida de Cristo pode ser nosso modelo. A natureza humana leva os cristãos a focalizar os fracassos humanos de Maomé e enfatizar suas fraquezas sem


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Descobrindo

reconhecer os pontos fortes. Podemos identificar Maomé como um reformador progressista que se dedicou à pregação contra a idolatria e o abuso de mulheres e órfãos? Um líder que uniu e levou uma sociedade feudal e tribal a ser uma comunidade governada pela lei? Um ser humano e pecador como nós?

Interação com judeus e cristãos Como alguém que buscava a verdade, por que Maomé não conseguiu ver Cristo refletido nos cristãos de sua época? Parece que eles estavam divididos, mais interessados no controle político de seus impérios humanos do que em compartilhar Cristo com as pessoas ao redor deles. Os poucos pontos de luz de missões cristãs no século 7 – os nestorianos que levaram o Evangelho para a Índia e China e os celtas que levaram Cristo aos povos germânicos – estavam longe da Arábia. O que poderia ter acontecido se os cristãos da época e da região de Maomé tivessem sido menos racistas e egocêntricos? Se eles o tivessem ajudado a expandir seu conhecimento da verdade de Deus? Essas perguntas têm implicações para nós hoje: os cristãos se sentem responsáveis pelo que as pessoas ao seu redor pensam de Deus? Até onde nossas

o mundo do islã

interações com outros são um testemunho negativo ao invés de positivo? Na época em que o islã começou, não havia na Arábia um testemunho bíblico. Maomé e os povos árabes não tinham a Bíblia em seu idioma. Os poucos judeus e cristãos da região seguiam práticas heréticas e, por isso, eram incapazes de apresentar soluções bíblicas para os males sociais que Maomé procurava corrigir. A Bíblia só foi traduzida para o árabe em 837 d.C. e só foi publicada (a não ser por alguns manuscritos de estudiosos) em 1516. Nos últimos 14 séculos poucos cristãos alcançaram muçulmanos. Até mesmo hoje, apesar de um terço de todos os não cristãos do mundo serem muçulmanos, talvez um em cada 12 missionários trabalha entre eles. Parece que Maomé tinha a expectativa de que os judeus à sua volta confirmassem sua mensagem. Quando não o fizeram, o islã gradualmente se distanciou das tradições judaico-cristãs. Uma revelação, então, instruiu Maomé a orar em direção a Meca em vez de Jerusalém e a instituir o jejum do Ramadã em lugar do Dia da Expiação. A peregrinação a Meca foi adotada para unir as tribos árabes sob o islã, uma vez que elas retornavam a Meca todos os anos para o Hajj.


Lição 1 - A

origem do islã

Como o islã começou William M. Miller

Nota do Editor À medida que estudamos o seguinte artigo deveríamos nos perguntar: “Como poderíamos ter uma abordagem mais equilibrada do fundador do islã, assim como de nossa história cristã?” Acredito que a diferença entre muçulmanos e cristãos não está em nosso comportamento, mas em quem nós vemos como nosso salvador. Além do mais, nos considerarmos melhores que os outros é arrogância e uma posição biblicamente ilegítima para uma testemunha de Cristo. O Dr. Miller foi meu mentor. Fui grandemente abençoado ao ser ensinado por ele e ao ver seu coração amoroso para com muçulmanos durante os últimos anos de sua vida terrena. Sendo um fiel homem de oração, ele mantinha imensos arquivos de cartões com os nomes dos muçulmanos que ele conheceu e por décadas continuou a orar por cada um deles. Seu foco e amável confiança na graça de Cristo, ao mesmo tempo em que optava por não recorrer à crítica inadequada do islã, ainda me impressionam hoje. Em particular, lembro-me dele em seus 95 anos de idade, recitando Hebreus 12.1-3 de cor: Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nu-

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vem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem. É essencial que os cristãos que queiram falar a seus amigos e conhecidos muçulmanos a respeito de Cristo e aqueles que desejam orar inteligentemente por eles e por aqueles que, através de palavras e obras estão tornando Cristo conhecido a eles, devam compreender claramente quem era Maomé e o que ele ensinou. Apesar de muitos livros excelentes terem sido escritos por estudiosos cristãos sobre a história e os ensinos do islã, parece que alguns cristãos têm uma vaga noção sobre como esse sistema religioso-político começou e sobre quais doutrinas e práticas ele foi estabelecido. Neste artigo, a história mais interessante sobre o profeta da Arábia será contada brevemente da maneira como foi relatada pelos primeiros historiadores muçulmanos. Faremos um esforço sincero para falar a verdade em amor, conforme Efésios 4.15 ordena. Todavia, não é possível contar a história da vida de Maomé com total exatidão, pois as fontes disponíveis consistem, em sua maioria, de tradições, algumas das quais se originaram muito depois da

William M. Miller foi missionário da igreja presbiteriana no Irã, de 1919 a 1962. Morreu em 1995, aos 101 anos, um dos últimos missionários do Movimento Voluntário Estudantil. Fonte: Adaptado de William M. Miller, A Christian’s Response to Islam (Uma resposta cristã ao islã), Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1980, pp. 13-40. Usado com permissão.


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Descobrindo

morte de Maomé. A fonte mais confiável é o Alcorão. Os fatos descritos nas seguintes páginas são aceitos pela maioria dos muçulmanos e não muçulmanos.

A Arábia na época de Maomé Pela providência de Deus, um menino nasceu em Meca, na parte oeste da Arábia, mais ou menos no ano 570 d.C., a quem foi dado o nome de Maomé (“louvado”). Os que lhe deram o nome mal sabiam que ele estava destinado a influenciar o mundo como poucos e que seria realmente louvado por incontáveis milhões de pessoas por séculos. A Arábia é uma terra vasta, cuja maior parte é desértica. Nas regiões desertas, os nômades beduínos transitavam com suas manadas e rebanhos, vivendo em tendas negras. Havia também cidades nas quais os comerciantes ricos realizavam seus negócios, das quais Meca era a principal. Por Meca passavam caravanas de camelos carregando mercadorias entre o Iêmen, no sul, e a Síria, no norte. Além de um importante centro comercial, Meca era uma cidade sagrada. Nela, desde tempos antigos, estava localizada a Ka‘aba (“cubo”), uma construção cúbica que era conhecida como a Casa de Allah. Havia uma tradição que dizia que, quando essa Casa Sagrada foi destruída por uma enchente, Abraão (Ibrahim) e seu filho Ismael (Ismail) a reconstruíram. No idioma árabe, Allah significa “o Deus” e, aparentemente, os árabes o reconheciam como Deus supremo. Se eles o conheceram através dos judeus ou se herdaram esse conhecimento de seu antecessor Abraão, não é claro. O nome do pai de Maomé era Abd Allah, que significa “escravo de Allah”.

o mundo do islã

Apesar de os árabes reconhecerem Allah como supremo, não o consideravam como o único deus, nem davam importância à sua adoração. Eles adoravam muitas outras divindades. Na época da juventude de Maomé, a Ka‘aba estava cheia das imagens de outros deuses e deusas. Quando os árabes iam a Meca para negociar na feira anual, também realizavam os rituais costumeiros da peregrinação à Ka‘aba, dando sete voltas ao seu redor e beijando ou tocando a Sagrada Pedra Negra (al-Hajar al-Aswad) colocada dentro dela. Tratava-se de um meteorito ao qual atribuía-se grande significado. Apesar de o povo árabe não ser muito religioso, o santuário em Meca, com seus rituais, lhes eram muito valorizados como importante elemento de sua herança cultural.

Hanifs, judeus e cristãos na Arábia Nem todas as pessoas de Meca estavam satisfeitas com as condições de seu país. A situação política não era boa, pois as muitas tribos pequenas estavam frequentemente em guerra entre si. Em razão dessa falta de união, corriam o perigo de serem engolidas pelos grandes impérios ao seu redor: o Persa, o Bizantino e o Etíope. A religião popular não satisfazia àqueles que queriam conhecer Deus. Dizem que um pequeno grupo de homens inteligentes, conhecidos como hanifs, costumavam se reunir para discutir estes problemas políticos e religiosos. Não havia na Arábia pessoas que pudessem falar a eles do Único Deus Verdadeiro? Havia. Desde tempos antigos um grande número de judeus residia na Arábia e alguns deles viviam em Meca. Em Medina, a 450 km ao norte de Meca, havia três grandes tribos de judeus com


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origem Do islã

suas sinagogas e suas escrituras. Eles haviam prosperado materialmente, possuíam camelos, casas, terras, e, em grande parte, controlavam o comércio da cidade. Sua educação e padrão de vida eram melhores do que os dos árabes pagãos ao redor deles. Os árabes sabiam que os judeus não adoravam ídolos, mas eram adoradores de Allah, o Deus invisível. É pouco provável, no entanto, que os judeus tenham tornado conhecido aos pagãos os tesouros espirituais contidos em suas Escrituras. Também havia cristãos na Arábia. Várias tribos árabes no norte tinham se tornado cristãs. Ao sul, em Nejran, havia muitos cristãos com seus bispos e sacerdotes e suas escrituras na língua siríaca. Essa igreja nestoriana do Leste, que anteriormente havia enviado seus missionários à Arábia, não obteve sucesso em seus esforços de converter os árabes, cuja maioria permaneceu pagã. Parece que faltava aos cristãos o amor, a vida de pureza e o poder espiritual necessário para torná-los uma agência missionária eficaz na Arábia.

A juventude de Maomé Abd Allah, o pai de Maomé, morreu antes do nascimento de seu filho (por volta de 570) em Meca. Amina, a mãe de Maomé, morreu quando ele tinha seis anos de idade e o menino órfão foi confiado aos cuidados de seu avô. O ancião logo morreu e Maomé foi adotado por seu tio, Abu Talib, que o tratou com bondade. A família de Maomé fazia parte de uma tribo muito poderosa, chamada Quraysh e que era responsável pela Ka‘aba. Abu Talib, apesar de ser influente, era pobre e dizem que, naquela época, Maomé trabalhava como pastor no deserto. Também se diz que quando tinha 12 anos, acompanhou seu tio em uma caravana de negócios para a Síria.

Casamento O jovem se tornou um homem habilidoso e de bom caráter. Aos 25 anos foi contratado por uma viúva rica de Meca, chamada Khadija, para acompanhar sua caravana para a Síria. Ele foi tão bem sucedido nessa empreitada comercial que em seu

quem era maomÉ?

Sua disposição em suportar perseguição por suas crenças, a integridade moral dos homens que creram nele e o respeitavam como líder e a grandeza de sua realização, tudo argumenta em prol de sua integridade fundamental. Supor que Maomé fosse um impostor cria mais problemas do que soluções. Além do mais, nenhum dos grandes personagens da história é tão pouco apreciado no Ocidente como Maomé. Fonte: W. Montgomery Watt, Mohammad at Mecca (Maomé em Meca) (Oxford: Oxford University Press, 1953), p. 52.

Para estudo posterior W. Montgomery Watt, Muhammad: Prophet and Statesman (Maomé: profeta e estadista) (Chicago, Ill.: Kazi Publications, 1996).



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