JosĂŠ Marcos da Silva
Desculpe o transtorno, estamos
a igreja Um guia prĂĄtico
José Marcos da Silva
Um guia prático para promover mudanças na igreja 1ª edição
Curitiba/PR 2018
José Marcos da Silva Desculpe o transtorno, estamos mudando a igreja
Um guia prático para promover mudanças na igreja Coordenação editorial: Edição e capa: Revisão e editoração eletrônica:
Claudio Beckert Jr. Sandro Bier Josiane Zanon Moreschi
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Silva, José Marcos Desculpe o transtorno, estamos mudando a igreja: um guia prático para promover mudanças na igreja / José Marcos da Silva. – Curitiba, PR: Editora Esperança, 2018. 160 p. ISBN 978-85-7839-246-8 1. Vida cristã – Mudanças (Aspecto religioso) 2. Vocação 3. Igreja Batista – Coqueiral - História I. Título CDD 248.4
Índices para catálogo sistemático: 1. Vida cristã : Mudanças (Aspecto religioso)
248.4
Salvo indicação, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia na versão Nova Almeida Atualizada © Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. . Todos os direitos reservados.
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APRESENTAÇÕES
Presença encarnada é a marca da Igreja Batista em Coqueiral. Simples, como é o Evangelho, mas, profunda e consequente, pois toca e penetra na vida das pessoas produzindo transformações genuínas ao mesmo tempo em que confronta o mal sistêmico e estrutural. É a história de uma igreja que demonstrou que é possível ser presença de Deus em meio ao caos e à desesperança. Maranata!
Serguem Jessui M. Silva Presidente da Tearfund Brasil
Algo particularmente me impressiona na Igreja Batista em Coqueiral: é das pouquíssimas Igrejas que conheço que, durante toda a semana, se ocupam em atualizar os gestos de Jesus em favor do povo. O aspecto religioso é importante, mas como linguagem poética e mística, para expressar e comunicar algo bem mais profundo, a saber, a fé em Jesus, que é o compromisso de vida com sua práxis (ação e palavra) em vista de estabelecer neste mundo o Reino de Deus. No centro, os pobres, que estão à margem do banquete do Reino; no dia a dia, a luta, de muitos modos, pela transformação das estruturas de opressão, para que “resplandeça, pelo amor e a justiça, o brilho da face de Cristo”. Dom Sebastião Armando Gameleira Soares Bispo da Igreja Anglicana
Em volta de uma mesa, no meio de uma favela na zona sul de São Paulo, meu amado amigo Zé (o nome preferido do ilustre pastor José Marcos) nos falou algo de que nenhum dos pastores presentes se esquecerá. Ele disse: “A mesa ocupa mais centralidade no Reino de Deus do que o púlpito”. Este livro, como a própria vida do Zé, traça o caminho das mudanças necessárias para mobilizar o povo de Deus à missão de Deus, para a glória de Deus. Será uma bênção desafiadora para qualquer líder da igreja. Thomas Smoak Diretor Internacional da Action International Ministries
O mundo e o momento em que vivemos exigem duas atitudes da liderança sábia, uma valorização dos imutáveis fundamentos bíblicos e uma ágil, destemida e inteligente capacidade de mudar as formas de expressão da Igreja de Jesus, de modo que ela se torne mais relevante, simples e orgânica. O Pr. José Marcos neste livro nos desafia a sairmos da “caixa” e a obedecermos ao gradual processo de mudança que começa no coração do líder, passando pelo seu círculo imediato de liderança multiplicadora até atingir os membros da comunidade, sendo eles os verdadeiros agentes da mudança e da transformação. Armando Bispo Pastor da Igreja Batista Central de Fortaleza
A Igreja Batista em Coqueiral é uma igreja que encarna os valores do Reino de Deus. São esses valores que têm orientado suas decisões, preferências e forma de atuar em sua comunidade. É uma igreja que lê os Evangelhos, mas também aprendeu a ler o seu contexto e percebeu Deus agindo fora dos seus limites. Quando enxergamos isso, as bases, colunas e paredes de uma fé templocêntrica e exclusivista desmoronam e, dos escombros, brota uma igreja viva, vibrante e diaconal.
Bebeto Araújo Diretor da Missão Aliança Brasil
No Brasil, há bastante tempo debate-se o papel da igreja na/ para/com a cidade. Creio, porém, que a Igreja Batista em Coqueiral não se enquadra em nenhuma dessas teorias teológicas. Na verdade, creio que em Coqueiral deu-se uma química da encarnação do Jesus de Nazaré da Galileia, que segue caminhando nas periferias de nossas cidades. Para mim, a Igreja Batista em Coqueiral e o José Marcos são um convite para que eu tire os olhos dos centros de decisão e poder e olhe para a periferia, na qual, como na Galileia, andava Jesus. Welinton Pereira da silva Pastor metodista e Diretor Nacional Adjunto da Visão Mundial
A IBC, pastoreada por nosso “Zé Marcos”, não caiu na tentação de invocar o nome de Deus em vão; pelo contrário, ela o santifica com sua presença no bairro (e na cidade), tal como Jesus fazia. O templo não lhes serve de parede para “cercar os/as crentes” do mundo. Sem compactuar com o pecado, ela busca vivenciar o dia a dia da vida das pessoas que a cercam. As bem-aventuranças não lhe são só um sermão pregado por Jesus: são princípios e valores pelos quais luta e serve. Muito me inspira e me faz crer que o Reino de Deus é mesmo chegado. Marisa de Freitas Bispa Metodista da Região Nordeste
Um dia José Marcos compartilhou comigo o processo de sair de uma igreja histórica-tradicional de bairro para uma igreja relevante para seu entorno e sociedade. Conforme ele ia explicando as fases do processo, eu dizia que ele precisava escrever um livro, pois esse tem sido um dos motivos que causam muito sofrimento pastoral: as mudanças de paradigmas na igreja. Esse dia chegou, e chegou com força. Este livro será um divisor de águas neste assunto. É fruto de um processo que integra conceito com a prática. O conceito que leva à prática e uma prática que confronta o conceito, que culmina em uma hermenêutica espiral. É a partir de uma geografia específica – Igreja Batista em Coqueiral – que essa experiência transcenderá, ajudando você na sua própria igreja. Este livro irá ajudá-lo em algo muito concreto: você carregará menos pedras. Acredite! Jorge Henrique Barro Diretor da Faculdade Teológica Sul Americana
Tenho a alegria de recomendar esta obra por diversas razões. A primeira é que “mudança” para José Marcos não se trata de um vago conceito teórico. Em suas mãos está um guia repleto de sabedoria prática para ajudar na condução de processos de transição. Em segundo lugar, tenho profunda convicção de que a prática dos conceitos trazidos neste livro por parte de centenas de igrejas locais pode contribuir para uma verdadeira “revolução silenciosa” que poderia mudar a face de muitas das áreas hoje mais empobrecidas e violentas das nossas cidades. Leandro Silva Presidente da Missão ALEF, Missionário da Action International Ministries e integrante da equipe executiva do Movimento de Lausanne no Brasil.
Este livro é um fragmento da história de uma igreja e, ao mesmo tempo, da história pessoal de um pastor. Há 20 anos, ambos foram inquietados por uma questão urgente: a natureza da igreja, sua constituição essencial e seu consequente propósito de existir no mundo. Como produto dessa inquietação, uma igreja atualmente quase centenária ressignificou sua visão no propósito de se parecer mais com Jesus, seu Senhor, e, por isso, tornou-se relevante, deixando de servir a si mesma para servir ao mundo, assumindo aquilo que o sábio germânico Dietrich Bonhoeffer afirmou: “A igreja só é igreja quando existe para os outros”. Davi Guimarães Pastor, professor de Teologia, escritor.
O que aconteceria se nós, enquanto igreja local, deixássemos de existir? Isso faria alguma diferença para a nossa comunidade, o bairro ou a cidade? É sobre as respostas a essas perguntas que este livro trata. Ele é a celebração da força do Evangelho do Reino de Deus, que tem, em muitos momentos históricos, sua gestação em momentos de crise. É também um bálsamo, porque demostra, de maneira substancial, pela experiência na igreja em Coqueiral, como Deus se utiliza da crise para mudar pensamentos, paradigmas e dogmas de uma coletividade, levando sua igreja a outro patamar de influência. Jades da Cunha e Silva Junior Pastor-Presidente da Igreja Batista Imperial
DEDICATÓRIA
Dedico este livro à Igreja Batista em Coqueiral, como reconhecimento por suas múltiplas coragens para mudar, mas também, pelo seu constante medo de sair do centro da vontade de Deus.
SUMÁRIO
Prefácio...........................................................................................................15 Introdução...................................................................................................21 PARTE I ─ O ESTABELECIMENTO DA MUDANÇA
I - Insatisfação e crise................................................................................31 2 - Alimente a crise.......................................................................................45
3 - Compartilhando com os mais próximos.....................................55 4 - Compartilhando com a igreja.........................................................69 5 - A hora “H”................................................................................................77 PARTE II ─ RETROALIMENTAÇÃO
6 - O fogo tende a se apagar..............................................................97
7 - Muitas mudanças e uma só direção....................................113 8 - Principais paradigmas mudados na Igreja Batista em Coqueiral e suas consequências...................................121
9 - S3H2R – muitos paradigmas, uma só espiritualidade....141 Considerações finais................................................................................145
Acervo de fotos..........................................................................................149
Autor.......................................................................................................157
PREFÁCIO
Há coisas na vida que não escolhemos. Não escolhemos o lugar onde nascemos, não escolhemos os nossos pais e, consequentemente, não escolhemos a nossa composição genética. Depois, no processo natural do desenvolvimento humano, quando nos damos conta da existência, de maneira consciente ou não, vamos fazendo escolhas nos caminhos da vida. José Marcos, autor deste livro, fez escolhas diferenciadas. Aprendeu na arte da tecelagem, a redesenhar caminhos e compor novas histórias na sua vida, na vida de sua família e nas comunidades por onde passa. Também inspirado, principalmente, na vida do Jesus Cristo de Nazaré, à luz dos ensinos do Evangelho, vai tecendo de maneira lúcida sua vocação e missão.
De imediato, achei que este livro fosse a construção dos últimos 20 anos de história da Igreja Batista em Coqueiral (Recife-PE). Sem dúvida alguma, esta é a proposta de sistematização do trabalho escrito por Zé Marcos com tanto esmero e responsabilidade. Mas, de fato, a vida do autor tem muitos lances que
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transcendem aos registros do livro. Zé Marcos nasceu no semiárido nordestino, vem de uma família extremamente pobre. Perdeu três irmãos antes de completarem o primeiro ano de vida, como acontece com as famílias nordestinas que vivem abaixo da linha da pobreza. Sua família fez migração do mundo rural para o espaço urbano, sonhando com a possibilidade de encontrar novas alternativas de sobrevivência. Portanto, fazer um caminho ministerial, tecendo estratégias e alternativas para transformação de vidas em comunidades pobres, já fazia parte das entranhas da alma de Zé Marcos. O exercício cotidiano de tirar bálsamo da dor, contemplar as marcas do sofrimento para transformá-las em oportunidades de vida, estiveram sempre presentes nas peregrinações desse meu irmão por quem guardo a mais profunda admiração e respeito. Em uma de suas poesias, é assim que Zé Marcos se autodescreve: “Dos nove irmãos, como era comum
Três deles morreram de causas banais Em tempos difíceis, a escassez de paz Trabalho e renda obrigavam o jejum Dinheiro e comida eram quase nenhum Mas, como se sabe, sertanejo é forte Desenha seu rumo, faz a própria sorte Não cede em frente a nenhum obstáculo E nessa cultura, seguia Zé Marcos Com muito trabalho e com pouco suporte”
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Zé Marcos fala de contemplação com simplicidade e clareza, passando-nos a impressão de não se dar conta de que sua vida retirante fez dele um perito no ato de contemplar a vida, suas crises, oportunidades, desafios e possibilidades de transformação. Sua contemplação poderia ser um ato natural da natureza humana, mas no caso deste livro, o autor deixa muito explícito que a contemplação se aprofunda quando, no seu exercício, buscamos discernir a vontade de Deus nas rotas da vida: “Contemplação não é sinônimo de meditação sobrenatural. Pode
até envolver isso também, mas é olhar com os olhos abertos. Olhar as questões reais. Encarar o problema com lucidez. Um bom exemplo disso é o de Neemias (Ne 2.11-16). Ele tinha uma difícil missão pela frente: a de construir os muros de Jerusalém, mas, antes de qualquer coisa, passou um tempo contemplando o problema. Veja que ele se retirou para o lugar do problema e olhou para tudo o que precisava fazer. Esse é um grande modelo de contemplação. ”
O menino nascido com um quilo e oitocentos gramas, chegou a um metro e sessenta e, no limite dos critérios, conseguiu ingressar no Exército Brasileiro em 1994. Tornou-se soldado no 1º Batalhão de Engenharia de Construção, em Caicó-RN. No mesmo ano recebeu condecoração do melhor soldado do ano e também concluiu o curso de cabo como primeiro colocado. No ano seguinte foi classificado para o Curso de Sargento Temporário e concluiu, também em primeiro lugar. Ainda neste ano de 1995 foi aprovado no concurso de sargento de carreira. Em um dado momento da vida, renunciou a toda a carreira promissora para atender a um chamado ministerial. Precisou retomar a rota, construir um novo percurso e conhecer novas estradas. Fez isso
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de tal forma que mudar, construir novos rumos, tomar novos caminhos – tudo indica – foi se tornando um jeito de ser do nosso escritor. Descreve o verbo “mudar” com a naturalidade de quem aprendeu a arte de redesenhar as crises da existência humana, sejam elas individuais ou comunitárias: “Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista.” (p. 25) “Proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja/instituição. Faço isso, não na condição de um teórico sobre o assunto, pois nesse caso, poderia ter escrito este livro há pelo menos dez anos, mas na qualidade de quem viveu e vive os processos de mudança, tanto na igreja quanto em minha vida pessoal.” (p. 25)
A história deste livro é a sistematização de um único autor, mas a elaboração dos acontecimentos é o resultado da tecelagem de muitas mãos. Erivaneide é casada com Zé Marcos, e ela, tanto quanto ele, oferece seus dons, talentos e habilidades para servir à comunidade em Coqueiral. A vida para os dois foi sempre muito desafiadora. Precisaram lutar contra um câncer que atingiu em cheio a vida de Marcos José, o primeiro filho do casal. Um tumor chamado meduloblastoma dava ao garoto um prognóstico de mais de 90% de possibilidades de morrer ou ficar com sequelas. Seu filho ficou completamente curado, sem sequela alguma, após 200 dias de intenso tratamento envolvendo cirurgia encefálica, quimioterapia e radioterapia. A luta da família de Marcos José era
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muito semelhante às batalhas contra outras várias formas de doenças presentes na comunidade-igreja. A interação das dores e sofrimentos coletivos têm gerado na comunidade laços mais fraternos e de cooperação. Tudo tem acontecido como se uma mão invisível estivesse criando sanidade, inspirando a revisitação de paradigmas e sempre conduzindo todos os processos e mudanças na Igreja Batista em Coqueiral.
Neste livro há testemunhos nos quais aquilo que parece simples e trivial é transformado em uma comunicação de Deus. Há mensagens vindas da disciplina do silêncio, outras surgem das crianças, jovens e pessoas em condições de rua; mas há aprendizados, também, do esforço acadêmico. Outras lições profundas surgiram pela elaboração vivenciada na prática. Zé Marcos tem levado a sério o seu compromisso de propor o que pratica. Ele me inspira por sua coerência em vivenciar uma confluência intensa entre o que ensina e o que vive. Vários princípios e roteiros vão despontar à medida que você mergulha na leitura de cada linha deste livro. Mas, pode observar que os testemunhos estão pautados por experimentações concretas e vivenciadas. Isso não significa que as histórias se repitam em outros lugares, que tenham as mesmas implicações nem que se manifestem os mesmos resultados. Todavia, os princípios e virtudes precisam ser aplicados como ato de obediência a Deus e compromisso com a “vida abundante” para todas as pessoas. Enquanto lia o livro Desculpe o transtorno, estamos mudando a igreja, fui invadido por constrangimento, necessidade de melhorar a minha vocação e chamado em serviço aos pequeninos e pequeninas do Reino de Deus. Senti-me desafiado e animado a alimentar meus processos de mudança contínua.
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Se esta minha participação gerar em você uma avidez para interagir com a leitura deste livro, de tal forma que as suas percepções produzam mudanças em sua vida, despertem novos desafios e compromissos para a suas jornadas de serviço em comunidades pobres, terei a alegria de ter cumprido bem a minha tarefa. Que o Deus de todo amor e toda graça transtorne e transforme a sua vida e a vida de sua comunidade.
Carlos Pinheiro Queiroz Pastor na Igreja de Cristo em Aldeota (Fortaleza-CE)
INTRODUÇÃO
Promover mudanças é uma arte. E das mais belas.
No ano de 1999 decidi escrever um livro sobre a arte de conduzir os processos de mudanças, desde os paradigmas até sua prática. Nesse tempo, após ler o livro Quebrando Paradigmas, de Ed René Kivitz1, duas coisas ficaram em minha mente: a primeira foi que a igreja precisa mudar paradigmas! Nesse aspecto o livro é claro. A segunda foi como conduzir um processo de mudança na prática. Este era um grande desafio para mim, e o livro não abordava essa questão. Ainda cursava o primeiro ano de Teologia, com apenas 23 anos, mas com muitos sonhos envolvendo o meu pastorado. Sonhava com uma igreja vibrante, em constante transformação, relevante para seu tempo e lugar. Consciente de que estava apenas no começo de uma longa jornada, sabia das minhas limitações e que este livro precisava ser amadurecido em minha mente e construído ao longo do caminho. Imaginei 1
KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. (São Paulo: Abba Press, 1999.)
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que cerca de quinze anos de caminhada, dali em diante, confeririam a mim a experiência e a autoridade que o livro requereria.
Assim, pensei que 2015 seria o ano ideal, pois já teria vivido na pele uma gama de experiências que me autorizariam a tal empreendimento. Mas aprouve a Deus que ele tenha se concretizado agora em que completo o 17º ano de pastorado da Igreja Batista em Coqueiral (daqui por diante identificada como IBC), na cidade do Recife e, após esse tempo, ao lembrar-me de como a igreja era e no que ela se tornou, posso assegurar que é possível efetivar mudanças em uma igreja local, por mais que ela seja considerada rígida e tradicional.
Em 1998, quando Deus me chamou para ser pastor, entrei em crise. Eu estava no auge de uma carreira de sucesso, mesmo que, poucos anos antes eu fosse um tecelão que trabalhava quinze horas por dia para ganhar um salário mínimo por mês, no sertão do Rio Grande do Norte. Tudo na minha vida caminhava a mil por hora e meus planos estavam dando tão certos que eu sempre era surpreendido com êxitos bem acima do que havia planejado. Na ocasião, eu já estava casado, e Erivaneide, minha amada esposa, estava grávida do nosso segundo filho. Já havíamos adquirido uma boa quantidade de bens materiais e eu estava em um emprego público federal com um salário de dar inveja a qualquer jovem da minha idade. Estava investindo forte na faculdade e no preparo para outro concurso público que me levaria a um patamar tão elevado que me colocaria no topo do sucesso profissional. Minha meta era ser Coronel do Exército; e eu o seria. Tudo estava perfeito e caminhando dentro dos planos mais ousados, até que veio um chamado radical para abandonar todos
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os sonhos, os frutos das conquistas, e migrar para uma vida na qual eu não estaria mais no centro das coisas. Deus não somente me chamava para o pastorado, mas, pedia-me para abandonar minha profissão. Tremi por dentro e por fora, literalmente.
Depois de seis meses de crise, disse sim ao Pai, porém, ousei colocar duas condições: que Ele também chamasse a minha esposa, e que eu pastoreasse uma só igreja durante toda a minha vida – uma igreja que nunca fosse a mesma por dois dias consecutivos. Deus tem me dado a graça de viver sua resposta para essas duas condições. Minha esposa é um grande suporte e uma mulher ímpar, e a igreja que pastoreio é uma máquina de promover mudanças, para a glória do Pai. Hoje coloco em suas mãos este livro, com grande alegria e esperança. Alegria, porque sei que as linhas que se seguirão estão autenticadas por uma experiência exitosa de uma igreja que mudou radicalmente, e continua em mudança; e esperança, porque tenho certeza de que esta obra servirá como inspiração e guia para que você acredite que a mudança de sua igreja é possível. Asseguro que, como se trata de princípios, não serve apenas para nortear mudanças em igrejas, mas também, em qualquer outra organização, seja qual for a sua natureza. Quando idealizei este livro, ainda em 1999, o fiz pela fé, mas, hoje o escrevo com a “caneta” da experiência concreta, e com a certeza de que a igreja, de fato, pode mudar. Qualquer igreja pode mudar! Qualquer instituição pode mudar!
Assumi o pastorado da IBC com apenas 27 anos. Sentia-me um menino inexperiente na liderança de uma igreja de 77 anos e com um histórico de tradicionalismo. Éramos como qualquer igreja batista tradicional. Nossas ações se concentravam no
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quadrado que Ed René Kivitz chama de “culto-clero-domingo-templo”2. Aquela era exatamente o tipo de igreja que eu tinha decidido jamais pastorear, o que só fiz por uma intensa convicção de que era a vontade de Deus, e também por sentir que havia o embrião de uma insatisfação com o arranjo convencional da igreja, pelo menos por parte da liderança. Lembro-me de que, por ocasião de um dos primeiros cultos como pastor da IBC, no momento de um louvor envolvente, um líder da igreja saiu de seu lugar, muito feliz com o que via, e me perguntou:
– Pastor, essa igreja tem a sua cara? Se parece com a que o senhor sonhava?
Com certo cuidado, pois sabia que a resposta não seria a que ele esperava ouvir, respondi que não. De fato, ela ainda precisava mudar muito e essa mudança não consistia apenas no mero formato do culto do domingo.
Na semana seguinte preparei um sermão com o título “Jesus Cristo não entraria no rol de membros da nossa igreja”, pregação essa que levou um diácono muito antigo a me chamar à parte e exortar: – Pastor, nunca mais pregue um sermão desses em nossa igreja!
Hoje nós vivemos outra dinâmica. Somos, sem sombra de dúvida, outra igreja. Mudamos muito... Repensamos e reconstruímos tantos paradigmas que não temos como mensurá-los mais. Mesmo assim, quando alguém chega a mim para dizer 2
Um conceito criado por Ed René Kivitz (op. cit.), que sintetiza o jeito de ser da maioria das igrejas. Para este autor, o modelo tradicionalizado nas igrejas históricas segue os mesmos parâmetros da estrutura judaica, tendo o culto como centro da adoração, com um sacerdócio masculino e exclusivo, em um dia sagrado de reunião e confinando as pessoas em um templo.
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que a nossa igreja já mudou muito, eu sempre respondo que estamos apenas no começo de uma “looooonga” caminhada. Sei que ainda há muita coisa a ser feita, muitos paradigmas a serem repensados, e sei que Deus continua nos inquietando como no princípio. Já nos acostumamos tanto com as crises das mudanças que quando passamos por um período de calmaria e conformação, entramos em crise. Realmente, o que mais nos deixa em crise é não termos crise. Porém, mudar não é fácil! Em esfera alguma da vida. Quantas vezes começamos uma nova dieta? Quantas vezes entramos na academia? Quantas vezes planejamos coisas que foram já planejadas há anos e anos? Todo ano, os mesmos planos. Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista.
Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista.
Neste livro, proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja/instituição. Faço isso, não na condição de um teórico sobre o assunto, pois nesse caso, poderia ter escrito este livro há pelo menos dez anos, mas na qualidade de quem viveu e vive os processos de mudança, tanto na igreja quanto em minha vida pessoal. Faço isso quase vinte anos depois de ter sonhado com este livro, simplesmente para que você acredite que é capaz de liderar processos de mudança e que eles são possíveis.
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“Se nossa igreja deixasse de existir abruptamente, ela faria falta à comunidade local?”
Na época a resposta foi “não”. Neste livro, proponho um caminho a respeito de como conduzir os processos de mudanças para que os novos paradigmas não fiquem apenas na esfera dos sonhos do líder, mas se transformem em prática e permeiem a vida da igreja. Faço isso para que você acredite que é capaz de liderar processos de mudança e que eles são possíveis. Mudar é uma arte complexa, empolgante, desafiadora, estimulante e possível. O melhor de tudo: você pode ser o artista.
Este livro pode revolucionar sua vida e sua liderança, pois trata de princípios e processos que revolucionaram a minha. O autor